3-Plano Pinhal Interior Norte_ANALISESWOT.pdf
-
Upload
ana-carvalho -
Category
Documents
-
view
38 -
download
6
Transcript of 3-Plano Pinhal Interior Norte_ANALISESWOT.pdf
-
NDICE
Parte A - Base de Informao
Caderno 5: Normas e Modelos de Silvicultura
0. Introduo - 1
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais - 3
5.2. Modelos de silvicultura - 165
Caderno 6: Proposta de Plano
0. Introduo - 231
6.1. Objectivos estratgicos gerais e viso para a regio PROF - 232
6.2. Objectivos especficos, modelo de organizao territorial e medidas - 239
6.3. Estratgias complementares - 338
6.4. Indicadores para a monitorizao do plano - 350
-
Plano Regional de Ordenamento Florestal
Parte C Proposta de Plano Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.0 Introduo
Pgina 1 de 376
Os modelos de silvicultura dizem respeito s intervenes florestais e seus momentos mais
oportunos para cada espcie, a privilegiar nas aces de expanso e reconverso dos
espaos florestais, tendo em conta 1) o tipo de povoamento em que ocorre (puro ou misto) e
2) o objectivo da sua conduo, o que inclui distino do regime de conduo (alto fuste ou
talhadia).
Este conjunto de intervenes tem, geralmente, como objectivo a conduo dos
povoamentos com fins produtivos. No entanto, pretende-se que estes modelos abranjam
mais do que silvicultura pura e que tenham um carcter mais abrangente de gesto florestal,
onde se pressupe tambm a existncia de uma interveno activa para outros fins que no
os produtivos, como a conservao, a proteco e o recreio. Deste modo, os modelos de
silvicultura devem ter em conta determinadas condies especficas, que dizem respeito:
defesa dos espaos florestais mais vulnerveis aos agentes biticos e abiticos,
principalmente fogo, pelo que foi elaborado um conjunto de normas tcnicas de
interveno para a defesa da floresta contra incndios e sobre infra-estruturas;
preservao de valores ecolgicos e biolgicos que levaram classificao dos
habitats e das espcies de fauna e flora existentes como relevantes em termos de
conservao;
conservao de ecossistemas de singular valor natural e manuteno da
diversidade biolgica especfica;
sensibilidade de determinadas reas do ponto de vista da proteco do solo e da
gua.
Este objectivo atingido tendo em conta um conjunto de normas tcnicas a considerar na
interveno nos espaos florestais, de acordo com as suas cinco funes principais: a)
produo, b) proteco, c) conservao de habitats, de espcies da fauna e da flora e de
geomonumentos, d) silvopastorcia, caa e pesca nas guas interiores e e) recreio,
enquadramento e esttica da paisagem. As normas tcnicas so apresentadas de acordo com
objectivos de gesto florestal concretos ou intervenes florestais e sistematizadas em
normas de interveno activa e em restries a considerar nos planos de gesto. Algumas
destas normas existem actualmente sob a forma de legislao. Desta forma, fez-se um
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.0 Introduo
Pgina 2 de 376
apanhado das peas legislativas vigentes, sem prejuzo de nova legislao produzida sobre o
assunto vir mais tarde a incorporar as revises do Plano.
Este conjunto de normas e modelos de silvicultura assim apresentados so utilizados no
caderno 6 - proposta de plano, na definio, para cada sub-regio homgenea, do modelo de
organizao territorial que ai se pretende ver desenvolvido, e que cumpre a hierarquia de
funes estabelecida para os espaos florestais.
Deste modo, neste caderno apresentam-se as normas genricas de interveno nos espaos
florestais, segundo as suas cinco funes principais, bem como as normas de defesa da
floresta contra incndios e sobre infra-estruturas e os modelos de silvicultura com fins
produtivos.
-
Plano Regional de Ordenamento Florestal
Parte C Proposta de Plano Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 3 de 376
Introduo
Neste ponto iro ser apresentadas normas genricas de interveno nos espaos florestais
segundo a sua funo de produo (PRD). Assim, as normas foram sistematizadas em
primeiro lugar pelas sub-funes da funo principal PRD por razes operativas e de
organizao da informao, estando designado o seu conjunto pelo cdigo que se apresenta
na tabela 1. Dentro de cada sub-funo as normas de interveno so apresentadas por
objectivos de gesto florestal concretos e/ou intervenes florestais concretas a empreender
com vista a potenciar aquela funo em particular do espao florestal. Este conjunto de
normas genricas de interveno inclui normas de interveno activa e restries. As normas
de interveno activa devem actuar pela positiva, formulando claramente quais as
recomendaes de gesto e, sempre que necessrio e adequado, o que que as
fundamenta; as restries devem, pelo contrrio, actuar pela negativa, dizendo o que que
no pode ou no deve fazer-se e porqu. Na compilao destas normas de conduta florestal
sempre que se tomou conhecimento de um trabalho com orientaes relevantes, a sua
consulta recomendada.
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 4 de 376
Tabela 1 Objectivos da gesto e intervenes florestais principais a considerar no mbito
do planeamento florestal para a funo de produo.
Cdigo Sub-funes Objectivos da gesto e intervenes florestais Cdigo
PRD1 Produo de
madeira
Instalao dos povoamentos
Conduo dos povoamentos
Proteco da regenerao natural das
plantaes
Manuteno da sanidade vegetal
PRD11
PRD12
PRD13
PRD14
PRD2 Produo de
cortia
Conduo do montado
Manuteno da sanidade vegetal
PRD21
PRD22
PRD3
Produo de
biomassa para
energia
Conduo dos povoamentos com objectivo de
fornecimento de energia PRD31
PRD4
Produo de
frutos e
sementes
Conduo dos povoamentos florestais para a
produo de fruto PRD41
PRD5
Produo de
outros materiais
vegetais e
orgnicos
Conduo dos povoamentos florestais para a
produo de resina
Conduo dos povoamentos florestais para a
produo de cogumelos
PRD51
PRD52
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 5 de 376
PRD1 Produo de madeira
PRD11 Instalao dos povoamentos
a) Normas de interveno activa
Ao planear uma determinada zona para arborizao aparecem sempre certas reas que,
pelas suas caractersticas, no devem ser arborizadas, podendo revestir-se contudo de
grande interesse como reas de refgio e alimentao da vida selvagem, bem como de
ocorrncia de vegetao autctone e, eventualmente, tambm como reas de interesse
paisagstico. Essas reas podem ser:
Zonas rochosas ou de difcil acesso: nestes casos o ideal manter a vegetao
natural, estabelecendo ainda, se possvel, pequenos bosquetes com espcies arbreas,
sempre que possvel autctones. Pode ser desejvel deixar uma faixa envolvente que
deve ser regularmente limpa de matos, preferencialmente por manchas descontnuas,
optimizando o efeito de descontinuidade do combustvel vegetal.
Cumes com afloramentos rochosos: em termos silvcolas correspondem quase
sempre a locais de baixssima capacidade produtiva, no sendo possvel o seu
aproveitamento directo. Ecologicamente podem ser ptimos locais para refgio da vida
selvagem, designadamente para nidificao de aves de rapina, bem como para a
ocorrncia espontnea da vegetao autctone. Numa perspectiva de formao de
solo, pode ser equacionada a realizao de sementeiras directas, eventualmente por
mtodos remotos (avio, hidro-sementeira, entre outros) com espcies arbreas e
arbustivas autctones.
Cumes com o solo muito profundo: Devem ser estabelecidas reas de pastagem, de
preferncia melhorando as naturais j existentes e efectuando a sua
compartimentao com folhosas autctones, sempre que nas imediaes existam
povoados com vocao ou tradio pastoril.
Linhas de gua de acesso difcil: encontram-se neste caso as de grande declive, com
afloramentos rochosos. Preconiza-se para estas zonas a manuteno e proteco da
vegetao existente e, quando possvel, o estabelecimento nas imediaes de
bosquetes com espcies autctones arbreo-arbustivas, de preferncia ripcolas, se as
condies de meio lhes forem favorveis.
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 6 de 376
Zonas com interesse florstico e/ou paisagstico: estas zonas no devem ser
alteradas porque alm dos interesses referidos so ainda muito importantes para a
fauna. Contudo, pode ser necessrio acautelar a manuteno de actividades de origem
antrpica de que dependam as suas caractersticas dignas de salvaguarda (por
exemplo, zonas com interesse florstico dependente da manuteno de pastoreio
extensivo).
Sempre que o arvoredo apresente caractersticas consideradas satisfatrias e se
pretenda utilizar a mesma espcie, devem aproveitar-se os indivduos provenientes de
regenerao natural j presentes no povoamento, quando existam. Pressupe-se que a
maior parte dos indivduos presentes apresentam boas caractersticas de conformao
para a espcie em causa. A regenerao natural uma modalidade pouco onerosa e, em
muitos casos, de fcil execuo para assegurar a perpetuao dum povoamento. A
execuo no envolve o recurso a mobilizaes intensas do solo e as novas plantas
provm de indivduos/populaes bem adaptadas ao local. Poder contudo ser necessrio
adaptar os sistemas de produo florestal, designadamente no que respeita aos modos
de tratamento, de forma a assegurar o aproveitamento da regenerao natural. Essa
adaptao pode conduzir adopo de modalidades de corte de realizao e at de
cortes culturais mais exigentes em acompanhamento tcnico especializado, que deve ser
nesses casos adequadamente previsto e planeado.
Sempre que seja tecnicamente possvel e adequado, deve evitar-se a destruio da
vegetao espontnea na totalidade da rea intervencionada, por razes de proteco do
solo contra os agentes erosivos, proteco s jovens rvores e conservao da
biodiversidade. A destruio efectuada, quando parcial, deve ser realizada de forma a
eliminar a competio directa e a assegurar a preparao adequada do solo nas reas a
plantar, sem prejuzo da manuteno de um certo grau de cobertura do solo pela
vegetao previamente existente.
