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Page 1: Serí(e)ssima: UnReal - A Farda dos Realities

MINHA SÉRIE...● Luiz GonzagaLopes, 46 anos,jornalista“’É verdade. Nósnão nossubmetemos ao terror. Nóscriamos o terror’. A frasepertence a Frank Underwood efoi dita na 4ª temporada deHouse of Cards, que hoje é oque de melhor os EUA estãoproduzindo em séries sobrepoder. A fórmula dareprodução do contexto debastidores palacianos (oucapitolianos), conchavos,lobbies, vale-tudo para chegare se manter no poder, napresidência americana, aindanão desgastou depois dequatro anos. Frank (KevinSpacey) segue forte, muito emfunção da organicidade do ator,mas a nova temporada aindaguarda espaço para a evoluçãode Claire (Robin Wright), quequer a separação, mas voltacom Frank por outrasambições. Série bemembasada, com beloscoadjuvantes. Destaque àentrada de Neve Campbellcomo articuladora dacampanha dos Underwood.Realismo puro, apesar de serficção.”

Os reality shows revoluciona-ram o entretenimento televisi-vo há alguns anos. Assistir dra-mas teoricamente reais oucompetições com pessoas co-muns se tornou um dos passa-tempos preferidos do público,tanto que os mais variados for-matos são líderes de audiênciaem inúmeros países. Por aqui,por exemplo, a 16ª edição doBig Brother Brasil agradou tan-to, mesmo estando há 15 anosno ar, que a Globo já pensa emrenovar o contrato com a Ende-mol (que vence em 2018) parater mais edições. Impossívelnão falar também do Master-Chef Brasil que, desde 2014, vi-rou o carro-chefe da programa-ção da Band.

Mas a pergunta que nãoquer calar, mesmo depois de

anos e anos, ainda permanecesem respostas concretas: osreality shows realmente sãoverdadeiros ou tudo não passade um grande e manipuladocirco? A série UnREAL, que es-treia amanhã no canal Lifeti-me, às 23h30, quer mostrarque nada é o que parece emum reality show. Bom, pelo me-nos não em The Bachelor, fa-moso reality de encontros amo-rosos que inspirou o premiadocurta-metragem Sequin Razeque, por sua vez, incentivou es-ta trama ficcional.

Para os não familiarizadoscom o programa The Bachelor(que significa, em tradução li-vre, solteirão), saiba que a pre-missa é simples: Mulheres dis-putam o amor de um belo ra-paz e, para isso, vale pratica-

mente tudo, como mentir, fa-lar mal da amiga e usar dra-mas familiares, doenças e sexocomo vantagem. Festas luxuo-sas, viagens, encontros român-ticos e entrevistas individuaisdão o tom da atração, com opartidão eliminando as jovensaté sobrar apenas uma.

O que UnREAL mostra éum lado extremamente obscu-ro da competição, com direto-res e produtores manipulandoas concorrentes de forma ines-crupulosa e desonesta, seja pa-ra enquadrá-las em papéis (co-mo vilã, desesperada e vadia)como para conseguir audiên-cia, mesmo que seja colocan-do as meninas em conflitocom mentiras deslavadas.

As situações causadas pelaequipe do programa são tão ab-surdas que muitas vezes a sáti-ra parece exagerada — comoesconder a morte do pai deuma das concorrentes para se-gurar o espetáculo e, depois,usar as reações explosivas damenina fora de contexto paratransformá-la em vilã. Por ou-

tro lado, a série foi criada porSarah Gerttude Shapiro, queatuou como produtora justa-mente de The Bachelor duran-te seis anos. Ou seja, mais doque saber exatamente o queacontece no reality, pode-se di-zer que a personagem princi-pal, a produtora Rachel Gold-berg (Shiri Appleby, de Girls), éo retrato dela mesma.

“Rachel é muito boa no quefaz, seja produzindo as pessoasou as manipulando para conse-guir os resultados que ela quer,por vários motivos”, diz a atrizShiri. Segundo ela, Rachel sem-pre se mantém do lado de fora,observando as pessoas de lon-ge para captar quem elas são equais seus comportamentos.“Além disso, a mãe dela é psi-quiatra, então ela tem aprendi-do sobre terapia e manipula-ção durante anos, inclusive co-mo fazer lavagem cerebral e ti-rar vantagem disso. E, por fim,as pessoas olham para ela e,por algum motivo inexplicável,confiam nela e isso a ajuda ase sobressair em relação aos

outros produtores”, completa.Rachel, apesar disso, e mes-

mo sendo difícil acreditar, temum coração e, algumas vezes,a dor na consciência fala maisalto. Tanto que o público des-cobre, já no primeiro episódio,que ela surtou na temporadapassada, cansada de tantas fal-catruas e maldades. “Os reali-ties estão na TV há tanto tem-po, e as pessoas esperam tantodeles, que é muito importantepara os produtores criar situa-ções, dramas que durem porum episódio todo, por umatemporada inteira, por dez, 20temporadas. Então eles preci-sam de táticas para isso, e algu-mas não são muito legais. Tan-to que a Rachel decide destruirtoda a cerimônia das rosas eroubar um maserati para fugirdali”, diz Shiri.

Cada produtor tem as suasmeninas e, conforme elas avan-çam, eles vão sendo remunera-dos por isso. Ou seja, a compe-tição maior acontece mesmopor trás das câmeras. Se forpreciso destruir a imagem de

uma inocente para ficar nafrente do colega e faturar umagrana, eles dificilmente pen-sam duas vezes no assunto.Deixam para conviver com aculpa mais para frente.

O melhor exemplo disso équando a produtora Shia (Ali-ne Elasmar), esmagada pelascompetidoras de Rachel, pedepara uma de suas meninas sermais atirada, e ela acaba bêba-da e abusada sexualmente.Mesmo assim, quando a mani-pulação passa dos limites atémesmo para os donos doshow, nada disso vai parar emrede nacional, claro.

“É o tipo de show que temapelo global porque ele sim-plesmente mostra o que existepor trás dos realities, um estilode programa que o mundo in-teiro é obcecado. Todos nós te-mos curiosidade em saber co-mo nossos programas favori-tos são feitos, o que aconteceatrás das câmeras. E descobri-mos que isso seria um realityainda mais interessante”, finali-za a atriz.

Nova série do LIFETIME, UnREAL mostra de forma CRUEL e sombria como os BASTIDORES de um realitySHOW produzem tramas mais interessantes e surpreendentes do que o próprio ENREDO do programa. Afinal, oque se vê na TV é apenas CONTEÚDO manipulado enquanto a competição REAL acontece atrás das câmeras

Divulgação

CampinasDOMINGO 27 / 03 / 2016

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