Um safári na TanzâniaLaurie Krebs
Tradução Cláudia Ribeiro Mesquita e Heitor Ferraz MelloIlustrações Julia CairnsTemas África, Viagem, Contagem, Fauna e Flora
Guia de leitura
para o professor
32 páginas
Laurie Krebs tem quatro filhos e cinco netos e vive
com o marido, Bill, nos Estados Unidos. Sempre foi
fascinada pelas palavras, mas só começou a pensar
em se tornar autora de livros infantis depois de ter
sido professora de 1ª série do ensino fundamental.
Começou então a conhecer melhor a literatura
infantil e a criar histórias com seus alunos. Como
autora, ela tem o privilégio de conciliar as coisas
de que mais gosta: tempo para escrever e contato
com as crianças, nas visitas que faz a escolas. Suas
histórias são criadas a partir de sua realidade e
experiências pessoais. Como ela e o marido gostam
muito de viajar, boa parte de seus livros se refere
a países que visitaram. Um safári na Tanzânia foi
premiado por várias instituições e traduzido para
15 idiomas. Vale a pena visitar o site da autora:
www.lauriekrebs.com.
JuLia Cairns mora nos Estados Unidos, mas viveu
nove anos em Botsuana, África, onde começou
a carreira de artista plástica. Ela já ilustrou vários
livros infantis e é muito requisitada quando o
assunto é o cotidiano africano. Os desenhos de
As panquecas de Mama Panya, publicado pela
Edições SM, são dela. A história se passa no Quênia,
país que faz fronteira com a Tanzânia. Seu trabalho
pode ser visto no site www.aptosartshoppe.com/
JuliaCairns/juliaarchive.htm.
2008
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Um safári na Tanzânia Laurie Krebs
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o livro
Safári
A palavra “safári” significa “viagem”. O termo veio do árabe
safara e chegou ao Ocidente no século XIX, por meio do swahili.
Na cultura ocidental, no entanto, “safári” não significa qual-
quer viagem, mas um passeio às savanas africanas, geralmente
com o intuito de avistar animais selvagens em seu habitat natural
e, até recentemente, caçá-los. Em decorrência das preocupações
ambientalistas e da regulamentação dentro dos países africanos,
as caçadas foram largamente substituídas pelos chamados “safá-
ris fotográficos”. No entanto, os safáris para caça ainda existem,
sobretudo em reservas privadas, e são importantes fontes de ren-
da. Assim, há uma diferença importante entre o “safári” ociden-
tal e o sentido original da palavra swahili.
O olhar ocidental neste livro se nota no propósito turístico
da viagem empreendida pelos personagens, evidenciando uma
marca da autora, que gosta de escrever histórias ambientadas em
lugares que ela conheceu em viagens pelo mundo.
Tema
Viajar e conhecer são os temas principais deste livro, por propor-
cionar ao leitor o contato com uma cultura diferente e distante.
Além disso, Um safári na Tanzânia estimula o respeito ao “ou-
tro” desde cedo. As palavras em swahili que o livro ensina são uma
ponte para a descoberta de um povo pouco conhecido, os Massai.
A oportunidade dessa aproximação é um passo rumo ao de-
senvolvimento de cidadãos mais tolerantes e abertos à diversida-
de cultural do mundo contemporâneo.
enredo e eSTruTura do TexTo
Um safári na Tanzânia narra, em forma de poesia, uma jornada
ao longo de um dia em que mulheres e crianças do povo Massai
caminham por paisagens da Tanzânia. O grupo parte pela manhã,
quando o sol está nascendo, e, até o anoitecer, avistam animais tí-
picos da fauna da região. Cada estrofe começa com o verso “Fomos
fazer um safári” e termina com a nomeação de um personagem
fazendo a contagem dos animais. A estrutura da rima é ABCB:
Fomos fazer um safári (A)
De manhã, ainda em jejum (B)
Vimos o solitário leopardo (C)
Arusha contou um (B)
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Um safári na Tanzânia Laurie Krebs
A metrificação é irregular, mas o padrão ABCB da rima é o
mesmo. Esse recurso mantém a sonoridade do texto e a cadência
dos versos ajuda as crianças a memorizar os números de um a
dez. Cada estrofe corresponde a um episódio e, na página direita,
os algarismos aparecem com destaque, favorecendo sua identi-
ficação. Abaixo deles, o número em swahili ensina a contar na
língua estrangeira.
a realidade do povo Massai
nomadiSmo
Os Massai são um dos últimos agrupamentos pastoris que
procuram manter seus costumes, entre eles os hábitos do semi-
nomadismo. Seus membros, tradicionalmente, deslocam-se de
acordo com as estações, quando a seca determina a necessidade
de comida e água. Por isso, viajam muito, embora não na con-
cepção ocidental atribuída ao “safári”. Nesse sentido, os nomes
dos personagens, os números em swahili e o título do livro estão
afinados à sua cultura.
a aldeia e oS papéiS SociaiS
As moradias dos Massai, construídas com barro, madeira,
grama e esterco, são dispostas em círculos, protegidas por uma
cerca e com um espaço no centro, onde o gado é recolhido.
