UNIVERSIDADE DE SO PAULO INSTITUTO DE PSICOLOGIA
Departamento de Psicologia Experimental
Paulo Roberto Abreu
UM MODELO EXPERIMENTAL DO TRANSTORNO OBSESSIVO-
COMPULSIVO BASEADO NAS RELAES FUNCIONAIS ENTRE
RESPOSTAS VERBAIS E NO VERBAIS
So Paulo
2013
PAULO ROBERTO ABREU
UM MODELO EXPERIMENTAL DO TRANSTORNO OBSESSIVO-
COMPULSIVO BASEADO NAS RELAES FUNCIONAIS ENTRE
RESPOSTAS VERBAIS E NO VERBAIS
So Paulo
2013
Tese apresentada ao Instituto de
Psicologia da Universidade de So
Paulo, como parte dos requisitos para
a obteno do grau de Doutor em
Psicologia.
rea de Concentrao: Psicologia
Experimental
Orientadora: Profa. Dra Maria Martha
Costa Hbner
Orientadora: Dra Maria Martha Costa
Hbner
AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL E PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Catalogao na publicao
Biblioteca Dante Moreira Leite
Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo
Abreu, Paulo Roberto.
Um modelo experimental do transtorno obsessivo-compulsivo baseado nas
relaes funcionais entre respostas verbais e no verbais / Paulo Roberto
Abreu; orientadora Maria Martha Costa Hbner. So Paulo, 2013.
88p.
Tese (Doutorado Programa de Ps-Graduao em Psicologia. rea de concentrao: Psicologia Experimental) Instituto de Psicologia da
Universidade de So Paulo.
1. Modelo experimental. 2. Transtorno obsessivo-compulsivo. 3. Anlise do
Comportamento. I. Ttulo
i
FOLHA DE APROVAO
Paulo Roberto Abreu
Um modelo experimental do transtorno obsessivo-compulsivo baseado nas relaes
funcionais entre respostas verbais e no verbais.
Tese apresentada ao Instituto de Psicologia da
Universidade de So Paulo para a obteno de ttulo de
Doutor em Psicologia Experimental.
rea de concentrao: Psicologia Experimental
Orientao: Profa Dra Maria Martha Costa Hbner
Aprovada em:
Banca Examinadora
Prof.
Instituio: Assinatura:
Prof.
Instituio: Assinatura:
Prof.
Instituio: Assinatura:
Prof.
Instituio: Assinatura:
Prof.
Instituio: Assinatura:
ii
AGRADECIMENTOS
Ao longo desses anos todos acabei me apaixonando pela Anlise Experimental do
Comportamento Verbal, ainda que eu j tivesse alguma familiaridade com esse fenmeno
dentro da rea aplicada. Mas minha experincia com a aplicao no bastou. Meus
interesses migraram de forma irreversvel para a rea de pesquisa bsica. O que me seduziu
mesmo foi o mtodo experimental de produzir conhecimento em psicologia. Penso que
fazer experimentaes controladas utilizar o mtodo experimental para investigar
quaisquer fenmenos comportamentais, independentemente de onde se julgue que as suas
anlises sejam importantes, seja no laboratrio ou na aplicao. Aprendi isso tudo no em
textos, mas dentro das salas e corredores do Instituto de Psicologia da USP.
E foi fundamental ter algum que me conduziu nessa empreitada de apreo pelo
conhecimento.
A diversidade de conhecimentos e interesses faz parte dos seus repertrios. Pesquisa
bsica, aplicada e conceitual. Foram muitos projetos em que voc me convidou,
acadmicos ou at mesmo de divulgao cuidadosa de nossa cincia. O cansao pela
responsabilidade veio em alguns momentos, verdade, mas nunca desprovido de enorme
satisfao pelos pequenos progressos. Quando as coisas no davam to certo, no faltaram
ternura e compresso de sua parte. Em cada dia de minha vida tento exercitar isso. Aprendi
contigo que mais importante do que saber verbalizar sobre reforadores, ser uma pessoa
reforadora. Obrigado pelo carinho e amizade Martha Hbner.
famlia Abreu com grande amor - Teodoro Abreu, meu pai, minha fortaleza.
Nunca mediu esforos para dar o melhor em educao. Amante dos fatos, muitas vezes
iii
mais do que se possa falar sobre eles. O melhor leitor de contingncias que j conheci.
Maria de Lourdes Abreu, minha me, minha alegria de viver v cores em coisas muito
singelas transforma em alegria as pequenas coisas do cotidiano. Mostra que no
necessrio muito para um resultado grandioso. Marcelo Abreu, meu irmo, meu modelo de
profissional. Assisti graciosidade e firmeza na maneira com que lida com o trabalho.
Voc pode no ter se dado conta, mas bom humor e reinveno foi o que aprendi.
Alexsandra Abreu, meu primeiro e nico contato com a psicologia. Eu no seria psiclogo
se no tivesse sido por voc, e essa misso vou carregar pelo resto de minha vida. Catiane
Abreu e Adilsom Silva, meus cunhados queridos, amo muito vocs. Nicole Abreu e Bianca
Abreu Silva, minhas sobrinhas lindas, brincar a melhor coisa que vocs me lembram de
fazer.
famlia Silvrio Srgio Silvrio, preocupao extrema para que esse estudo de
doutorado ocorresse. Lucas Silvrio, voc conseguiu transformar a preparao do
restaurante experimental em uma atividade divertida. Vera, Bruno, Tatiana e Rodolfo
sempre curiosos para saber do progresso de toda a pesquisa. Amo vocs! Muito obrigado.
Ao meu amigo Antnio Pinto. Obrigado por ter concedido o espao do seu
restaurante para que essa pesquisa fosse rodada. Sou muito grato receptividade com que
recebeu toda a equipe de pesquisa.
Sonia Meyer, ler o Comportamento Verbal sob a sua tutoria foi apaixonante. Mais
do que isso. Aprender contigo sobre esse livro, aplicado na clnica comportamental, foi um
privilgio.
iv
Miriam Mijares mostrou que o estudo primoroso dos modelos experimentais de
psicopatologia e da farmacologia comportamental pode, certamente, ser uma das maiores
contribuies para o entendimento contextual e tratamento das psicopatologias.
Roberto Banaco voc continua sendo para mim um modelo de dedicao
interdisciplinaridade. Suas articulaes do laboratrio com a clnica comportamental
encantam. Sua contribuio como modelo de terapeuta brasileiro foi definitiva na minha
formao.
Denis Zamignani, o maior especialista comportamental em TOC que conheo. Se
no fossem as suas primeiras experincias e textos abordando o assunto, ento essa tese
nunca teria sido escrita.
Agradeo imensamente a secretria do PSE Sonia Maria Caetano de Souza, que no
mediu esforos para me acolher no programa e que sempre ajudou com os incontveis
trmites acadmicos. Sonia receba o meu mais sincero obrigado.
Ao longo de todo o percurso muitos amigos fizeram parte da jornada. Erickson
Dambrs, meu irmo, continuamos a caminhada de longa data. Alexandre Werpachowski,
sempre otimista. Marina, amiga guerreira, no cansa de sempre fazer mais, inspira.
Obrigado pela parceria.
v
DEDICATRIA
Juliana Helena
Quando eu tomo uma deciso boa, voc otimista.
Quando eu tomo uma deciso ruim, voc otimista.
Amo muito essa sua teimosia.
vi
The battle over Skinners ideas is just beginning. It promises to be one of the most interesting contests of
our generation. (Gail Boyer, 1974, St. Louis Post-Dispatch)
vii
RESUMO
Abreu, P. R. (2013). Um modelo experimental do transtorno obsessivo-compulsivo baseado
nas relaes funcionais entre respostas verbais e no verbais. Tese de Doutorado, Instituto
de Psicologia, Universidade de So Paulo, So Paulo.
Modelos experimentais do transtorno obsessivo compulsivo (TOC) com humanos mostram
que uma forma de evocar comportamentos de checagem apresentar instrues que
especificam consequncias aversivas para o comportamento inefetivo na execuo de
tarefas. Atualmente h na rea somente um estudo experimental com delineamento de
sujeito nico. Os presentes dois experimentos com 16 participantes verbalmente
habilidosos tiveram o objetivo de testar se instrues com especificao de consequncia
aversiva ou apetitiva poderiam ter o efeito de produzir respostas de checagem. Em um
restaurante experimental, as instrues foram apresentadas durante uma tarefa de separao
de sementes misturadas. No Experimento 1, cinco de oito participantes apresentaram
maiores porcentagens de checagens sob especificao de consequncia aversiva. No
Experimento 2, sete de oito participantes apresentaram maiores porcentagens sob
especificao de consequncia apetitiva. Concluiu-se que determinadas instrues
alteraram a funo discriminativa e/ou motivadora dos estmulos envolvidos na tarefa
experimental. Sugere-se que o presente delineamento pode permitir a formulao de
anlises funcionais do fenmeno comportamental normalmente envolvido em alguns casos
de TOC.
Palavras-chave: comportamento governado por regras, modelo experimental,
comportamento de checagem, estmulo especificador de contingncia, comportamento de
checagem, transtorno obsessivo-compulsivo.
viii
ABSTRACT
Abreu, P. R. (2013). An experimental model of obsessive-compulsive disorder based on the
functional relations between verbal and nonverbal responses. PhD dissertation, Instituto de
Psicologia, Universidade de So Paulo, So Paulo.
Experimental models of obsessive compulsive disorder (OCD) with humans show that a
way to evoke checking behaviors is to provide instructions that specify aversive
consequences for behavior ineffective in performing tasks. Currently there is only one
experimental study with a single subject design in this area. The present study presents two
experiments with 16 verbally skilled participants tested whether instructions specifying the
appetitive or aversive consequence could have the effect of producing checking behaviors.
