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  • A TERRITORIALIZAO PLATINA DA

    CASA AFRICANA REINO DE OGUM MAL

    Daniel F. de BEM

    (doutorando NER-PPGAS/UFRGS;

    [email protected]) e

    Adriana DORFMAN

    (prof CAp/UFRGS, doutoranda PPGG/UFSC;

    [email protected])

    Rua Jacinto Gomes, 24 apto 54 - Santana

    90040-270 Porto Alegre - RS

    Resumo

    O presente artigo explora conceitos como territrio e fronteira, a partir da etnografia da Casa

    Africana Reino de Ogum Mal, terreiro com sede em Santana do Livramento (Brasil), na

    fronteira com Rivera (Uruguai), e filiais em Montevidu (UY), Posadas (Argentina) e San

    Miguel de Tucumn (AR). Essa comunidade territorializa-se transnacionalmente atravs do

    parentesco sangneo e ritual e do compartilhamento de prticas e valores religiosos. Destaca-

    se o cumprimento de um calendrio de festas e obrigaes, em que o centro move-se entre

    diferentes pontos do territrio atravs circulao da me-de-santo e de seus filhos.

    O artigo descreve esta territorialidade como a concretizao do projeto de uma famlia-de-

    santo, habitante de lugares de passagem, participante de um processo de difuso religiosa j

    histrica e compartilhando estruturas sociais no espao platino. Para tanto, o conceito de

    transnacionalizao religiosa ser acionado.

    Destaca-se a centralidade da fronteira nesse processo, uma vez que Livramento-Rivera so

    dotadas de caractersticas e estruturas institudas seguindo a lgica dos estados-nao, mas

    que no servem somente a eles conformadoras da condio fronteiria que outorga bens

    simblicos ou materiais aos portadores / passadores da religio.

    Palavras-chave: territorializao religies afro-brasileiras transnacionalizao fronteira.

    CASA AFRICANA REINO DE OGUM MALEH AND ITS TERRITORIALIZATION THROUGH LA PLATA BASIN

    Abstract The following paper explores concepts such as territory and border in the ethnography of

    Casa Africana Reino de Ogum Maleh, a religious house (or terreiro) which has its main

  • 2

    location in the border-cities of Santana do Livramento (BR)/Rivera (UY), along with

    locations in Montevideo (UY), Posadas (AR) and San Miguel de Tucuman (AR). Such

    community has a transnational territory, where it shares ritual and blood-kinship, and

    religious values and practices. It stages a calendar of feasts and obligations, when the center

    of the territory displaces itself through territory through the circulation of the mother-of-saint

    and of its sons.

    The article describes such territoriality as the concretization of the project of a family-in-saint,

    inhabiting places of passage, taking part in an historical process of religious diffusion and

    sharing social structures in La Plata space. Thus, the concept of religious transnationalization

    is employed.

    The border is central to the process, since Livramento/Rivera display structures and

    characteristics which were originally proposed by the nation-state but that are presently at

    service of multiple agents.

    Key-words:

    territorialization African-Brazilian religion transnationalization border.

    Apresentao

    O presente artigo explora a materializao de conceitos como territrio e fronteira, a partir da

    etnografia da rede de terreiros Casa Africana Reino de Ogum Mal, com sede em Santana do

    Livramento (Brasil) na fronteira com Rivera (Uruguai) e filiais em Montevidu (UY),

    Posadas (Argentina) e San Miguel de Tucumn (AR)1. Essa comunidade territorializa-se

    transnacionalmente atravs de laos de parentesco sangneo e ritual e do compartilhamento

    de prticas e valores religiosos. Entre as prticas se destaca o respeito a um calendrio

    litrgico de festas e obrigaes, em que o centro do territrio de terreiros move-se para

    diferentes pontos deste, com a circulao da me-de-santo e de seus filhos.

    O artigo busca descrever a territorialidade desta comunidade como a concretizao do projeto

    estratgico de uma famlia-de-santo, habitante de lugares de passagem, participante de um

    1 Essa pesquisa, que se iniciou em julho de 2005, originou-se nas investigaes para a escritura de Caminhos do Ax (BEM, 2007). A realizao simultnea de trabalhos de campo para a pesquisa em curso da tese Contrabandistas na fronteira gacha, de Adriana Dorfman, resultou no encontro e reflexes interdisciplinares entre antropologia e geografia consolidadas no incio de 2007 no artigo Terreiro, territrio, transnacionalizao, a ser publicado no livro Territorialidades Humanas, organizado por Leila Christina Dias e Maristela Ferrari.

