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Artigo
Rtulos narrativos: fico, no fico ou fico fingida?
A classificao de narrativas no conflito Israel-palestino.
Paula Lima Gomes1
Resumo
O artigo discute a classificao narrativa, no contexto Israel-palestino, da
historiografia do outro como fico fingida (ISER, 2002), na tentativa de
oficializar-se como a Narrativa no ficcional desse conflito. Para tanto, toma
como objeto a (des)construo de Morris (2008) em seu texto O novo livro de
Ilan Pappe espantoso. Para pensar o conflito propriamente dito, o artigo se
baseia nos postulados em disputa de Morris (2008, 2014), Pappe (2008, 2010)
e demais complementaes, em articulao com outros conceitos basilares,
como fico, fico fingida (ISER, 2002), no fico e leitura
documentarizante (ODIN, 2012).
Palavras-chave
Narrativa. Fico fingida. No-fico. Israel. Palestina.
Abstract
This article discusses the narrative classification, in the Israeli-Palestinian
context, of the historiography of the other as faked fiction" (ISER, 2002), in an
attempt to formalize itself as the one nonfictional Narrative of the conflict. To do
so, the (de)construction of Morris (2008) in his text Ilan Pappes new book is
shocking". To think about the conflict itself, the article is based on the postulates
in dispute of Morris (2008, 2014), Pappe (2008, 2010) and other additions, in
1 Graduada em Publicidade e Propaganda pela Pontifcia Universidade Catlica de Minas
Gerais. Mestranda em Comunicao Social pelo PPGCOM da Pontifcia Universidade Catlica do Minas Gerais. E-mail: [email protected]
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conjunction with other basic concepts such as fiction, faked fiction (ISER,
2002), nonfiction, documenting reading (ODIN, 2012).
Keywords
Narrative. Faked fiction. Nonfiction. Israel. Palestine.
Introduo
Realidade e fantasia, verdade e mentira, fico e no fico. Soltas,
essas palavras podem representar pouco, mas ao inseri-las no conflito de
narrativas em questo (MORRIS, 2008, 2014; PAPPE, 2008, 2010), possvel
v-las ganhando significncia. Pois isso que parece estar em disputa no jogo
classificatrio entre israelenses e palestinos, composto pelo rtulo positivo da
no fico e pelos rtulos negativos da fico e sua variante dissimulada: a
fico fingida (ISER, 2002).
Numa reflexo problematizadora (ISER, 2012; AUG, 1998) sobre os
termos, logo se v que a fico tem muito de realidade, porm para se legitimar
como a Narrativa do conflito Israel-palestino2, colocando-a como no fico e
deslegitimar a narrativa do outro, colocando-a como fico ou fico fingida
(ISER, 2002), preciso manter as polarizaes, em que uma representa a
verdade e a outra mentira.
Rotular e colocar letra maiscula (Narrativa = no fico), minscula
(narrativa = fico) ou aspas (narrativa = fico fingida, ISER, 2002) sobre si
e sobre o outro, parece ser, nesse conflito de narrativas, dar-lhe ou retirar-lhe
legitimidade, o que nesse caso, vale muito. Alm disso, compreender esse
processo de classificao, tambm, compreender o prprio conflito narrativo
e at mesmo existencial entre israelenses e palestinos, pois o que se v nas
terras, parece se ver nos textos.
2 A utilizao desse termo, equivalente a conflito rabe-israelense (FINKELSTEIN, 2001; SAID,
2012; MORRIS, 2008) parte do pressuposto de que os atores envolvidos nesse conflito so o Estado de Israel e o povo palestino.
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Breve contextualizao do objeto
De junho agosto de 2014, o conflito Israel-palestino parece ter se
presentificado nas esferas da diplomacia mundial imprensa internacional e
nacional3, enquanto assunto e dilema global para alm da disputa de terras em
questo. Mas, por se tratar de uma nfase factual, iniciada nesse ano, com o
desaparecimento de trs jovens israelenses no dia 12 de junho, faz-se
necessrio uma breve introduo sobre a historiografia do conflito. O que hoje
se disputa territorialmente, j foi, em tempos passados, provncia do Imprio
Otomano (1500-1917) e protetorado britnico (1917-1948) pontos de
aparente consonncia na histria israelense e palestina para depois, tornar-
se o territrio (1948-atual) que se conhece. Essa consonncia, pouco presente
ao voltar-se em outros tempos, levanta assim, a disputa narrativa pela conexo
histrica de um determinado povo com um certo territrio. Sendo esse, o
problema maior do qual o conflito deriva: a quem a terra de Israel, ou Palestina,
pertence? (MORRIS, 2014).
