DENTINHOPARA ENCHER O COFRE
CORINTIANO, ELE VAI SAIR
PÔSTERA EVOLUÇÃO
DO FUTEBOL:A BOLA
OS MACETESDA EVASÃO
DE RENDAROGÉRIO
CENIFÁBIO, DOCRUZEIROGRAFITE
TAISONPARREIRA
FÁBIO COSTAALEX, DOCHELSEA
9 7 7 0 1 0 4 1 7 6 0 0 0
0 1 3 3 0>
E D 1 3 3 0 • M A I O 2 0 0 9 • R$ 10,00
SMS:
PLA
CAR
PAR
A:
2274
5
O FENÔMENOMOSTROU QUE DÁPARA JOGAR NOBRASIL, GANHARBEM E AINDACURTIR A VIDA.SAIBA QUEM MAISQUER VOLTAR...
ELESQUEREMSER RONALDO
PL1330 CAPA ELES SPRJ MAI09b.indd 1PL1330 CAPA ELES SPRJ MAI09b.indd 1 4/21/09 5:15:02 AM4/21/09 5:15:02 AM
maio 2009
E D I Ç Ã O 1 3 3 0
© 1 E U G Ê N I O S Á V I O © 2 E D I S O N VA R A © 3 R E N ATO P I Z Z U T TO
✚ S E M P R E N A P L A C A R
8 VOZ DA GALERA
10 TIRA-TEIMA
12 PLACAR NA REDE
14 IMAGENS
22 AQUECIMENTO
36 MEU TIME DOS SONHOS
38 MILTON NEVES
83 PLANETA BOLA
93 CHUTEIRA DE OURO
94 BATE-BOLA: ALEX, DO CHELSEA
96 BATE-BOLA: CARLOS ALBERTO PARREIRA
98 MORTOS-VIVOS
k★ D E S T A Q U E S
42 Efeito RonaldoAdriano e companhia miram-se no Fenômeno e querem voltar ao Brasil
50 Evolução do futebolA transformação das bolas, de forma ilustrada, em novo capítulo da série
53 Penetras liberadosOs macetes de um problema quase insolúvel: a evasão de renda
58 Não olhe para trásFábio, do Cruzeiro, virou gigante após o maior frango de sua vida
66 Menino prodígioO garoto Taison rouba a cena no centenário e vencedor Internacional
72 O predadorOs dois lados de Fábio Costa: o milagreiro e o encrenqueiro
78 Segunda dentiçãoDentinho ensaia o adeus depois de ter devolvido o Corinthians à elite
6 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9
© 1
© 3
78
42 58
66
© 2
PL1330 SUMA+EDIT2.indd 6 4/20/09 7:33:51 PM
M E T A O P A U , E L O G I E , F A Ç A O Q U E Q U I S E R . M A S E S C R E V A . . .
“Li “As duas faces
de Ronaldo”. Nada
surpreende. A mídia
o colocou como
semideus. Ele nunca
esteve preparado
para a fama.Edson Varon, por e-mail
O Leão rugeConfesso que fiquei muito honrado e
feliz ao saber que na edição de abril
sairia uma matéria especial sobre o
Sport. Mas fiquei decepcionado ao ler
o tópico “As armadilhas da Ilha”. Essa
prática (de soltar fogos perto do hotel
do visitante) também se repete em
todo o país pelas torcidas. Todos
os adversários que vêm nunca
reclamaram da nossa estrutura.
Bruno Batista, Recife (PE)
Caro Bruno. A matéria era sobre a festa e
a ótima estreia do Sport na Libertadores.
As informações do “As armadilhas da
Ilha” foram colhidas com clubes como
Corinthians, Inter e Vasco, que passaram
recentemente por Recife. Como sempre,
Placar ouviu os dois lados. A defesa
do Sport foi publicada em cada item.
vozdagalera
★ F A L E C O M A G E N T E
NA INTERNET www.placar.com.br ATENDIMENTO AO LEITOR | POR CARTA: Av. das Nações Unidas, 7 221, 7º andar, CEP 05425-902, São Paulo
(SP) | POR E-MAIL: p lacar.abri [email protected] | POR FAX: (11) 3037-5597. As car tas podem ser editadas por razões de espaço ou clareza. Não
publ icamos car tas, faxes ou e-mai ls enviados sem identif icação do leitor (nome completo, endereço ou telefone para contato). Não atendemos
pedidos de envio de pesquisas par t iculares sobre história do futebol, de camisas de clubes ou outros brindes. Não fornecemos telefones nem
endereços pessoais de jogadores. Não publ icamos fotos enviadas por leitores. EDIÇÕES ANTERIORES Venda exclusiva em bancas, pelo preço da
últ ima edição em banca acrescido da despesa de remessa. Sol icite ao seu jornaleiro. LICENCIAMENTO DE CONTEÚDO Para adquir ir os direitos
de reprodução de textos e imagens das publ icações da revista Placar em l ivros, jornais, revistas e sites, acesse www.conteudoexpresso.com.
br ou l igue para (11) 3089-8853. TRABALHE CONOSCO www.abri l .com.br/trabalheconosco
✖ E R R A T A S
EDIÇÃO DE ABRIL
■ Na pág. 34 da edição de abril, há uma
incorreção. A Wolff Sports & Marketing não
comercializou o patrocínio no uniforme
do Corinthians no jogo contra o Palmeiras.
A empresa intermediou a comercialização
do patrocínio da Locaweb para o time
na partida Corinthians x Estudiantes.
