Post on 08-Feb-2022
Pintura Analógica X Pintura Digital
Autor: Maribél Martins Silva Schroder1
RESUMO
Este artigo apresenta os resultados de pesquisa PDE inserido na linha as Novas Tecnologias aplicadas à Educação, especificamente tratando as diferenças e semelhanças entre a pintura analógica e a pintura digital. Trata-se do relato do projeto e da sua implementação na escola e dos resultados obtidos com os alunos. Tem também como objetivo alertar para a importância da utilização as novas tecnologias nas escolas, não considerando apenas como uma nova metodologia ou técnica, mas sim colaborando numa conscientização tanto dos professores quanto dos alunos da importância relevante que é o uso do computador nas aulas. Também se destaca a importância de contextualizar a Arte Digital, sua história e teorias, obras e artistas digitais.
Palavras-chave: Arte Digital; pintura analógica; pintura digital, novas tecnologias, computador.
1 INTRODUÇÃO
A Arte é uma área da qual inevitavelmente ninguém consegue escapar. Por
mais que alguém diga que a Arte não tem importância ou que o seu interesse por
Arte é mínimo, poderá este indivíduo parar para analisar um pouco mais sobre o
tema e rever a sua opinião equivocada. Acredito que as pessoas que discriminam a
Arte não têm conhecimento aprofundado sobre este campo da intelectualidade
humana. Como diz Silva:
Atualmente, a arte tem grande importância, na vida dos povos, e nas suas mais diversas manifestações, tem sido alvo de estudos e pesquisas, tanto na estética, quanto na origem humana. E também ficou comprovado que a educação através da arte tem realizado inúmeros progressos que beneficiam o homem e visa o desenvolvimento de uma personalidade integrada e harmoniosa. (SILVA, 2009, in INFOEDUCATIVA)
1Formada em Educação Artística pela UFPR e Pós-Graduada em Arte, Educação e Terapia pelo
ITDE e Educação Especial pelo Bagozzi.
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Se a Arte não existisse, tão pouco a humanidade saberia atualmente da sua
origem e desenvolvimento sobre a face da Terra. A Arte foi a responsável pela
humanização do homem. A partir do instante em que o homem usou as suas mãos
para registrar na parede das cavernas a sua impressão do mundo, o homem marcou
a sua presença na história. A humanidade do homem estava interligada também ao
seu potencial criativo e no fato de realizar os primeiros trabalhos com as mãos, para
amenizar as dificuldades advindas de se viver num mundo desconhecido e que
apresentava aos seus moradores inúmeros desafios. E foi assim que com o seu
potencial criativo, ele pode criar instrumentos para suprir as suas necessidades.
Dessa forma o homem foi se manifestando no mundo como alguém que era muito
mais que um hominídeo que apenas no princípio imitou os macacos por assim eles
se assemelharem-se a ele, mas que depois mostrou ser alguém muito mais superior.
Manifestada já na mais tenra infância da Terra, a Arte foi sendo uma das
áreas onde o homem mostrou uma maior carga de desenvolvimento e trabalho, pois
mesmo que muitos não concordem, Arte e trabalho são palavras sinônimas. A Arte é
sim trabalho: trabalho de muita criação e comunicação. Infelizmente ainda há nas
escolas brasileiras este triste pensamento: Arte é uma disciplina para distração dos
alunos das matérias mais difíceis. Consideram a Arte como não possuidora de
conteúdos a serem desenvolvidos. Acreditam que pouco há a ser gerado de
competência nos alunos e tão poucos consideram o professor de Arte como alguém
que tenha o que ensinar. Não é incomum se verificar nas reuniões onde se discute a
distribuição do número de aulas na grade curricular, a defesa das ditas matérias
difíceis, Português, Matemática, Ciências e História, ao falarem que a disciplina de
Arte não precisa de tantas aulas semanais, mas eles sim. E qual a principal
alegação? Eles precisam de mais momentos com os alunos porque as suas
disciplinas “caem no Vestibular”.
É como Losada salienta:
Realmente, é cada dia mais difícil compreender a importância da arte, pois vivemos numa sociedade cada vez mais guiada pelo princípio da utilidade. Mesmo a ciência, ainda mantém o seu prestígio porque se converte em tecnologia, isto é, em conhecimentos que encontram aplicação na vida prática. No entanto, a maioria das grandes descobertas científicas resultou da estrita curiosidade do ser humano frente à natureza, vindo só posteriormente, e muitas vezes a contragosto dos cientistas que as criaram, a tornarem-se tecnologia. (LOSADA, 2010, p.4)
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Diante destes comentários, o professor de Arte precisa ser muito bem
formado e consciente, para saber se defender e defender a sua área. Pois, embora
sozinho, só contando com alguns poucos professores que realmente possuem
clareza do que seja a educação e os fatores que levam um aluno a realmente
aprender, o professor de Arte acaba sendo subjugado diante das opiniões errôneas.
Sabe-se que estas questões são históricas e que somente aos poucos os bons
professores de Arte conseguirão realizar uma mudança de pensamento nestas em
pessoas tão discriminadoras assim.
Como Fusari afirma:
Na prática, a Educação Artística tem sido desenvolvida nas escolas brasileiras de forma incompleta, quando não incorreta. Esquecendo ou desconhecendo que o processo de aprendizagem e desenvolvimento do educando envolve múltiplos aspectos, muitos professores propõem atividades às vezes totalmente desvinculadas de um verdadeiro saber artístico. (...) Ficam evidentes a perplexidade e a desinformação dos professores que são preparados em cursos de reduzida duração, em detrimento de uma formação aprofundada em arte e no trabalho pedagógico na área. Assim, a questão do aperfeiçoamento e formação do Magistério para atuar nas escolas de ensino fundamental e médio passa a ser um problema emergente, que ultrapassa os limites dos cursos e licenciaturas em Educação Artística. (FUSARI, 2010, p.18)
E foi assim neste duro ambiente de pouca valorização em Arte e diante da
entrada do novo na escola Professor Domingos Cavalli, que este projeto PDE
nasceu. O ano de 2010 marcava a chegada dos primeiros computadores na escola
de jovens e adultos, o CEEBJA Professor Domingos Cavalli. Em outras escolas
estaduais do mesmo município, já fazia quase um ano que estas ferramentas já
faziam parte da vida cotidiana escolar e com um laboratório estruturado. Esta
chegada do novo começou a gerar idéias inovadoras no campo da Arte e o projeto
de uma aula de Arte que enfrentasse os novos desafios decorrentes das novas
tecnologias começou a nascer. A visão do laboratório de Informática sendo
instalado e posto em funcionamento, despertou a análise de toda a importância
dessa tecnologia para os alunos. E, muito em especial para os jovens e adultos que
não têm acesso fácil à essas novas tecnologias. Como trabalhar na modalidade da
EJA, tornando este conhecimento e acesso possíveis? Pensar o quanto este simples
laboratório de informática seria importante para a cidadania desses jovens e adultos
suscitou inúmeras idéias. Muitos dos alunos da EJA têm em torno de 30 anos em
diante, sendo que se tem os de menor idade, porém os de maior idade são a
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expressividade. Durante as aulas, muitos destes alunos relatam a sua dificuldade
em irem ao banco para receberem o seu salário ou mesmo para pagar usando o
Caixa Eletrônico. Existem relatos de muitas alunas que fazem a limpeza como
faxineiras em escritórios ou ambientes que possuem o computador, e sentem
verdadeiro pavor em chegarem perto destes aparelhos, acretidando que vão
estragá-los. Que dizer então se pensam em ligar, desligar ou mesmo usar este tão
assustador instrumento tecnológico.