Na Narrativa do historiador Benny Morris (2014), o direito de
reivindicao da terra por judeus e palestinos , na teoria, igualmente legtimo.
Os rabes da Palestina, por terem, desde o sculo VII, residido naquele
territrio que tornou-se uma rea de maioria rabe com a conquista da
provncia romana. E os judeus por j terem constitudo seu pas (MORRIS,
2014) em 70 a.C., antes dos romanos que tomaram sua terra e dos rabes que
a conquistaram depois e por continuarem vivendo l, durante sculos de exlio,
mantendo o vnculo ideolgico e psicolgico com sua terra natal histrica
(MORRIS, 2014). Sendo assim, alm de haver uma conexo histrica
obviamente muito forte, seno os judeus no teriam voltado (MORRIS, 2014),
h tambm, segundo o autor, um compartilhamento dessa ideia na maioria do
mundo cristo4, assim como j houve entre os rabes5 que hoje a negam.
3 Numa breve pesquisa no site do jornal Folha de So Paulo, foi possvel identificar, a partir das
palavras-chaves israel e palestina, 141 textos entre 01/01/2014 14/06/2014 e 247 textos (75% a mais) entre 15/06/2014 26/08/2014, perodo bem menor, que engloba o pr-confronto (15/06/2014 07/07/2014) e o prprio confronto. 4 Ali terra deles, palavras do Ministro britnico lorde Balfour, segundo Morris (2014).
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Ilan Pappe (2010), diferente de Morris, parte da historiografia sionista
movimento que defendia/defende a criao/existncia do Estado de Israel e
no da judia, para discutir o conflito e a legitimidade da reivindicao em
questo. Pois para ele, a histria do projeto sionista a histria de um
processo colonizatrio iniciado no fim do sculo XIX, que se utiliza da histria
judaica como base ideolgica, a ponto de estabelecer uma conexo ancestral
com esse lugar, para substituir o que no encontraram em nenhuma de suas
ondas colonialistas (1882, 1905, 1917, 1948): uma terra sem povo para um
povo sem terra slogan sionista cunhado por Herzl6. Segundo a Narrativa de
Pappe (2010), o que em 1882, carregava um esprito revolucionrio pr-judeu
foi, a partir de 1905, substitudo por um esprito nacionalista anti-rabe,
originando o esquema mental do movimento sionista que perdura atualmente.
Na Narrativa do Ministrio dos Negcios Estrangeiros de Israel, por sua
vez, a verdade sobre a Cisjordnia (2011) : inicialmente, a Cisjordnia e a
margem direita do rio Jordo, assim como outras terras, faziam parte do
Imprio Otomano. Mas com a dissoluo desse Imprio na I Guerra Mundial e
a redistribuio de suas terras entre as Foras Aliadas, ambas tornaram-se um
protetorado ingls (1917), destinando-se, no mesmo ano, criao do Estado
judeu com aval da Liga das Naes e do Ministro britnico lorde Balfour.
Apesar desse reconhecimento, o Estado de Israel se constituiu em 26% do
territrio destinado a ele, devido aos ataques de jordanianos, srios e egpcios.
Em 1947, a ONU reafirmou o direito de constiturem seu pas mas recomendou
(Resoluo 181) a criao de dois Estados: um judeu e um rabe. A
recomendao acatada pelos primeiros, reduziu o territrio de Israel a 70% da
Cisjordnia, com base numa linha de cessar fogo (1949), conhecida depois,
como fronteira de 19677.
J na Narrativa dos palestinos, a real verdade sobre a Palestina em
resposta a Danny Ayalon (STANDUB, 2013) passa pela afirmao da prpria
5 Ns sabemos que aqui terra dos judeus, mas infelizmente ns vivemos aqui agora e no
queremos que eles voltem, palavras do prefeito rabe de Jerusalm, 1899 (MORRIS, 2014). 6 Considerado o fundador do sionismo poltico, em 1896 (FIELDER, 2003).
7 Histria compartilhada por (ISRAEL MINISTRY OF FOREING AFFAIR, 2011): Eugene Restow,
Arthur Goldberg e Stephen Schwebel todos juristas renomados.
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existncia dessa nao e de seu povo, que deveria ser uma verdade histrica
evidente (NASSER apud SAID, 2012), mas que tem sido sistematicamente
negada. Sendo assim, a histria que deveria ser contada seria: a Palestina,
territrio que fica entre o Mar Mediterrneo e o Rio Jordo, passou a existir sob
esse nome em 450 a.C8. e desde ento, tornou-se conhecida assim. Dos
escritos de Herdoto9 e Aristteles10 da Grcia antiga aos ingleses do sculo
XIX, que se referiam ao seu protetorado como Mandato Britnico da
Palestina11, o fato , nessa viso, que a Palestina sempre existiu e que Israel
foi criado com base na expulso violenta de seus legtimos nativos.
