Post on 07-Jul-2015
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Diógenes foi considerado
o mais folclórico dos antigos filósofos gregos.
Em certo momento da história de sua vida
ele foi para Atenas e, do lado de fora da
entrada da cidade, fez de um barril a
sua casa, deixando claro que negava
a imprescindibilidade das cidades.
Já nesta época,
sabendo que Sócrates
havia se proclamado um “cidadão
do mundo” e “um homem irmão de
todos os homens”..., Diógenes se
proclamou um “cidadão do cosmo”
e “um homem irmão de todas as
coisas e de todas as criaturas”...
Lá, então, na entrada de Atenas,
Diógenes vivia com os cães,
como um cão, “assumindo a
temática do cão para si...”,
o que lhe rendeu o termo
gerador do sentido original
de cínico: desavergonhado,
pelos modos escandalosos.
Por isso, este termo “cínico”
foi derivado da palavra grega
“kynikos”: forma adjetiva de
“kynon”, que significa “cão”.
Mas de um modo ainda sigiloso
a história revela que Diógenes não
entendia por que era chamado de
“cínico” por aqueles seres humanos
que se recusavam a reconhecer suas
heranças traçadas na origem animal...
Ele defendia a importância de estudar
os cães: “Não são constrangidos,
comem qualquer coisa e não
fazem estardalhaços sobre
em que lugar dormir...”.
“... Os cães vivem o presente sem
ansiedade e não são perturbados
por nenhuma pretensão abstrata.
“Eles logo aprendem a distinguir
instintivamente quem é amigo e
quem é inimigo, diferentemente
dos humanos que enganam e
são enganados uns pelos outros.
“Os cães não sabem enganar e,
então, eles sempre reagem com
honestidade frente à verdade.”...
Diógenes usava esses artifícios
escandalosos para chamar atenção
ao criticar os valores de uma
sociedade vista por ele como
corrupta..., imaginem, já
naquele tempo antigo.
E assim o filósofo usou
a temática dos cães para
destacar o valor de “ser honesto”.
Por fim, ele se pôs a desenvolver
o conhecido simbolismo a respeito
da lanterna que ele carregava
como se fosse um farol...
É famosa a história de que ele,
já velho, ainda às vezes saía
de sua “casa” levando na mão
aquele tipo simbólico de farol
aceso, dizendo-se à procura
do “homem honesto”!..., que
seria um tipo de homem
verdadeiro que jamais
se deixava aprisionar
por convenções sociais;
um homem que, então,
seria incorruptível e livre
o bastante para sempre reagir
com honestidade frente à verdade.
Não se sabe se ele encontrou
algum tipo de homem honesto.
Mas todos sabem que ele teve
um memorável encontro com
Alexandre ― o Grande ―,
o Senhor de toda a Terra...
A história nos conta que
certo dia Alexandre Magno
― o conquistador do mundo ―
foi visitar Diógenes em sua “casa”.
Parou na frente do barril dele
e perguntou, consternado
diante de toda aquela
aparente pobreza:
“O que posso eu
fazer para
ajudá-lo?”
Não obstante,
outra vez com detalhe,
a história nos revela que
Alexandre, ao parar na frente
do barril, fez sombra em Diógenes...
Este, então, moveu o seu braço
para em seguida dizer o que
mais claramente deve ser
traduzido sem medo assim:
“Dono de todo este mundo,
o que pode fazer por mim
é sair da frente do meu sol.”
A resposta de Diógenes
gerou muita controvérsia
entre os historiadores.
Desse modo, Diógenes estabeleceu a sua
concepção cósmica (aliada ao “seu” SOL
que estava no céu sobre toda a Terra).
E assim ele pôs a sua grandeza acima da
grandeza de um homem que imperava
sobre todas as terras conhecidas. O velho
Diógenes, então, pertencia ao âmbito
das coisas cósmicas, de aspectos
ilimitados e aparências infinitas,
enquanto o Imperador regia
“apenas” sobre as coisas
perecíveis e passageiras
deste pequeno mundo...
Ainda, pelo que nos conta a história,
Alexandre não se ofendeu, pois,
quando já se retirava, disse
a um dos seus comandados:
“Se eu não fosse Alexandre,
queria ser... Diógenes.”
E me deixem retornar
à caminhada do velho filósofo...
Ao imaginá-lo assim, andando com
uma lanterna acesa à luz do dia e,
também, possivelmente, às vezes
através da escuridão da noite (do
modo ilustrado aqui), percebi que
o filósofo esteve a procurar por um
homem impossível de ser visto ali...
Então, por suposto, o homem honesto
estaria em outra dimensão da realidade,
certamente no passado, porque o farol
de Diógenes parecia “iluminar para trás”...
Isto me pareceu muito claro, porque
o homem honesto seria um tipo original,
nascido num mundo exuberante, por inteiro
provido de vida, em perfeito equilíbrio,
sem qualquer privação, por completo
gratuito e, portanto, ainda sem
razões para o surgimento
da desonestidade.
E, francamente, leitores,
penso que na etimologia do nome
deste grego ― Diógenes ―, encerra-se
o símbolo da história: “gerado por Deus”
ou pelos “genes de Deus”...
Por este ângulo, Diógenes
esteve a procurar pelo que
estava em seu próprio nome:
genes de Deus!, formadores do
primeiro homem ― do autêntico
ou autenticamente honesto!
Enfim, lembrando-me de como
a busca de Diógenes era direcionada
ao passado ― “com aquele seu farol
iluminando para trás” ―, soam-me
na mente palavras de um escritor
conterrâneo, e contemporâneo,
apesar de já estar falecido,
Pedro Nava.
Para ele a essência do ser humano
está no conhecimento adquirido
ou, apropriadamente, na
experiência vivida...
Em razão disso eu imagino
que ele formulou este dizer:
“A experiência é como um farol
iluminando para trás...”.
(!!!)
Pois que então
tenhamos pelo menos a coragem
de acender este farol capaz
de iluminar para trás,
o passado...,
para que, assim,
estejamos pisando em algo sólido
no momento de alçarmos voo
em direção a um futuro
que, sem dúvida,
está no alto,
no cosmo,
no Céu...
Um Céu que, como o nosso próprio passado,
é também escuro...,
mas perfeitamente sinalizado com
os encantadores brilhos de sóis ou... faróis.
Lanier Wcr