In an experimental restaurant, the instructions were presented during a task of separation of
mixed seeds. In Experiment 1, five of eight participants showed higher percentages of
checks under specification of aversive consequence. In Experiment 2, seven of eight
participants had higher percentages under specification of appetitive consequence. It was
concluded that certain instructions alter the discriminative and motivate function of the
stimuli involved in experimental task. It is suggested that this design may allow the
formulation of functional analysis of behavioral phenomenon normally involved in some
cases of OCD.
Key words: rule-governed behavior, experimental model, checking behavior, contingency-
specifying stimulus, obsessive compulsive disorder.
ix
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Porcentagens das respostas de checagem apresentadas pelos
participantes P1, P3, P5 e P7 ao longo das fases experimentais ABA do
Experimento 1. ........................................................................................................................................ 38
FIGURA 2 Porcentagens das respostas de checagem apresentadas pelos
participantes P2, P4, P6 e P8 ao longo das fases experimentais BAB do
Experimento 1. ........................................................................................................................................ 40
FIGURA 3 - Porcentagens das respostas de checagem apresentadas pelos
participantes P9, P11, P13 e P15 ao longo das fases experimentais ABA do
Experimento 2. ........................................................................................................................................ 51
FIGURA 4 - Porcentagens das respostas de checagem apresentadas pelos
participantes P10, P12, P14 e P16 ao longo das fases experimentais BAB do
Experimento 2. ........................................................................................................................................ 53
x
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Apresentao da sequncia de fases programadas ABA para cada
participante do Experimento 1. ........................................................................................... 34
TABELA 2 Apresentao da sequncia de fases programadas BAB para cada
participante do Experimento 1. ........................................................................................... 36
TABELA 3. Amplitude e porcentagem mdia de concordncia entre
observadores para cada participante do Experimento 1. ...................................................... 42
TABELA 4 Apresentao da sequncia de fases programadas ABA para cada
participante do Experimento 2. ........................................................................................... 48
TABELA 5 Apresentao da sequncia de fases programadas BAB para cada
participante do Experimento 2. ........................................................................................... 50
TABELA 6. Amplitude e porcentagem mdia de concordncia entre
observadores para cada participante do Experimento 2. ...................................................... 55
SUMRIO
Resumo .................................................................................................................................................... vii
Abstract ............................................................................................................................ viii
Lista de figuras ................................................................................................................... ix
Lista de tabelas .................................................................................................................... x
Comportamento verbal e comportamento governado por regras ........................................... 4
Regras como estmulos alteradores de funo ................................................................... 8
Pesquisa experimental, modelos de psicopatologia e o comportamento
governado por regras .......................................................................................................... 10
Estudos bsicos de orientao cognitiva .......................................................................... 12
Estudos bsicos de orientao analtico-comportamental ................................................. 20
Problemas de pesquisa e experimentos propostos ............................................................... 30
Experimento 1.................................................................................................................... 31
Mtodo ........................................................................................................................... 31
Resultados ...................................................................................................................... 37
Discusso ....................................................................................................................... 42
Experimento 2.................................................................................................................... 45
Mtodo ........................................................................................................................... 46
Resultados ...................................................................................................................... 51
Discusso ....................................................................................................................... 55
Discusso geral .................................................................................................................. 57
Referncias ........................................................................................................................ 62
Apndices ................................................................................................................................................ 68
1
ntroduo
Para a Anlise do Comportamento, o conjunto de fenmenos a que se convencionou
chamar de psicopatologia nada mais do que o aumento ou diminuio da frequncia de
certos comportamentos, em geral no desejados na cultura da pessoa, e que por isso mesmo
podem trazer sofrimento significativo e prejuzo funcional (Ullmann & Krasner, 1975).
Dentro dessa concepo, os comportamentos patolgicos no diferem dos de uma pessoa
considerada normal, exceto pela diferena expressiva em sua frequncia (Ferster, 1973).
Assim tambm a cincia bsica comportamental prope que os modelos experimentais de
psicopatologia no seriam de natureza distinta dos comportamentos assumidos como
normais. Para que um modelo prove ser adequado nas investigaes experimentais
necessrio unicamente que ele englobe variveis relevantes aos problemas de sade mental
(Skinner, 1972).
Comumente a Psicologia e a Anlise Experimental do Comportamento empregam
sujeitos animais nos modelos, vistos os problemas ticos, sociais, legais ou financeiros
envolvidos em se utilizar humanos. Animais so utilizados em laboratrio sob a suposio
tambm de que ao pesquisador possvel modelar o comportamento patolgico semelhante
ao que ocorre em humanos (Mijares-Garcia, 2005). Dentre as psicopatologias j
contempladas pelo desenvolvimento de modelos experimentais, destaca-se o transtorno
obsessivo-compulsivo (TOC).
No TOC a polidipsia induzida por esquema tem sido o modelo mais amplamente
reproduzido em laboratrio (Silva, Guerra, & Alves, 2005). Na polidipsia ocorre o beber
2
excessivo em ratos privados de gua, quando so submetidos a um esquema intermitente de
liberao de alimento. O beber excessivo acontece logo aps a ingesto do alimento e
excede bastante a ingesto diria de sujeitos sob as mesmas condies de privao (Woods
et al., 1993). Embora o modelo da polidipsia induzida por esquema tenha o potencial de
explicar as compulses em ratos, ainda assim continuaria existindo uma limitao relevante
no seu alcance explicativo dos comportamentos observados em humanos com o diagnstico
- ela no explica os pensamentos repetidos ou obsesses, um fenmeno verbal
caracterstico do TOC.
Em alguns casos de TOC, por exemplo, indivduos mostram comportamentos de
lavar repetidamente as mos, que supostamente estariam sob o controle verbal de auto-
regras especificadoras de contaminao. Dentro desse contexto, o estudo bsico do
comportamento governado por regras pode ser importante para o aprimoramento dos
modelos de TOC, pois algumas relaes entre variveis verbais e no verbais so de grande
relevncia na reproduo do fenmeno clnico em laboratrio.
O presente estudo se prope a apresentar um modelo experimental analtico-
comportamental de TOC com humanos, baseado nas relaes funcionais entre o
comportamento verbal e o no-verbal. Pelo fato do fenmeno clnico envolver relaes
verbais, ser feito inicialmente uma apresentao do referencial terico adotado para a
linguagem, sob a justificativa de que ele pode ser adequadamente aplicado na investigao
do modelo. Para isso, sero apresentadas e discutidas as concepes behavioristas do (1)
comportamento verbal e do (2) comportamento governado por regras. O estudo apresentar
tambm uma (3) reviso da literatura, com estudos bsicos cognitivos e comportamentais,
que avaliam o efeito de diferentes instrues, com especificao de consequncias
3
aversivas, sobre as respostas de checagem. Nesse tpico, ainda, tentar-se- desenvolver
uma articulao terica crtica entre essas duas correntes de pesquisa em psicologia. Em
seguida sero apresentados o (4) problema de pesquisa e os (5) Experimentos 1 e 2,
utilizando instrues com especificao de consequncia aversiva e apetitiva,
respectivamente. O trabalho ser finalizado com uma (6) discusso geral sobre a relevncia
do mtodo de pesquisa adotado na construo de um modelo experimental que explicite
algumas variveis de controle dos comportamentos obsessivos e compulsivos.
4
COMPORTAMENTO VERBAL E COMPORTAMENTO GOVERNADO POR
REGRAS
O comportamento operante age sobre o meio modificando-o, em uma ao
mecnica direta. As consequncias do comportamento alteraro por sua vez a probabilidade
de emisso futura desse mesmo comportamento. Mas conforme sinaliza Skinner
(1957/1992), muitas vezes o homem age indiretamente sobre seu ambiente, por intermdio
de um outro homem. O agir de forma indireta aumenta a extenso com que um falante pode
modificar seu ambiente, sobretudo quando o falante no tem repertrio efetivo para a
mudana desejada. Um pedido ou uma ordem de um falante controla o comportamento de
outra pessoa caso essa tenha sido especialmente modelada em faz-lo por uma comunidade
verbal, ou seja, por um grupo de pessoas que falam entre si reforando as verbalizaes
umas das outras (Baum, 2005). Dentro da comunidade verbal, a pessoa que medeia o
reforamento para o comportamento verbal do falante chamada de ouvinte. A mediao
do ouvinte relacionada aos eventos ambientais enfatiza o carter mediacional que distingue
o operante verbal dos outros comportamentos que mantm contato direto com as
consequncias produzidas (Vargas,1998). O comportamento verbal , portanto, definido
como sendo o comportamento cujas consequncias so mediadas por uma audincia que
participa da mesma comunidade verbal que o falante (Skinner, 1957/1992).
Skinner (1957/1992) ilustra a mediao social do reforamento dizendo que
Um homem sedento, por exemplo, em vez de dirigir-se a uma fonte, pode
simplesmente pedir um copo de gua, isto , pode produzir um comportamento
5
constitudo por certo padro sonoro, o qual por sua vez induz algum a lhe dar
um copo de gua. (...) A consequncia ltima, o recebimento de gua, no
mantm qualquer relao geomtrica ou mecnica com a forma do
comportamento de pedir gua. (p. 1)
Em uma anlise funcional do comportamento do falante como a descrita pelo autor,
inicialmente feita uma especificao do operante verbal de interesse para, em seguida,
explicitar quais so as condies ambientais relevantes das quais ouvinte e falante
participam. As descries interligadas do comportamento do ouvinte e do falante
descrevem uma explicao do episdio verbal total (Skinner, 1957/1992). Nesse sentido, o
comportamento verbal opera como um sistema de relaes contingentes interativas de
aes mediadas (Vargas, 1998).
No mbito do estudo do comportamento verbal, deu-se uma ateno especial ao
aprendizado por regras, pois o comportamento por elas especificado pode ser aprendido
mais rapidamente, proporcionando com isso algumas vantagens adaptativas, dentre elas a
preservao dos indivduos de nossa espcie em muitas situaes de perigo (Skinner,
1974/1976). Assim, as pessoas de uma determinada comunidade ensinam a seus membros
habilidades importantes, sem que esses necessitem aprender unicamente por meio das
contingncias especificadas pelas regras (Skinner, 1988).