Dessa maneira, alm de afirmar a existncia da prpria Palestina, Dajani
e Sawalha (STANDUB, 2013) confirmam a histria que Ayalon prope
desconstruir: durante a Guerra dos Seis Dias (1967), Israel tomou a
Cisjordnia dos palestinos; recusou a petio das Naes Unidas de se retirar
e construiu ilegalmente os assentamentos (ISRAEL MINISTRY OF FOREING
AFFAIRS, 2011), estabelecendo Narrativas antagnicas e nomenclaturas
distintas para explicar o mesmo fenmeno. Pois, o que parece estar em disputa
, primeiro, a hegemonia sobre a verdade dos fatos, que passa pela
legitimao da prpria Narrativa e a deslegitimao da narrativa alheia e,
segundo, a homogeneizao representativa do outro seguindo uma certa
lgica, que pode gerar um ego to fictcio [e at mesmo incompreensvel]
quanto a imagem que se faz dos outros (AUG, 1998, p. 32, complemento
meu).
Entendendo narrativas, Narrativas e narrativas
8 Fonte (STANDUB, 2013): Robinson, Edward, Physical geography of the Holy Land, Crocker &
Brewster, Boston, 1865, p.15. 9 Fonte (STANDUB, 2013): David M. Jacobson Bulletin of the American Schools of Oriental
Research No. 313 (Feb., 1999), pp. 65-74. 10
Aristoteles and E. W. Webster. Meteorology. [Charlottesville, VA]: InteLex, [200. Print. 11
Fonte (STANDUB, 2013): Scientific Reporto of British Exploration Fund: http://www.pef.org.uk/
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Israel conseguiu, com a ajuda de seus aliados (...), montar esta
explicao complexa, que to complexa que s eles podem
entender. (PAPPE, 2010).
Essa complexidade incompreensvel para o outro, que Ilan Pappe
levanta do mesmo modo que Morris (2008), est diretamente ligada ao
conceito de fico e a ideia de narrativa trabalhada no artigo. Para Iser (2002),
Aug (1998) e Lima (2006), a fico, que no exclusividade da literatura
(LIMA, 2006, p. 279), no o contrrio do real como o saber tcito sugere, pois
se configura como uma trade de relaes entre real, fictcio e imaginrio
(ISER, 2002), em que o segundo faz a mediao entre os outros. Sendo assim,
pode-se dizer que a fico se apropria de elementos do real com relaes e
sistemas de referncia prprios , aciona e realiza certos imaginrios
originalmente difusos, fluidos e sem referncia e os articula no texto ficcional,
sem seguir uma certa normatividade, de maneira a criar uma terceira coisa,
uma representao, que no a repetio exata de nada, mas que se torna um
objeto de percepo do mundo, compreensvel a partir desse prprio contexto,
que lhe confere um predicado de realidade (ISER, 2002).
Dessa forma, quando Pappe (2010) diz, que a explicao israelense
sobre o conflito to complexa que s eles podem entender, pode-se inferir,
que a incompreenso dessa narrativa estaria, sobretudo, na falta de
compartilhamento do imaginrio pelo outro, pois em termos do real, as
narrativas israelenses e palestinas aparentemente se apropriam dos mesmos
elementos, seguindo um certo ncleo narrativo elementar (GUINZBURG,
apud AUG, 1998), apesar de fazerem selees e combinaes12 distintas,
que acabam por particularizar a tematizao do mesmo mundo. Mas a
problemtica principal, em termos de construo do texto ficcional, mesmo que
no se assumam assim, seria outra, como continua Pappe (2010):
12
Lembrando que seleo e combinao so os outros dois atos de fingir de Iser (2002). A seleo, a identificao e apropriao intencional de elementos reais e imaginrios para o texto ficcional, que promovem a transgresso dos sistemas contextuais (ISER, 2002, p. 982) originais. E a combinao, a articulao intencional (em forma e fundo) dos elementos selecionados, que promovem uma transgresso dos espaos semnticos intratextualmente constitudos (idem) no sentido lexical e factual da narrao.
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No, no . Realmente, ela no complexa! E por isso que a histria to
importante. Entender a histria no to complexa do que o movimento sionista
esteve e est fazendo para a populao indgena nativa da Palestina tudo o
que a histria tem de ser.
