Artesanato em Itaiçaba: cores, arte e transmissão de conhecimento

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1536 Julho/2014 Itaiçaba Artesanato em Itaiçaba: Cores, Arte e Transmissão de conhecimento No município de Itaiçaba, Ceará, em uma comunidade denominada Cidade Nova, três gerações convivem produzindo arte, afastadas da tecnologia, e transmitindo conhecimento de geração em geração. Dona Carmélia, Norma e Ana Isabel são, respectivamente, mãe, filha e neta e desde muito nova a matriarca dessa família aprendeu com sua mãe a arte de trançar a palha da carnaúba e ainda pequena já fazia suas tarefas diárias, que era auxiliar sua mãe na confecção das peças. A carnaúba no Ceará é tida como árvore símbolo do estado, e serve como matéria-prima para diversos produtos como a cera da carnaúba, o artesanato da palha além do valor medicinal de suas raízes. Durante muitos anos grandes empresas dominaram os setores produtivos, mas com a desvalorização dos preços da cera muitas áreas foram devastadas para implementação da carcinicultura e áreas para produção irrigada. Atualmente algumas mulheres mantêm viva a tradição através do artesanato. A produção das mulheres já esteve associada a uma cooperativa de artesanato no município de Itaiçaba durante algum tempo. Esse período para elas foi bastante produtivo, já que elas puderam participar de cursos e capacitações que acrescentaram a seus trabalhos novas técnicas e outros tipos de artesanato como oitinho, ponto cruz, vagonite, crochê e outras técnicas. O principal motivo que as fez desistir desse processo foi a distância da comunidade para o município onde está localizada a sede da cooperativa já que os custos finais não compensavam o deslocamento. Mas elas ressaltam a importância de ter participado desse processo. Hoje elas produzem no alpendre da própria casa enquanto contam os “causos” da comunidade.

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Três gerações se unem no município de Itaiçaba, no Ceará, para manter viva a tradição através do artesanato da palha da carnaúba, e contam quais são seus desafios e pensamentos futuros para viver no Semiárido.

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1536

Julho/2014

Itaiçaba

Artesanato em Itaiçaba: Cores, Arte e Transmissão de conhecimento

No município de Itaiçaba, Ceará, em uma comunidade denominada Cidade Nova, três gerações convivem produzindo arte, afastadas da tecnologia, e transmitindo conhecimento de geração em geração. Dona Carmélia, Norma e Ana Isabel são, respectivamente, mãe, filha e neta e desde muito nova a matriarca dessa família aprendeu com sua mãe a arte de trançar a palha da carnaúba e ainda pequena já fazia suas tarefas diárias, que era auxiliar sua mãe na confecção das peças. A carnaúba no Ceará é tida como árvore símbolo do estado, e serve como matéria-prima para diversos produtos como a cera da carnaúba, o artesanato da palha além do valor medicinal de suas raízes. Durante muitos anos grandes empresas dominaram os setores produtivos, mas com a desvalorização dos preços da cera muitas áreas foram devastadas para implementação da carcinicultura e á r e a s p a r a p r o d u ç ã o i r r i g a d a . Atualmente algumas mulheres

mantêm viva a tradição através do artesanato. A produção das mulheres já esteve associada a uma cooperativa de artesanato no município de Itaiçaba durante algum tempo. Esse período para elas foi bastante produtivo, já que elas puderam participar de cursos e capacitações que acrescentaram a seus trabalhos novas técnicas e outros tipos de artesanato como oitinho, ponto cruz, vagonite, crochê e outras técnicas. O principal motivo que as fez desistir desse processo foi a distância da comunidade para o município onde está localizada a sede da cooperativa já que os custos finais não compensavam o deslocamento. Mas elas ressaltam a importância de ter participado desse processo. Hoje elas produzem no alpendre da própria casa enquanto contam os “causos” da comunidade.

Articulação Semiárido Brasileiro – CearáBoletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Realização Apoio

O material utilizado para confecção das peças é bastante simples: a tesoura, uma faquinha e uma agulha para facilitar o trabalho.“Já fiz vários tipos de trabalho de palha, naquele tempo a gente fazia muita bolsa, depois começamos a fazer os tapetes, e depois comecei a fazer esses trabalhos de ponto”, disse dona Carmélia. Com o passar dos anos novidades tomaram o gosto popular e as mesmas passaram a produzir além da tapeçaria outros produtos como cestos, apoios de prato, fruteiras. A inquietação das artesãs é o ponto de partida para a criatividade já que as mesmas nunca estão satisfeitas e sempre aperfeiçoam e incrementam seus produtos. Uma gama de cores é utilizada para tingir a palha como o verde, o amarelo, o laranja, o roxo, colorem os trabalhos das artesãs e suas peças são tingidas de forma bastante artesanal, utiliza-se a anilina (corante) para dar cores à palha. O processo de tingimento é feito em casa, além de outros como a secagem da palha e armazenamento. Fitas decorativas são usadas para produzir trabalhos mais delicados como enxovais, porta-joias, entre outros. Elas também fazem aplicação de outros aviamentos ou adornos para valorizar ainda mais os trabalhos. Para toda a família o artesanato é tido como ún ica fon te de renda, mas enf ren tam cotidianamente problemas relacionados à comercialização dos produtos, já que, segundo dona Carmélia, “o preço permanece o mesmo desde que eu comecei a trabalhar com minha mãe, e quando aumenta é 10 a 15 centavos”, disse a mesma. Além desse problema existem outros como o período de chuva que dificulta processos como secagem e principalmente o armazenamento. “Os grandes podem armazenar em suas estufas, já nós que não temos ficamos sem poder fazer nada”, disse Norma. Assim elas mostram que sustentam a tradição popular acima dos percalços encontrados e satisfeitas falam também do local onde vivem e construíram suas histórias, conscientes de que é possível realizar-se no Semiárido. A mais jovem Ana Isabel começou a apenas um ano a produzir as peças, porque inicialmente estudou e após concluir o ensino médio passou a trabalhar junto a avó e sua mãe.