  • 3

    processo de difuso religiosa cujas origens podem ser situadas nas primeiras dcadas do

    sculo XX e compartilhando estruturas sociais dentro do espao platino.

    Para tanto, o conceito de transnacionalizao religiosa ser acionado ao longo dessa

    exposio. Destaca-se a centralidade da fronteira nesse processo, uma vez que as cidades-

    gmeas de Livramento-Rivera caracterizam-se como dotadas de caractersticas e estruturas

    institudas dentro da lgica dos estados-nao, mas que no servem somente a eles

    conformadoras da condio fronteiria que outorga bens simblicos ou materiais aos

    portadores / passadores da religio. Territrios estatais, com suas marcas de identidade, entre

    as quais a destacam-se a nacionalidade e a lngua, so postos em contato na regio fronteiria,

    onde territorializa-se essa comunidade (DORFMAN & BENTANCOR ROSS, 2005).

    A Casa Africana Reino de Ogum Mal

    A etnografia que subsidia este artigo centrou-se na comunidade religiosa Casa Africana Reino

    de Ogum Mal (CAROM), gerida por Me Chola a partir das cidades-gmeas de Livramento-

    Rivera e que abrange atualmente mais de trezentas pessoas (entre filhos-de-santo, clientes e

    assistentes) ligadas tanto ao terreiro principal em Livramento-Rivera, quanto distribudas pelas

    filiais na Argentina e no Uruguai. Esta comunidade pratica a linha cruzada, uma combinao

    de rituais de batuque, quimbanda e umbanda.

    A construo desta rede comea na dcada de sessenta com o primeiro terreiro de Me Chola.

    Inicialmente realizavam-se sesses de umbanda em sua casa em Rivera, com a presena de

    parentes e vizinhos. Em vista do aumento do nmero de participantes, o projeto religioso de

    Glria Silveira, conhecida como Chola de Ogum, assumiu a forma de um terreiro com sede

    prpria. H aproximadamente dez anos, a atual sede da CAROM foi construda no bairro do

    Prado, na periferia de Livramento-Rivera, ao lado da casa de Belkis de Oxal, filha carnal e de

    religio de Chola.

    Num segundo momento, nos anos setenta, Me Chola era procurada em Montevidu, quando

    ia visitar um dos seus irmos de sangue, para dar consultas com bzios.O aumento de sua

    reputao motivou viagens cada vez mais freqentes. No processo, muitos destes consulentes

    se iniciaram nas religies afro-brasileiras, levando ao estabelecimento da primeira filial da

    CAROM. Em Montevidu o terreiro j esteve em mais de trs endereos, mas tambm passou

    um bom tempo sem ter um templo estabelecido, at que, mais ou menos quinze anos atrs,

    Cristina do Bar, uma filha-de-santo local, ofereceu a garagem de sua casa, na periferia, para

    servir como espao ritual.

  • 4

    A partir da dcada de noventa, j como uma me-de-santo de prestgio no Brasil, Uruguai e

    Argentina, Me Chola contatada por alguns de seus netos-de-santo de Posadas, no NE

    argentino, descontentes com o pai-de-santo que os iniciara. Assim, ela se torna responsvel

    pelos fiis e passa a visit-los mensalmente para gui-los na religio, constituindo ento a

    terceira filial do seu terreiro, nesta cidade.

    Dessa forma, a rede de terreiros ampliou-se para a Argentina. Me Chola estabelece ento uma

    conexo com pais-de-santo em San Miguel de Tucumn, no Noroeste deste pas. L ela

    amadrinha dois terreiros, os quais visita algumas vezes por ano, alm de receber membros

    destes em Livramento-Rivera.

    Me Chola articula os filhos-de-santo ligados a estes cinco terreiros, alm de fiis dispersos no

    Mxico e E.U.A, que ela orienta atravs de contatos telefnicos e em visitas eventuais, durante

    as quais ela pode celebrar alguma sesso de quimbanda.

    A trajetria de Glria Silveira, uma mulher uruguaia, de ascendncia negra, nascida em uma

    famlia pobre da zona rural e com baixa escolaridade, ao longo de quarenta anos de trabalho

    sacerdotal, frutificou na consolidao de um territrio religioso transnacional. Me Chola

    exibe hoje em seu terreiro santanense as bandeiras do Brasil, do Uruguai, da Argentina, do

    Mxico e dos E.U.A ladeando o estandarte da Casa Africana Reino de Ogum Mal.

