O HOMEM E A MORTE: UMA FIGURATIVIZAO DO ARQUTIPO DE ANIMA
Bruna Rampinelli FranaOrientador: Luiz Camilo Lafalce
O objetivo principal deste trabalho , a partir da anlise e interpretao do poema O homem e a Morte, de Manuel Bandeira, mostrar um modo de compreender o processo de construo e sentido da figura da Morte nesse poema, tendo como fundamento terico o pensamento junguiano acerca dos arqutipos.
visvel, na sucesso de obras do poeta, uma crescente intimidade com a dimenso da morte [...] (ROSENBAUM, 2002, p.79)
Independentemente de como concebida, a morte sempre apresentada e representada como [...] algo que no falha, que iniludvel, que apresenta um carter comum a todos [...] (ARRIGUCCI JR, 2005, p.266).
O homem j estava deitado Dentro da noite sem cor.Ia adormecendo, e nisto porta um golpe soou.No era pancada forte.Contudo, ele se assustou,Pois nela uma qualquer coisaDe pressago adivinhou.Levantou-se e junto porta- Quem bate? ele perguntou.- Sou eu, algum lhe responde.- Eu quem? torna. A Morte sou.Um vulto que bem sabiaPela mente lhe passou:Esqueleto armado de foiceQue a me lhe um dia levou.Guardou-se de abrir a porta,Antes ao leito voltou,E nele os membros geladosCobriu, hirto de pavor.Mas a porta, manso, manso,Se foi abrindo e deixouVer uma mulher ou anjo?Figura toda banhadaDe suave luz interior.A luz de quem nesta vidaTudo viu, tudo perdoou.Olhar inefvel comoDe quem ao peito o criou.Sorriso igual ao da amadaQue amara com mais amor.-Tu s a Morte? pergunta.E o Anjo torna: - A Morte sou!Venho trazer-te descansoDo viver que te humilhou.- Imaginava-te feia,- Pensava em ti com terror...s mesmo a Morte? ele insiste.- Sim, torna o Anjo, a Morte sou,Mestra que jamais engana,A tua amiga melhor.E o Anjo foi-se aproximando,A fronte do homem tocou,Com infinita douraAs magras mos lhe comps.Depois com o maior carinhoOs dois olhos lhe cerrou...Era o carinho inefvel De quem ao peito o criou.Era a doura da amadaQue amara com mais amor.
homem: no aparece especificado ou nomeado. Desprovido de qualquer caracterstica particularizadora, esse homem acaba se universalizando.
Morte: personificada e descrita por signos do feminino. a imagem de uma mulher.
O homem j estava deitado Dentro da noite sem cor.Ia adormecendo, e nisto porta um golpe soou.No era pancada forte.Contudo, ele se assustou,Pois nela uma qualquer coisaDe pressago adivinhou.Levantou-se e junto porta- Quem bate? ele perguntou.- Sou eu, algum lhe responde.-Eu quem? torna. A Morte sou
Um vulto que bem sabiaPela mente lhe passou:Esqueleto armado de foiceQue a me lhe um dia levou.Guardou-se de abrir a porta,Antes ao leito voltou,E nele os membros geladosCobriu, hirto de pavor.
Mas a porta, manso, manso,Se foi abrindo e deixouVer uma mulher ou anjo?Figura toda banhadaDe suave luz interior.A luz de quem nesta vidaTudo viu, tudo perdoou.Olhar inefvel comoDe quem ao peito o criou.Sorriso igual ao da amadaQue amara com mais amor.
-Tu s a Morte? pergunta.E o Anjo torna: - A Morte sou!Venho trazer-te descansoDo viver que te humilhou.- Imaginava-te feia,- Pensava em ti com terror...s mesmo a Morte? ele insiste.- Sim, torna o Anjo, a Morte sou,Mestra que jamais engana,A tua amiga melhor.
E o Anjo foi-se aproximando,A fronte do homem tocou,Com infinita douraAs magras mos lhe comps.Depois com o maior carinhoOs dois olhos lhe cerrou...Era o carinho inefvel De quem ao peito o criou.Era a doura da amadaQue amara com mais amor.
Surge no poema como o sentido que desperta o homem para a chegada da qualquer coisa.
Ia adormecendo, e nisto porta um golpe soou.
Contribui para que o homem se renda, aceite sua morte.
Mas a porta, manso, manso, Se foi abrindo e deixou Ver uma mulher ou um anjo? Figura toda banhada De suave luz interior.
Marca a permisso e aceitao da Morte e sela a partida da personagem.
E o Anjo foi-se aproximando, A fronte do homem tocou.
Metaforizado, alm de aparecer como um elo com o prazer que aparentemente tivera sido esquecido pela personagem e relembrado a partir da chegada do Anjo, marca o consentimento e a entrega.
Era a doura da amada Que amara com mais amor.
[...] A personificao viva de tudo quanto feminino no homem. (STEVENS, 1993, p.298). Para Emma Jung, a anima, alm de representar [...] o componente feminino da personalidade do homem [...] (2005, p.57), traduz, personifica a imagem do ser feminino que o ser masculino leva inconscientemente consigo.
Mas a porta manso manso, Se foi abrindo e deixou Ver uma mulher ou anjo?
Era o carinho inefvel De quem ao peito o criou.Era o sorriso da amadaQue amara com mais amor.
[...] todo homem traz dentro de si a imagem eterna da mulher. No propriamente a imagem desta ou daquela determinada mulher, mas uma imagem feminina definida. Esta imagem fundamentalmente inconsciente, um fator hereditrio de origem primitiva gravada no sistema orgnico vivo do homem [...] (STEVENS, 1993, p.73).
AS RELAES SINESTSICAS As mulheres e a relao com os sentidos.
Essas sensaes como agentes que potencializam e indicam a manifestao do arqutipo de anima do homem.
A imagem pode ser interpretada como a personificao de um inconsciente feminino da personagem que projetava na Morte sua anima interior. a personificao de um modelo tpico, uma imagem inconsciente que ganha vida a partir da projeo que o homem faz no poema. Essa morte identifica-se com a Grande me, mtica, que um dia deu a vida ao seu filho e agora retorna para busc-lo.
ARRIGUCCI JR. Davi. Humildade, paixo e morte. So Paulo: Companhia das Letras, 2003.ARIS, Philippe. O homem perante a morte. Portugal: Publicaes Europa-Amrica, 2000.JUNG, Emma. Animus e Anima. So Paulo: Cultrix, 2005.JUNG, Carl G; FRANZ, Marie Louise Von (colab.). O homem e seus smbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002._________. Os arqutipos e o inconsciente coletivo. Petrpolis, RJ: Vozes, 2003._________. Smbolos da transformao. Petrpolis, RJ: Vozes, 1995.KASTENBAUM, Robert; AESENBERG, Ruth. Psicologia da morte. So Paulo: Novos umbrais, 1983.ROSENBAUM, Yudith. Manuel Bandeira: Uma poesia da ausncia. So Paulo: EDUSP, 2002.STEVENS, Anthony. Jung: vida e pensamento. Rio de Janeiro: Vozes, 1993.YOUNG, Polly; TERENCE, Dawson. Manual de Cambridge para estudos junguianos. Porto Alegre: Artmed, 2002.
AGRADECIMENTOS
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