UPANISHAD VAHINI
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UPANISHAD VAHINI
por Bhagavan Sri Sathya Sai Baba
UPANISHAD VAHINI
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UPANISHAD VAHINI
Bhagavan Sri Sathya Sai Baba
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UPANISHAD VAHINI
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SUMRIO
CARO LEITOR4
QUEM BHAGAVAN SRI SATHYA SAI BABA?5
CARO LEITOR6
I - UPANISHAD VAHINI8
II ISAVASYOPANISHAD14
III KATHOPANISHAD20
IV MUNDAKOPANISHAD27
V- MANDUKYOPANISHAD32
VI BRIHADARANYAKOPANISHAD39
VII - PRASNOPANISHAD48
VIII - KENOPANISHAD54
IX - CHANDOGYA UPANISHAD60
X - AITHAREYOPANISHAD68
XI TAITTIRIYOPANISHAD72
XII - BRAHMANUBHAVA UPANISHAD79
UPANISHAD VAHINI
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CARO LEITOR
Traduzir a Palavra Divina jamais foi uma tarefa fcil em qualquer
poca da humanidade, pois a fonte pura pode facilmente perder
suas qualidades em contato com mos imprprias. Por isso, pedi-
mos constantemente a Bhagavan que mantivesse pura Sua Fonte
de Amor e Sabedoria durante nossa humilde tarefa de traduo e
reviso do Conhecimento Libertador para a lngua portuguesa.
Para facilitar a compreenso e a leitura, colocamos no final do
livro um vocabulrio de snscrito adequado aos termos empregados
no livro. Com o fluir da leitura, alguns termos sero naturalmente
incorporados ao seu vocabulrio, como Brahma, Atma, Jnana, etc.
Outros termos, por associao de palavras, sero facilmente com-
preendidos. Ainda assim, a compreenso dos termos em snscrito
no essencial, pois a Mensagem que permeia o livro, alm de ines-
timvel, de fcil entendimento.
Procuramos, neste trabalho, fazer uma traduo inteligvel a todos
aqueles que, mesmo no sendo iniciados espiritualmente, desejem
entrar em contato com o cerne mais profundo da Mensagem Espiri-
tual do Avatar para a humanidade atual.
Que a Sua Mensagem sacie a voc, que busca na Fonte do Amor
e da Sabedoria, o Conhecimento Absoluto Libertador.
Com Amor,
Coordenao de Publicao/Conselho Central do Brasil
ORGANIZAO SRI SATHYA SAI BABA DO BRASIL
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QUEM BHAGAVAN SRI SATHYA SAI BABA?
Sathya Sai Baba , sem sombra de dvida, o mais notvel fenmeno
espiritual de nossos dias. Testado, analisado, pesquisado, desafiado,
confirmado e comprovado por multides de cientistas e pesquisado-
res, alm de mdiuns e espiritualistas renomados do mundo inteiro,
por mais de sete dcadas ininterruptas, Seus feitos e milagres atraem
aqueles sedentos da cura tida como impossvel, outros vidos pela
soluo do problema insolvel e mesmo pessoas que buscam Amor
para seus coraes ridos e descrentes. Milhes em todo o mundo
saciaram suas necessidades vindo at Ele.
Oniscincia, Onipotncia, Onipresena, Bem-Aventurana, Miseri-
crdia sem limites e Infinito Amor. Essas so algumas das Suas qua-
lidades manifestas e comprovadas. Qual a Sua Mensagem para o
mundo? Amem a Todos, Sirvam a Todos; Mos que Servem so
mais sagradas que Lbios que Oram; ; A essncia da Minha Men-
sagem o Amor; e A meta suprema a divinizao do homem
- diz Ele, comprovando Sua origem Divina. Por tudo isso, na ndia, ele
considerado um Avatar (Manifestao Divina).
Neste livro, Sai Baba apresenta o Vahini (fluir) da Sabedoria Suprema
das Upanishads, escrituras sagradas multimilenares que, segundo Baba,
apresenta o Mais Elevado Conhecimento, o Conhecimento Absoluto,
atravs do qual tudo o mais passa a ser conhecido: Brahman (Deus).
Com Amor,
Coordenao de Publicao/Conselho Central do Brasil
ORGANIZAO SRI SATHYA SAI BABA DO BRASIL
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CARO LEITOR
Bhagavan1 Sri Sathya Sai Baba nasceu entre os homens e est con-
cedendo orientao e apoio espiritual a fim de restabelecer a Ver-
dade, a Justia, a Paz e o Amor como os principais motivadores da
vida individual, social e nacional. Para essa grande tarefa, ele utiliza
instrumentos antigos e modernos como o Sanathana Dharma2 e a
cincia. Seus livros, discursos e conversas que corrigem, comunicam
e convencem, esto cheios de citaes e comentrios sobre as des-
cobertas das cincias fsicas e metafsicas.
Este livro que traz, em ingls, Seus artigos (primeiramente publi-
cados em tlugo, na revista Sanathana Sarathi3) sobre as dez Upa-
nishads4 (inestimveis livros de estudo acerca da disciplina espiritual
e dos gloriosos frutos da aventura espiritual) ir lhes revelar a vasta e
ilimitada misericrdia que O impele a nos salvar da vulgaridade e O
estimula a nos guiar at atingirmos o Objetivo da Vida.
1. Glorioso, Divino, Venervel, Sagrado. Ttulo conferido ao Senhor Supremo no
hindusmo.
2. Religio Eterna. o nome que os indianos do ao sistema de crenas e disciplinas
espirituais que os ocidentais chamam de Hindusmo.
3. O Eterno Condutor, ttulo dado a Krishna. Tambm o nome da revista mensal
oficial da Organizao Sri Sathya Sai, publicada desde 1957, disponvel em ingls
no site internacional da ndia e tambm disponvel em portugus no site da Orga-
nizao Sai do Brasil (alguns nmeros).
4. Literalmente, sentar-se perto e ouvir; antigos textos Vdicos, transmitidos por
sbios e videntes, contendo suas experincias e ensinamentos sobre a realidade
ltima. So a essncia dos Vedas.
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Faz-nos trilhar o caminho descoberto pelos Sbios do passado, nos
induz a reverenciar a Luz e a Mensagem deles, acende em ns a
Chama do Conhecimento que dissipa a iluso isso o que Bhaga-
van, com Seu Supremo Amor, faz por ns neste livro.
Leiamos este livro com cuidado, recapitulando-o com seriedade
no silncio dos nossos coraes e praticando com humildade e f
em cada mudana do pensamento, em cada movimento da lngua,
em cada fragmento da ao.
N. Kasturi
Prasanthi Nilayam, 21 de abril de 1968.
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I - UPANISHAD VAHINI
O homem essencialmente Divino. Contudo, ele se v como um
indivduo, limitado e temporrio, porque est emaranhado nas ca-
ractersticas dos Cinco Elementos, ou seja, som, toque, forma, sabor
e odor. Esse erro ocasiona alegria e sofrimento, bem e mal, nasci-
mento e morte. Livrar-se dessa ligao aos elementos, libertar-se das
influncias de suas caractersticas o sinal de Libertao, chamado
em snscrito Kaivalya-Moksha ou Mukthi. Os nomes podem variar,
porm o objetivo alcanado o mesmo.
Enquanto emaranhado nos cinco elementos, o homem seduzido,
distrado ou desapontado por eles. Tudo isso causa sofrimento. A ri-
queza, as posses - veculos, edifcios - tudo transmutao dos cinco
elementos. O homem anseia por eles e os menospreza quando os
perde ou no consegue obt-los.
Vamos analisar os Cinco Elementos um por um. Os seres vivos pos-
suem o primeiro elemento, a Terra, como sua base. A gua, o segun-
do elemento, a base para a Terra. A gua produzida pelo Fogo,
o terceiro elemento, que provm do Vento, o quarto elemento. O
Vento ou Vayu surge do ter, ou Akasa. Akasa emerge da Natureza
Primordial, que nada mais que a manifestao de um dos aspectos
da majestade de Deus ou o Supremo Soberano Atma, o Paramatma.
Buscando esse Paramatma, origem e essncia do universo, o Indi-
vduo ou Jivi, que se emaranhou nos elementos, tem que superar os
elos, um por um, atravs do discernimento e da prtica constante
do desapego. Essa pessoa um Sadhaka. Aquele que vence essa
batalha o Jiva muktha, o Liberto ainda em vida.
Para desenvolver esse discernimento e visualizar a sua realidade
inata, a pessoa deve estudar as Upanishads. Elas so chamadas co-
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letivamente de Vedanta. Formam o Jnana-kanda dos Vedas, a seo
que trata da Sabedoria mais Elevada. A libertao das conseqncias
da Ignorncia pode ser assegurada somente pelo Conhecimento ou
Jnana. As prprias Upanishads declaram: Jnaanaad eva thu kaivalyam;
Somente pelo Conhecimento a liberdade pode ser conquistada.
Os Vedas so famosos por serem tripartite. Kanda-thrayath-
makam; as trs partes so Jnana, Upasana e Karma. Essas trs partes
so tambm encontradas nas Upanishads. Elas tambm proporcionam
a base dos sistemas filosficos Adwaitha, Visishtadwaitha e Dwaitha.
O termo Upanishad designa o estudo e a prtica da verdade inata.
Brahma vidya significa a supremacia da contemplao espiritual. A
palavra Yogasastra designa a agitao mental que conduz ao su-
cesso. Qual a principal atividade necessria ao homem? Qual o
elemento bsico a ser conhecido? somente uma realidade bsica.
As Upanishads descrevem as vrias fases e os diferentes mtodos
dessa busca para a realizao desse objetivo.
O termo cheio de significados. Upa significa o processo de
estudar com Nishta ou afinco. Shad significa o alcance da Reali-
dade ltima. Da surgiu a palavra Upa-ni-shad. As Upanishads no
ensinam somente os princpios do Atma Vidya , mas ensinam tam-
bm a maneira prtica de realizao desse princpio. Elas apontam
no apenas os trabalhos e obrigaes a serem realizados, mas tam-
bm as aes a serem empreendidas e aquelas a serem evitadas.A
Gita5 nada mais do que a essncia das Upanishads. Atravs dos
ensinamentos da Gita, Arjuna colheu os frutos da obedincia s
Upanishads. Nas Upanishads encontra-se a afirmao Tat-twam-asi
5. Bhagavad Gita, A Cano do Divino. A Gita est contida no Mahabharata e con-
ta a histria da batalha de Kurukshetra. Seus 700 versos constituem o ensinamento
espiritual dado por Krishna ao seu discpulo Arjuna no campo de Batalha.
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Tu s Aquele. Na Gita, Krishna diz a Arjuna:Eu sou Arjuna entre os
Pandavas, quer dizer Eu e Voc somos o mesmo, ou seja, Tu s
Aquele, isto , Jiva6 e Iswara (Deus) so o mesmo ser.