    Alm dos mritos pessoais desse sujeito, considera-se que o campo de possibilidades2

    desenhado pela condio fronteiria de Livramento-Rivera (ao mesmo tempo perifricas aos

    estados-nao e plenas de alternativas polticas e econmicas oferecidas pelo trnsito

    fronteirio) foi fundamental na materializao do projeto religioso dessa comunidade.

    A transnacionalizao das religies afro-brasileiras no Prata: histria, subjetividade e

    territorializao

    O caso aqui relatado no nico ou excepcional. H um movimento histrico de

    transnacionalizao das religies afro-brasileiras para os pases da bacia do rio da Prata que

    usa a permeabilidade fronteiria do Rio Grande do Sul como frente de expanso para novos

    territrios. A principal rota afro-religiosa para o Uruguai passa por Livramento-Rivera, onde

    se estabeleceram alguns dos pais-de-santo precursores dessa difuso. De maneira semelhante,

    2 Para lidar com o possvel vis racionalista, com nfase na conscincia individual, auxilia-nos a noo de campo de possibilidades como dimenso sociocultural, espao para a formulao e implementao de projetos. Assim, evitando um voluntarismo individualista agonstico ou um determinismo sociocultural rgido, as noes de projeto e campo de possibilidades podem ajudar a anlise de trajetrias e biografias enquanto expresso de um quadro scio-histrico, sem esvazi-las arbitrariamente de suas peculiaridades e singularidades. (VELHO, 1999, p. 40, grifos do autor).

  • 5

    Uruguaiana-Paso de los Libres historicamente caminho de entrada da religio para o

    territrio argentino.

    Isso pode parecer paradoxal quando se percebe o RS dentro do conjunto brasileiro j que

    este estado usualmente imaginado como um dos mais brancos do Brasil mas adquire

    sentido com a mudana do conjunto geogrfico em questo, quando se analisa o RS como uma

    regio da rea platina, com a qual compartilha bens simblicos, efeito e causa de sua posio

    marginal no conjunto brasileiro. Ainda assim, pode-se perceber em campo a presena da

    imagem de uma Bahia mtica, como uma terra sagrada e originria, no imaginrio dos afro-

    religiosos argentinos e uruguaios inseridos na tradio da linha cruzada rio-grandense.

    A origem desse movimento transnacional encontra-se nas dcadas de trinta e quarenta e do

    sculo passado3. Atualmente, atingiu-se uma estabilidade no processo, com certa

    autonomizao das cenas afro-religiosas argentinas e uruguaias. Ainda assim, laos entre pais-

    de-santo nos trs pases permanecem ativos.

    Desse espraiamento geogrfico de prticas ligadas s religies afro-brasileiras resultam: 1)

    mudanas operadas na subjetividade dos primeiros conversos e das geraes que os seguiram;

    2) adaptaes nas formas e contedos das prticas religiosas. Tais transformaes so

    respostas s territorializaes estatais previamente instaladas no Prata e ensignadas nos

    habitantes desses espaos, gerando diferenas jurdicas, polticas, e sobretudo, na direo da

    nacionalizao da cultura, lingsticas, tnicas entre esses.

    Quanto subjetividade, as mltiplas experincias dos sujeitos, que so fragmentrias na

    modernidade devido enorme variedade de referncias, por vezes conflitantes4, podem ser,

    segundo Geertz (2001), organizadas a partir do sentido dado pela religio. A relao com o

    mundo proposta pelas religies afro-brasileiras pode ordenar tais experincias, a partir da vida

    comunitria ritual e extra-ritual, constituda no pertencimento a uma famlia-de-santo, que se

    caracteriza por relaes de afinidade e de solidariedade intensas, atravessando os diversos

    mbitos da vida social.

    3 No Uruguai sabe-se da existncia de terreiros em Artigas, fronteira com o Brasil, desde 1936 e na capital, Montevidu, desde 1942. No entanto, o processo de transnacionalizao afro-religiosa para os pases platinos s se intensificou em meados da dcada de sessenta, quando abriram portas os primeiros terreiros em territrio argentino (CORREA, 1998). Para outras anlises sobre o processo de difuso para o Uruguai e a Argentina, ver Oro (1993, 1999), Pi Hugarte (1993a, 1993b), Frigrio (1998) e Segato (1998). 4 Gilberto Velho aborda o conceito de identidade na modernidade, em sociedades onde predominam as ideologias individualistas, propondo uma diferenciao entre o que j est dado aos indivduos e o que adquirido em funo de uma trajetria com opes e escolhas mais ou menos dramticas. Assim, contemporaneamente, a constituio da intersubjetividade passa pelo indivduo psicolgico, enquanto unidade elementar dessa forma de organizao social (VELHO, 1999, p.97).