■ Diferentemente do que foi publicado
na página 88, o “floorball” não é praticado
com patins, e sim com tênis.
Sacanagem, pô!Sacanagem essa reportagem sobre o
Ronaldo bem na reta final do Paulista.
Seria interessante deixar o Ronaldo um
pouco de lado e falar da competição.
Carlos Alberto Ignacio de Oliveira,
TardelliDevorei em minutos a matéria sobre o
Tardelli. Muito bem escrita, com muitas
informações e detalhes interessantes.
Rosa Santos, [email protected]
Alma castelhanaAcho que o Grêmio e os gremistas não
querem ser argentinos, como sugere a
reportagem “Están locos?”. Os gaúchos
têm em seu DNA muito da cultura
platina. Isso parece não ser levado
em conta para quem nasce fora da
região Sul. Aliás, é até compreensível
essa forma de pensar num país que
faz de tudo para mostrar no exterior
que o Brasil é só Carnaval, Samba
e Floresta Amazônica.
Luciano Duarte de Melo,
E o Robinho Arantes?Cada vez mais me surpreendo com a
cara de pau do jornalista Milton Neves.
Ele teve a petulância de dizer para
deixarem de secar o Neymar e pararem
de fazer comparações dele com Pelé
ou Robinho. Mas, quando o Robinho
surgiu, ele o chamava de Robinho
Arantes do Nascimento...
Daniel Collyer, Rio de Janeiro (RJ)
8 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9
PL1330 CARTAS&TT.indd 8 4/20/09 8:15:15 PM
PESQUISA PLACAR
GALLUP 1971
SÃO PAULO
CORINTHIANS 29%
PALMEIRAS 17%
SÃO PAULO 15%
SANTOS 9%
RIO DE JANEIRO
FLAMENGO 35%
VASCO 18%
FLUMINENSE 16%
BOTAFOGO 14%
PORTO ALEGRE
INTERNACIONAL 47%
GRÊMIO 44%
BELO HORIZONTE
ATLÉTICO 43%
CRUZEIRO 42%
PESQUISA PLACAR
GALLUP 1983
FLAMENGO 31%
CORINTHIANS 17%
PALMEIRAS 9%
VASCO 9%
SANTOS 7%
ATLÉTICO 7%
SÃO PAULO 6%
BOTAFOGO 5%
CRUZEIRO 5%
BAHIA 5%
GRÊMIO 5%
FLUMINENSE 4%
INTERNACIONAL 4%
Sou torcedor do Sport e tenho um amigo tricolor que insiste em um tal título do Santa Cruz chamado Fita Azul. Segundo ele, trata-se do único título internacional de um time do Nordeste. Favor esclarecer melhor esse torneio — além de dizer que ele não vale nada...Marconi Maciel, Caruaru (PE)
k Seu amigo tricolor está certo,
Marconi, ao menos em relação
à existência do título. O Santa ganhou a
Fita Azul, mas na verdade tratava-se de
um título honorário concedido pela CBD
(posteriormente pela Gazeta Esportiva)
aos clubes que permanecessem
invictos em excursões ao exterior.
Portuguesa de Desportos (11 jogos em
1951), Portuguesa Santista (15 jogos
em 1959) e Coritiba (6 jogos em 1972)
também receberam o título. Em 1979,
o Santa jogou 12 partidas no Oriente
Médio e Europa. Venceu dez e empatou
Quais eram as dez maiores torcidas do Brasil em 1970? Luiz Henrique C. da Silva, Rio de Janeiro (RJ)
k É difícil precisar esse ranking, Luiz, mas dá para oferecer uma ideia
das torcidas brasileiras em 1971. Foi quando Placar publicou sua primeira pesquisa, realizada pelo Instituto Gallup de Opinião Pública. Foram ouvidos torcedores nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre, mas os resultados foram divididos por estado. A primeira pesquisa nacional da Placar, também feita pelo Gallup, foi realizada em 1983. Na parte de cima do ranking não há muitas novidades; Flamengo e Corinthians já eram as maiores. Mas nota-se, por exemplo, o crescimento da torcida do São Paulo e a decadência da do Bahia.
A S D Ú V I D A S M A I S C A B E L U D A S R E S P O N D I D A S P E L A P L A C A R
tirateima
© 1 F O T O N I C O E S T E V E S © 2 F O T O A L E X A N D R E B A T T I B U G L I
© 1
Givanildo era parte do elenco que voltou invicto do Oriente Médio e da Europa e recebeu a Fita Azul
Edição de 31/12/1971, que trouxe a primeira pesquisa Placar de torcidas
OS JOGOS DO SANTA CRUZ
1/3 SANTA CRUZ 5 X 1 SELEÇÃO DO KUWAIT
6/3 SANTA CRUZ 1 X 1 SELEÇÃO DO KUWAIT
8/3 SANTA CRUZ 3 X 0 SELEÇÃO DO BAHREIN
11/3 SANTA CRUZ 4 X 0 SELEÇÃO DO CATAR
13/3 SANTA CRUZ 4 X 1 SELEÇÃO DO CATAR
14/3 SANTA CRUZ 2 X 1 SELEÇÃO DE DUBAI
17/3 SANTA CRUZ 3 X 0 SELEÇÃO DE ABU-DABHI
18/3 SANTA CRUZ 3 X 0 AL-AIM
20/3 SANTA CRUZ 6 X 2 NASSER ESPORT CLUB
23/3 SANTA CRUZ 3 X 0 ALHLAL, DA ARÁBIA SAUDITA
30/3 SANTA CRUZ 4 X 2 SELEÇÃO DA ROMÊNIA
1/4 SANTA CRUZ 2 X 2 PARIS SAINT-GERMAIN
O ELENCO DO SANTA CRUZ
GOLEIROS: JOEL MENDES E CLÁUDIO
LATERAIS: CARLOS ALBERTO BARBOSA,
VACIL E PEDRINHO
ZAGUEIROS: ALFREDO SANTOS E PARANHOS
MEIO-CAMPISTAS: GIVANILDO, DEINHA, JADIR,
BETINHO E GONÇALVES
ATACANTES: VOLNEY, NEINHA,
ZÉ ROBERTO E LULA
TÉCNICO: EVARISTO DE MACÊDO
duas, tendo vencido inclusive a seleção
do Kuwait, treinada por Carlos Alberto
Parreira. Agora, daí a considerar
a Fita Azul efetivamente um título
internacional, são outros quinhentos...
