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[email protected] ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO
DE INVENTRIOS DE CICLO DE VIDA 1 Luiz Alexandre Kulay ; Emilia
Satoshi Miyamaru Seo2 1 Professor do Centro Universitrio Senac e
pesquisador do Grupo de Preveno da Poluio GP2 da EPUSP
[email protected] 2 Professora do Centro Universitrio Senac e
pesquisadora do IPEN/CNEN-SP RESUMO A Avaliao de Ciclo de Vida
(ACV) uma tcnica capaz de avaliar o desempenho ambiental da funo
exercida por um produto, processo ou servio ao longo de seu ciclo
de vida; ou seja, desde a extrao de recursos junto natureza, at sua
disposio junto ao ambiente, que ocorre aps o uso a que este bem se
destina haver se esgotado. Para tanto, a metodologia ACV se compe
de quatro fases: definio de objetivo e escopo, anlise de inventrio,
avaliao de impacto e interpretao. Nesse arranjo, segue-se formulao
dos propsitos e premissas do estudo a etapa de elaborao do
Inventrio de Ciclo de Vida (ICV), cujo produto final consiste de
uma lista de aspectos ambientais que circulam atravs das fronteiras
do sistema de produto na forma de correntes de matria e de energia
de entrada e sada. O ICV elemento decisivo para que um estudo de
ACV atinja seus propsitos. Nesse quadro, diversos aspectos de ordem
operacional devem ser considerados a fim de conferir o rigor que a
iniciativa predispe. O presente estudo se ocupa de discorrer e de
conjecturar sobre os procedimentos, caractersticas e premissas
tanto de fundo conceitual, como prtico, a serem considerados para
efeito de elaborao do ICV. Palavras-chave: ACV, Inventrio de Ciclo
de Vida; ICV; aspectos conceituais e operativos
4. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS INTRODUO A Avaliao de Ciclo de Vida (ACV) uma tcnica
capaz de avaliar o desempenho ambiental da funo desempenhada por um
produto, processo ou servio ao longo desde a extrao de recursos
junto natureza, at a sua disposio - ou descomissionamento destes,
aps sua aplicao haver comprovadamente se esgotado. Em termos
operacionais bastante simplistas, tal abordagem depreende a
identificao de todas as interaes ocorridas entre o bem ou servio e
o meio ambiente ou outros sistemas antrpicos, ao longo dos estgios
que compreendem seu ciclo de vida, bem como, uma avaliao da
magnitude dos impactos, tambm de fundo ambiental, gerados em funo
dessas mesmas interaes. Em virtude de tais caractersticas, o
simpsio conduzido pela Society of Environmental Toxicology and
Chemistry (SETAC) entidade precursora no desenvolvimento da ACV em
termos de difuso da tcnica, formao de competncias e, sobretudo, de
consolidao de seus elementos metodolgicos - ainda na dcada de 1990,
estabeleceu como premissas para realizao de um estudo dessa
natureza (SETAC, 1993): Fornecer uma imagem, to fiel quanto
possvel, de quaisquer interaes existentes com o meio ambiente;
Contribuir para entendimento da natureza global e interdependente
de conseqncias ambientais das atividades humanas; Gerar subsdios
capazes de definir os efeitos ambientais dessas atividades; e
Identificar oportunidades para melhorias de desempenho ambiental.
Assim, possvel subdividir as aplicaes triviais a que se destina uma
ACV em duas grandes vertentes (SETAC, 1993): Identificao de
oportunidades de melhoria de desempenho ambiental; e Comparao
ambiental entre produtos que cumprem funes equivalentes. Na
primeira vertente, a ACV atua empreendendo a busca dos principais
focos de impactos ambientais proporcionados por um sistema de
produto. Ao trmino de sua aplicao, o praticante ter estabelecido a
contribuio do sistema em estudo para as diversas categorias de
impacto ambiental. De posse desse diagnstico, planos de ao voltados
minimizao dos mesmos podero ser estabelecidos. Na aplicao da ACV
para efeito de comparao de produtos, so avaliados aspectos
ambientais e seus impactos associados para diferentes formas de
atender a INTERFACEHS Revista de Gesto Integrada em Sade do
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5. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS uma mesma funo. A utilizao da ACV com esse vis encontra
maior apelo junto a organizaes empresariais desejosas de demonstrar
a supremacia ambiental de seus produtos sobre os de seus
concorrentes diretos, com o intuito de conquistar novos mercados.
Alm disso, quando efetuada confrontando o desempenho ambiental de
um ou mais produtos contra certo padro j preestabelecido, a ACV
pode servir para a elaborao de rtulos e declaraes ambientais. O
fato de a ACV constituir uma tcnica eficiente para a elaborao de
diagnsticos ambientais disponibiliza sua aplicao para atividades
estratgicas de uma organizao, tais como projeto de novos produtos e
reavaliao de produtos j consagrados. Nessa aplicao, a ACV se presta
seleo de opes de projeto, em particular no que se refere busca de
novos materiais, formas de energia alternativas e implementao de
melhorias de processo visando minimizar perdas e conceber produtos
menos agressivos ao ambiente. 2. ASPECTOS METODOLGICOS Segundo a
norma ABNT NBR ISO 14040:2006 a metodologia de aplicao de uma ACV
se compe, em termos de estrutura, por quatro fases: definio de
objetivo e escopo, anlise de inventrio, avaliao de impacto e
interpretao. O referido arcabouo metodolgico aparece representado a
seguir no esquema indicado na Figura 1 (FAVA, 1991; ABNT NBR ISO
14040:2006). Definio de Objetivos e de Escopo Elaborao de Inventrio
Interpretao Avaliao de Impactos Figura 1. Estrutura metodolgica da
Anlise de Ciclo de Vida (ACV) tal como esta aparece representada na
norma ABNT NBR ISO 14040:2006 INTERFACEHS Revista de Gesto
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6. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
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INTERFACEHS Fonte: FAVA (1991); ABNT NBR ISO 14040:2006 (ABNT,
2009) Dentro de uma ordem lgica, uma ACV se inicia pela etapa de
Definio de Objetivos e Escopo, etapa esta que tratar de definir as
premissas inicias para realizao do estudo. A definio de objetivos
estabelece a razo principal para a conduo do estudo, sua abrangncia
e o pblico-alvo a que os resultados se destinam. Na definio do
escopo so considerados aspetos metodolgicos de ordem execucional
para a conduo do estudo, como os parmetros funo, unidade funcional
e fluxo de referncia do produto, o processo de fixao de fronteiras,
os critrios para a alocao de cargas ambientais, bem como as
categorias de impacto a serem usadas na etapa de nome
correspondente (ABNT NBR ISO 14040:2006). Por ocasio do
estabelecimento do escopo, importante considerar aspectos de carter
geogrfico, temporal e tecnolgico do sistema de produto ou seja, a
poro do espao sobre a qual se dar a aplicao da metodologia para
efeito de refino das fronteiras e seleo de informaes a serem
utilizadas posteriormente no inventrio. De uma maneira
simplificada, a norma ABNT NBR ISO 14040:2006 estabelece que o
contedo mnimo do escopo de um estudo de ACV deve referir-se a trs
dimenses: onde iniciar e parar o estudo do ciclo de vida que
corresponderia extenso da ACV; quantos e quais subsistemas incluir
ou seja, a largura da ACV - e o nvel de detalhes do estudo - sua
profundidade. Na prtica, o delineamento da fronteira do sistema
deve ser realizado com bastante acuidade, pois deve levar em
considerao os recursos financeiros disponveis e o tempo, ou seja,
existem certas tenses entre a preciso e a praticidade. Portanto,
devem-se adotar procedimentos que tornem o estudo gerencivel,
prtico e econmico, sem que sejam, no entanto, descuidados aspectos
que confiram confiabilidade ao modelo. Segue-se formulao dos
propsitos e premissas do estudo a etapa de elaborao do Inventrio de
Ciclo de Vida (ICV), cujo produto final consiste de uma lista de
aspectos ambientais que circulam atravs das fronteiras do sistema
de produto na forma de correntes de matria e de energia de entrada
e sada. Os valores apontados no ICV so determinados em funo da
quantidade selecionada para prover o cumprimento, pelo produto,
processo ou servio em estudo, de determinada funo. A partir dos
resultados gerados pelo inventrio ento possvel realizar a Avaliao
de Impactos Ambientais, o que far associar os aspectos ambientais 3
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Ambiente - v.5, n.1, Artigo 1, jan./abr. 2010
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7. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
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INTERFACEHS relacionados ao produto, processo ou ao servio em
estudo a categorias de impactos ambientais. Como apresenta o texto
da norma ABNT NBR ISO 14040:2006, a avaliao de impacto se constitui
dos seguintes elementos operativos: Classificao onde os dados do
inventrio so agrupados nas diversas categorias de impacto
selecionadas antes, na etapa de Definio de Escopo. So exemplos
dessas ultimas Mudanas Climticas, Destruio da Camada de Oznio,
Acidificao, Toxicidade Humana, e Exausto de Recursos Naturais.
Caracterizao que se encarrega de expressar os aspectos ambientais
previamente classificados em seus impactos correspondente. Essa
operao se da por meio da aplicao de ndices de converso denominados
fatores de equivalncia. O produto da caracterizao consiste do
Perfil de Impactos Ambientais do produto, a partir do que ser
possvel comparar o potencial dos impactos do objeto sob anlise. So
tambm considerados procedimentos da Avaliao de Impactos ainda que
em carter facultativo a Normalizao e a Valorao, cuja aplicao se
destina consolidao do perfil de cargas ambientais em um ndice nico.