Portanto, quer na Gita ou nas Upanishads, o ensinamento a
No-Dualidade7 ou Monismo qualificado. O olho humano no pode
penetrar nem no microcosmo, nem no macrocosmo. No pode des-
vendar o mistrio do vrus, ou do tomo, ou do universo estelar. Por
isso, os cientistas valem-se do telescpio e do microscpio para
complementar a capacidade dos olhos. Similarmente, os sbios so
capazes de vivenciar a Divindade atravs dos olhos do conheci-
mento obtido pela obedincia ao Dharma da conduta moral e da
disciplina espiritual. Quando os olhos humanos necessitam de instru-
mentos externos para observar at mesmo um insignificante verme
ou vrus, como o homem pode se recusar a passar pelo processo do
mantra 8 quando deseja ver o Princpio onipresente e transcenden-
6. Alma Individual. Talvez possa haver dificuldade em se perceber a diferena entre
Atma e jiva. O Atma a divindade inerente no homem, o prprio Deus que habita
em cada ser e, como tal, livre de iluses. O jiva seu reflexo, a alma afetada pelo
ego, que v o corpo como sua parte constitutiva e passa por vrias encarnaes,
assumindo novos envoltrios carnais.
7. uma traduo literal do termo snscrito advaita, no dois. Na filosofia oci-
dental h um conceito semelhante, o Monismo, do grego Monos, nico, sem
diviso. De acordo com esses conceitos, embora os fenmenos sejam diferentes,
no possuem uma realidade intrnseca, independente das causas e condies das
quais eles surgem.
8. Mantra/mantram - Uma frmula sagrada, slaba mstica ou palavra smbolo pro-
ferida durante a realizao de rituais ou meditao. Representam as verdades es-
pirituais reveladas diretamente aos Rishis (os visionrios). A seo dos Vedas que
contm esses hinos (Mantras) chamada o Samhitha.
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te? muito difcil conquistar o olho da sabedoria. A concentrao
essencial para isso. E, para a concentrao se desenvolver e se
estabilizar, trs coisas so muito importantes: pureza de conscincia,
percepo moral e discernimento espiritual. Essas qualificaes so
difceis de alcanar pelas pessoas comuns.
O homem dotado com o instrumento do discernimento, do julgamen-
to, da anlise e sntese, que somente ele possui, dentre todos os animais.
Ele deve desenvolver e utilizar esses instrumentos para o melhor propsito,
pois atravs deles que poder realizar a Divindade Imanente.
Ao invs disso, o homem atormenta a si mesmo e aos outros com
questes como: onde Deus reside? Se Ele real, por que no pode
ser visto? Ouvindo-se essas perguntas sente-se pena dos pobres
questionadores, pois anunciam a prpria insensatez. So como tolos
que aspiram aos ttulos universitrios sem ao menos se esforarem
para aprender o alfabeto. Eles aspiram compreender Deus sem im-
por a si mesmos o trabalho de praticar o Sadhana (disciplina espiri-
tual) necessrio. As pessoas que no possuem fora e pureza moral
falam de Deus e da Sua existncia e menosprezam os esforos para
vivenci-Lo. Essas pessoas no tm o direito de serem ouvidas.
O Sadhana Espiritual est baseado nos sagrados Sastras9. Eles no podem
ser dominados num piscar de olhos. No podem ser adquiridos atravs de
discursos. Suas mensagens esto resumidas nas Upanishads, portanto so
respeitadas por sua autoridade. No so produtos da inteligncia humana.
So os sussurros de Deus para o homem. So partes dos eternos Vedas,
que brilham gloriosamente atravs de todas as suas partes.
9. Sastras Livros sagrados do hinduismo contendo os ensinamentos dos Rishis
(sbios). Os Vedas, as Upanishads, os Ithihasas (epopias), os Puranas e os Smrithis
(cdigos de conduta), etc., formam os Sastras dos hindus. Eles ensinam os princ-
pios da vida prtica.
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As Upanishads so autnticas e possuem autoridade, pois comparti-
lham a glria dos Vedas. So em nmero de 1180, mas, com o passar
dos sculos, muitas delas desapareceram da memria humana e agora
somente 108 sobreviveram. Dessas, 10 alcanaram grande populari-
dade em virtude da profundidade e valor dos seus contedos.
O sbio Vyasa classificou as Upanishads e dividiu-as entre os quatro
Vedas. O Rig Veda10 possui 21 ramificaes e h uma Upanishad des-
tinada a cada ramificao. O Yajur Veda11 possui 109 ramificaes e
109 Upanishads. O Atharvana12 Veda possui 50 ramificaes e as 50
Upanishads esto distribudas nelas. O Samaveda13 tem mil ramifica-
es e os restantes mil Upanishads fazem parte dele. Deste modo, as
1180 Upanishads foram distribudas por Vyasa pelos quatro Vedas.
Sankaracharya destacou a posio de 10 dentre as Upanishads,
escolhendo-as para escrever seus comentrios, tornando-as, assim,
especialmente importantes. Atravs delas, a humanidade pode se
erguer ou cair. Todos aqueles que buscam o progresso e o bem-
estar humano esto agora temendo que at mesmo essas dez sejam
10. O primeiro e o mais importante dos quatro Vedas, pois todos os outros trs
derivam dele.
11. Um dos quatro Vedas. Contm textos religiosos com foco na liturgia, realizao
de rituais e sacrifcios. Foi escrito entre 1500 AC e 500 AC, juntamente com os
outros Vedas.
12. O quarto livro dos Vedas. Considerado por muitos como uma cincia obscura e
mstica, tratando dos espritos e da vida aps a morte. Consiste, principalmente, em
magias e encantamentos para proteger contra demnios e calamidades e magias
para a cura de doenas e uma vida longa.
13. O terceiro dos quatro Vedas. Consiste principalmente de hinos a serem cantados
pelos sacerdotes em importantes sacrifcios, nos quais o suco da planta Soma, clarificado
e misturado com leite e outros ingredientes, oferecido em libao a vrias deidades.
UPANISHAD VAHINI
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esquecidas, porque tal negligncia conduzir a humanidade a um
desastre moral e espiritual. Entretanto no h razo para tal apreen-
so. Os Vedas jamais sero prejudicados. Os sbios e as pessoas
de f devem apresentar perante a humanidade ao menos essas dez
Upanishads, que so: Isa, Kena, Katha, Prasna, Mundaka, Mandukya,
Thaithiriya, Aithareya, Chandogya e Brihadaranyaka.
As 98 restantes so : Brahma, Kaivalya, Svethasva, Jabali, Hamsa,
Garbha, Aruni, Paramahamsa, Amrithanada, Narayani, Amrithabindu,
Atharvasikha, Atharvasira, Kasithara, Mathrayani, Nrisimhatapani, Brah-
majabala, Maithreya, Kalagnirudra, Sulabha, Manthrika, Kshithi, Niraa-
lamba, Sarvahara, Vajrasuchika, Subharahasya, Thejobindu, Nadabindu,
Dhyanabindu, Brahmavidya, Atmabodhaka, Yoga, Thathwa, Naradapari-
vrajaka, Brahmana, Sita, Yogachudamani, Nirvaana, Mandala, Dakshina-
murthi, Skandaa, Sarabha, Adwaitha, Thaaraka, Mahanarayana, Sowbha-
gyalakshmi, Saraswathirahasyva, Mukthika, Bhavaricha, Ramathapana,
Ramarahasya, Mudgali, Vasudeva, Pingala, Sandilya, Mahabhikshuka,
Yogasiksha, Sanyasa, Thuriyathitha, Parmaparivrajaka, Narasimha, Aksha-
malika, Annapoorna, Ekakshara, Akshika, Adhathya, Surya, Kundisakhya,
Aatma, Savithri, Parabrahma, Pasupatha, Thripurathapana, Avadhooiha,
Thripura, Devi, Bhavana, Katha, Yogakundali, Rudrahrdaya, Rudraksha,
Bhasma, Darsana, Ganapathi, Thahasata, Mahavakya, Panchabrahma,
Gopalathapani, Pranagnihothra, Garuda, Krishna, Datthatreya, Varaaha,
Yajnavalkya, Sathyaayana, Avyvektha, Hayagriva e Kalisantharna.
As Upanishads tambm inspiraram trabalhos em geografia, as-
tronomia, economia e teoria poltica, bem como os 18 Puranas, que
incluem Skanda, Siva, Garuda e outros. Os Vedas e as Upanishads
so os verdadeiros fundamentos do Sanathana Dharma.
H uma caracterstica interessante a ser apontada. Essa religio
no possui um fundador como as outras. Esse fundador invisvel
UPANISHAD VAHINI
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Deus, a fonte de toda a sabedoria. Ele o Profeta desse Sanathana
Dharma. Ele o fundador. Sua Graa e Inspirao manifestaram-se atra-
vs dos sbios puros e eles se tornaram os porta-vozes desse Dharma.
Quando a pureza moral dos homens se degenera, Deus toma forma na
graa e inspirao dos sbios e mestres. Ele tambm falou atravs das
Upanishads da Sathya-Jnana, a Sabedoria a respeito da Realidade.
II ISAVASYOPANISHAD
O Senhor, decidido a regenerar o mundo, transmitiu os Vedas atra-
vs de Hiranyagarbha. Depois Hiranygarbha, por sua vez, passou-
os aos Seus dez Manasaputhras (filhos nascidos da mente), incluindo
Athri e Marichi. A partir deles, os Vedas espalharam-se pela humani-
dade, transmitidos de gerao em gerao. Com o passar do tempo,
eras acumuladas e continentes movidos, alguns Vedas se perderam
ou foram negligenciados, considerados muito difceis para o entendi-
mento e apenas quatro sobreviveram at os tempos modernos. Esses
quatro foram ensinados por Vedavyasa, o maior dentre os expoentes
dos Vedas, aos seus discpulos durante a Dwapara Yuga (a Era em que
os elementos divinos e demonacos viviam no mesmo reino).
Quando Vyasa apresentava os Vedas, empenhado em divulgar as
escrituras sagradas, um dos seus discpulos, chamado Yajnavalkya,
atraiu a sua clera e, como punio, teve que regurgitar o Yajurveda
que j havia aprendido sob os cuidados do seu guru e abandonar o
lugar, refugiando-se em Suryadeva, o local do tesouro dos Vedas.
Ento os Rishis, que reverenciavam os Vedas, voaram at o local sob
a forma dos pssaros Thiththiri e enguliram o Yajurveda regurgitado.
Essa seo particular dos Vedas chamada Thaithiriyam.
UPANISHAD VAHINI
15
Nesse nterim, Suryadeva estava satisfeito com a devoo e a fir-
meza do infortunado Yajnavalkya. Ele assumiu a forma de um Vaji
ou Cavalo e abenoou o sbio com um conhecimento renovado do
Yajurveda. As sees ento ensinadas pelo Vaji passaram a ser chama-
das Vajasaneyi. O Yajurveda propagado por Vedavyasa chamado
Krishnayajurveda e aquele transmitido por Yajnavalkya chamado
Suklayajurveda. Nesses, os primeiros captulos so mantras relaciona-
dos ao Karma kanda14 e as ltimas sees tratam do Jnana kanda15.
A Isavasya Upanishad relativa a esse Jnanakanda. Como o mantra
de abertura dessa Upanishad comea com as palavras Isavasyam,
a Upanishad chamada por esse nome.
Isavasyaamidam sarvam yathkinchajagathyam jagath Thena
thyakthena bhunjethah, maa gridhah kasyaswid-dhanam
Todas as coisas deste mundo, o transitrio, o evanescente, esto
envolvidas pelo Senhor, que a verdadeira Realidade. Portanto, de-
vem ser utilizadas com renncia e reverncia, sem cobia ou avareza,
pois pertencem a Deus e no a qualquer pessoa.. Esse o significado
desse sloka16.