ZEIRO 42% de torcidas
10 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9
PL1330 CARTAS&TT.indd 10 4/20/09 7:35:08 PM
placarNaredeO V E R D O S E D E F U T E B O L E M W W W . P L A C A R . C O M . B R
12 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9
Acabou a brincadeira: a Placar agora tem um bolão.
Enfim, uma grande oportunidade de você tirar um sarro
dos seus amigos e provar que realmente entende de futebol.
Em um aplicativo do Bolão Placar no Orkut estarão
disponíveis para apostas todos os principais torneios
de futebol do Brasil e do mundo. Para completar, os
cinco melhores colocados no ranking no fim do mês
terão seus nomes devidamente divulgados na revista.
Não perca tempo, entre na disputa.
Bolão Placar
FICHAS
Agora você pode
acompanhar o
desempenho
individual de todos
os jogadores durante
o Brasileiro. Isso
porque o novo site
da Bola de Prata
traz uma ficha
personalizada de
cada atleta, na qual
é possível comparar,
em gráficos,
jogadores, clubes e
os melhores em cada
posição. Também é
possível acompanhar
o retrospecto de
cada jogador em
anos anteriores.
BANCO
Um arquivo completo com todos os jogadores
que disputaram o Brasileiro desde 2003.
Para as edições anteriores, Placar também
disponibiliza um campinho com os premiados
em suas respectivas posições desde 1970.
NOVO SITE BOLA DE PRATAPrêmio de maior credibilidade no futebol brasileiro,
a Bola de Prata ganhou um site só seu. Confira
o desempenho dos atletas e dos clubes durante
o Campeonato Brasileiro, rodada a rodada.
NOVIDADES
O que já era bom ficou melhor. O novo site da
Bola de Prata agora terá vídeos com os gols
da rodada, podcasts com análises das notas
dos jogadores, sobe-e-desce, enquetes,
além do Bola de Prata pelo celular.
PL1329 SITE.indd 12 4/20/09 8:15:45 PM
14 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9 M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR | 15
imagensimagens
Dores do
crescimentoNo jogo de ida das quartas-de-final da Champions
League, contra o Chelsea, “El Niño” Fernando Torres
começou como um gigante, marcando um gol logo
aos 5 minutos. Mas o Liverpool permitiu a virada,
perdeu a partida por 3 x 1 e a vaga nas semifinais
no jogo seguinte, um épico 4 x 4
F O T O P A U L E L L I S / A F P
PL1330 IMAGENS.indd 14-15 4/20/09 8:21:11 PM
16 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9 M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR | 17
imagens
Telefone
sem fioA mensagem deveria ser clara: contra o Santos,
no Palestra Itália, só a vitória deixaria o Palmeiras
vivo no Paulistão. Mas o time de Luxemburgo
e Marcos não se entendeu em campo e deu adeus
ao sonho do bicampeonato
F O T O R E N A T O P I Z Z U T T O
PL1330 IMAGENS.indd 16-17 4/20/09 8:21:51 PM
18 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9 M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR | 19
imagens
Quero-quero driblar Na partida contra o Paranavaí, no Couto Pereira,
Carlinhos Paraíba parece combinar um drible de
corpo com um quero-quero, frequentador assíduo de
nossos gramados. A parceria deu certo: vitória dos
donos da casa por 3 x 0
F O T O R O D O L F O B U H R E R
PL1330 IMAGENS.indd 18-19 4/20/09 8:22:19 PM
22 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9 M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR | 23
aquecimento
k
I M A G E N S , N O T Í C I A S E C U R I O S I D A D E S D O F U T E B O L
E D I Ç Ã O R I C A R D O P E R R O N E D E S I G N L . E . R A T T O
Se pudesse, Rogério Ceni riscaria o mês de abril da folhi-
nha. No dia 5, falhou nos dois gols do São Caetano. No dia
9, calculou mal uma bola alta e entrou com bola e tudo na
partida contra o Defensor pela Libertadores. No dia 12,
quase engoliu dois frangos contra o Corinthians na semifi -
nal do Paulistão. Nos descontos, tomou um gol de fora da
área num lance em que poderia estar mais bem posiciona-
do. Um dia depois, em um treino recreativo, fraturou o tor-
nozelo. De quatro a seis meses longe dos gramados.