Para Skinner (1969), regras so estmulos verbais especificadores de contingncias
que exercem funo discriminativa para um ouvinte. Uma regra na funo de antecedente
verbal pode especificar o desempenho requerido do ouvinte sem fazer qualquer aluso s
consequncias de seu no seguimento (Catania, 2003; Catania, Matthews, & Shimoff,
6
1982). Nesses moldes, uma regra pode ser observada em formulaes que especificam
somente o comportamento a ser seguido, quando um falante diz pare, no faa assim
ou saia. De outro modo, a regra pode especificar toda a contingncia com sua
consequncia, a exemplo de algum a quem dito o que acontecer se no disser ou fizer
algo (Catania, 2003; Catania et al., 1982). As pessoas frequentemente optam por especificar
as contingncias que esto operando em determinado ambiente, sobretudo quando solicitam
do outro comportamentos considerados apropriados ao contexto social. Dessa forma, por
exemplo, as agncias controladoras frequentemente promovem o seguimento de regras por
meio da especificao de consequncias aversivas a curto, mdio e longo prazo para o no
seguimento (Sidman, 1989/2001; Skinner 1953/1968). A ameaa do inferno para os
comportamentos pecaminosos ou as placas de trnsito que trazem avisos de multa para as
infraes, normalmente observados em igrejas e governos, respectivamente, so exemplo
de regras que podem especificar os trs termos da trplice contingncia1.
Orientaes, leis, conselhos, avisos e ordens so tidos como bons exemplos de
controle por regras. Dentro desse contexto, um controle instrucional ocorre sob a instruo
verbal do falante que especifica um modo especial de agir do ouvinte. De fato, a funo
mais ampla do comportamento verbal a possibilidade do falante dizer ao ouvinte o que
fazer ou o que dizer.
Regras como instrues evocam comportamentos do ouvinte porque o seu
comportamento de seguir regras foi substancialmente reforado no passado por uma
1 Segundo Matos (2001), o termo regra frequentemente tem sido usado para descrever uma variedade de
circunstncias antecedentes e de respostas, embora estudos recentes tragam a expresso instrues para
especificar as circunstncias em que acontece a ao. Similarmente abordagem da autora, na presente tese
os dois termos sero utilizados indistintamente.
7
comunidade verbal. Por esse motivo, Catania (2003) define o comportamento governado
por regras como sendo um operante de ordem superior, cujos membros seriam casos
particulares do seguimento de regras especficas. No operante de ordem superior as
consequncias mediadas socialmente so as variveis responsveis pela instalao e
manuteno do comportamento de seguir regras.2 Assim, por exemplo, as pessoas em
culturas judaico-crists historicamente aprendem a dar comida, bens ou dinheiro para
pedintes em necessidade, por meio do reforo mediado pelos membros da comunidade. Por
outro lado, as consequncias atuais mediadas socialmente, produzidas pelos casos
particulares, podem alterar a probabilidade futura de certos comportamentos de seguir
regras (Perone, Galizio, & Baron, 1988). Dessa forma, um ouvinte que tenha aprendido a
dar dinheiro aos necessitados poder vir a deixar de faz-lo, ainda que abra concesses
quanto comida. Isso ocorre em circunstncias em que a comunidade verbal passa a punir
o comportamento de dar dinheiro sob o controle de regras que alertam para os problemas
gerados pela prtica de dar esmolas.
2 No episdio verbal, tanto o comportamento do falante reforado pela mediao social do ouvinte, como o
comportamento de seguir a regra do ouvinte reforado pela mediao social do falante (Greer, 2009).
8
Regras como Estmulos Alteradores de Funo
Desde a publicao de o Comportamento Verbal (Skinner, 1957/1992), poucos
analistas do comportamento abordaram o efeito alterador de funo do estmulo verbal (e.g.
Alessi, 1992; Hayes & Hayes, 1989; Hayes, Barnes-Holmes, & Roche, 2001; Palmer, 1998,
2007; Schlinger & Blakely, 1987, 1994). Para Schlinger e Blakely (1987) as regras so
estmulos verbais alteradores de funo por modificarem a funo de estmulos no verbais
por elas especificados, produzindo com isso mudanas no comportamento evocado. Essa
interpretao aproximaria os efeitos comportamentais do estmulo verbal dos efeitos
alteradores de funo encontrados no condicionamento operante e respondente (Michael,
1983). Os autores utilizaram o termo Estmulo Especificador da Contingncia (CSS) de
Skinner (1969), e tambm operao verbal alteradora de funo (Schlinger , 2008a; 2008b),
para se referir regra como sendo um estmulo que teria a funo de modificar a funo
dos estmulos ambientais arbitrariamente relacionados. Dessa forma, um CSS produz
mudanas nos estmulos especificados da contingncia, sendo estes estmulos
discriminativos, eliciadores, operaes estabelecedoras (OEs) ou estmulos consequentes
(Schlinger, 1993). Mas segundo a conceituao de Schlinger e Blakely (1987), o efeito
evocativo residiria no estmulo discriminativo (SD) especificado na regra, no na regra em
si, conforme descreve a conceituao skinneriana clssica (cf., Schlinger, 1990, 1993).
Dessa forma, em uma instruo como quando voc vir o chefe lhe d os parabns, a regra
seria um CSS e, o estmulo chefe, o SD. A emisso do CSS altera a funo do estmulo
chefe para uma funo discriminativa que ir controlar a resposta do ouvinte de dar os
parabns. Sendo assim, a regra no poder exercer diretamente a funo de SD, pois o
9
ouvinte s parabenizar o chefe quando este estiver na sua presena. Em o Comportamento
Verbal, Skinner (1957/1992) d um exemplo similar, ilustrando o efeito alterador de funo
exercido pelo estmulo verbal. Diz o autor que:
O estmulo verbal Quando eu disser trs, v! pode no ter efeito imediato
classificvel como uma resposta, mas ele muda o comportamento subsequente
do ouvinte com relao ao estmulo Trs. Ns estamos... preocupados... com o
comportamento operante de ir evocado pelo estmulo discriminativo trs.
(pp. 358-359).
Anteriormente a essa instruo, o comportamento verbal trs no evocaria o
comportamento de sair em disparada. Mas a resposta verbal Quando eu disser trs
momentaneamente aumenta a funo evocativa do estmulo trs, v. Assim, possvel
afirmar que o estmulo verbal trs teve sua funo alterada para uma funo
discriminativa para a resposta de ir.
Em uma outra interpretao da funo de estmulo, regras poderiam ser entendidas
como sendo unicamente operaes estabelecedoras, haja vistas as suas propriedades de
aumentar a efetividade de algum objeto/evento consequente como reforador e de evocar
qualquer comportamento que tenha produzido dado reforador no passado (Malott, 1988;
Malott, 1989). Contingncias de controle aversivo normalmente so bons exemplos de OE
por aumentar o valor da suspenso da estimulao aversiva e por evocarem os
comportamentos de fuga ou esquiva (Michael, 1982, 1993, 2000).
10
Uma instruo que especifique a resposta a ser seguida pelo ouvinte, sinalizando
consequncias aversivas para o no seguimento, poderia preencher esses critrios. Assim,
uma instruo como a se voc no tirar as roupas do varal elas vo molhar na chuva,
estabeleceria como condies aversivas a resposta concorrente ao seguimento da regra e
sua consequncia (e.g., ficar jogando vdeo game). J o seguimento da regra suspenderia ou
reduziria a aversividade. Um possvel seguimento de regra, nesse contexto, seria o ouvinte
retirar a roupa do varal em um comportamento de esquiva. Determinada regra evocaria o
seu seguimento atenuando com isso a aversividade para o no seguimento (Braam &
Malott, 1990; Malott, 1988; Malott, 1989).
PESQUISA EXPERIMENTAL, MODELOS DE PSICOPATOLOGIA E O
COMPORTAMENTO GOVERNADO POR REGRAS
As explicaes cognitivas para o TOC enfatizam o papel singular da varivel verbal
quando focam os pensamentos do obsessivo-compulsivo no desenvolvimento, manuteno
e modificao das checagens (Rachman, 2002). Pela contiguidade consistente entre
pensamentos e rituais, no seria de se estranhar que a cincia psicolgica tenha perseguido
uma determinao cognitiva para os comportamentos compulsivos. O modelo enfatiza a
relao causal R-R (resposta encoberta-resposta aberta) como sendo uma explicao causal
til no entendimento do fenmeno. Esse tipo de interpretao rapidamente alcanou um
alto status conceitual dentro da pesquisa bsica e aplicada, e hoje constitui o mainstream
interpretativo de escolha naquela abordagem.
11
Um subtipo de indivduos com o diagnstico de TOC, chamados de checadores
(Franklin, & Foa, 2008), parece tambm apresentar uma relao R-R entre respostas abertas
e encobertas. Nela, o primeiro elo da dade seria constitudo pelas auto-regras contidas nas
respostas obsessivas e o segundo elo pelas respostas verbalmente governadas,
tradicionalmente concebido na literatura como sendo constitutivo das compulses (Abreu
& Prada, 2004, 2005; Zamignani, 2001; Zamignani, & Banaco, 2005). De acordo com essa
conceituao clssica, os indivduos poderiam apresentar compulses de checagem sob o
controle de obsesses, relacionadas s regras que especificam responsabilidade pessoal,
como em uma auto-instruo em que um indivduo diz a si mesmo que sua famlia correr
perigo se no conferir a vlvula do gs.
Posturas interpretativas cognitivas compreendem que o comportamento controlado
por processos simblicos localizados na conscincia ou mente. Matos (2001) afirma que no
behaviorismo radical tanto a linguagem, os processos simblicos e as regras so
comportamento verbal, gerados no ambiente social. O comportamento governado por
regras seria, portanto, sub-produto da interao social e no causa de outros
comportamentos (Matos, 2001). De acordo com essa concepo, na anlise de uma relao
R-R entre auto-regras e respostas abertas, precisaramos antes investigar quais so as
variveis atuais (e histricas) antecedentes e consequentes que estariam controlando
determinada relao. No TOC, por exemplo, a checagem controlada por regras ocorreria
por meio de respostas repetidas, cuja funo seria esquivar ou escapar de algum evento
aversivo externo ao organismo, sendo este evento, em geral, consequente a uma resposta
inefetiva em produzir mudanas especficas no ambiente. Nesse sentido, para o indivduo
com TOC, o contato com o evento aversivo consequncia de uma resposta de checagem
12
inefetiva, e para que isso no ocorra, novas respostas de checagem devero, portanto, ser
emitidas.