Isso quer dizer que o Universo a Imanncia do Senhor, Sua For-
ma, Seu Corpo. errado tomar o Universo e o seu Senhor como di-
ferentes. uma iluso, um produto da imaginao do homem. Assim
como a sua imagem refletida na gua no diferente de voc, o
Universo, que a imagem do Senhor, produzida pela sua Ignorncia,
o mesmo que Ele prprio.
14. A seo dos Vedas que trata dos Karmas, a soma das tendncias inatas forma-
das em conseqncia de atos realizados em vidas passadas.
15. Os poemas dos Vedas que tratam da sabedoria espiritual.
16. Verso.
UPANISHAD VAHINI
16
Enquanto tiver essa iluso, o homem no poder visualizar a Re-
alidade imanente nele mesmo. Por outro lado, se acostumar aos
poucos aos pensamentos, palavras e atos errados. Um pedao de sn-
dalo, se mantido na gua, produzir mau cheiro, mas se for retirado e
esfregado como pasta, o perfume original retornar. Quando a auto-
ridade dos Vedas e Sastras respeitada e quando a discriminao
aguada pela prtica do Dharma Karmas, o mau cheiro da injustia e
da maldade desaparecer e o puro perfume inato do Atma emergir.
Ento, a dualidade entre aquele que faz e aquele que usufrui desapa-
recer. Assim, voc alcanar o estgio chamado Sarvakarmasanyas, a
cessao de toda a atividade. Nesta Upanishad, esse tipo de Sanyasa17
descrito como o caminho da Libertao ou Moksha.
O sanyasa que envolve a destruio dos trs desejos (por um cn-
juge, por descendncia e por riqueza) muito difcil de ser obtido
sem a pureza de Chitta ou mente.
Nesta Upanishad, os meios para atingi-lo esto declarados no se-
gundo mantra, Que diz: realize o Agnihothra18 etc. prescrito nos
Sastras, acredite que, para a libertao, deve-se estar ativamente en-
gajado nesse trabalho e esteja convencido de que nenhum pecado
pode fisg-lo enquanto estiver totalmente engajado nesse esforo
17. Sanyasa / Sanyaasa - Vida de renncia, afastada de todo o prazer. Trabalho feito
sem levar em conta o sucesso ou fracasso. Quem segue esse caminho chamado
sanyasi, sanyasin ou sanyasi.
18. Ritual vdico, realizado ao amanhecer e ao pr-do-sol. O praticante se purifica
com gua e faz oferendas ao fogo sagrado entoando versos sagrados e recitando
oraes para Agni. Agni significa fogo e hotra, cura. Agnihotra significa, pois, o fogo
da cura. Entre os hindus, que seguem o caminho vdico do Sanathana Dharma,
Agnihotra considerado um processo de purificao da atmosfera.
UPANISHAD VAHINI
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de libertao. O trabalho, sem o desejo pelos seus frutos, limpa len-
tamente as impurezas, como o cadinho do ourives. A mente pura
Jnana19. Isto a culminncia do desapego.
Se voc for capaz de se despojar do desejo enquanto estiver traba-
lhando, nenhuma impureza poder toc-lo. Voc sabe que a semen-
te de Chilliginji, quando cai na gua lamacenta, tem o poder de
separar a sujeira e deposit-la no fundo. A semente tambm afunda,
e desaparece do campo de viso! Do mesmo modo, aqueles que
forem capazes de realizar o karma sem apego tero suas mentes
perfeitamente limpas e os resultados dos seus atos perdero a efeti-
vidade e submergiro.
Dos 18 mantras desta Upanishad, apenas os dois primeiros tratam
diretamente do problema da Libertao e da sua explicao. Os ou-
tros dezesseis elaboram essa explicao e servem como coment-
rios sobre o assunto.
O Atma20 jamais sofre qualquer modificao e tambm mais
rpido do que a mente! Esse o mistrio e o milagre. Parece expe-
rimentar todos os estados, mas no est sujeito a crescimento, de-
clnio ou mudana. Apesar de estar em toda parte, no perceptvel
pelos sentidos. por causa da sua existncia latente e da imanncia
sempre presentes que o todo o crescimento, toda a atividade e to-
das as mudanas acontecem. As causas e os efeitos agem e reagem
por causa do estrato bsico da realidade tmica. A prpria palavra
Isa21 (de Isavasyopanishad) tem este significado. O Atma est per-
19. Conhecimento verdadeiro, o conhecimento de si mesmo.
20. A Centelha Divina, Deus interior, Ser Interno ou Eu Verdadeiro. A realidade
ltima de todos os seres segundo o Hindusmo.
21. De Isavasyopanishad.
UPANISHAD VAHINI
18
to e longe, dentro e fora, parado e em movimento. Aquele que co-
nhece essa verdade digno de ser chamado de Jnani22. .
O ignorante nunca poder compreender o fato da imanncia do
Atma. Aqueles que esto conscientes dessa verdade podem ver as
coisas e sentir a sua presena perto deles. Aqueles que perderam
essa conscincia procuraro as jias perdidas, quando, na verdade,
estaro usando-as no momento. Embora possam saber de todas
essas coisas, concebem o Atma como existindo em algum lugar
inatingvel, inacessvel, por causa da perda de conscincia. Mas o
Jnani, que est desperto, v o Atma em todos os seres e todos os
seres como o Atma. Ele v todos os seres como um s e no percebe
distino ou diferena neles. Assim, ele se salva da dualidade.
O Isavasya torna essa Verdade clara para todos. O Jnani que expe-
rimentou essa viso no ser perturbado pelos golpes da fortuna ou
pela fascinao dos sentidos. V todos os seres como ele mesmo,
mantendo sua prpria identidade inata. Est livre dos apegos, do
Dharma e do Adharma, das necessidades e dos anseios do corpo.
Ele Swayamprakaasa (auto-resplandecente)... por isso, o Jiva-rupa23
no a sua verdadeira forma, nem mesmo os corpos grosseiro e su-
til chamados Sthula (grosseiro) e o Sukshma (sutil) sariras (corpos).
por isso que, no primeiro manthra do Isavasya, apresentado o
Jnana Nishta24, que se caracteriza pela ausncia de anseios de quais-
quer espcies. Esse o Vedartha25 bsico, mas aqueles que possuem
desejos encontraro dificuldades em alcanar a estabilidade nesse
22. Homem sbio.
23. A alma encarnada, identificada com o ego, i.e., o indivduo.
24. Decidido a adquirir conhecimento espiritual.
25. Propsito, meta dos Vedas.
UPANISHAD VAHINI
19
Nishta26 ou estado da mente. Assim sendo, o segundo mantra in-
dica um meio secundrio, o Karma Nishta (determinao na busca
das boas aes). O restante dos Mantras desenvolve e apia esses
dois nishtas - baseados no Jnana e no Karma. . O KarmaNishta tem
o Desejo e a Iluso como os principais estimuladores. O JnanaNishta
apresenta Vairagya27, a convico de que o mundo no o Atma,
isto , no verdadeiro e, portanto, intil dar qualquer ateno a
ele. Essa atitude de negao do Vairagya o porto de entrada para
o JnanaNishta. Do terceiro ao dcimo oitavo Manthra descrita a
real natureza do Atma atravs da condenao de Avidya (ignorn-
cia) que impede a compreenso do Atma.
Assim, o Isavasya ensina a lio da renncia atravs do primeiro man-
tra e a lio da atividade libertadora atravs do Karma destitudo de
Raga (paixo, apego) e Duesha (raiva, dio, averso) no segundo. No
quarto e quinto manthra, fala-se de Atmathatwa (f em Deus) e, em se-
guida, dos frutos do conhecimento desse Atmathatwa. No nono mantra
exposto o caminho da libertao progressiva, ou Karmamukthi (til
para aqueles que esto muito fracos para seguir o caminho da renncia
total, mas que so capazes de atos proveitosos para o desenvolvimento
moral e purificao interior). Este o caminho que coordena todos os
Karmas no princpio de Upasana (contemplao ou adorao a Deus).
dito que aqueles que esto engajados em atos contrrios Vidya (Sa-
bedoria), esto cheios de Ajnana (Ignorncia). Aqueles que se limi-
tam ao estudo e prtica de formas divinas so ainda piores, devido ao
desejo deles por poderes e habilidades. dito que Vidya conduz a
26. Estado de esprito ou determinao, disciplinado ou regulado pelo comporta-
mento, prtica, busca constante.
27. Desapego.
UPANISHAD VAHINI
20
Deva Loka28; e que o Karma leva ao Pithr Loka29. (Pithr-loka). Ento,
o Jnana que alcanou Atmasakshathkara ou Auto-realizao algo
completamente distinto destes, e nenhuma tentativa de coordenar
os dois pode ser bem sucedida.
claro que a pessoa no deveria se ocupar com nada oposto ao Sas-
tras; e, em ultima analise, todas as aes so classificadas como Avidya.
Na melhor das hipteses, o karma pode ajudar apenas a limpar a mente
e o Upasana dos Deuses pode conduzir determinao.
O Upasana tem que se elevar ao nvel da adorao da Divindade Cs-
mica, o Hiranyagarbha. Deve amadurecer e evoluir como Jivamukthi
(alma realizada) antes do final desta vida. O Devata-Jnana e o Karma-
Nishta so complementares e coordenados. Por isso, o indivduo pode
escapar do crculo de nascimentos e mortes e se tornar Divino.
III KATHOPANISHAD
A histria de Nachikethas30, que foi iniciado na disciplina espiritual
pelo prprio Yama (Deus da Morte), encontrada nesta Upanishad.
A mesma histria mencionada tambm no Thaithiriya Brahmana e
no Mahabharatha, no 106 captulo do Anusaasanaparva31. Esta Upa-
28. No Hinduismo, um plano de existncia onde vivem os deuses e deusas. Os deva
lokas so usualmente descritos como um lugar de benevolncia e luz eternas.
29. Reino do gozo dos frutos das aes.
30. Nachikethas: Filho do sbio Vajashravas, oferecido a Yama, o Deus da Morte,
por questionar o presente de vacas velhas e inteis que seu pai tencionava dar s
pessoas piedosas.
31. Anusasanaparva (Anushaasanaparva). Famosa seo do Mahabharatha que
trata dos princpios morais.
UPANISHAD VAHINI
21
nishad tornou-se famosa por sua clareza e profundidade de imagina-
o. Muitos dos pensamentos expressos aqui podem ser encontrados
no Bhagavadgita. Uma vez que esta Upanishad pertence ao Katha Sa-
akha da escola de Krishna Yajurdeva, ela chamada Kathopanishad.
Um ritualista muito rigoroso chamado Vajasravas, tambm conhe-
cido como Gouthama, realizou uma Yaga (sacrifcio). Como parte do
sacrifcio, ofereceu vacas que no eram mais capazes de comer ca-
pim ou beber gua e muito menos de produzir leite! Elas eram mui-
to velhas para qualquer propsito til. Vendo isto, seu filho virtuoso
e inteligente, chamado Nachikethas, percebeu que o pai estava em
grande desgraa em virtude de suas oferendas pecaminosas. At onde
ia o seu poder, o menino queria salvar o pai de seu destino. Ento per-
guntou ao seu pai para quem ele pretendia oferec-lo como oferenda!