No fundo, talvez Rogério preferisse riscar o ano todo de
2009 de sua vida. Ele não marcou um único gol (uma rari-
dade), já tinha falhado feio em um jogo contra o Braganti-
no, já tinha sofrido uma lesão muscular importante. O ano
de 2009 só não foi para o vinagre por uma razão: na tarde
de 4 de fevereiro, mesmo dia do peru contra o Bragantino
e do problema muscular, Ceni renovou contrato com o clu-
be. Uma demonstração de carinho e confi ança incomuns
nos dias de hoje. O São Paulo decidiu renovar com um go-
leiro veterano por longos quatro anos. Com 36 anos nas
costas, Rogério está garantido no clube até 2012, quando
completará 40. Nem TV Mitsubishi tem tanta garantia.
A renovação de contrato coincidiu com a pior fase de sua
carreira. E cada uma dessas falhas coincidiu também com
uma explosão de alegria. Os torcedores rivais soltaram fo-
guetes. Corintianos, palmeirenses e santistas odeiam Ceni.
Dizem que ele é arrogante, marqueteiro, falso e enganador.
Um anticristo. Quase comemoraram sua fratura. Os que
não tiveram coragem de dizer isso abertamente duvidaram
da contusão. Disseram que o raio X era falso, que ele simula
lesões sempre que começa a falhar. Dá para acreditar?
Seria de supor que uma fi gura tão abjeta assim desper-
tasse os piores instintos no mundo do futebol. Mas não é o
que acontece. Placar conversa diariamente com jogadores,
técnicos e dirigentes. A opinião sobre Ceni é quase unâni-
me. Ele é admirado. Os jogadores do São Paulo o enxergam
como verdadeiro líder. Aquele que estuda os adversários,
enche a bola dos colegas, briga pelas premiações. Os adver-
sários o respeitam pelas mesmas razões. Alguém já viu um
atacante chutar Rogério numa dividida? Quando alguém
esbarra nele, é um tal de pedir desculpas e salamaleques...
Como um sujeito assim desperta tanto ódio nos torcedo-
res rivais? Talvez Rogério seja exatamente aquilo que mais
incomoda o brasileiro. Seu sucesso não vem de um dom es-
pecial. Rogério não venceu pela bênção do talento, mas
pelo trabalho. Há goleiros com mais refl exos, mas Ceni so-
bressaiu pelo conjunto da obra. É econômico nos gestos
e tem foco no resultado. Não se verá Rogério dando pontes
inúteis para sair na foto. Ele irá preferir esperar em pé a
bola que talvez volte da trave. Romário, Robinho, Ronaldo e
outros bafejados pelo talento são muito mais “Brasil” do
que ele. Carregam a descontração do craque que se huma-
niza com os atrasos, sumiços ou noitadas. Sem a genialida-
de dos outros, Rogério vive só de seu trabalho. Quem sabe
não seja essa efi ciência que desperta o ódio dos rivais?
O anticristoPor que Rogério Ceni é tão admirado no meio do futebol
e tão odiado pelos torcedores rivais?P O R S É R G I O X AV I E R F I L H O
© F O T O R E N A T O P I Z Z U T T O
P E R S O N A G E M D O M Ê S
Rogério Ceni e
Marcos: admirado
pelos colegas,
odiado pelas
torcidas dos rivais
PL1330 PM.indd Sec2:22-Sec2:23 4/21/09 4:29:56 AM
24 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9
aquecimento
© 4 T H I A G O B E R N A R D E S © 5 R A C
Eles deixaram o
São Paulo no azulDenílson, Júlio Baptista e Madonna garantiram dinheiropara clube não fechar 2008 com as contas no vermelho
© 1
★ L E N D A S D A B O L A
O inacreditável, o impressionante, o sobrenatural. As histórias que os gramados não contam P O R M I L T O N T R A J A N O
© 5
ÍDOLO DO ÍDOLO
“Meu ídolo de verdade
sempre foi o Ronaldo.
Quando ele surgiu no
Cruzeiro, era tão rápido
que fez com que eu
observasse seus dribles
e arrancadas. Depois o
acompanhei no PSV, no
Barcelona, na Inter, no Real
e agora no Corinthians.
Quando ele pegava na
bola, eu sabia que alguma
coisa boa ia acontecer.
MADSON
MEIA DO SANTOSÍDOLO: RONALDO, ATACANTE DO CORINTHIANS E DA SELEÇÃO NAS COPAS DE 1994, 1998, 2002 E 2006
© 1
© 6
© 1 R I C A R D O C O R R Ê A © 2 P I E R G I A V E L L I © 3 R E G I N A L D O T E I X E I R A
kMadonna, Júlio Baptista e De-
nílson evitaram que o São Pau-
lo terminasse 2008 no vermelho. Se-
gundo o diretor fi nanceiro Osvaldo
Vieira de Abreu, o clube encerrou
o ano com superávit de 2,2 milhões de
reais graças a receitas geradas pela
cantora e pelos dois jogadores.
O dirigente havia dito que o São
Paulo poderia apresentar um défi cit
de até 12 milhões de reais em suas
contas do ano passado. “Teríamos di-
reito a um bônus se o Denílson fi zesse
um determinado número de partidas
Caminho de voltaDe segunda a sexta, Casagrande enfrenta rotinaem consultórios de psicólogo e psiquiatra
como titular pelo Arsenal. E ele al-
cançou essa marca. O dinheiro entrou
no fi m do ano e nos ajudou”, afi rma
o cartola. Entraram nos cofres do Mo-
rumbi cerca de 4 milhões de reais.
Como clube formador, o Tricolor
recebeu por volta de 1,3 milhão de re-
ais com a mudança de Júlio Baptista,
que trocou o Real Madrid pela Roma.