Além do portão principal, cada família possui uma entrada
particular, por onde seus membros e seus animais entram e
saem da aldeia.
Na organização social desse povo, cabe às mulheres construir
as casas, cuidar das crianças, ordenhar o gado, cozinhar e buscar
água e lenha. Assim, suas tarefas muitas vezes exigem desloca-
mentos de vários quilômetros.
Os guerreiros cuidam da proteção das aldeias e do gado. Em
época de seca, os homens se encarregam do rebanho e da procu-
ra de bons pastos e de água.
As crianças têm muitas responsabilidades. Enquanto os me-
ninos se dedicam prioritariamente ao pastoreio, as meninas aju-
dam em todas as funções destinadas às mulheres.
eScola
O swahili e o inglês são as línguas oficiais da Tanzânia, que as
crianças Massai aprendem na escola. Nas aldeias, muitos conti-
nuam falando o maa, o idioma ancestral desse povo.
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Um safári na Tanzânia Laurie Krebs
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Freqüentemente, as escolas ficam muito longe e as crianças
empreendem verdadeiras viagens todos os dias. Devido ao pe-
rigo oferecido por animais selvagens e mesmo pela longa dis-
tância, a maioria só começa a estudar quando está maior. Além
disso, muitas vezes as famílias não têm como arcar com despesas
de estudo, por isso é comum jovens e adultos cursarem o ensino
fundamental. Freqüentar a escola é uma conquista importante
para uma criança Massai.
riTuaiS
A vestimenta vermelha e os adornos coloridos, representados
em cores vivas nas ilustrações do livro, identificam os integrantes
desse povo. A composição dos colares das mulheres não é aleató-
ria, variando de acordo com sua finalidade, pois geralmente são
confeccionados para os casamentos e para as danças. Em ambos
os casos, eles são uma representação da aldeia: nas pontas, contas
escuras e claras são alternadas para representar a cerca da aldeia;
as peças centrais, de formas geométricas variadas, representam
o número de habitações e os portões de entrada das moradias.
O escudo e a lança, masculinos, são os objetos mais adornados.
Uma estrela no escudo de um Massai é sinal de que ele protago-
nizou um ato de grande coragem.
Homens e mulheres usam pingentes que indicam o grupo etá-
rio à qual pertencem – isso muda cada dez anos e, então, troca-se
o pingente. Há rituais importantes na passagem de um grupo
etário para outro. Um deles, muito conhecido, é matar um leão
para adentrar a idade adulta. Por questões ecológicas, esse rito
caiu em desuso, mas resta a crença de que os leões reconhecem a
diferença entre homens caçadores e mulheres ou crianças, defen-
dendo-se dos primeiros e jamais atacando as últimas.
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Vida conTemporânea
Famosos por constituírem um povo que preza as tradições,
os Massai têm enfrentado dificuldades para manter seus hábitos
nômades. A expropriação de terras importantes para essa for-
ma de vida – e sua conseqüente transformação em propriedades
particulares – acaba privando-os de água e pasto. Grande parte
da área destinada a eles é árida ou semi-árida, forçando-os a ne-
gociar o gado para obter mantimentos ou a se mudar para as
cidades à procura de novas fontes de renda.
A Massai Association é uma organização não-governamental
(ONG) que se ocupa da sobrevivência e da preservação da cul-
tura desse povo. Uma de suas reivindicações é que os ocidentais
sejam respeitosos, sobretudo ao fotografá-los: muitas vezes eles
se sentem como animais exóticos expostos em publicações que
jamais aceitariam a imagem de um homem branco utilizada da
mesma maneira.
Sobre o povo MaSSai
• www.cs.org/publications/Csq/csq-article.cfm?id=1935
• www.unpo.org/member_profile.php?id=64
• www.massai-association.org
• www.quenchthethirst.org/massai_facts.html
faToS hiSTóricoS e geográficoS A Tanzânia é um país situado na parte oriental da África, fazen-
do fronteira ao norte com Quênia e Uganda, a oeste com Repúbli-
ca Democrática do Congo e ao sul com Zâmbia e Moçambique.