Insistiu muito para que ele tambm fosse oferecido a algum. O pai fi-
cou to enfurecido que gritou desgostoso, Eu estou oferecendo voc
ao Deus da Morte!. Ento Nachikethas concluiu que as palavras de
seu pai eram verdadeiras, apesar de terem sido pronunciadas em Jiva-
loka, o reino contaminado pelo nascimento e morte. Assim, persuadiu
o pai a oferec-lo a Yama por meio de um rgido ritual. Nachikethas,
prontamente, dirigiu-se para a morada do Deus da Morte. Teve de
esperar trs noites antes que pudesse ver Yama. Yama desculpou-se
pela demora em receb-lo e lhe prometeu trs bnos, uma para
cada noite passada do lado de fora de sua porta.
Primeiro Nachikethas queria que, quando retornasse por ordem
de Yama sua terra natal e ao seu lar, seu pai o recebesse com
alegria, livre de qualquer raiva por sua impertinncia anterior, cheio
de equanimidade mental. O seu segundo desejo era conhecer o se-
gredo da inexistncia de fome ou de sede ou de medo da morte no
UPANISHAD VAHINI
22
cu. De boa vontade, Yama concedeu ao jovem essas bnos. Alm
disso, Yama iniciou-o nos Mistrios de um ritual especial. Nachikethas
ouviu tudo com reverncia e reteve rpida e claramente os detalhes
daquele ritual. Yama estava to satisfeito com o seu novo discpulo que
deu ao Yaga um novo nome: Nachiketha Agni! Esta foi uma bno
a mais para o jovem visitante. Nachikethas disse: Mestre, o homem
mortal. Mas alguns dizem que a morte no o fim, que existe uma entida-
de, chamada Atma, que sobrevive ao corpo e aos sentidos. Outros argu-
mentam que no existe tal entidade. Agora que eu tenho a oportunidade,
gostaria de saber do Senhor a respeito do Atma.
Yama quis testar as credenciais de firmeza e entusiasmo do seu
questionador para conhecer a Sabedoria Mais Elevada. Se ele fos-
se indigno, Yama no lhe comunicaria o entendimento do Atma.
Assim, ao invs de responder pergunta, Ele lhe ofereceu vrias
outras bnos, todas relacionadas prosperidade e felicidade
mundanas. Disse-lhe que o Atma algo muito sutil e evasivo, que
est alm do alcance do entendimento ordinrio e colocou diante
dele outros presentes atraentes que poderiam ser aproveitados mais
rapidamente e melhor. Nachikethas replicou: Venerado Mestre!
Sua descrio da dificuldade de entendimento dessa Verdade me faz
sentir que no devo deixar passar esta chance, pois no posso ter um
instrutor mais qualificado que o Senhor para explic-la para mim. Pe-
o-lhe isso como minha terceira bno e nenhuma outra coisa mais.
Os benefcios alternativos que o Senhor colocou diante de mim no
podem me assegurar o eterno benefcio que o Atmajnana (Sabedoria
da verdadeira essncia) pode me conceder.
Vendo esta Sraddha32 e esta firmeza, Yama ficou satisfeito e con-
32. F.
UPANISHAD VAHINI
23
cluiu que Nachikethas estava pronto para receber a Sabedoria Mais
Elevada. Ele disse: Bem, Meu querido rapaz! Existem dois tipos distin-
tos de experincias e desejos chamados Sreyas33 e Preyas34. Ambos afe-
tam o indivduo. O primeiro o liberta, o segundo o escraviza. Um leva
salvao e o outro ao encarceramento! Se voc buscar o caminho
de Preya, deixar longe, bem para trs, a realizao do maior objetivo
do homem. O caminho de Sreya somente pode ser discernido pelo
intelecto refinado, por Viveka (Discernimento). O caminho de Preya
trilhado pelos ignorantes e pervertidos. Vidya (Sabedoria) revela
Sreyas, e Avidya (Ignorncia) faz voc resvalar para Preyas. Natural-
mente, aqueles que buscam o caminho de Sreyas so muito raros.
Yama continuou: O Atma imperturbvel, sereno. a Conscincia,
infinita e plena. Aquele que tiver conhecido o Atma no ser movido
por idias dualistas como ser ou no ser, realizador e no-realiza-
dor, etc. O Atma no um objeto a ser reconhecido! No o conhe-
cedor, nem o conhecido e nem mesmo o conhecimento. Descobrin-
do essa Viso mais suprema e informando uma dessas mais supremas
Instrues, o Instrutor Brahman, e o Instrudo tambm Brahman. A
compreenso dessa Verdade sempre presente nos salva de todo ape-
go e perturbao e, assim, nos liberta do nascimento e da morte. Este
grande Mistrio no pode ser apreendido pela lgica; deve ser obtido
atravs da F no Cdigo das Leis (Smrithis) e vivenciado.
O Atma pode ser conhecido apenas aps imensa perseverana. A
pessoa deve desviar a mente do seu habitat natural o mundo obje-
tivo e mant-la em absoluta equanimidade. Somente um heri pode
ter xito nessa aventura interna solitria e sobrepujar os monstros do
egosmo e da iluso! S essa vitria remove o sofrimento.
33. Bem-aventurana.
34. Satisfao dos sentidos.
UPANISHAD VAHINI
24
O ensinamento do Vedanta que a Verdade Mais Elevada pode
ser realizada por todos. Todos os textos proclamam isso a uma s
voz. Dizem tambm que o Pranava ou slaba OM o smbolo do
Para (mais elevado) e do Apara (inferior) Brahman. Declaram que
a Upasana do Pranava traz ao seu alcance at mesmo o estgio
de Hiranyagarbha (a manifestao de Deus), ajudando-o, tambm, a
alcanar os dois estgios de Brahman. O Hiranyagarbha est envolto
pelo mais fino vu de Maya35 e, atravs do OM, este vu pode ser
rasgado e ambos, Para e Apara Brahman, podem ser realizados.
O Kathopanishad tambm acrescenta outras informaes acerca
do Atma de diversas maneiras. Ele diz que o Atma imensurvel,
que nunca poder ser contido por quaisquer limitaes, embora pos-
sa parecer que sim. A imagem do Sol num lago tremula e balana
devido ao tremular e balanar da superfcie da gua; mas o sol no
mais do que uma testemunha distante. No afetado pelo meio
que produz a sua imagem. Da mesma forma, o Atma a testemunha
de todas essas mudanas no espao e no tempo.
O Jiva, a Ignorncia Individualizada, o protagonista dos frutos das
aes, do certo e do errado, do bem e do mal; jivi36 cria a escravido
atravs do Egosmo e livra-se dela por meio de Buddhi (intelecto), a
fora contrria ignorncia. Compreenda que tudo conquistado no
momento em que os indriyas37 (internos e externos) so colocados fora
de ao. Descarte-os como falsos e ilusrios. Junte-os todos no Manas
(mente). Lance Manas de volta para Buddhi e Buddhi ou Inteligncia
Individualizada de volta para a Inteligncia Csmica de Hiranyagarbha.
35. Iluso. Crena de que o mundo dos fenmenos a nica realidade.
36. Alma individualizada.
37. rgos do conhecimento e da percepo.
UPANISHAD VAHINI
25
E, tendo atingido tal estgio do Sadhana, una a Inteligncia Csmica
ao Atmathathwa do qual no mais que a sua manifestao. Ento
voc atingir o estgio de Nivikalpasamadhi, a perfeita e serena equani-
midade da Unidade Absoluta, que a sua verdadeira Natureza. Esse
o segredo apresentado por esta Upanishad junto ao fato de que toda a
criao uma proliferao de Nama (Nomes) e de Rupa (Formas).
Iludido pela miragem, voc incapaz de ver o deserto desolado. Ame-
drontado pela cobra (imaginada por voc, pois somente uma corda),
incapaz de discernir a realidade bsica. A iluso sem comeo nem fim
que assedia o Jivi deve ser destruda. O 14 mantra desta Upanishad
acorda o Jivi do sono das eras e o conduz em direo meta.
O Atma est alm d e Sabda (ouvidos), Sparsa (olhos), Rupa (for-
ma), Rasa (sabor) e Gamdha (odor). infinito. Os sentidos esto
ligados aos objetos, ao mundo externo. O Atma o instrumento
principal de toda atividade e conhecimento, a fora motriz interna
por trs de tudo o que existe. Essa iluso de diversidade, variedade,
multiplicidade, numerosidade, tem de morrer. Ela nasce de Ajnana
(ignorncia). A diversidade uma miragem causada pelas circuns-
tncias. O sentimento de que voc est separado da Unidade a
raiz de todo esse aparente Nascimento e Morte pelo qual o indiv-
duo parece passar. Assim Yama declarou a Natureza de Brahman a
Nachikethas para remover suas dvidas sobre esse assunto.
Como a luz escondida pela fumaa, o Purusha38 do tamanho de
um polegar (o Angushtamaathra39), brilha eternamente. Como a
38. Homem em snscrito. Designa a divindade nica que impregna o universo.
De acordo com alguns estudiosos, os deuses so meras interpretaes que o ser
humano faz das mltiplas facetas do nico Purusha.
39.Do tamanho do polegar.
UPANISHAD VAHINI
26
torrente de chuva que ao cair no pico de uma montanha se divide em
milhares de riachos que escorrem montanha abaixo, o Jivi, que vi-
vencia a multiplicidade e a diferena, escorrega na multiplicidade e se
perde. Esta Upanishad anuncia que no existe nada mais elevado do
que o Atma e nem igual a Ele. As razes de uma rvore so invisveis,
esto escondidas debaixo da terra, mas seus efeitos esto evidentes
nas flores que so visveis, no mesmo? Assim tambm com essa
Samsaravriksha (rvore da vida). Dessa experincia, voc deve inferir
que a raiz, Brahman, o sustento e o apoio, disse Yama.
A rvore de Samsara como a mangueira do mgico, apenas uma
iluso. Aquele que purificou o seu Buddhi pode ver, nesta mesma vida,
o Atma nele como em um delicado espelho. Brahman Jneyam, aquilo
conhecido pelo buscador do conhecimento; Upaasyam, o que ob-
tido pelo buscador de realizaes. O Jnani libertado atravs de sua
visualizao de Brahman, mas o Upasaka alcana Brahmaloka40 aps
a morte. L ele se funde a Hiranyagarbha41 e, no final da kalpa (ciclo da
humanidade), liberto juntamente com o prprio Hiranyagarbha.
Nachikethas entendeu, sem nada perder, tudo que Yama disse-lhe
nesse Brahma-vidya42 que ele lhe ensinou. Foi libertado pela Morte
e alcanou Brahman. Portanto, este Brahma-vidya relevante at
para aqueles que tentam saber o que ele pois, atravs dele, tornam
sua personalidade melhor, livre das manchas do pecado.
Esta Upanishad ensinou os assuntos fundamentais de diversas ma-
neiras: Pranavaswarupa, Sreyas e Brahmavidya. Minha inteno en-
40. O mundo de Brahman
41. O deus Vdico da criao; o ser primordial do hinduismo. A semente primeva
da qual Brahma nasceu.
