A Vida Sem Petróleo

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O sobe-desce do preço do barril de petróleo pode ter atrapalhado o avanço das energias renováveis, mas não o inviabilizou No mundo corporativo costuma-se dizer que o órgão mais sensível do corpo humano é o bols o. Em 2008, quando a cotação do barril de petróleo alcançou o recorde de US$ 140, este raciocínio serviu para catapultar as chamadas economias de baixo carbono e as font es renováveis de energia. Uma época farta em dinheiro para novos projetos, regado de um acalorado debate sobre um planeta menos dependente de combustíveis fósseis. Passados oito anos, o cenário é outro. A crise econômica mundial levou o preço do barril para a casa dos US$ 50 e o tombo fez emergir a discussão se o plano para substitu ição das fontes de energia suja foi por água abaixo. Os mais incrédulos dizem que gasoli na e o diesel mais baratos servem para aliviar o bolso do consumidor, o que atra sa todo um esforço feito até aqui para barrar o aquecimento global. O contraponto é qu e o grupo dos que acreditam que já não há mais caminho de volta é mais encorpado. Há hoje u ma geração de jovens que não cobiça o automóvel como se desejava no passado. Uma sociedade mais consciente de que existem fontes alternativas de energia aos combustíveis fóss eis , afirma Alfred Szwarc, consultor de sustentabilidade da Unica, enditade que r epresenta a indústria sucroalcooleira. Temos soluções em energia eólica, hídrica, solar e o etanol. Para ele, a consciência social e ambiental fez surgir uma nova economia, em que a mobilidade e a energia renovável tornaram-se uma obsessão. É preciso saber o q ue fazer com o pré-sal brasileiro. Vamos queimá-lo ou prosperar com uma matriz energét ica limpa? A União Europeia, que na semana passada sofreu um violento retrocesso político e eco nômico com a decisão dos eleitores britânicos de sair do bloco, é um exemplo dessa tendênc ia. Em maio, Portugal comemorou um fato histórico: o país passou quatro dias ilumin ado apenas por eletricidade proveniente do sol, do vento e das águas. Foram 107 ho ras ininterruptas sem depender de nenhum tipo de geração suja, como carvão. Já os alemães, literalmente, ganharam dinheiro ao acender as luzes. Graças à estrutura de geração dist ribuída do país, na qual é possível devolver à rede energia gerada localmente por meio de painéis solares, a tarifa de luz se manteve negativa por diversas vezes no dia 15 do mesmo mês, um fato inédito até então. Segundo a International Energy Agency, entidade que advoga em favor da geração limpa, o setor de energia renovável deve movimentar US $ 230 bilhões por ano, até 2020. Esse valor pode chegar a US$ 315 bilhões anuais. O compromisso por uma economia global mais liberta do petróleo está no acordo assina do pelos países-membros das Nações Unidas (ONU) em 2015, quando mais de 150 países compr ometeram-se a assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível a en ergia para todos até 2030. Para o diretor do centro de informação da ONU no Brasil, Gi ancarlo Summa, há uma conta de padaria a ser feita pela sociedade. Segundo ele, abdi car de todo o esforço por energias renováveis e esperar até 2030 e checar o que foi ou não feito é um equívoco. Renegar os esforços para uma mobilidade sustentável tem um imp cto econômico, e principalmente ambiental, muito mais alto do que se imagina , diz. Para o presidente da GE do Brasil, Gilberto Peralta, os preços mais baixos do petról eo significam que os governos têm espaço político para reduzir os subsídios. Segundo ele , no longo prazo a remoção dos incentivos irá melhorar a saúde fiscal e levar a um mecan ismo de mercado, para realocar os recursos na produção de energia mais confiável, efici ente e com preço justo, tornando possível o fornecimento para mais pessoas . Peralta a firma que houve um grande avanço na disseminação de energia a todos os países, principal mente em fontes renováveis. Mas ressalta que isto ainda é pouco. Uma em cada seis pes soas ainda não têm acesso à eletricidade, e um terço da população não pode depender das fonte que têm disponíveis. Só na África, mais de 600 milhões de pessoas ainda não têm acesso à ele cidade básica e 70% das empresas citam a energia não confiável como principal obstáculo para fazer negócios no continente , afirma. Confira, os principais projetos de energia e mobilidade no Brasil Táxi elétrico

