A
PÁGINA DE ROSTO
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
PRÁTICAS DE CONSUMO E ECONOMIA SOLIDÁRIA:
CARACTERIZAÇÃO DE COMPORTAMENTOS E CONTINGÊNCIAS
Autor:
Guilherme Bergo Leugi
Orientadora:
Profª. Drª. Ana Lucia Cortegoso
Banca Examinadora: a UFSCar adota o sistema de pareceristas para apreciação de suas monografias
de conclusão de curso. Há, ainda, a participação em eventos científicos para a apresentação dos
trabalhos.
1
PRÁTICAS DE CONSUMO E ECONOMIA SOLIDÁRIA: CARACTERIZAÇÃO DE COMPORTAMENTOS E CONTINGÊNCIAS
RESUMO (500 PALAVRAS)
A Economia Solidária mostra-se, no contexto econômico atual, como uma proposição
alternativa de organização para o trabalho que visa mudanças na relação do homem com seu ambiente, e coloca o homem como parte fundamental das relações de trabalho, na produção ou comercialização de bens. As práticas de consumo desempenham um papel importante para a sustentabilidade deste tipo de sistema organizacional. Além de fornecerem subsídios para a promoção desta forma de trabalho (em caráter de fluxo financeiro entre os empreendimentos autogestionários – formação de redes de cooperação solidária), as práticas de consumo estão relacionadas também com a proposta de respeito ao meio-ambiente da Economia Solidária. Assim, compreender os padrões comportamentais de consumo dos integrantes de empreendimentos solidários, bem como caracterizar uma prática de consumo ética, responsável e solidária, são parte fundamental dos conhecimentos necessários para subsidiar a manutenção deste tipo de organização. Foram investigadas as práticas de consumo e comportamento de consumo em dois empreendimentos de ES. Foram estudadas as práticas de consumo de uma amostra de 42 sócios de uma cooperativa de serviços por meio de entrevistas. Também foi feita análise dos comportamentos envolvidos com o consumir e outros comportamentos relativos ao consumo de um segundo empreendimento solidário de promoção de consumo ético. O roteiro de entrevista compreendia questionamentos acerca da quantidade de produtos comprados (para funcionar como subsídio para uma possível organização para o consumo desta mesma cooperativa), bem como dos processos envolvidos na escolha de produtos e serviços, da relação do consumidor com a publicidade, do processamento dos resíduos, e dos critérios utilizados para efetuar a aquisição de um produto ou serviço. Primordialmente, os critérios de escolha de produtos remetiam ao preço. Outros critérios foram citados em número reduzido. A maioria dos entrevistados também relatou não ter outros critérios que gostaria de levar em consideração no processo de compra. Foi solicitado que mencionassem critérios adicionais que gostariam de levar em consideração mas não houve respostas relativas a critérios ambientais, sociais ou econômicos. Com relação à separação de resíduos, houve um maior número de relatos que envolviam separação de resíduos para reciclagem ou reaproveitamento do que de relatos que indicavam que todos os resíduos iam para o lixo convencional. Entretanto, outros indicativos dos relatos apontam que este comportamento (separar resíduos) está mais sob controle de contingências imediatas (alguém utiliza o resíduo; ou vende) do que por regras ou conseqüências em longo prazo (como motivos ecológicos). Os critérios de diferenciação de produtos essenciais e supérfluos, aparentemente, estão difusos no grupo investigado e parecem ainda distantes do que se consideraria bom, ou na direção da sustentabilidade do grupo, em um empreendimento de Economia Solidária. Foram feitas, também, descrições de comportamentos considerados necessários para o funcionamento de um grupo de promoção de consumo ético, responsável e solidário, o ConsumoSol, com base em sua proposta de objetivos. Ainda, a partir dos dados das entrevistas, foi feita descrição do comportamento de consumir em vigor na população estudada, bem como a contraposição deste comportamento com aquele descrito com base nos objetivos do grupo ConsumoSol.
PALAVRAS CHAVE:
Economia Solidária; Análise do Comportamento; Comportamento de Consumo Ético
2
INTRODUÇÃO
ECONOMIA SOLIDÁRIA: ALTERNATIVA PARA MUDANÇA ECONÔMICA E SOCIAL
O sistema capitalista de organização econômica tem gerado inúmeras decorrências nos mais
diferentes aspectos: distribuição injusta de riqueza, renda e poder político; imperialismo e militarismo;
alienação social; destruição do meio ambiente, entre outras. Todavia, críticos deste sistema podem
compreender o fenômeno tanto como uma decorrência, não do sistema capitalista em si, mas de “erros
passados, de incapacidades e inaptidões pessoais ou de caso esparsos de perversidade individual”
(críticos liberais), quanto como um efeito direto dessa forma de organização econômica e social
(críticos radicais), relacionada à “propriedade privada do capital e do processo de decisão social”.
(HUNT & SHERMAN, 1977/2001). O modo de produção capitalista já contabiliza essas decorrências,
em termos econômicos, como o fator externalidade. Externalidades podem ser definidas como “as
alterações de custos e benefícios para a sociedade, derivadas da produção da empresa”, ou, “as
alterações de custos e receitas da empresa, devidas a fatores externos” a ela (VASCONCELLOS,
2001). Por exemplo, no caso de uma empresa química que despeja seus resíduos poluidores em um rio,
a caracterização desta poluição como uma externalidade negativa (seja ela relativa a uma outra
empresa que utiliza o rio como base de sua cadeia produtiva – uma empresa pesqueira, por exemplo –,
ou relativa à sociedade que precisa deste mesmo rio para abastecimento de água, ou ainda, relativa à
conservação ambiental), já denota que esta é uma decorrência do processo produtivo.
Partindo da análise de que essas decorrências não são frutos de erros, mas sim conseqüência
direta deste sistema, é necessário implementar alterações nos aspectos fundamentais da produção,
distribuição e comercialização para atingir as mudanças almejadas de justiça social, ética na produção,
distribuição e comercialização, preservação ambiental, entre outras.
Singer (2002) define a Economia Solidária como sendo um sistema propositivo de mudança
social, na medida em que não só se coloca como resistência à atual sistemática de produção e
organização capitalista, mas também promove novas perspectivas de sustentabilidade e de focalização
no ser humano e no ambiente como aspectos essenciais do processo, bem como o bem estar do
primeiro e a conservação do segundo. Neste tipo de organização, as relações sociais têm uma nova
disposição, apontando para maior valorização do ser humano e do ambiente em que se insere, desde os
processos produtivos até a comercialização e pós-uso. Corroborando com estas características
definidoras, na direção da implementação de processos sustentáveis de trabalho (produção,
comercialização de produto e serviços) com foco no bem-estar das pessoas envolvidas, Rech (2000)
sistematiza sete princípios para empreendimentos de Economia Solidária, diretamente derivados dos
princípios do cooperativismo, com origem moderna em Rochdale, Inglaterra: adesão livre e voluntária;
controle democrático pelos sócios, participação econômica dos sócios; autonomia e independência;
3
educação, treinamento e informação; cooperação entre cooperativas; e preocupação com a
comunidade.
A implementação de um sistema como o proposto na Economia Solidária implica na existência
e articulação de diferentes tipos de atores sociais (empreendimentos, organizações de indivíduos,
órgãos públicos, etc.). Cortegoso e Shimbo (2005), entre outros, apontaram diferentes tipos de atores
participantes de um movimento configurado a partir de meados da década de 1990, cujas práticas
influenciam neste processo, como por exemplo: Gestores públicos, como Secretaria Nacional de
Economia Solidária (SENAES) no Ministério do Trabalho e Emprego, Departamento de
Cooperativismo e Associativismo Rural (DENACOOP), no Ministério da Agricultura; Órgãos de
fomento, como Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Organizações
Não Governamentais de atuação regional e municipal, Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas
Populares (ITCPs); Articuladores, como Rede Universitária de ITCPs, Associação Brasileira de
Pesquisadores em Economia Solidária, Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil
(CONCRAB), Fórum Social Mundial, Fórum Nacional de Economia Solidária, Fóruns estaduais e
municipais de Economia Solidária, entre outros.
As incubadoras tecnológicas de cooperativas populares (ITCPs), como agências de fomento à
Economia Solidária, surgiram a partir de meados da década de 1990. Estas instituições, com ações
voltadas para a incubação de cooperativas populares, apareceram em um contexto de aumento dos
índices de desemprego e perdas de conquistas trabalhistas. A população que constituiu e constitui os
empreendimentos incubados é formada por desempregados, excluídos historicamente ou por inovações
tecnológicas de processos produtivos (perda de postos de trabalho), segmentos empobrecidos e/ou
portadores de necessidades especiais. As ações, então, das incubadoras, buscam possibilitar a “criação
de novas oportunidades de trabalho e renda, por meio de empreendimentos coletivos, solidários e
autogestionários” (CORTEGOSO & SHIMBO, 2005).
Além de apoiar a implementação de empreendimentos deste tipo (meio de atuação), as ITCPs
têm, como função específica, a produção e divulgação de conhecimento na área - ainda que esta
produção seja pequena diante das necessidades históricas destes grupos (CORTEGOSO & SHIMBO,
2005). Nesta perspectiva, foi criada em 1998, em uma universidade do interior do interior do Estado de
São Paulo, a Incubadora Regional de Cooperativas Populares (Incoop), que iniciou suas atividades
buscando a comunidade de uma região do município em que se inseria que constituía um bolsão de
pobreza, para discutir suas necessidades e apresentar a possibilidade de organização para o trabalho
coletivo. Desta iniciativa surgiu o primeiro empreendimento econômico popular autogestionário da
cidade e, posteriormente, outros empreendimentos similares. Desde o início de suas atividades, a
Incoop tem dado apoio a grupos e empreendimentos no município (e fora dele), participado de fóruns e
redes nacionais e internacionais sobre Economia Solidária.
4
O processo de assessoramento para formação de empreendimentos solidários implementado
pela Incoop, denominado método de incubação, foi descrito coletivamente pela equipe da Incubadora a
partir de sua experiência e de referentes conceituais da Economia Solidária, e relatado por Cortegoso
(2007). O trecho a seguir apresenta, por meio de expressões sintéticas, o conjunto de classes de
comportamentos da agência de fomento que correspondem a este método, embora focando, nesta
versão, apenas as respostas que compõem estes comportamentos:
“a) processar demandas para incubação de acordo com os objetivos, critérios e recursos da Incoop; b) identificar população em potencial para constituição de empreendimento solidário; c) caracterizar diferentes envolvidos no processo de incubação de forma completa; d) apresentar economia solidária para população em potencial para formar empreendimentos solidários favorecendo decisão livre e esclarecida sobre a constituição de um empreendimento desta natureza e sobre a participação individual; e) apoiar a organização inicial do grupo, para que possa tomar suas decisões de modo esclarecido e comprometido; f) promover formação dos membros do grupo para o cooperativismo; g) assessorar para escolha de atividade econômica; h) promover condições para capacitação técnica do grupo; i) capacitar grupo para autogestão administrativa; j) assessorar grupo para elaboração de normas; k) assessorar grupo para legalização do empreendimento; l) assessorar grupo para sua implantação; m) assessorar grupo para implementação de seu funcionamento; n) assessorar grupo para implantação de sistema contínuo e permanente de monitoramento por meio de indicadores; o) assessorar grupo para participação em redes de cooperação e do movimento de economia solidária” (CORTEGOSO, 2007).
A PSICOLOGIA NO ESTUDO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA
Desde seu início, a Análise do Comportamento, vertente da Psicologia derivada do
Behaviorismo Radical de B.F. Skinner, já propunha intervenções para modificações das culturas, em
termos de maior igualdade social e confiança entre os seres humanos (ver ANDERY, 1990). Essa
mudança está baseada em um “empirismo não político” (RAKOS, 1992), ou seja, as mudanças
culturais sugeridas por Skinner são fundamentadas na sua definição de Ciência do Comportamento e
baseadas em como os avanços tecnológicos deste campo podem servir para melhorar a vida dos seres
humanos. Para Skinner, uma ação social efetiva deveria ter suas raízes no empirismo, por meio de uma
“ciência e tecnologia do comportamento” que sejam livres de controles por agências governamentais,
por ideologias políticas, religiosas ou econômicas (RAKOS, 1992). Skinner (1948), por meio da
descrição da sociedade utópica de Walden Two, ilustrou como a Análise do Comportamento poderia
ser utilizada para promoção de uma cultura mais justa e menos danosa para os seres humanos e para o
planeta.
Skinner define cultura como sendo um “conjunto de práticas características de um grupo de
pessoas” que seria selecionado “por um tipo diferente (da seleção natural e do condicionamento
operante) de conseqüência: sua contribuição para a sobrevivência do grupo” (SKINNER, 1989).
Todavia, as práticas culturais podem ter sua origem e transmissão descritas como um produto da
5
incidência paralela da seleção natural e do condicionamento operante (SKINNER, 1989). Partindo do
modelo de seleção por conseqüências, então, é possível observar: 1) um padrão individual de
comportamento que está sujeito à seleção, tanto em termos adaptativos, quanto em termos operantes;
2) um padrão de comportamento, num nível mais amplo de análise, que caracteriza uma prática
cultural, sujeito a um outro tipo de seleção, que não a seleção natural nem o condicionamento
operante.
Glenn (1986; 1991; 2004, entre outros) sugere o conceito de metacontingências para a
explicação da manutenção de práticas culturais, no âmbito da Análise do Comportamento. Uma
metacontingência remete a uma contingência cultural – sujeita à seleção de terceiro nível, portanto
social – alternativamente à contingência individual – sujeita à seleção de primeiro e segundo níveis.
Assim, a metacontingência selecionaria a prática cultural, bem como a contingência individual
selecionaria o comportamento operante (GLENN, 2004). Este conceito tem sido explorado para
subsidiar explicações de fenômenos sociais complexos e distintos (ver LAMAL, 1991; TODOROV,
MARTONE & MOREIRA, 2005).
A Economia Solidária é caracterizada como um sistema econômico e social (um conjunto de
práticas determinadas) que se estabelece mediante as ações de vários atores (ver CORTEGOSO &
SHIMBO, 2005, para uma descrição detalhada dos atores envolvidos), articuladas. Assim, o produto
final destas ações (estabelecimento do sistema) acontece, em longo prazo, como um produto agregado
destas diversas e interligadas ações na direção de relações econômicas mais igualitárias e relações
humanas com melhor bem-viver pessoal (CORTEGOSO, UEHARA, LOGAREZZI & RAMIREZ,
2006). A compreensão das ações específicas de cada um dos agentes no processo de estabelecimento
sistemático da Economia Solidária contribui para planejar delineamentos necessários para o sucesso do
processo. Entender como as práticas culturais se estabelecem no contexto atual (em termos de suas
relações funcionais) pode evidenciar os aspectos que precisam de mudança na direção de uma
sociedade mais justa e sustentável.
Skinner (1953) sugere que práticas culturais se estabeleçam, ao menos da maneira como vem
ocorrendo até hoje, em grande parte com um grau considerável de aleatoriedade. Mesmo que um
grupo, por exemplo, possa ter seu controle econômico determinado, em certa medida, pelos recursos
disponíveis (e aí, em última instância, são referidos fatores geográficos), muito deste controle é
determinado por fatores fortuitos que “são introduzidos quando culturas diferentes se entrechocam ou
quando uma cultura sobrevive a mudanças importantes no ambiente social”. Todavia, Skinner (1953)
também destaca que um procedimento cultural, alguns destes caracterizados como agências de
controle, não é menos eficiente por sua gênese acidental no que tange ao controle dos comportamentos
dos organismos desta comunidade. E embora, de maneira geral, uma prática estabelecida se configure
como automantenedora devido a suas conseqüências imediatas (por exemplo, quando uma comunidade
6
favorece economicamente o despejo rápido e não tratado de resíduos industriais em favor do acúmulo
de capital pelo detentor do empreendimento), nem sempre essas conseqüências são favoráveis à
sobrevivência do grupo em longo prazo. Um objeto social não apresenta diferenças de natureza em
relação a um objeto não social (GUERIN, 1994) e, sendo assim, também pode ser modificado para fins
de sobrevivência das culturas em que ocorrem. Skinner (1953), sobre o aspecto de mudança cultural,
sugere que não é vantajoso deixar que as práticas culturais se estabeleçam tão ao acaso como vem
ocorrendo. O autor indica uma posição de planejamento deliberado da cultura que se refere a introduzir
práticas culturais por suas conseqüências para o grupo em que se inserirão.
Acerca da manutenção de práticas culturais, é possível, ainda, destacar dois tipos distintos de
controle do comportamento de pessoas: cerimonial e tecnológico (GLENN, 1986). O controle
cerimonial do comportamento se estabelece por meio de reforços sociais, que mantém sua eficácia por
status, posição ou autoridade “do agente reforçador independentemente de qualquer relação com as
mudanças ambientais que, direta ou indiretamente, beneficiam as pessoas que se comportam”. O
controle tecnológico do comportamento, por outro lado, envolve “comportamentos que são mantidos
por mudanças não arbitrárias no ambiente. Os reforços que participam das contingências tecnológicas
derivam seu poder de sua utilidade, de seu valor, ou de sua importância às pessoas que estão
envolvidas nesses tipos de contingências” (GLENN, 1986). Skinner, em suas proposições de mudança
cultural, sugere que grupos bem sucedidos tendem a apresentar mais controle tecnológico que
cerimonial, tal como ilustra com sua proposta de sociedade em Walden Two (GLENN, 1986).