No caso de eliminao total ou parcial da vegetao previamente existente, os resduos
vegetais resultantes devem ser mantidos sobre o solo ou nele incorporados, desde que
tal seja tecnicamente possvel e adequado s caractersticas da estao, evitando-se a
exportao dos nutrientes acumulados na sua biomassa e da matria orgnica.
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 7 de 376
Como tcnica de mobilizao do solo, a ripagem recomendvel em solos com
horizontes subsuperficiais de elevada dureza ou impermeveis, devendo ser sempre
efectuada segundo a curva de nvel em terrenos declivosos.
A armao da superfcie do solo em vala-e-cmoro pode ser recomendvel em solos com
declives acentuados, mas inferiores a 30-35%, na dupla funo de aumentar a infiltrao
e reteno da gua e de prevenir a manifestao de fenmenos erosivos aps a
plantao, podendo neste ltimo caso efectuar-se mais espaadamente, em relao s
linhas de plantao, do que no primeiro.
A abertura mecanizada de covas recomendvel para realizar o adensamento de
povoamentos ou para a arborizao por plantao em situaes em que haja
afloramentos rochosos. A sua aplicao em solos muito argilosos ou de areias soltas
deve ser ponderada em funo das caractersticas da estao e dos objectivos
pretendidos.
Na regenerao artificial de povoamentos, pode prever-se o recurso sementeira directa
se as condies de temperatura e humidade forem favorveis germinao das
sementes e ao desenvolvimento das plantulas e se o solo for de textura ligeira. Alm
disso, deve haver uma quantidade abundante de semente com a qualidade requerida e
com uma capacidade germinativa alta. A possibilidade de danos provocados por animais
deve ser considerada, optando-se por esta modalidade de regenerao apenas nos casos
em que seja possvel assegurar que aquela possibilidade baixa ou inexistente.
A sementeira directa pode ser uma tcnica de regenerao adequada numa perspectiva
de reduo dos custos da instalao do povoamento. Em tal contexto, uma opo a
considerar em situaes (de espcies e/ou de estaes) em que sejam de recear riscos
de traumatismo radicular e de crise da transplantao para plantas produzidas em
viveiro, ou uma soluo vivel para a instalao de povoamentos em situaes difceis e
onerosas para o sucesso das plantaes, como alguns tipos de condies climatricas
extremas, declives acentuados e solos delgados e pedregosos.
Embora a reduo de custos da arborizao esteja geralmente ligada a uma preparao
do terreno simplificada, a sementeira pode requerer um maior investimento nos cuidados
posteriores instalao, devido s maiores densidades habitualmente a ela associadas e
necessidade de interveno produtiva mais cuidadosa, posteriormente.
Deve ser prestada particular ateno qualidade das sementes utilizadas na arborizao.
No caso de espcies cuja certificao da semente no obrigatria, a respectiva
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 8 de 376
semente deve ser recolhida nos melhores povoamentos e a sua disponibilizao deve ser
acompanhada obrigatoriamente de uma correcta identificao de origem, data de
colheita e condies de conservao.
As sementes devem ser da mesma regio de provenincia da estao onde vai ser
utilizada. Quando no haja disponibilidade de semente da provenincia desejada e no
seja possvel esperar a sua produo, deve utilizar-se semente de uma regio de
provenincia de caractersticas ecolgicas equivalentes.
A arborizao por plantao geralmente a mais recomendvel quando a regenerao
natural no possvel ou tem baixo sucesso e o solo pobre e pouco profundo ou de
textura pesada ou inundvel, ou h probabilidade de ocorrncia de geadas fortes e/ou
secura acentuada, desde que as plantas das espcies envolvidas sejam pouco sensveis
transplantao.
A plantao tambm a tcnica de instalao recomendvel no caso de se dispor de
material de reproduo melhorado geneticamente, sendo ento necessria uma gesto
rigorosa, devido ao custo potencialmente mais elevado das plantas, ou quando se
detectar ou for de recear a presena de animais susceptveis de causar danos ou de
consumir sementes instaladas directamente em local definitivo.
Tal como na sementeira directa em local definitivo, a provenincia das sementes que
deram origem s plantas utilizadas deve ser claramente conhecida, devendo-se
assegurar que adequada s caractersticas ecolgicas da regio onde as plantas viro a
ser utilizadas.
Para as espcies de certificao obrigatria existem normas que definem as
caractersticas a que devem obedecer as plantas comercializadas para utilizao em
arborizaes. Na aquisio, o consumidor deve sempre averiguar se aquelas continuam a
respeitar as normas de qualidade que permitem a emisso de certificado.
b) Restries
A regenerao natural no pode ser utilizada quando os povoamentos responsveis pela
produo de sementes no apresentem as caractersticas genticas mais desejadas para
a reproduo, nomeadamente por terem estado sujeitos a tcnicas incorrectas de
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 9 de 376
conduo, baseadas na remoo das melhores rvores, numa fase anterior
regenerao do povoamento.
As mobilizaes do solo efectuadas com lavouras que atinjam profundidades elevadas
devem ser cuidadosamente ponderadas em funo dos objectivos pretendidos com tal
operao e das caractersticas do substrato a mobilizar, de forma a garantir que a
inverso dos horizontes do solo no ocasione situaes de enterramento das camadas
mais ricas em nutrientes e matria orgnica, em benefcio da exposio superfcie de
horizontes empobrecidos ou por qualquer outra razo desfavorveis ao crescimento
vegetal.
Ao longo das linhas de gua recomendada a conservao de corredores, de largura
varivel consoante as caractersticas ecolgicas e a largura e importncia dos troos de
linha de gua em causa, constitudos pela vegetao natural ribeirinha ou expressamente
arborizados com espcies arbreas adequadas ao meio ribeirinho e sua vizinhana
prxima, preferencialmente autctones, admitindo-se em casos excepcionais justificados
o uso de espcies no autctones ou de origem no inequvoca, mas reconhecidamente
bem adaptadas e destitudas de carcter invasor. Quando tecnicamente possvel e
adequado, podem ser reservadas a estas zonas funes de produo de madeiras nobres
em revolues de durao consentnea com esse objectivo.
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 10 de 376
PRD12 Conduo dos povoamentos
a) Normas de interveno activa
A limpeza de mato no decurso da revoluo apenas se deve ponderar em povoamentos
de produo intensiva de material lenhoso e s quando haja razes para supor,
fundamentadamente, que a operao contribui para o aumento da produo e/ou para
reduzir significativamente o risco de incndio. Em todas as outras situaes, apenas se
deve limpar o indispensvel para garantir a perenidade do povoamento. A necessidade
de tais limpezas pode fazer-se sentir mais, em regra, durante os primeiros anos aps a
plantao, em situaes em que se faa sentir o risco de competio forte por parte da
vegetao espontnea, ou naquelas em que haja risco elevado de incndio, caso em que
o trabalho se poder restringir, as mais das vezes, s faixas circundantes do
povoamento.
A limpeza de mato deve ser executada em faixas, segundo a curva de nvel, ou
localmente em redor da futura cova de plantao, reservando-se a limpeza manual s
situaes de declive muito acentuado ou de elevada pedregosidade, onde no seja
possvel ou rentvel o uso de meios mecnicos.
O corta mato o mtodo mecanizado mais recomendvel para operar em povoamentos
j instalados, uma vez que elimina a parte area da vegetao concorrente, sem
danificar o sistema radicular das rvores. Tambm se pode recomendar, se
absolutamente necessrio, como uma soluo adequada aos declives superiores a 30-
35%, sendo a operao realizada obliquamente curva de nvel, mas neste caso de
ponderar o risco de segurana dos operadores. O uso de fogo controlado para a
eliminao da vegetao expontnea e reduo do risco de incndio deve ter em conta
as restries referidas adiante (primeiro ponto da alnea b).
Em situaes onde existam grandes probabilidades de ocorrncia de fracas precipitaes
e estios fortemente secos, as mobilizaes do solo durante o ciclo devem ser levadas ao
mnimo possvel e at finais de Maro, de forma a ser preservada a humidade no solo.
As podas, nas situaes em que se justifique a sua aplicao em povoamentos
destinados produo de madeira, devem ser executadas com moderao e apenas para
atingir os objectivos de formao da copa, frutificao, ou sanitrios, para que a
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 11 de 376
operao no implique reduo do potencial produtivo e aumento da susceptibilidade a
pragas e doenas. Recomenda-se que sejam evitados, em particular, os cortes com
dimetro superior a 3-5 cm, pela sua maior susceptibilidade ao desencadear de
processos de apodrecimento pela aco de fungos lenhvoros.
Na execuo de desramaes tendo por finalidade a melhoria da qualidade do material
lenhoso, recomenda-se a aplicao do princpio da interveno pouco intensa, mas
repetida com a frequncia tida por necessria, bem como a limitao apenas s rvores
de futuro. Quando a operao tenha objectivos adicionais relativos preveno de
incndios, criando uma descontinuidade entre o sob coberto e o andar das copas,
recomenda-se que seja ponderada a sua limitao em altura aos 2 primeiros metros de
fuste e, em extenso, s faixas perimetrais dos povoamentos.
Na execuo de operaes de desbaste, estes devem ser assentes com o objectivo de
favorecer as rvores de futuro, tendo em conta os objectivos de produo definidos para
o povoamento, designadamente no que se refere ao tipo de explorabilidade e definio
das caractersticas tcnicas do produto final, a obter quando da explorao.
b) Restries
A execuo de operaes de fogo controlado para controlo da quantidade de combustvel
deve ser estritamente reservada a pessoal adequadamente especializado e
supervisionado, actuando nas condies climticas adequadas operao, bem como a
situaes em que seja possvel garantir as condies de segurana de pessoas e bens.
Alm do j exposto recomenda-se a consulta das seguintes obras de referncia:
Correia, A.V. & Oliveira, A.C. (2003). Principais espcies florestais com interesse para
Portugal. Zonas de Influncia Atlntica. Direco Geral das Florestas. Coleco Estudos e
Informao n. 322. DGF, MADRP. Lisboa, 187 pp.
