Post on 18-Apr-2015
ANDRÉ MEDICIAPRESENTAÇÃO NO IEPE -CDG
RIO DE JANEIRO 7 DE NOVEMBRO DE 2011
Os Desafios do Pluralismo: Problemas e Incentivos em
Sistemas de Saúde
O Brasil, como muitos países, não tem um sistema único de saúde
Existem dois sistemas: SUS e saúde suplementar
SUS – Universal, gratuito e integral, limitado por problemas de cobertura e qualidade
Saúde Suplementar: Afiliação voluntária para indivíduos e empresas
Os dois sistemas convivem com problemas: subsídios cruzados e incentivos perversos associados a seu funcionamento e utilização.
Mas seria possível a existência de um só sistema? O SUS teria como absorver 50 milhões de usuários das classes A, B e C, mais exigentes e acostumados a um padrão de atendimento de melhor qualidade?
O pluralismo em saúde gera problemas...
Londoño e Frenk (1995) – A existência de diferentes sistemas de saúde convivendo num mesmo espaço leva a duplicações de cobertura, vazios assistenciais, custos de transação e ineficiências alocativas.
Solução: estruturar o pluralismo através do alinhamento dos incentivos para definir a pertinência das clientelas, reduzir a fricção e os custos de transação na passagem de um sistema para outros sistemas.
Países na ALC tentaram estruturar o pluralismo, através de um mix: mercado – sistema
público....
Chile: Criação de dois sistemas ISAPRES (concorrencial) – renda alta FONASA (público) – baixa renda
Problemas: Alta rotatividade entre os afiliados; baixos incentivos para promoção e prevenção; Custos administrativos elevados falta de garantía para procedimentos de média e alta
complexidade; regulação deficiente entre os sistemas.Solução:
Plan AUGE – un conjunto unificado de garantias e proteção financeira para os dois sistemas
unificação do marco regulatório (Criação da Superintendencia de Salud – anteriormente superintendência de ISAPRES)
Ou de mercados segmentados para os setores formal e informal....
Colombia: Criação dos sistemas contributivo (mercado formal) ... e subsidiado (mercado informal)
Problemas: Impossibilidade de eliminar o “supply side” (hospitais públicos) Afiliação maior que a cobertura Inequidade regional Judicialização (tutelas de todos os tipos) Corrupção, falta de transparência e regulação deficiente
Solução (em processo) Sentencia T-760 (Unificação das coberturas do contributivo e
subsidiado) Novo marco regulatório (Lei Estatutária de Salud) Novos arranjos institucionais entre nivel central e local
Mercados em saúde baseados em seguros tendem a ser imperfeitos...
Estudos realizados por Cebul, Rebitzer, Taylor and Votubra (publicados na American Economic Review 101 (2011) mostraram condições sub-ótimas no mercado de seguros norte-americano: Premios pagos pelos empregadores maiores que o custo marginal de operação
das apólices, gerando excedentes de rentabilidade em relação ao esperado; Alta variação de preços dos premios (superiores a 9 vezes entre os percentis 1
-99) O turn-over de seguros é desproporcionalmente elevado pela busca de
seguros mais baratos pelos empregadores, impedindo melhorias na qualidade e investimentos em promoção e prevenção (31% de apolices canceladas anualmente, concentrada nas idades mais jóvens);
Dado que os premios tem alta remuneração, as seguradoras produzem execesso de gastos de propaganda para a atração de novos clientes (60% do excesso de gastos nos seguros norte-americanos são atribuidos a propaganda).
É impossível neste ambiente transformar uma concorrência de preços numa concorrência baseada em custos.
Solução Plano Obama – Opção pública (rechaçada pelo Congresso)
Mas sistemas públicos universais monopolistas também...
UK-NHS iniciou em 2010 uma reforma de saúde, impulsionada por vários problemas: Muitas reclamações sobre falta de liberdade de escolha dos
indivíduos; Crescimento médio dos gastos em saúde de 6% ao ano Mau desempenho dos serviços diretamente administrados
pelo Estado e proposta de estabelecimento de mecanismos de quase-mercado.
Má gestão dos hospitais públicos proposta de aumento na concorrência entre eles.
Eliminação do papel prestador dos Primary Care Trusts (PCT) e Strategic Health Authorities) e transferindo-o para um mercado de instituições públicas e privadas sem fins de lucro (em geral geridas por GPs).