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PETRÓLEO

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O sobe-desce do preço do barril de petróleo pode ter atrapalhado o avanço das energias renováveis, mas não o inviabilizou

No mundo corporativo costuma-se dizer que o órgão mais sensível do corpo humano é o bolso. Em 2008, quando a cotação do barril de petróleo alcançou o recorde de US$ 140, este raciocínio serviu para catapultar as chamadas economias de baixo carbono e as fontes renováveis de energia. Uma época farta em dinheiro para novos projetos, regado de um acalorado debate sobre um planeta menos dependente de combustíveis fósseis.

Passados oito anos, o cenário é outro. A crise econômica mundial levou o preço do barril para a casa dos US$ 50 e o tombo fez emergir a discussão se o plano para substituição das fontes de energia suja foi por água abaixo. Os mais incrédulos dizem que gasolina e o diesel mais baratos servem para aliviar o bolso do consumidor, o que atrasa todo um esforço feito até aqui para barrar o aquecimento global. O contraponto é que o grupo dos que acreditam que já não há mais caminho de volta é mais encorpado. �Há hoje uma geração de jovens que não cobiça o automóvel como se desejava no passado. Uma sociedade mais consciente de que existem fontes alternativas de energia aos combustíveis fósseis�, afirma Alfred Szwarc, consultor de sustentabilidade da Unica, enditade que representa a indústria sucroalcooleira. �Temos soluções em energia eólica, hídrica, solar e o etanol.� Para ele, a consciência social e ambiental fez surgir uma nova economia, em que a mobilidade e a energia renovável tornaram-se uma obsessão. �É preciso saber o que fazer com o pré-sal brasileiro. Vamos queimá-lo ou prosperar com uma matriz energética limpa?�

A União Europeia, que na semana passada sofreu um violento retrocesso político e econômico com a decisão dos eleitores britânicos de sair do bloco, é um exemplo dessa tendência. Em maio, Portugal comemorou um fato histórico: o país passou quatro dias iluminado apenas por eletricidade proveniente do sol, do vento e das águas. Foram 107 horas ininterruptas sem depender de nenhum tipo de geração suja, como carvão. Já os alemães, literalmente, ganharam dinheiro ao acender as luzes. Graças à estrutura de geração distribuída do país, na qual é possível devolver à rede energia gerada localmente por meio de painéis solares, a tarifa de luz se manteve negativa por diversas vezes no dia 15 do mesmo mês, um fato inédito até então. Segundo a International Energy Agency, entidade que advoga em favor da geração limpa, o setor de energia renovável deve movimentar US$ 230 bilhões por ano, até 2020. Esse valor pode chegar a US$ 315 bilhões anuais.

O compromisso por uma economia global mais liberta do petróleo está no acordo assinado pelos países-membros das Nações Unidas (ONU) em 2015, quando mais de 150 países comprometeram-se a �assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível a energia para todos� até 2030. Para o diretor do centro de informação da ONU no Brasil, Giancarlo Summa, há uma �conta de padaria� a ser feita pela sociedade. Segundo ele, abdicar de todo o esforço por energias renováveis e esperar até 2030 � e checar o que foi ou não feito � é um equívoco. �Renegar os esforços para uma mobilidade sustentável tem um impacto econômico, e principalmente ambiental, muito mais alto do que se imagina�, diz.

Para o presidente da GE do Brasil, Gilberto Peralta, os preços mais baixos do petróleo significam que os governos têm espaço político para reduzir os subsídios. Segundo ele, no longo prazo a remoção dos incentivos irá melhorar a saúde fiscal e levar a um mecanismo de mercado, �para realocar os recursos na produção de energia mais confiável, eficiente e com preço justo, tornando possível o fornecimento para mais pessoas�. Peralta afirma que houve um grande avanço na disseminação de energia a todos os países, principalmente em fontes renováveis. Mas ressalta que isto ainda é pouco. �Uma em cada seis pessoas ainda não têm acesso à eletricidade, e um terço da população não pode depender das fontes que têm disponíveis. Só na África, mais de 600 milhões de pessoas ainda não têm acesso à eletcidade básica e 70% das empresas citam a energia não confiável como principal obstáculo para fazer negócios no continente�, afirma.