  • 6

    Tambm, entrar para uma religio baseada na incorporao das entidades no crente, implica

    em aprender e praticar uma forma de ser (no que tange a viso de mundo e prxis) distinta em

    relao s manifestas hegemonicamente dentro da modernidade ocidental, diferena essa que

    se amplifica, na Argentina, diante da ausncia simblica de patrimnio negro e, no Uruguai,

    com a grande descrena nos dogmas religiosos em geral. dentro deste quadro que pode-se

    apontar, no plano das identidades tnicas, uma positivao da negritude que assume vrias

    formas, desde uma reetnizao dos afro-descendentes (at ento sem canal de expresso

    identitria individual ou coletivo, pelo menos na Argentina), passando por uma admirao dos

    valores negros por brancos, at uma auto-atribuio de identidade negra por pessoas de

    fentipo branco nos pases em questo.

    No que tange s adaptaes nas formas e contedos das prticas religiosas para propiciar sua

    aceitao perante os contedos culturais pr-existentes no espao platino, pode-se mencionar,

    em primeiro lugar, a substituio do termo afro-brasileiro por afro-umbandista, aumentando o

    peso do elemento africano e diminuindo as marcas da brasilidade original. A mudana d

    relevncia umbanda, sincrtica com o catolicismo e com o kardecismo, formas de

    espiritualidade l praticadas.

    O uso do espanhol e do portuol como lnguas rituais tambm uma marca do processo. O

    espanhol falado pelos pais-de-santo antes do transe, comunicando-se com seus filhos

    hispanfonos. Quando incorporadas, as entidades falariam portugus, entretanto, os crentes em

    que as incorporam carecem da fluncia necessria, acabando por expressar-se em portuol.

    Isso no causa espcie, posto que a adaptao entre o ideal da entidade e os meios fornecidos

    pelo cavalo fato estabelecido na religio, da mesma forma que a atualizao das expresses

    rituais ao novo lugar em que se realizam entendido como parte do processo de

    transnacionalizao, ainda que diante de tenses e estranhamentos.

    Novas entidades comearam a freqentar as sesses realizadas nos terreiros do Prata, como os

    africanos, pela linha da umbanda, e os exus-do-alto, na quimbanda. Esses ltimos apresentam

    marcas de riqueza e educao; sendo atraentes e vistosas, facilita-se a difuso de seu culto,

    enquanto os africanos so manifestaes de jovens negros de gestos expansivos e simpticos,

    ligados ao salo dos terreiros e no a paisagens naturais (ORO, 1999).

    Os novos contedos e formas surgidos nos indivduos e nas estruturas litrgicas foram

    ensejados pela territorializao transnacional desse sistema religioso alm-nao brasileira.

    Aplica-se o conceito de transnacionalizao, nesse caso, de forma distinta de sua acepo mais

    usual, referida expanso global de empresas transnacionais ou outros agentes capitalistas

  • 7

    hegemnicos. Os sujeitos desses processos so normalmente descritos como pobres, sem

    grande expresso poltica, portadores de uma cultura de minoria, marginal ao centro do

    estado-nao e relegada s periferias das cidades. Todavia, esses sujeitos participam da criao

    de redes de solidariedade, motivadas pela lgica religiosa, que ultrapassam as fronteiras

    estatais e suas marcas identitrias mais visveis (como a nacionalidade, a lngua) ou menos

    declaradas (como a suposta homogeneidade tnica branca dos argentinos e uruguaios e a

    vinculao unvoca entre o estado nacional argentino e a igreja catlica) em um movimento

    transnacional pelas margens e fronteiras.

    No caso especfico da CAROM, a constituio de uma rede que rene indivduos distantes

    milhares de quilmetros, em trs pases, fazendo com que estes, acima de diferenas, se

    compreendam enquanto uma comunidade de destino (WEBER, 1994[1922]) e de sentido

    (BACZKO, 1985), constri alianas, a partir da religio, dentro de um calendrio de festas e

    obrigaes determinado pela prtica ritual. Essa rede desenha um territrio de fronteiras

    fluidas, formado pelos terreiros e lugares de culto eventuais, que se integram ao abrigar as

    estaes de culto dentro do calendrio ritual.

