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ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE DUAS PROPOSTAS DE
APRENDIZAGEM NO ENSINO MÉDIO EM MATO GROSSO DO SUL:
AVANÇOS E RETROCESSOS
Regerson Franklin dos Santos1
Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso do Sul
Resumo: Estudar as metodologias que são implantadas nas escolas Brasil afora talvez seja a melhor
maneira de buscar saídas para tirar a educação e os processos de aprendizagem dos patamares que se
encontram, com elevadas taxas de evasão e repetência escolar e de baixa aprendizagem, comprovadas
nas avaliações internas e externas. Nesse sentido, esse texto visa discutir os impactos de duas
propostas implantadas na Escola Estadual Waldemir Barros da Silva - Campo Grande/MS em 2016 e
2017 (Educar Pela Pesquisa e Escola da Autoria respectivamente) no que tange a parte
diversificada/flexibilizada do currículo para o Ensino Médio. Ressalta-se que essa implantação só foi
possível devido ao fato da unidade educacional ter se tornado modelo de Escola Integral de Tempo
Integral - EITI. Aporte documental aliada à experiência prática bem complexa e já consolidada
conduzirá a apresentação dos resultados, expondo o que há de melhor em cada uma dessas propostas
para a escola, professores e estudantes. O caminho para uma escola do século XXI ainda está por ser
construído.
Palavras-chave: Escola, Pesquisa, Autoria, Metodologia, Avaliação.
Introdução
O presente texto visa analisar a parte diversificada do Currículo do Ensino Médio
implantado em dois modelos de aprendizagem aplicados na Escola Estadual Waldemir Barros
da Silva (Campo Grande/MS) nos anos de 2016 e 2017, sendo o “Educar pela Pesquisa”2 e a
“Escola da Autoria”, respectivamente. A unidade escolar se tornou integral a partir de 2016.
Tal espectro procura compreender o alcance real e a efetiva aplicabilidade dessas
disciplinas na vida do estudante, considerando-se o seu desempenho na busca pelo
conhecimento e a produção de expectativas ao mundo pessoal e profissional.
Nesse sentido a ausência de continuidade nas políticas públicas3, na maioria das vezes,
gera um descompasso enorme no nível de aprendizagem do estudante, contribuindo para
repetência e a evasão escolar como também em péssimos resultados em avaliações externas,
uma vez que a troca de governos incide na mudança de projetos de educação – inclusive
aqueles que estão dando certo, denotando uma politicagem prejudicial ao estudante e às
classes menos favorecidas. Precisa-se esclarecer que alguns modelos (ideologias) visam
1 Professor da rede pública estadual de Mato Grosso do Sul; Doutorando em Geografia pela Universidade
Federal da Grande Dourados – UFGD. 2 Para maiores informações sobre o Educar pela Pesquisa, ver Demo (2007, 2007A, 2015) e Santos (2016, 2017
e 2017A). 3 Ressalta-se que houve preparo da equipe docente em 2015 para implantação do Educar pela Pesquisa em 2016,
todavia, no ano seguinte, o Governo abandona a proposta e insere outra metodologia de trabalho, a Escola da
Autoria.
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abranger a formação integral do estudante, ao passo que outros apenas objetivam prepará-lo
para o mercado de trabalho (SAVIANI, 2017).
Nesse sentido, essa análise aqui retratada busca realizar uma comparação que se pauta
ora na base documental, ora na base prática que fora implantada na escola, possibilitando
apresentar um resultado plausível que expresse a realidade local ora introduzida.
Para fins didáticos, a pesquisa foi dividida em duas partes: a primeira, mais geral,
versará sobre as políticas educacionais e seus (des)contextos com a aplicabilidade nas escolas
- referencial curricular, bases teóricas, e outros aportes ideológicos. A segunda se reportará
especificamente à parte prática que foi desenvolvida na unidade escolar, realizando um
cruzamento de dados entre o que foi aplicado em 2016 (Educar pela Pesquisa) e disseminado
até o presente momento de 2017 acerca da Escola da Autoria4.
O descompasso entre a base e as políticas macro: até quando?!
Primeiramente as políticas públicas macro precisam ser tratadas como questões de
Estado, e não de governo. Somente desta forma ter-se-á uma continuidade que reflita o
respeito à sociedade, aos diversos profissionais que estão envolvidos Brasil afora nas suas
aplicabilidades e no desencadear de seus investimentos, operacionalizações. Desta forma,
poder-se-á contemplar aqueles que mais necessitam no campo da educação, os estudantes,
perfazendo uma base sólida e perspicaz para uma vida liberta e cidadã (SANTOS, 2017).