A concepo analtico-comportamental se mostra bastante dspar dos entendimentos
trazidos na psicologia tradicionalmente orientada para explicaes internalistas para os
problemas de comportamento. Por esse motivo, transpor explicaes mentalistas para as
psicopatologias tem ainda se tornado um grande desafio.
Estudos bsicos de orientao cognitiva
Estudos experimentais dentro da tradio cognitiva mostram que uma forma efetiva
de levar algum a apresentar comportamentos de checagem apresentar instrues
especificadoras de consequncias negativas que atribuem excessiva responsabilidade na
execuo de uma tarefa (Arntz, Voncken, & Goosen, 2007; Bouchard, Rhaume, &
Ladouceur, 1999; Mancini, DOlimpio, & Cieri, 2004; Ladouceur et al., 1995; Ladouceur,
Rhaume, & Aublet, 1997; Lopatka & Rachman, 1995). A responsabilidade definida
dentro da hiptese cognitiva como uma crena que algum traz de possuir um poder de
provocar ou prevenir consequncias negativas cruciais (Salkovskis, Richards, & Forrester,
1995). Determinadas consequncias podem ser concretas ou morais (Salkovskis et al.,
1995). Dito de outra forma, guardam relao direta com as contingncias ou apenas so
especificadas pelas regras sociais. O conceito enfatiza duas distores cognitivas
relacionadas: a influncia pessoal e as consequncias negativas. Uma consequncia
negativa seria um evento cuja probabilidade de ocorrncia no dependeria diretamente do
comportamento do indivduo. Assim por exemplo, para um participante de pesquisa, uma
13
consequncia negativa pode vir a ocorrer como consequncia do desempenho de mais de
uma pessoa. Por seu turno, a influncia pessoal seria a percepo do indivduo sobre o
seu papel causal na produo do evento. Nesse sentido, o participante teria a conscincia
verbal de que o evento negativo foi diretamente produzido pelo seu desempenho inefetivo.
Ladouceur e colaboradores (1995) publicaram dois experimentos examinando
diferentes nveis de responsabilidade e sua influncia em comportamentos de checagem,
verificando algumas semelhanas com os comportamentos compulsivos observados no
transtorno obsessivo-compulsivo. Com resultados relevantes, o Experimento 2 adotou
como tarefa uma classificao em contexto farmacolgico. No experimento, quarenta
participantes adultos foram orientados a separar plulas coloridas misturadas. Foram
confeccionadas duzentas cpsulas farmacuticas de acar, com dez combinaes de cores,
sendo vinte cpsulas de cada cor. As cpsulas foram colocadas misturadas em uma bacia e
quinze garrafas vazias semitransparentes foram dispostas para acondicionar as plulas de
acordo com a cor designada
Os participantes foram distribudos randomicamente entre um grupo de alta
responsabilidade (HR) e outro de baixa responsabilidade (LR). Ambos os grupos foram
instrudos a pegar uma cpsula por vez, sem olhar para a bacia, colocando nas garrafas de
acordo com a cor designada. Os participantes teriam que classificar as plulas
adequadamente o mais rpido possvel. Poderiam conferir as garrafas e corrigir os erros o
tanto quanto achassem necessrio, em casos que hesitassem ou apresentassem alguma
dvida durante na tarefa. As seguintes instrues foram apresentadas para o grupo HR e
LR, respectivamente:
14
Induo de responsabilidade (HR): O experimentador falava para os participantes
que o grupo de pesquisa era especializado na percepo de cores e que havia sido
recentemente contratado por uma indstria farmacutica para trabalhar em um estudo
relacionado exportao de uma nova droga, criada para tratar um vrus que estava
devastando o sudeste da sia. Aos participantes foi dito ainda que a regio era muito pobre
e que por isso sua populao no tinha muito estudo. Por esse motivo houve a necessidade
de que se desenvolvesse um sistema de cores que tornasse a distribuio das novas plulas
segura para os habitantes. Foi enfatizado que o papel dos participantes seria crucial para o
sucesso do projeto e que seus resultados seriam decisivos, j que o estudo estava em sua
fase final. Adicionou-se tambm a informao de que poderiam prevenir srias
consequncias, pois os resultados do trabalho influenciariam diretamente a manufatura das
drogas.
Reduo de responsabilidade (LR): Era dito aos participantes que o experimentador
estaria interessado apenas na percepo das cores e que o experimento era somente um
treino a ser realizado antes de o estudo comear. Acrescentou-se que os resultados
individuais no seriam analisados.
Para verificar os efeitos da manipulao, quatro questes foram feitas. As questes
eram relativas percepo da probabilidade e severidade das consequncias negativas,
alm da influncia do participante sobre as consequncias e sua percepo de
responsabilidade. Utilizaram-se ainda como variveis de controle o Inventrio Beck de
Depresso (BDI; Beck, Rush. Shaw, & Emory, 1979), o Inventrio Beck de Ansiedade
(BAI; Beck, Epstein, Brown, & Steer, 1988) e o Inventrio Pdua (PI; Sanavio, 1988). O
15
inventrio Pdua permite acessar diferentes aspectos do TOC como os impulsos, lavagens,
checagens, ruminaes e preciso.
As variveis dependentes foram medidas por observao direta. Quatro topografias
de resposta foram ento categorizadas:
(1) Hesitaes, definidas como a observao atenta da garrafa por 2s ou mais, ou como o
movimento das mos do participante entre duas plulas diferentes por pelo menos 2s;
(2) Conferncias e modificaes durante a tarefa, definidas como a interrupo da
separao em uma determinada garrafa, por aproximadamente 1s, com o despejamento para
observao do seu interior. O esvaziamento do contedo da garrafa na palma da mo
tambm foi contabilizado. As modificaes referiam-se a qualquer mudana feita durante a
tarefa em que se tenha adicionado ou subtrado uma ou mais cpsulas de alguma garrafa;
(3) O nmero de erros ocorridos durante a tarefa;
(4) O tempo demandado na classificao.
As variveis subjetivas foram avaliadas com um questionrio incluindo (1) dvidas
e urgncia em conferir; (2) desconforto experienciado durante a tarefa e (3) os nmeros de
erros subjetivos feitos ao longo da tarefa.
Ao final da sesso o experimentador revelava o experimento, explicando ao
participante os objetivos e procedncia da pesquisa com a solicitao de assinatura em
termo de consentimento para o uso dos dados.
Os resultados mostraram que os participantes do grupo HR hesitaram e conferiram
mais do que o grupo LR. Tambm apresentaram maior preocupao e ansiedade com os
erros durante a tarefa. De acordo com a definio de responsabilidade de Salkoviskis e
colaboradores (1995), tanto a influncia individual como tambm os aspectos cruciais das
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consequncias negativas estariam envolvidos na percepo de responsabilidade.
Concluram Ladouceur e colaboradores (1995) que os dados so interessantes por darem
suporte emprico para a relao direta entre a percepo de responsabilidade e os
comportamentos de checagem. Contudo, para os autores, esse estudo no pde avaliar o
efeito de ambas as variveis em separado no controle dos comportamentos de checagem.
Em um estudo posterior Ladouceur e colaboradores (1997) testaram o efeito da
influncia pessoal e o efeito das consequncias negativas em situaes de tomada de
deciso em adultos. O objetivo do delineamento seria isolar a varivel crtica na
determinao das checagens. Setenta e sete participantes foram distribudos em quatro
amostras instrudas a separar as cpsulas. Foram empregadas duzentas plulas de diferentes
cores (onze tipos, vinte plulas de cada) e quinze garrafas semitransparentes. As variveis
dependentes desse estudo relacionadas aos comportamentos de checagem foram iguais s
variveis do primeiro estudo (Ladouceur et al., 1995).
As seguintes instrues foram ento apresentadas s quatro amostras,
respectivamente:
Condio combinada: Foi dada a mesma instruo do estudo de Ladouceur e
colaboradores (1995) referente instruo de induo de responsabilidade somada s
consequncias negativas
Condio de influncia: Com o objetivo de aumentar a influncia pessoal, foi
adicionada, s instrues da condio combinada, a informao de que os participantes
eram parte de uma pequena amostra de trs pessoas e que devido a esse fato, seus
resultados teriam uma influncia direta nas concluses do estudo.
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Condio de consequncias negativas: As instrues gerais da condio combinada
foram apresentadas, exceto que, com o objetivo de reduzir a influncia pessoal, foi dito aos
participantes que eles compunham uma equipe de dois mil participantes que levantariam
dados para as concluses do estudo.
Condio de controle: Apenas foi esclarecido que a fase era ainda uma situao de
treino, portanto sem nenhuma consequncia, j que os resultados no seriam analisados.
Trs questes foram feitas para a conferncia do efeito das manipulaes
experimentais. As questes eram relativas percepo da probabilidade e severidade das
consequncias negativas, alm da influncia do participante sobre as consequncias e a sua
percepo de responsabilidade.
Ao final da sesso o experimentador revelava os objetivos reais do experimento,
solicitando a assinatura do termo de consentimento, para o uso dos dados.
Os resultados mostraram, para os autores, que a denominada influncia pessoal o
melhor preditor da percepo da responsabilidade. O aumento do potencial das
consequncias negativas foi suficiente para iniciar algumas topografias relacionadas a
hesitaes nos participantes, mas a combinao da influncia e das consequncias negativas
foi necessria para produzir comportamentos de checagem. Ao discutirem os resultados,
Ladouceur e colaboradores (1997) concluram que ainda que a probabilidade e severidade
da consequncia negativa estejam relacionadas responsabilidade, seus efeitos foram
menos acentuados (p. 426).