    A famlia-de-santo da CAROM: uma rede territorializada

    A comunidade que se organiza em torno da CAROM composta por vrios nveis de

    comprometimento, que comeam na posio central de Me Chola, lder espiritual da

    comunidade, oficiante dos principais ritos de batuque, quimbanda e umbanda, e principal elo

    entre as pessoas e os terreiros. A ela seguem-se alguns membros de sua famlia-de-sangue, que

    exercem tarefas de grande destaque nos terreiros, formando um primeiro crculo de famiiares

    de sangue com papis de destaque, sendo tambm tamboreiros ou lderes de correntes

    O prximo crculo formado por filhos-de-santo com muitos anos de aprontamento e

    freqncia na casa em Livramento, e tambm por aqueles que possuem lugar de destaque nas

    filiais da CAROM. Nos freqentes momentos de sociabilidade extra-ritual, essas pessoas

    formam um grupo de famlias intimamente ligadas por relaes de compadrio e afinidade.

    Essa estrutura de famlias afins, graas a uma sociabilidade engendrada no terreiro, pode

    tambm ser encontrada em Montevidu e Posadas, com diferenas quanto ao nmero de anos

    de prtica e da proximidade famlia carnal de Chola em cada caso.

    Em um terceiro crculo posiciona-se a assistncia, composta por familiares ou conhecidos dos

    filhos-de-santo, que freqentam as sesses de maneira espordica, por vezes sendo filhos-de-

    santo de proteo de Me Chola, sem a obrigao do desenvolvimento medinico.

  • 8

    Por fim, encontra-se em um quarto crculo mais externo a clientela, que, numa relao

    comercial, utiliza-se dos servios divinatrios, curativos e espirituais oferecidos por Me

    Chola. Evidentemente essa comunidade no isolada e dentro de um sistema religioso maior

    encontra-se em relao com outros terreiros, casas de artigos religiosos, uma mdia dedicada a

    religio, etc.

    Durante o calendrio ritual desta comunidade, membros dos dois primeiros crculos (mas

    eventualmente tambm do terceiro) acompanham Me Chola em suas viagens entre os

    terreiros ou vo ao seu encontro em Livramento-Rivera. Nessa circulao de pessoas pela rede

    de terreiros se (re)constri a territorialidade da CAROM.

    Espao sagrado e paisagens

    Algumas divises do espao podem ser generalizadas para as religies de matriz afro-

    brasileira. O terreiro o espao central para as prticas rituais dessas religies e dentro dele

    existe uma srie de lugares estabelecidos para momentos especficos do ritual: h o peji, ou

    quarto-de-santo, onde ficam os assentamentos5 de todos os membros do terreiro; a partir desse

    ncleo se orientam as subdivises do terreiro. Ainda h o salo com altares de imagens; um

    espao reservado para os tamboreiros; uma rea de incorporao, onde s se pode estar

    descalo e os mdiuns realizam as danas sagradas (a gira, roda ou ronda, em espanhol); e um

    entorno com cadeiras, para a assistncia. Fora do salo est o quarto de exus e a cozinha ritual.

    Na frente do terreiro est colocada uma casinha para o Bar da rua, sendo que todas as

    entradas e sadas do salo tambm so lugares associados a este orix. O terreiro, nodo dessa

    sociabilidade religiosa, emerge pela reproduo de uma diviso espacial ideal, de fundo

    mtico-ritual, nos lugares determinados para as prticas codificadas e organizadas em torno de

    um pai-de-santo e da comunidade que ele lidera. No se trata necessariamente de um templo

    materializado de forma estvel, possuindo flexibilidade em termos de localizao ou

    compartilhamento com outros usos dados ao mesmo espao.

    Noutra escala, englobando todo o ambiente, dentro da separao entre sagrado e profano, tipos

    de paisagem especficos esto vinculados aos orixs do batuque: encruzilhadas (Bar e

    Ogum), pedreiras (Xang), matas (Oi, Ob, Xapan, Od, Otim e Ossanha), cachoeiras e rios

    (Oxum), praias de mar (Iemanj e Oxal). Ainda assim, como cada orix possui inmeras

    manifestaes especficas, pode-se, por exemplo, celebrar ritos para Ogum, na mata.

    5 O conjunto de objetos que concretizam a aliana entre o fiel e seu orix, canal entre o mundano e o espiritual e extenso material da divindade pessoal de cada crente. O assentamento exige um cuidado constante na forma de alimentos, ativaes, acrscimos, seja por visitas do iniciado ou por atos de um sacerdote qualificado.

  • 9

    Nas linhas rituais de umbanda e quimbanda, esses espaos de culto esto ligados a outras

    entidades: encruzilhadas so domnio de exus, pombagiras e ciganos; as pedreiras ligam-se a

    xangs; as matas so lugar de pretos-velhos e caboclos; rios, cachoeiras e praias so territrio

    de mes dgua. Nessas paisagens, durante a realizao de rituais, reproduz-se a organizao

    espacial do terreiro, isto , estabelecem-se altares e locais propcios para se depositar as

    oferendas, espaos para os tamboreiros, reas para gira e para a assistncia.

