SABER MÍTICO E SENSO COMUM - 2013

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Uma das melhores maneiras para tentar entender o que é a

realidade é tentar entender como a gente aprende a

entender a realidade.

Como se aprende a entender a realidade?

A humanidade começa a aprender o que é a realidade

através do

saber mítico.

O SABER MÍTICO

O saber mítico apresenta características próprias.

Vamos analisar algumas dessas

características.

1. ANTROPOMORFISMO

Antropomorfismo é uma palavra formada de duas palavras gregas: antropós, que significa humano,

homem; e morfos, que significa forma.

Afirmar, por exemplo, que tudo o que existe nasceu de um pai e de uma mãe ou de energia masculina e energia feminina é uma explicação

antropomórfica.

Na concepção mitológica chinesa,

Yin e Yangsão forças criadoras do universo.

Yin é força masculina e Yang é força feminina.

YIN YANG

Yin e Yang

Símbolo chinês do Yin e Yang

Nos dias de hoje podemos encontrar resquícios de antropomorfismonos desenhos animados, na poesia, na literatura infantil etc.

A brisa da tarde acariciaos cabelos da minha amada...

O coelho do livro Alice noPaís das Maravilhas de

Lewis Carroll

Em livros escolares

Os índios Rikbaktsa contam que nasceram de uma pedra.

Índios Rikbaktsa

Nós nascemos de uma pedra.

Começamos a aprender o que é a realidade colocando nela nossas características humanas.

Aos poucos, vamos percebendo que a natureza vegetal, a natureza mineral e as demais espécies animais têm suas características próprias.

Começamos a perceber as diferenças.

O desenvolvimento do saberé um processo de

descoberta de diferenças.Este processo não tem fim.

2. A TENDÊNCIA AO SOBRENATURAL

O pensamento mítico procura explicações para o seu não-saber numa dimensão sobrenatural.

Esse não-saber normalmente está relacionado a questões de difícil compreensão, tais como a origem do universo, a origem da vida humana, se há vida após a morte etc.

As soluções sobrenaturais encaminham mal o não-saber. Problemas e fatos naturais precisam ser resolvidos na dimensão natural.

Vamos analisar o

encaminhamento mítico

para a questão da

origem do universo.

Um dos encaminhamentos

míticos mais conhecidos para o problema do

surgimento do mundo e de tudo o que nele existeé afirmar que esse fato se deu por meio de um ato

criador de um deusou de vários

deuses.

A

ORIGEM

DO

UNIVERSO

O deus judaico-cristão criou o mundo em seis dias.No sétimo dia, ele descansou.

O deus judaico-cristão criou o homem.

DIVINDADES HINDUS

BRAHMA SHIVAVISHNU

Esta é a trindade divina do hinduísmo. É composta pelos três principais deuses: Brahma, Vishnu e Shiva. Brahma

é a força criadora do universo; Vishnu, a força conservadora; e Shiva, a força destruidora.

As explicações que apelam para divindades sobrenaturais aprofundam a tendência antropomórfica presente no saber mítico.

As divindades recebem formas humanas, sentimentos humanos, qualidades e fraquezas humanas. Geralmente num grau mais elevado.

O filósofo pré-socrático Xenófanesfalou o seguinte a respeito dos deuses:

Os egípcios dizem que os deuses têm nariz chato e são negros, os trácios dizem que eles têm olhos

verdes e cabelos ruivos.

[Fragmento 16]

Ludwig Feuerbach(1804-1872)

Não foi Deus que criou os homens, foram os homens que criaram

Deus.

O que Ludwig Feuerbach disse a respeito do assunto:

O que Marx disse a respeito da religião:

A religião é o ópio do povo.

Para problemas naturais, soluções naturais.

Aprender isso é bastante difícil.

Vamos analisar agora

como a ciência encaminha

a questão da origem do

universo.

.....................................................................................

A teoria científica mais aceita a respeito do surgimento do universo é a do

Big Bang.