Neste momento da entrada dos computadores na realidade da escola já
citada, o confronto com a vinda do novo e os relatos dos alunos fez imediatamente a
autora deste artigo pensar: enquanto professores e ainda mais como professores de
Arte e EJA, a necessidade em levar as necessidades do aluno em primeiro lugar. O
pensar foi tomando forma e espaço em um caminho direcionado para a ação. Isso
também trouxe a reestruturação no modo de se pensar a Arte realmente como um
instrumento emancipador e o quanto isso iria contribuir com os alunos em sua
cidadania. A Arte enquanto área que caminha de mãos dadas com o seu tempo tem
a necessidade de mostrar este mesmo perfil no trabalho com os alunos. Com
maestria, a Arte consegue lidar com este limiar entre passado e presente de forma
consciente e bonita, mostrando que se devem valorizar as conquistas tecnológicas
do homem em todos os tempos.
Esta nova oferta de equipamento proporciona aos alunos, aulas de Arte ainda
mais prazerosas e em sintonia com os tempos atuais. Neste entremeio de
pensamentos turbilhantes para o redirecionamento de um novo planejamento e
metodologias, sai o resultado do PDE. Isso suscitou a princípio dois
direcionamentos: automaticamente viria o afastamento do professor que passou na
seleção e isso não demoraria. O outro pensamento foi o de como associar o prazer
em estar no PDE e a concretização do desejo em se trabalhar com as novas
tecnologias. O PDE é um momento indescritível de muita satisfação na vida de um
professor estadual, pois ele garante uma parada de tempo para estudos e novas
descobertas. E, seria também o espaço certo para as discussões a respeito das
idéias sobre a Arte e as novas tecnologias assim como tentar entender junto a
outros professores de mesma área, as discriminações existentes no ambiente
escolar com relação à Arte. Junto aos seus pares seria também um momento de
observar o pensamento de outros professores de Arte a respeito da área e o
trabalho com as novas tecnologias.
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No PDE, a linha da autora deste artigo não poderia ser: as Novas Tecnologias
aplicadas à educação. Mais do que nunca as situações entrecruzaram-se e tudo
seria perfeito para garantir uma nova remodelação na estrutura das aulas de Arte. O
PDE ganharia um projeto cidadão, preocupado em mostrar o quanto o uso do
computador nas aulas de Arte era de suma importância. Sem parecer egoísmo com
as demais disciplinas, a Arte é salientada porque esta é a área de referência da
aluna PDE e porque com relação à Arte e o uso do computador, o trabalho não pode
ficar restrito somente enquanto instrumento. Deverá ser também mostrando a
importância da Arte Digital e os artistas que fizeram desta arte uma nova realidade
no mundo artístico, ao terem a audácia necessária para serem pioneiros de tão
grandiosa idéia.
É neste relato que há a descrição de todos os passos e os momentos
marcantes deste projeto, desde o seu início até o resultado final. O relato perpassará
pelos encontros com o orientador e a grata satisfação em aprender com esta figura
que parece sempre tão assustadora, a aplicação do projeto com os alunos
mostrando uma visão completa do que ocorreu, como ocorreu e as indicações de
sugestão para os futuros pesquisadores que se encontrarem na mesma linha de
pesquisa escolhida, não esquecendo até mesmo os sonhos e aspirações que tenho
para com esta área tão envolvente e apaixonante. Neste artigo haverá a
possibilidade em conhecer como a Pintura Digital e a Pintura Analógica têm espaço
na Arte e como é possível ampliar a visão dos alunos, mostrando o quanto a área da
Arte é dinâmica, desafiadora, futurista e eternamente criativa.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 A importância da imagem e os seus efeitos na vida do ser humano
No Projeto inicial da pesquisa idealizada, houve nele o desejo veemente de
ver os alunos da EJA usando efetivamente o laboratório de informática. O que
acontece na EJA é que as turmas de Arte começam e terminam num período de no
máximo três meses. Atualmente, após a mudança realizada pela SEED, uma turma
de Arte do Ensino Fundamental levará mais ou menos, uns seis meses de duração.
Mas, as turmas do Ensino Médio continuaram no prazo máximo de três meses.
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Sendo assim, pelas mãos de um professor da EJA, milhares de alunos irão passar
pelo professor de diferentes disciplinas e todos serão sempre alunos de todos os
professores. Por isso, que ao se conscientizar os alunos a respeito de um dado
assunto, estar-se-á através deles próprios, conscientizando os demais professores,
assim como as outras pessoas que estiverem no rol de convivência deles.
Assim sendo, o primeiro momento de todo professor PDE será o seu primeiro
encontro com o orientador a ele designado. O professor ao se encontrar com o
orientador tem a firme convicção em seu projeto inicial, mas sabe que o orientador
enquanto alguém preparado para trabalhar com esta missão irá alterar o seu projeto
tendo em vista a melhoria da qualidade dos resultados. A partir da confrontação com
o orientador, este projeto foi criando uma vida maior do que ele já tinha. Seguindo as
orientações do mestre, o projeto necessitava ir além do fato de salientar a
importância do uso do computador nas aulas de Arte, cujo tema já seria deveras
amplo. Era necessário escolher um tema específico da Arte para pesquisar e assim
acontecessem as associações das idéias. Depois de muita discussão entre aluna e
mestre, chegou-se à conclusão do que realmente seria desejável realizar com os
alunos: fazê-los entender que pelo fato dos artistas usarem o computador para
realizarem as suas produções artísticas, isto não desmerece o produto final. O valor
de tais obras não é diminuído porque é realizado no computador. O valor delas é
muito grande e não pode haver discriminação com tal arte. Os artistas digitais não
escolheram esta estética de trabalho por ela ser mais fácil ou e tão pouco a escolha
em trabalhar com a pintura digital baseou-se na questão dela ser mais válida que a
pintura analógica. O que leva os artistas a este ramo de arte é o constante fato da
busca pelo novo, pelo inédito, por aquilo que representa um desafio. Tanto a pintura
analógica quanto a pintura digital se encerram num valor e particularidades próprias.
Na Arte as mudanças são sempre constantes e benéficas e cada estilo artístico tem
o seu espaço garantido neste mundo tão diversificado. Na Arte sempre se tem algo
para aprender, descobrir e ensinar. É a modernidade e como afirma Kupstas;
Campos (1998, p.2):
O carro, o cinema, a televisão, a máquina fotográfica, o avião, etc. são artefatos tecnológicos que modificam a noção de tempo. O artista e a arte moderna vivem essa rapidez, que acaba criando a angústia do velho. Como diria um artista americano, Andy Warhol: “no futuro, todos serão famosos por quinze minutos”. Ou seja, tudo envelhece muito rapidamente.
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Aí nasceu este trabalho: pintura analógica X pintura digital. A pintura por si só
já consegue produzir sentimentos inúmeros e os mais variados possíveis nas
pessoas, sendo um destes sentimentos mais comuns e também aquele que assim
se manifesta através do dizer: quem pinta tem dom. Comentários deste tipo sempre
ignoram que a Arte é aprendizagem. Porém, acaba por enaltece o valor que a Arte
tem, mesmo de forma torpe. Uma imagem que cria vida se torna uma arma de real
intensidade.
O poder de uma imagem é tão grande e indiscutível, que como Rossi (2009)
menciona em seu livro, numa citação interessante de Régis Debray, as imagens têm
o poder de imposição sobre os indivíduos:
Debray (1993) conta que certa vez, um imperador chinês pediu ao pintor de sua corte para apagar a cascata que havia pintado na parede do palácio, porque o ruído da água não deixava dormir. Parece que, desde sempre, a imagem teve o poder de se impor a nós. Ela nos seduz por sua própria presença; já a palavra pressupõe uma linearidade na sua leitura. A palavra evoca algo que está ausente; a imagem é (já) presença, aqui e agora.