Entre os anos 695 e 1550, floresceu ali uma civilização mer-
cantil árabe, com rica vida comercial e cultural. O agrupamen-
to foi dizimado pelos portugueses aproximadamente um século
depois e reorganizado apenas sob o governo do sultão de Omã
(entre 1698 e 1830), quando, no entanto, não se assistiu a grande
desenvolvimento da cultura, mas à intensificação do tráfico de
escravos. Esse sultanato dominou a costa da Tanzânia e a ilha
de Zanzibar.
No final do século XIX, alemães e ingleses firmaram acordos
com líderes locais e se estabeleceram na região. O direito da Ale-
manha e da Inglaterra de explorar os territórios foi concedido na
Conferência de Berlim, entre 1884 e 1885, encontro que definiu
a divisão arbitrária da África em possessões européias. Em 1886,
delimitaram-se as áreas partilhadas: sob o controle da Alema-
nha ficaram Tanganica, Ruanda e Burundi. Em 1890, Zanzibar
tornou-se protetorado britânico. Essa divisão se manteve até a
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Primeira Guerra Mundial, ao fim da qual, com a derrota da Ale-
manha, Tanganica ficou sob controle britânico, conquistando a
independência apenas em 1961.
Em 1964, Tanganica e a ilha de Zanzibar foram unificadas,
formando a República Unida da Tanzânia.
Sobre a hiStória da tanzânia
Freitas, Jones de (trad.). Enciclopédia do mundo contemporâneo. São Paulo:
Publifolha, 2002.
Lessa, Ana Valéria M. (trad.). Atlas de história mundial. Rio de Janeiro: Reader’s
Digest Brasil, 2001.
a paiSagem da Tanzânia
A paisagem retratada em Um safári na Tanzânia é a das gran-
des savanas africanas. Freqüentemente, as ilustrações trazem
montanhas ao fundo. Elas são um recurso gráfico que confere
sensação de profundidade, mas que também remetem ao conhe-
cido vale da Grande Fenda, que se estende por mais de 7 mil
quilômetros, da Síria até Moçambique. Lagos e vulcões acom-
panham essa formação geográfica, que é, na verdade, uma falha
geológica responsável por muitos terremotos na região.
O lago Vitória situa-se num planalto dentro do vale. Com
quase 70 mil quilômetros quadrados, é o terceiro maior lago do
mundo em superfície, com ilhas e recifes de coral. O lago Tan-
ganica fica na fronteira da Tanzânia com o Zaire, 2.500 metros
acima do nível do mar.
O Parque Nacional de Serengeti foi descoberto pelo mundo
ocidental em 1913, quando um caçador norte-americano saiu de
Nairóbi e percorreu quilômetros de terras áridas até avistar o que
considerou o paraíso. Para os Massai, que viviam e pastoreavam
na região havia séculos, aquelas eram terras que se estendiam in-
finitamente, chamadas por eles de “Siringitu” – incluem o parque,
algumas áreas de conservação e a reserva dos Massai, no Quênia.
Mais de 90 mil turistas do mundo inteiro visitam o parque todo
ano. O turismo é uma atividade econômica importante para o país,
respondendo por quase 10% do PIB do Quênia e da Tanzânia.
O ecossistema do Serengeti é um dos mais antigos da terra e
suas características fundamentais, como clima, vegetação e fau-
na, permanecem praticamente idênticas há mais de 1 milhão de
anos, em parte graças à mosca tsé-tsé, inseto que impediu os eu-
ropeus de promover o mesmo tipo de ocupação predatória que
empreenderam em outras partes da África.
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Um safári na Tanzânia Laurie Krebs
O desfiladeiro Olduvai faz parte da área de conservação da
cratera de Ngorongoro e é uma continuação do ecossistema do
Serengeti. Escavações arqueológicas mostraram que, mais de 2
milhões de anos antes de os primeiros colonizadores alemães e
ingleses chegarem, já havia presença humana ali, razão pela qual
o local é considerado o berço da humanidade.
a Vida SelVagem
A fauna da região norte da Tanzânia, belamente retratada no
livro, é um dos maiores atrativos turísticos locais. Há mais de 90
espécies autóctones cadastradas em seus parques e reservas.
O fenômeno da migração fez a fama do Serengeti: durante os
meses de outubro e novembro, mais de 1 milhão de gnus e 200
mil zebras saem das montanhas do norte dirigindo-se para o sul.
Os gnus passam a época das chuvas nas planícies vulcânicas na
base da cratera de Ngorongoro, onde o pasto é mais abundante e
nutritivo. É lá que os filhotes nascem. Quando acabam as mon-
ções, as planícies secam e os gnus se encaminham para oeste,
na direção do lago Vitória. Depois das chuvas de abril, maio e
junho, retornam para o norte.