A teoria do Big Bang afirma que o universo emergiu de um estado extremamente denso e

quente há cerca de 15 bilhões de anos.

A teoria do Big Bang

não parte do nada

e, sim, de algo já existente: uma mistura de partículas subatômicas

que se moviam em todos os sentidos e que, em certo

momento, entraram em processo de explosão e expansão.

Uma pergunta instigante

Ninguém sabe...

... por enquanto.

O pensamento mítico, mesmo com os avanços da ciência, continua a insistir que o começo de tudo foi uma criação

de um poder divino e sobrenatural, seja este personificado em um deus

ou em vários.

Atualmente, a ciência está tentando recriar em condições de laboratório, por

meio de

aceleradores de partículas,

o momento do Big Bang que se seguiu à era quântica. Esse período começou em

t = 1 x 10-11 segundo.

t = 1 x 10-11 segundo 0, 00000000001 s

CERNConseil Européen pour la Recherche Nucléaire

Em Genebra está situado o , o maior centro de estudos sobre física de partículas do mundo.

O CERN dispõe um conjunto de 6 aceleradores, que ficam a 100 m abaixo da superfície e com 27 km de comprimento circular. Cada um tem por finalidade aumentar a energia do feixe das partículas recebidas antes de as enviar a um outro acelerador.

Sede do CERN, em Genebra (Suíça)

Acelerador de partículas do CERN em Genebra, na Suíça.

Genebra - Suíça

Interior do túnel do LHC

Interior do túnel do LHC

Imagem divulgada pelo CERN mostra uma representação da colisão de prótons na experiência pela

busca do bóson de Higgs, que é responsável por dotar de massa todas as outras partículas.

No LHC do CERN, os prótons são acelerados a 7 trilhões de

eletrovolts.Isto significa que eles correm a

99,99% da velocidade da luz (que é de cerca de 300 mil km por

segundo), ou 11 mil voltas por segundo, no megatúnel de 27

quilômetros.

3. RITUALIZAÇÃO

O saber mítico se ritualiza, isto é, ele se torna repetitivo.

Um ritual se caracteriza pela repetibilidade.

Por exemplo, as danças rituais dos povos primitivos, as cerimônias rituais sagradas (sacrifícios de animais, missas, rituais de iniciação etc.)

A missa é um ritual.

Dança ritual dos índios xavante Ritual de umbanda

A ritualização mais prejudicial é a

ritualização cognitiva, quando não

avançamos no saber.

Nosso conhecimento se torna repetitivo.

Não sai do mesmo lugar.

Caímos na rotina cognitiva.

RITUALIZAÇÃO COGNITIVA

Para superar o saber mítico é preciso

quebrar a rotina cognitiva.

4. COMPORTAMENTO MÁGICO E SUPERSTICIOSO

O contexto mítico geralmente está relacionado

com práticas mágicas e supersticiosas.

Essas práticas têm como objetivo principal controlar fenômenos naturais ou sociais.

Por exemplo: doenças, tempestades, inveja, mau olhado etc.

Um saber baseado na racionalidade precisa superar as

práticas mágicas e supersticiosas.

O QUE É, POIS, O SABER MÍTICO?

O saber mítico...

Antropomorfiza aspectos da realidade.

Procura soluções sobrenaturais para problemas naturais.

Ritualiza o pensamento e o conhecimento, não conseguindo superar a rotina cognitiva.

Usa práticas mágicas e supersticiosas para tentar resolver problemas humanos.

Vamos agora refletir sobre o senso comum.

SENSO COMUMe

LÓGICA DAS APARÊNCIAS

Já vimos que a humanidade começa a explicar a realidade através do

saber mítico.

Mas também tenta entender a realidade através do

.

1

Assim pensa o senso comum.

Entretanto,

um corpo não cai porque é pesado e, sim,

ELE É PESADO PORQUE CAI.

Qual é a alternativa correta?OU

“CAIR”

significa ser atraído pela

força da gravidade.

observação

UM CORPO É PESADO

PORQUE CAI.Senão, vejamos por quê.