Diversas políticas nacionais, estaduais e até mesmo municipais são implementadas e,
por inúmeros motivos, alguns plausíveis, outros inadmissíveis, são objeto de descontinuidade,
afetando negativamente a aprendizagem e a busca pelo conhecimento por parte do estudante,
o funcionamento pleno da coisa pública no que toca a parte dos profissionais envolvidos;
quando começa a engrenar, sofre uma ruptura que obriga um novo recomeço.
Buscando atender a novas demandas dos estudantes e da conjuntura de mercado, a Base
Nacional Comum Curricular-BNCC5 vem sendo questionada por especialistas, associações e
demais entidades envolvidas acerca da sua reestruturação e implementação de forma
apressada pelo Governo Temer (2016, pois o impacto na vida de milhares de crianças e
jovens, como também profissionais envolvidos será imenso.
Realmente é essencial buscar saídas para melhorar a escola pública e a aprendizagem;
não dá mais para ficar com um modelo teórico, metodológico e conteudista que é aplicado no
4 Ressaltam-se que as críticas aqui inferidas são destinadas diretamente ao ICE (Instituto de Corresponsabilidade
Educacional) e sua forma de trabalho e supervisão, e indiretamente ao Governo de MS pela omissão. 5 Para mais informações sobre a BNCC, consulte o site: http://basenacionalcomum.mec.gov.br. In:
http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=40361#nem_02 > Acesso em 10/10/2017, as 15:47hs.
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Brasil desde meados de 1940, que está desconexo com os avanços da ciência, das artes, das
linguagens e, dessa forma, com aquilo que os estudantes anseiam para sua formação pessoal e
profissional.
Todavia, não é pela via da ilegitimidade, da rapidez, da seletividade e de outras ações
escusas que se vai construir um currículo perspicaz para a nação, e é exatamente isso que esse
governo vem fazendo, adotando meios não aceitáveis por parte da sociedade e construindo um
projeto acerca da educação e das políticas cotidianas que atende interesses mercadológicos,
empresariais, corporativos, de dominação ideológica e conservadora e que não contemple os
direitos humanos, a inclusão, a dignidade humana, a criticidade e aspectos libertários. Assim,
privam-se gerações de ascensão social e intelectual.
Da parte teórica aos expositivos contraditórios das propostas flexíveis na Escola
Estadual Waldemir Barros da Silva
A Escola Estadual Waldemir Barros da Silva foi pioneira na introdução e aplicação da
metodologia do Educar Pela Pesquisa em Campo Grande-MS (SANTOS, 2016). Modificar a
maneira de se trabalhar a aprendizagem dos estudantes nos dias atuais faz-se necessário para
acompanhar o ritmo de transformações às quais passa a sociedade.
Nesse sentido, o Governo de Mato Grosso do Sul implementou e normatizou a Escola
Integral em Tempo Integral através de Resolução6, tendo carga horária superior e diferenciada
do ensino regular. A parte diversificada atendeu um total de 14 horas semanais, distribuídas
ao longo dos dias da semana, mas com ênfase na sexta-feira a tarde, período em que os
docentes se reuniam para o Planejamento Coletivo. O quadro abaixo apresenta as diretrizes
trabalhadas no ano letivo de 2016:
Quadro 1 Parte Diversificada do Currículo da Escola Integral em Mato Grosso do Sul em 2016
Fonte: SED N. 3017, de 04 de fevereiro de 2016. Adaptado
As três últimas colunas se referem ao 1º, 2º e 3º ano do Ensino Médio, portanto, todas as
séries têm a mesma carga horária, seja em horas como também acerca das disciplinas que as
compõem. Essa padronização propicia equilibrar o roteiro de estudos e ordenar/organizar o
pleno andamento das atividades na/da escola.
6 RESOLUÇÃO/SED N. 3.017, DE 4 DE FEVEREIRO DE 2016. Diário Oficial nº 9.100 de 05 de fevereiro de
2016.
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A temática “Orientação de Estudos” propunha, ao longo da semana, tempo para que os
estudantes buscassem os docentes e sanassem dúvidas, como também facilitar a realização de
tarefas e atividades complementares, individual ou em grupo. De forma linear, todos os
estudantes ao mesmo tempo, - visto que algumas atividades eram interdisciplinares inclusive
com discentes de turmas diferentes - tinham a liberdade para escolher aquilo que seria por ele
priorizado, aprofundado ou mesmo corrigido acerca de detalhamentos dos docentes.