Confira, os principais projetos de energia e mobilidade no Brasil

Táxi elétrico

Page 2: A Vida Sem Petróleo

A Nissan concluiu seu programa de táxis elétricos no Rio de Janeiro e em São Paulo, após quatro anos. A iniciativa reduziu em 340 toneladas a emissão de CO22 nas duas capitais. No período, 25 automóveis modelos Leaf, movidos à eletricidade, rodaram mais de 2,2 milhões de quilômetros. Os veículos foram cedidos em comodato

O sol é para todos

A chinesa Renesola iniciou a venda de painéis solares no Brasil � a empresa atuava apenas na área de lâmpadas. Para marcar a entrada no segmento, ela fez um acordo com o Ministério de Minas e Energia e instalou no prédio do órgão, em Brasília, um sistema capaz de garantir 40% do consumo

Vá de bike

A transportadora TNT está adotando bicicletas para fazer entregas em três cidades brasileiras: São Paulo, Curitiba e Campinas. Com isso, conseguiu reduzir o tempo gasto nos trajetos e a emissão de poluentes. Na capital paulista, foram feitas 439 entregas, em 222 quilômetros, o que permitiu uma economia de 16 kg de CO22

De carona na estrada

A francesa BlaBlaCar, que oferece um aplicativo para encontrar caronas, contabilizou 10 milhões de quilômetros percorridos por viajantes em 100 dias de operação no País. A distância equivale a 13 viagens entre a Terra e a Lua. Com isso, os usuários da plataforma deixaram de emitir mais de mil toneladas de CO2 na atmosfera

Bateria carregada

As concessionárias CPFL, de energia, Autoban, de rodovias, e a rede de postos rodoviários Graal vão instalar o primeiro corredor intermunicipal para veículos elétricos do País. As rodovias Anhanguera e Bandeirantes, em São Paulo, ganharão eletropostos nos quais será possível carregar 80% da bateria de um carro em meia hora

Carga elétrica

A sueca Scania segue em sua cruzada pelo desenvolvimento de novas opções de propulsão para caminhões. Seu modelo híbrido P320 Euro 6, movido a a biodiesel e eletricidade, recebeu, no final de abril, o prêmio Green Truck Future Inovation, organizado pela imprensa alemã, um dos mais importantes na área de transportes

Aluguel conectado

A Hertz vai adicionar à sua frota o modelo Renault Zoe, totalmente elétrico. O veículo poderá ser alugado a partir do segundo semestre deste ano. Com autonomia para até 150 quilômetros, o Zoe poderá ser abastecido gratuitamente em um dos 25 eletropostos que a companhia pretende instalar, inicialmente em São Paulo

Economia líquida

A Toyota economizou 57 milhões de litros de água, em 2015, na comparação com o ano anterior. Mudanças em seu processo produtivo reduziram em 11,2% o consumo de água por veículo fabricado, para 1,98 metro cúbico. O volume é suficiente para abastecer cerca de cinco milhões de pessoas por ano

Casa modular

A startup Hometeka, da área de arquitetura, está lançando a Casa Chassi, que une a praticidade das micro casas modulares, com o conforto de espaços mais amplos. Além de gerar poucos resíduos, a casa inclui soluções como aquecimento solar e reúso de água. Uma v

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ersão básica, com dois dormitórios, sai por R$ 175 mil.

Bike literária

A Livraria Cultura e a WebECOmendas, empresa especializada em entregas ciclísticas, estão lançando um projeto de delivery de livros por meio de bicicletas. O serviço estará disponível, inicialmente, apenas na região da Avenida Paulista, em São Paulo, que é atendida pela icônica unidade da varejista no Conjunto Nacional