Completa a ACV a etapa de Interpretao, que consiste da identificao
e anlise dos resultados obtidos nas fases anteriores de inventrio e
avaliao de impacto. A interpretao compreende as seguintes etapas
(ABNT NBR ISO 14040:2006): Identificao das questes ambientais mais
significativas com base nos resultados da anlise do inventrio ou
ACV; Avaliao que pode incluir elementos tais como a checagem da
integridade; Sensibilidade e consistncia; concluses, recomendaes e
relatrios sobre questes ambientais significativas. 3. INVENTRIO DE
CICLO DE VIDA CONCEITO E ASPECTOS INTRODUTRIOS Aps ter sido
concludo o processo de Definio dos Objetivos e do Escopo para um
estudo de ACV, o praticante da tcnica estar pronto a dar incio
segundo etapa do mtodo denominada, elaborao do Inventrio de Ciclo
de Vida (ICV). A norma ABNT NBR ISO 14044:2009 conceitua este
processo como fase da ACV na qual ocorre a 4 INTERFACEHS Revista de
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8. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
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INTERFACEHS compilao e a quantificao de entradas e de sadas de e
para um sistema de produto ao longo de seu ciclo de vida. A
terminologia entradas e sadas refere-se s correntes de matria e de
energia que circulam atravs das fronteiras que estabelecem os
limites do sistema de produto em estudo. Muitas literaturas
especializadas em ACV atribuem a essas mesmas quantidades o nome de
aspectos ambientais, termo que na retrica normativa pode ser
entendido como elemento das atividades, produtos e servios de uma
organizao que pode interagir com o meio ambiente. De maneira
simplista, integram, portanto a categoria de aspectos ambientais
correntes de matria na forma de recursos naturais ou sintetizados
via ao antrpica, e de energia de mesmas procedncias que entram no
sistema de produto pelas fronteiras. No mrito das sadas, aprecem
relacionados produtos, subprodutos e rejeitos, sendo estes ltimos
subdivididos em emisses atmosfricas, efluentes lquidos, resduos
slidos e rejeitos energticos. Assim sendo, pode-se dizer que
elaborao do ICV se incumbe, ento, de produzir um conjunto de dados
organizados sob a forma de um inventrio, capazes de expressar em
termos quantitativos os aspectos ambientais associados a um sistema
de produto (REBITZER, et all., 2004). Antes de discutir os contedos
executivos da elaborao do ICV, vale enfatizar que, dada a forma de
estruturao da tcnica de ACV, o processo empregado para a construo
de um ICV dever ocorrer de forma iterativa, sempre seguindo como
referncia os objetivos e o escopo previamente definidos, ainda que
durante o desenvolvimento do estudo, esses passem por reviso. Um
Inventrio de Ciclo de Vida (ICV) ser dado por concludo aps terem
sido cumpridos os seguintes procedimentos operativos: A) Coleta de
Dados; e B) Tratamento dos Dados. Na seqncia, passam a ser
apresentados e discutidos elementos, caractersticas e
peculiaridades diversas que permeiam a execuo de tais aes. Para
tanto, emprestarse- o embasamento terico fornecido pela norma ABNT
NBR ISO 14044:2009, editada com propsito nico de proporcionar
orientaes necessrias elaborao do ICV. 5 INTERFACEHS Revista de
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9. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS 3.1 Coleta de Dados A Coleta de Dados consiste do
levantamento das informaes necessrias realizao do ICV. Esta operao
, no entanto, precedida de uma etapa preparatria em que certas
consideraes de fundo terico so feitas a fim de conferir consistncia
e rigor atividade que ser desempenhada (JENSEN, 1997; REBITZER et.
al., 2004). neste momento que algumas das premissas enunciadas na
etapa de Definio de Objetivos e de Escopo so empregadas. O Quadro 1
traz relacionados os critrios importantes a serem obedecidos para
Coleta de Dados. A) Cobertura Temporal; B) Cobertura Geogrfica; C)
Cobertura Tecnolgica; e D) Critrios de Qualidade dos Dados. Quadro
1: Critrios previstos na etapa de Definio de Escopo relacionados
Coleta de Dados Fonte: Adaptado de SILVA & KULAY (2006)
Discorre-se a seguir, ainda que de maneira sucinta sobre cada
elemento supracitado. 3.1.1 Cobertura Temporal A chamada Cobertura
Temporal determina o perodo cuja situao de mercado descrita pelos
dados. Nesse contexto, fatores como idade, extenso do perodo e
freqncia, so considerados so definidos para efeito de coleta de
dados. A maioria dos especialistas no tema de opinio que para a
realizao de um estudo de ACV ser consistente se acaso a coleta de
dados compreender uma serie histrica de cinco anos. No entanto,
essa sugesto pode ser reavaliada luz de ocorrncias de ordem tcnica
que promovam alteraes nas condies de operao dos processos, tais
como: implantao de novos sistemas de controle, instalao de unidades
de tratamento e de recuperao de rejeitos, mudanas na conduta de
atuao em termos de gesto, ou mesmo uma reviso do conceito
tecnolgico da instalao (CURRAN, 1996; BAUMANN & TILLMAN, 1997;
ISO, 2006). 6 INTERFACEHS Revista de Gesto Integrada em Sade do
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10. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS Mesmo que alteraes de fundos diversos imponham
melhorias na forma de o sistema de produto interagir com ambiente,
condio essencial que a coleta de dados ocorra apenas quando o
sistema antrpico em questo tiver atingido condies regulares de
funcionamento. Quanto extenso, recomenda-se que a Cobertura
Temporal compreenda uma srie histrica mnima de um ano. Em
principio, tal prazo suficiente para absorver sem riscos de
falseamento de resultados anomalias das condies regulares como
flutuaes de produo, desvios operacionais, paradas programadas ou
emergenciais, e suas respectivas repartidas. 3.1.2 Cobertura
Geogrfica O critrio de abrangncia ou, Cobertura Geogrfica como mais
conhecido no vocabulrio convencional da ACV dispe sobre a amplitude
geogrfica a ser considerada no estudo para efeito de coleta de
dados. Cuidados adicionais nesse mrito devem ser tomados para
situaes em que os limites do sistema de produto ultrapassam
fronteiras entre naes. Nesse contexto, caso os dados no puderem ser
coletados junto aos pases em que as etapas operacionais do sistema
de produto se desenvolvem, h dois caminhos possveis a seguir: uso
de informaes provenientes de outras fontes, resguardadas suas
integridade e consistncia; ou uso de abordagem qualitativa dos
impactos decorrentes dessas atividades (BAUMANN & TILLMAN,
1997; ISO, 2006). 3.1.3 Cobertura Tecnolgica Terceira classe de
critrios para a coleta de dados a Cobertura Tecnolgica observa,
como o prprio titulo predispe, o vis tecnolgico dos subsistemas e
processos elementares. Assim sendo, esta trata de representar o mix
de tecnologias em uso, de acordo com o escopo e com as coberturas
geogrfica e temporal. Alternativas selecionadas de maneira trivial
nesse mrito so apresentadas no Quadro 2. Em certas circunstncias as
alteraes tecnolgicas podem ser recentes e assim, os dados
disponveis necessitem de representatividade, como caso discutido
para cobertura temporal (BAUMANN & TILLMAN, 1997). 7
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Ambiente - v.5, n.1, Artigo 1, jan./abr. 2010
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11. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS Para situaes de tal natureza, um levantamento de dados
conduzido junto a plantas que operam processos homlogos quele sob
avaliao poder fornecer estimativas com nvel razovel de
confiabilidade; entretanto, uma anlise crtica dos mesmos deve ser
conduzida preliminarmente sua aceitao. A) Adoo de tecnologia com
maior freqncia de instalao no setor; B) Uso da tecnologia a partir
da qual sejam obtidas maiores taxas anuais de produo; C) Mdia
ponderada do setor que se dedica ao processamento do bem em estudo
(ou que pratica o processo, ou realiza o servio sob avaliao pela
ACV); D) Adoo da melhor tecnologia disponvel; ou E) Seleo da pior
tecnologia em operao no momento, para casos de estudos que visam
definir a linha de base em termos de desempenho ambiental. Quadro
2: Critrios usuais para aplicao de Cobertura Tecnolgica Fonte:
Adaptado de SILVA & KULAY (2006) 3.1.4 Critrios de Qualidade
dos Dados A consistncia dos resultados gerados pela ACV diretamente
influenciada pela qualidade os dados por ela empregados. Por conta
disso, a norma ABNT NBR ISO 14040:2006 estabelece cinco critrios
para tratamento dessas informaes. O Quadro 3 mostra no apenas tais
condicionantes, mas tambm apresenta a funo que cada um destes
efetua para efeito de elaborao do ICV. O uso de critrios auxilia em
muito delimitao do espao amostral da coleta de dados. No obstante,
dada a importncia da qualidade dessas informaes para o sucesso do
estudo, sugere-se que aps a concluso dessa aplicao, indicadores
estatsticos sejam aplicados no sentido de aferir respectivamente a
preciso, completeza, representatividade, e reprodutibilidade da
amostra. Como regra geral, dados primrios tm preferncia sobre dados
secundrios. No entanto, os objetivos definidos para o estudo podem
influenciar tal deciso. 8 INTERFACEHS Revista de Gesto Integrada em
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12. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS A) PRECISO: medida da variabilidade dos dados; B)
COMPLETEZA: porcentagem de fontes de coleta de dados primrios em
relao ao nmero potencial de fontes; C) REPRESENTATIVIDADE: avaliao
qualitativa do grau com que o conjunto de dados reflete a populao
real (refere-se s coberturas geogrfica, temporal e tecnolgica); D)
CONSISTNCIA: avaliao qualitativa do nvel de uniformidade com o qual
o mtodo aplicado aos diferentes componentes; E) REPRODUTIBILIDADE:
avaliao qualitativa da capacidade de um estudo permitir a um
executante reproduzir os resultados por ele atingidos partindo-se
de informaes sobre a Quadro 3: Critrios de Qualidade de Dados
Fonte: Adaptado de SILVA e KULAY (2005) Nessas situaes,
recomenda-se, entretanto, que uma anlise crtica dos valores seja
conduzida, a fim de minimizar o erro potencial introduzido pela
deciso de se usar dados de processos equivalentes como fonte de
informaes. Um estudo de ACV deve, acima de tudo, ser transparente
quanto s premissas, s prticas e aos procedimentos assumidos por
conta de sua realizao. Caso esse objetivo seja alcanado, uma equipe
de praticantes da tcnica que esteja de posse de um estudo j
realizado deve ser capaz de atingir os mesmos resultados,
valendo-se apenas desses contedos. Para medir essa capacidade, deve
ser utilizado um indicador denominado reprodutibilidade. 3.2
Preparao para a Coleta de Dados O estabelecimento do escopo de uma
ACV define, entre outros aspectos, os subsistemas e processos
elementares que devero constituir o sistema de produto em estudo.