Esse fato denota que o estudante é que tem que ser o centro do sistema de
aprendizagem, cabendo a ele participar das decisões da escola no que toca a sua vida. Ao
adotar essa prática, valoriza-se a sua autonomia, sua independência e proporciona um
caminhar pautado em diretrizes as quais ele – um jovem entre 15 e 17 anos – tem condições
de escolher; a mediação do corpo docente nessa escolha serve apenas para acompanhar e
orientá-lo acerca de equívocos e a correta mensuração entre o que é importante e o que é
prioridade.
Parece uma coisa simples, mas essa conjuntura libertária torna-se complexa, pois ele (o
estudante) passou anos sendo obrigado a seguir aquilo que outros pensavam para ele, não o
dando voz; e também é essencial para que se prepare para a vida pessoal e profissional, que
incide cada vez mais em manter relações harmoniosas com o diferente, trabalhar em equipe,
saber exercer seu papel, viver com as dificuldades que a vida oferece, ora perdendo, ora
ganhando. Eis o principal desafio das escolas no século XXI: adequar-se a realidade que
vivemos!
Por sua vez as temáticas “Centro de Interesses I e II” eram realizadas na sexta-feira no
período vespertino, tendo participação de profissionais contratados pela Secretaria de Estado
de Educação – SED, que ministravam inúmeras atividades educacionais com cunho
pedagógico e que promovessem o conhecimento, tais como: dança, teatro, radiocomunicação,
vôlei, futsal, xadrez, moai tay, judô, arduíno7, informática básica dentre outras.
Cada estudante escolhia duas atividades, que eram desenvolvidas em dois tempos de
cinquenta minutos cada, de modo a promover a rotatividade e a ludicidade que tanto almejam
depois de uma semana repleta de estudos. Dessa forma, a sexta-feira era um dia muito
esperado por eles, e as ausências eram pouquíssimas.
7 Arduíno: “É uma placa que permite a automação de projetos eletrônicos e robóticos por profissionais e
amadores”. Disponível em: < http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2013/10/o-que-e-um-arduino-e-o-que-
pode-ser-feito-com-ele.html> Acesso: 02/06/2018. Refere-se especificamente ao Curso Técnico-
Profissionalizante em Informática, que funciona na modalidade Integrado ao Ensino Médio da escola e, por essa
natureza mais tecnológica, os estudantes desenvolvem invenções nesse sentido, aliando Softwares e Hardwares
às práticas escolares e para além delas.
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Enquanto eles “saboreavam” o lúdico, de maneira inter e transdisciplinar, saindo do
ócio da sala de aula para mesclarem-se a outros estudantes, os docentes aproveitam o tempo
para planejar, avaliar e rever aquilo que deu errado, corrigindo para que, na próxima
aplicabilidade, tivesse êxito.
Momentos ímpares e extremamente fundamentais para a correta execução das
atividades escolares; pois no dia a dia, nos intervalos e nos Planejamentos por área, torna-se
impossível agregar todo o corpo docente e coordenação pedagógica e, nesse sentido, perde-se
muito ao não poder trocar experiências acerca do método, da metodologia, da avaliação.
Importante ressaltar que, assim como nos estudos orientados, os centros de interesses
também são instrumentos de liberdade, cidadania e criticidade do educando, que tem o poder
de escolha e, dessa forma, ao gostar daquilo que escolhe, o fará melhor, com mais sapiência,
proporcionando resultados mais plausíveis e contextualizados com sua vida, seu cotidiano e
suas escolhas futuras.
Com relação às “Práticas de Convivência”, eram momentos que estavam relacionados
aos intervalos interativos dos educandos, que utilizavam as Salas de Informática, mesa de
jogos, quadra de esporte e outros espaços para praticar as suas artes, desenvolverem as suas
linguagens, promoverem suas subjetividades ou mesmo descansar para o recomeço laboral.
Diferente dos Centros de Interesses, em que a maioria das atividades era desenvolvida
por profissionais de fora da unidade escolar, a Prática de Convivência pautava-se na quase
totalidade de professores do quadro escolar, pois se realizava todos os dias.
Novamente, mesmo nos horários de repouso/descanso, os jovens têm a liberdade para
escolher em que se ocupar, e também não fazer nada, apenas descansar. Todavia, se quiserem
exercer alguma atividade, terão o acompanhamento de um docente, não para vigiá-los, mas
para orientá-los, instruí-los acerca dos procedimentos e sanar dúvidas que por ventura eles
tenham e, que o impeçam de avançar.