Na trajetria das pesquisas cognitivas, os experimentos iniciais sobre o
comportamento de checagem, empregando participantes no clnicos, deram margem a um
outro questionamento emprico - se indivduos com o diagnstico de TOC iriam se engajar
18
em checagens, mais do que as outras pessoas, quando colocados em situaes que lhes
fosse exigida responsabilidade pessoal. Para testar essa hiptese, Arntz e colaboradores
(2007) estudaram vinte e sete participantes com TOC como primeiro diagnstico, trinta e
sete participantes com outro transtorno de ansiedade como primeiro diagnstico e sem TOC
como segundo e, ainda, vinte e oito participantes sem nenhum diagnstico do Eixo-1 do
DSM-VI-TR (American Psychiatric Association, 2003).
Similarmente ao estudo de Ladouceur e colaboradores (1995), os participantes
foram instrudos a separar duzentas cpsulas, de onze cores diferentes, acondicionadas em
um pote. Atrs desse pote principal, quinze potes menores foram dispostos em linha para
separao.
O delineamento do estudo foi um fatorial 2x3, com duas condies experimentais -
denominadas alta responsabilidade (HiRes) e baixa responsabilidade (LoRes) - e trs grupos
de participantes, a saber, pacientes com diagnstico de TOC (OCD patients), pacientes com
diagnstico de ansiedade (Anx patients) e no pacientes do grupo controle (NonPt
controls).
Na instruo de baixa responsabilidade foi dada a mesma instruo empregada no
estudo de Ladouceur e colaboradores (1995). A instruo de alta responsabilidade tambm
foi similar ao do estudo anterior, mas adicionou-se a informao de que um estudo prvio
empregou participantes que no se sentiram responsveis o suficiente, fazendo por isso um
pssimo trabalho de classificao (Arntz et al., 2007, p. 427). O objetivo desse acrscimo
foi aumentar o controle da instruo sobre os participantes j que em um estudo piloto a
instruo descrita em Ladouceur e colaboradores (1995) no exerceu seu efeito.
19
No estudo de Arntz e colaboradores (2007), algumas respostas encobertas foram
aferidas por meio da escala anloga visual (VASs). Essa escala mediu as experincias
subjetivas relatadas com relao ao comportamento de checagem. A varivel dependente
foi tambm o comportamento de checagem, definido de acordo com as mesmas topografias
operacionalizadas por Ladouceur e colaboradores (1995). Foi tambm adotado o inventrio
Pdua para mensurar diferentes aspectos do TOC.
Nos resultados, a anlise do principal componente na escala VAS revelou, segundo
os autores (Arntz et al., 2007), trs fatores subjetivos relevantes: (1) perigo (2)
responsabilidade e (3) desconforto e experincias subjetivas de TOC. De especial
relevncia, nas experincias subjetivas de TOC o grupo TOC HiRes diferiu
significativamente dos outros grupos. Somado a isso, os participantes do grupo TOC
HiRes checaram com maior frequncia, diferindo tambm significativamente dos outros
grupos. J o tempo dispendido na finalizao da tarefa foi significativo somente entre
pacientes e no pacientes.
Os autores concluram que situaes de alta responsabilidade induzem checagem
em maior frequncia e com maiores escores de experincias subjetivas de TOC (Arntz et
al., 2007). Os resultados confirmaram a hiptese de que somente o grupo TOC HiRes
relataria experincias subjetivas de TOC alta. Mais importante, somente o grupo TOC
HiRes, e no o grupo TOC LoRes, apresentou novos comportamentos de checagem.
20
Estudos bsicos de orientao analtico-comportamental
Para Willner (1991), o desenvolvimento de um modelo experimental de
psicopatologia dever ser pautado em trs critrios para ser considerado vlido: (1) o
critrio preditivo, (2) o critrio nominal e o (3) critrio de validade de construto.
O primeiro critrio (preditivo), afirma que o desempenho do modelo deve predizer o
desempenho na situao modelada. Nesse sentido, o modelo de Ladouceur e colaboradores
atendeu ao critrio. Os participantes submetidos s instrues com especificao de
consequncias aversivas aumentaram a frequncia das respostas de checagem em contextos
anlogos (Arntz, et al., 2007; Bouchard, et al., 1999; Mancini, et al., 2004; Ladouceur et al.,
1995; Ladouceur, et al., 1997; Lopatka & Rachman, 1995).
O segundo critrio de Willner (nominal) especifica a necessidade da similaridade de
fenmenos entre o modelo e a condio modelada. O mtodo desenvolvido para o estudo
das respostas de checagem em laboratrio reproduziu alguns padres comportamentais
observados nos indivduos diagnosticados com um subtipo clnico do TOC (Ladouceur et
al, 1997).
Finalmente, o terceiro critrio (de validade de construto), estabelece que o modelo
precisa estar embasado em uma teoria robusta sobre o comportamento a que se deseja
estudar. Mas o modelo de TOC desenvolvido por Ladouceur e colaboradores (1997),
embora atinja os dois primeiros critrios, no est sobremaneira embasado em uma teoria
robusta, pois conforme sinaliza De Rose (1999), apesar de assumirem entidades iniciadoras
do comportamento, portanto internas ao organismo, as teorias cognitivas s podem inferir
essas entidades a partir de eventos comportamentais.
21
A explicao cognitiva para os dados levantados no estudo de Ladouceur e
colaboradores (1997) enfatiza que os comportamentos de checagem ocorrem quando os
indivduos trazem crenas relacionadas alta responsabilidade em prevenir danos.
Contudo os experimentos cognitivos aqui descritos aferiram apenas o efeito produzido pela
apresentao de instrues com especificao de consequncias aversivas, que, na
concepo cognitiva, se referem especificao de responsabilidade pessoal aumentada e
consequncias negativas.
A Anlise Experimental do Comportamento traz dados que poderiam favorecer uma
interpretao das contingncias envolvidas no governo verbal observado nos estudos
cognitivos sobre comportamentos de checagem (Arntz et al., 2007; Ladouceur et al., 1995;
Ladouceur et al., 1997). Em especial, o experimento conduzido por Braam e Malott (1990),
investigou se o controle por regras alterado tambm por meio da manipulao da
formulao verbal.
No estudo de Braam e Malott (1990), quatro regras similares foram apresentadas
para oito crianas pr-escolares de aproximadamente quatro anos de idade. As
contingncias descritas pelas regras variaram na especificao dos prazos e no atraso para a
apresentao dos reforos. As respostas medidas foram o pegar os brinquedos solicitados
ou a montagem de um quebra-cabea. Para tanto, quatro condies foram programadas em
que cada tipo de regra era apresentada. As sesses de coleta aconteciam duas vezes por
semana, ao longo de trinta minutos. As condies experimentais foram dispostas da
seguinte forma:
Condio de Pedidos: Na primeira condio em que eram apresentados os pedidos,
o experimentador descrevia regras incompletas. O experimentador solicitava que os
22
participantes pegassem os brinquedos, mas no especificava prazos ou o reforamento na
instruo dada. Assim era dito criana Nicole, voc poderia pegar os brinquedos?
(Braam & Malott, 1990, p. 70). Aps 5 minutos uma nova solicitao era feita
independentemente de a criana ter atendido a instruo.
Condio de Prazos: Nessa condio o experimentador descrevia regras com prazos
e reforadores imediatos para que a criana pegasse os brinquedos (eg., Se voc pegar o
brinquedo agora, poder brincar na Caixa Mgica3 depois.). Randomicamente era
apresentada uma condio denominada S
, em que as regras descreviam apenas a resposta
de pegar os brinquedos e o prazo, mas no o reforamento para o cumprimento da tarefa
(eg., Se voc pegar o brinquedo agora, no poder brincar na Caixa Mgica depois.).
Esse esquema foi adotado para verificar se a resposta das crianas estaria sob o controle da
especificao das contingncias pelas regras ou sob o controle generalizado das demandas
caractersticas do ambiente escolar infantil (e.g., na hiptese de que a resposta estivesse sob
o controle das demandas, as crianas pegariam o brinquedo mesmo na condio S
).
Diferentes crianas estavam em diferentes condies no mesmo dia (eg., reforamento
versus no reforamento). Contudo, somente uma condio estava vigorando para uma
dada criana, consistindo de uma ou duas tentativas.
Condio sem prazos e com reforos atrasados: Nessa condio o experimentador
apresentava uma regra que descrevia o reforador atrasado de uma semana e nenhum prazo
para o cumprimento da tarefa. (e.g., Aqui est uma quebra cabeas que voc pode montar.
Eu no me importo se voc montar ou no. Essa a regra: no importa se voc montar bem
3 A Caixa Mgica continha uma variedade de reforadores, como pequenos dinossauros, carros, adesivos,
estampas, etc)
23
o quebra-cabea, voc s poder brincar na Caixa Mgica uma semana depois que terminar
de mont-lo.).
Condio com prazos e com reforos atrasados: Durante essa condio o
experimentador apresentava regras com especificao de prazos e com a especificao do
reforamento atrasado de uma semana. (e.g., Aqui est um quebra-cabea que voc pode
montar. Eu no me importo se voc montar ou no. Essa a regra: se voc montar o
quebra-cabea agora, voc s poder brincar na Caixa Mgica uma semana depois que
terminar de mont-lo.)
Os resultados do estudo mostraram que na condio de pedidos as regras que
descreviam somente o comportamento esperado, portanto sem a especificao do prazo e
de reforamento, no exerceram controle sobre o comportamento das crianas. Somente
42% dessas regras foram seguidas pelo grupo. Quando as regras apresentavam prazos e
reforo imediato, 97% das regras apresentadas foram seguidas pelo grupo. Nas tentativas
em S
o grupo respondeu a apenas 31% das regras. Esse dado evidencia que as respostas
do grupo ficaram, sobretudo, sob o controle da regra com especificao de prazo e
reforador imediato, e no das caractersticas do ambiente ou do experimentador. Na
condio sem prazos e reforo atrasado as regras descritas estabeleceram um fraco controle
operante. Somente 28 % das tarefas solicitadas foram atendidas pelo grupo. Por fim, na
condio com prazos e reforo atrasado, observou-se que 74% das solicitaes foram
atendidas pelo grupo. Esse resultado mostra que a especificao de prazo para a finalizao
da tarefa pode aumentar o controle das instrues sobre as crianas, mesmo nos casos em
que a consequncia anunciada for atrasada.