Na expectativa da revelao da fico israelense a partir da histria, que
a princpio seria um texto no ficcional, Pappe (2010) acaba levantando nessa
frase, a questo sobre o terceiro ato de fingir de Iser: o desnudamento da
ficcionalidade (2002). O mundo representado no texto ficcional, como afirma o
autor e como j se discutiu, no um mundo dado, mas (...) deve ser
entendido como se fosse (ISER, 2002, p. 972, grifo meu), na medida em que o
coloca entre parnteses (ISER, 2002), inserindo-o no prprio contexto do
texto ficcional, ou seja, transformando o mundo representado num objeto de
encenao (idem) que cria uma iluso de realidade (idem) como toda fico,
a ponto de parecer verossmil mesmo quando entra em conflito com os cdigos
interpretativos da recepo. Sendo assim, desnudar, seria retirar os parnteses
do texto ficcional e faz-lo ser entendido como se fosse fico, como de fato o
. E isso que Pappe (2010) prope que a histria o faa, j que nesse caso, a
disputa narrativa entre fices e no fices pode acabar influenciando a
disputa existencial do prprio conflito Israel-palestino.
Independente das reflexes tericas introduzidas, que complexificam e
ampliam o conceito de fico, o fato que o binmio questionado
anteriormente (real x ficcional) parece ser comumente utilizado por israelenses
e palestinos, devido, talvez, a um novo regime de fico (AUG, 1998) que
estaramos submetidos e a outras duas possveis razes. Primeiro, ao fazer
essa associao com base na definio tcita (ficcional o oposto de real),
possvel deslegitimar o relato alheio como seno tivesse nenhuma vinculao
com o real ou como se fingisse ter um vnculo que no tem. Alm disso, essa
associao permite tambm, legitimar o prprio relato como se fosse a nica
verdade possvel sobre o conflito. Verdade essa, vale ressaltar, que no
precisa, em grau algum, ser verdadeiro, mas deve positivamente parece-lo.
(SCHLEGEL apud LIMA, 2006, p. 284).
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Para Iser (2002), toda fico naturalmente fingida, na medida em que
coloca um mundo entre parnteses e o apresenta como se fosse real. Mas
tambm da sua natureza, desnudar-se e demonstrar que se trata de um
discurso encenado (ISER, 2002). Por isso, as fices deliberadamente
fraudulentas, que no se revelam de forma alguma, no intuito de fingir algo que
no so e assumir o lugar das no fices sem de fato s-las, caracterizaram
as fices fingidas de Iser (2002) e as narrativas desse trabalho. E nesse
lugar, que israelenses e palestinos parecem classificar o outro, se colocando
como o elemento de desnudamento da ficcionalidade alheia, na tentativa de
tirar os parnteses, ou melhor, as aspas da narrativa do outro. Mesmo que
essa fico, se assim preferirem classifica-la, seja capaz de demonstrar ou
revelar uma realidade, sem ser necessariamente alienante como pontua Aug
(1998).
Para Iser (2002) e, principalmente, para Odin (2012), o reconhecimento
dessas classificaes dependem mais do contrato estabelecido entre autor-
leitor, do que dos signos presentes nos textos que caracterizariam uma fico
ou uma no fico, mesmo que tais indicaes possam influenciar em seus
contratos de leitura. No entanto, vale ponderar, que alm dessa questo, as
narrativas israelenses e palestinas esto inseridas tambm, numa apropriao
de elementos do real, que podem ser historicamente contestveis e
deliberadamente realizveis. Em outras palavras, preciso se perguntar at
que ponto cada um est se remetendo a realidade e fazendo, de fato, o uso de
Enunciadores reais (ODIN, 2012), atravs das suas historiografias. Mesmo
que para alguns autores (AUG, 1998; ISER, 2002), o discurso cientfico acabe
se tornando o que ele prprio critica (fices), devido a sua tendncia
desmistificante (ISER, 2002) sobre o outro e raramente sobre si.
No ponto de vista de Iser (2002) e Aug (1998), parece no haver muita
possibilidade de uma narrativa se constituir como uma no fico genuna, j
que todas acionam, de uma forma ou de outra, certos imaginrios na
perspectiva do primeiro ou certos sonhos e fantasias na perspectiva do
segundo. Assim como no h fices que no remetam que diferente de
designar a realidade, ao contrrio dos rtulos duros, que israelenses e
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palestinos conferem a narrativa do outro, para aparentemente, deslegitima-la
em absoluto. E isso que Odin (2012) relativiza, ao estabelecer um meio termo
analtico para essas situaes: a leitura fictivizante e a leitura
documentarizante.
Para Odin (2012), o importante no a existncia da realidade ou no
realidade do representado, mas (...) a imagem que o leitor faz do Enunciador
(p. 14), o que para ele uma operao estritamente pragmtica e externa a
narrativa. Pois o leitor que constri o eu-origem fictcio (idem) ou o eu-
origem real (idem), sendo que no primeiro se espera que o autor tenha
fictivizado o seu papel, [e] que suas asseres no devam (...) ser tomadas
como afirmaes segundo sua verdade semntica referencial (SCHMIDT apud
ODIN, 2012, p. 14, complemento meu) e no segundo, que o autor tenha
documentarizado o seu papel, enquanto Enunciador Real (ODIN, 2012) e que
suas asseres possam ser tomadas como tais.