Esses momentos também são espaços de aprendizagem, resolução de conflitos,
desenvolvimento de habilidades que não são trabalhadas em sala de aula, pois nesses casos de
descanso, não há um docente específico para direcionar o processo, mas todos os jovens em
constante mutação de espaços, ora na informática, ora no “ping pong” e mais tarde
participando de outras atividades. Essas relações pessoais são fundamentais, pois adiante, no
trabalho, ele terá que aprender a viver com conflitos e buscar meios de saná-los, resolvê-los
com inteligência, ética e respeito ao outro e a opinião alheia.
Portanto, na escola contextualizada com as diretrizes do estudante, repassar conteúdo
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não é meta, tampouco memorizá-lo. O que realmente vale é o desenvolvimento de habilidades
e competências que poderão transformar o mundo de informações em conhecimento, útil para
a sua vida.
Nesse contexto geral, a carga horária da base diversificada surge como um aconchego
entre a teoria e a prática, momento de descanso, mas com supervisão de docentes colaborando
para a um ambiente factível à aprendizagem. A mescla de teorias da aprendizagem com
processos exitosos é a fórmula do sucesso; não há um guia, mas sim um contexto que incidirá,
conforme as nuances, em que será utilizado para se chegar a um fim comum: estudantes
preparados para vida.
O Programa “Mais Educação”8 abrangeu aspectos que se assemelham ao que está sendo
implantado nas escolas de tempo integral. Passados quase dez anos de experiências, o
Ministério da Educação o reestruturou, mantendo o que entende que foi exitoso e corrigindo
outras situações afins.9
Se ele pecou pelo excesso de atividades desconexas com a construção do saber, teve
seus pontos positivos ao possibilitar aos estudantes a permanência na unidade escolar o dia
todo (nesse caso o contra turno) e a flexibilidade e rotatividade com que as atividades eram
desenvolvidas. O fato é que, coube uma avaliação mais aprofundada do programa para inserir
em uma escola integral, coisas pertinentes ao dia a dia do estudante com foco na construção
do saber, no conhecimento e não apenas na diversão e recreação.
Nesse sentido, a proposta do “Educar Pela Pesquisa”, implantada na unidade escolar em
2016 foi em muito útil à aprendizagem dos estudantes, fato que pôde ser comprovado com o
baixo número de transferências, repetência e evasão.10
O fechamento do ciclo (3 anos para se avaliar turmas do Ensino Médio) seria condição
sine qua non para uma correta e justa avaliação da proposta, pois contemplaria uma etapa por
sua totalidade; infelizmente isso não ocorreu, pois em 2017 houve a implantação de uma nova
proposta metodológica pela Secretaria de Estado de Educação11.
8 PORTARIA NORMATIVA INTERMINISTERIAL Nº- 17, DE 24 DE ABRIL DE 2007. Institui o Programa
Mais Educação, que visa fomentar a educação integral de crianças, adolescentes e jovens, por meio do apoio a
atividades sócio-educativas no contra turno escolar. DOU de 26/04/2007. 9 Agora em 2017 o Governo de Michel Temer editou uma nova portaria, que cria o “Novo Mais Educação”: O
Programa Novo Mais Educação, criado pela Portaria MEC nº 1.144/2016 e regido pela Resolução FNDE nº
5/2016, é uma estratégia do Ministério da Educação que tem como objetivo melhorar a aprendizagem em língua
portuguesa e matemática no ensino fundamental, por meio da ampliação da jornada escolar de crianças e
adolescentes. In: http://portal.mec.gov.br/programa-mais-educacao > acessado em 10/10/2017, as 16:21hs. 10 Somente um estudante abandonou a Unidade Escolar (evasão), e não houve nenhum caso de Retenção por
baixo aproveitamento (repetência). Dados da Secretaria da Escola. 11 Como motivo para a não continuidade da proposta do Educar Pela Pesquisa, foi ressaltado – pela SED - a sua
impossibilidade de ser replicada em outras escolas da cidade e do estado, por motivos financeiros. Mais uma vez,
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Não bastassem os percalços que a escola já passa em sua estrutura profissional, com
aposentadorias, trocas de docentes contratados por efetivos, problemas com licitação para
merenda escolar etc, a Escola Estadual Waldemir Barros da Silva viu-se embrenhada em
outros desafios, ocasionados pela nova conjuntura que foi adequar-se à nova proposta,
perdendo todo aperfeiçoamento, capacitação, estudo, e aplicação da antiga metodologia;
deixa-se tudo de lado e volta-se ao zero com outra metodologia de aprendizagem, que será
exposta agora, com foco na sua parte diversificada.
O Instituto de Corresponsabilidade Educacional (ICE) - uma instituição privada, com
pioneirismo na educação no Estado de Pernambuco - foi contratado pela Secretaria de Estado
de Educação para implantar suas práticas em 12 escolas de Mato Grosso do Sul, sendo 8 em
Campo Grande e as demais no interior do estado12.