42. Conhecimento de Brahman, conhecimento divino.
UPANISHAD VAHINI
27
sinar a vocs a essncia destes ensinamentos. claro que um mantra
suficiente para aqueles que possuem inteligncia aguada e para
os que esto ansiosos por escapar da iluso. Para os estpidos, os
indivduos estimulados pelos sentidos, imersos na busca secular pelos
prazeres, os conselhos, ainda que abundantes, so um desperdcio.
O Atma como o oceano. Para ensinar a uma pessoa sobre ele,
no necessrio pedir que ela o beba por inteiro. Uma simples gota
colocada em sua lngua dar-lhe- o conhecimento necessrio. Da
mesma forma, se voc deseja conhecer a Upanishad, no preciso
seguir todos os mantras. Aprenda e vivencie o significado de um
mantra. Voc poder alcanar a Meta sem erro. Aprenda e prati-
que. Aprenda a praticar: Esse o segredo do Ensinamento.
IV MUNDAKOPANISHAD
Esta Upanishad comea com uma Invocao, orando para que os
olhos possam ver coisas auspiciosas, que os ouvidos possam ouvir sons
auspiciosos e que a vida possa ser vivida na contemplao do Senhor.
O ensinamento desta Upanishad denominado Brahma Vidya,
seja porque descreve primeiramente a mensagem de Hiranyagarbha,
o Brahma causal, ou porque a mensagem relata a glria de Brahman.
Esta Upanishad fala do Brahma Vidya como o mistrio o qual somen-
te aqueles que esto com as cabeas raspadas e que passaram pelo
ritual do Fogo sobre as cabeas raspadas podem compreender. Por
isso, a Upanishad chamada Mundaka ou Cabea Raspada. Alm
disto, esta Upanishad venerada como o pice de todas as Upa-
nishads, pois apresenta a verdadeira essncia do Brahma Jnana. Ela
se encontra no quarto Veda, o Atharvana.
UPANISHAD VAHINI
28
Esse conhecimento foi transmitido oralmente de professor para
aluno, enriquecido e confirmado pela experincia. Esta Upanishad
tambm chamada de Paravidya, o conhecimento do Outro, quan-
do trata do Princpio sem atributos. Quando trata do pleno de atri-
butos, o Saguna, o princpio materializado, chamado Aparavidya,
o conhecimento do Imanente, no o aspecto Transcendente de
Brahman. Esses dois so encontrados nesta Upanishad. Foram en-
sinados por Saunaka a Angirasa. Os Vedas e os Vedangas tratam
do Aparavidya. As Upanishads ocupam-se especialmente do Paravi-
dya. Contudo o aspecto interessante que o Aparavidya conduz ao
Para, o conhecimento de Brahman, que a meta.
A aranha cria fora de si a magnfica manifestao da teia. Da mes-
ma forma, este jagath (mundo instvel, mutvel) manifestado a
partir do causador Brahman. Jagat ou samsar o produto do com-
plexo criador-criao. Isto verdadeiro, real e til quando no se
est desperto para a Realidade. O mximo que se pode ganhar pela
atividade, quer dizer, atividades santas e sagradas, o Cu ou Swar-
ga, o qual possui um contrato de vida mais longo, mas que, apesar
de tudo, tem um fim. Portanto, aquele que busca perde todo o an-
seio pelo Cu e se aproxima de um professor mais velho, pleno de
compaixo, que o instruir na disciplina da realizao de Brahman.
Todos os seres so Brahman e nenhuma outra coisa mais. Todos
eles emanam de Brahman. Como centelhas que emanam do fogo,
como o cabelo que cresce da pele, mas diferente dela, assim
tambm todos os seres emanam de Brahman. Brahman a causa do
Sol, da Lua e das estrelas que giraram no espao. Brahman garante a
conseqncia de todos os atos dos seres. O Jivi e o Iswara, ou seja,
o Individual e o Universal so dois pssaros pousados na mesma
UPANISHAD VAHINI
29
rvore, isto , o corpo humano. O Jivi age e sofre as conseqn-
cias desses atos. Iswara permanece quieto, como uma testemunha
do outro pssaro. Quando o Jivi v Iswara e compreende que nada
mais que a Sua imagem, liberta-se da desgraa e da dor. Quando
a mente tomada pelo anseio de conhecer Iswara, todos os outros
desejos inferiores diminuem e desaparecem. Ento, o conhecimento
do Atma alcanado. O ltimo mantra desta Upanishad declara que
o seu propsito fazer o homem atingir aquele Jnana (sabedoria).
Munda significa cabea; podemos dizer que esta Upanishad a
Cabea de todas as Upanishads. At mesmo o aforismo de Brahma
(Brahma suthra) dedica dois captulos para explicar o significado
interno dos mantras desta Upanishad.
Ela possui trs sees, com dois captulos em cada uma. Na pri-
meira seo trata-se do Aparavidya e na segunda do Paravidya e
dos meios para domin-lo. Na terceira, definida a natureza da Re-
alidade e da libertao da escravido. O Karma que ajuda a atingir
Brahman est descrito nesses Mantras. por isso que esta Upanishad
respeitada como muito sagrada.
Como j mencionado, a aranha tece a teia a partir de si mesma,
sem qualquer agente externo e, tambm, entra na teia que teceu.
Do mesmo modo, a Criao foi efetuada sem um agente externo e,
assim, o Universo foi emanado. Esta Natureza ou Prakriti apenas a
transformao do Brahman bsico, como o pote do barro, a roupa
do algodo, as jias do ouro. Por isso Brahman chamado a causa
Upadana (Base Material) de Prakriti. tambm o Nimiththakarana
(causa predeterminada) ou a causa Nimiththa (eficiente). Portanto,
este somente Universo pode ser resultado de uma Inteligncia Su-
UPANISHAD VAHINI
30
prema, uma inteligncia que abrangente, um Sarvajna43. O Cu
o estgio mais elevado atingvel atravs do Karma. Desses Karmas
ou rituais, a adorao ao Fogo, chamada Agnihotra, o mais impor-
tante. A realizao de tais rituais contribui para a limpeza da mente.
Tal limpeza uma necessidade preliminar para o Paravidya. As cha-
mas altas que crepitam do altar sacrificial do fogo fazem parecer,
para o realizador do ritual, que elas o esto chamando para realizar
a Realidade ou Brahman. Aquele que realiza o ritual com plena cons-
cincia do significado do Mantra capaz de alcanar o Esplendor
Solar atravs das ofertas realizadas. Essas ofertas o levam regio
de Indra, o Senhor dos Deuses.
Os Vedas recomendam dois tipos obrigatrios de Karmas: Ishta44
e Poortha.45 Os rituais como o Agnihotra, a adeso Verdade, os
Tapas ou ascetismo, o Veda-adhyayanam ou o estudo dos Vedas, o
servio oferecido aos hspedes em sua casa todos estes so Ishta.
A construo de templos, hospedarias, casas de repouso, depsitos,
plantio de rvores nas avenidas tais atos so Poortha. Todas essas
aes so benficas, porm todas essas correntes de causa e efeito
so transitrias, fundamentalmente incompletas.
Toda a Criao limitada por nomes e formas e, portanto, toda
ela irreal. Pode ser descrita por palavras, sendo limitada e cir-
cunscrita pelo intelecto e pela mente. Somente o Paramapurusha, a
Personalidade Suprema, eterna, real e pura. Ele o incitador das
atividades e o distribuidor das conseqncias. Porm, est alm
dos olhos, alm do intelecto. Como os raios da roda de uma bici-
43. Onisciente.
44. Em snscrito: Bem-amado, querido, desejado.
45. Em snscrito: Escassez, insuficincia, pobreza.
UPANISHAD VAHINI
31
cleta que se irradiam do centro ligando todas as direes ao eixo,
toda a Criao irradia Dele.
Para se alcanar o centro do eixo da roda e conhecer todos os
raios que se irradiam dele, a mente o instrumento. Brahman, o alvo,
deve ser atingido pela flecha da mente. Mantendo a mente fixa no
alvo e utilizando os ensinamentos das Upanishads como arco, atire
firme em direo ao alvo para atingir Brahman, o Mestre. Isso quer
dizer que o Pranava ou o OM a flecha, Brahman o alvo.
Brahman ilumina o Jivi por meio do Seu reflexo na conscincia inter-
na ou Anthahkarana. Deve-se apenas levar essa conscincia para fora
do mundo objetivo, cujo contato contamina a mente. Agora, treine a
conscincia interior para meditar no OM, com ateno concentrada.
Medite no Atma como no afetado pelo Jivi, embora esteja nele, com
ele e fazendo-o funcionar. Medite sobre Ele no seu corao, do qual
se irradiam incontveis nadis, nervos sutis, em todas as direes. Se
este processo for seguido, atinge-se Jnana ou Sabedoria.
O Universo um instrumento para revelar a majestade de Deus.
O firmamento interno no corao do homem igualmente uma re-
velao da Sua Glria. Ele a Respirao de sua respirao. Visto
que no possui uma forma especfica, no pode ser indicado por
palavras. Nem Seu mistrio pode ser penetrado pelos outros sen-
tidos. Ele est alm do alcance do ascetismo, alm dos limites dos
rituais Vdicos. Pode ser conhecido somente por um intelecto do
qual tenha sido retirado todo o trao de apego e dio, de egosmo
e do sentido de posse.
Somente Jnana pode garantir a auto-realizao. A Meditao
(Dhyana) pode conferir a concentrao das faculdades do ser. Por
meio dessa concentrao, Jnana pode ser alcanada, mesmo en-
UPANISHAD VAHINI
32
quanto estiver no corpo. Brahman ativa o corpo por meio dos cinco
ares vitais ou Pranas. Concorda em revelar-Se nesse mesmo corpo
assim que a conscincia interna atinge a pureza necessria. Pois o
Atma est imanente nos sentidos internos e externos como o calor no
combustvel e a manteiga no leite. A conscincia como um combus-
tvel adulterado, absorvida pela impureza dos desejos sensrios e dos
desapontamentos. Quando o lago do corao fica limpo de sua cama-
da lodosa, o Atma brilha em seu puro esplendor. Aquele que adquire
o conhecimento deste Atma deve ser reverenciado, pois est liberto.
Tornou-se Brahman, aquele pelo qual lutou para conhecer e ser.
V- MANDUKYOPANISHAD
Esta Upanishad o mago da Vedanta. a mais profunda dentre
todas as Upanishads. tambm a mais importante de todas, pos-
suindo a distino de ser recomendada como, por si s, suficiente
para conduzir o homem salvao. muito breve, consistindo numa
dzia de Mantras! Eles esto divididos em quatro sees: Agama,
Vaithathya, Adwaita e Alathashanti. No Agamaprakarana exposta
a doutrina secreta do Pranava, que a chave para a auto-realizao.
No segundo Prakarana discute-se e refuta-se a doutrina do Dualis-
mo, o grande obstculo para a libertao. No terceiro apresentado
o Adwaita ou a Unidade no-dual. O ltimo Prakarana descreve cer-
tas doutrinas no-vdicas mutuamente contraditrias e as rejeita.
Nenhum som est fora do alcance do OM; todos os sons so
permutaes e produtos do OM. Brahman tambm OM, iden-
tificado por Ele e com Ele. O Brahman, que est alm da Viso,
manifesta-se para a viso como Atma.