Correia, A.V. e Oliveira, A.C. (2002). Principais espcies florestais com interesse para
Portugal. Zonas de Influncia Mediterrnica. Direco Geral das Florestas. Coleco Estudos
e Informao n. 318. DGF, MADRP. Lisboa, 119 pp.
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 12 de 376
Louro, G., Marques, H. e Salinas, F. (2002). Elementos de apoio Elaborao de Projectos
Florestais. Direco Geral das Florestas. Coleco Estudos e Informao n. 321. DGF,
MADRP. Lisboa.
Portugal, A., Teixeira, C. Anastcio, D., Ribeiro, D., Salinas, F., Louro, G., Marques, H. e
Gardete J. (2003). Princpios de Boas Prticas Florestais. DGF, MADRP. Lisboa.
PRD13 Proteco da regenerao natural ou das plantaes
a) Normas de interveno activa
Sempre que se proceda a regenerao artificial e seja previsvel a possibilidade de
ocorrncia de herbivoria, recomendvel proteger a regenerao nos primeiros tempos
de vida, dado a tendncia actual para se utilizarem na regenerao densidades mais
baixas do que no passado, bem como sementes e plantas seleccionadas, mais
dispendiosas.
Nas situaes em que, por haver sobreposio de espaos florestais com os sujeitos a
ordenamento cinegtico, sejam de recear danos nas rvores provocados pelas espcies
cinegticas, recomenda-se que seja ponderado o controlo dos efectivos populacionais
das espcies cinegticas de forma a conter tais danos a um nvel que no ocasione
perdas significativas de rvores ou redues significativas do valor do material lenhoso
produzido.
Em alternativa ou complemento norma de interveno activa acima mencionada, no
caso de se pretender proteger arborizaes, reas de regenerao natural ou
determinadas espcies, recomenda-se o recurso aos mtodos de proteco abaixo
mencionados:
A) Mtodos de proteco natural: Plantar, nas entrelinhas das rvores destinadas
produo, uma essncia mais apetecvel, rstica, consumida prioritariamente e que suporte
melhor os danos.
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 13 de 376
B) Mtodos de proteco individual das plantas: Utilizar um sistema fsico (por exemplo,
protectores individuais) ou um produto qumico repulsivo adaptado aos animais e ao tipo de
danos que se quer evitar. Os sistemas de proteco podem ser de diversos tipos, em funo
da proteco que proporcionam:
Os que protegem no s do consumo dos gomos, mas tambm do roar, como as
mangas em rede ou outro material plstico ou metlico. As redes apenas protegem as
plantas e sementes da aco dos herbvoros. As estruturas tubulares em material
plstico, para alm de protegerem do consumo por herbvoros, podem dar origem a
alteraes microclimticas no seu interior, pelo que o seu uso deve ser cuidadosamente
ponderado em funo das espcies a proteger e das caractersticas climticas dos locais
onde vo ser utilizadas.
Os que protegem apenas uma parte da planta, podendo ainda proceder-se seguinte
diviso:
produtos qumicos repulsivos. Embora seja o mtodo que geralmente apresenta
menores custos, tem a desvantagem de ter um efeito temporrio;
proteces mecnicas sob a forma de espirais, malhas e folhas plsticas ou metlicas
que se enrolam em torno do tronco ou dispositivos que picam os animais. Contra a
destruio do gomo terminal, existem ainda sistemas individuais tais como pinas,
punhos e pedaos de alumnio.
C) Mtodos de proteco total das parcelas: Caracterizam-se por medidas com as quais se
procura evitar o acesso de uma ou mais espcies animais a determinadas reas (ex: parcelas
de regenerao natural ou recentemente arborizadas), vedando-se o seu acesso com recurso
a redes simples ou electrificadas. As redes fixas perturbam consideravelmente os
movimentos sazonais dos animais, o que particularmente grave para espcies com grandes
territrios como o veado e o javali. Por esse motivo, pode ser prefervel utilizar uma rede
desmontvel, instalada apenas durante um perodo de tempo limitado, quando a aco dos
animais ou a prpria sensibilidade das plantas a essa aco as torne mais vulnerveis.
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 14 de 376
PRD14 Manuteno da Sanidade Vegetal
A ausncia de adaptao das espcies florestais ao meio ambiente, s ms tcnicas culturais
e de explorao praticadas, s secas e aos desequilbrios no ecossistema, constituem
factores que contribuem para o desenvolvimento de pragas e doenas nos espaos florestais.
A par dos parasitas primrios, existem muitas espcies, cujo comportamento
habitualmente parasita secundrio e que podem tornar-se altamente prejudiciais se as
condies de alimento e habitat lhes forem favorveis.
A ocorrncia de pragas e doenas, responsvel por mltiplos danos nas espcies florestais,
provocando o seu enfraquecimento e por vezes a sua destruio total. Os maiores prejuzos
registam-se quase sempre em povoamentos debilitados, afectando sobretudo a valorizao
do material lenhosos e produtos associados.
Acresce ainda que o uso pblico de espaos florestais ou com eles relacionados, pode ser
posto em causa, podendo, no limite, causar problemas de sade pblica.
Merece relevo pela importncia extra regional, abrangendo 4 regies PROF, o Programa
Nacional de Luta Contra o Nemtodo da Madeira do Pinheiro (PROLUNP), que visa a
erradicao da doena do nemtodo da madeira do pinheiro.
A processionria do pinheiro (Thaumetopoea pityocampa Schiff.) um insecto desfolhador,
que pode parasitar todas as espcies de Pinus e Cedrus, podendo os seus ataques variarem
de intensidade. Quando desfolhadas, as rvores exibem menores crescimentos e ocorre uma
quebra na produo lenhosa. No entanto, excepo de ataques sucessivos em rvores
jovens, estas geralmente recuperam e no morrem. Em termos de sade pblica, a
processionria pode constituir um grave problema nos anos de fortes ataques e junto a
locais habitados ou frequentados pelas populaes.
O ciclo de vida da processionria varivel, dependendo da localizao dos ataques. No
entanto, de um modo geral, pode dizer-se que as borboletas (imagos) emergem ao
crepsculo, nos meses de Junho a Setembro, sendo preferencialmente atradas pelas
silhuetas dos pinheiros e concentrando as posturas nas rvores de bordadura ou naquelas
que se encontram isoladas. As lagartas manifestam a sua presena de Setembro a Maro,
poca em que em termos de sade pblica se tornam marcantes, podendo ser observados
ninhos sedosos na copa das rvores. No final deste perodo, descem para o solo, onde se
enterram para pupar e voltar a emergir de Junho a Setembro.
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 15 de 376
Os escolitdeos constituem um dos grupos de insectos mais nocivos para as essncias
florestais e especialmente para as resinosas, sendo um dos principais agentes causadores de
problemas fitossanitrios e, em casos extremos, pela morte de grande nmero de rvores.
Para alm de causarem danos fsicos s arvores, so tambm vectores de fungos, muitos dos
quais patognicos e agentes responsveis pelo aparecimento de doenas.
As rvores que se encontram em situao de stress, nas quais se incluem as rvores, total
ou parcialmente queimadas e as rvores afogueadas, bem como, rvores recentemente
cortadas e toros armazenados em estaleiro, so muito atractivas para os insectos
pertencentes a esta famlia, que tm normalmente vrias geraes por ano. Por outro lado,
em casos extremos estes insectos podem tambm atacar rvores que se encontram em boas
condies vegetativas, quando as populaes se tornam demasiado elevadas.
O platipo ( Platypus cylindrus) um insecto coleptero decompositor de madeira morta ou
de rvores em adiantada fase de degradao. Ataca diversas espcies de folhosas
nomeadamente, carvalhos, castanheiros, eucaliptos e sobreiros, perfurando o tronco da
rvore at ao lenho e sobre o qual escavam galerias, no para se alimentar, mas para a
cultivar os fungos dos quais as larvas se vo alimentar Os danos causados por este insecto
nas rvores so, num 1 nvel, o de reduzir significativamente a qualidade da madeira
produzida e num 2 nvel, provocarem a morte das rvores o que dependendo do seu vigor
ocorre entre 3 a 18 meses. No caso do sobreiro o maior risco de ataque deste insecto ocorre
nos dois anos aps o descortiamento. Sendo capaz de perfurar a cortia e construir as
galerias os ataques destes insectos incidem em rvores debilitadas ou em stress e constitui,
um factor de risco acrescido para os montados.
A doena da tinta e doena da tinta do castanheiro Phytophthora cinnamomi e Phytophthora
cambivora so fungos patognicos do solo que atacam as razes de vrias espcies de
carvalhos, incluindo a azinheira e sobreiro, castanheiros, nogueiras e amendoeiras. A
disseminao destas doenas feita atravs da gua, solo e plantas contaminadas. As
rvores atacadas apresentam sintomas de declnio cujo grau depende do estado de vigor das
mesmas e da prpria espcie. O castanheiro e as plntulas so as mais susceptveis pelo que
o ataque destes fungos pode conduzir sua morte. Os carvalhos encontram-se entre as
espcies mais resistentes, manifestando-se o ataque destes fungos por alteraes no tronco
com depreciao do seu valor comercial. Em condies favorveis doena ou em situaes
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 16 de 376
de stress ambiental podem mostrar sintomas de declnio (enfraquecimento das extremidades
dos ramos e folhas pequenas amareladas).
O gorgulho do eucalipto (Gonipterus scutellatus) um insecto coleptero desfolhador da
generalidade das espcies de eucalipto, sendo as espcies de Eucaliptus globulus, E.
scoparia, E. camaldulensis, E. robusta, E .paviflora e E. terenticornis mais susceptveis ao
ataque de gorgulho. A desfolha causada pela actividade de alimentao das larvas e dos
adultos, pode atingir nveis elevados provocando perdas importantes de crescimento. Por
outro lado a desfolha pode conduzir debilitao da rvore tornando-a mais susceptvel a
pragas secundrias como a Phoracantha semipuntacta. Os adultos ao alimentarem-se
tambm da casca dos ramos e raminhos jovens podem causar a morte do ramo apical e
deformaes na rvore. Apesar da presena durante todo o ano de deste insecto, na
Primavera e no Outono que se manifestam os maiores danos.