Tendo em vista que o procedimento de coleta de dados gera grande
quantidade de informaes provenientes de diversas fontes e sob as
mais distintas condies de fundamental importncia que uma preparao
prvia a atividade de coleta desses dados seja realizada de forma a
garantir uma interpretao uniforme e consistente do sistema a ser
estudado. Segundo Rebitzer et. all. (2004) a preparao para a coleta
pode ser dividida em trs atividades principais: 9 INTERFACEHS
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13. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS Elaborao de um fluxograma com nvel de detalhamento
suficiente para poder representar os subsistemas e processos
elementares que compem o sistema de produto; Preparao de formulrios
para a coleta de dados e Definio de critrios de excluso de aspectos
ambientais. O objetivo da elaborao de um diagrama de blocos ou at,
para determinadas circunstncias, um fluxograma dos elementos
constituintes do sistema de produto permitir ao praticante uma viso
global do objeto de anlise, assim como de suas interrelaes tanto
com o meio ambiente, quanto com outros sistemas ligados a ele. O
nvel de detalhamento estabelecido para a confeco desse diagrama ser
determinado tanto em funo dos objetivos estabelecidos para o
estudo, quanto pelas fontes de dados disponveis para sua realizao.
Isso, mesmo que apenas dados secundrios venham a ser empregados no
estudo. Quando uma ACV elaborada com o intuito de fornecer
elementos para definio das estratgias ambientais de uma organizao,
necessrio que o fluxograma do sistema de produto disponha do maior
nvel de detalhamento possvel, ainda que, quanto sua extenso, este
se restrinja to somente s atividades desenvolvidas pela prpria
corporao. Por outro lado, se o estudo for realizado com o propsito
de identificar oportunidades de melhoria de desempenho ambiental em
todas as etapas que compem o ciclo de vida de um produto o
fluxograma dever ser mais amplo, no necessariamente dispondo, porm,
de tantas informaes. Afora o fluxograma geral do sistema de
produto, podem tambm se fazer necessrios diagramas individualizados
para cada um de seus subsistemas, criados com a finalidade de
detalhar ao mximo as operaes e correntes que os compem.
Considerando-se to somente o objetivo a que se destina a coleta de
dados, ou seja, quantificar os aspectos ambientais selecionados
para certo sistema de produto, possvel perceber o elevado grau de
complexidade que cerca essa atividade. Portanto, conveniente que
alm dos diagramas anteriormente mencionados, sejam preparados ainda
formulrios de coleta de dados, tambm denominados de "checklists"
(SILVA, YOKOTE e RIBEIRO, 2002). 10 INTERFACEHS Revista de Gesto
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14. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS O formulrio para coleta de dados um recurso usado para
que o registro das informaes ocorra de maneira organizada, a fim de
que essas possam ser recuperadas e disponibilizadas rapidamente
caso seja necessrio. O formulrio de coleta , em essncia, uma tabela
em que so listados e quantificados aspectos ambientais constantes
em cada subsistema ou processo elementar, expressos sob a forma de
correntes de entrada e sada que circulam atravs das fronteiras
internas do sistema. Alm da quantidade do aspecto ambiental
selecionado deve ser ainda apontada no checklist a unidade de
medida para as condies em que se realiza o estudo (SONNEMAN, 2002.
A ABNT NBR ISO 14044:2009 recomenda que alm dos valores das
correntes, o formulrio deva trazer indicaes sobre a fonte de
informao do dado, critrios de qualidade, e indicadores estatsticos
selecionados para o estudo. Quaisquer referncias quanto ao uso de
recursos naturais pouco convencionais, assim como, de critrios de
alocao que se faam necessrios devem tambm ser apontados. Os
formulrios de coleta de dados so concisos para evitar possveis
atrasos quanto ao recebimento de respostas; alm disso, fundamental
fazer-se uso de clareza e de objetividade em sua elaborao, afim de
que erros de interpretao e ambigidades sejam cometidos. Finalmente,
esses documentos devem ser concebidos de forma a conter campos
livres, nos quais sero feitos registros de situaes especiais como
eventuais irregularidades ocorridas durante o transcorrer da coleta
(SONNEMAN, 2002; UDO DE HAES & ROOIJEN, 2004). 3.3 Critrios de
Excluso de Aspectos Ambientais Ao proceder-se a elaborao de um ICV
preciso estar ciente de que, em termos prticos, ser impossvel
considerar todos os aspectos ambientais contidos em um sistema de
produto. Assim sendo, deve-se aplicar de critrios de excluso de
aspectos ambientais visando o refinamento dos mesmos. Critrios de
excluso de aspectos ambientais podem ser de duas naturezas:
quantitativos ou de relevncia ambiental. De acordo com o critrio
quantitativo devem ser excludas do sistema correntes de matria ou
energia, cuja contribuio cumulativa em termos da massa ou energia
total que entra, ou sai, no sistema seja inferior a determinada
percentagem. Ainda que o critrio quantitativo resulte em economia
de tempo e de investimentos sua aplicao pode levar a desconsiderao
de aspectos cujos impactos sobre o meio INTERFACEHS Revista de
Gesto Integrada em Sade do Trabalho e Meio Ambiente - v.5, n.1,
Artigo 1, jan./abr. 2010 www.interfacehs.sp.senac.br 11
15. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS ambiente sejam significativos. Isso pode acarretar em
distoro dos resultados da ACV e, portanto, prejudicar processos de
tomada de deciso dependentes destes. Para que isso seja evitado,
recomenda-se adotar mais um critrio de excluso; este conhecido como
relevncia ambiental, e faz com que a seleo de aspectos ambientais
esteja baseada em uma anlise de sensibilidade, o que se reverte em
ganho de confiabilidade para o estudo (NBR ISO 14040, 2009). Para
levar adiante tal abordagem, necessrio dispor de banco de dados
capaz de fornecer os valores preliminares execuo de tal anlise, o
que, no obstante os avanos realizados at o momento, ainda no se
configura de todo possvel ao menos para o caso brasileiro. 3.4
Coleta de Dados A coleta de dados a tarefa mais demorada de uma ACV
podendo, portanto, ser bastante intensiva na demanda de recursos.
Esse problema pode ser minimizado caso tal procedimento seja
conduzido de maneira organizada. A norma ABNT NBR ISO 14044:2009
recomenda que para proceder a contento a realizao da coleta de
dados sejam cumpridos os seguintes passos: Seleo das fontes de
informao; Uso de dados especficos e de dados agregados; e
Substituio, caso necessrio, de dados primrios p dados secundrios.
Um dos problemas da coleta de dados reside na indisponibilidade de
fontes de informaes especficas e confiveis para a realizao do
estudo. Alm dos dados primrios que so obtidos de medies diretas no
campo, um estudo de ACV se completa em muitos casos por dados
secundrios. Os dados secundrios podem ser obtidos junto a trs
fontes principais de informao: bancos de dados prprios para ACV;
valores de referencia em literatura especifica; ou dados fornecidos
por terceiros como empresas, rgos do governo, associaes de classe,
laboratrios de anlise, entre outros. Dentre as fontes mencionadas,
devem merecer especial referncia, os bancos de dados.
Considerando-se o fato da ACV ser uma tcnica recente, a elaborao de
bancos de dados regionais e organizados para recursos comuns a
diversos sistemas caso de energia eltrica, combustveis fsseis, ao e
alumnio, celulose e papel, polmeros de 12 INTERFACEHS Revista de
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16. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS maneira geral, cimento, produtos agrcolas e outros bens
de consumo ao recente, mesmo em pases em que a ACV esta avanada. No
Brasil, iniciativas dessa natureza comeam apenas a serem
implementadas. Tendo em vista peculiaridades do pas como a
predominncia de energia de origem hidreltrica, ou a supremacia do
transporte de insumos e de bens pela via rodoviria a adoo de bancos
de dados internacionais pode distorcer os resultados de estudos
realizados para desenvolvidos no pais. No obstante, a realizao de
trabalhos de ACV, mesmo diante das limitaes descritas, amplamente
mais recomendvel que a omisso quanto aplicao da referida
metodologia. A construo de bancos de dados genuinamente brasileiros
faria da ACV um instrumento efetivo para a introduo da varivel
ambiental em processos gerenciais de tomada de deciso usuais no
meio empresarial (SILVA & KULAY, 2003). Em momento anterior
desta exposio procurou-se chamar a ateno para o carter iterativo
existente entre as etapas que compem a metodologia de ACV. Para a
coleta de dados, essa realidade no diferente, j que esse mesmo
procedimento acaba sofrendo influncia direta da definio dos
objetivos do estudo. Como regra geral, em situaes nas quais a
realizao de uma ACV se destina a fornecer elementos para decises
estratgicas de uma organizao - como nos casos de projeto de novos
produtos ou "reprojeto" de processos existentes a ABNT NBR ISO
14044:2009 sugere o uso de dados especficos do sistema, no intuito
de formar um quadro representativo do mesmo. Por outro lado, quando
a tcnica aplicada para trabalhos voltados ao mercado consumidor ou
a organismos ambientais, faz-se uso dos chamados dados agregados.
Estes consistem de valores totalizados de correntes de matria e
energia para um sistema que em geral, apresenta grau mnimo de
elaborao do tipo blackbox usados em substituio a informaes
especficas que estejam indisponveis, ou mesmo, que sejam pouco
confiveis. Os diferentes nveis de agregao de dados empregados em
uma ACV esto relacionados a seguir no Quadro 4. 13 INTERFACEHS
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v.5, n.1, Artigo 1, jan./abr. 2010 www.interfacehs.sp.senac.br
17. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS A) INDIVIDUAIS: um processo elementar de uma instalao.
B) COMPOSTOS: um processo de vrias instalaes. C) AGREGADOS:
combinao de vrios processos. D) MDIA DA INDSTRIA: amostragem
representativa dos processos que indiquem mix de tecnologia. E)
GENRICOS: descritores qualitativos da tecnologia. Quadro 4: Nveis
de Agregao de Dados Fonte: Adaptado de SILVA & KULAY (2005) O
uso de dados agregados faz com que os resultados de uma ACV possam
ser disponibilizados ao pblico sem revelar segredos industriais ou
fragilidades do processo sob analise. A norma recomenda, no
entanto, a realizao de uma anlise crtica dessas informaes
previamente a sua incorporao no estudo, no intuito de preservar
aspectos como transparncia, consistncia e integridade. Em situaes
nas quais dados primrios no possam ser coletados, recomenda-se
equipe lanar mo de dados secundrios para completar o ICV. Nessas
situaes, a norma ABNT NBR ISO 14040:2006 sugere os seguintes
procedimentos: Incluso de valores calculados desde processos
tecnologicamente semelhantes aos do sistema em estudo, no sem antes
realizar uma anlise crtica dos mesmos; Incluso de valores
consistentes, extrados de literatura; Atribuio de valor "zero" a
corrente em analise, com registro de justificativas formal e tcnica
para tal ao; e Estimativa de dado via balanos de massa e energia.