Para as narrativas israelenses ou palestinas promoverem leituras
documentarizantes (ODIN, 2012), a ponto de serem encaradas como no
ficcionais, seria preciso, nessa perspectiva, que a recepo tomasse o relato, a
narrativa, a sociedade, o escritor, o realizador e/ou o responsvel pelo discurso
como Enunciador real (idem), desde que ele de fato o fosse, ou ento,
produzi-lo institucionalmente como se fosse, como as instituies miditicas
internacionais e nacionais parecem fazer acerca do conflito Israel-palestino. No
entanto, para o autor, no final todo o leitor tem a possibilidade, no importa em
que momento do filme [ou da narrativa, nesse caso], de se conectar [ou no]
leitura documentarizante (ODIN, 2012, p. 21, complemento meu), pois as
compreenses de sentido so diversas e semanticamente exaurveis, como
diria Iser (2002). Sendo esse, o elemento incontrolvel e criador infinito de
fissuras dessa disputa narrativa em questo.
Na perspectiva dos autores acionados (ISER, 2002; LIMA, 2006; AUG,
1998), essas narrativas tentam se classificar como as Narrativas e rotular o
outro como as narrativas, j que se tratam de textos que acionam, ao menos
teoricamente, elementos do real e do imaginrio israelense ou palestino,
fornecendo, de acordo com a leitura do sujeito, instrues mais ou menos
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claras quanto a sua ancoragem ficcional ou documental. Criando variaes, por
exemplo, de narrativas pr-israelenses, como se viu no vdeo do Ministrio dos
Negcios Estrangeiros de Israel (2011) e como se ver agora no texto de
Benny Morris (2008), ou narrativas pr-palestinas, como se viu no vdeo de
Dana Dajani e Lara Sawalha (STANDUB, 2013) e nas palavras de Ilan Pappe
(2008, 2010). Deixando em aberto, portanto, a converso efetiva (AUG, 2008)
de uma das narrativas sobre a outra.
Reflexes sobre um processo classificatrio
Quem estiver interessado na histria real da Palestina, de Israel
e do conflito rabe-israelense faria bem em correr firmemente na
direo oposta [a de Ilan Pappe]. (MORRIS, 2008, complemento
meu).
A frase que d incio a esse tpico e fim ao artigo de Morris (2008), O
novo livro de Ilan Pappe espantoso, sintetiza a tnica do seu prprio texto,
baseado no aparente desejo de (des)construo13 da narrativa alheia, por meio
do desnudamento e, assim, da deslegitimao dos postulados de Pappe,
presentes, especificamente, na obra A History of Modern Palestine: One Land,
Two Peoples (2006). O intuito dessa anlise, vale ressaltar, no mostrar
quem est certo ou errado e tampouco qual deles um ou os dois poderia
ser desnudado, mas investigar o conflito de narrativas em questo, tendo em
mente o processo classificatrio do texto do outro como fico fingida (ISER,
2002).
As divergncias entre Ilan Pappe e Benny Morris, facilmente visveis
atualmente, j foram, em outro momento, menos presentes ou menos claras.
Segundo Morris (2008), no fim da dcada de 1980, eles faziam parte, junto com
Avi Shlaim e Tom Segev, do grupo conhecido como Novos Historiadores.
Apesar de produzirem algo semelhante, que consistia na reviso da histria do
13
A utilizao desse termo, parte do pressuposto que ambos desconstroem a narrativa do outro, ao mesmo tempo em que constroem a sua, numa relao dialtica.
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conflito rabe-israelense em torno da dcada de 1940, eles mal se conheciam
e produziam, cada um em sua cidade e instituio, reflexes particulares a
partir dessa proposta espontnea, que abalou a tradicional narrativa sionista.
No incio de 1990, Pappe (2011) afirma que a imprensa israelense
desqualificava os Novos Historiadores por um lado e a Academia, a nvel
mundial, passava a considerar seus trabalhos por outro. Aps o processo de
Oslo (1993), o esqueleto dessa nova historiografia, ligada inclusive, ao fato
(PAPPE, 2011) dos israelenses terem sido enganados pela narrativa tradicional
ou seja, por uma narrativa hegemnica foi admitida dentro da comunidade
acadmica, do sistema educacional e da prpria mdia israelense e
internacional, iniciando um debate acalorado acerca disso. Mas, no incio da
segunda intifada Palestina (fim de 1990), segundo Pappe (2001), o panorama
se inverteu por razes polticas e tudo que se relativizou, foi extirpado da
cultura israelita, promovendo uma completa reverso historiogrfica e,
consequentemente, o retorno dessa fico fingida (ISER, 2002) que teria sido
desnudada. Iniciando, provavelmente nesse contexto, o distanciamento entre
os autores confrontados.