Historicamente, práticas culturais que privilegiam o individualismo vêm se sobrepondo àquelas
que dão maior importância à coletividade (de JESUS & TIRIBA, 2003). A Economia Solidária é
pautada, como um de seus preceitos fundamentais, na cooperação. Este termo pode ser entendido
como uma ação conjunta de membros de uma comunidade sendo que o resultado desta ação coletiva
depende das ações individuais e, também – desde os primeiros registros de civilizações baseadas na
coletividade, até chegar à sociedade individualista contemporânea – remete à própria história da
humanidade (de JESUS & TIRIBA, 2003). Cooperação em termos analítico-comportamentais pode ser
definida como relações, que envolvam comportamento social, em que se estabeleçam reforçamentos
mútuos, de modo que todos os indivíduos têm seus comportamentos reforçados quando o grupo atinge
determinado critério pré-estabelecido (de-FARIAS, 2005). Um aspecto fundamental das relações
cooperativas é o caráter do reforçamento de só incidir mediante a ocorrência de todas as respostas de
cada um dos indivíduos do grupo, ou seja, não é possível conseguir este mesmo tipo de conseqüência
pelo comportamento individual (GUERIN, 1994).
Franchini (2003), em um levantamento de conceitos de cooperação utilizados na literatura,
destaca que esta pode ser entendida como um processo de respostas que resulta na equidade da divisão
tanto de respostas quanto de reforçadores, sendo que estes processos podem ser caracterizados como
7
interdependentes – reforços para cada um dependem, em partes, dos reforços para os outros – ou
dependentes – reforços para cada um dependem, completamente, dos reforços para os outros. Pode ser
entendida, ainda, como uma situação social na qual os objetivos e metas de cada indivíduo se
correlacionam positivamente, em contraposição a uma situação social competitiva, na qual há
correlação negativa entre as metas e objetivos dos indivíduos envolvidos, e a uma situação
individualista, na qual não há correlação entre as metas e objetivos dos indivíduos.
Cotidianamente, segundo de-Farias (2005), os indivíduos escolhem contingências de trabalho
individual (em que o reforçamento depende exclusivamente das respostas do organismo sendo,
portanto, independente das respostas de outros), competição (em que o reforçamento ocorre de
maneira excludente para um ou outro organismo, ou seja, não basta que um indivíduo atinja um
determinado critério de resposta, é necessário que ele o atinja antes, por exemplo, de outro indivíduo
do mesmo contexto) ou cooperação (caso em que o reforçamento ocorrerá, para ambos, somente
quando dois ou mais organismos atingirem determinado critério). Variáveis que parecem influenciar
este processo de escolha, de acordo com estudos experimentais em Análise do Comportamento, são,
segundo este autor: 1) Magnitude de Reforço: se a contingência em atuação promove reforço
diferenciado para a escolha, por exemplo, entre cooperação e trabalho individual (razão 100:1,
respectivamente, por exemplo), os indivíduos tendem a optar pelo tipo de trabalho mais vantajoso (no
exemplo, cooperação); 2) História de Reforçamento: mesmo com uma razão diferenciada entre
reforçamentos, indivíduos podem optar pelos tipos de trabalho em detrimento de uma maior magnitude
de reforçamento (por exemplo, optar pelo trabalho individual, mesmo quando a razão da magnitude de
reforço entre cooperação e competição é 100:1, desde que o indivíduo não tenha sido exposto a esta
contingência anteriormente); 3) Possibilidade de Retirar Pontos do Parceiro: esta possibilidade parece
influenciar a escolha dos indivíduos na direção de optar pela contingência em que não é possível retirar
pontos de um parceiro. Mesmo em casos de magnitude de reforçamento aumentada para uma condição
em que existe esta chance, os indivíduos tendem a escolher uma segunda alternativa, em que não é
possível retirar pontos do outro; 4) Sucesso ou fracasso em competição: em esquemas competitivos de
reforçamento, um (ou poucos) é reforçado em detrimento de outro (ou muitos). Diante disso, a escolha
por uma contingência de trabalho individual em relação a uma de competição pode estar atrelada a
perdas ocasionadas por fracassos em esquemas competitivos. Schmitt (1976, apud de-FARIAS, 2005)
sugere um fenômeno de “fuga e esquiva da competição” em função destas perdas. Também, como em
um esquema competitivo, algumas respostas não são reforçadas, o custo de resposta também é
aumentado e pode influenciar a escolha; 5) Custo da Resposta: quando o custo de resposta é maior (e é
possível dividir a tarefa com um parceiro), em termos gerais, há uma tendência maior pela escolha da
cooperação (ou tendência menor pela escolha da competição); 6) Instruções: esta variável afeta o
comportamento dos indivíduos reduzindo a influência do esquema em vigor na escolha. Quando há
8
instruções sobre um esquema de competição, por exemplo, os indivíduos tendem a escolhê-lo, de
início, ou apresentarem um aumento na taxa de respostas mais rápido (iniciam a competição mais
rapidamente); 7) Iniqüidade entre reforços: quando há diferença de reforços entre dois parceiros (no
caso de uma situação experimental) esta situação parece propiciar uma estimulação aversiva para os
indivíduos. Além disso, indivíduos tendem a interromper a cooperação quando se aumenta
arbitrariamente a magnitude de reforço numa dada situação (ver de-FARIAS, 2005 para um
detalhamento dos experimentos evidenciaram estas variáveis).
O grupo ConsumoSol configura-se como um grupo de promoção de consumo, cujo objetivo
principal é “propiciar apoio aos empreendimentos de Economia Solidária por meio de reflexões e
questionamentos sobre como consumir de forma ética, consciente e responsável” (CONSUMOSOL,
2008). A orientação e capacitação de consumidores acerca de diferentes práticas de consumo, que
remetam a uma maior preservação ambiental e justiça social, são partes deste apoio a
empreendimentos. No ConsumoSol, consumidores, produtores e distribuidores reúnem-se
mensalmente para planejar e avaliar ações voltadas para a consecução de seus objetivos, fomentando
discussões sobre temas de interesse e o compartilhamento de informações. O grupo recebe apoio da
Incoop, idealizadora original do projeto, por meio de fornecimento de material e equipamentos, além
da presença de equipe de incubação (CONSUMOSOL, 2008).
Um dos aspectos relevantes para a caracterização de um consumo ético, responsável e solidário
refere-se ao comércio justo, que se espera fomentar com a capacitação de consumidores. O comércio
justo, mais do que uma relação comercial, “busca também ser uma relação de cooperação e
colaboração” entre consumidores e produtores. Assim, este tipo de comércio, vincula-se “ao consumo
ético como dois lados de uma mesmo moeda”, e envolve também o desenvolvimento de “estratégias de
diálogo e debate” (FRETELL & ROCA, 2003).
DISTRIBUIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS NA ECONOMIA SOLIDÁRIA: O
PAPEL DO CONSUMIDOR
Atualmente, com o avanço das tecnologias de comunicação e de produção, é cada vez maior a
importância do consumo na sociedade. Seja pela tendência global de comércio, com cada produtor
cada vez mais interessado em mostrar seus bens vendáveis numa vitrine global, seja pela crescente
valorização dos indivíduos pelo que possuem ou pelo que podem chegar a possuir, por exemplo pelo
uso de ferramentas como cartões de crédito, que propiciam o consumo por parte das classes menos
favorecidas economicamente (ARAVENA, HERRERA, POBLETE & VERA, 2005).
Furnival (2006) afirma que a conceituação do consumo é multifacetada e refere-se “a um
conjunto de práticas permeadas de significados socioculturais e históricos”. Além disso, o consumo,
por meio de símbolos (produtos consumidos) de masculinidade, feminilidade, intelectualidade, entre
9
outros, seria parte essencial da expressão de identidade pessoal e coletiva ou ainda, o consumo “pode
ser visto como uma prática para reafirmar status social”.
Diante dos efeitos decorrentes das práticas de consumo atuais, diferentes autores sugerem, com
terminologias distintas e provenientes de diferentes abordagens teóricas, alternativas para estas
práticas. Consumir solidariamente, nas palavras de Mance (2003), “significa consumir bens ou
serviços que atendam às necessidades e desejos do consumidor, visando: (a) realizar o seu livre bem-
viver pessoal; (b) promover o bem-viver dos trabalhadores que elaboram, distribuem e comercializam
aquele produto ou serviço; (c) manter o equilíbrio dos ecossistemas; (d) contribuir para a construção de
sociedades justas e solidárias”. Semelhante ao tipo de consumo proposto por Mance, é possível
destacar o consumo responsável sugerido por Leal (2008), cujo conceito seria fruto das preocupações
das pessoas e instituições ao perceberem que seus hábitos de consumo poderiam beneficiar ou
prejudicar o planeta. As ações, neste tipo de consumo, estariam fundamentadas em seus efeitos
positivos sobre o ambiente, outra pessoas, e também na utilização cuidadosa dos recursos naturais e na
identificação de qual o processo produtivo subjacente ao produto final. Ao promover um consumo
ético, responsável e solidário, como é o caso do objetivo do grupo ConsumoSol, os efeitos deste tipo
de consumo afetam diferentes níveis da sociedade: processo produtivo, questões sociais de trabalho,
distribuição de renda, preservação ambiental.
O trabalho da Incoop, com empreendimentos de Economia Solidária, tem mostrado que a
comercialização de produtos e serviços, por parte destes empreendimentos, configura-se como uma de
suas maiores dificuldades e desafios. Para conseguir a inserção destes empreendimentos em um
mercado que se pauta por princípios distintos aos da Economia Solidária (por exemplo, no caso do
preço baixo importar mais que o preço justo, das propagandas como estimulantes de consumo ao invés
das necessidades efetivas da população, de práticas facilitadoras de consumo que, em longo prazo, são
danosas para a própria sobrevivência da espécie, etc.), são adotadas estratégias variadas
(CORTEGOSO, UEHARA, LOGAREZZI & RAMIREZ, 2006). Dentre estas estratégias, destaca-se o
estabelecimento de redes de cooperação solidária.
As Redes de Cooperação Solidária, segundo Mance (2002), podem ser entendidas como “laços
de realimentação ou retroação”, ou seja, um sistema de mútua interferência que estabelece uma
circularidade causal de sustentação. Assim, ao compreender os processos sociais de produção e
consumo, no estabelecimento de Redes, como um processo de retroação, “torna-se possível conceber,
sob certos padrões, organizações sócias complexas em que a demanda por consumo alimenta processos
produtivos que, remunerando trabalho humano, distribuem socialmente o valor econômico produzido,
realimentando a própria demanda por consumo, permitindo o crescimento auto-organizado e auto-
regulado de novas organizações e sistemas sociais” (MANCE, 2002).
10
A fim de estudar o comportamento de consumo, e de buscar formas de promover consumo
ético, responsável e solidário como prática cultural, a Incoop propôs a incubação do grupo de
promoção de consumo – ConsumoSol –, que se constituiu como uma articulação entre consumidores,
produtores e distribuidores (CORTEGOSO, UEHARA, LOGAREZZI & RAMIRES, 2006). O
processo foi iniciado em 2004 e até o término deste estudo o grupo se mantém, já com sua identidade
definida e com ações específicas ocorrendo sistematicamente.
Quanto às suas atividades, o grupo ConsumoSol implementa ações como maneiras de alcançar
seus objetivos, relacionados a práticas de consumo, caracterizadas em termos de sua função
preponderante referida aos resultados esperados: a) ações no âmbito informativo, incluindo endereço
eletrônico do grupo para acesso e consulta por interessados, folheto para divulgação do grupo, painel
do ConsumoSol exposto em estabelecimentos parceiros, boletim eletrônico, enviado por
correspondência eletrônica a interessados cadastrados e membros do grupo; b) ações no âmbito
motivacional, por meio de apresentações do grupo a partir de recursos visuais e exposições, projeto
Cine ConsumoSol (exibição de filmes e debates sobre as temáticas), barraca de trocas em feira de
utensílios usados; c) ações no âmbito de facilitação de condutas individuais, como implementação de
compras coletivas, criação e manutenção da Feira ConsumoSol do Produtor, semanal, com contato
direto produtores-consumidores para comercialização, divulgação de contatos com produtores para
membros do grupo e interessados, divulgação de informações e “dicas” para o consumo ético,
responsável e solidário (para membros do grupo, interessados e comunidade em geral); d) ações de
nível formativo: oficinas sobre alimentação saudável e reaproveitamento de resíduos; e) ações no
âmbito de mudança de prática cultural, como o projeto Sacoleco, que visa à substituição de sacolas
plásticas por suportes duráveis para transporte de mercadorias, envolvendo empreendimentos
solidários que produzem suportes duráveis, estabelecimentos comerciais e equipe de apoio da Incoop
(CORTEGOSO, 2006).
OBJETIVOS
Este estudo tem como objeto o comportamento de consumo. Práticas de consumo ético,
responsável e solidário, como alicerce para o estabelecimento e fortalecimento de empreendimentos
solidários, dependem da ação de muitos atores; mais do que isso, dependem da articulação de
comportamentos destes atores, com especial relevância para os que competem a consumidores.
Algumas das conseqüências almejadas com este tipo de consumo só podem ser alcançadas a partir de
várias ações, de muitas pessoas, como é o caso de compra coletiva, que envolve, entre outros,
comportamentos de todos ou de alguns, como identificação de bens necessários ao grupo, busca de
informações sobre possíveis fornecedores e produtores solidários, contato com produtores ou
11
fornecedores etc. Ao organizar-se para consumir, um grupo também está empreendendo ações
cooperativas.
Em termos analítico-comportamentais, mais do que descrever o caráter cooperativo de ações de
organização para um consumo sustentável, é necessário estabelecer quais as implicações e
características de ações deste tipo, bem como as variáveis que influenciam na determinação da escolha
por um padrão de respostas ou por outro. Conforme de Farias (2005), “cabe, então, ao analista do
comportamento investigar as variáveis ambientais que influenciam essa escolha”.
Como forma de contribuir para a compreensão de práticas sociais relevantes no contexto da
Economia Solidária, particularmente as práticas de consumo, considerando as condições relacionadas à
existência e características do ConsumoSol, e conceitos propostos no âmbito da Análise de
Comportamento (tais como o conceito de comportamento, de contingência, de comportamento
regulado por regras e de metacontingências), são propostos como objetivos para este trabalho: 1)
identificar e descrever, como relações comportamentais, as práticas de consumo apontadas explícita ou
implicitamente como desejáveis a partir dos objetivos propostos no âmbito do grupo ConsumoSol,
com base no conceito de comportamento operante; 2) identificar práticas mais específicas que fazem
parte das classes gerais dos membros do grupo, 3) identificar contingências favorecedoras e
desfavorecedoras da apresentação de práticas existentes e (novas) propostas para o grupo, 4) identificar
contingências desejáveis para promover as práticas propostas para um consumo ético, responsável e
solidário, em consonância com as propostas do grupo; 5) examinar as ações do grupo como condições
favorecedoras ou desfavorecedoras da apresentação das práticas desejadas pelo grupo, em relação a
seus membros e à comunidade em geral.
Buscou-se, com este estudo, obter informações sobre padrões de consumo de um
empreendimento solidário de prestação de serviços, por meio da realização de entrevistas com uma
amostra de seus sócios, bem como caracterizar comportamentos e contingências envolvidos com um
consumo ético, responsável e solidário, por meio da análise de documentos de um outro
empreendimento solidário, no campo da organização do consumo (o grupo ConsumoSol).
A caracterização das práticas de consumo, pelos dados obtidos em entrevista e na análise dos
documentos do grupo ConsumoSol, proverá subsídios para suprir a demanda apresentada pelo
empreendimento solidário de prestação de serviços de “organizar-se para o consumo”. De posse dessas
informações, o grupo autogestionário poderá intervir de maneira eficaz (possivelmente com o apoio da
equipe de incubação da Incoop) para a organização do consumo de seus sócios.
Neste estudo, dois foram os focos orientadores da contribuição para a compreensão e
instrumentalização do processo de construção da Economia Solidária, a partir do consumo. O primeiro
deles, foi de caracterizar aspectos das práticas de consumo de membros de empreendimentos
solidários, como principais beneficiários de padrões de consumo éticos, responsáveis e solidários, mas
12
que também são consumidores. Ademais, no caso da população específica participante deste estudo
havia demanda para organização do processo de compras, na direção de compras coletivas, já em
planejamento pelo referido grupo. O segundo foco refere-se à identificação e descrição de práticas de
consumo existentes e, principalmente, desejáveis, do ponto de vista da Economia Solidária.