Uma estratgia de preveno dos problemas sanitrios nos povoamentos florestais deve
assentar nos seguintes aspectos fundamentais:
Seleccionar para cada situao ecolgica as espcies florestais a ela adequadas.
Efectuar as intervenes culturais nos povoamentos em pocas e perodos em que os
riscos de natureza sanitria possam ser minimizados.
Evitar a continuidade em reas de monocultura florestal, por exemplo tirando partido da
fisiografia do relevo e diversificando o coberto florestal nas linhas de gua e zonas baixas,
de acordo com normas de arborizao adequadas a esses locais e j referidas.
Ponderar, quando tcnica e economicamente adequado, a opo por composies mistas
e estruturas irregulares dos povoamentos, em princpio menos vulnerveis
generalizao dos danos causados por pragas e doenas.
Destruir o material vegetal de pequenas dimenses remanescente nas reas ardidas, de
preferncia atravs de triturao, removendo-o ou procedendo sua incorporao no
solo, quando esta ltima alternativa for tcnica e economicamente razovel.
Nas zonas de incndio, devem extrair-se as rvores queimadas e as rvores
afogueadas, estas ltimas numa faixa de 20 a 50 m conforme a violncia do incndio;
estas so rvores de grande risco de ataque. Estas parcelas devem ser mantidas em
observao pois so mais frequentes os ataques de escolitdeos, sobretudo da hilsina;
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 17 de 376
Monitorizar as reas ardidas quanto ocorrncia de insectos e fungos em rvores
atingidas pelo fogo ou sobreviventes, com particular nfase na presena e importncia de
populaes de insectos escolitdeos.
Remover dos povoamentos rvores mortas de p e afectadas por incndios, mutilaes
fsicas, pragas e doenas criptogmicas, sempre que a presena destas implique riscos
para a sanidade dos povoamentos, mas tendo em conta que a sua manuteno, desde
que os riscos sanitrios no se manifestem ou estejam controlados, contribui
decisivamente para a diversidade biolgica dos povoamentos florestais.
Remover de imediato as rvores atacadas do povoamento, antes do perodo de
emergncia dos insectos
Proceder incorporao no solo, ou triturao ou combusto no local seguida de
distribuio superfcie do solo, dos resduos de explorao florestal, como alternativa
sua remoo e destruio noutro local, com reflexos negativos na exportao de
nutrientes e matria orgnica.
Desinfectar com produtos adequados os equipamentos e materiais usados em
povoamentos em mau estado sanitrio.
Sempre que, por razes fitossanitrias, seja tecnicamente recomendvel o recurso a
pesticidas, deve ponderar-se a possibilidade de recurso a mtodos e produtos de luta
biolgica e respeitar-se os princpios da proteco integrada, garantindo ainda que a
aplicao de tais produtos seja efectuada por pessoal com formao adequada e no
respeito pelas normas de armazenamento, transporte e aplicao de cada produto.
Para mtodos de preveno e alguns mtodos de controlo, recomenda-se a consulta de:
Ferreira, M.C. e Ferreira, G.W.S. (1990). Pragas das Folhosas. Guia de Campo Srie
Divulgao n. 5. Lisboa 191 pp.
Ferreira, M.C. e Ferreira, G.W.S. (1990). Pragas das Resinosas. Guia de Campo Srie
Divulgao n. 3. Lisboa 108 pp.
Ferreira, M.C. e Ferreira, G.W.S. (1990). Pragas dos viveiros florestais, das plantaes e da
regenerao natural. Guia de Campo Srie Divulgao n. 4. Lisboa 132 pp.
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 18 de 376
Institut Europen de la Fort Cultive (2002). Pragas e doenas das florestas do Sul da
Europa. Cestas. (disponvel para venda no Departamento de Engenharia Florestal do
Instituto Superior de Agronomia, GIMREF).
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 19 de 376
PRD2 Produo de cortia
PRD21 Conduo do montado
a) Normas de interveno activa
O descortiamento deve ser sempre executado por operadores com formao adequada
e, quanto possvel, especializada, de forma a evitar feridas nos sobreiros que prejudiquem
tanto a sanidade da rvore como as extraces futuras.
O descortiamento deve efectuar-se durante o perodo de actividade do cmbio subero-
felodrmico da rvore, que geralmente ocorre entre os meses de Maio e Julho, podendo
encurtar-se ou prolongar-se conforme as condies climatricas do ano, a latitude, a
exposio, a maior ou menor humidade do solo e outros factores ecolgicos com reflexos
na actividade fisiolgica das rvores.
A poda dos sobreiros deve ser encarada e planeada como uma operao cultural
realizada na perspectiva da sobrevivncia das rvores e do seu rendimento em cortia,
no na perspectiva de obteno de outros rendimentos do montado, secundrios em
termos econmicos. A operao pode ser delineada de acordo com trs funes distintas:
1) poda de formao, destinada a conduzir as rvores novas a uma forma conveniente
para a extraco de cortia; 2) podas de conformao, de frutificao e de manuteno,
para garantia do equilbrio de forma de rvores adultas, eliminando ramos mortos,
doentes, quebrados, ou mal orientados (manuteno da copa), de forma a desafogar a
copa, favorecer a frutificao e a facilitar a obteno de pranchas de cortia
(conformao), em qualquer caso limitada eliminao de at 25% do volume da copa;
3) poda de rejuvenescimento, a aplicar a rvores a entrar em decrepitude ou caducidade
por forma a promover o equilbrio da parte area com as razes e a formao de novos
ramos, limitada, em funo do vigor da rvore, a 1/3 a 1/2 do volume da copa. Em
qualquer caso e a despeito destas recomendaes de carcter geral, deve ser sempre
respeitada a legislao que regulamenta a realizao de podas nos montados de sobro e
azinho.
b) Restries
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 20 de 376
De acordo com a legislao em vigor, a extraco da cortia deve ser realizada a pau
batido, estando a extraco a meas proibida a partir de 2030.
A actividade extractiva deve ser imediatamente suspensa na rvore ou em todo o
povoamento, em funo da anlise de cada situao concreta sempre que, ao fazer-se a
extraco, se detecte a presena de cmbio sbero-felodrmico aderente prancha de
cortia. A retoma da extraco pode efectuar-se apenas quando se poder garantir uma
boa separao entre a prancha extrada e aquele cmbio.
Em condies de previso climtica apontando para eventos extremos de precipitao ou
de seca, deve ser sempre ponderado o adiamento das operaes de descortiamento, a
fim de garantir que no sejam causados danos irreversveis no cmbio.
Nos montados de sobro e azinho s so permitidas as mobilizaes do solo que no
afectem as razes das rvores ou a regenerao natural.
So imperativamente de evitar as decapitaes de rvores, o corte de ramos de grande
dimetro e o esgaamento de cortes, devendo todas as operaes de poda ser
executadas com cortes lisos e inclinados, perto da zona de insero do ramo podado, mas
respeitando a coroa de tecidos responsveis pela cicatrizao dos cortes.
No utilizar grades pesadas nas gradagens de modo a no afectar as razes nem a
regenerao natural.
Alm do j exposto recomenda-se a consulta das seguintes obras de referncia:
Correia, A.V. e Oliveira, A.C. (2002). Principais espcies florestais com interesse para
Portugal. Zonas de Influncia Mediterrnica. Estudos e Informao n. 318. Direco Geral
das Florestas. Lisboa.
Louro, G., Marques, H. e Salinas, F. (2002). Elementos de apoio Elaborao de Projectos
Florestais. Estudos e Informao n. 321. Direco Geral das Florestas. Lisboa.
Portugal, A., Teixeira, C., Anastcio, D., Ribeiro, D., Salinas, F., Louro, G., Marques, H. e
Gardete J. (2003). Princpios de Boas Prticas Florestais. DGF, MADRP. Lisboa.
Reis, A. (1990). Contribuio para uma quantificao da produo de cortia amadia, por
classes de espessura. DGF Informao, n. 3.
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 21 de 376
Reis, A. (1990). Em que ano descortiar?. Boletim Agrrio, n. 5/1990; DGF Informao, n.
6/1991; Floresta e Ambiente, n. 16/1992.
Reis, A. (1991). Descortiar sem comprometer futuras produes. DGF Informao, n.
6/1991; Floresta e Ambiente, n. 16/1992.
Reis, A. (1992). Superfcie descortiada normal e clculo da altura de descortiamento. In
2. Encontro Sobre os Montados de Sobre e Azinho.
Reis, A. (1996). O Sobreiro: uma Reviso Bibliogrfica sobre o Crescimento e Capacidade de
Produo de Cortia. Estudos e Informao, n. 315. Direco Geral das Florestas. Lisboa.
Reis, A. (2000). Sementeira de Sobreiro (Informao). Informando, n. 45.
Reis, A. (2004). Povoamentos de Sobro a Instalar: a Importncia de Cuidar da Distribuio
das rvores no Terreno. Estudos e Informao, n. 323. Direco Geral das Florestas.
Lisboa.
PRD22 Manuteno da Sanidade Vegetal
Alm das normas gerais expostas no objectivo PRD13, so ainda de evidenciar no caso dos
montados as seguintes medidas preventivas:
No efectuar mobilizaes do solo que no sejam estritamente necessrias.
No caso de serem indispensveis desmataes, privilegiar para a sua execuo o recurso
a roadoras, ponderando sempre a possibilidade de proceder apenas a eliminaes
selectivas da vegetao sob coberto.
S recorrer a gradagens quando o declive reduzido.
Desinfectar com produtos adequados os equipamentos e materiais usados em
povoamentos em mau estado sanitrio.
