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INTRODUÇÃO
Este trabalho tem por objetivo falar sobre as parasitoses intestinais que
embora amplamente conhecidas e discutidas, pouco têm sido feito com relação ao
seu controle, dando mais ênfase na Cisticercose, Ascaridíase e amebíase.
Tais os cuidados da Enfermagem na parasitologia, listando os principais
cuidados adotados nos pacientes que adquirem algumas das parasitoses citadas
acima, e as principais medicações adotadas a esses pacientes listando seus efeitos
colaterais e a sua eficácia.
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PARASITOLOGIA
Parasitologia é a ciência que estuda os parasitas, os seus hospedeiros e
relações entre eles. Engloba os filos Protozoa (protozoários), do reino Protista e
Nematoda (nematódes), annelida (anelídeos), Platyhelminthes (platelmintos) e
Arthropoda (artrópodes), do reino Animal. Os protozoários são unicelulares,
enquanto os nematódeos, anelídeos, platelmintos e artrópodes são organismos
multicelulares. Temos também parasitismo em plantas (holoparasita e hemiparasita)
como é o caso do cipó-chumbo. Temos parasitismo em fungos (micose) e em
bactérias e até vírus. Como disciplina biológica, o campo da parasitologia não é
determinado pelo organismo ou ambiente em questão, mas pelo seu modo de vida.
Isto significa que forma uma síntese com outras disciplinas, e traz para si técnicas
de campos com biologia celular, bioinformática, bioquímica, biologia molecular,
imunologia, genética, evolução e ecologia.
A parasitologia atua no estudo dos parasitas invertebrados, protozoários e
algumas espécies de parasitas vertebrados.
Esta ciência tem como objetivos principais: Tratar dos sintomas provocados
por parasitas; Desenvolver tratamentos contra os parasitas; Identificar os processos
de desenvolvimento de epidemias parasitárias; Criar métodos de profilaxia das
doenças causadas pelos parasitas em seres humanos e animais.
Os especialistas em parasitologia precisam conhecer muito bem o ciclo de
vida dos parasitas, as formas de infestação e os fatores que influenciam na
distribuição e densidade dos parasitas.
Esta ciência é muito importante, pois muitos parasitas podem provocar
doenças complicadas, levando o indivíduo afetado, se não tratado adequadamente,
à morte.
A parasitologia médica também se preocupa com o estudo do vetor.
No Brasil, as principais parasitoses de interesse médico são:
Protozooses
Amebíase
Tripanosomíase
Leishmanioses
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Giardíase
Tricomoníase
Malária
Toxoplasmose
Balantidiose
Helmintoses
Esquistossomose
Teníase/cisticercose
Hidatidose/equinococose
Enterobiose
Filariose
Ancilostomose/necatoriose
Ascaridíase
Tricocefalíase
Estrongiloidíase
Ectoparasitoses (artrópodes)
Pediculose
Ftiríase
Miíase
Acaríase
As parasitoses intestinais embora amplamente conhecidas e discutidas, pouco
têm sido feito com relação ao seu controle. A prevalência ainda é elevada em países
em desenvolvimento como o Brasil e apesar de todo avanço tecnológico e científico,
as parasitoses intestinais ainda implicam em importante objeto de estudo. Para
alguns autores a parasitose intestinal representa um sério problema de Saúde
Pública, onde são consideradas como indicadores ao nível sócio-econômico, as
condições precárias de saneamento básico e aos hábitos de higiene inadequados.
Entre as doenças de maior prevalência em crianças na faixa etária de 1 a 4 anos
as doenças infecciosas e parasitárias representam 24,7%. Esta situação torna-se
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preocupante quando consideramos crianças em idade escolar, visto que algumas
parasitoses intestinais podem diminuir as funções cognitivas de escolares.
Este trabalho dará mais ênfase em três tipos: Cisticercose, Ascaridíase e
amebíase.
AMEBÍASE
É uma infecção por parasita ou protozoário que acomete o homem podendo
ficar restrita ao intestino, tendo como principal sintoma a diarréia, ou não causando
febre e sintomas diferentes dependendo do órgão “invadido”. Mais freqüentemente o
órgão preferencial a ser comprometido é o fígado. O agente causal é a Entamoeba
hystolitica. Este parasita infecta aproximadamente 1% da população mundial,
principalmente a população pobre de países em desenvolvimento. Recentemente
identificou-se um parasita com a mesma forma da Entamoeba hystolitica que não
causa doença (Entamoeba dispar). Isto é importante porque o achado da ameba nas
fezes de um indivíduo não necessariamente caracteriza amebíase. A E. dispar não é
causadora de doença e a hystolitica pode estar presente no indivíduo e não causar
doença. A diferenciação de uma para a outra é feita por exames de laboratório e
raramente se mostra relevante.