Nesse contexto, o próprio processo seletivo para a contratação de professores para
trabalharem nas unidades escolares selecionadas foi conturbado, seja pelas mudanças
provocadas pelas normatizações do MEC (Ministério da Educação) acerca do Novo Ensino
Médio, seja pela judicialização a qual passaram estados que não estavam cumprindo com o
estabelecido na LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação acerca da implementação de
escolas em tempo integral gradativamente pelo país, de modo a ampliar a permanência dos
estudantes na unidade escolar e, consequentemente, melhorar a aprendizagem.
Assim, edital13 lançado em janeiro (período de férias dos professores) para contratar os
docentes foi criticado tanto por professores que se encontravam ausentes da cidade/estado
quanto pelos Sindicatos14 que representam a categoria, que não concordavam com a maneira
do proceder da SED, tampouco com a gratificação15 que seria paga aos professores que
trabalhassem nessas escolas.
trata-se a educação como gasto de recursos, e não como investimento no futuro da nação! Ademais, relega-se a
escola, os jovens e a educação ao léu, como política de governo, que troca a todo instante conforme os interesses
pessoais, partidários. 12 LEI Nº 4.973, DE 29 DE DEZEMBRO DE 2016. Cria o Programa de Educação em Tempo Integral,
denominado “Escola da Autoria”, e dá outras providências. D. O. de 30/12/2016. 13 EDITAL N. 1/2017. PROCESSO SELETIVO DE PROFISSIONAIS DO QUADRO PERMANENTE DO
MAGISTÉRIO OU EM ESTÁGIO PROBATÓRIO, PARA EXERCÍCIO DO CARGO DE PROFESSOR,
FUNÇÃO DOCÊNCIA, NAS ESCOLAS DA REDE ESTADUAL DE ENSINO DE MATO GROSSO DO SUL
QUE OFERTAM O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL - ESCOLA DA AUTORIA –
ENSINO MÉDIO. D.O. 9.329 de 16/01/2017. 14 A ACP – Sindicato Campo Grandense dos Profissionais da Educação Pública se posicionou contra a
implantação alegando não ter sido consultada acerca de como, quando , aonde e de que forma ocorreriam tais
mudanças; também a FETEMS (Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul) se postou
de forma radical contra o governo, gerando um embate que dividiu a categoria acerca dos que estavam na
proposta e daqueles que não estavam – e não concordavam. 15 Talvez esse tenha sido o ponto nevrálgico do embate, pois ao tratar desigual economicamente professores do
mesmo nível/classe dentro do Plano de Cargos, Carreira e Salários de Mato do Grosso do Sul, gerou desconforto
no sindicato e naqueles que se viam excluídos; ressalta-se que a gratificação era obrigatória para atendimento
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Passada essa etapa inicial de contratação via edital, o resultado foi uma panaceia de
confusões: baixa adesão ao processo seletivo, ausências no dia da entrevista devido ao
período de férias e muitos se encontrarem fora da cidade, saída de professores das escolas por
incompatibilidade de vínculo (muitos também eram efetivos na prefeitura de Campo Grande
e, ficaram impossibilitados de serem exclusivos da escola integral por motivos burocráticos –
cedência).
Outro ponto crucial ocorreu já em fase de capacitação, em que alguns docentes não se
enquadravam dentro da proposta - e seus desencontros acerca da carga horária, da
disponibilidade e mesmo do perfil para executarem as atividades, principalmente da base
diversificada – e desistiram. Como era o primeiro ano da proposta, sua implantação estava por
carecer de aparatos jurídicos, financeiros, organizacionais e mesmo de corpo técnico e
gerencial para comandar o processo.
Partindo para a execução das atividades com o início do ano letivo de 2017, houve
muitos desencontros devido à falta de orientação do órgão superior, tendo a equipe se
esforçado ao máximo para exercer seu trabalho de acordo com o estabelecido, se adequando
acerca da metodologia, do planejamento, do “novo” que a proposta apresenta acerca da base
diversificada, como as disciplinas Eletivas, Pós-médio e Projeto de Vida16, além dos espaços
de aprendizagem denominados Tutoria, Estudo Orientado e Clube de estudantes.17
Os Clubes de Estudantes configuram-se uma tentativa de integrar os jovens conforme as
afinidades, estreitando os laços teóricos mediante discussões e debates, como também colocar
em prática pontos importantes para expansão do conhecimento, de maneira lúdica, excêntrica,
no entanto, sistematizada, com acompanhamento e mediação.