Para Morris (2008), o que prejudicou o estudo de Pappe, que ele analisa
desde o seu primeiro livro Britain and the Arab-Israeli Conflict 1948-51
(PAPPE, 1988) teria sido a permisso (...) que a sua poltica afetasse a sua
histria (MORRIS, 2008), a ponto de abandonar, talvez de maneira deliberada,
o tom moderado, brando, uniforme, que evitava a iconoclastia (idem) em
1988, em prol de um certo fanatismo em 2006, fazendo-o esconder fatos e criar
histrias com heris e viles. Pois para Morris (2008), Pappe coloca os
palestinos como vtimas e os sionistas como colonizadores, desconsiderado as
agresses palestinas e as crticas internacionais sobre a no aceitao de
acordos. E com base nisso, que o autor inicia, uma (des)construo da obra
do outro, a partir do que aparentemente ele acredita ser verdade.
A tabela que detalhar essa questo, se baseia exclusivamente nos
postulados de Morris (2008). Nesse sentido, preciso ter em mente que ele
no menciona as referncias sobre as prprias reconstrues e tampouco
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sobre os fragmentos que coloca entre aspas e diz ser de Pappe (2006). O que
no invalida, vale ressaltar, a anlise sobre o conflito de narrativas em questo.
TABELA 1 Mapeamento da (des)construo de Morris
Histrias de Pappe (2006), segundo Morris (2008)
Histrias de Morris (2008)
1929: Ben Gurion preside a Agncia Judaica
14.
1935 e 1948: mas ele foi presidente nesses anos.
Antes de 1936: Stern e Palmach15
j existem. 1940-1941: mas eles foram fundados nesses anos.
1934: Alto Comit rabe16
criado. 1936: mas ele foi criado nesse ano.
10/1936: Alto Comit rabe declara greve
geral.
05/1936 10/1939: mas ela ocorreu em outra
data.
1936-39: Alto Comit rabe tenta um acordo com a Agncia Judaica.
Mas ele nunca tentou isso.
08/1937: palestinos assassinam o comissrio
distrital da Galilia, Major Andrew.
09/1937: mas os palestinos assassinaram o
civil Lewis Andrews em outra data.
1946-48: Palmach luta contra os britnicos. 1947-48: mas eles no lutaram nesses anos.
1947: votao equilibrada na Partilha das Naes Unidas, para criao de dois Estados.
1947: mas a votao contou com 33 votos a
favor, 13 contra e 10 abstenes.
10/06/1948: assinada a primeira trgua. 11/06/1948: mas ela foi iniciada nessa data e nunca foi assinada.
1948: Legio rabe17
no se retira da Palestina.
1948: mas a maior parte dela se retira.
1948: 1 milho de palestinos se refugiam. 1948: mas foram menos de 300 mil refugiados.
1948: foras judaicas so mais bem equipadas do que os exrcitos rabes.
1948: mas elas no eram mais equipadas.
1969: o moderado Eshkol no aguenta a presso da inflexvel Golda Meir durante as eleies.
1969: mas ele morreu no exerccio do cargo e Meir, que o sucedeu, concorreu as eleies depois.
1982: Lbano destrudo por bombardeios areos e mltiplos sobre pequenas reas.
1982: mas o Lbano no foi destrudo, apesar dos bombardeios, que nunca foram mltiplos.
Fedaym, grupo de resistentes, tentam recuperar as propriedades tomadas.
Mas os fedaym, organizados pelo Egito, eram terroristas de inteligncia (MORRIS, 2008).
H mais, a lista interminvel... (MORRIS, 2008)
FONTES MORRIS (2008).
Ao analisar o Mapeamento da (des)construo de Morris (TABELA 1)
nota-se dois processos: uma (des)construo completa por um lado e uma
14
Organizao que representava os judeus antes da formao de Israel (WIKIPEDIA, 2014). 15
Grupos armados israelenses (NSEIR, 2014). 16
rgo poltico rabe que existiu durante o Mandato Britnico da Palestina (WIKIPEDIA, 2014). 17
Fora armada voltada a segurana interna do territrio leste da Palestina (MILITARY POWER, 2014).