O poder da imagem jamais será diminuído, muito ao contrário, hoje a invasão
imagética é muito maior e com a crescente presença da tecnologia na produção das
imagens, as crianças estão lidando com elas desde muito cedo: aprendendo a
produzir e consumir imagens de todos os tipos. A criança aprende a ver antes de
falar e isso não é mero fato biológico, pois para se poder falar é necessário
visualizar sobre o que se falará. Não se fala sem antes ter percebido a situação em
sua totalidade.
O erro cometido pelas escolas é valorizar apenas o ensino da palavra no
momento da alfabetização, e também posteriormente, deixando de lado o trabalho
com as imagens. Portanto, é de suma importância que a disciplina Arte saiba se
posicionar nas escolas e mostre o quanto o alfabetismo visual como assim chama a
autora Donis Dondi (1991, p.16), possa realmente existir:
Existe, porém, uma enorme importância no uso da palavra “alfabetismo” em conjunção com a palavra “visual”. A visão é natural; criar e compreender mensagens visuais é natural até certo ponto, mas a eficácia, em ambos os níveis, só pode ser alcançada através do estudo. Na busca do alfabetismo visual, um problema deve ser claramente identificado e evitado. No alfabetismo verbal se espera das pessoas educadas, que sejam capazes de ler e escrever muito antes que palavras como “criativo” possam ser aplicadas como juízo de valor. A escrita não precisa ser necessariamente brilhante; é suficiente que se produza uma prosa clara e compreensível, de
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grafia correta e sintaxe bem articulada. (...). Em parte devido à separação, na esfera do visual, entre arte e ofício, e em parte devido às limitações de talento para o desenho, grande parte da comunicação visual foi deixada ao sabor da intuição e do acaso.
Tem-se visto esta busca de melhorar a qualidade do trabalho com a Arte nas
escolas porque a formação dos professores tem melhorado bastante. Ainda não se
pode dizer que a formação do professor em Arte esteja resolvida, assim como não
se pode dizer que a vontade em melhorar o trabalho em Arte esteja sendo feito a
contento. Faltam ainda muitos materiais para os professores trabalharem os
conceitos de leitura de imagem. Em geral os materiais trabalhados na aula de Arte
pertencem ao próprio professor, pois as verbas que as escolas recebem dificilmente
são pensadas pelos diretores em serem gastas com materiais artísticos. Com a
chegada de alguns materiais tecnológicos como a TV Pendrive e o laboratório de
computação, um pouco dos problemas com relação às imagens foram possíveis de
serem amenizados. Mesmo assim, ainda falta um laboratório melhor equipado,
funcionando de acordo, onde se possa imprimir sem que haja falta de tinta ou que se
possam levar os alunos ao laboratório em variados momentos e não só quando o
horário do técnico responsável combine com o dos professores. Mesmo porque, não
há um técnico apropriado, alguém que pudesse ministrar constante orientação aos
professores e orientando no uso de diferentes sites e programas.
As escolas de EJA sentem ainda mais do que as demais, esta falta de
materiais. Talvez isso ocorra pelo fato de ser uma modalidade diferenciada, muitos
materiais que são distribuídos nas escolas regulares de Ensino Fundamental e
Médio não chegam até ela. Quem garante esta distribuição e é responsável por ela,
talvez imagine que os alunos da EJA necessitem de um material diferenciado, mas
que também nunca é pensado e nunca vem.
Além desta problemática dos materiais, há ainda outra permeando a vida dos
professores de Arte: a questão do que se trabalhar com os alunos e se de fato o
professor sabe como está o desenvolvimento estético dos seus alunos. A falta de
conhecimento do desenvolvimento estético dos alunos leva os professores a não
saberem se a proposta oficial recebida para ser trabalhada, se encontra de acordo
com o que os alunos precisam. A maioria das propostas está reduzida à análise de
elementos formais e princípios de composição (linha, cor, forma, ritmo), não
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favorecendo a expressão das idéias (que seriam as teorias) sobre o que os alunos
estão vendo.
Por isso, como diz Rossi (2009), está na hora de perguntar:
O que o aluno vê numa imagem?
O que enfatiza quando analisa uma imagem?
Como ele interpreta?
Que perguntas faz frente à imagem?
Que critérios usa para julgar a qualidade da imagem?
O que diferencia a leitura de cada aluno?
Quais são os pressupostos que o aluno traz?
Como é, realmente, a leitura do aluno no contexto brasileiro?
Pode se impor uma leitura? No afã de propiciar o acesso à cultura, em nome da democratização cultural, estamos desrespeitando as condições de construção de conhecimento do aluno. É certo que o educador deve levar o aluno a romper limites, para buscar o acesso ao patrimônio cultural da humanidade. No entanto, existem fatores que precisam ser considerados no processo educacional. Entre estes estão: idade, estrutura cognitiva, nível de escolaridade, familiaridade com atividades de leitura estética na escola e no ambiente familiar, contextos sociais, econômicos, culturais, psicológicos.
As questões postas sobre a leitura das imagens é relevante e preocupante,
portanto não se pode acreditar que o estudo da imagem é algo simples e sem
necessidade de aprofundamento. Só porque se leva uma imagem de Pablo Picasso
ou qualquer outro artista famoso para a sala de aula, nada garante que o trabalho
desenvolvido pelo professor junto aos alunos será adequado ao que se espera em
termos de alfabetismo visual.
Quem avalia que a imagem é importante apenas agora em nosso cotidiano
repleto de imagens, comete grave engano. A produção de imagens teve início na
pré-história quando o homem de maneira rústica e com bastante dificuldade veio a
usar as próprias mãos para dar início a uma representação. Porque não dizer que
ele usou a própria boca, onde colocou tintas para soprá-las na mão e retratá-la. Em
se tratando de representar, o homem não mede recursos, utiliza-se da tecnologia
possível e produz a imagem desejada.
As imagens fazem parte do dia a dia do homem desde o período pré-histórico
até os dias de hoje caracterizando-se como meio de expressão e comunicação e,
portanto, como suportes de fatos históricos e artísticos fundamentais para a cultura
humana. Desta forma entende-se que há muito que se aprender com o estudo das
imagens nas suas mais variadas origens e momentos, nos diversos modos como se
materializou ou nos estilos de quem as produziu.
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A partir da Revolução Industrial os meios de produção de imagens se
intensificaram e não mais ficaram limitados apenas a mão do artista, muitos meios
surgiram. Máquinas, equipamentos e aparelhos tornaram-se modos de captura,
produção e armazenamento de imagens.
O artista sempre buscou os recursos tecnológicos que dispunha à sua volta,
assim como o homem pré-histórico fez. Se na pré-história já existisse o computador,
será que o homem não o teria utilizado? Se desta forma tivesse sido, hoje a história
da Arte e da humanidade seria contada de forma diferente. Porém, naquele tempo
ele dispôs do barro, sangue, carvão e demais produtos naturais que tinha às mãos.
Atualmente a humanidade passou e ainda passa por uma revolução: a força
do digital. Tudo o que se conhecia anteriormente em termos de produção analógica
vem sendo substituído pela produção digital. O mundo digital vem invadindo todas
as áreas da sociedade e na Arte não é, nunca foi e com certeza nunca será
diferente. A Arte, como já dito, acompanha as tecnologias de que dispõe em dado
momento histórico para poder elaborar a sua representação através das imagens.
Segundo Domingues (1997, p.21):
Na cultura das redes, fica evidente que as tecnologias a serviço da arte (...) propõe a participação, o diálogo, a colaboração entre parceiros (...) o artista coloca-se a favor de uma criação distribuída (...). O artista não é mais o autor único de uma “obra” e sua proposta assume intensamente uma função comunicacional em fronteiras compartilhadas pelo autor e pelos participantes.