MÉTODO A. CARACTERIZAÇÃO DE PRÁTICAS DE CONSUMO DE MEMBROS DE UM EMPREENDIMENTO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA
Fontes de Informações e Participantes
Foram obtidas informações acerca de práticas de consumo existentes, compatíveis ou não com
características e necessidades da Economia Solidária, e contingências potencialmente mantenedoras
destas práticas junto aos sócios de uma cooperativa de prestação de serviços (membros de
empreendimento de Economia Solidária) por meio de uma entrevista. Neste roteiro há perguntas sobre
quantidades de produtos que compra e local de compra (para caracterização da amostragem de
quantidade de produtos para organização da cooperativa para o consumo coletivo). Também há
questões sobre práticas de consumo dos entrevistados: processo de tomada de decisão; critérios para
escolha de produtos; critérios para diferenciação dos produtos entre si; encaminhamento de resíduos;
etc.
As entrevistas foram realizadas com uma amostra de 42 sócios de uma cooperativa de prestação
de serviços de um município de médio porte do estado de São Paulo. Esta amostra foi composta de 33
mulheres e nove homens, constituída com o seguinte procedimento: elaboração de duas listagens, uma
de sócios (homens) e outra de sócias (mulheres), em ordem aleatória; convite para participação feito
segundo a ordem da lista. Considerando que alguns participantes não aceitaram participar ou não
compareceram às situações combinadas, o processo de chamada foi sendo realizado até alcançar uma
amostra próxima da definida inicialmente como desejável para possibilitar a generalização dos
resultados1. Para obtenção da participação de 33 mulheres, a lista de chamada avançou até a convidada
de número 56, ou seja, 23 mulheres se recusaram a participar, não apareceram no momento combinado
de entrevista, ou deixaram a cooperativa durante o encaminhamento da pesquisa. Para obtenção da
participação de nove homens, a lista de chamada avançou até o convidado de número 39, ou seja, 30
homens se recusaram a participar, não apareceram no momento combinado de entrevista, ou deixaram
1 O plano original previa uma amostra de 50 sócios; porém, por dificuldades de disponibilidade da população alvo (pouco tempo livre para a realização da entrevista; dificuldade de contato por ausência de telefone e/ou endereço residencial desatualizado na ficha cadastral da própria cooperativa; falta de compatibilidade entre os horários disponíveis do pesquisador e da população), não foi possível incluir os oito participantes restantes da proposta inicial. Todavia, a cooperativa, durante o processo de coleta de dados, sofreu uma redução de contingente, por decisões de seus próprios associados, o que faz com que essa amostra de 42 sócios represente, ao menos numericamente, o conjunto de sócios.
13
a cooperativa durante o encaminhamento da pesquisa. A idade dos participantes foi variável, não
sendo um critério relevante para os propósitos desta análise exploratória das práticas de consumo. Os
entrevistados residiam, em sua maioria, em um bairro periférico da cidade caracterizado por abrigar
parte considerável da população de baixa renda do município; alguns entrevistados residiam em
bairros próximos com as mesmas características.
A razão para a escolha desta população parte de demanda da própria cooperativa para
organização para o consumo, e dos objetivos de construção de corpo de conhecimento acerca das
práticas de consumo no âmbito da Economia Solidária e da influência dessas práticas para o
estabelecimento de empreendimentos dessa natureza.
Procedimentos de Coleta de Dados
Partindo de um questionário já existente (Leme, 2005), indicador de práticas de consumo, foi
elaborada uma adaptação inicial para a população alvo. Foi feita adequação de linguagem e foram
adicionadas questões relacionadas a informações consideradas importantes para esta caracterização de
práticas de consumo. Esta primeira versão do instrumento de coleta de dados (roteiro de entrevista) foi
aplicada em quatro sócios da cooperativa, em caráter de teste. Foi pedido a estes participantes que
fizessem comentários e críticas acerca da maneira de fazer as perguntas, da clareza das mesmas, da
funcionalidade do instrumento. Mediante as considerações feitas por estes primeiros entrevistados, foi
feita uma revisão do roteiro de entrevista para aprimoramento em função das críticas e sugestões e
elaborada a versão final.
Os sócios da cooperativa foram comunicados da implementação destes procedimentos por meio
de uma exposição sobre o projeto e convite feitos em assembléia desta cooperativa. Nesta apresentação
geral em assembléia foram expostos os propósitos do estudo seguidos de um momento para
esclarecimento de dúvidas. Foi avisado aos cooperados que alguns deles seriam convidados a
participar da entrevista nos meses seguintes e que o esclarecimento completo e específico seria feito
para cada um dos entrevistados, pessoalmente, pelo pesquisador, no momento do início da entrevista,
com apresentação e leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, devidamente aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da universidade em que se deu a pesquisa.
Diante das dificuldades acerca da compatibilidade dos horários possíveis de coleta de dados, e
da contrapartida, para a cooperativa, da geração dos dados para organização de compras coletivas, foi
firmado acordo com a diretoria desta para a liberação de uma hora de trabalho, no dia da entrevista
previamente acordado, para o participante viesse se submeter à mesma. Sendo assim, as entrevistas
aconteciam, variando segundo disponibilidade do participante e possibilidade de entrevistador, em três
momentos: 1) antes de seu horário de trabalho; 2) depois de seu horário de trabalho; 3) em uma hora
liberada de trabalho pelo acordo com a diretoria.
14
Organização e Análise dos Dados
A primeira parte do instrumento de coleta utilizado nesta população (roteiro de entrevista),
envolveu questões acerca da quantidade de produtos comprados rotineiramente e tipos de locais em
que as compras costumam ser realizadas pelos entrevistados. Havia uma listagem prévia de produtos,
em relação aos quais os participantes foram indagados sobre quantidade e local de compra. Também
havia um momento da entrevista, ao final dos produtos constantes desta lista, em que o cooperado era
convidado a citar outros produtos que não tivessem sido contemplados na mesma. Este tipo de menção
de produtos foi denominado citação livre. Em relação aos produtos constantes na lista prévia do
roteiro, as indicações foram denominadas citação direcionada.
No caso das informações relativas às características das práticas de consumo dos participantes
da cooperativa de prestação de serviços do município, foram definidas as propriedades destas práticas
(em termos de freqüência de citação de critérios de compra; caracterização geral de padrões de
processamento de resíduos; caracterização de padrões gerais de relação com a publicidade) a serem
consideradas, e computada a freqüência de indicação dos entrevistados, de modo a permitir um exame
da distribuição destas propriedades no conjunto dos participantes.
B. IDENTIFICAÇÃO, DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE COMPORTAMENTOS E CONTINGÊNCIAS DE CONSUMO ÉTICO, RESPONSÁVEL E SOLIDÁRIO.
Fontes de Informações
Informações sobre práticas e contingências foram obtidas, por meio do exame de documento
que contém os objetivos do grupo ConsumoSol (CONSUMOSOL, 2007) e por localização de outros
tipos de documentos (publicações) envolvendo práticas de consumo, promoção da distribuição e
comercialização de produtos e serviços da Economia Solidária encontrados na literatura.
Procedimento de Coleta de Dados
Para identificação, descrição e análise de comportamentos relevantes do ponto de vista de
consumo, foi feito o exame dos objetivos propostos para o grupo ConsumoSol, empreendimento
constituído para promoção de consumo ético, responsável e solidário, de modo a identificar classes de
comportamentos, gerais e específicas, componentes deste processo comportamental.
Foram extraídas, das definições dos objetivos do grupo – apresentados até então de forma
diretiva – capacidades (ou comportamentos) que poderiam ser subentendidos, a partir destas
descrições, como compatíveis com consumo ético, responsável e solidário.
Também, os dados coletados nas entrevistas com os sócios da cooperativa de prestação de
serviços, apontaram práticas de consumo que efetivamente ocorriam nesta população. Assim, estes
dados também serviram como subsídio para as descrições de comportamento.
15
Organização e Análise dos Dados
No que se refere aos objetivos do grupo ConsumoSol, foi produzida uma análise dos
enunciados destes objetivos, de modo a identificar: classes de respostas, classes de estímulos
antecedentes e classes de estímulos subseqüentes relacionados a estas classes de respostas. A partir daí,
foram descritas as classes de comportamentos identificadas, com complementação das informações
sobre estes componentes da relação, a partir de informações extraídas dos relatos verbais dos
participantes em entrevistas e de outros elementos presentes em documentos diversos, incluindo a
literatura. As descrições das classes de estímulos antecedentes, respostas e estímulos subseqüentes
foram dispostas em quadros integrantes dos resultados. Estas análises permitiram produzir um
mapeamento de práticas individuais e de organizações componentes da metacontingência
correspondente a uma cultura de consumo compatível com as propostas da Economia Solidária.
De acordo com a Análise do Comportamento, comportamento (operante) é uma relação
funcional entre respostas (de uma mesma classe) de um organismo e as condições ambientais
antecedentes e subseqüentes a esta resposta. Essa concepção, de que o comportamento de um
indivíduo, enquanto unidade de análise, é uma relação entre ação e seu contexto (BOTOMÉ, 1981),
constituiu referencial para a elaboração das descrições pretendidas neste estudo.
Foram indicadas, assim, condições antecedentes (estímulo discriminativo e condições
necessárias ou a serem levadas em consideração para a apresentação da ação) que faziam parte de cada
relação comportamental correspondente a comportamentos específicos extraídos dos objetivos do
grupo ConsumoSol. Também foram feitas indicações de condições subseqüentes que compunham cada
uma destas relações, ou seja, quais os resultados, efeitos ou produtos eram esperados a partir da
apresentação das respostas descritas nas relações comportamentais. Foram examinadas, ainda, ações
propostas e implementadas pelo grupo ConsumoSol, em termos da relação com as descrições
apresentadas neste trabalho, favoráveis ao desenvolvimento e consolidação da Economia Solidária.
Ao fim da análise, foi possível contrapor descrições de comportamento obtidas, a primeira
partindo de um consumo ético e responsável (proposto pelo grupo de promoção de consumo – o
ConsumoSol) e a segunda obtida a partir da análise das respostas dos participantes do empreendimento
solidário de prestação de serviços entrevistados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO PRÁTICAS DE CONSUMO EM EMPREENDIMENTO SOLIDÁRIO: PERFIL E IMPLICAÇÕES A. CARACTERIZAÇÃO DE PRÁTICAS DE CONSUMO DE MEMBROS DE UM EMPREENDIMENTO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA
16
São apresentados, a seguir, inicialmente, os resultados relativos ao perfil de consumo dos
entrevistados em relação aos itens consumidos, tanto no caso de citação livre quanto de citação
direcionada, bem como às quantidades consumidas usualmente (Figura 1 a 4, Tabelas 1 a 4).
Na Figura 1 pode ser vista a distribuição de indicações dos entrevistados acerca de produtos da
classe “Produtos de Higiene Pessoal” usualmente adquiridos por estes consumidores, para itens
indicados por mais de 10% dos entrevistados, sendo que todos os produtos que aparecem nesta figura
correspondem a citações direcionadas.
100% 100% 98%90% 90%
81% 79% 76%
40%
Pap
el H
igiê
nico
Sab
onet
e
Cre
me
Den
tal
Con
dici
onad
or
Esc
ova
deD
ente
s
Abs
orve
nte
Des
odor
ante
Sha
mpo
o
Alg
odão
Figura 1. Distribuição de percentagem de participantes que indicaram compra rotineira de produtos de higiene pessoal.
Os Produtos de Higiene Pessoal que todos os entrevistados relataram comprar foram papel
higiênico e sabonete. O item creme dental também foi apontado como de uso por todos os
entrevistados, embora em alguns casos tenha havido indicação de doações (e não de compra) como
forma de conseguir o produto. Alguns itens apareceram em caráter de citação livre, tais como esponja
de banho; hastes de algodão; e, barbeador descartável, por exemplo; nenhum deles apresentou,
contudo, incidência maior que 5%.
Na Figura 2 pode ser vista a incidência de indicações dos produtos da categoria “Produtos de
Limpeza” que mais de 10% dos entrevistados afirmaram comprar rotineiramente. As citações livres
para produtos desta categoria foram muito reduzidas. Nenhum produto foi objeto de mais de duas
citações livres.
17
95% 95% 95% 93% 93%
83% 83%76% 76%
64%
48% 45%38%
14%
Des
infe
tant
e
Esp
onja
s
Pal
ha d
e A
ço
Águ
a S
anitá
ria
Sab
ão e
m P
ó
Am
acia
nte
Sab
ão e
m P
edra
Vas
sour
a
Rod
o
"Vej
a"
Det
erge
nte
Pan
o de
Lim
peza
Lust
ra M
óvei
s
Sab
ão L
íqud
o
Figura 2. Distribuição da percentagem de participantes que indicaram compra rotineira de produtos de limpeza.
Na Figura 3 pode ser observada a percentagem (acima de 10%) das citações de produtos da
categoria residual “Outros Produtos”, que não são produtos de higiene pessoal, limpeza, ou alimentos
(apresentada adiante) dentre as citações direcionadas. Embora tenham ocorrido citações livres de
produtos nesta categoria, estas não foram significativamente coincidentes para os entrevistados.
60%55%
48%43% 40%
36% 33% 33% 31%26%
19%12% 12%
Lâm
pada
s
Pal
itos
Pap
el T
oalh
a
Gua
rdan
apos
Cai
xa d
e Fó
sfor
os
Pap
el A
lum
ínio
Inse
ticid
a
Pilh
as
Pre
nded
ores
Isqu
eiro
Vel
as
Pap
el F
ilme
Sod
a C
áust
ica
Figura 3. Distribuição da percentagem de participantes que indicaram compra rotineira de produtos diversos.
Na Tabela 1 podem ser vistas as médias de consumo mensais por participante para os produtos
apresentados nas Figuras 1, 2 e 3. É importante destacar que esta média não corresponde ao consumo
de uma única pessoa, mas sim ao de núcleos familiares ou de moradia coletiva, posto que, geralmente,
os sócios desta cooperativa representam a única fonte de renda e subsistência deste núcleo. O número
de pessoas por família ou residência variou de dois a dez, sendo, muitas vezes, composto por uma
18
parcela considerável de crianças. Este dado ainda é muito difuso, uma vez que informações acerca do
número de fontes de renda por núcleo residencial não constavam neste instrumento de coleta de dados.
Um estudo posterior sobre a renda destas unidades de consumo também permitirá avançar na
compreensão das práticas de consumo desta população.
Tabela 1. Médias de consumo mensais por participante para os produtos das categorias Higiene Pessoal, Limpeza, e Outros, e respectivas unidades de medida.
Categorias de Produtos Produtos Unidades de
Medida
Médias de consumo
mensal por participante
Papel Higiênico Rolos 16,12
Sabonete Unidades 7,90 Creme Dental Bisnagas 3,78
Condicionador Frascos 1,51 Escova de Dentes Unidades 1,77
Absorvente Pacotes 2,97 Desodorante Frascos 2,56
Shampoo Frascos 1,71
Higiene Pessoal
Algodão Pacotes 0,95
Desinfetante L 2,89 Esponjas Unidades 3,36
Palha de Aço Pacotes 2,05 Água Sanitária L 2,62 Sabão em Pó Kg 1,87
Amaciante L 2,64 Sabão em Pedra Unidades 5,89
Vassoura Unidades 0,43 Rodo Unidades 0,40
"Veja" Frascos 1,54 Detergente Frascos 2,65
Pano de Limpeza Unidades 1,69 Lustra Móveis Frascos 1,08
Limpeza
Sabão Líquido L 3,17
Lâmpadas Unidades 2,43 Palitos Embalagens 1,12
Papel Toalha Rolos 2,20 Guardanapos Embalagens 1,17
Caixa de Fósforos Unidades 11,00 Papel Alumínio Rolos 0,95
Inseticida Frascos 1,42 Pilhas Unidades 4,45
Prendedores Embalagens 1,64 Isqueiro Unidades 1,49
Velas Unidades 6,75 Papel Filme Rolos 2,00
Soda Cáustica Kg 0,97
Outros
Para os alimentos citados nesta entrevista, foi feita uma distinção entre Alimentos Geais e
Alimentos Hortifruti. A primeira diz respeito a todos aqueles alimentos mencionados, por citação
direcionada ou por citação livre, industrializados ou não, excluindo-se apenas os vegetais (frutas,
verduras e legumes) in natura, que pertencem à segunda categoria. Na Tabela 2 podem ser observadas
indicações correspondentes aos Alimentos Gerais, citados por mais de 20% do total de entrevistados.
Na Tabela 3 podem ser observados todos os Alimentos Hortifruti, com incidência de citação maior que
20%.
19
Tabela 2. Percentagem de participantes que indicaram compra de Alimentos Gerais, médias de consumo mensais por participante e respectivas unidades de medida.