24
O fraco controle das regras que estipulavam somente o comportamento (sem o
anncio de prazos e consequncias) foi evidenciado com os dados de Braam e Malott
(1990). Contudo um elemento novo para discusso ocorreu na condio de regras com
prazos imediatos e consequncias atrasadas. Os autores interpretaram esse ltimo dado
tambm com base nos efeitos do controle aversivo estabelecido pela comunidade verbal no
seguimento de regras. Dizem os autores que embora o reforamento atrasado no controle
comportamento, a estipulao de prazos na instruo estabeleceria uma contingncia de
esquiva com reforo prximo, sendo essa regra a especificao de uma contingncia que
atuaria diretamente. A regra estabeleceria funo aversiva para o comportamento de no
seguimento. Ento, quanto mais prximo do prazo estabelecido, tanto maior seria o efeito
reforador para o comportamento de esquiva.
Mistr e Glenn (1992), mais tarde, com seu estudo reiteraram a hiptese levantada
por Braam e Malott (1990) para os dados inicialmente encontrados, porm pontuaram que a
condio aversiva aprendida seria estabelecida pelo fato da formulao verbal funcionar
como um Estmulo Especificador da Contingncia (CSS). Dada aproximao conceitual
denota, em alguma medida, um dilogo possvel com a interpretao de Schlinger e Blakely
(1987; Blakely & Schlinger, 1987).
Ainda que o seguimento de uma regra no ocorra somente em funo do controle
aversivo exercido por um falante4, conforme parecem sugerir as anlises prvias de Malott
4 Hayes Zettle e Rosenfarb, (1989) sugeriram subtipos de comportamento governado por regras. De interesse,
o operante chamado de rastreamento, o comportamento governado por regras sobre o controle da aparente
correspondncia entre a regra e os eventos ambientais. Uma das caractersticas do rastreamento que ele
influenciado pela histria do ouvinte de contato com as consequncias naturais por ter seguido a regra, pela
correspondncia entre essa regra e as outras regras ou eventos na histria do ouvinte e pela importncia da
consequncia implicada na regra. Sendo assim, um rastreamento poderia ser reforado positivamente por
colocar o ouvinte em contato com fraes importantes do seu ambiente. Skinner (1957/1992) ao seu tempo
25
(1988, 1989), a hiptese do autor pode ser bastante til na anlise de alguns tipos de
comportamento governado por regras. Uma anlise de contingncias como a trazida por
Braam e Malott (1990), sugere o histrico de reforamento negativo para o seguimento de
regras e o papel do reforamento prximo na aquiescncia do ouvinte. Essas poderiam ser
tambm variveis relevantes nos estudos sobre o controle verbal dos comportamentos de
checagem (Arntz et al., 2007; Ladouceur et al., 1995; Ladouceur et al., 1997). Neles, a
regra com especificao de alta responsabilidade pessoal poderia ter funo de estmulo
similar funo da regra com especificao de prazo de Braam e Malott (1990). A nica
diferena residiria no fato de que nos estudos sobre o comportamento de checagem a
consequncia aversiva especificada na instruo supostamente incidiria sobre outras
pessoas (e.g., se o participante apresentar uma separao inefetiva das plulas, as pessoas
consumiro o remdio errado e por isso passaro mal), enquanto no estudo de Braam e
Malott (1990) a consequncia incidiria sobre as prprias crianas (e.g., se a criana no
guardar os brinquedos no prazo solicitado, no poder brincar depois na caixa mgica). Em
comum, ambos os tipos de regras pareceram ter exercido um efeito de aumentar a
frequncia dos comportamentos de esquiva. Em ltima instncia, ambos parecem ter
especificado uma contingncia de reforo negativo, em que o seguimento da regra seria
consequenciado com a suspenso da condio aversiva.
Recentemente Abreu e Hbner (2011) apresentaram um estudo feito a partir do
trabalho de Ladouceur e colaboradores de 1997, utilizando tambm instrues com
classificou um subtipo de mando, chamando-o de conselho. O conselho seria um mando em que o ouvinte
experienciaria o reforamento por responder a formulao verbal do falante. Mas o falante no participa
diretamente da consequncia. Semelhantemente ao que ocorre no rastreamento, o seguimento de um conselho
poderia tambm ser reforado positivamente. Em comum, parece que tanto o conselho como o rastreamento
beneficiariam o ouvinte, e no o falante.
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especificaes de consequncias aversivas. No estudo de Abreu e Hbner (2011) dois
participantes adultos do sexo feminino, verbalmente habilidosos e com 33 e 28 anos, foram
convidados por terceiros a ajudar em uma tarefa de separao de sementes em uma loja de
cereais. Quatro tipos de sementes de cores e dimenses semelhantes foram misturados em
um saco plstico prprio para transporte: Feijo Bolinha, Feijo Fradinho, Gro de Soja e
Tremoo Achatado. Os participantes realizaram a separao das sementes em uma mesa no
centro do primeiro andar. A coleta aconteceu em um domingo, estando a loja fechada para
os clientes. Na separao foram utilizados quatro potes de plstico semitransparentes com
capacidade para dois litros.
Durante a separao foram contadas as respostas de checagem, definidas
operacionalmente como verificao das sementes j separadas nos potes com funo de se
evitar erros. Na checagem as seguintes topografias de resposta foram registradas: a
manipulao dentro do prprio pote, o despejar na mo ou mesa para nova conferncia, o
transferir as sementes erroneamente separadas de um pote para outro, o inclinar/mexer o
pote para uma melhor visualizao durante 2s ou mais e a observao do pote por 2s ou
mais sem manipulao direta.
A sesso experimental teve durao de sessenta minutos, divididos em quatro fases
de quinze minutos. Utilizou-se um delineamento sujeito nico ABCA disposto da seguinte
maneira:
Fase A / Linha de base: Foi apresentada pessoalmente a seguinte instruo para o
participante - Aqui esto quatro tipos de sementes nobres misturadas. Sua tarefa vai ser
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separar as quatro e coloc-las nesses quatro potes. Voc ter uma hora para fazer isso. Eu
vou estar em reunio l e cima e por isso se precisar falar com voc, farei pelo telefone.
Fase B: Por telefone foi dada a seguinte instruo para o participante aps 15
minutos transcorridos desde a instruo A - Separe com muita ateno. Foi adicionado o
autocltico muita instruo de separar com o objetivo de testar o controle verbal sobre o
participante.
Fase C: Aps 15 minutos transcorridos desde a instruo B, foi apresentada a
seguinte instruo, via telefone, com especificao de consequncias aversivas: Na
verdade esse lote tem um tipo de semente que est com uma quantidade grande de
agrotxico que pode dar diarreia nas pessoas que comerem. Como essa mistura ser
fornecida para a merenda das crianas de uma escola, muito importante que voc as
separe com muita ateno. Nessa fase foi adicionada a especificao de toda a
contingncia na instruo para a separao com o objetivo de testar o controle verbal sobre
o participante.
Fase A / Reverso: Aps 15 minutos transcorridos desde a instruo C, foi
apresentada a seguinte instruo, via telefone, sem especificao de consequncias
aversivas: Eu e meu chefe vimos que esse lote que voc est separando um lote mais
antigo que no tem as sementes contaminadas. Ento s voc separar as sementes. Nessa
fase foi dada a instruo com o objetivo de promover a reverso para uma frequncia de
respostas de checagem semelhantes linha de base.
Seguindo o modelo de Laudouceur e colaboradores (1997) e de outros experimentos
dessa rea de investigao (Arntz, et al., 2007; Bouchard et al., 1999; Mancini et al., 2004;
Ladouceur et al., 1995; Lopatka & Rachman, 1995), somente ao final da sesso o
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experimentador revelou o estudo, explicando ao participante os objetivos e procedncia da
pesquisa com a solicitao de assinatura em termo de consentimento sobre o uso dos dados
obtidos.
Como resultados, P1 apresentou quatro respostas de checagem na linha de base,
nenhuma na fase de instruo com autocltico, trs respostas aps a instruo com
especificao de consequncias aversivas e zero emisses na fase de reverso. Durante a
entrevista final, P1 relatou5 que aps ter recebido a primeira instruo foi estudando at
descobrir um mtodo para separar as sementes que pudesse lhe trazer melhores resultados.
P2, ao seu turno, apresentou nenhuma checagem na linha de base, trs na fase de instruo
com autocltico, quatro respostas aps a instruo com especificao de consequncias
aversivas e uma emisso na fase de reverso.
Esses resultados mostraram que ambos os participantes apresentam notria
variabilidade inter-sujeitos em relao frequncia de respostas de checagem. Como
regularidades comportamentais, observou-se que os participantes aumentaram a frequncia
dos comportamentos de checagem na fase C, sendo que P1 o fez em relao fase B
(instruo com autocltico) e P2 em relao linha de base. Igualmente semelhante, na fase
de reverso, ambos diminuram a frequncia aps apresentao da instruo sem
especificao de consequncias aversivas. P1 apresentou reverso total, e P2 reverso
parcial.
5 Aps o final das fases o experimentador entrevistou pessoalmente os participantes com o objetivo de, se
necessrio, apenas complementar os dados empricos. As informaes levantadas pela entrevista no foram o
foco principal na anlise dos dados visto a falta de controle do mtodo. Por esse motivo seus dados foram
muito pouco utilizados. Entrevistas frequentemente permitem certo vis nas respostas verbais dos
participantes devido ao mltiplo controle de estmulos envolvido. Alguns desses problemas podem ser
evidenciados nas pesquisas sobre a correspondncia entre o fazer e o relatar (c.f., Lloyd, 2002).