As premissas para realizao de tais procedimentos devem ser
documentadas e cuidadosamente fundamentadas em conhecimentos
tcnico-cientficos pertinentes. 14 INTERFACEHS Revista de Gesto
Integrada em Sade do Trabalho e Meio Ambiente - v.5, n.1, Artigo 1,
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18. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS O procedimento de coleta de dados pode eventualmente
variar em funo dos objetivos da ACV, ou das caractersticas do
sistema de produto; no entanto, para quaisquer situaes de
fundamental importncia o registro de todas as informaes, fontes e
hipteses admitidas. Ao final da etapa de coleta de dados, a equipe
de realizao da ACV deve dispor de tantas planilhas de aspectos
ambientais quantificados, quantos processos elementares fizerem
parte do sistema de produto. Os valores das correntes de entrada e
sada constantes de cada planilha devero ser determinados por
balanos materiais e energticos, tomando-se como bases de clculo as
unidades de referncia prprias de cada processo elementar. 4.
INTRODUO AO CONCEITO DE TRATAMENTO DE DADOS DO ICV Como visto antes
a norma ABNT NBR ISO 14044:2009 descreve a elaborao do Inventrio de
Ciclo de Vida como fase da ACV em que ocorrem a compilao e
quantificao de entradas e de sadas para um sistema de produto ao
longo de seu ciclo de vida. A elaborao do ICV passa por duas aes
operacionais at ser concludo. A primeira delas consiste da Coleta
de Dados, procedimento longo e minucioso de levantamento de
informaes diversas, obtidas junto aos subsistemas e processos
elementares que compem o sistema de produto e a partir de fontes
especializadas de coleta como os Bancos de Dados. Aps ter sido
concludo a Coleta de Dados, a equipe encarregada da realizao da ACV
retorna ao escritrio com um conjunto de informaes bem descritas em
termos de suas caractersticas temporais, geogrficas e tecnolgicas.
Caso a atividade seja bem conduzida o lote de dados ser capaz de
conferir aos resultados consistncia, solidez e representatividade
que estudos dessa classe predispem. Os dados gerados em funo da
coleta podem ser organizados na forma de um quadro sintico que,
dada a condio em que se encontram, chamado Tabela Bruta de Valores.
Ser este o ponto de partida para o tema da presente exposio: o
Tratamento de Dados. O Tratamento de Dados ajusta os resultados
gerados pela coleta de forma a espelhar o Perfil de Cargas
Ambientais do produto ou servio sob estudo. Para isso, os dados
contidos na Tabela Bruta de Valores devero sofrer tratamento de
duas naturezas: INTERFACEHS Revista de Gesto Integrada em Sade do
Trabalho e Meio Ambiente - v.5, n.1, Artigo 1, jan./abr. 2010
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19. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS A) Reduo a uma Base Comum; e, quando couber; e B)
Aplicao de Fatores de Alocao. A titulo de ilustrao desses conceitos
tome-se como exemplo de caso um estudo de avaliao do ciclo de vida
para o atendimento da funo fritar batatas com leo de soja.
Considere-se ainda, por questes metodolgicas, que os resultados da
ACV sejam utilizados para melhorar o desempenho ambiental do leo de
soja ao longo das etapas que compreendem seu processo produtivo.
Dadas as premissas estabelecidas na Definio de Objetivos e de
Escopo, este sistema de produto considera uma abordagem do tipo
bero ao porto da fbrica. A Figura 2 traz, sob a forma de diagrama
de blocos, a representao esquemtica do sistema de produto em
questo. O sistema de produto em analise se constitui dos seguintes
processos elementares: produo de gros de soja; produo de leo de
soja; e transporte. Observando-se mais atentamente a Figura 2 ser
possvel notar que no diagrama da produo de soja aparecem indicados
fluxos elementares originrios do meio ambiente caso de gua, ar, sol
e solo, bem como aqueles proporcionados por aes antrpicas na forma
de fluxos de produto. Dentro desta ultima categoria se incluem
fertilizantes e defensivos. Esta etapa do sistema gera por produto
gros de soja. ar Fabricao de fertilizante solo gua sol Fabricao de
defensivos Produo de soja Gros de soja Transporte Gerao de vapor
Fabricao de leo de soja Fabricao de solvente Gerao de eletricidade
leo de soja fronteiras Figura 2 Sistema de produto do leo de Soja
foco sobre o produto: bero ao porto Fonte: Adaptado de SILVA &
KULAY (2003) 16 INTERFACEHS Revista de Gesto Integrada em Sade do
Trabalho e Meio Ambiente - v.5, n.1, Artigo 1, jan./abr. 2010
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20. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS Desconsiderou-se na coleta de dados da produo de soja o
consumo de leo diesel usado no preparo do solo, cultivo e colheita
da soja em virtude da aplicao do critrio quantitativo de excluso de
2%. Esta modelagem, bem como aquelas empregadas para os demais
processos elementares, foi constituda apos analisar-se a condio
tecnolgica em que ocorre a produo de soja, a fim de refletir a
realidade fsica desse processamento. O processo elementar de produo
de leo de soja considera como correntes de entrada vapor, solvente
na forma de hexano e eletricidade. Isso se deve ao fato de o modelo
em questo estar baseado na tecnologia de extrao de leo de soja por
prensagem a quente com solvente. O ultimo dos processos elementares
compreende o transporte de gros de soja desde a fazenda, ate
unidade industrial. Fruto de modelagem especfica convencionou-se
que esta atividade ocorre em caminhes com 15 t de capacidade,
movidos a leo diesel. Note-se que o diagrama de blocos contido na
Figura 2 traz grafado de forma diferencia os processos elementares
que o compe. Tal representao indica que processos de fabricao de
fertilizantes, defensivos agrcolas e solventes esto descartados
para efeito da presente ACV. Ou seja, apenas os materiais gerados
desses processamentos sero considerados para efeito da presente
analise, no importando assim, as cargas ambientais que os mesmos
venham a aportar ao atendimento da funo de fritas batatas com leo
de soja por ocasio de suas produes. As excluses de aspectos
ambientais e processos elementares devero ser suportadas por
justificativas tcnicas. Vale destacar, por fim, que para a presente
situao foram tambm desconsiderados Bens de Capital relacionados ao
sistema de produto. O produto da coleta de dados para a produo de
1t de leo de soja aparece representado na Tabela 1. 17 INTERFACEHS
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21. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS Produo de soja (t gros) Gerao de vapor (t vapor) Gerao
de eletricidade (kWh) Energia (GJ) 0,58 3,45 0,00908 0,00857 Gas
Carbonico (kg) 45,3 162 0,625 0,81 PROCESSO ELEMENTAR ASPECTO
AMBIENTAL Monoxido de Carbono (kg) Fabricao de oleo (t oleo)
Transporte (15t.km) 0,01 0,04 0,000029 0,002 Hidrocarbonetos (kg)
0,0046 2,0 0,000053 0,0013 Oxido de Nitrogenio (kg) 0,071 0,5
0,000012 0,012 Oxido de Enxofre (kg) 0,32 0,14 0,000078 0,00088
Nitrogenio (kg) 3,0 Fosforo (kg) 1,5 Defensivos agricolas (kg)
13,65 Hexano (kg) 3,0 Tabela - Bruta de Valores da ACV para leo de
Soja Fonte: SILVA & KULAY (2003) Uma analise dos dados contidos
na Tabela 1, denominada Tabela Bruta de Valores, permite determinar
o valor totalizado de qualquer dos aspectos ambientais envolvidos
na produo do leo de soja. Para o caso do dixido de carbono CO2, por
exemplo, um leitor desatento poderia inferir que este valor
corresponde a 208, 735 kg. A adoo dessa prtica, no entanto,
consiste em erro conceitual. Observando o mtodo de totalizao
empregado para determinar a emisso de CO2 do sistema de produto em
questo, agora, porm, segundo outra tica, 45,3 () kg CO2/t soja 162
kg CO2/t vapor 0,625 kg CO2/kWh 0,81 kg CO2/15t.km 208,735 kg CO2/
???????? seria possvel notar que a mera somatria das emisses de CO2
dos diversos processos elementares que integram o sistema de
produto gera um valor sem significado fsico, j que cada valor de
parcela individual foi estabelecido em unidade diferente. Assim,
para saber o quanto de fato, o processamento de leo de soja aporta
ao meio ambiente em termos de CO2 nas condies presentes, ser
necessrio estabelecer INTERFACEHS Revista de Gesto Integrada em
Sade do Trabalho e Meio Ambiente - v.5, n.1, Artigo 1, jan./abr.
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22. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS uma base comum. Esta corresponde ao fluxo de referncia,
definido a priori na etapa de Definio de Objetivos e Escopo da ACV
(SILVA & KULAY, 2008). O estabelecimento do fluxo de referncia
se inicia pela identificao da funo para a qual o bem em anlise ser
avaliado. Para o caso presente, como j enunciado, esta consiste de
fritar batatas. A partir disso, defini-se a unidade funcional; ou
seja, um valor arbitrrio do exerccio da funo. Para o caso presente
esta poderia ser: Fritar 2500 kg de batatas. Por fim, deve-se
empreender levantamento de campo baseado em experimentao de carter
estatstico com propsito de determinar o desempenho tcnico do
produto no exerccio da funo selecionada. Hipoteticamente este
poderia ser: Coeficiente de Desempenho Tcnico = C1 = 2,5 t batatas
1000 kg leo de soja De posse desses dados ser possvel calcular o
fluxo de referncia: Fluxo de Referncia (= FR) = Unidade Funcional =
UF = 2500 kg batata Coeficiente de Desempenho Tcnico C1 2500 kg
batata 1000 kg leo soja Fluxo de Referncia = FR = 1000 kg leo de
soja Concluda essa digresso metodolgica, a emisso atmosfrica total
de CO2 associada produo de leo de soja ser calculada
considerando-se todos os subsistemas e processos elementares
envolvidos no processamento de 1 t do produto. De acordo com os
dados da Tabela 1, a produo de 1,0 t de gros emite 45,3 kg CO2.
