Post on 11-Nov-2018
TUBERCULOSE PULMONAR Mª Luísa Pereira (Pneumologista)
Hospital Municipal da Samba
1ªs jornadas de pneumologia
Luanda, 15 de Maio de 2015
INTRODUÇÃO
Durante muitos anos a tuberculose(TP) foi uma das principais causas de mortes em todo mundo. Motivode grande preocupação durante o século XIX e no início do século XX, a tuberculose acometiaprincipalmente as classes mais pobres e fazia vítimas em todas as idades.
Com o tempo, acções de combate à doença ajudaram a controlar o quadro e o número de infecções seestabilizou, antes de finalmente começar a declinar. Por volta dos anos 80, no entanto, a incidência datuberculose voltou a crescer com o surgimento da SIDA. Até hoje, a tuberculose é uma das principaisdoenças oportunistas que acomete as pessoas com a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.
Além disso, o aparecimento de focos da doença resistente aos medicamentos até hoje existentesajudaram a agravar o cenário, levando a tuberculose a um novo status epidemiológico em todo omundo.
A Tuberculose (TB) é uma doença provocada por uma bactéria - Mycobacterium tuberculosis.
M. Tuberculosis – bacilo de Koch, descoberto em 1882, por um investigador alemão com o mesmo nome.
Podendo atingir qualquer órgão ou sistema, mas o órgão alvo por excelência é o pulmão.
EPIDEMIOLOGIA
Em Angola, a TB é uma das principais endemias, priorizadas pelo Ministério da Saúde.
A pobreza, a migração da população rural e a epidemia da infecção por VIH contribuem para o
aumento do número de casos e dificultam as acções de controlo da tuberculose. Anualmente são
registados cerca de 45.000 casos de tuberculose.
A TB representa uma da principais causas de óbitos em jovens adultos economicamente activos.
É um dos grandes problemas de Saúde Pública em muitos países do mundo.
Estimativas da OMS dão conta de que entre 2000 e 2020, cerca de 1bilhão de pessoas serão
infectadas pelo M.Tuberculosis a cada ano, com uma prevalência de quase 2 milhões de doentes e 35
milhões de óbitos.
MODO DE TRANSMISSÃO
A tosse e a expectoração de indivíduos doentes e emissores de bacilos
bacilíferos - é o principal veículo de transmissão. As pequenas gotículas,
contendo bacilos no seu interior e que permanecem no ar ambiente
durante algum tempo, podem ser inaladas por qualquer pessoa.
A concentração do número de bacilos, o seu número e a dimensão das
partículas inaladas (1-5 micras) são os factores determinantes da sua
penetração na árvore brônquica.
Partículas com mais de 10 micras de diâmetro são habitualmente retidas
nas vias aéreas superiores e não atingem o pulmão.
QUAL O PAPEL DA CLÍNICA NO DIAGNÓSTICO DA TUBERCULOSE?
O quadro clinico da tuberculose depende do órgão atingido.
No caso da tuberculose do aparelho respiratório, a clínica é muito diversa, dependendo da
extensão das lesões, da sua localização e da própria reacção do hospedeiro. Embora
alguma sintomatologia clínica seja sugestiva desta entidade , pode igualmente aparecer
noutras doenças.
Critérios clínicos
Critérios radiológicos
CONT.
Baciloscopia direta da expectoração/
Expectoração induzida. (3 amostras).
Exames laboratoriais (hemograma, VS, função
hepática, renal e PCR)
Exame cultural, do bacilo de Koch e teste de
sensibilidade aos antibacilares
Exames anatomopatológicos: Cito e histopatológicos
Tomografia Axial Computorizada/ TCAR
Técnicas invasivas : Broncoscopia para colheita de
secreções, LBA e biopsias
Diagnóstico
PRINCÍPIOS GERAIS DO TRATAMENTO DA TB
Na terapêutica da tuberculose deve se ter em conta, as características particulares do M. tuberculosis, bem
como as diferentes acções dos medicamentos. O bacilo tem algumas particularidades que o distinguem de
outros microrganismos:
Microrganismo aeróbio (maior capacidade de multiplicação em zonas ventiladas).