Hoje em dia o artista vem dispondo cada vez mais do uso das tecnologias
para produzir suas representações artísticas e isso é bom. Não se deve pensar que
o uso das tecnologias como, por exemplo, produzir a Arte usando o computador
possa ser algo ruim. Nenhuma tecnologia pode ser considerada negativa. Se o
homem não tivesse evoluído ainda estar-se-ia vivendo na época das cavernas.
O mundo da Arte vem presenciando o surgimento de muitos pintores digitais
que anteriormente eram pintores que utilizavam técnicas tradicionais de pintura. E
por que isso acontece? Porque a Arte é um campo de muita experimentação e
mutação. Ao artista cabe procurar desenvolver as produções artísticas de forma a
sempre buscar apresentar um trabalho criativo e inovador. Sendo assim, a busca por
experimentações é uma constante na vida do artista e não se deve julgar que este
artista seja um produtor de Arte com maior valor ou não.
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Ao se trabalhar a importância das imagens para a vida social e para os
indivíduos, proporciona-se levar esta discussão aos alunos e também conscientizá-
los de que estas mudanças ocorridas com a Arte acabam trazendo em si muitos
preconceitos. Tais preconceitos devem ser rejeitados. A Arte é uma área que por ser
aberta a experimentos e mudanças, não pode se mostrar preconceituosa.
Como afirma Lemos (in Claudia Guimarães, 2010):
A evolução humana é fruto do movimento perpétuo e infindável onde a técnica torna-se responsável pela criação da cultura; o meio natural sofre transformações impondo limites às atividades técnicas. As novas tecnologias, presentes em todas as práticas contemporâneas, tornam-se vetores das experiências estéticas, no sentido de arte, do belo, promovendo a comunhão e o compartilhamento de emoções. (Lemos, 2008: 17)
A pintura tradicional, onde o pintor usa as tintas e os pincéis sobre uma tela,
papel ou qualquer outra superfície não está com os dias contados,assim como na
época em que surgiu a máquina fotográfica, ela também não desapareceu. Quem
acredita que a pintura digital fará com que a pintura tradicional se esgote, não
compreendeu ainda como funcionam as novas tecnologias na Arte. A Arte é como a
natureza, nela nada se perde tudo se recria. A pintura tradicional continua tendo os
seus encantos e ao conviver com a pintura digital, só terá muito a ganhar. Muito dos
artistas tradicionais que renegam a arte feita no computador através dos softwares,
com certeza também rejeitou muitos outros movimentos que posteriormente
assimilou. Na Arte há espaço para todos, principalmente aqueles que têm qualidade
posta no seu trabalho.
Mas, esta discussão é muito salutar: saber quais os rumos que a Arte tomará
diante desta tecnologia aí posta. Como serão as próximas produções artísticas
advindas deste tecnologismo sem fim? Como serão as aulas de Arte futuras? Como
conceber uma aula de Arte que venha de encontro aos anseios das novas
gerações? Os professores de Arte saberão lidar com estas mudanças? Os mais
radicais saberão entender que o mundo da Arte acompanha a tecnologia presente?
Uma atitude é certa: continuar-se-á a discutir-se sobre o conceito de Arte,
pois estamos diante de um novo renascimento sem a presença de artistas como
Leonardo da Vinci, Michelangelo ou Rafael, porém temos novos visionários sentados
em frente a um computador. Este novo conceito de Arte indaga e perturba fazendo
com que muitos saiam da zona de comodismo. E isso é bom.
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Quem trabalha com Arte precisa aprender a se renovar e se reconstruir a
cada dia, para que possa acompanhar as mudanças que nunca pararam de vir.
Cabe sempre a discussão de cada dúvida que surja para que se possam encontrar
caminhos satisfatórios. O que não se pode é estar estático diante dos fatos e negá-
los. Muito ao contrário, devemos pensar a respeito e indagar a si mesmo e ao outro:
o que fazer? Como fazer? Por que fazer?
Como afirma Grennwald (1993, p.25):
A grande conquista do período Neolítico, ou da „pedra nova‟ (8.000 a 1.500 AC) foi o desenvolvimento de comunidades permanentes e da agricultura. A conquista do Neossilicato (de 1971, quando foi fabricado o primeiro microprocessador, até os dias de hoje) é a Revolução digital. A noção de que todos os nossos dados sobre o universo – desde a assinatura de uma supernova em raios X até as texturas visuais de um Van Gogh – podem ser transpostas para o código binário é uma das idéias mais úteis, emocionantes e arrogantes que a nossa espécie já produziu. . . . O modelo binário hoje informa cada um dos campos da ciência e da mesma maneira está redefinindo a cultura contemporânea. (VERLE, 1996, p.97)
E este pensamento é complementado pelo designer gráfico Eric Martin (in
Greiman 1993, p.10):
O significado da palavra „implodir‟ é „irromper para dentro‟. Esta definição captura o espírito e a dinâmica da revolução digital e o seu profundo impacto em disciplinas existentes, entre outras o design gráfico. Eu digo „entre outras‟, cautelosamente, uma vez que o efeito mais amplo desta revolução é o de tornar várias coisas muito mais próximas do que já estiveram desde que a revolução industrial fez de todos nós especialistas: idéia e realização, produtor e cliente, criação e revisão, lavra/imagem/ som/movimento. Em resumo, a tecnologia digital não respeita os limites existentes, sejam eles espaciais, temporais, conceituais ou profissionais. (VERLE, 1996, p.97)
Cabe sempre à educação trabalhar de forma diferenciada, pois os
professores sabem o quanto as gerações mudam e se faz necessário fazer tais
adaptações. Não é possível querer professar se não se está ligado ao presente, ao
que está acontecendo hoje. Trabalhar com sentido na vida não é privilegiar só o
passado ou só presente. O ideal é estar no limítrofe entre os dois tempos: é
necessário mostrar o passado com vistas ao presente, traçando ações para o futuro.
Ser professor na sociedade de hoje é mais do que nunca, ser aquele que irá
possibilitar aos alunos, tornarem-se capaz de encontrarem em si os seus potenciais.
Com as mudanças tecnológicas ocorridas nas últimas décadas, o professor está
precisando rever a si mesmo, bem como rever a metodologia usada em sala. Não
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basta mais o quadro-negro e o discurso. As formas de ensinar estão mudando e
como diz Moran (2010, p.11):
Todos estamos experimentando que a sociedade está mudando nas suas formas de organizar-se, de produzir bens, de comercializá-los, de divertir-se e de aprender. Muitas formas de ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos muito pouco, desmotivamo-nos continuamente. Tanto professores como alunos temos a clara sensação de que muitas aulas convencionais estão ultrapassadas. Mas para onde mudar? Como ensinar e aprender em uma sociedade mais interconectada?
A tecnologia assusta, pois ela representa a priori, tudo aquilo que muitos não
conhecem e por não conhecerem, acabam preconceituando, ao invés de pesquisar
e aprender a respeito. É óbvio que o professor nunca saberá tudo, pois o
conhecimento é um campo vasto, e mesmo dentro da sua área de formação, há
muito sempre para se aprender. Mas, também não adianta se fechar num casulo e
não aceitar as mudanças que já vieram e as que ainda virão.