Assim, preciso conhecer o consumo de gros de soja necessrio para a
produo de 1,0 t de leo de soja. Para tanto, vale retornar aos
registros feitos pela coleta dos dados observando o resultado dos
levantamentos efetuados junto produo de leo de soja etapa
industrial do sistema deste produto. Este aparece indicado a seguir
na Figura 3. 19 INTERFACEHS Revista de Gesto Integrada em Sade do
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23. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
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INTERFACEHS ICV de: leo de soja Etapa do CV: Fabricao do produto
Subsistema: Produo de leo de soja Produto: leo de soja Unidade: 1 t
Gros de soja 5 t leo de soja 1t Hexano 3 kg FABRICAO DE LEO DE SOJA
Vapor 1,2 t Torta de soja 4t Hexano 3 kg Eletricidade 175 kWh
Figura 3 Processo Elementar de Produo de Soja Fonte: Adaptado de
SILVA & KULAY (2003) Pelo exposto na Figura 3 nota-se que para
as condies processuais consideradas na elaborao do modelo so
consumidas 5,0 t gros de soja/ t leo. Dada a correlao, ento possvel
definir um fator de converso capaz de expressar o consumo de
recursos e a gerao de rejeitos da produo de gros de soja, em termos
de leo: Fator de Converso = F1 = 5 t gros de soja 1 t leo de soja A
parcela emisso de CO2 imputada ao leo de soja pela produo de gros
ser: Emisso de CO2 para leo de soja referente etapa agrcola Emisso
de CO2 para leo de soja = referente etapa agrcola = Emisso de CO2 t
gros de soja 45,3 kg CO2 t gros de soja x x F1 5 t gros de soja 1 t
leo de soja = 226,5 kg CO2 1 t leo de soja A determinao de fatores
de converso ao fluxo de referncia pode ser repetida para todos os
demais materiais utilizados para a produo do produto em estudo. 20
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Ambiente - v.5, n.1, Artigo 1, jan./abr. 2010
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24. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo Para
completar INTERFACEHS a relao de provedores de aspectos ambientais
ao processamento do leo de soja falta ainda considerar o processo
elementar de transporte de gros entre a rea agrcola e a unidade
industrial. Observem-se para tanto os dados coletados para tal
atividade, indicados a seguir na Figura 4. O transporte apresenta
caractersticas diferentes daquelas expressadas pelos processos
elementares analisados ate o momento, j que os aspectos ambientais
referentes a essa ao foram contabilizados em uma unidade que
relaciona quantidade transportada e distncia. No caso especfico do
transporte de gros, esta corresponde a 15 t . km. ICV de: leo de
soja Etapa do CV: Transporte Processo Elementar: Transporte de Gros
de soja Produto: Gros de soja transportados Unidade: 15 t . km CO2
0,81 kg CO 0,002 kg leo diesel 0,00857 GJ TRANSPORTE GROS DE SOJA
Hidrocarbonetos (= CxHy) 0,0013 kg NO2 0,012 kg SO2 0,00088 kg
Figura 4 Processo Elementar de Transporte de gros Fonte: Adaptado
de SILVA & KULAY (2003) A interpretao desse valor faz concluir
que o consumo de leo diesel e as emisses atmosfricas associadas ao
decorrem do transporte de 15 t de material por 1 km de trajeto.
Dado o quadro, alm das condies operativas em que o transporte
ocorre, deve-se conhecer a quantidade efetiva de carga transportada
e a distncia percorrida para estabelecer o fator de converso dessa
etapa. Como a produo de 1 t de leo de soja se d a partir de 5 t de
gros de soja e, supondo que a distncia mdia entre a zona
agricultvel a planta industrial seja de 200 km, vem: 21 INTERFACEHS
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25. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS Fator de Converso = Ft = Condies para a situao em
estudo = 5 t gros soja . 200 km Condies da coleta de dados 15 t . 1
km Ou seja, Ft = 66,7 t gros soja . km (fazenda fbrica) t . km
(quaisquer) Assim, emisso total de CO2 associada produo de 1,0 t de
leo de soja ser dada pela somatria das contribuies individuais de
processo elementar que integra o sistema de produto ajustadas pelos
respectivos fatores de converso. A Tabela 2 apresenta de maneira
resumida esse raciocnio. Etapa Sistema de Produto Produo de gros de
soja Gerao de vapor Gerao de eletricidade Produo do leo de soja
Emisso CO2 Unidade kg / t gro 45,3 soja 162 Fator de Converso 5
soja etapa Unidade kg CO2 226,5 t leo tleo soja t vapor 1,2 kg /
kWh 175 kg / t leo 0,0 Total por t gro kg / t vapor 0,625 Unidade
soja t leo soja kWh t leo soja 194,4 109,4 kg CO2 t leo kg CO2 t
leo kg CO2 1 t leo soja 0,0 t leo t leo soja kg CO2 Transporte kg /
(15 t x 0,81 km) 66,7 (15 t x km) 54,0 t leo t leo soja Total Geral
- - - - 584,3 kg CO2 t leo Tabela 2 Clculo da emisso de gs carbnico
para produo de 1 t de leo de soja INTERFACEHS Revista de Gesto
Integrada em Sade do Trabalho e Meio Ambiente - v.5, n.1, Artigo 1,
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26. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS A extenso do tratamento dispensado ao dixido de carbono
aos demais aspectos ambientais do sistema de produto do leo de
soja, permite conhecer, o Perfil Ambiental do PROCESSO ELEMENTAR
ASPECTO AMBIENTAL Produo de soja (t oleo) Gerao de vapor (t oleo)
Gerao de eletricidade (t oleo) 2.9 4.1 1.6 Energia (GJ) Fabricao de
oleo (t oleo) Transporte (t oleo) 0.57 Gas Carbonico (kg) 227 194
109 54 Monoxido de Carbono (kg) 0.05 0.048 0.005 0.13
Hidrocarbonetos (kg) 0.023 2.4 0.009 0.087 Oxido de Nitrogenio (kg)
0.36 0.6 0.0021 0.80 Oxido de Enxofre (kg) 1.6 0.17 0.014 0.059
Nitrogenio (kg) 15 Fosforo (kg) 8 Defensivos agricolas (kg) 68
Hexano (kg) 3 Fatores de Converso 5 1.2 175 1 66.7 bem de consumo
em anlise no nvel de ICV. Esse resultado apresentado na Tabela 3,
que dada a condio passa a se chamar Tabela de Valores Ajustados ao
Fluxo de Referncia. Tabela 3 Tabelas de Valores Ajustados ao Fluxo
de Referncia: produo de leo de soja Fonte: SILVA & KULAY (2003)
A construo da Tabela de Valores Ajustados ao Fluxo de Referncia
conclui a fase inicial do Tratamento de Dados de um ICV. Para
certos casos, tal procedimento se esgota com essa operao. No
entanto, em outros, praticante da ACV se depara com um contexto
peculiar. Ao longo do ciclo de vida de um produto podem ocorrer
processos elementares a partir dos quais so gerados mais do que um
produto. Alguns desses produtos podero ser utilizados no sistema de
origem para a manufatura de outros produtos caracterizando assim
Reciclagem Interna. Entretanto, h situaes nas quais produtos de
mesmo processo elementar podem atravessar as fronteiras do sistema
de produto em analise, para serem aproveitados por outros sistemas
produtivos, em aes de Reciclagem Externa. A essas correntes de
matria ou de energia d-se o nome de subprodutos. 23 INTERFACEHS
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27. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Materiais Auxiliares disposio final Rejeito Materiais
Auxiliares uso Rejeito manufatura do calado Rejeito Materiais
Auxiliares curtume Rejeito abate Rejeito Rejeitos criao do gado
Materiais Auxiliares INTERFACEHS Materiais Auxiliares Recursos
Naturais Materiais Auxiliares Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi
Miyamaru Seo FRONTEIRAS Figura 5 Sistema de Produto de um calado de
couro Fonte: SILVA & KULAY (2009) Conceitualmente, o fato de
correntes materiais poderem ser aproveitadas em outros sistemas
antrpicos faz com que as mesmas no sejam classificadas como
rejeitos. Dadas as suas caractersticas, ao atravessarem as
fronteiras do sistema de produto em estudo, esses bens passaro a
ocupar a condio de materiais auxiliares nos referidos processos
produtivos, fato que os elevam categoria de subprodutos do sistema
de produto de origem. Quando ocorre gerao de subprodutos em que se
caracterize Reciclagem Externa faz-se necessrio efetuar uma alocao
(SILVA & KULAY, 2009). O procedimento de alocao baseia-se em
essncia no uso de critrios que permitam ponderar entre os produtos
gerados em um sistema antrpico, cargas ambientais decorrentes do
consumo de recursos e da gerao de rejeitos acumuladas at o momento
da obteno desses bens. Sempre que possvel recomenda-se empregar
critrios baseados em parmetros fsicos. Dentre estes, destaca-se o
Critrio Mssico a partir do qual todas as correntes que caracterizam
aspectos ambientais de entrada e sada do sistema de produto sero
repartidas entre os produtos dele obtidos segundo o percentual
mssico de contribuio de cada um. Neste contexto para a produo do
leo de soja, admita-se que alm desse ultimo, seja tambm obtida a
partir do seqenciamento de aes antropicas certa quantidade de torta
de soja uma matria prima de uso recorrente como carga na indstria
de alimentos. A Figura 6 representa a situao. 24 INTERFACEHS
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28. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS ar Fabricao de fertilizante solo gua sol Fabricao de
defensivos Produo de soja Gros de soja Transporte Gerao de vapor
Fabricao de leo de soja Fabricao de solvente Gerao de eletricidade
leo de soja Torta de soja fronteiras Fonte: Adaptado de SILVA &
KULAY (2003) Figura 6 Alocao no Sistema de Produto da Produo de leo
de Soja Supondo que a obteno de 1,0 t de leo de soja ocorra
concomitantemente de 4,0 t de torta, os fatores para a alocao de
cargas ambientais para ambos os produtos calculados a partir do
critrio de massa sero: Fator de Alocao leo de soja = M1 = = massa
de leo 1 0,20 (massa de leo + massa de torta) Fator de Alocao torta
de soja = M2 = = = massa de torta (1 + 4) = 4 0,80 (massa de leo +
massa de torta) (1 + 4) Alm de massa, h outras caractersticas
fsicas associadas aos produtos que podem ser usadas para efeito
alocao de cargas ambientais. So elas: quantidade de matria, energia
interna, entalpia, calor de reao, entre outros. A opo pelo critrio
a ser empregado ir depender das circunstncias em que os produtos so
aproveitados nos sistemas antrpicos para onde seguem aps deixar o
sistema de produto em estudo (ABNT ISO 14040, 2009). 25 INTERFACEHS
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v.5, n.1, Artigo 1, jan./abr. 2010 www.interfacehs.sp.senac.br
29. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS Quando no for possvel fazer uso de critrio fsico, a
alocao pode ser conduzida com base no critrio econmico. A opo por
esse recurso predispe a introduo de duas consideraes antagnicas.