Como se adquire?
Através da ingestão de alimentos ou água contaminada com matéria fecal
contaminada com os cistos da Entamoeba. Pode-se adquirir de outras formas, mas
são bem menos freqüentes e estão restritas praticamente a pessoas com a
imunidade comprometida.
Sintomas
Os sintomas das pessoas com amebíase vão desde a diarréia com cólicas e
aumento dos sons intestinais até a diarréia mais intensa com perda de sangue nas
fezes, febre e emagrecimento. Nestes casos ocorre invasão da parede do intestino
grosso com inflamação mais intensa e os médicos chamam de colite. Podem ocorrer
ulcerações no revestimento interno do intestino grosso, por esta razão o
sangramento. Raramente a infecção causa perfuração do intestino, quando ocorre a
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manifestação é de doença abdominal grave com dor intensa, rigidez e aumento da
sensibilidade da parede além de prostração extrema da pessoa afetada. A doença
pode apresentar-se de forma mais branda com diarréia intermitente levando muitos
anos até surgir um comprometimento do estado geral.
Não muito comumente o protozoário pode penetrar na circulação e formar
abscessos (coleções fechadas no interior de algum órgão ou estrutura do corpo) no
fígado que causam dor e febre com calafrios. Estes abscessos podem romper-se
para o interior do abdômen ou mesmo do tórax comprometendo as pleuras (camada
que reveste os pulmões) ou o pericárdio (camada que reveste o coração). Também
raramente podem formar-se tumorações no intestino que se denominam
“amebomas”.
As situações de doença extra-intestinal ou invasiva são as que levam aos
casos mais extremos que evoluem para a morte do indivíduo infectado.
Diagnóstico
O exame de fezes detecta o parasita com alguma facilidade. A forma mais invasiva
depende do que os médicos chamam de exames de imagem (tomografia
computadorizada, ecografia ou ressonância magnética). Algumas vezes para
confirmação diagnóstica , além do exame de imagem os médicos usam agulhas
finas para puncionar os abscessos. Nas formas mais invasivas, quando o
diagnóstico não for possível por identificação do cisto utiliza-se exames de sangue
para a detecção da presença de anticorpos contra o parasita.
Incidência
Sua incidência é mundial tendo maior prevalência nas regiões tropicais e
subtropicais, sendo relacionado com as precárias condições de higiene, educação
sanitária e alimentação dos povos subdesenvolvidos dessas regiões do que
propriamente ao clima.
Tratamento
Metronidazol
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Reações adversas/efeitos colaterais: Anorexia, náusea, vômito, dor
abdominal, diarréia e sabor metálico na boca. Cefaléia, tonturas, vertigens,
convulsão, confusão mental, alucinações e insônia. Prurido e urticária. Colúria.
Neuropatia periférica e parestesias. Leucopenia e trombocitopenia.
Resultados e eficácia: está indicado no tratamento da giardíase, amebíase,
tricomoníase, vaginites por Gardnerella vaginalis e infecções causadas por bactérias
anaeróbias como Bacteroides fragilis e outros bacteróides, Fusobacterium sp,
Clostridium sp, Eubacterium sp, cocos anaeróbios.
Secnidazol
Reações adversas/ efeitos colaterais: Como resposta ao uso deste
medicamento podem ocorrer as seguintes reações desagradáveis: náuseas,
epigastralgia, alteração do paladar (gosto metálico), glossites e estomatites,
erupções urticariformes, leucopenia moderada, reversível com a suspensão do
tratamento. Também podem ocorrer vertigens, falta de coordenação motora e ataxia,
parestesias, polineurites.
Resultados de eficácia: é um medicamento parasiticida, com ação amebicida,
giardicida e tricomonicida. A ação farmacológica máxima é alcançada 3 horas após
a administração em dose única de 2g de Secnidazol.
Prevenção
Como na maioria das doenças, a melhor medida ainda é a prevenção, neste
caso, a prevenção se dá através de medidas higiênicas mais rigorosas junto às
pessoas que manipulam alimentos, saneamento básico, não consumirem água de
fonte duvidosa, higienizar bem verduras, frutas e legumes antes de consumi-los,
lavar bem as mãos antes de manipular qualquer tipo de alimento, e, principalmente
após utilizar o banheiro.