Já os shows de Madonna renderam
2,4 milhões de reais. O prêmio pelo
título brasileiro e as últimas rendas
do Nacional também incrementaram
as receitas. R I C A R D O P E R R O N E
Casão entre Ataliba e Biro Biro; Placar revelou seu drama em 2008
Mesmo longe
do Morumbi,
Denílson e
Júlio Baptista
geraram
receita; shows
de Madonna
também
Ronaldo agora enfrenta admiradores
© 2
A esposa Luanda curte o visual de Nego
M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR | 25
© 2
© 2
© 3
© 4
© 5
kPor uma noite, em março, Ca-
sagrande interrompeu a rotina
solitária imposta por seus médicos
para ser homenageado por torcedores
do Corinthians e ex-colegas dos tem-
pos de Democracia Corintiana.
Estava assustado com a agitação
num bar da zona leste de São Paulo.
Natural para quem está saindo pouco
e tem telefonemas atendidos por pa-
rentes, que fi ltram suas amizades.
“Estou retomando o contato com
as pessoas, vendo como me recebem.
Não sofri preconceito, mas depen-
dente químico é a segunda classe que
mais sofre preconceito. A primeira é
homossexual”, diz o ex-jogador.
Em meio à algazarra, o ex-jogador
corintiano Ataliba conta que fi cou
oito meses sem ver o amigo, que há
seis meses deixou uma clínica para
dependentes químicos.
“Hoje é difícil falar com ele. Você
liga no celular, tem que falar com
o pai, com a mãe...”, diz Ataliba, antes
de ser repreendido pelo ex-lateral
Vladimir. Ele não gostou de Ataliba
dizer que espera voltar a jogar com
Casão no Veneno (time de várzea).
Enquanto o garçom serve o segundo
copo do que parece ser caipirinha, Ca-
são fala do tratamento para tentar se
livrar da cocaína. “Você quer saber
qual é minha rotina? Segunda, quarta
e sexta vou ao psicólogo. Terça e quin-
ta, ao psiquiatra”, diz ele, que come-
çou o caminho para voltar a comentar
jogos pela TV Globo parti cipando do
programa Arena SporTV. Em abril,
deixou de ir a um evento com outros
ex-jogadores por ter fi cado doente.
R I C A R D O P E R R O N E
TINTA FRESCAO lateral Nego, de 23 anos, que
disputou o Paulista pela Ponte Preta
e até o dia 20 de abril negociava
com o São Caetano, cumpre um
ritual a cada 45 dias. Pinta o cabelo
de loiro para ficar parecido com
o cantor Belo. E agradar à esposa,
Luanda Cristina da Silva.
Começou em 2005. “Em Natal (RN),
se eu deixar o cabelo preto, ninguém
me reconhece. Todo mundo me
chama de Nego Belo”, conta. Ele só
deixou de homenagear o pagodeiro
enquanto defendeu o Atlético-MG.
Afirma que a torcida pegou
em seu pé por causa do visual.
Graças à semelhança com Belo,
o jogador aplicou uma pegadinha,
sem querer, no técnico Sérgio
Soares, que treinava a Ponte.
Quando viu o lateral pela primeira
vez, ele achou que estava diante do
pagodeiro. “Foi um riso só”, diz Nego.
O jogador vira alvo de gozações
dos companheiros quando a tintura
começa a desbotar. “Eles falam
que fico parecido com o Tiririca.”
E L I A S A R E D E S J Ú N I O R
PL1330 aquecimento4.indd 24-25 4/20/09 10:31:04 PM
26 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9
aquecimento
© 1 F O T O F U T U R A P R E S S © 2 D I V U L G A Ç Ã O
*S
ITU
AÇ
ÕE
S I
ND
EF
INID
AS
AT
É 2
0/4
kDa grana ao caos. Eis a saga da
Champs, marca que é coman-
dada pela Leandrini Confecções e que
está desde 2007 no mercado. Com 19
clubes das quatro séries do Brasilei-
rão e a promessa de suprir a demanda
de uniformes com contratos vantajo-
sos, a fornecedora ampliou neste ano
seu portfólio e também seus proble-
mas. Vieram atraídos por ofertas que
variavam de 1 milhão a 6 milhões de
reais Náutico, Ponte Preta, Vitória e
Vasco. Junto com eles, as primeiras
reclamações. Jogos incompletos (o
goleiro Eduardo, do Náutico, atuou
com o uniforme antigo, com o logo da
Wilson coberto por um esparadrapo)
e quantidades insufi cientes (a Ponte
realizou cinco partidas com a mesma
roupa). Talvez o maior pecado tenha
sido enviar para a Ponte uniformes
verdes, a cor do rival Guarani, vestido
pela mesma grife.
Clube dos descamisados Fornecedora de 19 equipes das quatro séries do Brasileirão, a Champs enfrenta problemas para cumprir contratos e pode dar adeus a times maiores
A Ponte rescindiu com a marca.
“Ela abraçou vários clubes e não con-
seguiu desovar a produção”, afi rma
Márcio Della Volpe, diretor de marke-
ting do clube. Segundo ele, a Champs
entregou poucas peças para as lojas
e a camisa alusiva aos 100 jogos do go-
leiro Aranha nem sequer saiu.