Ressalta-se que pouco deu certo devido à ausência de tempo destinado especificamente
para esse fim; intervalos são muito curtos para se agilizar algo; no horário de almoço eles
também não quiseram se ater a esse tipo de protagonismo, como também recusaram de
dos anseios da proposta integral, o que iria na contra mão de uma das reivindicações dos professores, que foi ter
um terço de hora atividade livre para planejar, e que por essa via, seria perdido com a permanência todos os dias
na escola; enfim, a ACP acusou de vender um tempo livre que lutamos para ter, todavia, o valor pago não supre
realmente o que cada docente equivale, pois a gratificação refere-se a “A II”: faixa da tabela salarial mais baixa,
de uma pessoa que ainda não é formada para exercer o trabalho (antigo magistério). 16 Esse pressuposto é a espinha dorsal dessa nova proposta, que vê no protagonismo Juvenil, no planejamento da
vida e dos sonhos de cada estudante o meio de conduzi-lo ao sucesso, na escola, mas principalmente na vida
pessoal. Assim, o docente responsável por essa “disciplina” precisa se envolver muito com o estudante, a fim de
ajudá-lo. O problema é falta de habilidade, competência psicológica que os docentes não possuem, que
naturalmente, seria suprido se cada escola dispusesse de um profissional Psicólogo em sua unidade. 17 Também pertencia a esse quadro a “Avaliação Semanal”, todavia, não se encaixa como uma disciplina, mas
sim como espaço para aplicação de testes e avaliações de todo o conteúdo abordado de maneira a verificar o
quanto foi apre(e)ndido pelos estudantes. Toda segunda-feira, nos dois últimos tempos de aula, tinha-se esse
instrumento de verificação quantitativa e qualitativa, visando acompanhar o processo e corrigir as falhas.
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imediato chegar mais cedo ou mesmo ficar até mais tarde na escola, seja por questões de
cansaço, seja por questões de horário quanto ao transporte de volta para suas casas.
As disciplinas eletivas, como o próprio nome diz, se referem a algo que o estudante terá
por opção, escolhendo o que cursar; para tanto, são destinados dois tempos de aulas
geminados (50 minutos cada), ministrados nos dois últimos tempos de sexta-feira.
Conhecimento lúdico, arte e uma gama de possibilidades para o estudante aprender de outra
maneira. Cada “Eletiva” é composta por dois ou mais professores de disciplinas diferentes,
visando dar um toque mais complexo, porém, integrado e interdisciplinar. Todos os
estudantes da escola devem participar dessa disciplina.
Ressalva-se que a Eletiva muito se assemelha ao Centro de Interesse da outra proposta,
propondo o protagonismo, a autonomia e a independência do jovem. A diferença é que nela,
cabe aos docentes executarem mais que estão habituados, formados, habilitados: aulas de
dança, canto, instrumentos musicais, teatro, artesanato, documentários etc, são
responsabilidade dos professores. Portanto, mais trabalho (com planejamento, execução e
avaliação) para o professor e menos tempo para pensar holisticamente, em grupo, como se
propiciava com o advento do Planejamento Coletivo outrora, uma vez que tais atividades
eram executadas por outros profissionais.
Ressalta-se que essa proposta incide metodicamente, abertamente, no dispêndio de mais
tarefas, serviços e atividades ao professor, sem uma carga horária reduzida.18
Os Estudos Orientados nessa proposta também contêm praticamente a mesma instrução
que as Orientações de Estudo tinham no Educar pela Pesquisa: tempos destinados a realização
de tarefas, estudos para avaliações, resolução de dúvidas e outras coisas mais, cabendo ao
discente escolher. Ponto positivo, pois delega ao estudante a escolha, e com ela, o poder de
pensar, refletir e direcionar enquanto participante de sua vida na escola. Mais uma vez, todas
as turmas têm em seus horários de aula, 3 tempos destinados a esse fim.
Por sua vez, a disciplina “Pós-médio” apenas é aplicada ao 3º ano do Ensino Médio,
direcionando o estudante para a profissão escolhida, preparando-o para o ENEM (Exame
Nacional do Ensino Médio), vestibulares afins, concursos e buscando evidenciar o caminho
que ele tem que percorrer para alcançar seu êxito.
18 Por exemplo, desde a formação dos docentes no começo do ano letivo pela equipe do ICE, é comum os
formadores pedirem para que o estudante seja atendido em horário de almoço, antes do início do turno de
trabalho e depois dele, denotando um nítido processo de exploração do trabalhador, pois caberia ao governo de
MS contratar mais profissionais para que o serviço fosse executado dentro de seu tempo de trabalho, e além dele;
ademais, também poderia pagar “hora extra” ou destinar um espaço a mais, remunerado, para que os docentes
atendessem aos estudantes caso necessário. Todavia, o que se percebe e vê no cotidiano escolar, é a exploração
do trabalhador sob diversos vieses.