Incidência de relatos
de compra
Alimentos Gerais Unidades de Medida
Médias de consumo
mensal por participante
Açúcar Kg 10,62 Extrato de Tomate Embalagens 3,79
Feijão Kg 5,26 100,0%
Óleo L 5,19 Arroz Kg 16,46 Café Kg 1,78
Frango Kg 5,53 Macarrão Comum Kg 2,45
97,6%
Sal Kg 1,49 95,2% Carne Bovina Kg 7,89 92,9% Bolachas Pacotes 7,28 90,5% Lingüiça Kg 2,55 88,1% Ovos Unidades 24,81
Salsicha Kg 2,30 85,7% Vinagre L 1,53 83,3% Iogurte "Potinho" Unidades 15,34
Farinha de Trigo Kg 2,57 81,0% Leite Longa Vida L 18,09 76,2% Refrigerante L 13,75
Chocolate em Pó Embalagens 2,10 73,8% Suco de Frutas em Pó Embalagens 12,71 71,4% Leite Condensado Embalagens 2,83
Macarrão Instantâneo Pacotes 7,39 66,7% Milho de Pipoca Pacotes 1,14 61,9% Maionese Embalagens 1,38
Farinha de Mandioca Kg 1,07 54,8% Presunto/Apresuntado Kg 1,13 Fermento em Pó Embalagens 1,04
Margarina Potes 1,98 Milho Verde Latas 1,91 52,4%
Sardinha em Lata Latas 2,86 Azeitonas Embalagens 1,76
Creme de Leite Embalagens 2,62 Manteiga Potes 1,88
Queijo Lanche Kg 0,78 50,0%
Queijo Ralado Kg 0,94 Gelatina em Pó Embalagens 4,98 47,6% Molho de Tomate Embalagens 2,90
42,9% Massa de Bolo Pacotes 2,83 40,5% Maisena Embalagem 1,01
Frios Kg 1,96 38,1% Salgadinhos Pacotes 7,44 35,7% Catchup Embalagens 1,57 33,3% Coco Ralado Pacotes 1,86 31,0% Peixe Kg 2,27
Azeite mL 395,86 Ervilha em Lata Latas 1,67 28,6%
Pão de Forma Pacotes 3,50 26,2% Farinha de Rosca Kg 1,14
Cerveja L 7,80 Goiabada Embalagens 1,10 23,8% Temperos Kg 1,01
Atum em lata Latas 2,44 21,4%
Requeijão Embalagens 2,00
Tabela 3. Percentagem de participantes que indicaram compra de Alimentos Hortifruti, médias de consumo mensais por participante e respectivas unidades de medida.
Incidência de relatos
de compra
Alimentos Hortifruti Unidades de Medida
Médias de consumo
mensal por participante
89,66% Cebola Kg 2,45 Alface Maços 8,60 86,21% Banana Kg 5,58
84,38% Alho Unidades 0,92 75,86% Batata Kg 3,20
Tomate Kg 3,53 72,41% Maçã Kg 2,24 68,97% Laranja Kg 8,18
20
Cebolinha+Salsa Maços 2,24 58,62% Repolho Kg 2,26 Couve Maços 3,33 Rúcula Maços 6,00 51,72%
Cenoura Kg 1,62 41,38% Mamão Kg 3,42 37,93% Brócolis Unidades 2,09 34,48% Beterraba Kg 1,93 31,03% Couve-flor Unidades 1,95
Mandioca Kg 5,38 Berinjela Kg 2,54 Almeirão Maços 4,25
Pimentão Kg 1,10 Mexerica Kg 2,06
Uva Kg 1,13 Melancia Unidades 1,13
27,59%
Pêra Kg 1,34 24,14% Chicória Maços 4,57
Embora os dados apresentados nas Tabelas 1, 2 e 3 tenham uma utilidade imediata para o
próprio empreendimento, considerando perspectivas de compras coletivas e mesmo identificação de
necessidades destes consumidores que possam vir a indicar possibilidades de geração de renda no
território em que se insere este empreendimento, conforme previsto em projeto de atuação para
desenvolvimento territorial (INCOOP, 2007), um exame mais específico destes dados poderá ser útil
para indicar aspectos relacionados a hábitos de alimentação da população considerada, de modo a
subsidiar propostas de atuação na área de saúde e nutrição, aspectos não aprofundados neste estudo.
Um dado importante para a caracterização do padrão de consumo desta população é o Tipo de
Local de Compra dos Produtos indicados pelos entrevistados. Na perspectiva de consumo ético,
responsável e solidário (CONSUMOSOL, 2007) ou, nas palavras de Mance (2002, 2003), crítico,
voltado para o bem estar coletivo, o valor da escolha do tipo de local de compra torna-se evidente, na
medida em que ao escolher o tipo de local o indivíduo condiciona, quase que necessariamente, o tipo
de produtor e de processo produtivo que é, afinal, beneficiado em cada relação comercial.
As categorias de tipos de locais de compra, ou estabelecimentos comerciais, extraídas dos
relatos do entrevistados são: A) supermercado, mercado; B) vendedor ambulante porta-a-porta e/ou
produtor caseiro; C) representante comercial formal e/ou vendedor que trabalhe com catálogos de
produtos de uma determinada marca ou categoria; D) quitanda, sacolão, varejão; E) açougue; F)
farmácia e/ou perfumaria; G) padaria, bar, mercearia e/ou casa de frios; H) loja especializada (não
contemplada nas outras categorias) e outros estabelecimentos. Cada produto citado no instrumento,
seja por citação livre ou citação direcionada, teve uma menção de local de compra atrelada,
necessariamente. Deste universo de citações de locais de compra, para todos os produtos
indiferenciadamente, a proporção das menções de compra em cada uma das categorias de tipos de
estabelecimentos comerciais pode ser vista na Figura 4.
Para todas as menções de locais de compra, feitas para cada produto especificamente, a grande
maioria delas referiu-se a locais do tipo supermercado ou mercado. Este tipo de estabelecimento
comercial, caracterizado pelas variadas opções de itens de compra com cobertura quase que total do
universo dos produtos de uso rotineiro da população, ainda que eventualmente situado no território em
21
que residem os consumidores, lida com produtos vindos de outros locais, e freqüentemente remetem os
ganhos oriundos do processo de comercialização para outros locais que não o próprio território em que
se efetua a comercialização. Ou seja, não se relacionam ao desenvolvimento deste local, nem do ponto
de vista da produção nem da circulação de moeda. Aproximadamente 80,45% das citações de locais de
compra dos entrevistados foram relacionadas à categoria A (supermercado e mercado). O segundo tipo
de local de compra com mais indicações, em proporção, foram os denominados sacolões, quitandas ou
varejões (categoria D), caracterizados pela venda, principalmente, de produtos hortifrutigranjeiros.
Mesmo assim, essa segunda colocação aparece com apenas 11,99% das citações de compra. Sendo,
então, muito discrepante a diferença entre a categoria A e as outras.
A 80,45%
B 2,94%
C 0,41%
D 11,99%
E 0,24%
F 0,95%
G 1,15%
H 1,89%
Figura 4. Proporção em percentagem, no universo total das citações de locais de compras para cada produto, das menções de compra em cada uma das categorias de tipos de estabelecimentos comerciais (A; B; C; D; E; F; G; e H).
Na Tabela 4 podem ser vistos os produtos mais indicados pelos entrevistados como de consumo
usual. São apresentados os produtos que foram mencionados como consumidos por todos os
participantes (100%) e também em faixas de percentagem de participantes que indicaram o consumo:
91 a 99,9%, 81 a 90,9%, e 71 a 80,9% deles. Considerando o universo de produtos investigados, é
possível considerar que um número relativamente pequeno de produtos é de uso comum a um grande
número dos entrevistados. Essa pequena variação de produtos pode estar relacionada a condições
como: 1) restrição de recursos financeiros, dificultando grande variação nos produtos de uso freqüente
por parte desta população, na medida em que, dispor de poucos recursos financeiros propiciaria um
foco de consumo nos bens mais básicos; 2) influência do processo de aprendizagem acerca de produtos
22
essenciais para a vida de cada um, tanto do ponto de vista das histórias de reforçamento individual
quanto de práticas culturais para a utilização de produtos (comer arroz e feijão diariamente, por
exemplo, que envolve hábitos alimentares bem estabelecidos, não necessariamente em função de
benefício nutricional).
Tabela 4. Percentagem de participantes que indicaram os produtos com maiores índices de indicação como consumidos regularmente.
Percentagem dos participantes que consome rotineiramente o produto 100% 91-99,9% 81-90,9% 71-80,9%
Açúcar Água Sanitária Absorvente Batata Extrato de Tomate Arroz Alface Chocolate em Pó
Feijão Bolachas Alho Desodorante Óleo Café Amaciante Leite Condensado
Papel Higiênico Carne Bovina Banana Maçã Sabonete Condicionador Cebola Refrigerante
Creme Dental Farinha de Trigo Rodo Desinfetante Iogurte "Potinho" Shampoo Escova de Dentes Leite Longa Vida Suco de Frutas em Pó Esponjas Ovos Tomate Frango Sabão em Pedra Vassoura Lingüiça Salsicha Macarrão Comum Vinagre Palha de Aço Sabão em Pó
Prod
utos
Sal
São apresentados, a seguir, os resultados relativos a informações dos entrevistados acerca de
critérios de compra de bens, processos de escolha, grau de satisfação acerca do modo de comprar, de
local de compras rotineiras, intenção de mudança de qualquer critério influente em suas decisões de
consumo, etc. Primeiramente, os participantes foram questionados acerca de sua predisposição para se
organizar para o consumo de modo a implementar o sistema de compras coletivas em sua cooperativa.
Dos 42 entrevistados, 27 (64,3%) disseram ter vontade de implementar este tipo de procedimento
enquanto 15 (35,7%) não relataram interesse. Dentre as menções a produtos de interesse potencial para
comprar coletivamente destacam-se roupas (33,9%), calçados (25,42%), materiais de construção
(16,95%) e móveis (8,47%).
Citações de interesse em outros produtos e serviços (eletrodomésticos; remédios; serviço
médico e odontológico; material escolar; etc.) não ocorreram em freqüência significativa (uma citação
cada) e foram agrupadas na categoria “Outros”. Dentre os relatos de interesse em realizar compras
coletivas, houve uma ocorrência sem descrição de quais os produtos em potencial.
Quando questionados acerca da “vontade de mudar o lugar ou o tipo de lugar em que faz suas
compras rotineiras”, a maioria dos entrevistados relatou não querer fazer essa mudança (26 de 42 em
contraposição aos que relataram interesse nesta mudança – 16 de 42). Nas respostas dos 16
participantes que disseram ter interesse em modificar o lugar ou o tipo de lugar em que realizam suas
compras rotineiras, houve menção a tipos de lugares ou critérios para esta mudança. Na Figura 5 pode
ser visto que, do total de menções feitas a critérios ou tipos de lugares, a maior parte (56,53%) dos
critérios mencionados relacionam-se com a busca de um preço mais baixo. Em seguida, a categoria
23
“Mais qualidade ou mais opções de produtos” ocorreu com freqüência equivalente a 17,39%. Outras
menções a tipos de lugares e critérios de troca ocorreram com esta mesma freqüência (17,39%). Dentre
estas outras menções, destacam-se: um participante que não soube responder; uma referência ao
tratamento dado ao cliente (busca de melhor atendimento); uma referência à mudança para um
estabelecimento de maior porte; e, referências diretas a estabelecimentos específicos, porém, da
mesma categoria (em geral, supermercados e mercados).
56,52%
17,39%
8,70%
17,39%
Preço mais baixo Mais qualidade ou mais opções de produtosMenor distância de sua residência Outros
Figura 5. Distribuição, dentre os participantes que relataram querer mudar o local em que realizam suas compras rotineiras, das indicações de critérios para mudança.
Considerando motivos indicados que poderiam levar a uma troca de local de compra, é possível
que uma organização de compras coletivas seja mais bem sucedida na medida em que se possa
alcançar preços mais baixos. Sensibilizar os cooperados pelo fator de qualidade (referente tanto ao
processo produtivo quanto ao produto final) apenas, pode não ser suficiente, posto que essa
comunidade conta com uma renda extremamente limitada.
Sobre respostas acerca do processo de compras, foi possível observar dois grandes grupos com
relação a uma possível dimensão de planejamento, que remete à discriminação do consumidor, prévia
à realização das compras, dos itens de que necessita, por meio de listas de compras. Dos 42
entrevistados, 23 não utilizam listas para os momentos de compra e 19 utilizam. No tocante à
aglutinação dos momentos de compra com ou sem utilização de lista, 10 participantes fazem uma
compra única mensal com lista; oito (8) participantes fazem uma compra única mensal sem lista; oito
(8) participantes fazem uma compra principal mensal, com lista, e realizam complementações diante
de oportunidades; cinco (5) participantes fazem uma compra principal mensal, sem lista, e realizam
complementações diante de oportunidades; um (1) participante faz todas suas compras diante de
oportunidades, de forma dispersa e com lista; 10 participantes fazem todas suas compras diante de
oportunidades, de forma dispersa e sem lista.
24
Sichieri, Castro e Moura (2007) apontam que, das variáveis analisadas em seus estudos acerca
do consumo alimentar, escolaridade e renda foram as que mais interferiram nestes hábitos. Também, a
região onde mora (no caso do estudo citado, contraposição entre Sudeste e Nordeste) tem influência,
mas menor que as duas variáveis já citadas. No caso do presente estudo, são investigadas as práticas de
consumo de uma cooperativa de prestação de serviços cuja população possui baixa média de renda e
que reside, em sua maioria, num mesmo bairro (ou em bairros menores e próximos com as mesmas
características). Assim, as condições de escolaridade podem ser levadas em consideração para
compreender as práticas de consumo evidenciadas, no que diz respeito aos alimentos, mesmo porque,
como pôde ser visto na Tabela 4, é este tipo de produto que a população compra primordialmente.
Ainda segundo Sichieri, Castro e Moura (2007), a escolaridade, entre outras variáveis, está relacionada
positivamente a uma aproximação de um padrão tradicional alimentação que compreenderia,
principalmente, arroz, feijão, farinha e açúcar, isto é, na medida em que aumenta a escolaridade média
de uma população, mais esta população tende a aproximar-se deste padrão. É possível caracterizar o
padrão de alimentação dessa população como “tradicional”, seguindo as definições de Sichieri, Castro
e Moura (2007). Este tipo de alimentação está correlacionado, ainda segundo os autores,
negativamente ao Índice de Massa Corporal.
Na Tabela 5, é possível observar que, no geral, essa população apresenta um nível de
escolaridade que alcança, principalmente, o nível fundamental (que se coloca entre 4 e 8 anos de
escolaridade). Porém, alguns participantes (aproximadamente um terço dos entrevistados) atingiram o
nível médio (completo ou não), que corresponde a um tempo de escolaridade que varia de nove a 11
anos.
Tabela 5. Relação de escolaridade com a elaboração de listas de compra e relação do número de participantes com Ensino Médio e Fundamental (completos ou em andamento) em cada um dos dois casos
Planejamento COMPRA COM LISTA COMPRA SEM LISTA Escolaridade Nenhum Fundamental Médio Nenhum Fundamental Médio
N° de Participantes 0 13 6 2 16 5
Relação de N° de Participantes com Ensino
Fundamental e Médio 2,17:1 3,20:1
Relação, no total, do N° de Participantes com Ensino Fundamental e Médio 2,64:1
A confecção de listas prévias de compra parece estar atrelada à escolaridade, na medida em que
maior escolaridade pode remeter a um maior grau de familiaridade com a escrita e, essa confecção
pode ser entendida como um produto mais completo de planejamento de compras. Apesar de o número
de participantes com Ensino Médio (completo ou não) ter sido, praticamente, o mesmo para os
participantes que compram com lista e para os que compram sem lista, a proporção relativa entre
participantes com Ensino Fundamental e Ensino Médio (completos ou não) aumenta para os casos de
25
compra sem lista. Em compras com lista, para cada participante com Ensino Médio, há 2,17
participantes com Ensino Fundamental. Em compras sem lista, para cada participante com Ensino
Médio, há 3,20 participantes com Ensino Fundamental. Também, nos casos de compra sem lista,
apareceram os dois únicos participantes que relataram não possuir nenhum grau de escolarização.
Dessa maneira, para a consecução de uma organização de compras coletivas, é possível que
seja necessária uma capacitação dos consumidores para compreenderem melhor seus padrões de
consumo, uma vez que os 55% que não têm o hábito de se valer de listas para compras precisarão, de
alguma forma, conhecer (e relatar) objetivamente os produtos que consomem. A descrição se faz
necessária para a organização, como grupo cooperativo, de compras coletivas, uma das possíveis
formas de organização para o consumo (apresentada como demanda por parte desta cooperativa de
prestação de serviços). Possivelmente, o produto escrito do comportamento de escolha dos produtos
possa estabelecer uma relação de contingência de seguimento de regra para estes consumidores; porém
um aprofundamento nesta possibilidade indicada pelo estudo ainda se faz necessário. Em função do
instrumento de coleta de dados utilizado, os consumidores fizeram um relato objetivo do que
compram, na medida em que, ao serem questionados, precisavam especificar quantidades mensais de
compras, e quais produtos costumam comprar. Porém, o procedimento de coleta de dados deste estudo
não indica em que grau existe um discriminação dos procedimentos envolvidos no processo de compra
individual, em termos de quantidades e tipos de produtos, por parte desta amostra de consumidores
deste empreendimento de economia solidária.