Recentemente a possibilidade de vacina para um futuro não muito distante
mostrou-se viável.
Cuidados da Enfermagem
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Os cuidados do Enfermeiro nesse caso são essenciais para a qualidade de
vida desse paciente. Trabalhando no nível de prevenção do adoecimento e
reinfestação.Por estar muito mais próximo do paciente e da comunidade do que o
próprio medico, o enfermeiro é o primeiro profissional a identificar os sintomas da
doença e posteriormente relata ao medico que simplesmente solicita exames e
prescreve o medicamento. Cabe ao enfermeiro anotar as queixas e sintomas do
paciente, colher dados sobre a possível forma de transmissão, orientar os pacientes
sobre os hábitos corretos de higiene (higienizar bem as frutas e verduras antes de
consumi-las, lavar bem as mãos, orientar sobre o saneamento básico entre outras
coisas).
ASCARIDIASE
A ascaridíase, ascaridose, ascariose e ascaríase é uma parasitose
geralmente benigna causada pelo verme nemátode Ascaris lumbricoides, também
conhecido popularmente como lombriga ou bicha.
São vermes nemátodes, ou seja fusiformes sem segmentação, e com tubo
digestivo completo. A reprodução é sexuada, sendo a fêmea (com até 40 cm de
comprimento) bastante maior que o macho, e com o diâmetro de um lápis. Os ovos
têm 50 micrometros e são absolutamente invisíveis a olho nu. Ao contrario da crença
popular, a Ascaridíase não é "Criada" quando uma pessoa fica assustada ou
traumatizada.
O ser humano infectado libera, junto às fezes, ovos do parasita. Assim a larva
se desenvolve em ambientes quentes e úmidos (por exemplo, o solo nos países
tropicais) no qual permanece dentro do ovo. A infecção ocorre por meio da ingestão
dos ovos infectantes em água ou alimentos, principalmente verduras. As larvas são
liberadas no intestino delgado e alcançam a corrente sanguínea através da parede
do intestino. Infectam o fígado, onde crescem durante menos de uma semana e
entram nos vasos sanguíneos novamente, passando pelo coração e seguem para os
pulmões. Nos pulmões invadem os alvéolos, e crescem mais com os nutrientes e
oxigênio abundantes nesse órgão bem irrigado. Quando crescem demasiados para
os alvéolos, as larvas saem dos pulmões e sobem pelos brônquios chegando à
faringe onde são maioritariamente deglutidas pelo tubo digestivo, passando pelo
estômago, atingem o intestino delgado onde completam o desenvolvimento,
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tornando-se adultos.Apesar de haver alguns casos em que são expectoradas saindo
pela boca. A forma adulta vive aproximadamente dois anos. Durante esse período,
ocorre a cópula e a liberação de ovos que são excretados com as fezes.
Incidência
Sua incidência é maior nas regiões tropicais e temperadas do mundo, incide
mais em locais de clima quente e úmido, bem como onde as condições higiênicas da
população são mais precárias, sendo o homem a única fonte de parasitos, onde a
população infantil, em idade escolar e pré-escolar é as mais infectadas.
Progressão e Sintomas
A grande maioria dos infectados tem apenas um número pequeno de
lombrigas que não causam nenhum sintoma.
O período de incubação entre a ingestão do ovo e a chegada do parasito
adulto ao lúmen intestinal dura cerca de dois meses. Nesse período as larvas
passam por vários órgãos, como fígado e pulmões. Normalmente não causam
problemas na sua migração mas, particularmente se existirem em grandes números,
podem causar irritação pulmonar com hemorragias e hemoptise (tosse com sangue).
Outros sintomas nesta fase além da tosse são faltos de ar (dispneia) e febre baixa.
Após chegada ao intestino e maturação nas formas adultas, os parasitos
nutrem-se com o bolo alimentar e não são invasivos. Sintomas possíveis numa
maioria incluem náuseas, vômitos, diarréia e dor abdominal, particularmente se a
carga de parasitas é alta. Em alguns casos em que existe subnutrição do
hospedeiro, os parasitas alimentam-se das próprias paredes intestinais causando
hemorragias internas que podem levar à morte do hospedeiro.