Pontos básicos da Reforma inglesa de 2010
Aumentar a informação para a liberdade de escolha dos pacientes: passarão a ter controle sobre as informações médicas relacionadas a eles;
Os serviços estarão organizados para produzir bons resultados, com padrões controlados de qualiade para reduzir mortaliade e morbidade, aumentar a segurança e a satisfação dos pacientes;
Aumentar a autonomia e governança dos profissionais e das instituições de saúde para torna-los mais responsáveis por resultados;
Cortar a burocracia e a ineficiência e evitar disperdícios;
Reforma dos Anos 90 Reforma de 2006
Separação entre provisão e asseguramento (integração horizontal)
Forte regulação pública do sistema de asseguramento
Sistema dualista Seguro público obrigatório (67% do
mercado) Seguro privado voluntário (33% do
mercado) Problemas da duplicidade
Duplicação de cobertura Free riding Altos custos de transação
Todos são obrigados a comprar um seguro privado (com subsídio aos mais pobres)
Serviços básicos garantidos sob a forma de funções essenciais a serem cobertas
Medico de familia como gate keeper
Contribuição mínima na apólice de 170 euros para todas as pessoas de mais de 18 anos de idade
Escolha anual do assegurador Seguro suplementar continua
existindo (para serviços diferentes das funções públicas asseguradas).
O Caso da Holanda
Holanda: Baixa variação no valor dos prêmios para o seguro básico
15 seguradoras no mercado
Valor da dedução standard de €150
Valor da dedução standard de €650
Valor mínimo do prêmio
€ 936 € 684
Valor máximo do prêmio
€ 1164(+24%)
€ 1020 (+49%)
Valor médio do prêmio
€ 1105 € 899
Holanda: Concorrência altamente regulada (I)
Entre empresas operadoras do seguro Consumidores tem uma escolha periódica das cias de seguro
Entre provedores de serviços Operadoras fazem contratos periódicos com os provedores
Equalização (ajuste) do risco4 Instancias reguladoras:
(i) para regular o processo de concorrência, (ii) para regular a qualidade do cuidado; (iii) para regular a solvência das operadoras e (iv) para regular e proteger o consumidor
Transparência nos Produtos oferecidos no mercado de seguros e Nos serviços e produtos médicos oferecidos
Holanda: Concorrência altamente regulada (II)
Informação ao consumidorLiberdade de contrato e de escolha do
asseguradorIncentivos financeiros para a eficiência
(asseguradoras, provedores de serviços, consumidores)
Garantia de suficiencia (de asseguradores e de provedores de serviços no mercado)
A complexidade dos fatores de equalização (ajuste) de risco
Ano Fator de ajuste de risco adicionado
1992 Sexo e idade1995 Região, posição na ocupação, discapacidade
2002 Custos de farmacia por risco ajustado2004 Grupos de custo de diagnóstico (mortalidade e
morbidade2007 Revisão para 20 grupos de custo e 16 de idade2008 Status sócio-econômico refinado
Lições e temas ainda pendentes
Equalização de risco é uma pré-condição para tornar os asseguradores responsáveis pelas necessidades dos pacientes crônicos.
Asseguradores ainda são relutantes em contratos seletivos dada a falta de informação, especialmente sobre a qualidade dos serviços
Discussão sobre quem é responsável pelo doente quando um serviço quebra ou é incapaz de cumprir suas promessas (resseguro)
Seguros suplementares não se responsabilizam por doentes crônicos de longo prazo
Provedores são relutantes em competir por orçamentos globais ou capitação.
SUS Saúde Suplementar
Principal preocupação dos brasileiros (Pesquisa IBOPE-CNI out-2011) – 52% dos brasileiros;
O tempo de espera para o atendimento é elevado
Faltam médicos para o atendimento
Faltam medicamentos básicos
A qualidade do atendimento é precaria
Pesquisa IESS-DATAFOLHA – março 2011 – 80% satisfeitos e muito satisfeitos com planos de saúde.
63% consideram que o atendimento resolveu o problema todas as vezes e 20% quase todas as vezes.
95% obtiveram todas as autorizações necessárias para os atendimentos nos últimos 12 meses
88% dos não beneficiários de planos de saúde consideram importante ou muito importante ter um plano de saúde
O caso SUS x Sistema Suplementar: O que diz a opinião pública?
Mas ao mesmo tempo, existe dupla cobertura entre SUS e planos dos que
tem maior renda
SR - 1/4SM 1/4 - 1/2 SM 1/2 - 1SM 1 - 2 SM 2 -3 SM 3 -5 SM MAIS 5 SM
64.2 62.4 54.4 45.1 35.3 26.5 31.3
2.36.4 16.1 33.7 54.8 68.8
82.5
Taxas de cobertura do PSF e de Planos de Saúde Pri-vados
nos domicilios brasileiros por classes de renda domiciliar per-capital mensal (em salários mínimos)
- BRASIL, PNAD 2008
PSF PLANO DE SAUDE113,8%?