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Entende-se que no último ano do ciclo, o jovem já tem maturidade para caminhar com
mais independência, estudando sozinho, adotando seus melhores meios de aprendizagem, já
procurando se identificar com uma área de atuação, para posteriormente definir a sua
profissão. Como o próprio nome diz, é a transição da educação básica para a superior; da
juventude para a eclosão da fase adulta. Com essa interlocução, busca-se diminuir as
dificuldades e apresentar meios de superar os obstáculos que o jovem encontrará na
Universidade, visto que esse ambiente é totalmente diferente do vivenciado por ele ao longo
dos últimos 9 anos escolares.
A Tutoria, sistema mui antigo de ensino e acompanhamento sistematizado, foi
implantada de forma que todos os docentes (e até mesmo outros profissionais da escola
participaram: direção adjunta, inspetora de pátio, cozinheira, porteira) tivessem sob suas
“asas” um grupo entre 10 e 15 estudantes. Cuidar da vida pessoal do discente, mas
principalmente intelectual é o objetivo dessa parte diversificada do currículo, orientando,
conversando sobre avanços e obstáculos, contribuindo para o seu amadurecimento. Mais uma
vez o funcionamento esbarrou na falta de tempo específico para esse fim19.
Agora iremos expor o que mais tem importância nessa proposta conforme o ICE, que é
o Projeto de Vida, por isso o deixamos para analisar por último. Aplicado nos dois primeiros
anos do ensino médio, essa disciplina também é ministrada por um docente dentre aqueles que
pertencem ao quadro da escola, assim, pode ser de qualquer área do conhecimento, desde que
apresente perfil para o trabalho.
Entendemos que cabe sim à escola direcionar o jovem, recém-chegado ao ensino médio
a traçar o seu caminho de sucesso, a organizar seus sonhos (definir metas), estabelecer meios
para alcançá-lo (planejar e executar) e corrigir ao longo do processo o que está errado. Para
tanto, a proximidade do docente com os estudantes, de forma individualizada, necessita ser
muito intensa. Participar da vida de centenas de pessoas ativamente é uma tarefa
extremamente árdua para o profissional, que acaba se envolvendo com questões particulares
(familiares, emocionais, etc) e, mais uma vez, trabalha na escola e em casa, pois ao participar
dos enlaces problemáticos dos estudantes, ele carrega consigo também esses problemas para o
seu lar.20
19 Muitas vezes os docentes se viram com confissões sérias e complexas de resolução em meio aos corredores da
escola, envolto de outros jovens e atrasados para começar a sua aula. Nesse sentido, atender ao jovem de maneira
eficaz incidiria em um tempo semanal para essa troca de experiências, e não que acontecesse depois do
expediente ou que o docente encurtasse seu horário de almoço para atender aos estudantes. 20 Tem-se notado na escola uma gama muito grande de problemas particulares que atrapalham a aprendizagem
do estudante. Ao permanecer o dia todo no ambiente escolar, conflitos que eram desabrochados nas residências
acabam por aflorar na escola. Se as famílias já relegavam muitas atribuições suas à escola, agora isso tem se
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Esse protagonismo que é dado ao jovem é de suma importância para que a educação
mude, e a aprendizagem melhore. Não é possível continuarmos com a metodologia
tradicional; a sociedade evoluiu demais e adequar-se às transformações é condição para o
sucesso.
Dar voz ao estudante, fazer dele o centro do processo, adotar a pedagogia da presença
são meios de se estabelecer formas harmônicas, integradas, lúdicas, porém, sem retirar a
autoridade do professor; ele apenas deixa de ser um transmissor de conteúdo, autoritário, para
ser um mediador que usa a autoridade do argumento, que entende que as verdades são
efêmeras e o conhecimento tem inúmeras facetas.
Considerações Finais
Pelo exposto, verificamos que a ausência de continuidade das políticas públicas na
educação é um dos principais problemas a ser resolvido. Por outro lado, também há medidas
que não foram debatidas, refletidas, pensadas por quem atua no ramo, mas sim por pessoas
alheias a realidade educacional, os chamados técnicos de gabinete. A junção dessas duas
situações contribui para o patamar de baixa aprendizagem em que se encontra a educação
nacional acerca das escolas públicas.