O professor precisa estar sempre se atualizando e pesquisando o como
realizar a aprendizagem em sala de aula de forma a garantir um dos grandes
princípios educacionais que é tornar o cidadão inserido em seu tempo histórico e
capaz de criticar sobre variados assuntos, nunca se esquecendo que acompanhada
da crítica vem sempre uma sugestão. É como diz Lévi-Strauss:
O homem é como um jogador que tem nas mãos, ao se instalar à mesa, cartas que ele não inventou, pois o jogo de cartas é um dado da história e da civilização (...). Cada repartição das cartas resulta de uma distinção contingente entre os jogadores e se faz à sua revelia. Quando se dão as cartas, cada sociedade assim como cada jogador as interpreta nos termos de diversos sistemas, que podem ser comuns ou particulares: regras de um jogo ou regras de uma tática. E sabe-se bem que com as mesmas cartas, jogadores diferentes farão partidas diferentes, ainda que, limitados pelas regras, não possam fazer qualquer partida com determinadas cartas. (Pan Horam Arte, s/d)
Neste jogo que representa a nossa sociedade, jogar é um ato tão comum
como sempre foi, resta saber qual o objetivo final que cada um tem. Por isso, não
pode o professor abrir mão dos direitos que a tecnologia lhe dá, mas sim aproveitá-
la para melhor preparar os alunos.
Os alunos de EJA são aqueles que há muito tempo pararam de estudar
porque o mercado profissional exigiu deles uma saída precoce dos estudos. Ao
voltarem, precisam percorrer primeiramente a barreira de que estudar depois de
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idosos é perda de tempo. E no caso dos jovens, muitos são criticados por terem
deixados os estudos e agora precisam recuperar o tempo que perderam
desnecessariamente. Enfim, independente dos motivos, são duas categorias que
precisam adquirir os conhecimentos de que necessitam e mais do que nunca,
estarem vivenciando os instrumentos postos socialmente, os quais muitos não
podem ter em casa, mas necessitam usar quando vão ao banco. E, muitos deles
sofrem muito tendo que serem auxiliados para a realização de uma simples ação
bancária. Como afirma Borba (2001):
O acesso à Informática deve ser visto como um direito e, portanto, nas escolas públicas e particulares o estudante deve poder usufruir de uma educação que no momento atual inclua, no mínimo, uma„alfabetização tecnológica‟. Tal alfabetização deve ser vista não como um curso de Informática, mas, sim, como um aprender a ler essa nova mídia. Assim, o computador deve estar inserido em atividades essenciais, tais como aprender a ler, escrever, compreender textos, entender gráficos, contar, desenvolver noções espaciais etc. E, nesse sentido, a Informática na escola passa a ser parte da resposta a questões ligadas à cidadania.
Assim visto, é preciso que estas ações possam ser ao menos, realizadas na
escola. Pois, uma vez que o governo investe tanto em informática nada mais justo
que realmente o aluno usufrua disso. De nada adianta um laboratório de informática
na escola se o mesmo não puder servir de apoio pedagógico e meio de
aprendizagem.
Em muito a informática na educação pode colaborar, só não se pense que
poderá mudar a educação e os seus resultados numa ação imediata. Se somente as
tecnologias fizessem o ato de ensinar e aprender a salvação para os problemas de
aprendizagem, eles já estariam há muito tempo resolvidos. Porém, não se deve
negar que a aprendizagem através da informática será um ato cidadão de larga
extensão na vida dos alunos.
E nesta história tão bonita que a pintura conta, encontra-se hoje em destaque,
a pintura digital. Ela está inclusa entre todas as outras categorias de pintura
mencionadas. Atualmente a humanidade passou e ainda está passando por uma
revolução: a tecnologia digital. A pintura analógica, anteriormente sem concorrentes
tão diretos, se vê agora dividindo espaço com a pintura digital.
O mundo digital vem invadindo todas as áreas da sociedade e na Arte não
seria diferente. Os artistas acompanham as tecnologias de que dispõe em dado
momento histórico para poder elaborar a sua representação através das imagens.
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Hoje em dia o artista vem dispondo cada vez mais do uso das tecnologias
para produzir suas representações artísticas. Como bem fala Domingues (1997,
p.15):
É preciso acreditar que o homem constrói o seu presente e projeta um futuro cada vez melhor. Sem impedir o fluxo da história e despender energia inutilmente, precisamos entender a presença das tecnologias e seus efeitos na vida mediada. Assim, longe de idealismos infundados, encontro uma série de conceitos em artistas e teóricos cujas reflexões dão conta da humanização das tecnologias. A história mostra que as civilizações nunca voltaram para trás, que as descobertas e inventos são acumulados e servem de background para outros inventos. E, como decorrência, a vida vem se transformando, com uma série de tecnologias que amplificam nossos sentidos e nossa capacidade de processar informações. E, a mente humana, uma vez que teve suas dimensões ampliadas, não volta mais a seu tamanho original.
O mundo das imagens vem presenciando o surgimento de muitos pintores
digitais. E por que isso acontece? Porque a Arte é um campo de muita
experimentação e mutação. Ao artista cabe procurar desenvolver as produções
artísticas de forma a sempre buscar apresentar um trabalho criativo e inovador.
Sendo assim, a busca por experimentações é uma constante na vida do artista.
E o que vem a ser a pintura digital? É o cruzamento entre a pintura e o uso de
softwares que são trabalhados no computador. A pintura digital trabalha com a
manipulação de pixels, compondo com eles imagens, textos sons ou conjuntos
multimídias. Estes pixels podem ser compostos, recompostos, ordenados ou
desordenados, comentados ou associados com outros quaisquer. A digitalização
inclui em seu conceito qualquer forma de arte cuja constituição seja manipulável
eletronicamente.
Os dois tipos de imagem digitais utilizadas são a imagem vetorial e a imagem
bitmap. Apesar de parecerem semelhantes, elas têm diferenças. A imagem bitmap
consiste em centenas de linhas e colunas compostas por pequenos elementos,
chamados pixel, abreviatura de Picture element. Estes pixels possuem sua própria
cor. A imagem vetorial surge a partir de descrições geométricas de formas, tais
como curvas, elipses, polígonos e outros. Estas descrições usam vetores
matemáticos para a sua descrição. Uma diferença existente entre estes dois tipos de
imagem fica evidente quando comparadas ampliadas. A imagem bitmap quando
ampliada aumenta o tamanho dos pixels produzindo imagens quadriculadas e
desfocadas. Já a ampliação das imagens vetorizadas não perde a definição, pois
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cada elemento pode ser recalculado em função da nova resolução. Alguns softwares
utilizados para criação de arquivos bitmap são: Adobe Photoshop e Corel
Photopaint, e para arquivos em vetores são utilizados Corel Draw e Illustrator, entre
outros.
Existem diversas categorias de Arte Digital: pintura digital, gravura,
modelação 3D, edição de fotografias e imagens, animação e outras mais. Os
resultados obtidos são apreciados em impressões em papéis especiais ou no próprio
ambiente gráfico computacional.
A História da Arte vive, portanto, constantes momentos de alterações na
forma de produção imagética que provocam constantes discussões de como os
artistas representam as suas imagens. Pois, como não poderia deixar de ser, os
avanços tecnológicos influem de maneira primordial na forma da criação artística,
uma vez que o artista estará ligado á sociedade em que está inserido.
O interessante nos trabalhos digitais é o fato de um artista poder trabalhar
junto a outro simultaneamente numa mesma imagem. Deste encontro surge como
resultado, uma espécie de debate feito através de imagens. Uma situação assim, se
encontra mencionada no livro A Arte no século XXI: a humanização das tecnologias.
Neste livro Diana Domingues descreve uma situação vivida por dois artistas
japoneses que trabalham com pintura digital: Anzai e Nakamura. Ambos utilizam o
trabalho em rede há anos. Ambos os artistas tiveram uma idéia de colocar na rede
um programa ao estilo café na rede, semelhante ao que os artistas faziam nos cafés
parisienses: um local para se encontrarem, discutirem sobre pintura, colaborarem
uns com os outros e também um espaço para apresentações.