A alternativa correta é esta.

MASSA CORPORAL MASSA DA TERRA

O peso é uma

relação

Em relação à Terra, o Gordo tem mais massaque o Magro, por isso é mais pesado.

A Lua tem uma massa bem menor que a da Terra. Sua força gravitacional é 6 vezes menor. Logo, uma massa

que na Terra pesa 150 kg, na Lua pesará 25 kg.

NA TERRA NA LUA

O peso não é uma essência dos corpos.Não é um ser imutável.

Ele se estabelece sempre através de uma relaçãoque pode variar.

Assinalemos esta ideia importante:

O peso é o resultado de uma

entre massas.

Superar o senso comum é buscar a

correta relação

entre as coisas.

2

*

Assim pensa o senso comum.

O Sol parece ser menor que a Terra.

A massa do Sol é

333.000

vezes a da Terra e o seu

volume 1.400.000

vezes o volume do

nosso planeta.

• A Lua é um satélite da Terra. Dista do nosso planeta cerca de 384.405 quilômetros.

• Um raio de luz leva 1,255 segundos para ir da Terra à Lua.

LUA

A lua não é um disco plano.

Assim parece devido à

. Nossa visão não

consegue captar sua verdadeira forma, que é

esférica.

Superar o senso comum ésuperar as aparências.

3

Assim pensa o senso comum.

O Sol parece girar em torno da Terra.

• Esta ideia do senso comum é um equívoco.

• Como estamos sobre a terra que gira, não percebemos o movimento dela em torno do Sol (translação).

• Também não percebemos que a Terra gira sobre si mesma (rotação).

• Faltam-nos pontos de referência.

Superar o senso comum é descobrir

pontos de referênciaa fim de perceber as

mudanças.

4

Assim pensa o senso comum.

• Esta ideia é muito antiga. Os primeiros filósofos pré-socráticos afirmaram que a Terra, para não cair, tinha que estar sobre um suporte.

• Tales disse que esse suporte era a água.

• Anaxímenes disse que era o ar.

Anaxímenes afirmou que a Terra estava estacionada sobre o ar.

Crenças míticas muito antigas diziam que os titãs seguravam o mundo para que ele não

caísse.

Essas explicações de senso comum apresentam um problema lógico: elas

caem num processo de

regressão linear ao infinito.

Encontrado um suporte, é preciso encontrar outro que suporte o suporte e

que, por sua vez, precisará de novo suporte... ao infinito.

suporte

suporte

suporte

suporte

...

Se nada suporta o vaso de flores, ele cairá.

Se nada suporta a mesa, ela cairá.

Se nada suporta a Terra, ela cairá.

Vamos figurar o pensamento dos filósofos pré-socráticos.

Superar o senso comum é evitar o equívoco lógico da

regressão linear ao infinito.

5

Vamos analisar alguns equívocos ópticos que geram senso comum.

Um objeto, imerso na água, parece estar quebrado.

• Este equívoco cognitivo acontece porque não levamos em conta o fenômeno da refração da luz em meios diferentes.

• Quando um raio de luz incidente for oblíquo, a refração é acompanhada de desvio de direção.

As ilusões ópticas são indicadoras dos

limites da nossa percepção visual.

Ilusão de Müller-Lyer

Ilusão de Ponzo

Ilusão de Zöllner

Todas as linhas são retas e paralelas. Entretanto...

Se diminuirmos o tamanho das figuras, teremos uma visãocorreta delas.

O senso comum não leva em conta as limitações de nossas percepções.É preciso superar essas limitações.

6

Assim pode pensar o senso

comum.

O que estamos vendo nessa figura?Um cavalo...

... ou um sapo?

Os mesmos dados informacionais podem produzir diferentes conhecimentos.

Moça? Velha?

Os mesmos dados informacionais

podem produzirdiferentes conhecimentos.

As aparências podem nos enganar.

Precisamos ir além das aparências.

FIM

sergioschaefer@viavale.com.br