29
Abreu e Hbner (2011) discutiram os dados dizendo que a instruo dada pelo
experimentador na fase C especificou a consequncia para uma separao no-efetiva das
sementes. A especificao de toda a contingncia funcionou como uma operao que
estabeleceu o valor aversivo para o comportamento inefetivo, sendo este decorrente de um
no seguimento da regra. A esquiva do evento aversivo envolveria simplesmente seguir a
instruo, sendo portanto reforada com a suspenso da provvel consequncia aversiva.
Concluram os autores que o seguimento das instrues pde ser evidenciado atravs do
aumento da frequncia das respostas de checagem. Dadas respostas teriam a funo de
evitar os erros na separao das sementes.
No experimento outros dados tambm de interesse foram verificados a partir do
emprego dos autoclticos (Abreu & Hbner, 2011). O autocltico uma unidade de
comportamento verbal que depende de outro comportamento verbal para sua ocorrncia,
aumentando o controle daquela sobre o comportamento do ouvinte (Skinner, 1957/1992;
Hbner, 2003; Hbner, Austin, & Miguel, 2008). Pode, devido a essa particularidade, ser
classificado como um operante verbal de ordem superior (Borloti, 2004). De acordo com
Abreu e Hbner (2011), na fase B do estudo, o operante verbal muita poderia ser
classificado com sendo um autocltico quantificador do operante verbal de primeira ordem,
no caso o operante ateno. O autocltico teve o efeito de modificar a reao do P2 na
tarefa de separao das sementes. Esse participante apresentou um aumento na frequncia
das respostas de checagem. Contrariamente ao efeito esperado, P1 no apresentou respostas
de checagem na apresentao da instruo. No foi observado o aumento na frequncia das
checagens em relao fase de linha de base, fato que, conforme pontuaram os autores,
impediria at mesmo a identificao dessa instruo como exercendo funo autocltica.
30
O trabalho de Abreu e Hbner (2011) foi um esforo inicial para trazer essa linha de
pesquisa para a agenda da Anlise Experimental do Comportamento. O estudo dos autores
apresentou algumas limitaes devido ao nmero de participantes adotado e pela
variabilidade encontrada nas frequncias das respostas de checagem. Esse fato impediria a
generalidade dos dados obtidos. Contudo, algumas regularidades comportamentais foram
encontradas em ambos os participantes como o aumento de frequncia das checagens na
fase C (em relao fase B para P1 e fase A para P2) e como a diminuio na fase de
reverso. Novas pesquisas nesse campo sero necessrias na identificao mais precisa das
variveis experimentais. Um mtodo experimental comparando o sujeito consigo prprio,
sob o efeito de diferentes manipulaes verbais, poder ter o potencial de especificar mais
claramente quais so os processos envolvidos no controle das respostas de checagem
(Abreu & Hbner, 2010).
PROBLEMAS DE PESQUISA E EXPERIMENTOS PROPOSTOS
Os Experimentos 1 e 2 se propuseram a ser uma variao metodolgica do estudo
inicial de Abreu e Hbner (2011). Com o objetivo de testar o controle de regras
semelhantes s instrues adotadas pelos autores, foi usado um delineamento de grupo com
reverso e controle de ordem inter-sujeitos (Cooper, Heron, & Heward, 2007).
Segundo Cooper e colaboradores (2007) a combinao do delineamento de grupo
inter-sujeitos e as tticas de reverso permitem uma demonstrao mais convincente do
controle experimental do que uma ttica em isolado. Primeiro por que o delineamento inter-
31
sujeitos permite que se obtenha um isolamento mais preciso do efeito das fases
experimentais atravs da alterao sistemtica de sua sequncia entre diferentes
participantes. Segundo porque o delineamento no abre mo do controle experimental intra-
sujeito, programado para ocorrer com a ttica de reverso para cada participante.
Diferentemente ainda do estudo de Abreu e Hbner (2011), os Experimentos 1 e 2
utilizaram dez tipos de sementes com o objetivo de aumentar o custo de resposta na
execuo da tarefa. Outra mudana relevante foi o aumento do nmero de participantes,
com o emprego de dezesseis adultos verbalmente habilidosos, sendo oito designados para
cada experimento.
EXPERIMENTO 1
O objetivo do Experimento 1 foi testar (1) se uma instruo com especificao de
consequncia aversiva pode ter o efeito de produzir respostas de checagem; e (2) se aps
essa manipulao, seria possvel produzir reverso com a apresentao de uma nova
instruo verbal.
MTODO
Participantes
Oito participantes adultos, sendo sete mulheres e um homem, verbalmente
habilidosos, entre 22 e 60 anos.
32
Ambiente experimental
Os participantes realizaram a separao das sementes no segundo andar de um
restaurante. Esse andar esteve vazio, sem a circulao de pessoas no recinto. Para separao
foram utilizados dez potes de plstico opacos com capacidade para um litro cada. Os potes
traziam etiqueta como nome das sementes. Os potes foram dispostos em cima de uma mesa
de 120X80 cm, colocada logo abaixo da cmera de segurana prpria do estabelecimento.
No incio da separao, os potes j estavam parcialmente cheios em 1/3 de sua capacidade.
Dez tipos de sementes de cores e dimenses semelhantes foram misturados em uma bacia
retangular com capacidade para 20 litros (e.g., fava branca, feijo rajado, feijo bolinha,
soja, feijo de corda, feijo carioca, feijo roxo, feijo branco, feijo jalo e feijo fradinho).
As sementes foram misturadas em igual proporo.
Procedimento
Na ocasio do convite para participar da tarefa, os participantes no foram
informados de que se tratava de um experimento de psicologia. Eles foram apenas
convidados na rua por um auxiliar de pesquisa a ajudar em uma tarefa de separao de
sementes em um restaurante, sendo conduzidos at o local. Foi instrudo que o trabalho
demandaria 45 minutos e que ganhariam R$ 20,00 como ajuda de custos ao final da tarefa.
Igualmente aos experimentos anteriores (Abreu & Hbner, 2011; Arntz et al., 2007;
Ladouceur et al., 1995; Ladouceur et al., 1997), somente ao final da sesso o
experimentador revelou o estudo, explicando ao participante os objetivos e procedncia da
pesquisa com a solicitao de assinatura em termo de consentimento sobre o uso dos dados
obtidos. O termo de consentimento livre e esclarecido foi previamente aprovado pelo
33
Conselho de tica em Pesquisa HU/USP: 1161/11, sob o registro SISNEP CAAP:
0048.0.198.000-11 no Sistema Nacional de tica em Pesquisa.
As sesses experimentais de 45 minutos foram divididas em trs fases de 15
minutos. O tempo da apresentao das instrues no foi contabilizado vista a variao na
diferena do tamanho das frases. O cronmetro foi iniciado ao final da apresentao da
instruo e pausado ao trmino do tempo de cada fase. Com exceo da primeira instruo
que foi feita pessoalmente, as outras instrues foram passadas por um telefone celular,
dado pelo experimentador ao final da primeira instruo para fins de comunicao ao longo
da tarefa. Depois de apresentada a primeira instruo, o experimentador foi para uma sala
ao lado do recinto experimental, assistindo e gravando o desempenho do participante por
meio de uma cmera do restaurante. Em um delineamento de grupo com reverso e
controle de ordem inter-sujeitos, quatro sujeitos foram submetidos sequncia de fases
ABA, e outros quatro sequncia BAB. Para a sequncia de fases ABA, as seguintes
instrues foram assim dispostas:
Fase A: Foi apresentada pessoalmente a seguinte instruo para o participante - [Nome do
participante], aqui esto misturadas dez tipos de sementes nobres. Sua tarefa vai ser separ-
las e coloc-las nesses dez potes menores. Eu vou estar em reunio em outra sala, mas se
precisar falar com voc, farei por este telefone celular.
Fase B (Especificao de consequncia aversiva): Aps 15 minutos transcorridos desde a
instruo A, por telefone foi apresentada a seguinte instruo com especificao de
consequncia aversiva: [Nome do participante], essas sementes vo ser fornecidas para a
34
merenda das crianas de uma escola. Por isso, se encontrar erros na separao, meu chefe
pode querer descontar dinheiro dos seus R$ 20,00.
Fase A: Aps 15 minutos transcorridos desde a instruo B, por telefone foi apresentada a
seguinte instruo para a reverso: [Nome do participante], eu e meu chefe vimos que esse
um lote mais antigo que no ir para a merenda das crianas. Ento s voc separar as
sementes. Daremos garantidos seus R$ 20,00 no final.
A Tabela 1 apresenta a sequncia das fases programadas para cada participante:
Participante
Fase A
Instruo para a
separao das
sementes
Fase B
Instruo com
especificao de
consequncia
aversiva
Fase A
Instruo para a
separao das
sementes
P1 15 min 15 min 15 min
P3 15 min 15 min 15 min
P5 15 min 15 min 15 min
P7 15 min 15 min 15 min
Tabela 1 Apresentao da sequncia das fases programadas para cada participante,
num total de 45 minutos de sesso experimental. O delineamento ABA foi dividido em
trs perodos de 15 minutos. Inicialmente foi apresentada a instruo referente
separao das sementes / linha de base (Fase A); aps 15 minutos transcorridos desde a
instruo A, foi apresentada a instruo com especificao de consequncia aversiva
(Fase B); e aps 15 minutos transcorridos desde a instruo B, foi apresentada a
instruo para a separao das sementes / reverso (Fase A). O tempo total da sesso
excluiu as pausas no cronmetro no momento da apresentao das instrues.