    Essas religies atribuem grande valor s foras e elementos da natureza, da a escolha, atravs

    da prescrio mitolgica, dessas paisagens naturais para a realizao de rituais importantes.

    Ainda assim, paisagens humanas podem ser acionadas, na medida em que representam esferas

    de ao das entidades sobre a vida cotidiana: o Bar est ligado ao comrcio, podendo ser

    venerado em mercados, e sendo o dono da rua e dos caminhos, recebe oferendas nas esquinas

    da cidade; Xang rege as leis e a escrita, estando presente em prdios pblicos como fruns;

    os trabalhos para os exus (na quimbanda) podem ser feitos nas esquinas, mas tambm em

    cemitrios...

    Observa-se uma espacialidade intermitente e flexvel de certas manifestaes rituais das

    religies em questo: espaos pblicos e profanos tornam-se ritualmente sagrados ao serem

    apropriados por uma entidade e seu fiel; terreiros so transpostos para paisagens naturais,

    transformadas em paisagens de culto; a deciso sobre os lugares para se despachar as

    oferendas fica a cargo da adivinhao por bzios, o que pode sacralizar lugares inesperados.

    Dentro do coletivo natureza-cultura, todos os lugares e objetos so suscetveis de

    semantizao religiosa.

    A territorializao do calendrio religioso da CAROM

    Essa correspondncia entre entidades e paisagens uma caracterstica imanente das religies

    afro-brasileiras, pedindo uma circulao dos praticantes para a realizao de rituais, seja por

    conta de necessidades individuais ou por prescries que se distribuem ao longo do ano

    litrgico. Na prtica da CAROM, tal correspondncia realizada em associao a outras

    variveis geogrficas, dentro do territrio possvel para as prticas. A necessidade de articular

    terreiros e praticantes em pontos distantes do territrio, dentro de configuraes nacionais

    distintas, preponderante na construo de um calendrio ritual que prope a circulao da

    me-de-santo e de fiis pelos terreiros dessa comunidade.

    Livramento-Rivera possuem, para essa comunidade, uma centralidade que as tornam em uma

    espcie de capital ou centro fixo do territrio da CAROM. A freqncia com que Livramento-

  • 10

    Rivera sediam rituais prova isso e deve-se no apenas ao fato de ali se encontrar a residncia

    de Me Chola, de parte de sua famlia carnal e de um contingente respeitvel de fiis, como

    tambm por a ter sido o palco dos rituais iniciticos da maioria dos filhos-de-santo residentes

    em outras cidades, o que faz com que ali estejam seus assentamentos. Essa cidade fronteiria

    ao estado-nao possui uma centralidade para o territrio de terreiros da CAROM que

    ecoa o protagonismo desse ponto de passagem e de trocas transnacionais no processo de

    expanso das religies afro-brasileiras para os pases do Prata.

    Os fiis de todos os terreiros acorrem idealmente trs vezes por ano, em 20 de janeiro, 23 de

    abril e no ltimo fim-de-semana de junho ao centro fixo para cumprir as obrigaes do seu

    desenvolvimento espiritual nas trs vertentes da linha cruzada. Outro evento aglutinador o

    aniversrio da lavagem de cabea de Me Chola, ocasio de um grande batuque. Os filhos-de-

    santo realizam viagens que podem durar um dia inteiro, para permanecerem no terreiro por at

    uma semana, ocasies em que so ciceroneados pelos irmos-de-santo locais, em convivncias

    intensas que incluem cozinhar para os irmos e para os santos, longos preparativos de

    oferendas e do salo para os rituais, buscar e levar os visitantes na rodoviria, para visitar

    pontos tursticos... Tais atividades aproximam, para alm da lngua, nacionalidade ou classe

    social, essas pessoas que noutros pertencimentos pareceriam to diferentes.

    Aliado ao centro fixo em Livramento-Rivera, a CAROM organiza sua comunidade atravs do

    centro mvel representado por Me Chola. Excetuando-se as frias em janeiro e fevereiro, nos

    primeiros dez dias de cada ms, Me Chola encontra-se em Posadas. No mnimo a cada dois

    meses, ela vai a Montevidu e Tucumn, geralmente alternando essas viagens. A presena da

    me-de-santo ativa o pertencimento famlia-de-santo e o compartilhamento do territrio.