UPANISHAD VAHINI
33
As distines de Viswa, Taijasa e Prajna, so apenas aparncias im-
postas pelo Atma, o que quer dizer que o Atma continua o mesmo,
inalterado pelos estados de viglia, sonho e sono profundo da existn-
cia humana. Este Atma, e o Atma ao qual a pessoa se refere como
Eu, so o mesmo ser. O Eu ou o Atma nadam como um peixe no
rio, sem prestar ateno nessa margem ou naquela, apesar das guas
serem limitadas e guiadas por elas. No sono profundo todos os vasa-
nas ou impulsos esto suspensos e, apesar de ainda persistirem, no
esto manifestos ou ativos. No sonho, o homem segue os impulsos e
se satisfaz com o processo. Todas as mltiplas influncias e atraes
do mundo dos sentidos, que empurram o homem em direo aos ob-
jetos sua volta, nascem durante os estgios de viglia e de sonho. A
mente est cheia de agitaes e essas so os campos frteis onde os
vasanas crescem, multiplicam-se e criam razes. Na verdade, a mente
agitada que causa a Criao, que est por detrs de toda Srishti.
Existe, todavia, um quarto estgio distinto desses trs: chamado
Thuriya! Esse estgio no pode ser descrito por palavras ou mes-
mo imaginado pela mente, pois est alm do Intelecto (Buddhi) e
da Mente (Manas). A experincia desse estgio inadequadamente
descrita como Paz (Shanti), Graa (Sivam), Unicidade (Adwaita).
tudo isso. Paz. Graa. Unicidade. As agitaes mentais so pa-
ralisadas e no existe mais mente. O estgio Amanaska a conquista
da mente, a sua negao. Que vitria ele significa! Pois no sono
profundo a Mente est latente; no sonho, est inquieta e agitada; no
estado desperto est ativa e motivada. Em todos esses trs estgios a
Verdade permanece desconhecida. O mundo objetivo nada mais
que uma iluso da mente agitada, a sobreposio de uma cobra ine-
xistente sobre uma corda. O mundo no nasce, nem morre. Ele nas-
UPANISHAD VAHINI
34
ce quando voc ignorante; ele morre quando voc se torna sbio.
O AUM do Omkara, representando os aspectos Viswa, Taijasa e
Prajna dos estgios de viglia, sonho e sono profundo da existncia
teem, cada um, um papel particular a desempenhar no Sadhana (Dis-
ciplina espiritual). A Upasana, onde o A mais enfatizado, produz
a realizao de todos os desejos. Se a concentrao for sobre o U,
ento o Jnana aumenta, e se o M for especialmente adorado na Upa-
sana, a unio final da Alma com o Supremo realizada. Upasaka
do AUM (Pranava) tambm ganharo conhecimento da Verdade do
mundo e da Criao. Por isso, Upasaka do Pranava atrai para si mes-
mo a reverncia a tudo.
O A, U e o M derivam um do outro no Pranava e, finalmente, unem-
se num A-Mantra, uma ressonncia sem letras que se dilui at o siln-
cio. Esse o smbolo de Shanti, de Sivam e de Adwaita, a juno da
alma individual com a Universal, aps o desprendimento dos limites
particulares dos nomes e das formas. Isto no tudo. Os Karikas 24-29
desta Upanishad louvam o Pranava como a causa da Criao. ele
exaltado como a extino de toda a dor. Por qu? Porque aquele que
medita no OM, sempre consciente de seu significado, pode mover-se
firmemente em direo a uma Percepo do Real por detrs de todas
estas irreais Aparncias, ao prprio Paramatmtattwa .
Na primeira seo, a unidade especial ( Adwaitica) do Atma esta-
belecida de uma forma geral. Na segunda, como foi dito, o posicio-
namento de duas entidades, Deus e o mundo, apresentado como
um erro, algo impermanente. Na seo chamada especificamente de
Adwaita, a doutrina estabelecida por meio de argumentos e afirma-
es. No principio, o mundo era latente e imanifesto. Brahma seria
Ele prprio um efeito e, portanto, o reflexo no efeito no conduzir
UPANISHAD VAHINI
35
o homem at a fonte de todas as coisas. O Brahma revelado nesta
Upanishad no o Efeito, mas sim a Causa Primeira. Ele no nascido,
nem limitado, no estando dividido em todos esses muitos.
O Atma como o Akasa ou ter e permeia tudo. Pode parecer
contido em certos limites, como um pote ou um quarto e pode ser
tido como individualizado. Mas esta limitao no verdadeira. O
corpo tambm como o pote que, para todas as aparncias, limita
o cu que est refletido nele. No existe nenhuma distino bsica
entre o cu dentro do pote e o cu fora dele. Retire esse fator limi-
tador e eles sero Um. Quando o corpo destrudo, o Jivi funde-se
no Universal ou no Paramatma. a limitao que parece qualificar o
Atma de forma diferente do prprio Paramatma. O Jivi nunca deve
ser considerado um membro ou um avayava, uma adaptao ou
Mutao (Vikara) do Paramatma.
O nascimento e a morte do Jivi, como ser errante no espao de
um Mundo (Loka) para outro, totalmente irreal. aparncia, no
realidade. Mergulhe profundamente na questo e ver que Dwaita
no oposto ao Adwaita. A oposio est entre as diversas religies
Dwaitas e as diversas escolas de pensamento. Para um Adwaita,
tudo Parabrahman e, portanto, ele desconhece o antagonismo.
Para o Dwaita, sempre existe a atmosfera de apego, orgulho e dio,
pois onde existem dois, existe sempre medo e apego e todas as con-
seqentes paixes. Adwaita a Mais Alta Verdade, Dwaita certa
atitude mental. Assim, o dualismo pode mov-lo somente enquanto
a mente estiver ativa. No estado de sono ou em Meditao Profunda
(Samadhi) no existe o conhecimento de Dois. Quando prevalece
Avidya, a diferena excessiva. Quando Vidya estabelecida, a
Unidade vivenciada. Ento, no existe mais antagonismo ou dis-
UPANISHAD VAHINI
36
cusso entre Dwaita ou Adwaita. A corda a Causa de toda a iluso
e desiluso, Brahman a Causa de toda esta Iluso e Desiluso de-
signada pela palavra Mundo ou Jagat.
No correto dizer que Paramatma nasce como Jagat, pois como
pode ser mudada uma de suas qualidades essenciais, Svabhava (Es-
sncia natural, Realidade, Verdade)? A multiplicidade no carac-
terstica de Paramatmatatwa. Os Sruthis46 declaram isto em vrios
contextos. Eles at condenam aqueles que O vem como vrios. A
Testemunha de todas as fases da mente, at mesmo de sua aniquila-
o, jamais ser conhecida pela Mente. Somente essa Testemunha
eterna, no afetada pelo Tempo e pelo Espao. Essa Testemunha
Atmachaitanya, Sathyam ( a Verdade). O resto irreal.
Volte a sua mente para longe do mundo sensrio, pela prtica do
discernimento e do desapego. Ento, voc atingir A-manobhava,
a experincia da no-mente. Bem, voc deve se lembrar de outra
coisa: tentar o controle da mente, sem um claro entendimento da
natureza do mundo dos sentidos um esforo vo e intil. O apego
no terminar e as agitaes no cessaro to facilmente.
Eles brotaro rapidamente na primeira oportunidade. O que deve
ser feito passar a inatividade da mente durante o estgio do sono
profundo para um estgio de inefetividade permanente. Quando a
convico de que todas as experincias dos sentidos so irreais fi-
car bem e completamente estabilizada, a mente no mais ser um
instrumento de perturbao. Ficar sem foras, como um membro
morto. Por mais faminto que um homem possa estar, ele certamen-
te no ansioso por excrementos, no ?
46. Escrituras Sagradas.
UPANISHAD VAHINI
37
Saber que o Atma, que a meta da realizao, isento de sono,
nascimento, nome, forma e assim por diante, saber que Ele eter-
namente auto-efulgente, Nithyaswayamprakasa, transcender todos
os Vikaras ou agitaes da Mente. Tentar refrear a mente sem a
ajuda do discernimento ou fazer saber ao homem a irrealidade dos
objetos dos sentidos (Vishaya) sem o adequado preparo interno
como tentar esvaziar o oceano com uma folha de capim. tolice e
no produz resultado. Permanea firmemente fixado na convico
de que o mundo um mito e ento poder aspirar por Prasanthi e
Abhaya, a Paz Suprema e o Destemor.
Como existe uma fora motivadora por trs de todo nascimento ou
produto, deve haver um propsito, seja a Existncia Absoluta (Sat) ou
Mundo Ilusrio (A-sat), ou Sat-asat , no ? Qual exatamente a trans-
formao que ocorre? Segundo certa concepo, a Causa ou Karana
sofre uma mudana ou vikara e transforma-se em objeto fsico, matria
(karya). Todavia, Sat no possui vikara, por isso nenhum nascimento
possvel a partir de Sat. Asathya vazio e nada pode emanar dele.
Sat e A-sat so inconcebveis juntos. Portanto, logicamente, nada pode
nascer ou ser produzido. Karana no pode tornar-se karya.
Quando voc se lembra do fogo, no sente o calor. Apenas
quando aproxima suas mos dele que o sente. Assim tambm
todos os objetos so diferentes da Jnana - Sabedoria acerca deles.
O Conhecimento uma coisa, a experincia real outra. Alm do
mais, a busca pela Causa Primeira uma aventura sem fim, pois,
mesmo na completa ausncia da cobra, algum pode v-la na
corda. apenas uma inveno da imaginao. Nos sonhos, onde
nada concreto, passa-se por todos os prazeres e tristezas da
multiplicidade. Nenhuma base ou explanao necessria para
UPANISHAD VAHINI
38
as maquinaes e inferncias da mente. As concluses irrespon-
sveis acerca do mundo irreal atormentaro a mente enquanto a
iluminao da Verdade for ausente. Abraar a Iluso o fardo
dos que so esmagados por Avidya e/ou Ajnana.
Esta Upanishad declarou, de forma inequvoca, que Sat nunca po-
der ser a Causa para Karya, isto , Asat. O mundo externo criado
pelo nosso prprio chitta (pensamento) como a fumaa emanando
de uma vareta de incenso acesa. Tudo aparncia, Adhyasa (a so-
breposio de uma coisa sobre a outra), Abhasa, algo tomado erro-
neamente como estando l, mas realmente inexistente. A atmosfera
de Ajnana o campo frtil para o seu nascimento e multiplicao. O
ciclo de nascimentos e mortes (Samsara), que possui a caracterstica
dual da evoluo, de origem e destruio, o fruto deste engano.
Uma vez que Paramatma Sarvatmaswarupa (a encarnao de
todos os atmas), no possvel que surja nele Causa-Efeito, Desejo-
Satisfao ou Propsito-Produto. Para aquele que tem a viso do
Atma, tudo Atma. A semente infectada de maya germinar na rvo-
re infectada de maya: ambas so falsas e efmeras. Assim tambm
o nascimento e a morte do Jivi so ambos falsos. So meras pala-
vras, no significam nada. O que visto nos sonhos no distinto
do sonhador. Pode parecer diferente e fora do sonhador, mas, na
realidade, parte do sonhador, surgindo da sua prpria conscin-
cia. Aquele que a testemunha no tem comeo ou fim. No est
preso aos deveres e obrigaes, ao certo ou errado. Saber disto, e
ficar firme nesse conhecimento, atingir a libertao dos grilhes.
o tremular de Chiththa que origina as coisas. Chittaspandana a
causa de Uthpaththi.