Há também um outro aspecto relativo à existência de planejamento de compra por parte dos
entrevistados, que remete a uma discriminação dos momentos apropriados para realizar suas compras,
cuja caracterização é a seguinte: 45% compra exclusivamente por planejamento; 31% compra por
oportunidades e com algum grau e planejamento; e 24% compra exclusivamente diante de
oportunidades. Estas categorias de processos de compra são definidas como: 1) “Compra
exclusivamente por planejamento” – categoria extraída dos relatos que apontavam deslocamentos
planejados até os locais de compra por períodos fixos (p. ex.: uma compra grande no mês; compras
semanais; compras quinzenais); 2) “Compra por oportunidades e com algum grau de planejamento” –
categoria extraída dos relatos que apontavam um parte dos deslocamentos até os locais de compra
sendo planejados e outra parte ocorrendo diante de oportunidades (p. ex.: sair mais cedo do trabalho;
coincidentemente transitar próximo a um local de compra em potencial; alguma falta de produto
necessário em um momento específico); e 3) “Compra exclusivamente diante de oportunidades” –
categoria extraída dos relatos que apontavam que todos os deslocamentos para locais de compra
acontecem de forma não planejada, diante de ocasiões propícias (p. ex.: passar em frente a um
estabelecimento comercial; momentos em que os produtos acabam).
26
Diante desta disposição de dados, é possível pensar que, mesmo com algum grau de
planejamento, 55% desta população (referentes à soma dos 24% que relataram comprar
exclusivamente diante de oportunidades com os 31% que relataram comprar por oportunidades e com
algum grau de planejamento) está, muito possivelmente, sob controle de oportunidades de compra,
mais do que de um esquema planejado e objetivo de compra que favoreça o melhor aproveitamento de
recursos e uma escolha pautada nos princípios da Economia Solidária. Mesmo assim, a categoria que
engloba os outros 45% dos participantes, que compram exclusivamente por planejamento, remete ao
planejamento de oportunidades de compra e não necessariamente um planejamento de quais produtos
comprar (essa categoria não coincide, necessariamente com os participantes que realizam compras
mediante utilização de listas de produtos).
Na questão acerca dos critérios de compra, não foi limitado relato do participante a um tipo
específico de produto. Porém, somente dois entrevistados mencionaram critérios relacionados a outros
produtos que não alimentos, vestuário, higiene pessoal, e limpeza. A incidência dos critérios
mencionados nas respostas dos participantes, para estes itens pode ser vista na Figura 6. Os critérios
não são mutuamente exclusivos e um mesmo participante pode ter indicado mais de um deles. Na
categoria “Outros critérios” foram agrupados, além daqueles participantes que relataram não saber que
critérios utilizam para efetuar suas compras, as citações únicas que, dentre outras, remetiam a
promoções, condições gerais de conservação do produto, características do rótulo, características do
produto, durabilidade, utilidade geral, familiaridade; etc.
40%
22%
13%
10%
6%
9%
Preço baixo
Qualidade do produto
Produto dentro do prazo devalidadeMarca do produto (associada ounão à qualidade)Relação de custo-quantidade oudurabilidadeOutros critérios
Figura 6. Incidência dos critérios de compra nas respostas dos participantes – os critérios não são mutuamente exclusivos.
Quando questionados acerca de outros critérios de compra a serem levados em consideração
para a escolha de determinado produto, a maioria dos entrevistados relatou não ter outros critérios (36
de um total de 42). Os que relataram que gostariam de levar outros critérios em consideração (6 de um
27
total de 42), falaram exclusivamente em critérios relacionados a limitações financeiras: vontade de
comprar produtos mais caros (quatro); vontade de comprar produtos de marcas melhores (um);
vontade de comprar mais produtos para si e para seus filhos (um). E, o motivo da não implementação
destes critérios é a falta de dinheiro, segundo os mesmos.
Acerca do suporte para transporte dos produtos que compra, somente três foram relatados:
sacolas plásticas (em 75% dos relatos); um suporte plástico (caixa) rígido e retornável que o
estabelecimento comercial utiliza no momento da entrega das compras (em 17% dos relatos); e caixa
de papelão (em 8% dos relatos). Os relatos de utilização dos suportes não são mutuamente exclusivos e
houve participantes que relataram utilização de mais de um deles, variando com a situação de compra
(compra grande relacionada com a utilização de caixas de papelão e compra pequena com sacolas
plásticas, por exemplo).
Ao serem questionados acerca de motivos para utilização dos suportes indicados, a maioria dos
participantes relatou que utiliza o suporte por ser fornecido pelo estabelecimento comercial. Houve
também uma incidência considerável de indicação de praticidade ou facilidade, que pode ser, de
alguma maneira, relacionado ao fornecimento gratuito pelo estabelecimento comercial, já que esse
fornecimento estabelece um contexto que contingência o uso do suporte fornecido. Aliado a esses dois
fatores, também é possível somar a descrição do “uso porque não tenho outro suporte”. Esses três
fatores apontam fortemente para o uso do suporte sob controle do fornecimento. Este dado, ainda que
restrito a uma população específica, aponta que intervenções de caráter ecológico-ambiental têm
grandes chances de serem efetivas quando incluem, como atores desta intervenção, estabelecimentos
que fornecem os suportes. É importante ressaltar que se tratam de relatos e não de observações diretas
e, assim sendo, destaca-se a necessidade de um aprofundamento destas relações (em estudos futuros) e
verificação da constância das mesmas em outros tipos de população para subsidiar ações com este
caráter, como no caso do Projeto “Sacoleco” (CORTEGOSO, 2006) para a utilização de suportes
(sacolas) duráveis e retornáveis ao invés de descartáveis. A incidência dos relatos de razões para a
utilização dos suportes pode ser vista no gráfico da Figura 7. As razões não são únicas em cada relato,
e, portanto, as categorias não são mutuamente exclusivas para cada participante.
28
46%
30%
9%
7%
4% 4%
Porque o estabelecimentocomercial fornece este suportePraticidade, facilidade, e/ouviabilidade de transportePorque guarda o suporte parareutilização (sacolas plásticas)Porque não possui suportepróprioPor motivos de assepsia
Não soube responder
Figura 7. Incidência dos relatos de motivos para a utilização dos suportes de compra – as categorias não são mutuamente exclusivas para cada participante
Em relação ao procedimento realizado ao se deparar com um produto que não considera bom, a
grande maioria dos participantes (66%) relatou que “não reclama, mas não compra mais”. Logo em
seguida, em número de citações, vem a categoria “reclama na loja” (25%). “reclamar na loja e não
comprar mais”, “tentar trocar o produto” foram mencionados em 9% das respostas. Um participante
relatou nunca ter encontrado um produto que não considerasse bom.
Na sessão da entrevista que trata dos resíduos, mais pessoas (64%) relataram fazer algum tipo
de separação (reciclagem ou reaproveitamento). Porém, quando questionadas acerca de motivos que as
levavam a realizar esse processamento de resíduos, a grande maioria dos entrevistados respondeu que
o faz porque “os resíduos têm alguma utilidade para alguém” (45%) ou “vende os resíduos” (19%). O
critério ambiental apareceu em sete respostas (23%). Outros critérios (“para não revirarem o lixo à
procura de material reciclável”; “para proteger os lixeiros, no caso dos vidros”; etc) apareceram em
quatro respostas (13%).
A maioria dos participantes que relataram enviar todos os resíduos de sua residência para o lixo
convencional não sabia dizer por que adotava esse procedimento. Três respostas deste último grupo
envolviam o critério “não separa porque não há coleta seletiva na sua região”. Dentre as respostas
agrupadas em “outros” critérios, destacam-se: a resposta de um participante que relatou não fazer
separações de resíduos em sua casa por não ter informação sobre como proceder; duas respostas que
faziam referência à falta de espaço para a alocação do material separado antes de seu
encaminhamento; e, duas respostas que se referiam à facilidade para a utilização do encaminhamento
convencional de resíduos – lixo. A incidência de indicação de razões para o envio de todo o resíduo
para o lixo foi: 50% –não soube responder; 19% – porque não há serviço de coleta seletiva na região
de sua residência; 31% – outros motivos.
29
Quanto ao tipo de separação empreendida pelos entrevistados (Figura 8) que relataram fazer
separação de resíduos em sua residência, há uma incidência preponderante da separação “Recicláveis e
Lixo”. Em seguida, com uma incidência menor vem “Recicláveis, Lixo e Material Orgânico”.
15
6
32
1
Recicláveis e Lixo Recicláveis, Lixo eMaterial Orgânico
Lixo e separaçãoprecária deRecicláves
Reaproveitáveis,Recicláveis e Lixo
Lixo e MaterialOrgânico
Figura 8. Incidência dos tipos de separação encontrados nos relatos dos entrevistados – categorias mutuamente exclusivas por participante
Desta situação é possível supor que, de fato, existe pouca informação, nesta população, acerca
de reaproveitamento de materiais. Mesmo dentre os participantes que deram como motivo de
separação razões ambientais, três fazem separação em “Recicláveis e Lixo” e os outros quatro em
“Recicláveis, Lixo e Material Orgânico”. Não houve qualquer menção a uma separação que
englobasse os quatro grandes grupos de resíduos citados no roteiro de entrevista: reaproveitáveis,
recicláveis, material orgânico; e lixo. Além disso, três participantes relataram uma separação precária
de material reciclável (somente plásticos, ou somente papelões).
Na etapa da entrevista que falava sobre relação com a publicidade, havia três possibilidades de
respostas direcionadas: 1) compro muitas coisas por causa da propaganda; 2) compro poucas coisas
por causa da propaganda; e 3) não compro nada por causa da propaganda. Foi observado que 60% dos
participantes relataram não comprar nada pela influência da propaganda. Relataram comprar poucos
produtos pela influência da propaganda 38% dos entrevistados e 2% deles relataram comprar muitos
produtos influenciados pela propaganda. Dentre os que relataram não comprar nada pela influência da
propaganda a maioria (13) descreve que a razão deste padrão é o fato de as propagandas não refletirem
a realidade dos produtos (“propagandas enganosas”). Em um destes casos, houve uma descrição mais
acurada que levava o relato até o ponto de identificar que propagandas visam, na maior parte das
vezes, somente o lucro das empresas, não se comprometendo, necessariamente, com a qualidade do
que é comercializado. Uma outra categoria de respostas relevante ocorreu nos relatos de quatro
participantes. Esta remetia ao “estar acostumado (a)” com os produtos que adquire ou ainda a
30
confiança nas marcas que já conhece. Para estes participantes, a propaganda não exerce influência,
segundo seus relatos, pois estão acostumados a comprar sempre os mesmos produtos (marcas, mais
especificamente). É possível que esta segunda categoria também esteja relacionada com a primeira, já
que a “desconfiança” acerca da publicidade pode levar estes consumidores a não se arriscarem
mudando de marca de produto. Três entrevistados relataram que não compram nada influenciados pela
publicidade por não terem dinheiro para isso. Havendo possibilidades financeiras estes, então,
comprariam produtos pela propaganda. Três consumidores relataram comprar somente aquilo pelo que
tinham interesse ou só o que consideravam necessário. Dois entrevistados descreveram que as
propagandas, em geral, não lhes chamam a atenção.
Tanto no relato dos 13 participantes que indicaram não “acreditar” em propagandas, quanto nos
relatos dos quatro participantes que indicaram comprar somente os produtos que já conhecem (ou estão
“acostumados”), é possível supor a influência da questão de fidelidade a determinadas marcas.
Oliveira-Castro e Foxall (2005), com relação aos padrões de compra de determinados produtos,
indicaram que: aproximadamente 10% dos consumidores são 100% leais a uma marca específica, ou
seja, compra sempre a mesma marca em várias oportunidades de compra; a parcela de consumidores
leais é dispersa, em pequenos grupos, entre várias marcas; marcas, em geral, se diferenciam muito por
sua fatia de mercado e pouco por sua freqüência de compra (quanto cada consumidor compra em cada
oportunidade de compra); as marcas que apresentam uma menor fatia de mercado, também apresentam
menor freqüência de compra e menos consumidores 100% leais (OLIVEIRA-CASTRO & FOXALL,
2005).
Dos participantes que relataram comprar poucos produtos influenciados pela propaganda
(38%), os produtos mencionados foram: Vestuário (em quatro respostas); Alimentos (em três
respostas); Produtos de beleza (em duas respostas); Produtos de Higiene Pessoal (em duas respostas);
Outros produtos, com incidência de uma resposta cada (sabão; CDs; utensílios para casa; móveis).
Uma categoria de respostas que surgiu destes relatos foi que, sob influência da publicidade, e sem
menção a produtos específicos, cinco pessoas relataram que checam a relação de custo-benefício da
propaganda, ponderam segundo sua necessidade e, diante de um conjunto favorável destes fatores,
mais a disponibilidade financeira, compram o produto. Esta descrição parece estar muito acurada e
coerente, ou pelo menos na direção de um consumo mais ético, responsável e solidário. Todavia, este
critério ainda dá muita importância ao fator financeiro, sem levar em conta critérios de procedência do
produto, processo de produção, para onde vai o dinheiro, etc. Mas diante de uma população
extremamente limitada financeiramente, como é o caso, este tipo de consciência para o consumir só
pode ser posta em prática diante de preços acessíveis ou, eventualmente, diante de sistema de finanças
solidárias. O único relato que descrevia a compra de muitos produtos por causa da publicidade,
envolvia, implicitamente, critérios de preço, e não produtos específicos. A propaganda, aqui, parece
31
funcionar como um indicador de oportunidades de economizar (“leve 2, pague 1”), e não como
indicador de quais produtos adquirir.
Acerca da caracterização e discriminação de produtos necessários e supérfluos, praticamente
todos os participantes entrevistados relataram existir produtos essenciais e supérfluos (somente dois
disseram não haver essa diferenciação), porém este critério ainda parece estar vago nos relatos. Um
dos entrevistados que relatou não existir essa diferenciação entre os produtos demonstrou outros
indicativos de que considera essa diferenciação em alguns casos, como, por exemplo, no último item,
em que relatou que quando se depara com produtos desnecessários, decide comprá-los somente se
houver condições financeiras. Dos participantes que relataram a diferenciação, um não soube dizer por
que existem produtos necessários, 12 não souberam dizer por que existem produtos supérfluos e sete
não souberam dizer quais eram eles (três participantes, dentre estes, não souberam dizer ambos, nem
porque existem produtos supérfluos nem quais são eles).
A ocorrência de tipos de produtos necessários nas respostas dos participantes ficou concentrada
em quatro grandes grupos: Alimentos Necessários; Limpeza; Higiene Pessoal; e Vestuário (Figura 9).
Houve outros tipos de produtos citados, porém com baixa incidência de resposta (uma ou duas
respostas), como por exemplo: Luz Elétrica; Água; Telefone; Móveis; etc.
39
15 15
9 9
AlimentosNecessários
Produtos de HigienePessoal
Produtos deLimpeza
Vestuário Outros
Figura 9. Distribuição do número de citações e percentagem do total de citações das classes de produtos necessários nas respostas dos entrevistados
Os tipos de produtos citados como supérfluos podem ser agrupados em três grandes grupos:
Alimentos Supérfluos; Produtos de Limpeza Substituíveis; Produtos e/ou Serviços de Beleza e/ou
Perfumaria (Figura 10). Citações individuais de produtos como telefone, carro, roupas em excesso,
caracterizam o grupo Outros para itens supérfluos.
46%
17%17%
10%
10%
32
22
10
7
10
Alimentos Supérfluos Produtos de LimpezaSubstituíveis
Produtos ou Serviços deBeleza e/ou Perfumaria
Outros
Figura 10. Distribuição do número de citações e percentagem do total de citações das classes de produtos supérfluos nas respostas dos entrevistados
As classes de produto “Alimentos Necessários” e “Alimentos Supérfluos” foram criadas para
abarcar as citações nominais de produtos alimentícios feitas pelos participantes, tanto para os produtos
considerados necessários quanto para aqueles considerados supérfluos. Trata-se de citações de
alimentos, em espectro considerável de variação, que caracterizam, nesta população, alimentos
necessários à vida e à subsistência e alimentos que não têm essa função e, por isso, são considerados
supérfluos. Os produtos citados em cada uma das classes podem ser vistos na Figura 11 e na Figura 12.