Por um lado, o critrio de econmico capaz de expressar o valor que o
ser humano atribui a determinado bem o que se configura em vantagem
no sentido de reduzir o grau de incerteza gerado por sua aplicao.
Por outro, esse valor ir flutuar consideravelmente em razo de
fatores externos de fundo mercadolgico tais como demanda, oferta, e
estoque, o que resulta em desvantagem para os mesmos fins (SILVA
& KULAY, 2006). Dessa anlise resulta o motivo pelo qual, caso o
praticante da ACV tenha de fato que lanar mo de critrios de alocao,
que estes sejam preferencialmente de ordem fsica. A alocao por
valor econmico na produo de leo de soja predispe levantamento de
valores comerciais desses gneros junto a organizaes de reputao
abalizada. Considere-se hipoteticamente que, para o contexto,
pesquisa realizada junto a Bolsa de Mercadorias e Futuros
(BM&F) indicasse estar o leo de soja sendo comercializado ao
valor de 540,00 US$/t; e a torta de soja a 180,00 US$/t. Se produo
de uma tonelada de leo de soja esto associadas 4 t de torta: Fator
de Alocao leo de soja = E1 = massa leo x valor unitrio leo [(massa
leo x valor unitrio leo) + (massa torta x valor unitrio torta)]
Fator de Alocao leo de soja = E1 = 540 = 1 t x 540,00 US$/t = 3 [(1
t x 540,00 US$/t) + (4 t x 180,00 US$/t)] 1260 7 Da mesma forma,
para a torta de soja: 26 INTERFACEHS Revista de Gesto Integrada em
Sade do Trabalho e Meio Ambiente - v.5, n.1, Artigo 1, jan./abr.
2010 www.interfacehs.sp.senac.br
30. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS Fator de Alocao torta de soja = E2 = massa torta x
valor unitrio torta [(massa leo x valor unitrio leo) + (massa torta
x valor unitrio torta)] Fator de Alocao torta de soja = E2 = 720 =
4 t x 180,00 US$/t = 4 [(1 t x 540,00 US$/t) + (4 t x 180,00
US$/t)] 1260 7 Nesse contexto cabe questionar qual dos critrios de
massa ou valor econmico seria mais adequado para a conduo do estudo
de ACV da produo do leo de soja. A norma ABNT NBR ISO 14040:2006
determina que o processo de seleo para este caso ocorra de maneira
criteriosa, transparente e registrvel a fim de que futuramente,
durante a Interpretao dos resultados da ACV, a pertinncia da opo e
mecnica de clculo sejam analisadas por um avaliador. Chega-se assim
a concluso que muito embora a aplicao de critrios de alocao possa
alterar os resultados de dois estudos de ACV conduzido de forma
idntica, em ambos os casos seus realizadores estaro corretos de
acordo com os elementos da norma vigente para arbitrar tal
procedimento. Dado o carter subjetivo da alocao, a norma ABNT NBR
ISO 14040:2006 sugere que a alocao seja adotada apenas em casos
extremos. Ou seja, antes de ponderar o uso de critrios de alocao, o
praticante deve procurar evitar situaes em que os mesmos devam
fatalmente ser usados. De qualquer forma, a Tabela 4 apresenta o
efeito da alocao por valor econmico sobre a Tabela de Valores
Ajustados ao Fluxo de Referncia da produo de leo de soja. 27
INTERFACEHS Revista de Gesto Integrada em Sade do Trabalho e Meio
Ambiente - v.5, n.1, Artigo 1, jan./abr. 2010
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31. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS Produo de soja (t oleo) Gerao de vapor (t oleo) Gerao
de eletricidade (t oleo) Energia (GJ) 1.2 1.8 0.68 0.24 Gas
Carbonico (kg) 97 83 47 23 Monoxido de Carbono (kg) 0.021 0.021
0.0022 0.057 Hidrocarbonetos (kg) 0.01 1.0 0.0040 0.037 PROCESSO
ELEMENTAR ASPECTO AMBIENTAL Fabricao de oleo (t oleo) Transporte (t
oleo) Oxido de Nitrogenio (kg) 0.15 0.26 0.00090 0.34 Oxido de
Enxofre (kg) 0.69 0.072 0.0059 0.025 Nitrogenio (kg) 6.4 Fosforo
(kg) 3.2 Defensivos agricolas (kg) 29 Hexano (kg) 1.29 Fatores de
Converso 5 1.2 175 1 66.7 Fatores de Alocao 0.43 0.43 0.43 0.43
0.43 Tabela 4 Tabela de Valores Consolidados Fonte: SILVA &
KULAY (2003) O produto da etapa de elaborao de ICV consiste de
relao de aspectos ambientais quantificados A partir deste ser
possvel dar seguimento ao estudo de ACV realizando a Avaliao dos
Impactos Ambientais potenciais associados ao produto ou servio sob
anlise pela tcnica. 5. CONCLUSES A elaborao do Inventario de Ciclo
de Vida de um produto ou servio depreende o estabelecimento de
condicionantes e premissas. Por um lado essa atividade mostra-se
rdua em termos operacionais, e ate inslita, por conferir ao estudo
carter de pseudo impreciso por exemplo, como a aplicao de fatores
de alocao. O termo pseudo aqui empregado faz se explica no fato de
o procedimento de alocao estar formal e legitimamente previsto nas
normas documentos que orientam a elaborao de estudos de ACV. No
entanto, tal como se sabe, esta incluso aporta compulsoriamente um
vis subjetivo a tcnica. Por outro, tambm a partir da construo do
ICV que ser possvel tomar decises e efetuar analises que visem
melhorar o desempenho do cumprimento de funes associadas a esses
mesmos produtos e servios. Ou seja: j nesse ponto do
desenvolvimento da ACV possvel exercitar a Sustentabilidade
Ambiental na essncia do termo. 28 INTERFACEHS Revista de Gesto
Integrada em Sade do Trabalho e Meio Ambiente - v.5, n.1, Artigo 1,
jan./abr. 2010 www.interfacehs.sp.senac.br
32. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS Por conta de tudo isso, ser de fundamental importncia
que o modelo criado durante a elaborao do ICV para retratar do
fenmeno fsico esteja efetivamente prximo na medida que for possvel
de sua condio real. 6. REFERNCIAS ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS
TCNICAS ABNT NBR ISO 14040:2006. Gesto ambiental Avaliao do ciclo
de vida Princpios e estrutura. Rio de Janeiro, 2006. ASSOCIAO
BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS ABNT NBR ISO 14044:2009. Gesto
Ambiental - Avaliao do Ciclo de Vida Requisitos e orientaes. Rio de
Janeiro, 2009. BAUMANN, H. & TILLMAN, A. The Hitch Hikers Guide
to LCA. Lund, 2004. CURRAN, M. A. Environmental Life Cycle
Assessment. New York: McGraw Hill, 1996. FAVA, J. A. A technical
framework for life-cycle assessments. Washington, D.C., Society of
Environmental Toxicology and Chemistry: SETAC Foundation for
Environmental Education, Vermont, 1991. 134 p. ISO - INTERNATIONAL
ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. Environmental management Life
cycle assessment: Principles and framework ISO 14040. Genebra:
2006. JENSEN, A. (coord.). Life-Cycle Assessment (LCA): A guide to
approaches, experiences and information sources. Copenhague: Report
to the European Environmental Agency, 1997. 29 INTERFACEHS Revista
de Gesto Integrada em Sade do Trabalho e Meio Ambiente - v.5, n.1,
Artigo 1, jan./abr. 2010 www.interfacehs.sp.senac.br
33. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS REBITZER, G. (coord.) Part 1: Framework, goal and scope
definition, inventory analysis, and applications. Environment
Internacional, 30, pp. 701-720, 2004. SILVA, G. A.; KULAY, L. Notas
de aula. Disciplina: Avaliao do Ciclo de Vida. Programa de Educao
Continuada em Engenharia PECE. Escola Politcnica USP. 2009.
______________________. Notas de aula. Disciplina: Avaliao do Ciclo
de Vida. Programa de Educao Continuada em Engenharia PECE. Escola
Politcnica USP. 2008. ______________________. Notas de aula.
Disciplina: Avaliao do Ciclo de Vida. Programa de Educao Continuada
em Engenharia PECE. Escola Politcnica USP. 2006.
______________________. Notas de aula. Disciplina: Avaliao do Ciclo
de Vida. Programa de Educao Continuada em Engenharia PECE. Escola
Politcnica USP. 2005. ______________________. Notas de aula.
Disciplina: Avaliao do Ciclo de Vida. Programa de Educao Continuada
em Engenharia PECE. Escola Politcnica USP. 2003. SILVA, G. A.,
YOKOTE, A. Y. e RIBEIRO, P. H. Desenvolvimento de banco de dados
brasileiro para avaliao de ciclo de vida. Global Conference
Building a sustainable world. So Paulo, 2002. SOCIETY OF
ENVIRONMENTAL TOXICOLOGY AND CHEMISTRY. Guidelines Lifecycle
Assessment: A Code of Practice. Brussels: SETAC. 1993. SONNEMAN,
G.: Environmental damage estimations in industrial process chains
Methodology development with case study on waste incineration and
special focus on 30 INTERFACEHS Revista de Gesto Integrada em Sade
do Trabalho e Meio Ambiente - v.5, n.1, Artigo 1, jan./abr. 2010
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34. ORIENTAES CONCEITUAIS PARA ELABORAO DE INVENTRIOS DE CICLO
DE VIDA Luiz Alexandre Kulay; Emilia Satoshi Miyamaru Seo
INTERFACEHS human health. Tese (doutorado) - Tarragona. 332p.