As complicações graves da ascaridíase são raras e predominantemente em
crianças que têm grande número de parasitos (devido muitas vezes às crianças
comerem terra ou lamberem objetos sujos de terra). Assim, um grande número de
adultos no intestino pode formar uma bolo de parasitos, que obstrui a passagem dos
alimentos pelo intestino (íleo mecânico); grande número de parasitas na passagem
pelos pulmões e faringe podem provocar crises de asfixia; e a migração de parasitas
para os ductos biliares, pancreáticos ou apêndice resultar em colecistite, pancreatite
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ou apendicite. Pode também existir a forma errática da infecção (altas cargas
parasitárias), onde os parasitos albergam órgãos não naturais da infecção podendo
provocar hemorragias internas.
Diagnostico
O diagnóstico é feito pela observação microscópica de ovos nas fezes,
através do Exame Parasitológico de Fezes, pelo método do HPJ (Método de
Sedimentação Espontânea). O diagnóstico também pode ser feito por testes
imunológicos ou exames de imagem, como endoscopias, ultrassonografias e raios-
X, sendo esses últimos acidentais.
Tratamento
Mebendazol
Reações adversas / Efeitos colaterais: em pacientes com alta carga
parasitária manifestam diarréia e dor abdominal.
Resultados e eficacia: é um anti-helmíntico polivalente, indicado no
tratamento da verminose, especialmente destinado ao tratamento das infestações
isoladas ou mistas, causadas por Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiura,
Enterobius vermiculares, Ancylostoma duodenale, Necator americanus, Taenia
solium e Taenia saginata. Atua sobre os principais vermes que parasitam os adultos
e crianças, provocando a sua desintegração e eliminação nas fezes.
Albendazol
Reações adversas / Efeitos colaterais: Casos raros de desconforto
gastrintestinal, náuseas e vômitos, diarréia, constipação, cefaléia, secura da boca e
prurido cutâneo têm sido relatados.
Resultados de eficácia: O Albendazol tem ação anti-helmíntica.
Em casos de obstrução intestinal, o indicado é que antes da administração
desses medicamentos seja utilizado piperazina e óleo mineral. O tratamento deve
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ser repetido após algumas semanas para matar larvas que possam estar migrando
e, portanto, inacessíveis aos fármacos administrados por via oral no intestino.
Prevenção
Ingerir somente água tratada, lavar bem frutas e legumes antes de ingeri-los,
lavar sempre as mãos, não defecar em locais inapropriados, dente outras, fazem
parte desta lista.
Cuidados da Enfermagem
O enfermeiro é um profissional que por ter no cuidado a essência de sua
prática, pode contribuir com a formação de outros profissionais, com a elaboração
de manuais de procedimentos, planejamento e supervisão dos cuidados com os
pacientes, ou ate mesmas crianças em escolas.
Além disto, a educação para a saúde dos familiares e das crianças pode
contribuir para a aquisição de hábitos saudáveis evitando as parasitoses em geral.
Evitando possíveis fontes de infecção, orientando a população a ingerir
vegetais cozidos e não crua higiene pessoal, saneamento básico adequado.
CISTICERCOSE
A teníase é uma infecção intestinal ocasionada principalmente por dois
grandes parasitos hermafroditas da classe dos cestódeos da família Taenidae,
conhecidos como Taenia solium e Taenia saginata. As tênias também são
chamadas de solitárias,[1] porque, na maioria dos casos, o portador traz apenas um
verme adulto. São altamente competitivas pelo seu habitat e, sendo seres monóicos
com estruturas fisiológicas para autofecundação, não necessitam de parceiros para
a cópula e postura de ovos. Responsáveis pelo complexo teníase-cisticercose que
se constitui de uma série de alterações patológicas, trazem no seu conjunto um sério
problema de saúde pública, principalmente nos países pobres, onde pode não existir
higiene básica além de problemas socio-culturais.
Teníase e cisticercose são causadas pelo mesmo parasita, porém com uma
fase de vida diferente. A teníase ocorre devido a presença de Taenia solium adulta
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ou Taenia saginata dentro do intestino delgado dos humanos, que são os
hospedeiros definitivos; a cisticercose ocorre devido presença da larva (chamada
popularmente de canjiquinha) que pode estar presente em hospedeiros
intermediários, onde os mais comuns são os suínos e os bovinos, onde os humanos
acidentalmente podem abrigar esta forma. São, portanto, duas fases distintas de um
mesmo verme, causando duas parasitoses no homem, o que não significa que uma
mesma pessoa tenha que ter as duas formas ao mesmo tempo. A teniase provocada
por Taenia solium é considerada não letal, todavia, sua etapa larvária pode provocar
cisticercose mortal.