Considerar e colocar em prática ações e situações que favoreçam a aprendizagem dos
jovens é fundamental para o futuro do país. No entanto, “rachar” o todo em partes desconexas
e sem relação entre si, causando mais a fragmentação que a coesão, está sendo a marca desse
novo Ensino Médio proposto pelo Governo Federal; em vez de possibilitar ganhos pode, pelo
contrário, resultar-se em mais confusão e descompasso com o futuro educacional.
Do ponto de vista governamental, essa fragmentação em ciclos - e a exclusão de certas
disciplinas - visa atender aos anseios do mercado e, ao mesmo tempo, diminuir os gastos com
a estrutura educação: não cabem todos os discentes em cursos superiores então vamos
oferecer cursos técnico-profissionalizantes; uma evidente maneira de manter o domínio de
classe e subjugar a população pobre no limbo do progresso.
No que toca a pertinência das propostas adotadas na escola objeto deste trabalho em
2016 e 2017, entendemos que a parte diversificada e/ou flexibilizada é de suma importância
para se obter uma educação que atenda aos auspícios do século XXI. Não se pode continuar
como está, há que se buscar saídas. Todavia, o Educar Pela Pesquisa propicia - além de uma
aprendizagem qualitativa - a integração, a holisticidade, uma educação inclusiva e libertária,
intensificado; detalhe é que os professores não são os pais dos jovens, e essa carga de responsabilidade com a
educação, não pode ser transferida (mais ainda!).
(83) 3322.3222
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ao passo que a Escola da Autoria caminha no sentido da vida empresarial, em que o sucesso é
medido, mensurado nas avaliações afins...
A primeira insere docente e jovem caminhando juntos na busca pelo sucesso, já a
segunda proposta massifica os processos e ultrapassa a exploração do trabalho docente, bem
semelhante a uma empresa, tratando tudo de forma gerencial à busca de lucro; preocupa-se
com o fim, mesmo que os meios sejam os mais escusos, desumanos e exploratórios possíveis.
Nesse caso específico, o docente (e seu trabalho, suas relações, sua produção) serve de
trampolim (com as costas!) para o sucesso discente; sucesso esse que se atrela a adentrar em
uma vida profissional e ser vitorioso. Preparar para o mercado, eis a vertente dessa Escola da
Autoria. Já o Educar Pela Pesquisa, entende que o lado profissional só é possível se o pessoal
estiver em sintonia...
Referências
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______. Educar pela pesquisa. Campinas: Autores Associados, 2007A. 8. Ed. (Coleção
educação contemporânea).
______. Professor eterno aprendiz. Ribeirão Preto: Editora Alphabeto, 2015.
SANTOS, Regerson F. dos. A escola de Tempo Integral no contexto do século XXI: Ensinar
ou Pesquisar? In: VII Seminário Internacional: fronteiras étnico-culturais e fronteiras da
exclusão, 2016, Campo Grande-MS. ANAIS VII Seminário Internacional: fronteiras étnico-
culturais e fronteiras da exclusão, UCDB, 2016.
______. Políticas educacionais e a formação do estudante na Escola de Tempo Integral em
Mato Grosso do Sul. In: II Jornada Ibero-Americana de Pesquisas em Políticas
Educacionais e Experiências Interdisciplinares na Educação, Natal, 2017. ANAIS II
Jornada Ibero-Americana de Pesquisas em Políticas Educacionais e Experiências
Interdisciplinares na Educação, Natal, 2017.
______. Os percalços docentes acerca das novas metodologias de aprendizagem na Escola
Integral. In: III Seminário da Rede Internacional de Escolas Criativas- RIEC. Educação
Transdisciplinar: Escolas Criativas e Transformadoras, 2017, Palmas-TO. ANAIS III
Seminário da Rede Internacional de Escolas Criativas- RIEC. Educação Transdisciplinar:
Escolas Criativas e Transformadoras, UFT. 2017A.
______. A Geografia no contexto de uma nova metodologia de aprendizagem em uma Escola
de Tempo Integral. In: III Seminário da Rede Internacional de Escolas Criativas- RIEC.
Educação Transdisciplinar: Escolas Criativas e Transformadoras, 2017, Palmas-TO.
ANAIS III Seminário da Rede Internacional de Escolas Criativas- RIEC. Educação
Transdisciplinar: Escolas Criativas e Transformadoras, UFT. 2017B.
SAVIANI, Dermeval. PEC do Teto dos Gastos inviabilizou a educação pública no país,
diz Dermeval Saviani. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2017/12/08/pec-do-teto-
dos-gastos-inviabilizou-a-educacao-pubica-no-brasil-diz-dermeval-saviani/ acesso 11/12/2017, as
14:13hs.