Universitat Rovira i Virgili Espanha. 2002. UDO DE HAES, H. A.;
ROOIJEN, M. V. Life cycle approaches: The road from analysis to
practice. France: United Nations Environment Program me/Life Cycle
initiative, 31 INTERFACEHS Revista de Gesto Integrada em Sade do
Trabalho e Meio Ambiente - v.5, n.1, Artigo 1, jan./abr. 2010
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observada a obrigatoriedade de indicao da propriedade dos seus
direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citao completa da fonte.
Em caso de dvidas, consulte a secretaria:
[email protected] USO DO SOFTWARE SADA NA ESTIMATIVA
DO RISCO SADE HUMANA E CORRENTE DA EXPOSIO AO RESDUO DE AREIA DE
MOLDAGEM DE FUNDIO DE FERRO Raphael Schumacher Bail1, Paulo
Marcondes Bousfield 2, Mara Gomes Lobo3 e Schirlene Chegatti4 1
Acadmico do curso de Engenharia Ambiental da UNIVILLE Campus
Universitrio s/n Bom Retiro. 89219-905 Joinville SC Brasil.
[email protected] 2 Professor do Departamento de Sistemas de
Informao da UNIVILLE, doutorando em Engenharia Ambiental pela UFSC
3 ,Professora do Departamento de Engenharia Ambiental da UNIVILLE,
mestre em Engenharia de Processos pela UNIVILLE 4 Qumica
industrial, doutoranda em Engenharia Ambiental pela UFSC RESUMO A
avaliao de risco sade humana segundo a metodologia proposta em 1989
pela Agncia de Proteo Ambiental dos Estados Unidos (United States
Environmental Protection Agency USEPA) busca estimar
quantitativamente o risco de impactos adversos sade em uma populao
exposta a susbtncias qumicas encontradas na gua subterrnea, gua
superficial, solo e sedimento. Uma ferramenta que pode facilitar
esse processo de avaliao o software SADA (Spatial Analysis Decision
Assistance), desenvolvido pela Universidade do Tennessee (EUA) e
que possui um mdulo de avaliao de risco sade humana baseado na
metodologia da USEPA. Este trabalho visou realizao de uma avaliao
de risco sade humana atravs desse software utilizando os resultados
das anlises de alguns compostos presentes na areia de moldagem, que
o resduo gerado em maior quantidade no processo de fundio de
36. ferro. Para este trabalho foram considerados os valores
toxicolgicos e de exposio das bases de dados que acompanham o SADA,
baseados em regulamentaes da prpria USEPA e de outras instituies.
Ao final, foi determinado que o software foi preciso no clculo dos
riscos carcinognicos e no carcinognicos conforme a metodologia da
USEPA (1989) e que para os parmetros considerados o resduo areia de
moldagem no apresentou riscos significativos sade humana.
Palavras-chave: Avaliao de risco sade humana, areia de fundio,
SADA. parque industrial; resduos.
37. USO DO SOFTWARE SADA NA ESTIMATIVA DO RISCO SADE HUMANA
DECORRENTE DA EXPOSIO AO RESDUO DE AREIA DE MOLDAGEM DE FUNDIO DE
FERRO Raphael Schumacher Bail , Paulo Marcondes Bousfield, Mara
Gomes Lobo e Schirlene Chegatti INTERFACEHS INTRODUO O termo risco
pode ser definido como sendo a probabilidade da ocorrncia de um
efeito adverso a um organismo, sistema ou populao, causado sob
circunstncias especficas, devido exposio a um agente (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2004). De acordo com Guivant apud Fernandes Neto e
Sarcinelli (2009), os estudos quantitativos sobre os riscos se
desenvolveram inicialmente tendo por base disciplinas como
toxicologia, epidemiologia, psicologia e engenharia a partir dos
anos 60. O risco associado sade, especificamente, mais recente. Sua
aplicao somente foi acelerada com a publicao da Agncia de Proteo
Ambiental Americana (USEPA United States Environmental Protection
Agency) intitulada Carcinogenic Risk Assessment Guidelines, em
1976, e de trabalhos de remediao do solo na dcada de 80 (GALVO
FILHO, 2001). Cunha (2008) define a avaliao de risco como o estudo
que quantifica o risco sade humana, decorrente da exposio a uma ou
mais substncias qumicas no meio ambiente. A relao entre a
intensidade da poluio ambiental e os potenciais riscos sade humana
pode ser avaliada pela metodologia de avaliao de risco sade humana
(Risk Assessment Guidance for Superfund - RAGS) proposta pela USEPA
em 1989. Atravs dessa proposta possvel expressar o risco como uma
estimativa numrica, permitindo estabelecer prioridade na ao em reas
impactadas, bem como avaliao de tcnicas de remediao. Conforme a
USEPA (1989), as quatro etapas gerais para a avaliao de risco
consistem na coleta e avaliao dos dados, avaliao de toxicidade,
avaliao de exposio e por fim a caracterizao e quantificao dos
riscos. 1. Spatial Analysis and Decision Assistance (SADA) Em
meados da dcada de 90, a Universidade do Tennessee, nos Estados
Unidos, atravs de seu Instituto de Modelagem Ambiental desenvolveu
o SADA (Spatial Analyses and Decision Assistance ou Assistente para
Deciso e Anlise Espacial), software de obteno gratuita e que
incorpora ferramentas de avaliao ambiental, entre as quais a
avaliao de riscos ecolgicos e sade humana (STEWART; PURUCKER,
2009). O SADA possibilita dentro de seu mdulo de avaliao de risco
sade humana o clculo do risco de impactos adversos sade em uma
populao exposta a substncias qumicas txicas encontradas na gua
subterrnea, gua superficial, solo e sedimento. 1 INTERFACEHS
Revista de Gesto Integrada em Sade do Trabalho e Meio Ambiente -
v.5, n.1, Artigo 2, jan./abr. 2010 www.interfacehs.sp.senac.br
38. USO DO SOFTWARE SADA NA ESTIMATIVA DO RISCO SADE HUMANA
DECORRENTE DA EXPOSIO AO RESDUO DE AREIA DE MOLDAGEM DE FUNDIO DE
FERRO Raphael Schumacher Bail , Paulo Marcondes Bousfield, Mara
Gomes Lobo e Schirlene Chegatti INTERFACEHS Os modelos de risco
seguem o RAGS da USEPA e podem ser customizados para atender s
condies de exposio especficas de cada local. A metodologia
caracteriza o potencial para efeitos no carcinognicos comparando um
nvel de exposio dentro de um perodo especificado, entendido como um
aporte, com uma dose de referncia para um perodo similar. O aporte
entendido como a massa de uma substncia que entra em contato com a
interface do organismo exposto por unidade de peso corporal ao
longo de uma unidade de tempo (ex: mg alumnio/kg.dia). A
caracterizao dos efeitos carcinognicos feita por meio das
probabilidades de um indivduo desenvolver cncer durante o tempo de
vida como resultado da multiplicao de uma estimativa de aporte
dirio por um fator de carcinogenicidade, especfico de cada
substncia (USEPA, 1989). O fator de carcinogenicidade, que Sogabe
(2006) denomina como declividade da potncia carcinognica, se refere
a um valor de toxicidade que define quantitativamente a relao entre
a dose e a resposta carcinognica de cada composto (CETESB, 2009). O
SADA possibilita a avaliao de risco sade humana considerando cinco
cenrios de uso do local: residencial, industrial, recreacional,
agricultura e minerao. A diferena na avaliao entre um cenrio e
outro so os valores de exposio do ser humano ao meio, bem como as
vias de contaminao, como ingesto, inalao, contato drmico, entre
outras. Yuracko et al. (1999) mencionam os ganhos de tempo e
dinheiro para o Departamento de Energia dos Estados Unidos com o
uso do SADA, agregando valor aos trabalhos pela simplificao de
procedimentos padro, como a anlise estatstica e risco a sade
humana. Dolislager (2007) descreve a utilizao do software para
avaliao de risco em uma rea localizada em Knoxville, Tennessee
(EUA) na qual empresas recebiam, processavam, armazenavam e faziam
a remessa de sucata metlica, que inclua metal contaminado qumica e
radiologicamente. Em decorrncia dessas atividades verificou-se
contaminao do solo, sedimento, gua superficial e subterrnea.
Durante os trabalhos de escavao no terreno foi constatada a presena
de areia descartada de fundio. 2. Processo de fundio e o resduo
areia de moldagem Conforme Campos Filho (1978), o processo de
fundio consiste basicamente na alimentao de metal lquido, na
cavidade de um molde com o formato requerido, com subseqente
resfriamento a fim de produzir um objeto slido resultante de
solidificao. 2 INTERFACEHS Revista de Gesto Integrada em Sade do
Trabalho e Meio Ambiente - v.5, n.1, Artigo 2, jan./abr. 2010
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39. USO DO SOFTWARE SADA NA ESTIMATIVA DO RISCO SADE HUMANA
DECORRENTE DA EXPOSIO AO RESDUO DE AREIA DE MOLDAGEM DE FUNDIO DE
FERRO Raphael Schumacher Bail , Paulo Marcondes Bousfield, Mara
Gomes Lobo e Schirlene Chegatti INTERFACEHS possvel compreender
melhor sobre o processo de fundio seguindo a descrio feita por
Oliveira e Costa (2008), sintetizada no Quadro 01. Etapa Descrio
Modelao Confeco do modelo com o formato final da pea a ser fundida;
Moldagem Confeco do moldecom base no modelo; Macharia Fuso Confeco
dos machos, necessrios em determinados casos para proporcionar os
espaos ocos ou vazios na pea; Obteno do metal lquido; Vazamento
Enchimento do molde com metal lquido; Desmoldagem Retirada da pea e
remoo dos resduos do molde. Quadro 01 Descrio bsica das etapas do
processo de fundio. Fonte: Adaptado de Oliveira e Costa, 2008.