UPANISHAD VAHINI
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VI BRIHADARANYAKOPANISHAD
O Brihadaranyakopanishad est anexado ao Sukla Yajur Veda. Possui
seis sees, das quais todas, exceto a terceira e a quarta, descrevem
Upasana ou Adorao associada ao Karma ou Aes Ritualsticas. A ter-
ceira e a quarta sees tratam dos ensinamentos de Yajnavalkya sobre
as Verdades Espirituais transmitidas a Janaka47. A grandeza da superio-
ridade intelectual desse sbio impressionantemente evidente nessa
Upanishad. Para os aspirantes ansiosos por alcanar o objetivo final da
Libertao, esta parte do Brihadaaranya oferece a melhor orientao.
Assim sendo, as sees so designadas Yajnavalkya Kanda (Caminho
de Yajnavalkya). a ltima das famosas dez Upanishads. Por causa do
seu tamanho, chamada Brihath ou Grande. Uma vez que mais bem
estudada no silncio da floresta ou Aranya um Aranyaka. Como instrui
acerca de Brahma janana, classificada como uma Upanishad.
Os eruditos tm designado as primeiras duas sees desse Tex-
to como Madhura-kanda, as duas seguintes como Muni-Kanda e as
duas ltimas como Khila-kanda. Khila significa apndice, portanto o
nome apropriado. A primeira seo trata dos princpios bsicos,
como eles se apresentam. A segunda seo prova as suas verdades
referindo-se s experincias recebidas. A terceira seo mostra como
praticar essas verdades e alcanar o domnio sobre elas. A primeira
47. Rei do reino Mithila. mencionado no Ramayana como pai de Sita, esposa
de Rama. Janaka no era apenas um bravo rei, mas tambm era bem-versado nos
Shastras e nos Vedas como qualquer rishi. Foi o amado pupilo de Yaajnavalkya,
cuja exposio de Brahman ao rei constitui-se em um captulo da Brihadaranyaka
Upanishad. Na Bhagavad Gita, Sri Krishna cita Janaka como um ilustre exemplo
do Karma Yoga.
UPANISHAD VAHINI
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seo ensina o Jnana, que essencial para o progresso espiritual e
est relacionado aos caminhos do Karma e Upasana. Essa seo no
apenas uma mera e rida disciplina puramente intelectual.
Para aqueles ansiosos em obter Jnana, existem quatro instrumentos
ou meios para se adquirir essa sabedoria. So eles: Pada, Bija, Sankhya
e Rekha. Pada significa os Vedas e os Smrithis que tentam explic-los.
Bija representa a gama inteira de mantras aprendida diretamente do
Guru. O Sankhya de dois tipos: Vaidika e Loukika. Vaidika-Sankhya
significa os clculos e as anlises quantitativas dos vrios mantras.
Loukika-sankhya refere-se aos nmeros e suas correlaes no que diz
respeito s suas relaes com o mundo externo e as inter-relaes das
atividades humanas. O Rekha tambm possui duas dessas categorias:
o Vaidika-Rekha que a parte da atividade Upasana mencionada nos
Vedas e o Loukika-Rekha, a parte da Matemtica do Universo.
O Madhura-Kanda descreve Brahmatatwa, ou o Princpio de Brah-
ma, luz das categorias aceitas como detentoras de autoridade de
acordo com as Escrituras. O Purusha o Indivduo Primevo, de quem
e em quem todas estas multiplicidades de nomes e formas emanaram.
Ns concebemos o Cavalo no Aswamedha (Ritual do Cavalo) como
o prprio Prajapathi (Senhor da Criao). Ele conduzido para impor
ao cavalo as caractersticas e atributos de Prajapathi, de forma que
possa obter os frutos desse ritual. Essa parte do ritual conhecida
como Aswa-Brahmana. Novamente o Fogo, que a figura central no
sacrifcio, deve tambm ser sentido e consagrado como Prajapathi, e
existem descries que atribuem as qualidades de Prajapathi ao Fogo
(Agni). Por isso este ritual chamado Agni-brahmana.
Este Jagat48, tomado como verdadeiro pelos iludidos, apenas
uma mistura de Nomes e Formas destitudas da permanncia que
48. A mudana, o mundo em mutao.
UPANISHAD VAHINI
41
somente o Atma pode ter. Assim , ele produz desgosto e descon-
tentamento e causa a renncia ao crescimento. A mente fica pron-
tamente livre dos apegos aos objetos do prazer sensrio e, atravs
de sua tendncia natural, move-se em direo ao prprio Brahman.
Todos os sons so nomes: vak ou voz a causa de seu surgimento .
Rupa ou Forma o resultado da viso ou do olhar. Emerge do olho.
Similarmente, o Karma possui o corpo como sua fonte, sendo o cor-
po apenas um contexto para vak e outros instrumentos se manifes-
tarem. A contemplao dessas verdades ajuda o processo do atma
vichara (a investigao sobre a natureza do atma) a progredir.
O Prana ou Ar Vital; o Corpo (Sarira) que a sua base, o Siras
(cabea), que a sede dos instrumentos para aquisio do conhe-
cimento; a fora que derivada do alimento todos estes assuntos
so considerados nesta Upanishad.
Assim como a doura de mil flores est concentrada no mel, este
Jagat uma concatenao dos elementos. Dharma, Sathya e outros
princpios abstratos, o homem e outros seres vivos concretos, o
Virat-Purusha e suas concepes novamente, todos so os efei-
tos do mesmo Brahmatatwa, isto , um Tatwa (princpio) imortal e
imutvel. A compreenso de que o Tatwa que inerente a todo
indivduo chamada de Brahma-Jnana.
Janaka, o Rei de Videha, celebrou um Sacrifcio doando imensas ri-
quezas em presentes. Vrios Brmanes assistiram esse Yaga49 no ter-
ritrio de Kuru-Panchala. O rei possua milhares de vacas decoradas
com tornozeleiras, colares e adornos de chifre, todos de ouro. Ele
anunciou que elas seriam doadas a qualquer um que lhe ensinasse
o Brahman. Muitos Brmanes, apesar de grandes eruditos em suas
49. O mesmo que yajna, sacrifcio.
UPANISHAD VAHINI
42
prprias linhas de pensamento, hesitaram em reivindicar as vacas
com medo do fracasso. Mas Yajnavalkya estava to confiante que
pediu aos seus alunos para conduzir as vacas para o seu Ashram! Os
outros Brmanes ficaram enfurecidos com a sua audcia e comea-
ram a testar a sua erudio e experincia.
O primeiro a se apresentar para desafiar Yajnavalkya foi o sacerdote
da famlia de Janaka. A resposta que o sbio deu sua pergunta escla-
receu o mtodo de alcanar o Atma encapsulado nos pranas atravs
da associao de karma yoga com bhakthi yoga. No Yajna50, a voz de
Rithwik51 Agni, Kala52 Vayu,53 a Mente do realizador Chandra54
essa a maneira pela qual se pode alcanar o significado do ritual e
libertar-se, por si mesmo, das limitaes da mortalidade.
O prximo a interpelar o sbio foi Bujyu. Suas perguntas foram:
existe alguma Entidade chamada Purusha (Imanncia do Divino no
Homem) que governada pelos sentidos e est enredada nesta cor-
rente chamada Samsara? Ou no existe um Purusha deste tipo? Se
existir tal Purusha, quais so as suas caractersticas?
Yajnavalkya respondeu: O seu Atma a Entidade sobre a qual
voc perguntou. Assim como um instrumento de madeira no pode
trabalhar por si mesmo, mas precisa ser movido por um poder ex-
terno ou uma fora interna, ou como este brao somente pode ser
50. um ritual de sacrifcio realizado para agradar aos Devas ou, s vezes, Brah-
man, o Esprito Supremo. Envolve oferendas ao divino Agni, o fogo sacrificial.
Acredita-se que tudo o que oferecido no divino Agni alcana os Devas.
51. Sacerdote.
52. O deus do tempo.
53. O deus do vento.
54. O deus da lua.
UPANISHAD VAHINI
43
movido desse modo quando a vontade trabalha sobre ele, assim
tambm, sem a presidncia de um poder super-espiritual, o corpo
no pode atuar, nem os ares vitais podem funcionar. Ele aquele
que v atravs da funo de olhar. Ele quem escuta, no o ouvido.
Esse Chethana ou Superconscincia que v, ouve e sente no passa
de um reflexo do Atma na mente. Esse Chethana v at mesmo
Aquele que v. O que acontece que o Chethana refletido na men-
te move-se para fora atravs dos sentidos e agarra o mundo externo
dos cinco elementos e assim, parece que ele - o Chethana - est
engajado na atividade. Na verdade, ele no tem atividade.
Esse Chethana o Atma. Est alm do alcance dos sentidos, acima
e alm dos Sariras (corpos)sutil e causal. Tem sido entendido pela
experincia que o Atma alcanado atravs da renncia total. O
apego a filhos, riquezas, esposas, etc. tudo isso deve ser abando-
nado. Estes apegos originam-se do Kama, Desejo, porque todas as
atividades, sejam comuns, rituais ou de venerao, so basicamente
produtos de Kama. O desejo pelo fruto tambm est presente no
Karma-sadhana. No se pode negar isso.Portanto, essas aes esto
em oposio verdadeira renncia (Sanyas).
A luz e a sombra no podem estar juntas no mesmo tempo e lugar.
Assim tambm a Atividade-Karma e Atma-Jnana (sabedoria do Atma)
no podem estar juntas. Sanyas Sarvakriya-parithyaga (renncia a
todas as atividades). Mendigar comida Karma e portanto, contra
Sanyas. Os Brmanes da antiguidade sabiam disso. Eles se libertaram
do apego e, atravs do caminho do Nivritti ou fuso, alcanaram a
Realizao(ou Iluminao). Somente um Brmane aquele que se
desligou de todas as coisas no concernentes ao propsito tmico.
Todas as demais credenciais so secundrias.
UPANISHAD VAHINI
44
Nesta Upanishad descrito o Sarvantharyamithwa do Atma (o Prin-
cpio Atmico que habita em todos os seres). Toda esta terra torna-se
habitvel pela associao com a gua pois, em caso contrrio ela
seria pulverizada como um monte de farinha de arroz. Gargi pergun-
tou a Yajnavalkya sobre em que se baseia a Terra. Esta pergunta e a
resposta apresentada nos informaram que essa Terra, gua, Akasa,
Surya, Chandra, Nakshatra, Deva, Indra, Prajapathi, Brahma-loka
tudo isso, foi tecido, um aps o outro, a partir do Paramathmatha-
thwa, que a urdidura e a trama, a vestimenta da Criao. Tais ver-
dades esto alm do alcance da imaginao do homem. Elas devem
ser assimiladas dos Sastras, atravs de um intelecto esclarecido.
Yajnavalkya refutou os argumentos de Gargi, pois suas questes
no poderiam ser resolvidas por meio de meras faanhas intelectu-
ais, mas somente pela intuio obtida da orientao de um Guru.