Estas parasitoses são conhecidas há muito tempo. Os antigos pesquisadores
pensavam entretanto que tratava-se de patologias diferentes, o que acabou por dar
nomes diferentes para a forma larvária e adulta. O ano de 1697 é marcado por
Malpighi que identificou como verme o agente da canjiquinha. Em 1786 e em 1789,
Werner e Goeze, respectivamente, descobriram que as formas apresentadas por
humanos e porcos eram iguais. Em 1758 as duas espécies Taenia solium e
T.saginata foram descrita por Linnaeus. Zeder, em 1800, cria o gênero Cysticercus
para o agente da canjiquinha. Em 1885, Küchenmeister consegue provar através de
experimentações que o cisticerco presente em suínos da origem ao verme nos
humanos.
Epidemiologia
Taenia solium e T. saginata são parasitos de ampla distribuição, encontrando-
se mais freqüentemente em áreas onde existe o hábito de ingerir carne de gado e/ou
de porco, crua ou mal cozida. Estima-se que mais de 70 milhões de pessoas
estejam infectadas por T. saginata e que até 2,5 milhões possam estar infectadas
por T. solium no Mundo.
A teníase por T. saginata é descrita em vários países, com áreas de alta
prevalência – África, Oriente Médio, Ásia Central e América Latina, moderada
prevalência – países europeus, Japão e Filipinas e baixa prevalência – Austrália,
Estados Unidos e Canadá. Em relação à teníase por T. solium, tem endemicidade
mais elevada na América Latina. Nas comunidades judaicas a prevalência é muito
baixa, provavelmente pela proibição religiosa da ingesta de carne de porco.
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Etiologia
Taenia spp. são parasitos do filo Platyhelminthes, classe Cestoidea, ordem
Cyclophyllidea, família Taeniidae. São caracterizados por ausência completa de
aparelho digestivo, sistema reprodutor hermafrodita, presença de ventosas e escólex
que fixam o helminto à mucosa intestinal, sendo habitantes do terço médio do
intestino delgado do homem, podendo sobreviver por até 30 anos.
Formas evolutivas
O verme adulto é grande, achatado, tem forma de fita e coloração branca.
Taenia solium possui habitualmente de um a quatro metros de comprimento
(podendo alcançar nove metros), enquanto T. saginata pode medir de quatro a dez
metros (já foram descritos, no entanto, espécimes com até 25 metros). Ambas
apresentam um escólex que mede cerca de um milímetro, com quatro ventosas
salientes, possuindo T. solium rostro pouco desenvolvido, armado com dupla hélice
de acúleos ou ganchos (de 30 a 70) posto isso, é também denominada de “tênia
armada”.
O estróbilo é ligado ao escólex por um colo – que mede de três a sete
milímetros – e possui centenas de proglotes (cerca de 700 a 900 em T. solium e de
1.000 a 2.000 para T. saginata). As proglotes jovens são mais largas do que
compridas, enquanto as maduras têm comprimento similar à largura, possuindo
diferenciação de órgãos sexuais masculinos e femininos. Cada proglote possui de
150 a 200 massas testiculares para T. solium e de 300 a 400 para T. saginata. Há
ramificações uterinas, pouco numerosas em T. solium, ao contrário do observado
para T. saginata – ramificações uterinas muito numerosas, do tipo dicotômico. As
proglotes de T. solium, diversamente de T. saginata, que é eliminada ativamente,
são eliminadas de forma passiva com o bolo fecal.
Os ovos das duas espécies, indistingüíveis à microscopia comum, possuem
forma esférica, medindo entre 30 e 40 micrômetros e possuindo no interior três
pares de acúleos, denominados oncosferas ou embrião hexacanto. Os ovos
resistem por até um ano em ambiente com alta umidade.
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As formas larvárias de T. solium e T. saginata são representadas pelo
Cysticercus cellulosae e Cysticercus bovis (termos sem valor taxonômico).
Apresentam-se como estruturas vesiculares, transparentes, de tamanho variável,
com líquido em seu interior, compostas por uma membrana vesicular e pelo escólex,
que é similar ao do verme adulto, colo e estróbilo (corpo rudimentar).
Diferencia-se a forma larvária de T. saginata daquela de T. solium por esta
última possuir no escólex, à semelhnaça do verme adulto, uma coroa de ganchos
(acúleos), não presente na larva de T. saginata.