Numa determinada ocasião, Anzai num momento de workshop do Digital
Image, sentou-se em frente a um computador onde estava um trabalho de
Nakamura e começou a modificar a imagem do colega inconscientemente. Percebeu
posteriormente que a imagem do amigo serviu de base para o seu trabalho e assim
nascia um trabalho híbrido dos dois estilos diferentes que tinham. Para Anzai a
experiência foi tão gratificante que propôs ao amigo que realizassem uma atividade
neste formato, um trabalho de colaboração em rede, conforme segue no relato:
O RENGA original foi desenvolvido como se segue. Um artista prepara uma imagem que é enviada para o outro artista via rede. O outro artista modifica a imagem livremente, transformando-a em seu próprio trabalho. Então é enviada de volta para o outro. As sessões continuam até que eles achem que a série está saturada. Enquanto o próprio processo é uma pintura em
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colaboração, o conceito de RENGA está conectado profundamente com a natureza da pintura digital e com a idéia de originalidade. De modo geral, um artista hesitaria naturalmente em modificar o trabalho de outro artista. Isso significa destruir o trabalho de alguém. Mas, no caso das pinturas digitais, pode-se fazer facilmente uma cópia de uma imagem e dá-la para outra pessoa. O original e a cópia são idênticos. Não há diferença entre eles. Além do mais, pode-se fazer tantas cópias quanto se desejar sem degradar a qualidade do original. É totalmente diferente do caso das impressões, como a litografia. O sistema tradicional que apóia o valor dos trabalhos de arte perde sua base. (DOMINGUES, 1997)
Como pode se perceber neste relato é o fato de que alguns preceitos da
pintura tradicional começam a ser alterados no trabalho com a pintura digital. A
discussão que hoje se faz em torno de qual pintura tem mais valor, parece que não
afeta os artistas digitais ou tradicionais. Eles próprios estão encantados com este
vislumbrar que a tecnologia está proporcionando. Discutir o que a pintura tradicional
e a pintura digital possuem de valores e o que será daqui para frente no mundo da
Arte é uma discussão importante.
Depois do que se percebeu na citação acima, as pinturas tendem a se
modernizar e os artistas é que vão dar o tom de tais mudanças. Nunca haverá a
morte desta ou daquela forma de produção: o que pode haver são reflexões e
posteriormente adaptações. Pode-se mudar o modo como determinados padrões
sempre foram seguidos e iniciar-se uma forma nova, mais colaborativa e
socialmente aceita pelos artistas.
Os estudos das pinturas analógicas e digitais levarão os alunos a discutirem
os conceitos de ambas as pinturas, bem como as suas formas de produção,
permitindo-se a eles o entendimento dos avanços que ocorrem nas produções
imagéticas, como sendo questões naturais á sua época. Observar e refletir sobre a
pintura tradicional e a pintura digital, compreender as suas semelhanças e
diferenças, suas aplicações e possibilidades para o entendimento da história das
imagens e seu confronto com a contemporaneidade, servirá para o aluno pensar de
forma contemporânea e ao mesmo tempo adquirir o respeito pela história de seus
antepassados.
Estes foram os caminhos que se pretendeu percorrer através destas
experimentações e estudos. A escola e principalmente a disciplina de Arte, não
devem ficar excluídas destas questões, deve-se procurar refletir, juntamente com os
alunos, aspectos na aula de Arte que melhor correspondam aos anseios desta
sociedade que pulsa e se inova constantemente. Kusara (2003, p.226) alerta: “Se
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um dos papéis da Arte é visualizar o mundo em que vivemos de uma maneira
instintiva, ela deveria dar conta da mudança que está ocorrendo hoje em nossa
sociedade”.
O estudo das pinturas analógicas e digitais proporcionará aos alunos as
condições de discutir, refletir e produzir, envolvidos nestas duas formas de pintura
tão distintas e envolventes. Os resultados desta pesquisa poderão apontar futuros
estudos que complementem um trabalho com Arte envolvida com os temas atuais e
ao mesmo tempo embasada na história que a sustenta.
2.2 O projeto em si e os seus resultados
Após realizar esta localização necessária com relação à pintura analógica e a
pintura digital, vamos ao relato da implementação do projeto Pintura Analógica X
Pintura Digital na escola. O projeto teve início não nos meses planejados, mas sim
com certo atraso tendo em vista outras atividades decorrentes da dinâmica da
escola, tais como: a espera pela formação de turma, fato este que ocorre
dinamicamente, pois se as turmas não levam um ano para acabar, esta troca de
turma é comum. Houve um tempo de espera, aguardando a possibilidade de
abertura de uma turma de Arte do Ensino Fundamental que não fosse da
responsabilidade do professor PDE, pois uma das questões colocadas pelo
Programa. Já estabelecida a turma, houve o momento de aguardar que um feriado
prolongado se sucedesse para que o andamento do trabalho não ficasse
prejudicado. Sem mais nenhum interveniente, iniciou-se a implementação,
começando o trabalho com os conceitos sobre a imagem e a sua importância no dia-
a-dia da sociedade, localizando os conceitos de pintura analógica e a pintura digital,
além de localizar os alunos historicamente sobre o começo do uso do computador
na história da Arte.
Para trabalhar estes conceitos foi utilizado parte do material didático
elaborado, pois esta era também uma das outras exigências do PDE. Através de
leituras e explicações orais, o assunto foi introduzido e despertando o interesse nos
alunos, e estes foram formando opiniões em torno do tema. Como era de se
esperar, grande parte dos alunos nunca havia estado no laboratório de informática,
nem mesmo com outro professor de qualquer outra disciplina. Ao menos este foi o
depoimento dos alunos e não há porque duvidar que fosse fato. Como comprovado
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no GTR, Grupo de Estudo em Rede, que acontece no Ambiente Virtual da Secretaria
de Educação e que os professores PDE devem ministrar um curso referente ao seu
projeto, os professores participantes expuseram o seu temor de irem ao Laboratório
de Informática por dois principais motivos: não terem tido o preparo necessário para
o uso deste novo instrumento, bem como por não contarem com nenhum técnico
que possa ser uma ajuda neste local. Este é um problema urgente que precisa ser
resolvido pela Secretaria de Educação do nosso estado para que os laboratórios
possam ser melhores aproveitados e os professores melhores orientados. De nada
adianta pensar no lado material e sempre haver o esquecimento do lado humano: a
tecnologia sem o homem é um material criado em vão.
No primeiro encontro com os alunos, o conceito de imagem foi trabalhado
fazendo com que os alunos parassem para pensar o quanto a imagem é importante
e inseparável dos mínimos gestos. O homem busca sempre o reforço nas imagens
até mesmo quando está a ouvir uma mera narração de uma história ou quando usa
o Messenger da internet e não conhece o seu interlocutor. O que faz? Recorre à
sua imaginação em busca de um rosto. Tudo parece ter mais sentido quando temos
uma imagem à frente, dando um piso firme e uma rota a seguir. Mesmo usando
aparelhos que emitem informações auditivas, a visão nos parece algo que não pode
ficar sem existir. O uso do GPS é um exemplo. Mesmo o GPS passando as
informações para o motorista através do uso do som, fica difícil dirigir se não
passarmos os olhos no vídeo. A imagem acalenta ou perturba, e é uma certeza de
que não se está só.