Multiplicação lenta e intermitente (cada 16-20 horas, facilitando a possibilidade de toma única
diária da medicação e de tratamento intermitente mas condicionando o tratamento a ter longa
duração).
Desenvolvimento espontâneo e fácil de mutantes resistentes a um ou vários antibacilares.(obrigando
à utilização simultânea de vários antibacilares).
Possibilidade de se manter quiescente intracelular ou nas lesões (possibilitando o aparecimento de
recaídas futuras).
CONT.
O M. tuberculosis é constituído por diferentes populações bacilares com características próprias e nas
quais atuam preferencialmente alguns dos antibacilares.
Bacilos existentes nas paredes das cavidades ou em lesões, em que o crescimento é mais ou menos
rápido (população A).
Bacilos existentes em meio ácido, semiadormecidos, geralmente no interior dos macrófago (população B).
Bacilos existentes em meio ácido ou neutro, semi-adormecidos mas com períodos intermitentes de
multiplicação (população C).
Bacilos totalmente quiescentes, não sensíveis a qualquer antibacilares enquanto se mantiverem neste
estado.
QUE MEDICAMENTOS DISPOMOS PARA TRATAR?
Dentro do arsenal terapêutico para a tuberculose, existem os chamados medicamentos de primeira linha
(mais eficazes e menos tóxicos) e pelos quais se inicia habitualmente o tratamento:
Isoniazida (I ou H), Rifampicina (R),Pirazinamida (Z), Etambutol (E)
A Isoniazida e a Rifampicina actuam na maior parte das populações bacilares e por isso deverão
usadas em todo o tempo do tratamento.
A Pirazinamida actua preferencialmente em meio ácido e nos bacilos intracelulares. É especialmente
útil nos primeiros meses de tratamento e tem forte actividade esterilizante.
O Etambutol é um medicamento bacteriostático, mas eficaz nos casos de resistência a outros antibacilares
em particular a Isoniazida. Actua tanto nas populações intracelulares como nas extracelulares.
A duração do tratamento nunca deve ser inferior à 6 meses, utilizando como esquema terapêutico habitual:
dois meses de tratamento inicial com H,R,Z,E mais quatro meses de consolidação com H e R (2 HRZE/4HR).
Existem os chamados medicamentos de segunda linha (Kanamicina, Amicacina, Capreomicina, Ofloxacina,
Ciprofloxacina, Etionamida, Cicloserina, PAS).
A Estreptomicina tem a sua principal acção nos bacilos existentes no meio extra celular com Ph neutro, com
multiplicação activa. Tendo desvantagem de não ser absorvida por via oral, tendo de ser utilizada por via
intramuscular.
Cont.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1. Na suspeita de Tuberculose pulmonar, devemos pedir colheita de 3 amostras de escarro para exame
micobacteriologico.
2. Sintomático respiratório com radiografia de tórax sugestiva de TB deve ter pesquisa de BAAR e
cultura para micobactérias e teste de sensibilidade.
3. Pacientes com suspeita de TB no RX tórax e sem expetoração espontânea devem ser submetidos à
indução do escarro com solução salina hipertónica.
4. Todos os pacientes com TB devem realizar o teste de HIV.
5. Nos pacientes com imunodepressão grave e suspeita de TB, o tratamento pode ser instituído enquanto
se aguarda o resultado dos exames laboratoriais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Afrânio L. Kritski, Marcus B. Conde, Gilvan R. Muzy de Sousa. TUBERCULOSE do Ambulatório à
enfermaria. 3ª Edição 2005, São Paulo, Editora Atheneu.
Fernando F. Rodrigues, António Domingos. 25 perguntas frequentes de pneumologia. TUBERCULOSE.
Guia para tratamento de TB, 3º Edição 2005, Programa Nacional de Controlo da TB. Ministério da
Saúde.
Jaime Pina. A TUBERCULOSE na viragem do milénio. Editora Lidel Lisboa, 2000.
Marcus Conde, Jussara Fiterman, Marina A. Lima. TUBERCULOSE.2011.
Maria J.M.Gomes , Renato S. Mayor TRATADO DE PNEUMOLOGIA. VolumeI.2003.
New England journal of Medicine.
Muito obrigada