Atravs do fluxograma da Figura 01, visualiza-se os resduos gerados
(destacados em verde) dentro do processo produtivo de uma fundio de
ferro. 3 INTERFACEHS Revista de Gesto Integrada em Sade do Trabalho
e Meio Ambiente - v.5, n.1, Artigo 2, jan./abr. 2010
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40. USO DO SOFTWARE SADA NA ESTIMATIVA DO RISCO SADE HUMANA
DECORRENTE DA EXPOSIO AO RESDUO DE AREIA DE MOLDAGEM DE FUNDIO DE
FERRO Raphael Schumacher Bail , Paulo Marcondes Bousfield, Mara
Gomes Lobo e Schirlene Chegatti INTERFACEHS Figura 01 Fluxograma do
processo de fundio de ferro; em verde os resduos gerados. Fonte:
Adaptado de Chegatti, 2004. Com o vazamento do metal lquido no
interior do molde e aps sua solidificao, o mesmo desagregado
(desmoldado), e assim a pea fundida separada da areia, que retorna
quase que integralmente para a confeco de novos moldes. No entanto,
ainda que ela retorne ao processo produtivo para confeccionar
outros moldes, preciso que se incorpore areia nova no processo,
pois as novas tecnologias na confeco dos moldes requerem areias
limpas (areias novas) (MARIOTTO, 2001). A recuperao da areia s
possvel se a mesma possuir as caractersticas especficas para
retornar ao processo, caso contrrio ela enviada para aterro
(FLORIDO, 2007). Para que se mantenha constante a quantidade total
de areia em processamento em uma fundio, necessrio o descarte
regular de uma quantidade de areia usada equivalente de areia nova
que entra no processo (WATANABE et al. apud FLORIDO, 2007). Segundo
a Associao Brasileira de Fundio - ABIFA (2006), a indstria de
fundio apesar de utilizar sucata como matria-prima para a fabricao
de suas peas grande geradora de resduos slidos. Dentre os resduos
gerados esto as areias fenlicas ou de macharia, areias de moldagem
ou areia verde, ps da exausto de fornos e atividades de acabamento
e moldagem, refratrios e escria (CHEGATTI, 2004). Mariotto (2001)
afirma que o volume de areia descartada pelas fundies anualmente no
Brasil gira em torno de 2 milhes de toneladas, o equivalente a uma
pirmide com 200 m de altura. A areia que descartada no processo de
moldagem corresponde ao maior volume de resduos gerados pela
indstria de fundio, e apresenta caractersticas quantitativas e
qualitativas diferenciadas, em funo dos tipos de tecnologias de
processos utilizados (BIOLO, 2003). De acordo com dados da ABIFA,
as areias de moldagem representam aproximadamente 80% dos resduos
gerados no processo de fundio (SILVA, 2007). Tipicamente, para a
produo de cada tonelada de ferro ou ao requerida cerca de uma
tonelada de areia (WINKLER; BOLSHAKOV, 2000). Para Bastian e
Alleman apud Chegatti (2004), o resduo de areia de moldagem em sua
maior parte constitudo de areia, geralmente slica, olivina,
zircnio, cromita e outras areias bsicas utilizadas. Segundo Silva
(2007), estima-se que mais de 95% dos resduos de areia de fundio de
ferro so classificados como de Classe II-A (no perigoso e no
inerte) conforme a Associao Brasileira de Normas Tcnicas - ABNT.
INTERFACEHS Revista de Gesto Integrada em Sade do Trabalho e Meio
Ambiente - v.5, n.1, Artigo 2, jan./abr. 2010
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41. USO DO SOFTWARE SADA NA ESTIMATIVA DO RISCO SADE HUMANA
DECORRENTE DA EXPOSIO AO RESDUO DE AREIA DE MOLDAGEM DE FUNDIO DE
FERRO Raphael Schumacher Bail , Paulo Marcondes Bousfield, Mara
Gomes Lobo e Schirlene Chegatti INTERFACEHS Ainda assim, por sua
grande gerao, a areia de moldagem caracteriza-se como um grande
problema ambiental para as empresas do ramo metal mecnico, tanto
por sua classificao como resduo no inerte quanto pela disposio em
aterro de grandes volumes. Seus impactos ambientais tambm esto
associados ao consumo de recursos naturais, como a areia, bentonita
e p de carvo, alm da necessidade de criar locais para aterro desse
resduo (CHEGATTI, 2004). O reuso deste resduo, sempre atendendo a
regulamentaes, j realizado em pases como os Estados Unidos,
Alemanha, Austrlia, Blgica, Dinamarca, Finlndia, Frana e Sucia. Sua
aplicao varia desde a composio de mistura asfltica, material de
construo civil, cobertura final de aterros, fabricao de cimento e
tijolos e at mesmo como aditivo em processos de compostagem (SILVA,
2007). Diante disso, a realizao de uma avaliao de risco sade humana
da areia de fundio se coloca como uma importante ferramenta para
embasar estudos que visem potenciais formas de reuso deste resduo.
Deste modo, o presente trabalho objetivou estimar o risco sade
humana do resduo areia de moldagem de uma fundio de ferro, atravs
do uso do software SADA e assumindo os dados toxicolgicos e de
exposio, referentes a um cenrio de ocupao industrial, disponveis na
base de dados do prprio software. METODOLOGIA 1. Procedimento de
coleta do resduo de areia de moldagem A coleta de trs amostras do
resduo areia de moldagem foi realizada no dia 16/06/2009, no ponto
de descarte (Figura 02a) da areia de moldagem dentro de uma fundio
de ferro em Joinville (SC), seguindo o procedimento da norma NBR
10.007:2004. Para cada uma das trs amostras foram coletados
aproximadamente 3 kg de resduo. 5 INTERFACEHS Revista de Gesto
Integrada em Sade do Trabalho e Meio Ambiente - v.5, n.1, Artigo 2,
jan./abr. 2010 www.interfacehs.sp.senac.br
42. USO DO SOFTWARE SADA NA ESTIMATIVA DO RISCO SADE HUMANA
DECORRENTE DA EXPOSIO AO RESDUO DE AREIA DE MOLDAGEM DE FUNDIO DE
FERRO Raphael Schumacher Bail , Paulo Marcondes Bousfield, Mara
Gomes Lobo e Schirlene Chegatti INTERFACEHS Figura 02 Ponto de
coleta das amostras (a); detalhe do resduo no contentor de descarte
(b). Fonte: Autor (2009) 2. Parmetros A definio dos parmetros
qumicos que foram analisados do resduo areia de moldagem considerou
os dados de tabelas constantes no Estudo das Caractersticas da
Areia Descartada de Fundio Da Matria Prima ao Produto Final
(FLORIDO, 2007) e informaes provenientes do banco de dados
relativos classificao de Areias Descartadas de Fundio do Grupo de
Trabalho de Reutilizao da Resoluo 011/08 do CONSEMA Conselho
Estadual de Meio Ambiente/SC. Assim, definiram-se os parmetros
alumnio, brio, cdmio, chumbo, cromo, fenol total, ferro, fluoretos,
mangans e zinco para serem analisados em ensaios de massa bruta,
haja vista que estes elementos determinaram a classificao dos
resduos de amostras de diferentes fundies como Classe II-A, segundo
a NBR 10.004:2004. 3. Anlise laboratorial As amostras coletadas
foram encaminhadas a um laboratrio de anlises credenciado a fazer
os ensaios, e os mtodos empregados para a anlise constam no Quadro
02, bem como o limite mnimo de quantificao de cada composto na
anlise laboratorial. 6 INTERFACEHS Revista de Gesto Integrada em
Sade do Trabalho e Meio Ambiente - v.5, n.1, Artigo 2, jan./abr.
2010 www.interfacehs.sp.senac.br
43. USO DO SOFTWARE SADA NA ESTIMATIVA DO RISCO SADE HUMANA
DECORRENTE DA EXPOSIO AO RESDUO DE AREIA DE MOLDAGEM DE FUNDIO DE
FERRO Raphael Schumacher Bail , Paulo Marcondes Bousfield, Mara
Gomes Lobo e Schirlene Chegatti INTERFACEHS Quadro 02 Parmetros e
mtodos de anlise laboratorial. Parmetro Alumnio Brio Cdmio Chumbo
Cromo total Fenol total Ferro Mtodo analtico Standard Methods 20
Edio 3111 D Standard Methods 20 Edio 3111 D Standard Methods 20
Edio 3111 B Standard Methods 20 Edio 3111 B Standard Methods 20
Edio 3111 B Standard Methods 20 Edio 5530 reao com 4-aminopiridina
Standard Methods 20 Edio 3111 B Limite de quantificao (mg/kg) 2,500
5,000 0,025 0,250 0,750 0,025 0,700 Fluoretos EPA 300.1 2,200
Mangans Standard Methods 20 Edio 3111 0,120 B Zinco Standard
Methods 20 Edio 3111 0,200 B 4. Insero dos dados no SADA Dispondo
dos resultados das anlises, utilizou-se o maior valor encontrado
para cada parmetro e assim os mesmos foram inseridos no SADA para
que o software fizesse a combinao dos parmetros analisados com a
listagem de substncias disponveis na sua base de dados default
(padro). A adoo do maior valor se relaciona busca por uma condio de
pior cenrio. Durante a etapa de identificao pelo software dos
parmetros analisados foi constatado que chumbo, fluoretos, fenol
total e cromo total no constavam na base toxicolgica utilizada. Os
demais parmetros o software conseguiu associar imediatamente
(Figura 03). 7 INTERFACEHS Revista de Gesto Integrada em Sade do
Trabalho e Meio Ambiente - v.5, n.1, Artigo 2, jan./abr. 2010
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44. USO DO SOFTWARE SADA NA ESTIMATIVA DO RISCO SADE HUMANA
DECORRENTE DA EXPOSIO AO RESDUO DE AREIA DE MOLDAGEM DE FUNDIO DE
FERRO Raphael Schumacher Bail , Paulo Marcondes Bousfield, Mara
Gomes Lobo e Schirlene Chegatti INTERFACEHS Figura 03 Etapa de
identificao das substncias no SADA. Quanto presena de alguns
compostos analisados, foram feitas algumas consideraes. Em relao ao
fenol total quantificado, o SADA no dispe em sua base de dados
informaes relativas a fenol total, apenas para fenol e outros
compostos fenlicos separadamente. Desta forma, verificou-se junto
ao fabricante das resinas fenlicas empregadas no processo de fundio
da empresa que os compostos fenlicos tm concentrao pouco expressiva
em relao concentrao de fenol na resina, assim, assumiu-se que o
fenol total analisado corresponde ao composto fenol, para efei