Após trabalhar o conceito de imagem usando principalmente a brilhante
escritora e estudiosa, Lúcia Santaella, continuou-se a busca por fazer os alunos
entenderem a importância que as imagens têm, falando então na sequência da
noção de imagem, sobre o que é trabalhar com a pintura, não importando que seja
ela a analógica, quando se usam as tradicionais tintas e pincéis, ou a pintura digital
quando se usa um programa criado para tal fim. Aqui cabe colocar uma questão que
durante o desenrolar do projeto do PDE a autora do projeto, acreditou em sua
articulação: trabalhar o mesmo projeto com outra turma além da destinada
oficialmente a ele. Nesta outra turma que o autor do projeto estava ministrando
aulas, ele seguiu o mesmo caminho já explicitado no relato, com apenas um
momento de diferença: após o trabalho com o conceito de pintura analógica houve o
trabalho com a pintura tradicional. A pintura surgiu devido a outro assunto
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trabalhado: cavalos. Na turma não oficial do projeto, trabalhou-se a leitura de
imagens usando o artista Macke e uma das telas deste pintor chamou muito a
atenção da turma. Foi feito todo um estudo sobre a imagem de um cavalo e a pintura
ficou a contento de todos. Vários dos alunos nunca haviam pintado com guache na
vida e para os professores da EJA não são raros de se ouvir tais depoimentos! E, o
guache que para muitos é algo tão comum, para eles fazem surgir momentos tão
simples, porém tão singelos.
Com a turma oficial do projeto, após a aula teórica, partiu-se para o
laboratório de informática e a sensibilização dos alunos foi quanto ao uso do
computador. Este também foi outro momento bastante delicado, pois muitos nunca
usaram, durante toda a vida, um único computador. O que para tantos é um ato tão
comum, como é o de mover um mouse sobre a tela, para muitos deles é um ato que
exige muita destreza e coordenação. Neste segundo encontro foi trabalhado então,
com esta adaptação ao computador e a coordenação viso-motora. Esta foi a
diferença entre as turmas. O orientador acreditou ser melhor assim: não desperdiçar
o tempo em que se poderia ficar a mais no laboratório de informática, com uma
pintura com guache. Considerando que muitos dos alunos da EJA nunca haviam
utilizado tal instrumento tecnológico, esta foi uma boa opção porque eles puderam
familiarizar-se um tempo a mais. Considerando o fato de que poucos alunos da EJA
já tiveram a oportunidade de trabalhar com a técnica da pintura, havendo
disponibilidade de tempo, é riquíssimo este acréscimo.
Já no terceiro encontro, foi apresentado à turma o que era um editor de
imagem. Novamente houve a surpresa pelo fato de desconhecerem a existência de
tais programas. Eles até poderiam nunca ter usado, mas poderiam ter escutado falar
sobre eles. Muitos dos jovens da turma também nunca haviam sido apresentados a
um editor de imagem. Inicialmente o projeto previa apresentar aos alunos um editor
de imagens on line e posteriormente usar-se-ia o GIMP. Mas, acabou havendo uma
mudança de planos, porque a cada vez que o programa GIMP era aberto para ser
usado com os alunos, ele acabava fazendo travar os computadores. Além do
programa GIMP, outros fatores faziam com que os computadores começassem a
apresentar irregularidades que não permitiam um uso adequado do laboratório.
Perguntei à responsável pelo laboratório sobre estes incidentes e ela informou que
era sempre assim. Ela não é oficialmente a pessoa preparada e treinada para
atender o laboratório de informática, mas faz o que pode e dentro deste seu limite
21
ela já faz muito. Estes problemas não impediram que o desejo de realizar o projeto
continuasse: foi usado o programa on line e ele trouxe muitos bons resultados. Os
alunos ficaram encantados com as possibilidades de se trabalhar com as imagens e
as mudanças possíveis de serem feitas. Ao ver de muitos este trabalho pode ser
muito pouco diante do que se pode efetuar com o uso dos programas adequados
para a pintura e desenho usando o computador. Porém, para os alunos da EJA que
nunca haviam se aventurado nesta empreitada tecnológica, os resultados
alcançados foram muito bons. O trabalho que eles realizaram demonstrou o maior
empenho e vontade em aprender.
Os problemas ocorridos com os equipamentos no momento do trabalho
serviram de momentos riquíssimos para posteriores discussões sobre o quanto o
laboratório precisa ser melhorado e as diferenças entre se anunciar a existência de
computadores na escola e a realidade do que se tem nelas. Não se pode apenas ter
os equipamentos e nunca dar a eles a devida revisão e cuidado. O computador na
escola é uma ferramenta poderosa e não pode ficar á mercê de problemas que
precisam ser cobrados da entidade mantenedora uma maior atenção. Sabe-se que
os avanços tecnológicos foram rápidos e que nem tudo é perfeito porque o número
de usuários de um sistema é imenso, porém é necessário continuar na luta e não se
deixar acomodar. Deve-se ser agradecido pelo que já se conseguiu avançar, mas
nunca perder de vista as devidas cobranças que precisam ser feitas para a garantia
da manutenção do que já foi conseguido através da luta dos nossos antecessores,
tanto professores quanto alunos. A união dos educandos nas lutas do magistério
sempre foi uma parte importante na caminhada educacional que se trilhou no campo
educacional. Os estudantes neste país trazem consigo um passado de muito labor
pela educação e vale lembrar-se dos famosos anos dourados na época da ditadura
militar. Na educação tudo caminha a passos lentos e cada vitória é conseguida pela
luta de muitos anos. Portanto é dever dos educadores e alunos do presente,
garantirem que os frutos conseguidos pelos anos de luta não sejam mortos por falta
de conscientização. Tudo isso foi discutido com os alunos e enriqueceu muito estes
momentos do projeto porque ao se trabalhar a consciência crítica e política que os
alunos precisam ter, estar-se-á realizando o real projeto que Paulo Freire pensou
para a EJA. E ainda mais os nossos estudantes adultos, frutos de muitos insucessos
nas suas vidas marcadas pela falta de condições de estudo num passado de
outrora. Sabe-se muito bem a luta do nosso querido educador Paulo Freire em
22
busca de uma educação para os jovens e adultos que pudesse tirá-los da
marginalidade imposta pela falta de saber ler e escrever, o que sempre lhes
acarretou um sentimento de incapacidade e limitações.
Hoje os avanços que estão sendo conquistados na EJA começaram com as
buscas que este educador sempre incansável, imaginou e batalhou para que
pudessem ser aceitas em nosso país.
Muito ainda há muito que se lutar pela Educação de Jovens e Adultos
garantindo-lhe toda a atenção que é devida, porque a sociedade ainda muito
discrimina as escolas de EJA, assim como o governo não busca conhecer melhor o
que é uma escola de educação para jovens e adultos. Para se saber o que
realmente um aluno de EJA deseja, é preciso se envolver de perto com ele. Projetos
de gabinete e distantes da realidade não podem contribuir com o que eles
necessitam. Esta modalidade de ensino necessita e muito de atenção e de
profissionais que amem o que fazem: professar.
E com a chegada da tecnologia, precisa-se ter todo um cuidado especial
como Paulo Freire salientou nessa descrição feita por Gadotti:
Em 1996, quando foi mostrada a Paulo Freire a página www.paulofreire.org, ele ficou maravilhado com as possibilidades da Internet. O site foi construído para o IPF (Instituto Paulo Freire) pelo seu neto Alexandre Dowbor, filho de Fátima Freire. Maravilhado e preocupado ao ver o Alex navegar com tanta facilidade pela rede, observou logo que as enormes vantagens oferecidas pela Internet estavam restritas a poucos e que as novas tecnologias acabavam criando um fosso ainda maior entre os mais ricos e os mais pobres. E concluiu: “é preciso pensar como elas podem chegar aos excluídos”. Dizia que esse deveria ser o compromisso do instituto (GADOTTI, 2000, p. 263)
Este projeto imaginado para eles ainda é muito pouco perto do que se pode
fazer. Mas, as coisas pequenas também contribuem para as grandes ações e, sendo
assim, acredita-se que de turma em turma que seja formada na escola e a
conscientização seja trabalhada com eles, a busca da construção de uma educação
voltada para a cidadania poderá ser conseguida.