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 22 de 376
PRD3 Produo de biomassa para energia
O aproveitamento e consequente valorizao da biomassa florestal, como fonte renovvel de
energia, integra-se nos princpios da gesto florestal sustentvel e na estratgia de
preveno da floresta contra os incndios., Neste contexto, o aproveitamento energtico da
biomassa florestal resultante da explorao florestal, deve ser garantido atravs de normas
que assegurem o consumo de biomassa resultante da actividade silvcola (ramos, folhada,
cascas, razes e material menor) sem delapidar a matria-prima de fileiras j instaladas e os
equilbrios ecolgicos. A valorizao da biomassa revela-se um estmulo estratgia de
diminuio da continuidade vegetal atravs da gesto de combustveis, criando
oportunidades de desenvolvimento da economia rural e criao de emprego.
PRD31 Gesto dos espaos florestais com objectivo de fornecimento de energia
a) Normas de interveno activa
A biomassa florestal removida nos trabalhos de preparao do terreno, roa de mato,
limpeza de povoamentos, desramaes e primeiros desbastes raras vezes proporciona
produtos utilizveis pela indstria, podendo nessas circunstncias serem aproveitados
como fontes renovveis para valorizao energtica.
Recomenda-se, nas reas de menor risco de incndio e fora do perodo crtico em
matria de incndios florestais, definido por portaria do Ministro da Agricultura do
Desenvolvimento Rural e das Pescas, a secagem e a compactao da biomassa florestal
resultante de operaes culturais e de explorao florestal, previamente sua remoo
para aproveitamento energtico, permitindo-se a libertao dos elementos mais finos
folhas, agulhas e raminhos que so os mais ricos em nutrientes.
No mbito das estratgias locais de preveno de incndios florestais, com especial
nfase nas operaes de silvicultura preventiva, o material resultante dos trabalhos de
roa de mato, desbastes de povoamentos e desramaes, constitui uma fonte de
abastecimento de biomassa para energia, devendo ser considerado que a exportao
para fora do sistema de carbono e de nutrientes no ponha em risco a fertilidade da
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 23 de 376
estao. Intensificar planeadamente a gesto dos combustveis nas reas de maior risco
de incndio cria maiores disponibilidades.
Ao nvel da infra estruturao do espao, no mbito da defesa da floresta contra os
incndios florestais, o material vegetal proveniente da limpeza de faixas de gesto de
combustvel, conforme definidas em legislao pertinente, pode ser removido para fins
de produo de energia, devendo ser assegurada a gesto dos combustveis de forma
mais programada, com base nas redes regionais de defesa da floresta.
Caso haja viabilidade econmica, utilizar grandes densidades de rvores na instalao
dos povoamentos, com o objectivo de fornecer biomassa florestal para energia,
resultante dos desbastes pr-comerciais, favorecendo, em simultneo, a seleco das
rvores de futuro.
Aconselha-se o aproveitamento do material lenhoso em resultado de corte e remoo de
invasoras lenhosas exticas, no mbito de programas locais de controlo e erradicao, de
longo prazo.
Integrar o processo de recolha sistmica de biomassa florestal numa rede de pontos de
recolha e triagem nas reas onde existam maiores disponibilidades.
b) Restries
As remoes da biomassa florestal devem ser integradas em estratgias regionais ou
municipais e integradas em planos de gesto, no devendo ser pontuais,
O corte deve ter em considerao as questes da conservao do solo e da gua, da
proteco dos habitats e das espcies com valor para a conservao e da paisagem.
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 24 de 376
PRD4 Produo de frutos e sementes
A produo de frutos florestais consiste principalmente na produo de pinho, castanha,
noz, medronho e alfarroba e suas sementes.
PRD41 Conduo dos povoamentos florestais para a produo de fruto
a) Normas de interveno activa
A densidade dos povoamentos deve ser menor do que num povoamento para produo
de material lenhoso, uma vez que o tamanho da copa e a sua exposio luz solar
directa devem ser optimizados em funo da produo unitria de frutos. Para tal,
devem utilizar-se compassos de instalao maiores, quando definitivos, ou remover uma
maior percentagem de rvores nos desbastes que precedem a idade produtiva da
espcie.
As folhosas, nomeadamente a azinheira, sobreiro, castanheiro e medronheiro, podem ser
instaladas em consociao com espcies resinosas produtoras de madeira ou produtoras
de fruto, aumentando a rendibilidade dos povoamentos para a produo de fruto. Deste
modo criam-se condies de concorrncia, nas idades mais jovens, que obrigam as
rvores a ganhar fuste mais alto e direito; obtm-se uma ocupao mais completa do
local desde muito cedo, dificultando a instalao do mato e permitindo eliminar a
resinosa quando ela j proporciona receitas interessantes. Podem ser feitas duas
modalidades de instalao: mistura na linha ou mistura linha a linha. A experincia
existente em Portugal parece indicar melhores resultados com misturas linha a linha.
Os modelos silvcolas a aplicar nestas circunstncias devem incluir na sequncia de
operaes a efectuar podas de frutificao, por forma a favorecer a produo de fruto.
As podas de frutificao tm por fim aumentar e controlar melhor a produo de fruto
atravs de uma seleco e conduo do desenvolvimento dos ramos em que ocorrem a
florao e frutificao. Devem assegurar uma melhor florao e frutificao e frutos de
maiores dimenses. Incluem a abertura das copas, favorecendo a produo de ramos
frutferos e permitindo o seu fcil acesso luz e ao ar, bem como a remoo de ramos
do interior da copa que, pelo seu desenvolvimento e disposio, provoquem
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 25 de 376
ensombramento. Estas podas no devem exceder 1/3 da copa viva, excepto quando a
rvore j mostre sinais de decrepitude.
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 26 de 376
PRD5 Produo de outros materiais vegetais e orgnicos
Na produo de outros materiais vegetais e orgnicos inclui-se a produo de resina,
folhagens, vimes, cascas, rvores, cogumelos, plantas alimentares, aromticas e medicinais.
PRD51 Conduo dos povoamentos florestais para a produo de resina
a) Normas de interveno activa
As feridas devem comear por ser abertas na base do tronco, junto ao solo e
prolongadas nas campanhas seguintes, formando fiada ou contnua, at ao quarto ano
de resinagem.
Quando o dimetro superior a 0,40 m podem ser abertas duas incises, mas apenas
durante o primeiro perodo de resinagem (quatro anos), aps o qual apenas se pode
explorar uma ferida.
b) Restries
As operaes de resinagem no podem comear antes do dia 1 de Maro nem terminar
depois do dia 30 de Novembro de cada ano.
Nos pinheiros de dimetro igual ou inferior a 40 cm s se pode explorar uma ferida, no
podendo abrir-se nova inciso antes de completada a explorao da anterior.
Num pinhal no pode iniciar-se a explorao de novos pinheiros sem se continuar ou
completar a dos j resinados, nem podem ser feitas nestes novas incises antes de se
ter completado o perodo de explorao de quatro anos, das feridas j abertas.
Em nenhuma situao permitido explorar feridas abertas em campanhas anteriores, ou
explorar mais de uma ferida na mesma linha. Consultar a legislao em vigor.
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 27 de 376
PRD52 Conduo dos povoamentos florestais para a produo de cogumelos
a) Normas de interveno activa
Devem ser adquiridas plantas micorrizadas, para uso na plantao, junto de viveiros que
garantam a sua certificao, nomeadamente quanto espcie de fungo pretendida.
A instalao de povoamentos com rvores micorrizadas para a produo de cogumelos
deve ser feita preferencialmente em terrenos agrcolas marginais que tenham sido
abandonados, em particular nos que eram dedicados cerealicultura. Deste modo no se
corre o risco de existir competio entre as micorrizas que se querem instalar e aquelas
que potencialmente podem existir no solo, especialmente se este j tinha uma ocupao
prvia constituda por rvores e/ou matos.
Proteger o potencial fngico dos povoamentos, evitando intervenes pesadas no solo e
moderando a apanha de cogumelos comestveis, acautelando tambm a manuteno do
miclio para que a recolha das frutificaes dos cogumelos no seja nociva.
Alternativamente tambm se pode no recolher todos os anos.
Em reas produtivas j existentes, devem evitar-se as mobilizaes do solo e eventuais
aplicaes de fertilizantes, pois estas alteram as caractersticas fsicas e qumicas deste e
consequentemente a densidade e a natureza das populaes de cogumelos existentes, o
que pode conduzir sua substituio por outros fungos sem valor comercial.
fundamental manter boas condies de arejamento e drenagem nos 20 cm superficiais
do solo, faixa em que se desenvolvem as razes pastadeiras, s quais se associam os
fungos. Tanto a mobilizao do solo como o pisoteio repetido por parte do gado so de
evitar se se quiser manter a actividade dos fungos e as condies vegetativas das
rvores.
Promover formas de gesto que conciliem a utilizao econmica com a conservao das
diferentes espcies de cogumelos, nomeadamente atravs do controlo da colheita e dos
mtodos utilizados e criar um cdigo de boas prticas relativamente colheita,
conservao e utilizao deste recurso.
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 28 de 376
Fontes de informao
Ballon, P. (1989). Bilan d'une exprimentation de protection d'une plantation de chne
contre les dgts de chevreuils. Bulletin Mensuel de l'Office National de la Chasse. Spcial
interactions grand gibier peuplements forestiers. 141: 24-27.
Boutin, J.M. (1986). Les cervides en France et les problmes sylvicoles. Comunicaes do I
Congresso Florestal Nacional. Lisboa 2-6 Dez. p: 313-318.
Cardoso Pereira, J.M. (1983). Gesto integrada de recursos naturais na Bacia Hidrogrfica da
Ribeira de Odeleite. Relatrio de Estgio do Curso de Engenheiro Silvicultor. Instituto
Superior de Agronomia. Universidade Tcnica de Lisboa.
