Professora Soninha
AULA LIVRO: TIL – 1872José de Alencar
• Romance: da palavra ROMANÇO/ROMÂNICO (obra em linguagem popular, com muita imaginação e aventura);
• Século XVIII - ROMANCE passou a designar o texto em prosa, normalmente longo, com vários núcleos narrativos em torno de um núcleo central – muitos personagens, tempo longo e espaços diversos ;
• O romance está ligado a um novo público leitor: a burguesia.
Romance/FOLHETIM:• Publicado nos jornais,
diariamente/semanalmente;• Diálogo com a leitorFinais
felizes, aventuras, sentimentalismo, moral burguesa
• Idealização: heróis/heroínas “perfeitos”
Primeiros romances brasileiros:O filho do pescador (1843), de
Teixeira e Sousa; A moreninha, de Joaquim Manuel
de Macedo (1844)
José de Alencar• Considerado o fundador do
romance nacional• Obras: Iracema, O Guarani,
Senhora, Lucíola etc.• Realidade brasileira: vasto
retrato de nosso país no século XIX
• Projeto de LITERATURA NACIONAL (Romantismo)
• Romances urbanos e regionalistas
• Romances indianistas e históricos
Romances folhetinescos:• URBANOS – perfis femininos: Lucíola, Diva, Senhora...• REGIONALISTAS: O sertanejo, Til, O gaúcho...• INDIANISTAS: O guarani, Iracema, Ubirajara...• HISTÓRICOS: As minas de prata, A confederação dos
Tamoios...
“Eram dois, ele e ela, ambos na flor da beleza e da mocidade. O viço da saúde rebentava-lhes no encarnado das faces, mais aveludadas que a açucena escarlate recém aberta ali com os orvalhos da noite. No fresco sorriso dos lábios, como nos olhos límpidos e brilhantes, brotava-lhes a seiva d’alma.
Ela, pequena, esbelta, ligeira, buliçosa, saltitava sobre a relva, gárrula e cintilante do prazer de pular e correr; saciando-se na delícia inefável de se difundir pela criação e sentir-se flor no regaço daquela natureza luxuriante.
Ele, alto, ágil, de talhe robusto e bem conformado, calcando o chão sob o grosseiro soco da bota com a bizarria de um príncipe que pisa as ricas alfombras, seguia de perto a gentil companheira, que folgava pelo campo, a volutear e fazendo-lhe mil negaças, como a borboleta que zomba dos esforços inúteis da criança para a colher. “ (Cap.1)
Muitas personagens
Tempo psicológico
Vários núcleos
Muitos órfãos
Segredos
Enredo dinâmico, muitos fatos
Muitas mortes
Intertextualidade com as tragédias gregas.
DIVISÃO DA OBRA:
Apresentação dos Personagens
e tramas 31 Capítulos
Revelação e resolução
dos conflitos apresentados
Traços gerais: Publicado em folhetim:
Jornal A República (1871-1872)
Romance regionalistaRetrato dos costumes de
uma elite rural.Maniqueísmo (Bem X Mal)Mistério, suspense,
aventura, perigos: técnica folhetinesca.
Narrador• Narrador: 3ª pessoa, onisciente• Linguagem culta, registro
elevado.
Temática amorosa• Casais de namorados• Exacerbação sentimental• Figura feminina:
idealização/bondade, beleza/sensualidade.
• Ambiente• Sociedade rural, escravocrata• interior de São Paulo (Santa
Bárbara, Piracicaba, Campinas – Fazenda das Palmas)
• Festas populares: • São João (festa de origem
europeia/portuguesa/branca) • X Congada , SAMBA •
riqueza: Fazenda das Palmas• pobreza: casa em ruínas, gruta,
senzala
IVMonjolo
Cerca de uma légua abaixo da confluência do Atibaia com o Piracicaba, e à margem deste último rio, estava situada a fazenda das Palmas.
Ficava no seio de uma bela floresta virgem, porventura a mais vasta e frondosa, das que então contava a província de São Paulo, e foram convertidas a ferro e fogo em campos de cultura. Daquela que borda as margens do Piracicaba, e vai morrer nos campos de Ipu, ainda restam grandes matas, cortadas de roças e cafezais.
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Heroísmo fantástico:
De chofre empinou-se o cavalo, arremessando o homem sobre a escarpa dabarranca, donde rolou ao trilho, como um corpo inerte.
O capanga abatera um olhar de nojo para o cavaleiro que lhe veio rolar aos pés. A faca brandida com força vibrava ainda no tronco do jequitibá, onde cravara acabeça de um urutu, que estorcia-se de fúria e dor.Fora a negra serpente que espantara o animal, quando enristou-se como umalança, fincando a cauda e chofrando o bote. Advertido pelo faro, antes de ver altear-se o negro colo, o cavalo rodara sobre os pés; e a cobra ameaçada pelos cascos elou-se ao tronco, onde a alcançara a mão certeira de Jão Fera, que já tinha apunhado a faca...
Devorando a distância na corrida veloz, saltando por cima dos magotes que encontrava em seu caminho, e às vezes fazendo do próprio lombo das feras chão onde pisar, Jão precipitou-se enfim no lugar onde Berta e o negro velho aguardavam a morte contritos.Suspendendo a menina com o braço esquerdo, enquanto brandia o direito a longa facaapunhada, o vigoroso capanga, aproveitando-se do espanto das feras ante sua audácia, arrojou-se para a árvore mais próxima, onde poderia colocar a menina a salvo de perigo.