Ciclo evolutivo
O homem, único hospedeiro definitivo, uma vez infectado, é capaz de eliminar
mais de 500.000 ovos diariamente, contaminando o solo, as pastagens e as
coleções d’água. Os hospedeiros intermediários – porco para T. solium, boi para T.
saginata – ingerem ovos do helminto. Através da ação do suco digestivo e da bile há
liberação da oncosfera e penetração desta na luz intestinal, com invasão da mucosa
e acesso à circulação sangüínea, sendo levada, então, passivamente para a
musculatura esquelética e cardíaca, onde se desenvolve e, em média, após 60 dias
passa a ser infectante para os humanos.
Estes, ao ingerir a carne crua ou mal cozida infectada com os cisticercos,
poderão desenvolver a teníase. Após a ingestão há desinvaginação, com liberação
dos escólices, os quais se fixam à mucosa intestinal por suas ventosas e acúleos –
para T. solium – aí permanecendo até seu desenvolvimento completo, em cerca de
três meses.
Caso o homem “funcione” como hospedeiro intermediário de T. solium,
interpondo-se acidentalmente ao ciclo (ingestão dos ovos provindos de água e
alimentos contaminados naturalmente ou através da manipulação de alimentos por
pessoas com hábitos de higiene inadequados), o ciclo desenrola-se como o descrito
para os suínos, com liberação da oncosfera pela ação dos sucos digestivos e da
bile, que através da corrente sangüínea chega a várias partes do organismo. A larva,
então, desenvolve-se preferencialmente em locais com alta concentração de
oxigênio, como o sistema nervoso central, os olhos, a musculatura esquelética e,
menos comumente, os nervos periféricos, língua, cavidade oral, coração, pleura,
pulmão e peritônio, originando assim a cisticercose.
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Patogênese
São fatores relevantes na patogênese da teníase:
1) Acelerado crescimento do parasito, o que requer importante suplemento de
nutrientes e energia.
2) Perdas sangüíneas (geralmente discretas) nos locais de fixação do escólex.
3) Reações alérgicas e de hipersensibilidade (urticárias, prurido e, mais raramente,
broncoespasmo).
Eventualmente, ainda que evento raro, há localização ectópica dos proglotes,
podendo causar obstruções no apêndice (apendicite), nos ductos biliares e
pancreáticos.
História natural
Teníase
Muitos pacientes com teníase são assintomáticos. Os principais sintomas são
náuseas, vômitos, anorexia, diarréia (eventualmente alternada com constipação),
dores epigástricas (“dor de fome”), cólicas abdominais, emagrecimento, insônia,
tonturas e fenômenos alérgicos, como prurido cutâneo e urticária. Alguns autores
relatam a ocorrência de irritabilidade, insônia, cefaléia e vertigens relacionadas à
doença.
Cisticercose
A infecção humana ocorre a partir da ingestão acidental dos ovos, como
resultado da contaminação de alimentos ou da água. Além disso, há possibilidade
de retroinfestação, na qual se acredita que os segmentos grávidos são regurgitados
no estômago, resultando na liberação de ovos e no desenvolvimento de cisticercose
em um indivíduo com teníase.
O quadro clínico decorre principalmente da invasão do sistema nervoso
central pelos cisticercos, variando desde sintomas neurológicos leves até crises
convulsivas graves, tônico-clônicas generalizadas. Outros sinais e sintomas incluem
cefaléia, zumbido, queixas oculares, como borramento da visão, fotofobia e diplopia,
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alterações da personalidade, anestesia localizada, afasia, amnésia, letargia e
fraqueza. Algumas vezes ocorre hipertensão intracraniana – a qual pode ser grave,
inclusive com evolução para o óbito – devido à hidrocefalia que se segue ao
bloqueio das vias de circulação do líquor pelo cisticerco. Na cisticercose ocular os
sintomas variam desde um desconforto leve até uma inflamação grave.
Diagnóstico
Teníase
Clínico
De um modo geral os sinais e sintomas são comuns às infecções por outros
parasitos intestinais. O relato de eliminação de proglotes grávidas, juntamente com
as fezes ou livres, nas roupas e lençóis, deve levar à suspeita da parasitose.
Laboratorial
O exame laboratorial das fezes deve ser encaminhado ao laboratório após
coleta em recipiente limpo. No entanto não é possível, na maioria das vezes,
encaminhá-las imediatamente. Nessas situações, há necessidade do uso de
conservantes.
Para a confirmação diagnóstica da teníase se pode lançar mão dos seguintes
métodos diagnósticos:
1. Pesquisa de proglotes nas fezes: realizada através da técnica de tamização do
bolo fecal
2. Pesquisa de ovos nas fezes: através dos métodos usuais – Faust, Hoffman, Pons
e Janer, método de Garham, entre outros (uma das limitações é não ser possível o
discernimento da espécie).