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(des)construo interpretativa por outro. No primeiro, v-se uma contestao
factual, na maioria das vezes, ligada a datas, nmeros e dados: presidncia de
Ben Gurion, fundao do Alto Comit rabe e histrias da greve geral, acordos,
retirada da Legio rabe, assassinato de Andrew, luta contra britnicos,
votao da Partilha das Naes Unidas, nmero de refugiados (1948), poderio
das foras judaicas (1948) e existncia de mltiplos ataques areos ao Lbano.
Mas, em outros casos os postulados de um no parecem se contradizer aos
postulados do outro:
Mesmo que Stern e Palmach tenham sido fundados em 1940 e 1941
(MORRIS, 2008), isso no invalida a possibilidade deles j existirem
antes de 1936 (PAPPE, 2006, segundo MORRIS, 2008).
Mesmo que Eshkol tenha exercido seu cargo at sua morte (MORRIS,
2008), isso no invalida a possibilidade dela ter sido causada por
presses de Golda Meir (PAPPE, 2006, segundo MORRIS, 2008).
Diante dos bombardeios ao Lbano em 1982, qual seria o critrio para
afirmar se eles foram capazes de destrui-lo (PAPPE, 2006, segundo
MORRIS, 2008) ou no (MORRIS, 2008)?
Diante da prtica dos fedaym, qual seria o critrio para afirmar se eles
representavam um grupo terrorista (MORRIS, 2008) ou a prpria
resistncia palestina (PAPPE, 2006, segundo MORRIS, 2008)?
Independente dos processos de (des)construo acionados (TABELA 1)
e da prpria relao, documentarizante ou fictivizante (ODIN, 2012), que ela
possa estabelecer com seus leitores, interessante notar, que no esforo de
deslegitimar a narrativa do outro, que Morris (2008) diz ser notadamente
marcada pela afirmao: isso o que aconteceu (MORRIS, 2008), ele acaba
se transformando no que mesmo critica, como diz Iser (2002):
(...) ao tentar dominar a fico, ela se viu forada a reconhecer como
fices as suas prprias bases, sendo obrigada a abrir mo, face
crescente ficcionalizao de si mesma, da pretenso de ser uma
disciplina bsica universal [ou, nesse caso, de ser uma explicao
bsica universal] (p. 960, complemento meu).
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Concluses e tensionamentos preliminares
O pesquisador deve ter um pouco de audcia, alm de rigor cientfico e
inspirado nisso, que o artigo se prope agora, a algumas concluses e
tensionamentos preliminares igualmente suscitados pelas leituras e anlises
terico-empricas , na tentativa de fazer uma articulao da pesquisa
bibliogrfica com a anlise de discurso, apresentando suas questes principais
e problematizando o que elas mesmas provocaram.
Na perspectiva dos autores trabalhados no objeto terico (ISER, 2002;
AUG, 1998; LIMA, 2006; ODIN, 2012) difcil identificar, a apresentao de
uma Narrativa com n maisculo, ou seja, uma no fico genuna, que Morris
(2008, 2014) e Pappe (2008, 2010), dizem sustentar cientificamente. Pois para
Iser (2002), Aug (1998), Lima (2006) tudo parece ser fico, mesmo que
esteja passvel a leituras documentarizantes (ODIN, 2012) se o sujeito assim
quiser.
A argumentao sobre a inexistncia da no fico genuna
compreensvel dentro do trip de Iser (2002) realidade, fico e imaginrio ,
mas no h um consenso sobre pensar as narrativas cientficas a partir dele
mesmo que o autor justifique essa questo , como o caso de Morris (2008,
2014) e/ou Pappe (2008, 2010). Ambos podem acionar, em certos momentos e
de certas maneiras, elementos da realidade e do imaginrio, mas realmente
no seria possvel analisar quem o faz de forma a constituir uma fico fingida
(ISER, 2002) ou uma no fico? E at ponto a produo documentarizante ou
fictivizante de uma narrativa no seria de fato determinante para uma dada
leitura? Pois, mesmo sabendo que Odin (2012) problematiza essa questo, na
medida em que discute os Enunciadores reais, ele pareceu bem otimista com
o campo da recepo, dando uma certa soberania e poder a mesma.
Os historiadores Benny Morris (2008, 2014) e Ilan Pappe (2008, 2010),
por sua vez, sustentam a crtica ao outro pela suposta filiao ideolgica ou
imaginria articulando com o conceito de Iser (2002) com um certo lado do
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conflito. Mas, se a no fico, que eles mesmos conclamam para si, se
legitima, sobretudo, pela existncia de Enunciadores reais, em outras
palavras, pelo rigor cientfico que a Histria lhes exige, at que ponto tais
vinculaes prejudicam a historiografia a ponto de legitimarem ou
deslegitimarem uma certa narrativa? E at que ponto, os elementos
historiogrficos acionados para sustentar tal crtica e/ou teoria tem de fato uma
vinculao com o real? Enfim, como se poderia mensurar essa questo, a
ponto de desnudar uma narrativa ou elev-la a no fico, tirando-lhe as
aspas e colocando um n maisculo?