    A realizao de festas que congregam os filhos-de-santo nos terreiros de Posadas e

    Montevidu aumenta o prestgio de Me Chola, que mostra ter muitos terreiros e ser capaz de

    mobilizar um sqito para lhe acompanhar nas viagens por estes. Alm disso, tais cerimnias

    confirmam a importncia da corrente em lugares menos estveis no territrio da CAROM.

    Em Montevidu, Me Chola precisa demonstrar legitimidade perante os prprios filhos-de-

    santo, que participam de uma cena religiosa bastante concorrida. Por exemplo, em 02 de

    fevereiro, quando Iemanj cultuada por milhares de leigos que se renem na Playa Ramrez,

    s margens do rio da Prata (considerada pelos uruguaios como praia de mar), Me Chola

    prefere diferenciar-se de dezenas de terreiros considerados por ela como charlates,

    entregando seus presentes em outra praia.

  • 11

    Em Posadas, o terreiro mais recente e as prticas afro-religiosas ainda encontram certa

    resistncia, demandando uma sutil negociao entre sigilo e propaganda. Por exemplo, em 08

    de dezembro de 2005, durante o ritual para Oxum no rio Paran uma estratgia de divulgao

    de uma imagem positiva desse sistema religioso alguns terreiros, tendo comunicado s

    autoridades competentes, ocuparam o espao pblico para realizarem suas oferendas, entre

    banhistas admirados e curiosos, que estranhavam a existncia de uma santa negra (N. Sra.

    Aparecida /Oxum). A continuao do ritual, no terreiro de Me Chola, foi interrompida por

    visita policial, motivada por uma denncia originada na vizinhana, confuso logo dirimida

    pela me-de-santo. Tais eventos apontam para o longo caminho a ser trilhado pelos afro-

    religiosos at a obteno de pleno reconhecimento de suas crenas em terras argentinas.

    J em San Miguel de Tucumn, entendida como frente pioneira desse movimento religioso na

    Argentina, Me Chola encontra dificuldades para a correta realizao dos ritos, haja vista a

    escassa experincia dos filhos-de-santo locais e acabam por misturar prticas esotricas e

    indgenas com o culto afro.

    A presente configurao do calendrio ritual da CAROM representa a etapa atual de um

    processo, portanto os ns e limites deste territrio j foram e podero tornar-se outros, numa

    lgica em que os deslocamentos correspondem a uma necessidade de articular pela circulao

    as pessoas que tem a mo de Me Chola como fonte de uma identidade compartilhada.

    A territorialidade da CAROM e suas fronteiras

    importante notar que o territrio da CAROM distingue-se dos territrios estatais ou sub-

    estatais na medida em que no possui uma institucionalidade reconhecida. Desta forma esse

    territrio sustenta-se pela constante atualizao de sua territorialidade, em outras palavras,

    pela prtica espacial de seus membros, j que no conta com estruturas capazes de reproduzir

    inercialmente o territrio. Talvez seja essa a principal razo pela qual a existncia de um

    territrio sobre o qual se projetam as aes dessa comunidade possa ser ignorada por quem

    atribua ao territrio uma estabilidade no tempo e uma continuidade no espao.

    Tem-se falado de territrio de terreiros e de uma territorialidade estabelecida pela rede de fiis

    e terreiros CAROM, aplicando aqui as formulaes de Yves Barel6 que define territrio como

    1) lugar pertinente localizao, limites da ao do sujeito; 2) especificidade de um espao social que o distinge do resto da sociedade ou de outros territrios; 3) zona de limites entre o social e o que no se define inteiramente em termos sociais (o no-social): a biologia, a lngua, a fsica das coisas etc. (apud SODR, 1988, p. 50).

    6 BAREL,Yves. La societ du vide. Paris: Seuil, 1984,p. 117-119.

  • 12

    Essa rede de terreiros certamente estabelece lugares nos quais suas aes adquirem sentido,

    dentro dos limites impostos por outras institucionalizaes com as quais encontra-se em

    constante negociao.

    O conceito de territrio de Claude Raffestin prope trat-lo como uma relao dos atores com

    o espao, materializando-se atravs de limites, nos quais um determinado grupo tem o poder

    de produzir e gerir uma forma de viver prpria. Este conceito diferencia-se da noo de

    espao, entendido como dado e preexistente e, portanto, contingente (RAFFESTIN, 1993, p. 143-

    144). O autor, ao caracterizar o territrio como uma projeo de trabalho sobre o espao,

    condiciona este conceito s relaes de poder que formam a territorialidade em sistemas de

    articulaes entre tessituras, ns e redes [que] organizadas hierarquicamente permitem

    assegurar o controle sobre aquilo que pode ser distribudo, alocado e/ ou possudo

    (RAFFESTIN, 1993, p. 151).