O advogado da Champs, Adriano Di
Gregório, culpa a torcida ponte-
pretana pela rescisão “amigável”. “O
problema era a Champs fornecer tam-
bém para o Guarani”, afi rma. Segundo
ele, a fábrica passou por pequenos
problemas de logística, cuja fusão
com a Lupo deve equacionar. “A em-
presa cresceu muito rápido. Em breve
todos os contratos estarão regulariza-
dos”, diz. Os descontentes já deram
um ultimato. Com o Náutico, foi assi-
nado um termo de ajustamento de
conduta. Di Gregório fala até em sa-
botagem. M A R C O S S É R G I O S I L V A
COM QUE ROUPA EU VOU?
LOTTO LOTTO
UMBRO UMBRO, KAPPA
OU FILA*
CHAMPS CHAMPS*
KANXA KANXA
KAPPA FILA
NIKE NIKE
LOTTO LOTTO
REEBOK REEBOK
NIKE OLYMPIKUS
ADIDAS ADIDAS
LOTTO LOTTO
PUMA PUMA
REEBOK REEBOK
CHAMPS CHAMPS, FILA,
PENALTY OU TOPPER*
ADIDAS ADIDAS
FINTA LOTTO
UMBRO UMBRO
REEBOK REEBOK
LOTTO LOTTO
CHAMPS CHAMPS*
ATLÉTICO-MG
ATLÉTICO-PR
AVAÍ
BARUERI
BOTAFOGO
CORINTHIANS
CORITIBA
CRUZEIRO
FLAMENGO
FLUMINENSE
GOIÁS
GRÊMIO
INTER
NÁUTICO
PALMEIRAS
SANTO ANDRÉ
SANTOS
SÃO PAULO
SPORT
VITÓRIA
CLUBES ATUAL BRASILEIRÃO 2009
© 1
NÃO PERCA!
R A P R E S S © 2 D I V U L G A Ç Ã O
Camisa da Ponte com a faixa
fora de lugar
GUIA DO BRASILERÃOA partir do dia 6 de maio, começa a chegar às bancas a mais completa edição do Campeonato Brasileiro. São fotos e fichas detalhadas de 680 jogadores das séries A e B, com o tempo de contrato de cada atleta, os autógrafos e e-mails de seus ídolos, as tabelas destacáveis do campeonato... E, claro, nossos palpites sobre as chances de seu clube no Brasileirão!
PL1330 aquecimento4.indd 26 4/20/09 10:05:36 PM
kVocê vai ser árbitro de um
campeonato de videogame de
futebol. “Como assim, você pega
o joystick e controla o juiz?” Essa
é a pergunta mais comum quando co-
mento que coordenarei a equipe de
Juiz virtualSaiba como atua um árbitro oficial de videogame
arbitragem na Fifa Interactive World
Cup, o Mundial de futebol virtual.
Nesse caso, um árbitro humano cui-
da da conduta de quem está com o
controle, como o tempo gasto para fa-
zer mudanças antes de cada partida.
A eliminatória latino-americana de
2009 rolou no dia 28 de março, no
Museu do Futebol do Pacaembu. Há
etapas em todos os continentes, e os
vencedores fazem a fi nal em Barcelo-
na. Há gente que treinou duro e tam-
bém jogadores de ocasião.
Tanto que a primeira rodada mal
começa e um jogador se recusa a jo-
gar. “O meu controle não funciona
e não consigo fazer as mudanças”,
diz. Faço os testes, está tudo perfeito.
Ele havia trocado Cristiano Ronaldo
e Van der Saar de lugar no Manches-
ter United. Não sabia o que fazia.
Na fi nal, Ruben Morales, mexicano,
bateu o brasileiro Sergio Pires por 2 x 1
e tornou-se bicampeão. O dia termina
após quase 12 horas de trabalho, mas
a vontade de voltar em 2010 supera o
cansaço. D A N I E L P E R A S S O L L I
Partida de
videogame© 2
PL1330 aquecimento4.indd 27 4/20/09 10:06:19 PM
28 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9
kA imagem do volante Jairo, do
Figueirense, treinando com um
vestido rosa, que fez barulho nos meios
de comunicação, não surpreendeu di-
rigentes do Atlético-PR. Eles colecio-
nam histórias de Roberto Fernandes,
o técnico do Figueirense, que traba-
lhou no Furacão por 72 dias em 2008.
O repertório em Curitiba, segundo
os cartolas, inclui dicas de moda para
O estrategistaDirigentes do Atlético-PR têm repertório de “causos” de Roberto Fernandes, o técnico que comandou treino no Figueirense com um jogador usando vestido
aquecimento
© I L U S T R A Ç Ã O F I D O N E S T I
1Na chegada ao Atlético-PR, Roberto Fernandes exige vaga
no estacionamento coberto no CT do Caju. Nem o supercartola
Mário Celso Petraglia desfrutava de tal regalia. O treinador
teve de se contentar com uma vaga descoberta.
3Diretores e funcionários do clube preparam-se para acompanhar
um treino do time. Ficam surpresos ao serem barrados. “Se era
um treino secreto, por que o administrativo tinha de estar lá?
Eu não ia ao escritório do clube”, diz o treinador.
2A maneira como os jogadores se vestem desagrada ao
treinador. Ele comenta que os atletas parecem ter se produzido
para uma balada, e não para trabalhar. Sugere que usem camisa
social ou polo em vez de camisetas estampadas e joias.
4 Atento a tudo que ocorria no clube, Fernandes analisa
o cardápio dos atletas e constata: precisam de alimentação
com mais “sustância”. Sugere então iguarias típicas do
Nordeste, como carne-seca com macaxeira. Não é atendido.
os jogadores e a frase “Falta testostero-
na ao elenco”.