3. Testes sorológicos: os principais são hemaglutinação, imunofluorescência indireta
(IFI) e ELISA, os quais podem auxiliar no diagnóstico de teníase, quando da
ineficácia da pesquisa parasitológica
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4. Detecção de antígenos: utilizando ensaios coproantigênicos, com especificidade
elevada
5. Biologia molecular: realizada através da utilização de probes de DNA,
apresentando o método alta especificidade e sensibilidade para diagnosticar e
diferenciar as espécies de Taenia.
Cisticercose
O diagnóstico laboratorial é feito com base nos exames de imagem, como a
tomografia computadorizada de crânio (TC) e a ressonância magnética (RNM) e na
avaliação do líquido cefalorraquidiano. As alterações liquóricas dependem de vários
fatores, como a localização do cisticerco, seu estágio evolutivo e a reação do
hospedeiro. O líquor se apresenta, em geral, claro, com aumento da pressão, da
celularidade (com eosinofilia) e aumento das proteínas, sobretudo das globulinas.
Os exames sorológicos podem ser realizados no sangue e no líquor. O ELISA
no sangue é um teste que oferece alta sensibilidade e especificidade, quando há
doença ativa. Outros exames utilizados são a imunofluorescência indireta, a
hemaglutinação e a fixação de complemento, que podem resultar em grande número
de falso-reatores.
Tratamento
Teníase
As principais opções terapêuticas para o tratamento das teníases são, por
ordem de opção, praziquantel, albendazol, mebendazol e niclosamida.
Praziquantel
Reações adversas/efeitos colaterais: náuseas, dores abdominais, cefaléia,
vertigens, sonolência, palpitação, prurido, urticária, vômito, cinetose, sensação de
“cabeça oca”, diarréia, hipoacusia, hiporreflexia, distúrbio visual e tremor.
Resultados e eficácia: atuação sobre as duas espécies do gênero Taenia,
bem como sobre Schistosoma spp., Hymenolepis diminuta, Hymenolepis nana
(inclusive as formas larvárias), Diphyllobothrium latum, Opisthorchis spp.,
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Paragominus westermani, Dipylidium caninum, Fasciolopsis buski, Heterophytes
heterophytes, Metagonimus yokogawai, Nanophyetus salmincola e Clonorchis
sinensis.
Albendazol
Reações adversas / Efeitos colaterais: Casos raros de desconforto
gastrintestinal, náuseas e vômitos, diarréia, constipação, cefaléia, secura da boca e
prurido cutâneo têm sido relatados.
Resultados de eficácia: O Albendazol tem ação anti-helmíntica.
Em casos de obstrução intestinal, o indicado é que antes da administração
desses medicamentos seja utilizado piperazina e óleo mineral. O tratamento deve
ser repetido após algumas semanas para matar larvas que possam estar migrando
e, portanto, inacessíveis aos fármacos administrados por via oral no intestino.
Mebendazol
Reações adversas / Efeitos colaterais: pacientes com alta carga parasitária
manifestam diarréia e dor abdominal.
Resultados e eficacia: é um anti-helmíntico polivalente, indicado no
tratamento da verminose, especialmente destinado ao tratamento das infestações
isoladas ou mistas, causadas por Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiura,
Enterobius vermiculares, Ancylostoma duodenale, Necator americanus, Taenia
solium e Taenia saginata. Atua sobre os principais vermes que parasitam os adultos
e crianças, provocando a sua desintegração e eliminação nas fezes.
Niclosamida
Reações adversas /efeitos colaterais: náuseas, vômitos e diarréia.
Resultados e eficácia: é ativo contra Diphyllobothrium latum, Dipylidium
caninum, Echinococcus granulosus, Enterobius vermicularis, Hymenolepis nana,
Hymenolepis diminuta, Taenia solium e Taenia saginata
Sementes de abóbora
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São também relatadas propriedades tenífugas das sementes de abóbora
(Curcubita pepo e Curcubita maxima), as quais devem ser administradas seguidas
de purgativo para eliminação do helminto. Segundo Rey, recomenda-se
especialmente para tratar crianças: triturar 200 a 400 gramas de sementes e
administrá-las misturadas com mel ou xarope de frutas.
Controle de cura
É feito a partir do exame das fezes – em geral há eliminação do helminto cerca
de 48 horas após a ingestão do vermífugo. A Taenia spp. eliminada deverá ser
examinada em laboratório, para verificar se houve eliminação completa do parasito.