    Aplicando-se tal conceito ao caso da CAROM, vislumbra-se um mapa onde os terreiros so os

    pontos, os deslocamentos da famlia-de-santo so as tessituras que formam a rede polarizada

    em Livramento-Rivera. Apropriando os termos do sistema religioso em questo, obtm-se a

    imagem de um territrio interligando as fontes de ax ativadas por essa comunidade.

    Indo alm, observando-se o deslocamento espacial dos membros da CAROM e a flexibilidade

    territorial das religies afro-brasileiras no estabelecimento de espaos sagrados e locais de

    culto, pode-se supor que sua territorialidade baseie-se em semelhante maleabilidade, associada

    menos posse que ao uso do espao, j que tambm se pode conceituar o territrio como o

    lugar marcado de um jogo, que se entende em sentido amplo como a protoforma de toda e

    qualquer cultura: sistema de regras de movimentao humana de um grupo, horizonte de

    relacionamento com o real, configurando um sistema simblico auto-referido que determina a

    territorialidade possvel (SODR, 1988, p. 23).

    No caso do terreiro matriz da CAROM, encontra-se uma casa de tradio religiosa afro-

    brasileira, freqentado por santanenses e riverenses, gerido por uma cidad uruguaia e que

    mudou sua sede de um lado a outro da fronteira ao longo de sua existncia. Isso mostra um

    pouco da lgica das passagens fronteirias encontrada nas cidades-gmeas. Essa condio

    contribui para a execuo do projeto religioso de Me Chola, ao lhe aparelhar com o domnio

    de duas lnguas, a experincia das diferentes nacionalidades e suas atitudes diante da poltica,

    a vivncia das variadas formas de ser negra e de ser reconhecida como tal ou de outros tantos

    elementos que variam no cruze das fronteiras do estado-nao.

  • 13

    A condio de residentes de cidades fronteirias, j estabelecida para os fiis da CAROM em

    Livramento-Rivera, fronteira reconhecidamente porosa, repete-se em Posadas, ligada a

    Encarnacin, no Paraguai, pelo rio e por uma ponte constante passagem. Assim sendo, grande

    nmero de fiis dessa corrente convive com diferentes grupos humanos, o que os torna

    capazes de pensarem-se enquanto comunidade a despeito de suas inmeras diferenas, criando

    toda uma economia de trocas simblicas, que tem no ritual o seu mercado, que ora investe na

    expresso da aliana identitrio-religiosa existente neste grupo, ora performatiza as diferenas,

    sobretudo nacionais e tnicas, dos diversos atores envolvidos.

    Concluso

    No Prata, uma estrutura social compartilhada historicamente permite a consolidao de

    territrios transnacionais, reunindo agentes no-hegemnicos, perifricos ao estado-nao. Na

    rede religiosa da CAROM, espaos no-contguos, os terreiros, so ns de uma tessitura

    territorial onde a descontinuidade espacial compensada pela construo de prticas, relaes

    e memria que funcionam como marcas de pertencimento e compartilhamento desses espaos

    pelo grupo que os praticam.

    Assim, a religio torna-se o vetor que gera a principal identificao entre os membros desta

    comunidade. Algum sai do terreiro de Livramento-Rivera e vai ao de Posadas, confraterniza

    com pessoas que tambm tm a mo de me Chola na cabea; que executam os mesmos ritos,

    quase da mesma maneira que o fiel conhece e pratica; todos comem, dormem e preparam

    juntos a decorao para os rituais, enquanto conversam, rememorando experincias

    compartilhadas ou falando de outros aspectos da sua vida privada (BEM, 2007).

    A explorao desse objeto revelou dinmicas territoriais bastante complexas e bem-sucedidas

    de uma comunidade de pessoas comuns, cujo projeto s pode ser percebido quando a

    territorialidade estatal relativizada, e abre-se espao para o conhecimento de outros

    agenciamento do espao. A lgica territorial flexvel que anima a consolidao dos terreiros

    pode, portanto, ser extrapolada at a escala transnacional.

    O vigor desse processo, que aproxima margens geogrficas e grupos marginalizados para

    alm das diferenas ensignadas pelos estados-nao mostra, como diria Milton Santos, que

    so os pobres que, na cidade, mais fixamente olham para o futuro (2002 [1996], p. 325).

    Referncias bibliogrficas

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  • 14

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