Carvalho, A. F. (1992). A utilizao dos espaos florestais. Estudos Sectoriais n.4. Comisso
de Coordenao da Regio Centro (C.C.R.C.). Coimbra.
CESE (1998). O sector florestal portugus. Ministrio da Educao.
Correia, A.V. & Oliveira, A.C. (2003). Principais espcies florestais com interesse para
Portugal. Zonas de Influncia Atlntica. Direco Geral das Florestas. Coleco Estudos e
Informao n. 322. DGF, MADRP. Lisboa, 187 pp.
Correia, A.V. e Oliveira, A.C. (2002). Principais espcies florestais com interesse para
Portugal. Zonas de Influncia Mediterrnica. Direco Geral das Florestas. Coleco Estudos
e Informao n. 318. DGF, MADRP. Lisboa, 119 pp.
Costa, M. A. (1990). Metodologias para o ordenamento do Montado de Sobro. Relatrio de
Estgio do Curso de Engenheiro Silvicultor. Lisboa.
DGF (2002). Colectnea de legislao aplicvel ao planeamento florestal e do territrio. DGF,
MADRP. Lisboa.
Guerreiro, A.F.B.; Nogueira, J.D.M. e Borges, J.M.F. (1990). Normas cinegticas para
projectos florestais. Comunicaes do II Congresso Florestal Nacional. 1: 533-539.
Klein, F. (1989). Ecorage du douglas e de l'pica. Comparaison de plusieurs mthodes de
protection individuelle des plants. Bulletin Mensuel de l'Office National de la Chasse. Spcial
interactions grand gibier peuplements forestiers. 141: 36-38.
Klein, F.; Saint-Andrieux, C. & Ballon, P. (1989). Quelles protections pour les plants
forestiers? Bulletin Mensuel de l'Office National de la Chasse. Spcial interactions grand
gibier peuplements forestiers. 141: 31-35.
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.1. Espaos florestais com funo de produo
Pgina 29 de 376
Louro, G., Marques, H. e Salinas, F. (2002). Elementos de apoio Elaborao de Projectos
Florestais. Direco Geral das Florestas. Coleco Estudos e Informao n. 321. DGF,
MADRP. Lisboa.
Marques, G. e Pereira, A. N. (1997). Fungos ectomicorrzicos do castanheiro. Um factor
bitico de produo. Revista Florestal. Vol X, n. 2. p 4-9.
Pinho de Almeida, M. (2000). Resduos Florestais: Gesto Florestal e Proteco. Seminrio
Internacional: Resduos Florestais Problemas e possibilidades no Sul da Europa. CBE
Miranda do Corvo.
Portugal, A., Teixeira, C., Anastcio, D., Ribeiro, D., Salinas, F., Louro, G., Marques, H. e
Gardete J. (2003). Princpios de Boas Prticas Florestais. DGF, MADRP. Lisboa.
Rodrigues, J. F.; Louro, V. e Mourato, J. (1987). Instalao de Castanheiros. Encontro sobre
Soutos e Castinais (Conservao, Silvicultura e utilizaes). Castelo de vide, Portalegre e
Marvo.
Santos, B. (1975). ABC do podador de sobreiros e do tirador de cortia. Instituto dos
Produtos Florestais. 75 pp.
Soporcel (1996). Cdigo de conduta florestal. Sociedade Portuguesa de Celulose, S. A. 35pp.
Tilghman, N.G. (1989). Impacts of white-tailed deer on forest regeneration in Northwestern
Pennsylvania. J. Wildl. Manage. 53(3): 524-532.
Vaughan, L.; Visser, R.; Smith, M. (1993). New Zealand Forest Code of Practice. New
Zealand Ministry of Forestry.
Washington State Department of Natural Resources (1997). Forest Practices Illustrated.
Washingtom. 64 pp.
-
Plano Regional de Ordenamento Florestal
Parte C Proposta de Plano Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1. Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.2. Espaos florestais com funo de proteco
Pgina 30 de 376
Introduo
Neste ponto iro ser apresentadas normas genricas de interveno nos espaos florestais
segundo a sua funo de proteco (PRT). Assim, as normas foram sistematizadas em
primeiro lugar pelas sub-funes da funo principal PRT por razes operativas e de
organizao da informao, estando designado o seu conjunto pelo cdigo que se apresenta
na tabela 1. Dentro de cada sub-funo as normas de interveno so apresentadas por
objectivos de gesto florestal concretos e/ou intervenes florestais concretas a empreender
com vista a potenciar aquela funo em particular do espao florestal. Este conjunto de
normas genricas de interveno inclui normas de interveno activa e restries. As normas
de interveno activa devem actuar pela positiva, formulando claramente quais as
recomendaes de gesto e, sempre que necessrio e adequado, o que que as
fundamenta; as restries devem, pelo contrrio, actuar pela negativa, dizendo o que que
no pode ou no deve fazer-se e porqu. Na compilao destas normas de conduta florestal
sempre que se tomou conhecimento de um trabalho com orientaes relevantes, a sua
consulta recomendada.
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1 Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.2. Espaos florestais com funo de proteco
Pgina 31 de 376
Tabela 1 Objectivos da gesto e intervenes florestais principais a considerar no mbito do planeamento florestal para a funo de proteco.
Cdigo Sub-funes Objectivos da gesto e intervenes florestais
Cdigo
PRT1 Proteco da rede hidrogrfica
Ordenamento e planeamento da floresta para proteco da rede hidrogrfica Conduo de povoamentos nas galerias ripcolas Restaurao de galerias ripcolas
PRT11 PRT12 PRT13
PRT2 Proteco contra a eroso hdrica e cheias
Fixao de vertentes, correco torrencial e amortecimento de cheias Proteco e recuperao do solo
PRT21 PRT22
PRT3 Proteco microclimtica
Instalao de cortinas de abrigo PRT31
PRT4 Proteco ambiental
Gesto dos espaos florestais com o objectivo de conservao, sequestro e armazenamento de carbono
PRT41
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1 Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.2. Espaos florestais com funo de proteco
Pgina 32 de 376
PRT1 Proteco da rede hidrogrfica
A proteco das margens e a manuteno da qualidade da gua, depende grandemente da
galeria ripcola envolvente. A vegetao lenhosa ribeirinha est bem adaptada alternncia
das condies hdricas do solo e fundamental na consolidao das margens dos cursos de
gua (graas s razes bem desenvolvidas) e na reteno de sedimentos transportados pelo
escorrimento superficial da bacia de alimentao, podendo contribuir para minimizar as
caractersticas catastrficas das cheias. So ainda eficientes na absoro de nutrientes
transportados em soluo de reas terrestres adjacentes, que podem ser fonte de poluio
difusa dos cursos e massas de gua, favorecendo a sua eutrofizao. Deste modo a
proteco da rede hidrogrfica consiste principalmente no ordenamento e planeamento da
floresta da banda ripcola.
PRT11 Ordenamento e planeamento da floresta para proteco da rede hidrogrfica
a) Normas de interveno activa
Devem ser arborizadas as margens dos cursos de gua, nos troos da rede hidrogrfica
que para tal apresentem caractersticas morfolgicas adequadas, pois isso favorece a
regularizao dos caudais, contribuindo para a estabilizao das margens e diminuio
da eroso. Por outro lado, as espcies ripcolas instaladas contribuem para uma zona de
descontinuidade, dificultando a progresso de fogos, devido baixa inflamabilidade que
estas mesmas espcies geralmente apresentam. A vegetao lenhosa ribeirinha ainda
um elemento estruturante das comunidades lticas contribuindo para a sua
produtividade atravs da queda de rgos vegetais, constitui o refgio de um conjunto
de espcies animais e vegetais, sendo portanto um factor de diversidade biolgica ao
nvel das espcies mas tambm ao nvel das comunidades, favorecendo a diversidade
biolgica escala regional e permitindo ainda uma valorizao cnica da paisagem.
A largura da galeria ripcola vai depender essencialmente das caractersticas do relevo e
da importncia do curso de gua.
Deixar rvores numa largura considervel junto a zonas ripcolas, de modo a que
funcionem como zona tampo (buffer). Os objectivos so a no perturbao da zona com
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1 Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.2. Espaos florestais com funo de proteco
Pgina 33 de 376
as operaes de abate e evitar uma subida de temperatura devido a uma reduo da
sombra. No preciso serem grandes rvores. Em rios pequenos a vegetao arbustiva
serve para atingir este objectivo.
Para alm das galerias ripcolas, as partes altas das bacias hidrogrficas so de grande
importncia para assegurar a quantidade e a qualidade dos recursos hdricos. Deve
prever-se a sua adequada arborizao com espcies, de preferncia autctones, que
favoream a infiltrao e subsequente absoro da gua pelas razes (exemplo do
castanheiro, carvalhos caduciflios, cerejeira, tlias, choupos, salgueiros) e evitem o
escorrimento torrencial e erosivo.
Nos vales e linhas de gua o coberto florestal deve cumprir funes de defesa e
valorizao dos recursos hdricos e de proteco do solo contra a eroso alm da normal
funo de produo. Este facto impe a definio de estratos de arborizao a tratar com
sistemas de produo florestal especficos uso preferencial de folhosas autctones em
composies mistas e estruturas irregulares bem como a opo por tcnicas cuidadas
de instalao, conduo e explorao dos povoamentos.
A instalao dos povoamentos deve prever uma mobilizao descontnua do solo,
garantindo a manuteno do coberto vegetal natural, suficiente para a proteco contra
a eroso, nos primeiros tempos aps a instalao. Esta medida particularmente
importante, devido natureza pouco coesa da maioria dos solos destes estratos de
arborizao, geralmente aluviais ou coluviais.
A instalao de novas plantas deve ser acompanhada da devida ponderao sobre as
perturbaes causadas no coberto vegetal e no solo. Esta deve ser cova, pela menor
perturbao que este tipo de instalao provoca no delicado sistema que a faixa
ribeirinha constitui, bem como pelo risco de eroso resultante de mobilizaes mais
generalizadas numa zona de concentrao de escoamento.