90%
80%
25% 25%20%
15% 15%
Arroz Feijão Leite Oléo Verduras eLegumes
Açúcar Carne
Figura 11. Incidência (em percentagem) dos relatos de alimentos considerados necessários pelos participantes
46%
20%
14%
20%
33
61%
43%
17% 17%13%
Doces e Sobremesas Bolachas Salgadinhos Cerveja Iogurte
Figura 12. Incidência (em percentagem) dos relatos de alimentos considerados supérfluos pelos participantes
Esta incidência de citações de alimentos necessários e supérfluos, não remete a todos os
participantes que relataram alimentos como sendo de um tipo ou de outro. Alguns participantes,
quando questionados sobre quais eram os tipos de produtos necessários, ao fazerem menção a
alimentos, discriminaram quais alimentos eram. São estes que estão representados nas Figuras 11 e 12.
Outros alimentos foram citados como necessários, com uma única resposta cada: café; pão; frutas;
adoçante; chá; achocolatado em pó; sal; temperos; compostos lácteos; bolachas. Também outros
alimentos foram citados como supérfluos, com uma única resposta cada: queijo; presunto; macarrão
instantâneo; pizza; pão; pão de forma; produtos de limpeza; catchup; hambúrguer; leite de coco;
pipoca; sal; ovos; salsicha; refrigerante. E também houve citações de alimentos como sendo supérfluos
com duas respostas cada: lanches; leite condensado; creme de leite; maionese; sucos.
A alta incidência de citações de alimentos, tanto para produtos tidos como necessários quanto
para produtos tidos como supérfluos, pode estar relacionada a restrições condições financeiras da
população considerada, residente em bairro conhecido por constituir um bolsão de pobreza no
município. Neste sentido, os gastos com itens relevantes para a sobrevivência, como é o caso de
alimentos, devem corresponder ao maior investimento dos participantes, uma hipótese que se fortalece
pelos dados relativos aos motivos apontados para distinguir entre produtos necessários e supérfluos. A
incidência, nas respostas dos participantes, dos motivos pelos quais um bem de consumo é considerado
necessário é a que segue: 78% – bem de subsistência; 11% – bens de higiene ou assepsia; 11% –
outros motivos. A incidência, nas respostas dos participantes, dos motivos pelos quais um bem de
consumo é considerado supérfluo é a que segue: 44% – não é bem de subsistência; 15% – faz mal à
saúde; 9% – produtos que podem ser feitos em casa; 32% – outros motivos.
Outras citações de motivos pelos quais um produto é considerado necessário foram: costume; o
que não pode ser feito em casa; etc. E, outras acerca dos produtos considerados supérfluos foram: não
faz parte da sua escala de prioridades; custam caro; engorda; têm baixa durabilidade; varia com a
situação; outros produtos (mais baratos) têm a mesma função; porque não tem condições de comprar;
34
etc. Além de serem questionados acerca de critérios para diferenciar produtos supérfluos de produtos
necessários, os participantes foram questionados acerca do uso de produtos supérfluos. Diante disso,
45% relataram fazer uso de produtos considerados supérfluos e 55% relataram não fazer uso de
produtos considerados supérfluos.
Dstes 45% de participantes, quando solicitados a dizer quais eram então os itens supérfluos que
utilizavam, 76% responderam que utilizam alimentos supérfluos; 18% produtos ou serviços de beleza
e/ou perfumaria; e 29% outros produtos, dentre os quais telefone, carro, sapólio, etc. Uma pessoa não
soube responder quais itens supérfluos utilizava, mas ainda assim disse acreditar que fazia uso de
algum.
Questionados, então, acerca de por que utilizam estes produtos, houve três grandes categorias
de resposta extraídas dos relatos: 39% dizem utilizar produtos supérfluos porque gosta ou tem vontade;
17% para agradar os filhos; e 44% por outros motivos. Estes outros motivos se encontram distribuídos
de maneira difusa e dificilmente categorizável. Alguns exemplos são: usa quando tem “preguiça de
cozinhar”; usa pouco porque não tem dinheiro para usar mais; curiosidade; não consegue ficar muito
tempo sem utilizar produtos supérfluos; por causa dos outros moradores de sua casa; etc.
A última informação obtida junto aos participantes diz respeito a critérios utilizados no
momento da decisão sobre a aquisição ou não de um produto considerado supérfluo. 15% dos
participantes mencionaram critérios difusos, agrupados como “outros”, como por exemplo: se vai ficar
mais caro, mas não matará a fome, não compra; compra se as crianças pedem; consulta os outros
moradores da casa; não sabe dizer exatamente porque compra produtos supérfluos; etc. 23% relataram
que compram produtos supérfluos se tiverem condições financeiras (dinheiro sobrando, ou seja,
alguma quantia de dinheiro que excedeu a quantidade necessária para pagar as contas do mês e custear
a subsistência do núcleo familiar/residencial). 62% dos sócios desta cooperativa disseram não comprar
produtos que sejam supérfluos, ou ainda, só comprar os produtos que são necessários. Também este
último é um critério difuso, posto que, ao correlacionar as indicações de participantes acerca de tipos
de produtos supérfluos, com a listagem de produtos que compra, somado ao relato desta última
questão, aparecem contradições no relato. Estas contradições, muito provavelmente, devem-se
significativamente a pouca clareza dos conceitos e dos procedimentos envolvidos com um consumo
responsável. Também é provável que a pouca familiaridade com um tratamento objetivo dos
procedimentos, nos termos de descrição das contingências envolvidas, relacionados à aquisição de
produtos tenha influência sobre a ocorrência deste tipo de contradição no relato.
Todavia, estas contradições podem servir como ponto de partida para futuros estudos
complementares a este que, por seu caráter exploratório, apresenta lacunas na abrangência do
fenômeno de consumo em empreendimentos solidários.
35
B. IDENTIFICAÇÃO, DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE COMPORTAMENTOS E CONTINGÊNCIAS DE CONSUMO ÉTICO, RESPONSÁVEL E SOLIDÁRIO.
A seguir são apresentados os produtos, relativos à identificação e descrição de comportamentos
relevantes do ponto de vista de práticas de consumo de interesse no campo da Economia Solidária,
previstos a partir do procedimento proposto e, principalmente, das fontes de informações utilizadas
neste projeto.
O comportamento do consumidor, dentro do campo da Economia Solidária, tem caráter
fundamental para a sustentabilidade deste sistema. A comercialização de produtos e serviços, como
parte essencial para a circulação de renda, depende muito e diretamente do comportamento de
consumidores. O grupo ConsumoSol, como promotor de padrões de consumo ético, responsável e
solidário, tem em seus objetivos diretrizes para a ação (CONSUMOSOL, 2007), tanto em relação a
comportamentos individuais de seus participantes, quanto em relação a comportamentos
organizacionais – ainda que dependentes da ação coletiva de seus participantes. Os objetivos do grupo
ConsumoSol constituem, assim, a primeira fonte explorada, neste estudo, para a identificação e
descrição de comportamentos relevantes de consumidores no campo da Economia Solidária.
O exame das proposições dos objetivos do grupo, bem como o exame das informações sobre
padrões de consumo da cooperativa de prestação de serviços, identificados a partir das informações
apresentadas anteriormente, possibilitou, ainda, identificar propriedades de componentes das relações
comportamentais componentes da classe geral consumir, presentes ou desejáveis nestas relações. Tais
informações contribuíram, para caracterizar um conjunto de comportamentos, como parte da classe
consumir, que podem ser entendidos como desejáveis, considerando os objetivos do ConsumoSol, que
pode ser tomado como representação inicial de práticas de consumo ético, responsável e solidário de
interesse para a Economia Solidária. São apresentadas, a seguir, descrições comportamentais de
comportamentos presentes nos objetivos do grupo, ou seja, desejáveis de serem apresentados por
consumidores, considerando diretrizes da Economia Solidária, ou derivados destes a partir do
procedimento utilizado neste estudo.
No Quadro 1, pode ser vista a relação das classes de comportamentos de potencial interesse
para um consumo ético, responsável e solidário, derivada dos objetivos do grupo ConsumoSol.
36
Quadro 1. Classes de comportamentos derivadas dos objetivos do grupo ConsumoSol.
Comportamentos organizacionais (ConsumoSol)
► Apoiar empreendimentos de Economia Solidária; ► Promover relações com outras iniciativas similares, em redes de cooperação solidária; ► Monitorar os processos de funcionamento do grupo, permanentemente, por meio de indicadores determinados; ► Capacitar produtores (membros do grupo ou não) para produzir produtos e serviços de forma ética, responsável e solidária; ► Produzir e estabelecer oportunidades de acesso a produtos e serviços condizentes com a proposta da Economia Solidária e do grupo ConsumoSol; ► Promover um padrão de consumo ético, responsável e solidário, correspondente às necessidades reais (não induzidas) de consumo, nos indivíduos componentes da sociedade; ► Estabelecer condições de uso adequado de cada produto e serviço, por meio de capacitação e adequação ambiental específica; ► Promover produção ética, responsável e solidária de diferentes produtos e serviços necessários ao atendimento de necessidades humanas e dos seres em geral; ► Promover a relação ética e respeitosa entre produtores, fornecedores, distribuidores e consumidores; ► Implementar o funcionamento do grupo ConsumoSol.
Comportamento de consumidores (indivíduos)
Consumir ética, responsável e solidariamente.
O ConsumoSol, como parte de suas propostas de promoção de comportamentos de consumo
indica, como um de seus objetivos, “apoiar atores em Economia Solidária”. É possível observar, no
Quadro 2, uma descrição deste comportamento, proposto a partir dos objetivos formulados pelo grupo
ConsumoSol.
Quadro 2. Descrição do comportamento “apoiar empreendimentos em Economia Solidária”, proposto a partir dos objetivos formulados por um grupo organizado para promoção de consumo ético, responsável e solidário.
Diante de... (classe de estímulos antecedentes)
Ação (classe de respostas)
Resultado, efeito, produto (classe de estímulos
subseqüentes) ► empreendimentos fornecedores ou distribuidores de produtos ou prestadores de serviço que atendam parcialmente aos critérios estabelecidos pelo grupo como desejáveis, e que podem melhorar estas condições de funcionamento na direção dos objetivos do grupo; ► características destes empreendimentos, em termos de fortalezas ou fraquezas no seu funcionamento, relevantes para os objetivos do ConsumoSol; ► disposição dos empreendimentos que não atendem a todas as características desejáveis em aprimorar seu funcionamento na direção dos critérios estabelecidos pelo grupo.
Levando em conta... ► objetivos e critérios do grupo ConsumoSol em relação a empreendimentos produtores ou distribuidores de produtos e serviços; ► recursos diversos disponíveis para apoio aos grupos.
Apoiar empreendimentos
em Economia Solidária.
► empreendimentos capazes de atender a uma parcela maior das exigências do grupo ConsumoSol na direção desejável (ética, responsabilidade, solidariedade) ou com potencial ampliado para isto.
37
As relações de consumo responsável são estabelecidas de maneira mais estável na medida em
que um número maior de atores, bem como diferentes tipos de atores, reúnem-se em redes de
cooperação solidária. “Apoiar empreendimentos em Economia Solidária” deve ocorrer, assim, diante
do conhecimento acerca da existência de empreendimentos deste tipo que atendam parcial ou
totalmente os critérios estabelecidos pelo grupo (ConsumoSol, ou outro grupo de promoção de
consumo) ou que manifestem interesse de avançar no grau de atendimento destes critérios. Para que
esta ação se estabeleça de maneira adequada, é necessário que o grupo promotor de práticas de
consumo conheça as características do empreendimento em potencial e que saiba discriminar quais
pontos estão mais na direção do consumo responsável e quais não estão (por exemplo, discriminar se o
empreendimento tem uma cadeia produtiva condizente com os objetivos da Economia Solidária, se
produz com respeito ao ambiente e às pessoas, se prioriza a circulação de bens de maneira local e
também a cultura desta região, etc.). Também, além de apoiar estes empreendimentos, seja com
construção de tecnologia ou com viabilização de comunicação com seus consumidores em potencial
ou outros produtores de algum item necessário à cadeia produtiva em questão, é necessário que se
estabeleçam relações entre estas iniciativas econômicas solidárias. O estabelecimento de redes,
portanto, faz parte dos comportamentos desejáveis dentro do grupo. A descrição do comportamento
“Promover relações com outras iniciativas similares, em redes de cooperação solidária” pode ser vista
no Quadro 3.
Quadro 3. Descrição do comportamento “promover relações com outras iniciativas similares, em redes de cooperação solidária”, proposto a partir dos objetivos formulados por um grupo organizado para promoção de consumo ético, responsável e solidário.
Um exemplo de ação do grupo ConsumoSol (2008) que envolve tanto o apoio a grupos deste
tipo (no caso de providenciar um espaço para a comercialização) quanto a promoção de relações entre
estes grupos (no caso de estabelecer o contato entre produtores em Economia Solidária) é a
implementação de uma feira de comercialização diretamente com produtores. A implementação desta
feira teve, e tem (posto que é um evento que tem acontecido regularmente até o término deste estudo),
Diante de... (classe de estímulos antecedentes)
Ação (classe de respostas)
Resultado, efeito, produto (classe de estímulos
subseqüentes) ► conhecimento acerca da existência de empreendimentos de economia solidária (efetivamente estabelecidos nesta organização de trabalho ou com potencial e/ou demanda para tanto).
Levando em conta... ► objetivos e critérios do grupo ConsumoSol em relação a empreendimentos produtores ou distribuidores de produtos e serviços; ► critérios para identificar iniciativas similares.
Promover relações com
outras iniciativas
similares, em redes de
cooperação solidária.
► Redes de cooperação solidária estabelecidas entre os empreendimentos conhecidos; ► consecução do maior grau de inclusão social possível dentro das redes.
38
como seus objetivos, em linhas gerais: proporcionar um ponto de encontro para produtores em
Economia Solidária, onde a comercialização possa ocorrer sem a mediação de atravessadores, isto é,
em termos analítico-comportamentais, servir de contingência para a aproximação de produtores e
consumidores e garantir um preço justo para os bens consumidos; evitar a concorrência de mercado
entre estes produtores, já que, havendo produtos similares disponibilizados dentro desta feira, os
produtores devem encontrar maneiras de cooperar e prover benefícios para ambos; garantir que, neste
espaço de comercialização, os produtos atendam a certos critérios (determinados pelo próprio grupo),
de modo que se estabeleça constância na qualidade dos produtos produzidos, por exemplo, no caso dos
vegetais vendidos in natura, por métodos econômica e ecologicamente corretos (sem agrotóxicos ou
exploração de mão-de-obra não qualificada), do ponto de vista da Economia Solidária
(CONSUMOSOL, 2008).
Também faz parte dos comportamentos desejáveis de um grupo de promoção do consumo
responsável, o monitoramento de processos de funcionamento do mesmo, em caráter permanente, por
meio de indicadores previamente definidos (Quadro 4).
Quadro 4. Descrição do comportamento “monitorar os processos de funcionamento do grupo, permanentemente, por meio de indicadores diversos”, proposto a partir dos objetivos formulados por um grupo organizado para promoção de consumo ético, responsável e solidário.
Como exemplo de monitoramento de processos de funcionamento, é possível destacar o
levantamento de participantes das reuniões do grupo, contabilizados tanto por reunião, quanto em
termos cumulativos (ao longo das reuniões já ocorridas), que inclui: representantes de
empreendimentos solidários; fornecedores; membros da equipe de incubação da Incoop; membros do
grupo ConsumoSol. Houve levantamentos, também, do número de participantes por meio de internet
em termos de número de endereços eletrônicos cadastrados no grupo (CONSUMOSOL, 2008).
Outras instâncias do processo de consumir mais distantes do final da cadeia e mais próximas do
seu início, como é o caso dos comportamentos envolvendo produtores em Economia Solidária, são
também de interesse do grupo. Sendo assim, comportamentos em direção a essa população se fazem
Diante de... (classe de estímulos antecedentes)
Ação (classe de respostas)
Resultado, efeito, produto (classe de estímulos
subseqüentes) ► funcionamento do grupo ConsumoSol e/ou demandas de avaliação de processos planejados ou em curso.
Levando em conta... ► objetivos e critérios do grupo ConsumoSol em relação a empreendimentos produtores ou distribuidores de produtos e serviços; ► indicadores confiáveis dos processos de funcionamento do grupo.
Monitorar os processos de
funcionamento do grupo,
permanentemente, por meio de indicadores
determinados
► processos avaliados e proposições de alteração feitas.
39
necessários, na medida em que os produtores constituem o nível mais básico das relações de consumo.
O processo de capacitação de produtores, previsto nos objetivos do grupo, está descrito no Quadro 5.
Quadro 5. Descrição do comportamento “capacitar produtores (membros do grupo ou não) para produzir produtos e serviços de forma ética, responsável e solidária”, proposto a partir dos objetivos formulados por um grupo organizado para promoção de consumo ético, responsável e solidário.
Dentre os critérios estabelecidos pelo grupo, como definidores de um consumo ético,
responsável e solidário, relacionados ao processo produtivo estão: produtos com a melhor qualidade
possível; processo produtivo sem exploração de pessoas e de outros seres, com transparência
responsabilidade em relação aos resultados diretos e indiretos do processo; adequação aos princípios
de conservação da natureza (desde a concepção e produção até o pós-uso de um bem produzido);
inclusão social do maior número de pessoas possível no processo produtivo; valores que questionem as
regras dos mercados vigentes.