Os dirigentes também afi rmam que
ele fi cava com os louros das vitórias
e culpava os jogadores pelas derrotas.
Em entrevista à Placar, o treinador
primeiro negou a veracidade de todas
as histórias, como negou ter obrigado
Jairo a usar roupa feminina por treinar
mal. Diz que o castigo foi escolhido pe-
los jogadores. Depois, afi rmou que as
perguntas “eram questões internas”,
então não falaria sobre elas. Mas admi-
tiu um dos casos e disse ter sido duro
com os jogadores em certas ocasiões.
Por fi m, acusou os dirigentes de tentar
denegrir sua imagem. “Querem me fa-
zer de palhaço. Não vou aceitar”, re-
trucou, encerrando a conversa por te-
lefone. A L T A I R S A N T O S
A DIRETORIA JURA QUE ACONTECEU
PL1330 aquecimento4.indd 28 4/20/09 10:24:23 PM
30 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9
DONO DO COXA? O Conselheiro do Coritiba Sedu
Protágio Branco Júnior tenta desde
2007, no Instituto Nacional de
Propriedade Industrial, tomar posse
da marca Coxa. E trava uma batalha
com o clube. Veja o que ele diz.
A marca coxa-branca já não
é de domínio público?
Talvez o INPI entenda como domínio
público. Eu acredito que não, pois
o Palmeiras registrou a marca Porco
e o Flamengo fez o mesmo com
o Urubu. O que eu quero é zelar
pela reputação da marca.
Se o senhor ganhar, vai proibir a
torcida de gritar “Coxa” no estádio?
Quem falou isso é mal-intencionado.
Querem jogar a torcida contra mim.
O senhor sabe como surgiu
o apelido Coxa-Branca?
Dizem que foi cunhado pelo Jofre
Cabral e Silva (ex-presidente do
Atlético) no primeiro Atletiba de 1941.
Havia um zagueiro nosso alemão
e o Jofre o xingou do alambrado: “Vai
embora, coxa-branca!” A expressão
tornou-se popular.
O senhor é Coxa ou atleticano?
Eu sou sócio remido do Coritiba
desde 1967. Colaborei para construir
o estádio, fui gandula do clube e já
pertenci às torcidas organizadas.
A L T A I R S A N T O S
Remo e Paysandu completaram 700 confrontos em abril; duelo paraense supera os outros dérbis do país
kNão há lugar no Brasil em que
dois clubes rivais tenham se
enfrentado mais vezes quanto no
Pará. Remo e Paysandu completaram
em abril 700 partidas disputadas.
É um número muito maior que o de
qualquer outro dérbi nacional. Quem
chega mais perto são Maranhão
e Sampaio Corrêa, com 594 confron-
tos. As contas do Re-Pa cresceram re-
centemente. O jornalista e historiador
Ferreira da Costa, autor do livro
A História do Clássico Remo e Paysan-
du, “descobriu” quatro jogos que não
constavam da estatística. “Nesses últi-
mos seis anos, encontrei embasamen-
to para mudar os números”, afi rma. O
primeiro Re-Pa foi em 10 de junho de
1914, nove anos depois do primeiro
Botafogo x Fluminense, considerado
o clássico mais antigo do Brasil. O que
fez a diferença a favor do “Clássico
Rei da Amazônia” foi a quantidade de
torneios curtos e jogos amistosos. Em
1967, por exemplo, Remo e Paysandu
fi caram frente à frente 17 vezes. “Para
qualquer grande contratação de um
dos clubes, tinha de haver um Re-Pa
para apresentá-la”, afirma Quarenti-
nha, o maior jogador da história do
Paysandu — ninguém jogou tantos
clássicos paraenses quanto ele: 135.
“Os duelos entre os dois são sempre
de muita emoção.” L E O N A R D O A Q U I N O
© 2
CINCO RE-PA’S HISTÓRICOS A MAIOR GOLEADA
PAYSANDU 7 X 0 REMO (22/7/1945)Seis dos sete gols foram marcados
só no segundo tempo.
VIRADA EMOCIONANTE
PAYSANDU 3 X 2 REMO (13/10/1971)O Papão empatou aos 35 minutos do 2º tempo
e virou o jogo a 3 minutos do fim da prorrogação
O MAIOR PÚBLICO
REMO 1 X 1 PAYSANDU (29/4/1979)64 000 torcedores no Mangueirão para ver
a estreia de Dadá Maravilha no Paysandu
O TABU
REMO 3 X 1 PAYSANDU (7/5/1997)Entre 1993 e 1997, o Remo passou 33 jogos
sem perder. No último jogo da escrita, o Leão
venceu sem técnico, dirigido pelo zagueiro
Belterra e pelo volante Agnaldo
O RE-PA DO SÉCULO
REMO 3 X 2 PAYSANDU (12/11/2000)Os dois rivais decidiram o terceiro lugar
do módulo amarelo da Copa João Havelange
e uma vaga nas oitavas-de-final da competição,
além do acesso à elite do futebol brasileiro
Clássico do Pará ostenta recorde
M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR | 31
Apelido dado pela torcida vira alvo de disputa
© 4
© 6
aquecimento
P O R E N R I Q U E A Z N A R
★ O H O M E M M A I S I R A D O D A C I D A D E
Não suporto mais o luto no futebol. Com todo o respeito aos mortos, ninguém
precisa aguentar essas tarjas pretas coladas, sabe-se lá como, nas mangas
das camisas. O que tem de comentarista confundindo jogador de luto com
capitão... No segundo tempo, tem uns quatro enlutados e o resto de uniforme
limpo. Uma zona só. De uma hora para outra, resolveram homenagear todos os
conselheiros mortos. Pô. É quase todo mundo velhinho! Morre um por semana,
sério. Conseguiram vulgarizar os defuntos. Respeito aos mortos! É o mínimo.