No planeamento das galerias ripcolas dos maiores cursos de gua devem ser
consideradas trs zonas tampo, cuja dimenso determinada pelo declive e pela
permeabilidade do solo:
i. A Zona 1 ocupa a faixa de terra mais prxima da gua e composta por espcies
florestais ribeirinhas. Tem como objectivo principal estabilizar a margem e
providenciar habitat para os organismos aquticos. As razes das rvores desta faixa
mantm o solo ntegro, apesar da fora erosiva da gua, contribuindo ainda para a
reteno de sedimentos.
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1 Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.2. Espaos florestais com funo de proteco
Pgina 34 de 376
ii. A Zona 2 tambm uma faixa florestal e situa-se imediatamente a seguir. A sua
funo principal remover, transformar ou armazenar nutrientes, sedimentos e
outros poluentes arrastados da bacia de alimentao por escorrimento superficial e
sub-superficial.
iii. A Zona 3 deve conter faixas de gramneas, que desaceleram o escorrimento
superficial, filtram os sedimentos e permitem a infiltrao. Estas faixas de gramneas
protegem as reas florestais e proporcionam a utilizao do mximo de potencial do
tampo florestal. Para que na zona 2 o armazenamento de sedimentos seja eficaz
necessrio que o escoamento quando l chega esteja em fluxo laminar. Deste modo,
a zona 3 espalha o escoamento proveniente de reas adjacentes e previne que este
atinja a rea tampo (zonas 1 e 2) de modo erosivo.
Na Zona 1 a vegetao dominante deve ser composta por vrias espcies arbreas e
arbustivas ripcolas, de preferncia da flora autctone. Deve ser constituda por uma
mistura de espcies que proporcione queda prolongada e estvel de folhagem, de forma
a suprir as necessidades energticas dos organismos aquticos que delas se alimentam.
Quando esta zona atinge uma determinada idade, comea a produzir resduos de grande
tamanho e estveis que devem ser mantidos para aumentar a diversidade de habitats
para a fauna aqutica e que utiliza a margem, sem prejuzo de se aplicarem medidas de
gesto do leito que controlem a sua excessiva acumulao ou inadequada distribuio.
A existncia de grandes rvores adultas deve ser favorecida at ao ponto de se abdicar
da explorao econmica de grandes exemplares situados sobre a margem e na
proximidade imediata do plano de gua.
Na Zona 2 devem estar localizadas espcies arbreas e arbustivas adequadas para a
estao.
A gesto deve permitir que haja variao dentro da classe de idade e tamanho nos vrios
tipos de vegetao sob coberto, de modo a haver vrios estratos.
tambm uma zona que deve ser pouco perturbada. As intervenes que nela ocorrem
devem incluir desbastes selectivos, de forma a manter o vigor do crescimento. Estas
intervenes destinam-se a manter as boas condies de filtragem e uma densidade que
permita proteger e potenciar a regenerao natural.
A conciliao com a fauna bravia e o gado no incompatvel com os objectivos desta
zona, desde que o nvel de sombra e a produo de folhagem e de detritos sejam
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1 Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.2. Espaos florestais com funo de proteco
Pgina 35 de 376
mantidos. Neste caso, o acesso do gado gua deve ser feito apenas em pontos de
abeberamento previamente delimitados e preparados para o efeito.
Na Zona 3, a vegetao deve ser constituda por herbceas perenes e deve ser mantida
vigorosa atravs do corte ou do consumo por herbvoros.
Pode ser necessrio restaurar periodicamente esta zona, com uma gradagem e remoo
do material acumulado, para que este buffer mantenha o seu potencial de filtragem e
reteno.
A vegetao deve ser cortada periodicamente e os restos removidos. Periodicamente
deve ser inspeccionada e devem ser tomadas medidas para manter a sua densidade e
resolver problemas de acumulao de nutrientes.
compatvel com o pastoreio, pelo que se pode considerar a sua realizao controlada,
em condies de solo seco e firme.
Estas trs zonas devem ser inspeccionadas anualmente, bem como imediatamente a
seguir a tempestades, para detectar casos de depsito de sedimentos, de eroso ou de
escoamentos para fora do leito. Medidas imediatas devem ser tomadas para parar a
eroso e para recuperar o fluxo de gua.
A perturbao das Zonas 1 e 2 deve ser reduzida ao mnimo necessrio, cingindo-se a
explorao econmica remoo de rvores individuais de grande valor comercial e
privilegiando-se nas intervenes culturais a remoo de rvores que apresentem
problemas de configurao que prejudiquem as suas funes.
b) Restries
Nas partes altas das bacias hidrogrficas deve ser evitada a remoo da folhada e
perturbao da vegetao pois podem por em causa a proteco contra a eroso.
Em zonas de forte concentrao e escoamento de guas pluviais e susceptvel de riscos
de eroso, deve definir-se uma distncia mnima de 5 metros para cada um dos lados,
onde s devem ser permitidas limpezas manuais do material vegetal que esteja a
impedir, de algum modo, o escoamento, nunca promovendo a limpeza completa destas
faixas. Quando a vegetao se torna muito densa pode prender outro material que
arrastado, funcionando como uma barreira que pode ter consequncias graves nas
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1 Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.2. Espaos florestais com funo de proteco
Pgina 36 de 376
margens e no leito. Deste modo, pode ser necessria a limpeza completa de alguns
troos para garantir o escoamento. As intervenes florestais devem sempre preservar
esta faixa.
Nas zonas tampo, a prtica agrcola no invivel mas deve ser evitado o uso
excessivo de fertilizantes, pesticidas ou outros qumicos e recomenda-se a rotao de
culturas.
As vias de acesso necessrias para veculos e pessoas devem ser instaladas segundo
percursos de baixo declive, oblquos s linhas de gua e preferencialmente sinuosos,
para evitar a instalao de zonas de eroso.
O acesso de pessoas e dos seus equipamentos de lazer devem ser condicionados e bem
localizados, de modo a evitar o acesso atravs de zonas mais sensveis.
PRT12 - Conduo de povoamentos nas galerias ripcolas
As galerias ripcolas podem integrar-se de forma harmoniosa num coberto florestal
envolvente onde se apliquem sistemas de produo florestal menos elaborados
tecnicamente; as vantagens dessa articulao enquadram-se na diversidade da produo
florestal, na defesa da biodiversidade e na qualidade cnica da paisagem rural. A produo
de madeira de qualidade, a partir de espcies autctones, com revolues de longa durao
que permitam a obteno de peas de grande dimenso.
a) Normas de interveno activa
Em geral, optar por sistemas de produo florestal baseados em povoamentos mistos e
irregulares por manchas ou por ps de rvores, de revolues de longa durao,
prevendo ainda a manuteno de algumas rvores no sujeitas a abate para explorao
econmica, eventualmente gerindo em simultneo um sub-bosque arbustivo
diversificado.
A interveno produtiva tem de tomar especial ateno s espcies e exemplares com
maior valor econmico, por exemplo atravs de cuidadosas desramaes, mas tambm
ao controlo da composio do povoamento, atravs do assentamento de desbastes de
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1 Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.2. Espaos florestais com funo de proteco
Pgina 37 de 376
regulao de composio, bem como manuteno da estrutura irregular, mais
favorvel s funes esperadas de prestao de servios.
O sistema de produo florestal adoptado deve ter em conta a necessidade de provocar
o mnimo de perturbaes possvel, tanto na instalao, como posteriormente na
interveno cultural e na explorao; idealmente, pelo menos os alinhamentos mais
prximos do curso de gua no devem sequer ser economicamente explorados.
Deve existir especial cuidado na execuo dos desbastes e assentamento dos cortes de
realizao (quer por manchas, quer por ps de rvores), para que no seja danificado o
povoamento remanescente.
A remoo de rvores deve ser acompanhada da devida ponderao sobre as
perturbaes causadas no coberto vegetal e no solo.
Do ponto de vista da proteco das margens, importante que no haja intervalos na
vegetao. Estes intervalos devem ser preenchidos com novas rvores ou corre-se o
risco de desviar o curso da gua.
A altura do copado deve ser igual ou maior do que a largura da linha de gua.
Qualquer interveno a realizar na banda ripcola deve ser efectuada, de preferncia, no
perodo que medeia entre Junho e Fevereiro, fora do perodo de reproduo das espcies
faunsticas mais importantes existentes na rea.
No caso dos povoamentos com culturas agrcolas sob-coberto, recomenda-se ainda a
consulta de:
MADRP (1999). Manual bsico de Prticas Agrcolas Conservao do Solo e da gua.
Ministrio da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas. 46 pp.
PRT13 - Restaurao de galerias ripcolas
a) Normas de interveno activa
A presena de espcies invasoras lenhosas nas galerias ribeirinhas deve ser objecto de
controlo activo e drstico, quer por eliminao dos respectivos exemplares com recurso a
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1 Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.2. Espaos florestais com funo de proteco
Pgina 38 de 376
meios mecnicos adequados, quer pela utilizao de meios qumicos, com restrio a
tcnicas de aplicao que minimizem os seus efeitos nos ecossistemas adjacentes e a
herbicidas com baixa toxicidade e rpida degradao no meio. O uso de solues de
glifosato em gua ou gasleo para pincelamento da superfcie de corte de touas de
rvores ou arbustos expressamente recomendado, sempre que possvel e tecnicamente
adequado. A eliminao de eventual regenerao de origem seminal posteriormente ao
tratamento principal pode-se efectuar manualmente ou por pulverizao com herbicidas,
respeitando as caractersticas acima referidas, desde que se possa garantir a limitao
espacial da sua aplicao e a preveno da sua disseminao a plantas e comunidades
vegetais adjacentes.
Planear a instalao por mdulos de composio mista, repetindo aleatoriamente
mdulos distintos entre si ao longo das margens.