A Terra permeada e protegida por Vayu, ou ar. O Universal in-
dividualizado, de acordo com as impresses das experincias em
vidas anteriores, associado aos cinco Karmendriyas (rgos pelos
quais agimos no mundo: mos, ps genitlia, nus e boca), aos cinco
Jnanendriyas (os cinco rgos dos sentidos), aos cinco Pranas (ares
que sustentam o corpo), Manas (mente) e Buddhi (intelecto) so
dezessete instrumentos ao todo. O corpo concreto um Vikara ou
uma mutao da Terra e est permeado por Vayu ou ar. Existem
quarenta e nove partculas de terra ou angas que podem ser identi-
ficadas no corpo e, como um cordo que mantm as prolas juntas,
o ar mantm essas partculas unidas como um todo coordenado.
Quando o ar deixa o corpo definitivamente, os angas ficam dis-
sociados e dispersos. O corpo, ento, torna-se um cadver. Existe
porm um Antharyami, um esprito imanente no domiclio do com-
UPANISHAD VAHINI
45
plexo corporal, o mistrio que est alm do alcance desse complexo,
a fora motivadora dos impulsos e intenes desse complexo; esse
Antharyami no morre; o Atma.
Gargi colocou sua segunda pergunta, aps a devida permisso da
assemblia, pois no corts proferir questes sem tal aviso a todos
os participantes. Sua pergunta foi: onde se apia a Essncia Inte-
rior o Atma no Passado, no Presente e no Futuro, neste Mundo
Dual? A inteno de Gargi era causar embarao a Yajnavalkya, pois
ele seria forado a admitir que a Entidade atemporal est alm das
palavras e de nenhuma forma pode ser descrita. Isto ainda mostrou
que Gargi tambm era versada em Brahmajnana e, portanto, pode-se
inferir que no campo de Brahmavidya no h lugar para distines
baseadas no sexo.
Os Brahmavids ou mestres da sabedoria bramnica declaram que
Parabrahma imanente no Akasa (espao, ter) imanifesto disse Ya-
jnavalkya, escapando assim da situao constrangedora em que Gar-
gi queria coloc-lo. E descreveu a natureza do Indestrutvel Akshara
(Imperecvel) dessa forma: no possui espessura, no sofre qualquer
mudana sutil ou similar; no possui qualificaes materiais como cor,
cheiro, forma, etc. No h medidas para compreend-Lo. O Tempo
apenas a execuo da Sua Vontade. Por que desenvolver mais ra-
ciocnio a respeito? O Sol e todos os cinco elementos cumprem a
Sua Vontade. Gargi, ento, pediu aos Brmanes ali reunidos em as-
semblia para se curvarem diante de Yajnavalkya e reconhecerem sua
supremacia. Isso evitou quaisquer questionamentos posteriores.
O Atma Efulgente, assim como o Sol, por sua verdadeira na-
tureza. As pessoas dizem que vem o Atma ou Seu esplendor.
Mas no existe v-Lo. Uma vez que no h um segundo ser, nada
UPANISHAD VAHINI
46
pode estar fora dEle. Ele no nem visto, nem pode ver. No possui
rgos de viso ou olfato nem quaisquer partes as quais, quando
coordenadas, possam realizar qualquer funo.
Da menor alegria mais elevada Brahmananda (Bem-aventurana
de Brahma), cada degrau um acrscimo de sensibilidade. Palavras
como Paramananda (elevada felicidade) indicam apenas estgios de
Ananda (Bem-aventurana). Em verdade, todos os tipos de Ananda
derivam da fonte primria bsica de Bramananda. Yajnavalkya expli-
cou tudo isto a Janaka, pois obteve grande deleite ao instruir o Rei
com tudo o que conhecia.
Como uma rvore germinando de uma minscula semente, o cor-
po cresce, e a semente na fruta torna-se uma outra rvore. Quando
o corpo, como uma fruta madura, cai no cho, o Vak (palavra, boca)
e outros Indriyas (rgos sensoriais) tambm seguem o mesmo des-
tino. A respirao tambm segue seu prprio caminho. Somente o
Atma no afetado, seja de um modo ou de outro. Ele se mantm
como sempre: impassvel, imvel.
Atravs de aes pecaminosas, colhe-se o pecado, atravs das me-
ritrias, o mrito, assim as ms aes (papa) e as boas aes (punya)
se acumulam. Elas produzem os impulsos para um novo corpo, como
a fora motriz primria do Sarira (corpo perecvel). O Atma deixa o
antigo corpo com sua viso dirigida para o novo corpo a ocupar,
como o gafanhoto que fixa suas patas dianteiras num lugar enquanto
levanta suas patas traseiras da posio anterior. O Atmajnani, toda-
via, no possui impulsos para as atividades do corpo e o Atma, no
seu caso, no incomodado de forma alguma por um novo corpo.
O Jnanamarga (caminho da sabedoria espiritual) o caminho para o
Brahmavid, o conhecedor de Brahma.
UPANISHAD VAHINI
47
Os entusiastas do Karma so levados a Thapas (penitncias), o At-
majnani escapou do Kama ou desejo e, portanto, sua mente desco-
nhece a angstia, a agonia ou o anseio, que a marca do Thapas. Ele
Viswakartha o verdadeiro artista que seguiu a Viswa ou Criao.
Aquele que atingiu a viso de Brahmanidade nada mais tem a alcan-
ar ou realizar, a guardar ou procurar.
A instruo que Yajnavalkya fornece nesta Upanishad a Maithreyi,
sua consorte, revela-nos claramente o Atmajnana que recebido
aps o estudo dos Sastras, tendo Tarka (Lgica)55 como companhia
constante. A instruo tambm descreve os princpios da renncia
(Sanyas), que o instrumento para obter esse Jnana. O mundo sen-
srio inteiro e tambm os sentidos tm de ser equiparados apenas
com a realidade de um sonho. No existe utilidade em persegui-los
considerando-os como definitivos e de valor.
Somente o Atma deve ser amado. Todas as outras coisas so ama-
das atravs do amor a Atma. Quando o Atma entendido, tudo o
mais entendido. Todos os efeitos esto subordinadas Causa. O
oceano o objetivo de todas as guas; assim tambm, todos os
gostos encontram seu objetivo na lngua; todas as formas realizam-
se nos olhos; todos os sons so para os ouvidos; todas as resolues
tm a mente como seu objetivo. Isso quer dizer que o Jagath inteiro
funde-se em Brahman.
Em sua resposta a Bhujyu, Yajnavalkya revela o seu conhecimento
do processo de evoluo do Universo, o Brahmanda-nirmana. Em
sua resposta s duas questes de Gargi, revela e instrui acerca da for-
ma divina (Swarupa) de Brahman que perceptvel (Aparoksha). No
55. N.R. = no original est escrito : Sastras, tendo a Tarka ( Lgica) como compan-
hia constante.
UPANISHAD VAHINI
48
Sakalyabrahmana, o sbio pasmou a todos com sua erudio sobre
os mistrios espirituais. Obteve a vitria no Saguo de Janaka como o
mais sbio da terra. Santificou o lugar com seus ensinamentos. Enfren-
tou os duros testes do desonesto Bhujyu e testes mais duros da vida
inquiridora, Gargi, com igual equanimidade e destreza. Foi aclama-
do como a jia da coroa dos eruditos. Claro, ele mesmo reconhecia
a grandeza onde quer que a encontrasse. Era generoso o suficiente
para reconhecer a grandeza daqueles que tinham sido os instrutores
de Janaka at aquele momento. Finalmente, sentiu que nada mais ti-
nha a ensinar ou a ganhar e ento tornou-se um monge. Entendendo
que Maitreyi, sua consorte, estava tambm desejosa de atingir a Re-
alizao, instruiu-a em Brahma-Jnana, uma vez que, naqueles dias, as
mulheres eram consideradas igualmente aptas para praticar o Jnana-
marga (caminho da sabedoria), que conduz Libertao.
Contemple isso e atinja o estgio Thuriya (estgio alm do samadhi,
Super Conscincia)de conscincia. Ento, o nome (nama), a forma
(rupa), o objeto (vasthu) e o sentimento (bhava), todos se fundiro
no Todo-penetrante e Todo-inclusivo Atma.
Essa Upanishad ensina a filosofia essencial nos seus termos mais
sintticos. Ela no se refere, de modo algum ao Karma e outros as-
suntos similares. Ocupa-se puramente da Cincia do Atmatatwa.
VII - PRASNOPANISHAD
Prasnopanishad um anexo do Atharvana Veda. assim chamado por
estar em forma de perguntas (Prasna) e respostas. Desse modo discute-se
com mais detalhes alguns tpicos tratados com brevidade na Mundakopa-
nishad. Esta Upanishad tornou-se um comentrio da Mundakopanishad.
UPANISHAD VAHINI
49
Por exemplo, a Mundaka diz que Vidya de dois tipos: Para e Apa-
ra; e que Apara Vidya de dois tipos: Karma e Upasana. Desses, a
segunda e terceira Prasnas nesta Upanishad tratam de Upasana. Uma
vez que a disciplina do Karma coberta na ntegra no Karma kanda
(caminho da ao), ela no desenvolvida aqui. Quando tanto, o
Karma como o Upasana so praticados, independentemente dos seus
frutos, eles promovem a renncia e o desapego. Esta a concluso a
que se chega na primeira Prasna. Desse modo, se o Prasnopanishad
for estudado aps o Mundaka, o assunto torna-se mais claro.
Das duas entidades, Parabrahma (Deus, Super-alma Universal) e A-
parabrahma (o eu inferior no relacionado com a Super-alma), o A-
parabrahma incapaz de conferir as Purusha-arthas (metas da vida),
que so de valor permanente. Ao compreender isto e vidos para
atingir o Eterno Parabrahma, os aspirantes aproximam-se do Professor
competente, chamado Pippalada. A palavra Anveshamaanaa (busca),
utilizada aqui para significar a atitude dos discpulos e mostra que
aqueles ligados ao A-parabrahma falham em identificar o Atma como
sua prpria verdade bsica. por esta razo que eles ainda o procu-
ram em algum lugar fora da verdade do seu ser! O eterno princpio
nico de Parabrahma pode ser conhecido somente por meio da disci-
plina dos Sastras, conduzidos pessoalmente por um Guru ou Mestre.
Aqueles que buscam tm de se aproximar do Guru como um Sa-
mith-pani, quer dizer no simplesmente segurando o combustvel
ritualstico, o fogo do sacrifcio. Tambm implica na apresentao
de oferendas desejveis e dignas. Aqueles que buscam encontram
com Pippalada e ele lhes diz: O raro e precioso ensinamento, rela-
cionado com o mistrio fundamental do Universo e do Eu, conheci-
do como Brahmavidya, no pode ser comunicado a um no-iniciado.
UPANISHAD VAHINI
50
Os estudantes devem ser primeiro submetidos a observaes e tes-
tados durante um ano.
Quando o ano terminou , Kathyayana perguntou a Pippalada: Por
que razo os seres nascem? Esta foi a resposta do Guru: Aqueles
que desejam descendncia so Prajakamas, seu desejo basicamen-
te tornarem-se prognies para se perpetuarem. O Hiranyagarbha ,
que no separado de Para-Brahma, o Prajapathi. Hiranyagarbha,
como Prajapathi, deseja a descendncia. Ele possui traos de A-Pa-
ravidya das origens passadas vinculadas a Ele, que induzem Nele o
desejo de procriar. Esta a resposta do Guru.
Surya ou o Sol, com Seus Raios, ilumin
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