Na continuidade do projeto, após o trabalho com o editor de imagens, o
objetivo era trabalhar com os professores um momento em que se pudesse explicitar
o projeto da mesma forma trabalhada com os alunos e levantando as mesmas
questões para discussão. Esta oficina não pode ser realizada devido a outros
eventos e reuniões já programadas pela instituição. Espera-se que algum dia ainda
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haja possibilidade para realizá-la. Para encerrar o projeto, houve uma simples, mas
muito simbólica exposição dos trabalhos dos alunos. O único espaço possível foi a
própria sala de aula porque o exterior da escola estava ornado por trabalhos
alusivos a outro momento de trabalho com os alunos na Semana Cultural. A
exposição significa muito para os alunos da EJA, porque esta necessidade de
propiciar a todos o prazer de ver seu trabalho concluído significa um ato real e
representativo do resultado dos seus esforços.
Neste trabalho envolvendo a pintura analógica e digital, pode-se colocar a
questão do uso do laboratório de informática como uma realidade necessária e
urgente. Houve a disseminação desta idéia para outros professores de Arte do
Paraná, através do GTR. A insistência com eles foi grande para que o computador
não seja apenas usado como uma nova técnica e metodologia. Mas, que os
professores de Arte incluam em seus planejamentos o tema da Arte Digital através
da Pintura Digital. Os planejamentos de Arte nas escolas pouco apresentam
conteúdos relacionados à Arte Digital e se faz necessário evoluir nestas questões.
Trabalhar os programas só tem sentido quando os alunos compreendem o contexto
histórico que permitiu existir tais tecnologias. A Arte como sempre avançou de
acordo com as tecnologias que possuía as mãos e com os computadores não foi
diferente, estes precursores da Arte Digital precisam se fazer conhecidos pelos
nossos alunos bem como pelos professores de Arte.
É necessário ir além do encantamento do uso do computador enquanto
ferramenta e fazer com que ele seja conhecido como o possibilitador de disseminar
idéias artísticas nascidas da mente de artistas como Manfred Mohr, Vera Molnar,
Charles Csuri, Herbert W. Franke.
Estes encontros para a implementação do projeto na escola não acabaram
neles mesmos. Fazia-se necessário ter podido trabalhar mais tempo com os alunos
os assuntos imaginados e com os nem mencionados, mas que, no entanto, estão
atrelados aos assuntos levantados. Na EJA precisam-se ensinar muitos assuntos
em tempo recorde e não se pode falhar em assunto algum. O tempo é cronometrado
e mínimo, porém também consegue ser o máximo. O segredo não é aumentar o
tempo, pois o aluno já perdeu tempo demais e precisa ainda viver muito outros
momentos escolares para além da escola da EJA: ele precisa alçar a faculdade.
Assim como houve a insistência com os arte-educadores em colocarem o tema da
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Arte Digital nos seus planejamentos, pretende-se fazer isto também na escola onde
este projeto ocorreu e por outras mais em que a autora do artigo venha a trabalhar.
Neste caminhar com a Arte na escola não se pode perder de vista os
momentos em que se precisam conservar os sonhos, as paixões, os momentos
doces e sensíveis e em contrapartida, entrar com os temas que envolvem os
momentos de luta e coragem para mudar o que parece estabelecido há muito.
Precisa-se estar revendo constantemente o planejamento e saber o que precisa ser
preservado e o que precisa ser acrescentado pela necessidade do momento
histórico. E é nesse eterno estudo e aprofundamento nas verdades históricas que
enquanto arte-educadores precisa-se continuar acreditando no homem e em suas
infinitas possibilidades.
3 CONCLUSÃO
A Arte Digital é um fato e não se pode ignorá-lo. O que se faz necessário é
uma constante reflexão - ação – reflexão sobre o trabalho da Arte na escola. Embora
considerada por muitos como uma área de pouca importância, os arte-educadores
conscientes sabem que a luta pela valorização pela Arte só poderá trazer benefícios
quando não houver acomodação e sim muito trabalho. O pensamento de Barbosa
leva aos interessados um bom motivo de reflexão:
O processo de democratização política do país acirrou o preconceito contra as artes na escola, não somente porque seu ensino é fraco, mas porque sua obrigatoriedade nasceu de uma exigência da lei educacional imposta pela ditadura militar. Esta é a causa recôndita da tentativa de exclusão das artes da escola na organização da educação brasileira. A razão explícita dada pelos educadores é que a educação no Brasil tem que ser direcionada no sentido da recuperação de conteúdos e que arte não tem conteúdo.
A Arte feita com a utilização dos computadores é uma das pertencentes a
este grupo de manifestações artísticas, denominada Arte Digital. O computador foi
uma máquina criada exclusivamente para solucionar problemas de cálculo e não
possuía qualquer possibilidade dos artistas o utilizarem. Foi a partir da década de
1960 que os computadores começaram a sua caminhada para as possibilidades
artísticas. Moles e Nees, dois matemáticos que através de seus trabalhos com
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gráficos e desenhos, mostraram a possibilidade do uso estético do computador.
Dessa forma abria-se a possibilidade dos artistas iniciarem seus experimentos
utilizando o computador. Como afirma Lieser (2008, p.19):
Desta forma, colocava-se a primeira pedra para levar a cabo um novo desenvolvimento na arte contemporânea destinado a mudar o conceito da estética na vida quotidiana e a cultura posterior ao pós-moderno, tal como o fizera a fotografia no século XX.
Desde começo do uso do computador, passamos para o ano de 1971 quando
Manfred Mohr apresentou no museu de Arte Moderna de Paris, a exposição
intitulada Une Esthétique Programmée, a primeira mostra de arte gerada por
computador. Não foi bem recebido e a principal acusação que pesava sobre ele era
o fato de ter usado uma máquina de guerra capitalista.
Desde estes idos para cá, o que se pode ver são as mudanças tecnológicas
cada vez mais rápidas e que a arte feita em computador já é uma realidade em
todas as áreas artísticas. O que ainda precisa ser visto é a valorização desta arte
feita no computador, presente nos planejamentos escolares. O computador vem
sendo usado em algumas aulas de Arte, porém sem enfatizar o histórico do
computador e da Arte. O computador tem sido apenas uma máquina a mais na
escola e este aspecto precisa ser mudado.
Os professores de Arte precisam aprender a valorizar em suas aulas as
questões teóricas na mesma intensidade com que valoriza as questões práticas,
porque só assim estar-se-á valorizando a área, porque ninguém se forma professor
de Arte sem ter conhecido parte das teorias.
Desta forma acredita-se que este projeto está dando uma primeira
alavancada neste sentido, buscando mostrar o computador como uma importante
ferramenta de trabalho na Arte, não só como instrumento, mas como motivo de
elencar novos temas a serem trabalhados na escola valorizando a cada dia mais
esta disciplina tão importante na aprendizagem dos indivíduos. E que estes novos
caminhos sirvam para mostrar que a acomodação não pertence aos que seguem a
carreira do magistério.
Que se possa inspirar-se nas dificuldades e obstáculos relacionados ao uso
dos computadores, os quais serviram para criar uma ligação colaborativa entre
artistas e cientistas, para que os professores possam ajustar as questões prementes
que necessitam ser revistas com relação às aulas de Arte. Que se possa aprender
26
que os momentos desfavoráveis são os melhores momentos para se buscar um
crescimento eficiente.
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novos tempos. 4 ed. São Paulo: Perspectiva, 1999.
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Autêntica. 2001.
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