35
Para os quatro participantes que foram submetidos sequncia de fases BAB,
instrues semelhantes foram apresentadas. Contudo a sesso experimental iniciou e
finalizou com as fases de instruo com especificao de consequncia aversiva (e.g., fases
B). A sequncia de apresentao das instrues foi disposta da seguinte forma:
Fase B (Especificao de consequncia aversiva): Foi apresentada pessoalmente a seguinte
instruo para o participante - [Nome do participante], essas sementes vo ser fornecidas
para a merenda das crianas de uma escola. Por isso, se encontrar erros na separao, meu
chefe pode querer descontar dinheiro dos seus R$ 20,00. Eu vou estar em reunio em outra
sala, mas se precisar falar com voc, farei por este telefone celular.
Fase A: Aps 15 minutos transcorridos desde a instruo B, por telefone foi apresentada a
seguinte instruo para a separao das sementes: [Nome do participante], eu e meu chefe
vimos que esse um lote mais antigo que no ir para a merenda das crianas. Ento s
voc separar as sementes. Daremos garantidos seus R$ 20,00 no final.
Fase B (Especificao de consequncia aversiva): Aps 15 minutos transcorridos desde a
instruo A, por telefone foi apresentada novamente a instruo com especificao de
consequncia aversiva: Desculpe, eu me enganei. Esse lote o que realmente vai para a
merenda da escola. Por isso, se encontrar erros na separao, meu chefe pode querer
descontar dinheiro dos seus R$ 20,00.
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A Tabela 2 apresenta a sequncia das fases programadas para cada participante:
Participante
Fase B
Instruo com
especificao de
consequncia
aversiva
Fase A
Instruo para a
separao das
sementes
Fase B
Instruo com
especificao de
consequncia
aversiva
P2 15 min 15 min 15 min
P4 15 min 15 min 15 min
P6 15 min 15 min 15 min
P8 15 min 15 min 15 min
Tabela 2 Apresentao da sequncia das fases programadas para cada participante,
num total de 45 minutos de sesso experimental. O delineamento BAB foi dividido em
trs perodos de 15 minutos. Inicialmente foi apresentada a instruo com especificao
de consequncia aversiva / linha de base (Fase B); aps 15 minutos transcorridos desde
a instruo B, foi apresentada a instruo para a separao das sementes (Fase A); e
aps 15 minutos transcorridos desde a instruo A, foi apresentada a instruo com
especificao de consequncia aversiva / reverso (Fase B). O tempo total da sesso
excluiu as pausas no cronmetro no momento da apresentao das instrues.
Embora a instruo de linha de base seja topograficamente diferente da ltima
instruo de reverso, o critrio que permitiu correlacion-los no delineamento ABA ou
BAB adotado foi o efeito de reverso exercido sobre as respostas de checagem. Portanto,
preencheu-se um critrio funcionalmente-orientado para a reverso (Abreu & Hbner,
2011).
37
Varivel Dependente
Como dimenso da varivel dependente no Experimento 1, foram mensuradas as
porcentagens das respostas de checagem de cada fase. As respostas de checagem so
definidas operacionalmente como sendo a verificao das sementes j separadas nos potes
com funo de evitar ou corrigir erros. Na checagem as seguintes topografias de resposta
foram registradas: a manipulao dentro do pote sem separao de sementes, isto , a
retirada de uma das sementes; o despejar na mo ou mesa e retirada de uma semente de um
grupo j separado; o tirar uma semente de um pote; o transferir a semente erroneamente
separada de um pote para outro; o inclinar/mexer o pote para uma melhor visualizao
durante 2s ou mais; e a observao do pote por 2s ou mais sem manipulao direta.
RESULTADOS
A Figura 1 apresenta as porcentagens das respostas de checagem do Experimento 1,
sequncia de fases ABA, para os participantes P1, P3, P5 e P7.
38
Figura 1 - Porcentagens das respostas de checagem apresentadas pelos participantes P1, P3, P5 e P7 ao longo das fases experimentais ABA do Experimento 1. Cada fase
experimental foi programada para demandar 15 minutos.
P1 apresentou 29% das respostas de checagem na fase A, 42% na fase B de
apresentao da instruo com especificao de consequncia aversiva, retornando para
29% das checagens na fase A de reverso.
P3 apresentou 0% das respostas checagens na fase A, 100% na fase B e 0% na fase
A.
P5 apresentou 17% das respostas de checagem na fase A, aumentando para 66% na
fase B, e retornando para 17% na fase A de reverso.
39
P7 apresentou 62% das respostas de checagem na fase A, diminuindo para 12% na
fase B para, a seguir, aumentar para 26% de checagens na fase A de reverso.
Como efeito comum entre os participantes, observa-se uma maior porcentagem das
respostas de checagem nas fases B (de instruo com especificao de consequncia
aversiva) para P1, P3 e P5, com 42%, 100% e 66% das checagens, respectivamente.
Diferentemente, na fase B, o P7 apresentou 12% das checagens, sendo essa a menor
porcentagem apresentada por esse participante em uma fase.
Para os participantes que apresentaram as maiores porcentagens de checagens nas
fases B, observa-se efeito de reverso total na fase A, no comportamento de P1, P3 e P5,
com 29%, 0% e 17% das checagens, respectivamente. Essas porcentagens so exatamente
as mesmas apresentadas por esses participantes nas fases A de linha de base.
A Figura 2 apresenta as porcentagens das respostas de checagem do Experimento 1,
sequncia de fases BAB, para os participantes P2, P4, P6 e P8.
40
Figura 2 Porcentagens das respostas de checagem apresentadas pelos participantes
P2, P4, P6 e P8 ao longo das fases experimentais BAB do Experimento 1. Cada fase
experimental foi programada para demandar 15 minutos.
P2 apresentou 93% das respostas de checagem na fase B, 0% na fase A, e 7% das
checagens na fase B de reverso.
P4 apresentou 94% das respostas de checagem na fase B, 0% na fase A e 6% das
checagens na fase B de reverso.
P6 no apresentou checagem ao longo das fases experimentais BAB.
P8 apresentou 15% das respostas de checagem na fase B, aumentando para 65% na
fase A para, a seguir, diminuir para 20% das checagens na fase B de reverso.
Como efeito comum entre os participantes, observa-se que h uma maior
porcentagem de respostas de checagem nas fases B (de instruo com especificao de
41
consequncia aversiva) para P2 e P4, com respectivamente, 93% e 94% nas fases B de
linha de base, 7% e 6% nas fases B de reverso.
Diferentemente dos outros participantes, P6 no apresenta qualquer emisso de
respostas de checagem ao longo das fases experimentais. J P8 apresenta uma maior
porcentagem na fase A de instruo para separao em relao s fases B de linha de base e
reverso.
Para P2 e P4 que apresentam as maiores porcentagens de checagens nas fases B,
observa-se ainda uma expressiva menor porcentagem das checagens na fase B de reverso
comparativamente com as fases B de linha de base (B93% - B7% e B94% - B6%,
respectivamente).
Concordncia entre os Observadores
No Experimento 1, com o uso da gravao em vdeo, um segundo observador independente
tambm fez as medies das respostas de checagem apresentadas pelos participantes. O
acordo foi obtido a partir do tempo integral de cada fase. Para cada participante foi feito
ento o clculo de concordncia entre os observadores (CEO), do tipo mdia de contagem
por intervalo (Cooper et al., 2007), atravs da frmula [(CEO fase 1 + CEO fase 2 + CEO
fase 3) / 3 fases] X 100. A Tabela 3 mostra as porcentagens mdias de acordo entre
observadores:
42
Participante
Condio
Amplitude CEO mdia CEO fase A CEO fase B CEO fase A
P1 94 100 87 87-100 94
P3 100 93 100 93-100 98
P5 100 100 100
100
P7 100 100 100
100
CEO fase B CEO fase A CEO fase B
P2 96 100 100 96-100 99
P4 85 100 100 85-100 95
P6 100 100 100
100
P8 100 100 100 100
Tabela 3. Amplitude e porcentagem mdia de concordncia entre observadores para
cada participante do Experimento 1.
DISCUSSO
No Experimento 1, cinco de oito participantes apresentaram maiores porcentagens de
checagens sob especificao de consequncia aversiva. Sobre a propriedade de evocar as
respostas especificadas, Schlinger e Blakely (1987; Blakely & Schlinger, 1987) pontuam que
uma regra no pode ter funo de SD para o seu seguimento, pois antes, ela altera a funo
dos estmulos especificados na formulao verbal. Dessa forma, no comportamento
governado por regras os autores aproximam os efeitos comportamentais do estmulo verbal
dos efeitos alteradores de funo do condicionamento operante e respondente. Por esse
motivo, ao invs do termo regra, os autores adotaram o termo Estmulo Especificador da
Contingncia (CSS) (Blakely & Schlinger, 1987; Schlinger e Blakely, 1987), e mais
recentemente, operao verbal alteradora de funo (Schlinger 2008a; 2008b). Um CSS
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produz mudanas nos estmulos especificados pela regra, sendo eles estmulos
discriminativos, eliciadores, operaes estabelecedoras (OEs) ou estmulos consequentes. Nos
presentes experimentos, opta-se por adotar o termo CSS, visto a especificao da
contingncia, embora Schlinger (1993; 2008a; 2008b) tenha ressaltado mais recentemente a
no necessidade de qualquer requerimento formal como a especificao da contingncia de
reforamento no estmulo verbal.
No Experimento 1, ainda que os CSSs apresentados pessoalmente (e.g., fase de linha
de base) ou por telefone (e.g., outras fases) tenham controlado o comportamento de separao
como evento antecedente, sua a caracterstica principal alterar a funo estabelecedora e
discriminativa de estmulos previamente neutros, fortalecendo ou enfraquecendo as relaes
que dados estmulos guardam com as respostas de checagem. Assim, a estimulao
proprioceptiva aversiva da resposta inefetiva de separao (e.g., eliciada pelo histrico de
pareamento das respostas com consequncias que levaram a punies sociais por no terem
atingido certos critrios de desempenho) e os erros contidos nos potes (e.g., colocar o feijo
branco no bote da fava branca) controlaram uma maior porcentagem das respostas de
checagem.
O seguimento dos CSSs com a especificao de consequncia aversiva para a
resposta inefetiva de separao pode ser evidencia
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