Quando haja ainda exemplares presentes de espcies autctones, explorar a
possibilidade de enraizamento no local de estacas das espcies com fcil propagao
vegetativa, como os choupos e salgueiros, especialmente em aces de defesa dos
taludes marginais.
Explorar a possibilidade de instalao por sementeira directa de espcies com
propagao fcil por essa via, como freixos e carvalhos.
Minimizar a rea de solo mobilizado.
Reservar a instalao de material vegetal produzido em viveiro para as espcies mais
difceis de regenerar directamente e para as que tm maior valor na produo florestal.
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1 Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.2. Espaos florestais com funo de proteco
Pgina 39 de 376
PRT2 Proteco contra a eroso hdrica e cheias
A eroso hdrica de todas as formas de eroso existentes, aquela que assume um maior
relevo, principalmente quando encaramos a ocupao da terra pelo Homem que, atravs de
determinadas prticas (p.e. mobilizao da terra, desflorestao, sobrepastoreio, irrigao),
altera o equilbrio existente entre a eroso natural e a pedognese (formao do solo).
A eroso tem vrias consequncias importantes ao nvel da ecologia e economia humanas,
pois pode provocar a remoo da camada produtiva de solos agrcolas, soterramento de
solos frteis a jusante, danificar pontes, estradas e passeios, causar eutrofizao e
sedimentao nos cursos fluviais e albufeiras, levando muitas vezes ao assoreamento destes,
que em situaes mais extremas podem provocar inundaes, e muitos outros prejuzos de
degradaes ambientais que apenas podem ser impedidos com muito esforo e custo
econmico.
PRT21 Fixao de vertentes, correco torrencial e amortecimento de cheias
a) Normas de interveno activa
Avaliar a ocorrncia de focos de eroso e planear medidas de mitigao, nomeadamente
atravs de obras de correco torrencial.
Construir pequenas barragens em locais estratgicos para o amortecimento de cheias,
aumentando simultaneamente as disponibilidades hdricas para rega, combate aos fogos
e atenuao das faltas de gua dos povoamentos florestais e comunidades vegetais
espontneos.
Ordenar a vegetao nas margens dos cursos de gua permanentes e temporrios. As
galerias resultantes, que devem ser mais ou menos contnuas, tm dois papis a
desempenhar: a) reduzir a velocidade do escoamento superficial e, consequentemente,
permitir que muitas das partculas de solo que esto a ser arrastadas se venham a
depositar nos vales e vrzeas e b) reduzir a velocidade da gua que escorre nos
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1 Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.2. Espaos florestais com funo de proteco
Pgina 40 de 376
barrancos, ribeiras e rios evitando que haja eroso junto s margens. A composio,
distribuio e densidade da vegetao lenhosa das margens, ao longo dos perfis
longitudinal e transversal, so factores determinantes da estabilidade e proteco das
margens. Ver as normas gerais indicadas em PRT1.
Construir muretes nas pequenas depresses das encostas, contrariando a formao de
sulcos e de ravinas.
Plantar sebes ao longo das curvas de nvel, nas parcelas de utilizao do solo mais
intensiva, com espcies dotadas de elevada capacidade para reteno de solos (sistema
radicular superficial e desenvolvido e com base do caule muito ramificada).
Ponderar a armao da superfcie do terreno em terraos, se os declives forem
superiores a 30% e for necessrio colocar ou manter terrenos em produo, quer agro-
pecuria, quer florestal intensiva, tendo em conta os custos elevados desta alternativa e
os riscos potenciais de agravamento futuro de fenmenos erosivos, na eventualidade de
no se poder garantir o uso e a manuteno adequados destas estruturas,
designadamente quando da regenerao aps explorao de sistemas florestais
intensivos.
Construir caminhos, valetas e aceiros com declive mximo de 10%. Para declives
superiores recomenda-se que os caminhos sejam pavimentados com pedras ou asfalto.
As valetas devem respeitar ainda mais os declives moderados, devem ser curtas e as
descargas devem conduzir a gua para locais onde no venham a provocar eroso ou
excessivo encharcamento.
Os terrenos que tenham importncia para a conservao da gua devem ser
reflorestados; igualmente os terrenos expostos eroso e a cheias, e ainda os
imprprios para a agricultura e que, depois de arborizados, provem ter aptido para a
conservao da gua e do solo. As florestas tm um grande papel de regularizao do
ciclo de gua pois reduzem a probabilidade de cheias e melhoram a drenagem do solo.
Proteger as plantaes florestais que tenham interesse para a conservao da gua e do
solo e ter cuidado para que as condies se mantenham de modo a favorecer a funo
da floresta. Quanto mais vegetao est no local menor a susceptibilidade a
derrocadas.
Fazer seleco das espcies para florestas reguladoras da gua, de modo a conseguir-se
o mximo dispndio de gua nas bacias de recepo que esto sobressaturadas, o que
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1 Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.2. Espaos florestais com funo de proteco
Pgina 41 de 376
se consegue deixando povoamentos muito densos e escolhendo espcies de elevada
transpirao, cujas copas interceptam grande quantidade de gua.
A sub-solagem pode ajudar a infiltrao da gua, na medida em que rompe as camadas
impermeveis do subsolo.
PRT22 Proteco e recuperao do solo
a) Normas de interveno activa
Em situaes de solos degradados justificam-se essencialmente povoamentos de
resinosas pioneiras, puros ou mistos, pelo seu maior potencial de adaptao a essas
condies.
Recomenda-se o uso de espcies pioneiras adequadas s caractersticas ecolgicas de
cada estao, com funes eminentemente de proteco e formao do solo, conduzidas
de acordo com modelos de silvicultura que privilegiem os processos de pedognese. Em
solos de natureza siliciosa e a nvel basal (
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1 Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.2. Espaos florestais com funo de proteco
Pgina 42 de 376
contnua de plancies principalmente quando os solos so arenosos ou franco arenosos
grosseiros e tambm nas parcelas de solos turfosos.
Em encostas mais declivosas, privilegiar no ordenamento florestal os sistemas de
produo florestal que melhor acautelam a conservao do solo: povoamentos regulares
explorados por corte raso por faixas ou manchas, ou por cortes sucessivos, ou ento
povoamentos irregulares. Deste modo evitam-se os cortes rasos nicos que deixam o
solo mais desprotegido.
O mtodo de instalao mais aconselhado para os solos degradados ou esquelticos a
plantao pois, no caso particular do nosso pas, estes solos respondem bem
mobilizao, e as plantas tendem a suportar muito melhor a secura estival. As plantas de
semente muitas vezes no tm ainda razes que lhes permitam sobreviver ao primeiro
Vero. Tendo-se optado pela plantao, esta deve ocorrer no mximo um ms depois da
preparao do solo.
Deixar os resduos florestais no povoamento, sempre que possvel e de preferncia
triturados e incorporados no solo para o proteger da eroso e contribuir para o ciclo de
nutrientes, sempre que no se incorra em grandes riscos de incndio.
Deve ser feita uma utilizao criteriosa da maquinaria florestal de forma a minimizar os
seus impactes sobre o solo (compactao, alterao de horizontes, drenagem, etc.). Os
rastos das mquinas de explorao florestal devem ser protegidos da eroso,
nomeadamente por incorporao de material vegetal. No entanto, no caso de solos
esquelticos nem sempre estes impactes so relevantes.
aconselhvel mobilizar o solo o menos possvel entre as linhas de plantao ou de
sementeira para evitar a destruio do coberto vegetal. Incentivar a realizao de
sachas. As intervenes mecanizadas no devem ser realizadas quando o solo se
encontra encharcado.
O controlo da vegetao espontnea deve ser manual ou deve utilizar-se corta-matos.
Na instalao de povoamentos florestais em encostas com declives iguais ou superiores a
5%, acautelar a mobilizao do solo segundo as curvas de nvel e a adequada armao
da sua superfcie; em vala e cmoro a partir dos 5 a 10% de declive (conforme o tipo de
solo e a estao) e ponderar a armao da superfcie do terreno em terraos ou
banquetas, se os declives forem superiores a 30% e se for necessrio colocar ou manter
terrenos em produo, quer agro-pecuria, quer florestal intensiva.
-
Caderno 5: Normas e modelos de silvicultura
5.1 Normas genricas de interveno nos espaos florestais 5.1.2. Espaos florestais com funo de proteco
Pgina 43 de 376
A partir de declives mdios (> 8-10%) deve haver certos cuidados nas operaes de
mecanizao que ocorrem nas duas fases de preparao da estao para a arborizao:
controlo da vegetao espontnea e mobilizao do solo. As tcnicas usadas no controlo
de vegetao espontnea dependem, fundamentalmente, do tipo de vegetao
(herbcea, arbustiva ou arbrea), do declive (que limita a mecanizao) e do tipo de
solo. A mobilizao do solo est directamente relacionada com o tipo de solo, o seu
material originrio e o declive.
Os caminhos devem ser o menos extensos possvel e devem ser instalados nas zonas
mais estveis.
b) Restries
No se deve permitir o pastoreio, se efectuado de forma desordenada, nas florestas cuja
funo a conservao da gua e do solo.
Recomenda-se ainda a consulta dos seguintes guies de referncia:
Correia, A.V. & Oliveira, A.C. (2003). Principais espcies florestais com interesse para
Portugal. Zonas de Influncia Atlntica. Direco Geral das Florestas. Coleco Estudos e
Informao n. 322. DGF, MADRP. Lisboa, 187 pp.
Correia, A.V. e Oliveira, A.C. (2002). Principais espcies florestais com interesse para
Portugal. Zonas de Influncia Mediterrnica. Direco Geral das Florestas. Coleco Estudos
e Informao n. 318. DGF, MADRP. Lisboa, 119 pp.
DGF (2003). Princpios de Boas Prticas Florestais. DGF, MADRP. Lisboa.
(http://www.dgf.min-agricultura.pt/v4/dgf/pub.php?ndx=789).
Louro, G., Marques, H. e Salinas, F. (2002). Elementos de apoio Elaborao de Projectos
Florestais. Direco Geral d