As condições de acesso existentes a produtos e serviços oriundos de empreendimentos
solidários sinalizam necessidades de intervenção, por parte do ConsumoSol, na medida em que estas
condições são essenciais para que se concretize a circulação destes bens e, consequentemente, geração
de renda. A classe de comportamentos “produzir e estabelecer condições de acesso a produtos e
serviços oriundos de empreendimentos de Economia Solidária”, descrita no Quadro 6, relaciona-se a
esta demanda para sustentabilidade de empreendimentos da Economia Solidária.
Diante de... (classe de estímulos antecedentes)
Ação (classe de respostas)
Resultado, efeito, produto (classe de estímulos
subseqüentes) ► conhecimento acerca da existência de produtores (efetivos ou em potencial).
Levando em conta... ► limitações financeiras, espaciais e/ou metodológicas do grupo; ► princípios da Economia Solidária, objetivos e critérios do grupo ConsumoSol para caracterização de uma produção ética, responsável e solidária; ► critérios de adequação ambiental dos processos produtivos.
Capacitar produtores
(membros do grupo ou não) para produzir
produtos e serviços de forma ética,
responsável e solidária.
► produtores capazes de produzir bens de consumo de maneira ética, responsável e solidária; ► produtores aptos a disseminar esta forma de produção para outras instituições e/ou indivíduos; ► maior grau de inclusão social possível conseguido dentro do processo produtivo.
40
Quadro 6. Descrição do comportamento “Produzir e estabelecer oportunidades de acesso a produtos e serviços condizentes com a proposta da Economia Solidária e do grupo ConsumoSol”, proposto a partir dos objetivos formulados por um grupo organizado para promoção de consumo ético, responsável e solidário.
Dentre os critérios estabelecidos pelo grupo, como definidores de um consumo ético,
responsável e solidário, relacionados ao processo de comercialização estão: preço justo (definido
mediante acordo entre as partes envolvidas, que garanta atendimento equilibrado a elas, dos pontos de
vista econômico, legal e humano); inclusão social no processo de comercialização; adequação do
processo aos princípios de conservação da natureza; promoção da cultura local; no caso da
comercialização de alimentos, favorecimento da educação alimentar e de produtos mais adequados à
saúde; valores que questionem as regras dos mercados vigentes.
No caso dos comportamentos de produzir e estabelecer condições de acesso a produtos e
serviços oriundos de empreendimentos de Economia Solidária e condizentes com a proposta do grupo
ConsumoSol (Quadro 6), também é possível utilizar como exemplo de ação do grupo que remete a
estes comportamentos (além de apresentar uma relação de apoio a empreendimentos e de promoção de
relações com iniciativas similares) a implementação da feira de comercialização. Esta feira, como
conseqüência da atuação do grupo (referente, então à produção de oportunidades), estabelece
condições (local e horário para a comercialização, por exemplo) de acesso a produtos e serviços.
Diante de... (classe de estímulos antecedentes)
Ação (classe de respostas)
Resultado, efeito, produto (classe de estímulos
subseqüentes) ► necessidades de consumo por parte dos indivíduos no raio de atuação do grupo; ► conhecimento acerca de produtores que atendam aos critérios de caracterização da Economia Solidária; ► produtos e serviços disponíveis (produzidos de maneira ética e com respeito ao homem e ao ambiente).
Levando em conta... ► condições de oferta de produtos e serviços incompatíveis com possibilidades de acesso e com necessidades reais de consumidores (estímulo ao consumo exagerado...); ► conhecimento disponível sobre conservação ambiental; ► princípios de cooperativismo; ► meios (recursos, procedimento, etc.) disponíveis para promover (facilitar) o padrão de consumo desejado; ► segmentos sociais excluídos do acesso a diferentes produtos e serviços importante para que se supram suas necessidades efetivas; ► tecnologia e metodologia disponíveis para a divulgação; ► conhecimento acerca da produção regional (região maior ou menor, variando com a disponibilidade) de bens.
Produzir e estabelecer
oportunidades de acesso a produtos e
serviços condizentes
com a proposta da Economia
Solidária e do grupo
ConsumoSol.
► acesso aos bens produzidos, no âmbito da Economia Solidária, garantido para a população sob o raio de atuação do grupo; ► inclusão social total ou máxima de acesso a esses produtos e serviços; ► acesso a bens regionais, da cultura local, e de redes de cooperação solidária priorizados.
41
Atrelado a esses comportamentos, como uma classe mais geral, aparece o comportamento
“Promover um padrão de consumo ético, responsável e solidário, correspondente às necessidades reais
(não induzidas) de consumo, nos indivíduos componentes da sociedade”, cuja descrição pode ser vista
no Quadro 7.
Quadro 7. Descrição do comportamento “promover um padrão de consumo ético, responsável e solidário, correspondente às necessidades reais (não induzidas) de consumo, nos indivíduos componentes da sociedade”, proposto a partir dos objetivos formulados por um grupo organizado para promoção de consumo ético, responsável e solidário.
No caso da promoção de um padrão de consumo condizente com as propostas do grupo, é
possível destacar ações como: a) partindo do pressuposto que as obras cinematográficas são
manifestações culturais que auxiliam na compreensão da sociedade, houve exibição de filmes que
abordassem a temática do consumo, seguidos de debates entre os presentes para estimular reflexões
sobre as conseqüências do estilo de vida contemporâneo; b) tendo como foco de ação a redução da
produção e utilização de suportes descartáveis de compras (sacola plásticas), houve um projeto de
atuação na divulgação do uso de suportes duráveis e também na direção da geração de renda para
produtores solidários destes suportes. Atuação com parcerias, além dos produtores destes suportes, de
pequenos comerciantes e consumidores em uma ação coletiva em benefício da conservação ambiental
Diante de... (classe de estímulos antecedentes)
Ação (classe de respostas)
Resultado, efeito, produto (classe de estímulos
subseqüentes) ► oportunidades de acesso a pessoas com necessidades de consumo de diferentes tipos (básicas, supérfluas) e diferentes recursos para acesso a bens e produtos; ► oportunidades de acesso a pessoas que produzem ou comercializam bens e produtos de diferentes tipos.
Levando em conta... ► diferentes padrões de consumo das pessoas, incompatíveis com a proposta do grupo; ► condições de oferta de produtos e serviços incompatíveis com possibilidades de acesso e com necessidades reais de consumidores (estímulo ao consumo exagerado...); ► critérios para definir necessidades reais ou supérfluas; ► conhecimento disponível sobre conservação ambiental; ► princípios de cooperativismo; ► meios (recursos, procedimento, etc.) disponíveis para promover (facilitar) o padrão de consumo desejado; ► produtos e serviços disponíveis e responsáveis por produtos e serviços de diferentes tipos; ► critérios para diferenciar produtos e serviços do ponto de vista ético, da responsabilidade na produção, na forma de organização para o trabalho.
Promover um padrão de
consumo ético, responsável e
solidário, correspondente
às necessidades
reais (não induzidas) de consumo, nos
indivíduos componentes da sociedade.
► maior número de pessoas, tendo acesso a bens, que ao consumir atuem na direção de:
- valorização de empreendimentos solidários em detrimentos de grandes redes; - sustentabilidade do padrão proposto; - necessidades reais de consumo supridas; - produção do mínimo resíduo possível; - maior alcance, por parte dos envolvidos, a bens que supram as necessidades reais; - menor degradação ambiental possível.
42
e inserção social; c) Dicas e textos disponibilizados em sítio de internet, que, além de ajudar na
veiculação dos conceitos envolvidos com preservação ambiental e inserção social (no caso da
formação de empreendimentos voltados para o comércio justo e consumo sustentável), também
oferece dicas de procedimentos específicos para aumento do grau de preservação ambiental (com
redução do consumo de energia elétrica e uso de produtos alternativos de limpeza e controle de pragas,
por exemplo) a serem implementados em situações cotidianas (CONSUMOSOL, 2008). Existem ainda
outros tipos de ações possíveis de capacitação de consumidores não exploradas pelo grupo
ConsumoSol. É o caso do procedimento indicado por Winett, Kramer, Walker, Malone e Lane, em
1988. Os autores demonstraram uma possibilidade de ação no campo da Análise do Comportamento
para fins de capacitação de consumidores. Mais especificamente, os autores apontaram que a
disponibilização de feedback (para as quantidades de produtos alimentícios comprados pelos
participantes) e o estabelecimento de metas (redução do total de gorduras presentes nos alimentos
comprados e redução do dinheiro gasto com alimentação, apresentadas por meio de vídeos), somados a
procedimentos de modelagem (construção de listas para compras de produtos, juntamente com os
participantes, por exemplo) proporcionaram uma redução do consumo de produtos alimentícios com
alto teor de gordura.
Para a efetivação de um padrão de consumo coerente com as propostas do grupo e da Economia
Solidária, é também necessário que se mantenham, neste padrão de consumo, características como:
condições de uso adequadas para cada produto; produção ética e respeitosa de produtos necessários às
demandas dos indivíduos; relação ética e respeitosa entre produtores, fornecedores, distribuidores e
consumidores. Dentre as ações do ConsumoSol na direção da manutenção destas características no
padrão de consumo promovido, temos o comportamento de “Estabelecer condições de uso adequado
de cada produto e serviço, por meio da capacitação e adequação ambiental específica”, que tem sua
descrição contemplada no Quadro 8.
Quadro 8. Descrição do comportamento “Estabelecer condições de uso adequado de cada produto e serviço, por meio de capacitação e adequação ambiental específica”, proposto a partir dos objetivos formulados por um grupo organizado para promoção de consumo ético, responsável e solidário.
Diante de... (classe de estímulos antecedentes)
Ação (classe de respostas)
Resultado, efeito, produto (classe de estímulos
subseqüentes) ► produtos e serviços disponíveis; ► condições de acesso; ► necessidades efetivas de consumo.
Levando em conta... ► critérios para reaproveitamento e redução de gastos; ► critérios específicos do uso de cada produto e serviço.
Estabelecer condições de uso adequado
de cada produto e
serviço, por meio de
capacitação e adequação ambiental específica.
► uso dos produtos e serviços referentes às necessidades efetivas de consumo garantido; ► menor produção de resíduos possível; ► reaproveitamento máximo de resíduos inevitáveis; ► uso adequado do produto e/ou serviço garantido; ► capacitação dos envolvidos, no referente ao reaproveitamento e/ou encaminhamento de resíduos.
43
No Quadro 9 é possível observar a descrição do comportamento “Promover produção ética,
responsável e solidária de diferentes produtos e serviços necessários ao atendimento de necessidades
humanas e dos seres em geral”. É importante destacar aqui a relação da produção com as necessidades
dos seres em geral, ou seja, como um critério de adequação ambiental da produção. Os processos
produtivos precisam, para concordarem com esta sistemática de funcionamento, não só contemplarem
as necessidades humanas, mas também contemplarem, no grau máximo possível, um nível de
sustentabilidade ambiental do processo.
Quadro 9. Descrição do comportamento “Promover produção ética, responsável e solidária de diferentes produtos e serviços necessários ao atendimento de necessidades humanas e dos seres em geral”, proposto a partir dos objetivos formulados por um grupo organizado para promoção de consumo ético, responsável e solidário.
No Quadro 10 é possível observar a descrição do comportamento “Promover a relação ética e
respeitosa entre produtores, fornecedores, distribuidores e consumidores” que também faz parte das
características necessárias para a implementação de um padrão de consumo responsável. Como classes
mais específicas deste comportamento, podem ser indicados: promover fidelidade de consumidores a
produtores e fornecedores; promover transparência na definição de preços por parte de produtores e
distribuidores.
Diante de... (classe de estímulos antecedentes)
Ação (classe de respostas)
Resultado, efeito, produto (classe de estímulos
subseqüentes) ► necessidades efetivas de consumo; ► demanda de produtos para consumo.
Levando em conta... ► tecnologia e metodologia de produção disponíveis; ► conhecimento disponível sobre redução de resíduos em processos produtivos; ► segmentos sociais que, em relação ao acesso a produtos e serviços, estejam excluídos; ► critérios para estabelecimento de níveis de qualidade de um produto/serviço específico.
Promover produção ética, responsável e solidária de diferentes produtos e
serviços necessários ao atendimento de necessidades
humanas e dos seres em geral.
► necessidades efetivas supridas; ► menor degradação ambiental possível; ► maior grau de inclusão possível de segmentos sociais anteriormente excluídos do acesso a produtos e serviços; ► melhor qualidade possível do produto/serviço.
44
Quadro 10. Descrição do comportamento “Promover a relação ética e respeitosa entre produtores, fornecedores, distribuidores e consumidores”, proposto a partir dos objetivos formulados por um grupo organizado para promoção de consumo ético, responsável e solidário.
Todas as classes de comportamentos mais amplas citadas até aqui, para que possam ser
efetivadas como ações desta instituição (grupo ConsumoSol) é necessário que se garanta o
funcionamento da mesma. Para tanto, uma descrição de um comportamento que remeta ao próprio
funcionamento do grupo faz-se necessária. Esta descrição do comportamento “Implementar o
funcionamento do grupo ConsumoSol” pode ser vista no Quadro 11, e encerra os comportamentos da
organização ConsumoSol, como entidade funcional de uma relação de contingência com outros
empreendimentos solidários e outros consumidores, descritos neste estudo.
Quadro 11. Descrição do comportamento “Implementar o funcionamento do grupo ConsumoSol”, proposto a partir dos objetivos formulados por um grupo organizado para promoção de consumo ético, responsável e solidário.
Além dos comportamentos que envolvem o grupo como um todo, também existem
comportamentos, necessários para a manutenção de um sistema solidário de comercialização, que
correspondem ao que é esperado de cada indivíduo envolvido neste processo. Os comportamentos do
consumidor foram agrupados, inicialmente, na grande classe de comportamentos “Consumir ética,
responsável e solidariamente”. No Quadro 12 pode ser vista a descrição completa deste
comportamento.
Diante de... (classe de estímulos antecedentes)
Ação (classe de respostas)
Resultado, efeito, produto (classe de estímulos
subseqüentes) ► processos de comercialização de produtos; ► processos de distribuição de produtos.
Levando em conta... ► objetivos e critérios do grupo ConsumoSol em relação a empreendimentos produtores ou distribuidores de produtos e serviços; ► princípios do cooperativismo.
Promover a relação ética e
respeitosa entre
produtores, fornecedores, distribuidores
e consumidores.
► fidelidade e transparência ampliadas na relação entre produtores, fornecedores e consumidores; ► maior grau de integração entre atores envolvidos com produção, distribuição e consumo ético, responsável e solidário de produtos e serviços.
Diante de... (classe de estímulos antecedentes)
Ação (classe de respostas)
Resultado, efeito, produto (classe de estímulos
subseqüentes) ► pessoas, em número razoável e em condições de atuação (tempo, disponibilidade, capacitação), componentes do grupo ConsumoSol.
Levando em conta... ► princípios do cooperativismo, como: livre acesso, adesão voluntária, participação coletiva e democrática dos membros, auto-gestão, cooperação e intercooperação; ► objetivos e critérios do grupo ConsumoSol em relação a empreendimentos produtores ou distribuidores de produtos e serviços.
Implementar o funcionamento
do grupo ConsumoSol.
► funcionamento do grupo ConsumoSol estabelecido, segundo os princípios do cooperativismo e os objetivos do próprio grupo.
45
Quadro 12. Descrição do comportamento “Consumir ética, responsável e solidariamente”, proposto a partir dos objetivos formulados por um grupo organizado para promoção de consumo ético, responsável e solidário.
Diante de... (classe de estímulos antecedentes)
Ação (classe de respostas)
Resultado, efeito, produto (classe de estímulos
subseqüentes) ► necessidades efetivas de consumo; ► diferentes tipos de produtos disponíveis para consumo em relação ao potencial de geração de resíduos; ► produtos gerados com diferentes graus de aproveitamento de resíduos no processo de produção e de respeito ao homem; ► características dos produtores ou prestadores de serviços, quanto à condição social, tipo de organização para o trabalho e benefícios para os indivíduos envolvidos; ► recursos disponíveis para obtenção dos produtos; ► conhecimento existente sobre possibilidades de aproveitamento de resíduos e de redução na produção de resíduos.
Levando em conta... ► critérios para diferenciar produtos e serviços do ponto de vista ético, da responsabilidade na produção, na forma de organização para o trabalho; ► critérios para diferencias necessidades reais e induzidas de consumo; ► conhecimento disponível sobre conservação ambiental; ► critérios para identificar diferentes tipos de atores envolvidos no processo de consumo, desde a produção até a comercialização; ► critérios para identificar as variáveis que influenciam na determinação do padrão de consumo individual e de grupo.
Consumir ética,
responsável e solidariamente.