Sobre o parque nacional do Serengeti
• www.serengeti.org
atividades para a sala de aula
antes da leitura1. Com crianças pequenas uma boa introdução e estímulo à sua
curiosidade é explorar a capa do livro elucidando algumas dasperguntas abaixo:
• O que chama primeiro a atenção?
• Quem são essas pessoas?
• O que estão fazendo?
• Onde estão?
• Que animais é possível ver?
• O que quer dizer a palavra “safári”?
2. Aproveitando a curiosidade suscitada, uma sugestão éapresentar Crianças como você (São Paulo: Ática, 2004),publicação em parceria com o Unicef (Fundo das NaçõesUnidas para a Infância), na qual há uma parte destinada àTanzânia e a Esta, uma menina Massai. O livro faz justamente
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o que a ONG Massai Association reivindica: retrata ummembro de seu povo de forma respeitosa, publicando nome einformações que permitem conhecer uma criança com a qualas outras têm semelhanças e diferenças – e não uma figuraexótica. Além de conter muitas fotos, as explicações sobrehabitação, vestimenta e costumes são transmitidas no livroem linguagem simples. Será que as crianças de Um safári naTanzânia são como Esta?
O vínculo que se estabelecerá pode aguçar a curiosidade e ointeresse da classe por Um safári na Tanzânia e ampliar seurepertório e conhecimento de mundo. A leitura será iniciadasabendo que pessoas como Esta existem, que a realidade delasé diferente da brasileira, e, acima de tudo, os alunos sentirãosimpatia e respeito por elas.
3. Em um mundo globalizado como o de hoje, é comum que ascrianças tenham alguma noção de outros idiomas. Vale a penafazer uma pesquisa na classe para descobrir quem sabe contarem outra língua. Se algum aluno souber contar em inglês, porexemplo, pode-se valorizar o fato e explicar que há duaslínguas oficiais na Tanzânia. Parte da preparação para a leituraé as crianças saberem que vão conhecer os números de um adez em swahili.
durante a leitura1. Os “livros de contar” são muito usados com crianças pequenas,
para as quais a cadência ajuda a memorizar a seqüêncianumérica. Essa é sem dúvida, uma das abordagens possíveis eprodutivas do texto.
2. A construção do texto com estrofes rimadas propicia umaleitura ritmada e, depois de algumas páginas, os alunospoderão prever qual será o número que vai rimar com a últimapalavra do segundo verso.
3. Os alunos vão gostar de aprender a pronunciar os números nalíngua dos Massai. Uma atividade divertida pode ser a leitura,estrofe por estrofe, com o número em português primeiro eem swahili depois.
4. Ao longo da história, é importante prestar atenção aos elementosque confirmam ou contradizem as previsões e suposições queas crianças fizeram antes do início da leitura.
depois da leitura1. Pode ser muito instigante para as crianças conhecer um pouco
sobre a vida da autora e de sua família. Uma boa idéia é visitaro site dela com os alunos. Como Um safári na Tanzânia é oúnico dos livros de Laurie Krebs traduzido para o português,
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é uma forma de mostrar que ela escreveu muitos outros que, como este, também falam de países distantes.
É possível mandar e-mails para a autora: [email protected]. A curiosidade das crianças é infinita, e elas podem perguntar quanto tempo ela ficou na Tanzânia, que outros países conheceu, quantos já visitou, se levava os filhos nas viagens etc. Como o site é em inglês, as perguntas dos alunos terão de ser traduzidas, bem como as respostas. Aproveitando o fato de que o livro ensina a contar em swahili, explicar a elesa necessidade da tradução pode enriquecer o entendimentosobre a existência de vários idiomas.
2. Explorar um atlas ilustrado para crianças pode ser umamaneira de saciar a curiosidade, além de introduzir a noção decomo um país se situa no mundo. Uma forma interessantede fazer essa exploração é, em roda, explicar como usar o índicepara procurar um país, encontrar a página correspondente,extrair informações das ilustrações e, finalmente, ler o texto.Algumas referências verificadas em Um safári na Tanzâniapodem ser usadas pelos alunos para identificar o país – aspectosgeográficos, fauna etc. O Atlas universal ilustrado (São Paulo:Martins Fontes, 1997) traz imagens de um pastor Massai, domonte Kilimanjaro, de gnus e elefantes. Com elas os alunospodem encontrar o território da Tanzânia.
Elaboração do guia EvElisE Guioto dE souza (mEstranda Em Estudos linGüísticos E litErários Em inGlês pEla FaculdadE dE FilosoFia, lEtras E ciências Humanas, usp, E bibliotEcária da Escola bEit Yaacov) PrEParação bruno zEni rEvisão márcia mEnin E carla mEllo morEira
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