Se isto acontece com a atenção básica, imaginem o que acontece com a média e alta
complexidade?
É aí que vão os medicamentos excepcionais;
As cirurgias eletivas; Os exames caros
sofisticados de diagnóstico Todos financiados pelos
fundos do SUS; Para muitos que tem planos
de saúde.
ProblemasSoluções (até o momento)
Ressarcimento ao SUS dos serviços prestados para afiliados das operadoras – Lei que Regulamenta a Saúde Suplementar
Objetivos e acões de ressarcimento cobradas e pagas (1999-2005)
Promover preventivamente a tutela dos beneficiários de planos, desestimulando o descumprimento, por parte das operadoras, dos contratos celebrados.
Evitar o enriquecimento sem causa das operadoras em detrimento da coletividade.
Impedir o subsídio, ainda que indireto, de atividades lucrativas com recursos públicos.
Objetivos: Ações cobradas e pagas
Cobradas358.765
R$ 494.993.639(fev. 2010)
Pagas78.441
R$ 99.464.861(20% do total)
Identificadas914.205
R$ 1,301,903, 802(67% do total)
A atual mecânica do ressarcimento
Principais tipos de internação identificadas nos processos de ressarcimento do sus pelas operadoras (1999-2005)
Problemas associados ao ressarcimento da ANS
Baixa capacidade da ANS de identificar a necessidade de ressarcimento: esta tem sido identificada somente para internações – AIHs mas não para exames, medicamentos e procedimentos ambulatoriais;
Grande volume de contestações das operadoras impugnando à cobrança do ressarcimento (cerca de dois terços dos casos identificados são impugnados pelas operadoras)
Alto volume de pedidos de impugnação deferidos: metade dos pedidos de impugnação são deferidos pela própria ANS;
Morosidade na análise dos casos Motivos de deferimento dos pedidos de impugnação do ressarcimento das Operadoras pela ANS
Porcentagem
Carencia 22%
Contrato que não cobre internação 12%
Atendimento fora da abrangência geográfica do contrato
12%
Procedimentos não cobertos pelo contrato 12%
Outros 40%
Temas que exigem mais regulação no SUS e saude suplementar
Estruturação do sistema em redes de provedores
Gestão de RiscoAvaliação econômica, avaliação tecnológica e
custosAcreditação da qualidade dos provedoresPagamento por performancePromoção e prevenção de cudados crônicosAutonomia, gestão e governança das redes e
estabelecimentos de saúde.
Especulações sobre o futuro
Cenário somente SUS (Inglaterra)Cenário SUS e sistema realmente suplementar (os
procedimentos do sistema não poderiam ser os mesmos do SUS) – solução Holandesa Modelo unificado público SUS Modelo público de asseguramento compulsório
Cenário SUS e Planos de Saúde se transformando em sistemas baseados em seguros, competitivos, com o mesmo marco regulatório (solução opção pública) SUS como uma única operadora unificada de seguro SUS se transformando em um conjunto de operadoras
competindo com os planos privados.
Conclusões
Cada país tem sua via crucis. O SUS deverá buscar seu próprio caminho Nas atuais condições, o SUS e o Sistema de Saúde Suplementar não
podem ser substitutivos, mas se deveria explorar suas complementaridades.
O desafio é como transformar a saúde suplementar em saúde complementar. Quais os incentivos a utilizar?
Os organismos governamentais deveriam se debruçar em buscar soluções que integrassem os dois sistemas e evitassem duplicações de cobertura e inequidades
Alguns temas deveriam ser pensados nesta linha: (a) adequar o sistema de ressarcimento e extende-lo para a área ambulatorial e
de medicamentos; (b) buscar meios de identificar incentivos econômicos para que aqueles que
tem planos e utilizam o SUS possam ter suas necessidades de saúde satisfeitas pela saúde suplementar sem onerar o sistema público;
(c) focalizar a atenção do SUS nas necessidades daqueles que não podem por restrições de risco ou de renda ter um plano de saúde.
Essas soluções não necessariamente são complementares, mas dependendo dos incentivos a serem utilizadas, poderiam ser substitutivas.
MEDICIANDRE@GMAIL .COMWWW.MONITORDESAUDE.BLOGSPOT.COM
Obrigado