► necessidades reais de consumo atendidas; necessidades induzidas identificadas e não “atendidas”; ► aquisição de produtos, advindos de produtores éticos responsáveis na produção, e organizados para o trabalho segundo os princípios da Economia Solidária; na maior quantidade relativa possível; ► benefícios para segmentos excluídos, preferencialmente os organizados para geração de renda; ► menor gasto possível de recursos próprios e ambientais; ► ausência de resíduos ou mínimo de resíduos gerados pelo consumo; ► resíduos inevitáveis produzidos com maior potencial de aproveitamento e encaminhados (quando necessário) para a reciclagem; ► uso máximo de produtos gerados a partir do aproveitamento de outros; ► cultura local, produção regional, priorizada na aquisição de produtos e serviços.
Cada indivíduo, ao se comportar, estará exposto a um ambiente diferente e também possui um
histórico de reforçamento que o leva a se comportar de maneiras diferentes. Todavia, de um modo
geral, se membros de um empreendimento solidário, diante dos estímulos específicos (necessidades
efetivas de consumo; diferentes tipos de produtos disponíveis para consumo; produtos gerados com
diferentes graus de aproveitamento de resíduos; características dos produtores ou prestadores de
serviços; recursos disponíveis para obtenção de produtos; conhecimento existente sobre possibilidades
de aproveitamento de resíduos e de redução na produção de resíduos) se comportarem, consumindo, de
maneira a conseguir suprir suas necessidades reais de consumo, adquirir produtos que tenham sido
produzidos de maneira ética e responsável (social e ecologicamente), produzir a menor quantidade
possível de resíduos e gastar a menor quantidade possível de recursos próprios e naturais, garantir que
se reutilize produtos num grau máximo possível de reaproveitamento, e garantir que a cultura local
seja priorizada, a probabilidade de que este empreendimento solidário colabore para a implantação de
46
outros e para sua própria consolidação aumenta. Os consumidores fariam parte, então,
automaticamente, ao se comportar nesta direção, de um entrelaçamento que fortalece este tipo de
empreendimento. Em um grau mais forte de manutenção deste tipo de comportamento, estariam as
redes de cooperação solidária que, numa abordagem analítico-comportamental, poderiam ser descritas
como uma comunidade de indivíduos cujos comportamentos se tornam conseqüências contingentes e
reforçadoras para os comportamentos de outros indivíduos, na direção da sustentabilidade produtiva,
econômica e ambiental.
Contudo, ao analisar o padrão de consumo da cooperativa de prestação de serviços e
identificar, mesmo com as limitações do método de obtenção dos dados (entrevista dirigida), é possível
apontar para uma incongruência, em termos gerais, deste tipo de comportamento, que contribui para a
sustentabilidade dos empreendimentos solidários e do próprio ambiente, com aqueles que ocorrem de
fato para estes indivíduos. Tendo como base os dados coletados junto a membros deste grupo, foi
possível caracterizar o comportamento de consumir, bem como suas prováveis contingências em
atuação. Esta descrição pode ser observada no Quadro 13. Convém destacar que a descrição contida
neste quadro é uma aproximação, baseada nas descrições feitas pelos participantes do estudo nas
entrevistas. Embora as contingências em operação variem, necessariamente, de indivíduo para
indivíduo, a descrição de uma classe de comportamentos representativa das práticas culturais
relacionadas a consumo, presentes no universo de onde foram retirados os participantes do estudo,
parece justificar-se. É relevante considerar, ainda, que, ao propor um possível programa de capacitação
para o consumo, a ser implementado em grupos cooperativos, esta descrição não deve ser
compreendida senão como um ponto de partida, que deverá, então, ser revisto, adequado para a
população específica e sujeito à experimentação.
47
Quadro 13. Descrição do comportamento “Consumir itens básicos adquiridos em lugares que oferecem menor preço e/ou proximidade geográfica”, identificado e descrito a partir da análise do perfil de consumo dos sócios da cooperativa de prestação de serviços.
Diante de... (classe de estímulos antecedentes)
Ação (classe de respostas)
Resultado, efeito, produto (classe de estímulos
subseqüentes) ► necessidades básicas de consumo.
Com quê?
► recursos disponíveis para obtenção dos produtos (dinheiro como fundamental; acesso; forma de pagamento).
Levando em conta... ► qualidade do atendimento no ato da compra (para poucos participantes); ► critérios para diferenciar itens necessários e supérfluos; ► conhecimento (parcial, para parte dos participantes) sobre conservação ambiental: pós-uso, reciclagem; ► possibilidades de ganhos adicionais com, ou usos subseqüentes de resíduos a partir do consumo de produtos; ► existência de sistemática, formal ou informal, de captação de resíduos na região do domicílio.
Consumir itens básicos,
adquiridos em lugares que
oferecem menor preço
e/ou proximidades
geográfica.
► necessidades básicas atendidas; ► menor gasto possível de recursos próprios; ► priorizados estabelecimentos de maior porte que podem oferecer um espectro maior de produtos em um único local; ► benefícios para alguns segmentos excluídos (para si próprio, familiares ou terceiros), pela obtenção de renda na venda de resíduos recicláveis; ► resíduos encaminhados da maneira mais eficiente possível.
Na sistematização dos dados sobre as práticas de consumo da cooperativa de prestação de
serviços foi observado que, em geral, os participantes consideram como necessários os produtos que
suprem necessidades básicas de alimentação, principalmente (com itens rotineiros como arroz, açúcar,
frango, macarrão, sal, e óleo), e de higiene pessoal (com itens como sabonete e sabão). Como itens
supérfluos aparecem, primordialmente, itens de alimentação (guloseimas ou industrializados que
podem ser preparados em casa a custo mais baixo). Quanto aos resíduos encaminhados, a separação ou
não para reciclagem ou reaproveitamento parece estar relacionada à disponibilidade das instituições ou
pessoas que comumente recolhem estes resíduos, bem como a possibilidade de lucro na venda dos
mesmos (para si, para conhecidos ou terceiros).
No caso específico desta cooperativa, existe um convênio com um estabelecimento comercial.
Este convênio oferece a possibilidade de compra sem o pagamento imediato, que então é feito, pela
diretoria do empreendimento, com recurso oriundo de desconto no total que o sócio recebe por seu
trabalho na cooperativa. Esta condição de pagamento atua como contingência para os sócios da
cooperativa em dois aspectos: em um primeiro momento, leva as pessoas a comprarem neste
estabelecimento, já que é possível adquirir bens sem disponibilização imediata de recursos; também,
este sistema limita o acesso a outros estabelecimentos, no caso de uma parcela significativa destes
cooperados que, ao assumir débito com o estabelecimento conveniado, mobilizam seus recursos para o
pagamento de dívidas anteriores e só podem, então, realizar compras sem o pagamento imediato (o que
48
faz com eles só possam adquirir produtos neste estabelecimento). Sob este aspecto, é possível
caracterizar a segunda situação como um sistema econômico fechado, nos termos relatados por
Oliveira-Castro e Foxall (2005), determinado pela condição de que só é possível conseguir os bens
essenciais em uma única fonte. Experimentos, em Análise do Comportamento, têm demonstrado que
esta situação (de sistema econômico fechado) gera padrões de resposta bem diferentes do que em um
sistema econômico aberto (caso em que o sujeito experimental tem acesso a comida, por exemplo, fora
das sessões experimentais). Em sistemas econômicos abertos, “as curvas de demanda são elásticas, isto
é, as funções relacionando taxas de respostas com aumentos no preço apresentam inclinações
negativas”, o que significa uma queda no consumo na medida em que o preço (ou custo da resposta)
aumenta. Em sistemas econômicos fechados “as curvas de demanda são inelásticas”, ou seja, o
aumento do custo de resposta (ou preço) ocasiona um aumento do consumo ou taxa de respostas
(OLIVEIRA-CASTRO & FOXALL, 2005). Ao aplicar esta análise à relação estabelecida pelo débito
(por convênio) ao supermercado, no caso desta cooperativa, é possível inferir que preços altos, baixa
qualidade ou outros fatores, que poderiam ocasionar mudanças de local de compra (ou mesmo dar
mais condições para uma organização para o consumo – em termos de compras coletivas, por
exemplo), não se relacionam a estas mudanças por se tratar, entre outras condições, de um sistema
econômico fechado.
CONCLUSÕES Os dados levantados acerca das práticas de consumo da cooperativa de prestação de serviços de
São Carlos servirão como base para sua organização para o consumo. A análise dos dados obtidos
pelos relatos em entrevista permitiu inferir um comportamento de consumir, possivelmente em vigor
nesta população. Enquanto que, de um modo geral, esta população está sob controle de preços baixos,
proximidade geográfica e formas de pagamento facilitadas, por exemplo, a necessidade de aumentar o
poder de compra da mesma e orientá-la para um consumo que ajude a sustentá-la e a outros
empreendimentos similares torna-se evidente. A organização para o consumo, na forma de compras
coletivas, como demanda da cooperativa em questão, possivelmente só venha a ser implementada com
sucesso depois de um programa de capacitação para o consumo que envolva a aprendizagem dos
critérios relacionados a um consumo ético, responsável e solidário. A análise dos objetivos do grupo
ConsumoSol, em termos de descrições e análises de comportamentos, permitiu um avanço na
compreensão de quais ações são necessárias para o fomento a grupos deste tipo bem como seu
funcionamento adequado. Também será possível, por meio desta nova formulação de objetivos,
propiciar regras comportamentais para os membros do ConsumoSol, o que provavelmente favorecerá o
bom funcionamento do grupo, bem como basear um possível programa de capacitação para o
consumo.
49
REFERÊNCIAS ANDERY, M. A. P. A. (1990) Uma tentativa de (re) construção do mundo: a ciência do
comportamento como ferramenta de intervenção. Tese (Doutorado em Psicologia Social) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.
ARAVENA, V.; HERRERA, V.; POBLETE, P.; VERA, D. (2005) Consumo Patológico: Compra Impulsiva y Compulsiva. Disponível em: <http://inpsicon.com/estudios_realizados/espanol/Aravena_ Esp_04052007.pdf>. Acesso em: 20 Mar 2008.
BOTOMÉ, S. P. (1981) Objetivos de Ensino, necessidades sociais e tecnologia educacional. Tese de Doutorado apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
CONSUMOSOL (2007) Objetivos do grupo ConsumoSol - Articulação Ética e Solidária para um consumo responsável. Disponível em: <http://www.ufscar.br/consusol/objetivos.htm>. Acesso em: 20 Jul 2007.
CONSUMOSOL (2008), Articulação Ética e Solidária para um Consumo Responsável – ConsumoSol. Disponível em: <http://www.ufscar.br/consusol>. Acesso em: 25 Mar 2008.
CORTEGOSO, A. L. (2006) Comportamentos de indivíduos e práticas culturais: em busca de um consumo ético, responsável e solidário. In: GUILHARDI, H. J.; AGUIRRE, N. C. de. (orgs.). Sobre comportamento e cognição. 1 ed. Santo André: ESETec Editores Associados, 2006, 17, p. 23-33.
CORTEGOSO, A. L. (2007) Identificação e descrição de relações comportamentais em Economia Solidária. In: Psicologia Ciência e Profissão, 27, 2, pp. 246-265.
CORTEGOSO, A. L.; SHIMBO, I. (2005) Empreendimentos solidários, universidades, movimentos sociais e gestores públicos: articulação de esforços na promoção da Economia Solidária no Brasil de hoje. Trabalho apresentado na 2a. Jornada Universitaria sobre Cooperativismo, Economía Solidaria y Procesos Asociativos, Montevidéo, Uruguai.
CORTEGOSO, A. L., UEHARA, M. S., LOGAREZZI, A.; RAMIREZ, E. S. (2006) Promoção de práticas de consumo como parte da construção da Economia Solidária. Trabalho apresentando no II Seminário Acadêmico do PROCOAS/AUGM. Universidade Nacional de Rosário, Rosário, Ar.
De-FARIAS, A. K. C. R. (2005), Comportamento Social: Cooperação, Competição e Trabalho Individual. In: Análise do Comportamento: pesquisa, teoria e aplicação. ABREU-RODRIGUES, J.; RIBEIRO, M. R. (orgs.), Porto Alegre, RS: Artmed, 2005.
De JESUS, P., TIRIBA, L. (2003), Cooperação. In: A Outra Economia. CATTANI, A.D. (org.), Veraz Editores.
FRANCHINI, V. A. C. (2003); Procedimento para elaboração de um código de condutas cooperativo em cooperativas populares de trabalho em incubação. Monografia de bacharelado. Curso de Graduação em Psicologia da Universidade Federal de São Carlos.
FRETELL, A.C., ROCA, H.O. (2003), Comércio justo. In: A Outra Economia. CATTANI, A.D. (org.), Veraz Editores.
FURNIVAL, A.C. (2006), Dimensões culturais do consumo: reflexões para pensar sobre o consumo sustentável. In: Consumo e Resíduo – Fundamentos para o trabalho educativo. CINQUETTI, H.C.S., LOGAREZI, A. (orgs.), EdUFSCar.
GLENN, S.S. (1986) Metacontingências em Walden Dois. In: TODOROV, J.C., MARTONE, R.C., MOREIRA, M.B. (orgs.) (2005) Metacontingências: comportamentos, cultura e sociedade. 1ªed. Santo André: ESETEc.
50
GLENN, S. S. (1991) Contingencies and metacontingencies: relations among behavioral, cultural, and biological evolution. In: Behavioral analysis of societies and cultural practices, LAMAL, P.A. (org.). New York, NY, Hemisphere, p. 39-73.
GLENN, S.S. (2004) Individual Behavior, Culture, and Social Change. In: Behavior Analyst, 27(2) pp.133-151.
GUERIN, B. (1994) Analyzing social behavior: Behavior analysis and the social sciences. Reno, NV: Context Press.
HUNT, E. K.; SHERMAN, H. J. (1977) História do Pensamento Econômico. Petrópolis, RJ: Vozes, 20ª ed., 2001.
INCOOP (2007), Projeto Proninc - Ampliando e articulando iniciativas de Economia Solidária para desenvolvimento local em territórios urbanos e rurais.
LAMAL, P.A. (1991) (org.). Behavioral analysis of societies and cultural practices. New York, NY, Hemisphere.
LEAL, M. A. P. (2008) El consumo responsable uma nueva prática a implementar en el mundo. Disponível em <http://www.inpsicon.com/elconsumidor/archivos/Consumo_responsable_nueva_practi ca.pdf>. Acesso em: 20 Mar 2008.
LEME, M. C. C. (2005) Avaliação dos impactos da organização de pessoas para o consumo ético e solidário caso município de São Carlos. Monografia de bacharelado. Curso de Graduação em Psicologia da Universidade Federal de São Carlos.
MANCE, E. A. (2002), Redes de Cooperação Solidária – Aspectos econômico-filosóficos: complexidade e libertação. Editora Vozes.
MANCE, E. A. (2003), Consumo solidário. In: A Outra Economia. CATTANI, A.D. (org.), Veraz Editores.
OLIVEIRA-CASTRO, J. M.; FOXALL, G. R. (2005), Análise do Comportamento do Consumidor. In: Análise do Comportamento: pesquisa, teoria e aplicação. ABREU-RODRIGUES, J.; RIBEIRO, M. R. (orgs.), Porto Alegre, RS: Artmed, 2005.
RAKOS, R. F. (1992) Achieving the Just Society in the 21st Century – What can Skinner Contribute? In: American Psychologist. 47. pp. 1499-1506.
RECH, D. (2000) Cooperativas: uma alternativa de organização popular. Rio de Janeiro: DP&A. SICHIERI, R; CASTRO, J.F.G.; MOURA, A.S. (2007) Fatores associados ao padrão de consumo
alimentar da população brasileira urbana. In: Cad. Saúde Pública , Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2003000700006&lng=pt&nrm= iso>. Acesso em: 03 Set 2007.
SINGER, P. (2002) Introdução a Economia Solidária. São Paulo: Editora Perseu Abramo. SKINNER, B. F. (1948) Walden Two. São Paulo: EPU, 1977. SKINNER, B. F. (1953) Ciência e Comportamento Humano. (TODOROV, J.C. & AZZI, R., Trad.)
10ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. SKINNER, B.F. (1989) Questões recentes na análise comportamental (NERI, A.L., Trad.) 2ªed.
Campinas: Papirus, 1995. TODOROV, J. C.; MARTONE, R. C. E.; MOREIRA, M. B. (2005) (orgs.), Metacontingências:
comportamento, cultura e sociedade. Santo André, SP: ESETec. VASCONCELLOS, M. A. D. de (2000) Economia: micro e macro: teoria e exercícios, glossário com
os 260 principais conceitos econômicos. São Paulo, SP: Atlas, 2ª ed., 2001. WINETT, R. A.; KRAMER, K. D.; WALKER, W. B.; MALONE, S. W.; LANE, M. K. (1988)
Modifying food purchases in supermarkets with modeling, feedback, and goal-setting procedures. In: Journal of Applied Behavior Analysis. 21. pp.73-80.
Top Related