Na impossibilidade e na falta de pretenso de responder essas
perguntas, o artigo se finaliza, ento, com uma compreenso mais clara sobre
o conflito das narrativas que existem em vrios nveis (ISRAEL MINISTRY OF
FOREING AFFAIR, 2014; MORRIS, 2008, 2014; PAPPE, 2008, 2010;
1STANDUB, 2014) e do processo de classificao (narrativa, Narrativa ou
narrativa), que permeia esse jogo de legitimao e deslegitimao narrativa,
entendidos aqui, como fico, no fico e fico fingida (ISER, 2002), mas
que tambm podem ser entendidos a partir de outras categorias.
Referncias
AUG, Marc. A guerra dos sonhos: Exerccios de etnofico. Campinas: Papirus, 1998. 127p. FIEDLER, Teja. A quem pertence a terra Santa? Viso judaica, Paran, n 15, jul. 2003. Disponvel em: Acesso em: 03 ago. 2014. FINKELSTEIN, Norman. A Indstria do Holocausto: Reflexes sobre a explorao do sofrimento dos judeus. 3 ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. 156 p. HOUAISS, Instituto Antnio. Realidade. In: HOUAISS, Instituto Antnio. Dicionrio Eletrnico Houaiss da Lngua Portuguesa. Verso 3.0. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda, 2009. ISER, Wolfgang. Os atos de fingir ou o que fictcio no texto ficcional. In: ISER, Wolfgang. LIMA, Luiz Costa (org.). Teoria da literatura em suas fontes. Vol. 2. 3 ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2002. p. 955-987.
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ISRAEL MINISTRY OF FOREING AFFAIRS. Israel Palestinian Conflict: The Truth About the West Bank. YouTube, 07 de julho de 2011. Disponvel em: Acesso em: 20 jul. 2014. LIMA, Luiz. Um instante com Wolfgang Iser. In: LIMA, Luiz. Histria. Fico. Literatura. 1 ed. So Paulo: Companhia das Letras, 2006. p. 278-291. MILITARY POWER. Soldado da Legio rabe. Military Power, 21 set. 2014. Disponvel em: < http://www.militarypower.com.br/frame4-comb29.htm> Acesso em: 21 set. 2014. MORRIS, Benny. O novo livro de Ilan Pappe espantoso. Viso judaica, Paran, n 70, jul. 2008. Disponvel em: Acesso em: 31 jul. 2014. _____________. Roda Viva | Benny Morris | 23/06/2014: entrevista [jun. 2014]. Entrevistadores: A. Clemesha, M. Guterman, M. Habib, P. Mello, A. Nunes e M. Rabinovici. So Paulo: RODA VIVA, 2014. 1 Vdeo (126 min). Disponvel em: . Acesso em: 03 ago. 2014. NASSER, Salem. Prefcio edio brasileira. In: SAID, Edward. A questo da Palestina. 1 ed. So Paulo: Ed. Unesp, 2012. Prefcio, p. VII-XV. NSEIR, Ghassan. Sionismo e Califado: semelhanas em seus aspectos e modos de atuao. Oriente mdia Culturas da Resistncia, 21 jul. 2014. Disponvel em: Acesso em: 20 set. 2014. ODIN, Roger. Filme documentrio, leitura documentarizante. Significao: Revista de Cultura Audiovisual, So Paulo, ano 39, n. 37, p. 10-30, jan.-jun. 2012. PAPPE, Ilan. Israeli Myths & Propaganda: entrevista [2008]. Haifa: Americans for a Just Peace in the Middle East, 2008. 1 Vdeo (106 min). Disponvel em: Acesso em: 25 jul. 2014. __________. Die ethnische Suberung in Palstina und das Rckkehrrecht der Palstinenser: palestra [nov. 2010]. Stuttgart: Palstina Solidarittskonferenz, 2010. 1 Vdeo (102 min). Disponvel em: Acesso em: 25 jul. 2014. SAID, Edward. A questo da Palestina. 1 ed. So Paulo: Ed. Unesp, 2012. 355 p. STANDUB. The ACTUAL Truth About Palestine in response to Danny Ayalon. YouTube, 06 de novembro de 2013. Disponvel em: Acesso em: 20 jul. 2014. WIKIPEDIA. Agncia judaica. Wikipedia - A enciclopdia livre. Disponvel em: Acesso em: 20 set. 2014.
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WIKIPEDIA. Alta Comisso rabe. Wikipedia - A enciclopdia livre. Disponvel em: Acesso em: 20 set. 2014.
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