Personagens• Berta, Inhá ou Til: filha bastarda de Luís
Galvão (com Besita, pobre moça assassinada pelo marido), criada por Nhá Tudinha - modelo feminino dinâmica, ativa, nobreza de caráter
• Besita: verdadeira mãe de Berta – moça bonita e pobre, casa-se com Ribeiro e é assassinada por ele
• Ribeiro ou Barroso: marido e assassino de Besita, cruel e vingativo – será morto por Jão Fera/Bugre.
• Miguel: irmão de criação de Berta – de início, apaixonado por ela - herói romântico convencional – depois, ficará com Linda
• Nhá Tudinha: mãe de Miguel e mãe de criação de Berta.
• Jão Fera ou Bugre: facínora X bondade, código de honra, mata Ribeiro e é preso.
• Zana: ex-escrava, vítima de trauma
• Luís Galvão: pai de Berta - fazendeiro empreendedor
• D. Ermelinda: matriarca• Afonso: filho de L. Glavão e
Ermelinda, jovem, bom, gosta de Berta pois não sabe que ela é sua meia-irmã.
• Linda: gêmea de Afonso, amiga de Berta.
• Brás: sobrinho de L. Galvão, deficiente mental – O diota - protegido de Berta (visão preconceituosa, inferiorizante)
• Inimigos de L. Galvão: Ribeiro e Gonçalo
• Escravos, Pai Quicé, tropeiros, vendeiros.
Aspectos formais• Digressões• falas de personagens:
regionalismos• figuras: comparações
(Berta: flor) , personificações
Tempo:• 1826: Besita e Luís Galvão,
Ribeiro, João Fera/Bugre• 1846: Fazenda das Palmas.
Era Brás filho de uma irmã de Luís Galvão, a qual falecera três anos antes, ralada pelos desgostos que lhe dera o marido, e pelo suplício incessante de ver reduzido ao lastimoso estado de um sandeu o único fruto de suas entranhas.Quando morreu, já era de muito viúva a infeliz senhora; e, pois, com a sua perda, ficou Brás sem outro arrimo, a não ser por Luís Galvão, seu tio e mais próximo parente, que o trouxe imediatamente para casa e desvelou-se como pode, pela sorte da mísera criança.Compreende-se quanto devia custar a D. Ermelinda, ciosa em extremo da morigeração de seus filhos, o receber no íntimo seio da família um menino até certo ponto estranho, e não só baldo de toda a educação, como incapaz de recebê-la. Mas compenetrara-se a digna senhora que seu marido, recolhendo o sobrinho órfão e servindo-lhe de pai, cumpria um rigoroso dever; e tanto bastou para que não suscitasse a menor objeção. Resignada ao mal inevitável, socalcou sua repugnância.Somente exigiu de Luís Galvão, e isso o fez com autoridade de mãe, que, recebido Brás e tratado como filho da casa, se evitasse contudo seu íntimo contato com Afonso e Linda, conservando-os, quanto possível, alheios à existência do primo, e impedindo o menor trato e convivência com ele.Consentia D. Ermelinda em ser-lhe mãe e cercá-lo de toda a solicitude, apesar da natural repulsão que deviam causar à sua índole tão delicada os modos brutais e parvos do idiota. Não lhe sofria porém o coração que seus filhos vissem nesse menino mal amanhado e grosseiro um camarada e um parente, quanto mais um irmão.
Veio a tarde: o céu estava sereno, e coava-se no espaço uma aragem tão doce que Besita encostou-se ao peitoril da janela. Com a fronte descansada à ombreira, deixando cair para fora as longas tranças de seus lindos cabelos negros, que a brisa fazia ondular, embebia-se em contemplar a estrela vespertina, que cintilava no horizonte.Súbito, no esquecimento dessa cisma, uma estranha idéia despontou-lhe no espírito. Pareceu-lhe que, através da cintilação da luz, desenhava-se a imagem de sua mãe, a sorrir-lhe lá do céu e a chamá-la.Então ouviu Zana um grito de terror, que se extinguiu em um gemido de angústia. Fora de si correu à alcova da senhora, onde a esperava um quadro horrível.No meio do aposento, o Ribeiro, pálido e medonho como um espectro, agarrando a mulher pelo pescoço, estrangulava-a com as longas tranças de cabelos.
ESPAÇOS
IVMonjolo
Cerca de uma légua abaixo da confluência do Atibaia com o Piracicaba, e à margem deste último rio, estava situada a fazenda das Palmas.
Ficava no seio de uma bela floresta virgem, porventura a mais vasta e frondosa, das que então contava a província de São Paulo, e foram convertidas a ferro e fogo em campos de cultura. Daquela que borda as margens do Piracicaba, e vai morrer nos campos de Ipu, ainda restam grandes matas, cortadas de roças e cafezais.
Eram freqüentes os encontros dos dois lindos pares de passeadores no Tanquinho. Vinham semanas em que se repetiam todas as manhãs, a menos que as chuvas não permitissem, ou que Berta e Miguel fossem à casa das Palmas, o que sucedia regularmente aos domingos e dias de festa.
O amor, tão bonina dos prados, quanto rosa dos salões, quando o orvalham risos da mocidade; o amor puro e suave, como a cecém daquele prado, tinha já florido os corações que lhe respiravam pela manhã os agrestes perfumes.