Caso não haja eliminação total do helminto, deverão ser realizados exames
parasitológicos até três meses após o tratamento neste caso, a eliminação de novos
proglotes indica a ineficácia do tratamento, evocando a necessidade de novo curso
terapêutico.
Cisticercose
Os indivíduos com quadro de cisticercose, especialmente a neurocisticercose,
devem ser internados devido às intercorrências neurológicas apresentadas, como
edema cerebral e convulsões.
O tratamento sintomático, que consiste no controle das convulsões com
fármacos anticonvulsivantes, é consenso entre os autores. Os corticosteróides são
freqüentemente indicados nos casos de aracnoidite crônica, encefalite, racema e no
acometimento ocular, nos quais a reação inflamatória funciona de forma lesiva, com
seqüelas importantes.
É discutida a indicação de tratamento cisticida em pacientes oligo ou
assintomáticos, sendo indicada na doença ativa. Dois fármacos vêm sendo
utilizados: 1) o albendazol, na dose de 10 a 15 mg/kg/dia, por 8 dias e 2) o
praziquantel, na dose de 50 mg/kg/dia, por 30 dias. Alguns estudos sugerem melhor
resposta com o albendazol, por possuir ação sobre os cistos parenquimatosos,
meninges e cistos ventriculares, assim como em casos oculares, além de menor
incidência de efeitos adversos.
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A indicação cirúrgica é opção terapêutica nos casos de cistos intraventriculares e
na hidrocefalia, realizando-se derivação ventrículo-peritoneal, para alívio da
hipertensão intracraniana. Nos casos de acometimento medular, além do tratamento
específico e do uso de medidas antiedema, geralmente há necessidade de conduta
cirúrgica, com retirada dos cistos, fato também de marcada importância na forma
ocular.
Cuidados de enfermagem
Os pacientes com neurocisiticercose podem apresentar inúmeros distúrbios do
comportamento. O acolhimento deste paciente é fundamental, fornecendo o suporte
necessário para sua adequada segurança. A monitorização dos sinais vitais, dos
valores tensionais, do nível de consciência e da ocorrência de crises convulsivas
deve ser constante. Daí a importância dos cuidados de enfermagem para este
paciente, devendo ser adotada uma visão holística.
Ao profissional de enfermagem cabe: 1) administrar os medicamentos prescritos
pelo médico – como anticonvulsivantes, corticosteróides, antidepressivos e/ou
antibioticoterapia 2) colher e encaminhar ao laboratório exame parasitológico das
fezes para pesquisa de proglotes ou ovos 3) colher uma amostra de sangue para
realização de testes sorológicos e/ou auxiliar na punção lombar para obtenção de
uma amostra de líquor 4) cateterizar o enfermo com o cateter enterogástrico
apropriado para administrar o vermífugo, caso o paciente tenha dificuldade de
deglutição.
A observação da enfermagem deve ser constante, visando a eliminação total do
parasito nas fezes, principalmente nos momentos de troca de fraldas descartáveis.
Profilaxia e controle
Entre as principais atribuições dos profissionais de saúde devem ser destacadas
a promoção de estilos de vida saudáveis e o encorajamento à adesão de medidas
de segurança e prevenção contra as doenças parasitárias. O profissional deve
orientar as pessoas quanto às mudanças dos hábitos alimentares, como abolição da
ingestão de carnes cruas ou mal cozidas, além de ensiná-las a exigirem o aval dos
órgãos governamentais competentes para a fiscalização, avaliação e inspeção da
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carne para consumo, auxiliando, assim, no combate aos criadouros e abatedouros
clandestinos.
Deve-se lembrar que também fazem parte dos aspectos de educação para a
saúde a abordagem aos seguintes temas: 1) higiene corporal e de moradia 2)
saneamento básico com destino adequado das fezes e 3) consumo de água tratada.
Com tudo isso é possível minimizar a contaminação do solo e a infecção de animais
e de novos indivíduos.
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CONCLUSÃO
Este trabalho sobre parasitoses revela que este agravo ainda é um importante
problema de saúde pública. O enfermeiro é um profissional que por ter no cuidado
a essência de sua prática, pode contribuir com a formação de profissionais
escolares, com a elaboração de manuais de procedimentos, planejamento e
supervisão dos cuidados com os.pacientes.
Além disto, a educação para a saúde dos familiares e das crianças pode
contribuir para a aquisição de hábitos saudáveis evitando as parasitoses em geral.
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Rubio, 2004.
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