kDe onde vem o Íbis? O Pássaro
Preto — ou Fábrica de Artilhei-
ros (dos adversários, claro) — nasceu
no bairro de Santo Amaro das Salinas,
em Recife, e migrou para Olinda, Pau-
lista, Tracunhaém, Camaragibe, Goia-
na, Timbaúba e Bonito antes de fi car
sem lar e sem lugar no Pernambucano
da segunda divisão deste ano. Tentou a
cidade de Carpina em vão: o prazo
para defi nir o local de mando dos jogos
já terminara. A trajetória do primeiro
campeonato perdido por W.O. nos 70
anos do Íbis encerra O Voo do Pássaro
Preto, livro assinado por Israel Leal. O
jornalista pesquisou o rubro-negro e
descobriu histórias além das “menti-
ras” contadas por aquele que se diz “O
Pior do Mundo” (o retrospecto contra
os grandes do estado inclui goleadas
a favor, como o 5 x 3 contra o Náutico
em 1948). Viu um clube sem bolas,
água ou dinheiro para o ônibus. “Ven-
cer desse jeito é difícil”, diz o alemão
Kai Franz, coordenador técnico em
2008, talvez não entendendo que
a missão é justamente esta: perder
sempre. M A R C O S S É R G I O S I L V A
É duro ser o piorLivro sobre a história do Íbis registra penúria do clube e até inesperadas goleadas a favor contra grandes de PE
© 1 J O S É L E O M A R © 2 I S R A E L L E A L © 3 I L U S T R A Ç Ã O M I L T O N T R A J A N O © 4 R E P R O D U Ç Ã O © 5 P E D R O P I N T O © 6 R O D O L F O B U H R E R
© 3
VOO PARA O BANCOForam 18 anos longe de casa.
Negociado com o Vasco em 1991,
Jardel se tornou ídolo no Grêmio,
brilhou em Portugal, envolveu-se
em polêmicas e, nesta temporada,
decidiu, enfim, retornar ao Ferroviário,
clube do Ceará que o revelou. Sua
apresentação, em fevereiro, foi digna
de um astro. Chegou de helicóptero
ao estádio Elzir Cabral. Passada a
festa, Jardel ralou um mês para entrar
em forma. Fez sua reestreia contra
o Quixadá, pelo Estadual. Balançou a
rede em seu primeiro chute a gol. A
poeira baixou e ele foi parar no banco.
Não agradou ao técnico Arnaldo Lira.
“Não jogo porque ele não quer. Não
vejo a hora de ele sair daqui”, disse
o jogador. M A R C U S A L V E S
Jardel voltou e só
agradou no início
© 2 © 2
© 1
Ozir Ramos,
presidente de honra
do clube, grita com
o time sem esquecer
a cervejinha; falta
dinheiro até para
o ônibus
© 5
PL1330 aquecimento4.indd 30-31 4/20/09 10:07:37 PM
32 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9
kEle chegou a deixar Ronaldo, o Fenômeno, no banco
da seleção brasileira sub-17 antes que os dois for-
massem dupla de ataque no time. Quando foram lançados
no profissional, aos 16 anos, em 1993, por Atlético e Cruzei-
ro, respectivamente, seu início foi superior, inclusive com
um gol no clássico de estreia. Mais de 15 anos depois, po-
rém, a situação vivida por ambos é bem diferente. O craque
corintiano segue mostrando seu talento pelos gramados, a
despeito das lesões. Reinaldo Rosa, 32 anos, cansado dos
calotes dos últimos times que defendeu, trocou, pelo me-
nos temporariamente, o futebol pelo pagode.
O ex-atleticano toca tantã na banda Pagode do Rei, que
começa a conquistar seu público na região metropolitana
de Belo Horizonte. Bancada por Reinaldo, nada mais justo
que a banda tenha sido batizada com o apelido que ele ga-
nhou nos bons tempos como jogador. “O pagode sempre foi
uma paixão. A banda começou de uma brincadeira, mas
está indo bem”, afirma Reinaldo.
O ex-atacante garante que voltará ao futebol. Tem uma
chance de jogar no Chipre e mantém a forma numa acade-
mia. Contato com a bola? Só quando defende o Vila Nova,
de Santa Luzia, num torneio amador. A L E X A N D R E S I M Õ E S
Separados no berçoReinaldo, concorrente de Ronaldo no começo de carreira, hoje toca pagode
aquecimento
© 1 F O T O P E D R O S I L V E I R A © 2 F O T O E U G Ê N I O S Á V I O
VIRADO À PAULISTAComo em São Paulo, a Federação
Mineira aposta em um nome sem
experiência prática na área para
contornar uma crise no apito.
O professor de educação física da
Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) Jurandy Gama Filho assumiu
a presidência da comissão de
arbitragem da entidade.
Ele entrou na vaga de Lincoln
Afonso Bicalho, que deixou o cargo
em março, após o presidente do
Atlético-MG, Alexandre Kalil, denunciar
suposto esquema para beneficiar
o Cruzeiro. A entidade já enfrentava
problemas por causa do assalto que
levou quase 1 milhão de reais de seu
cofre e desencadeou investigações
do Ministério Público sobre a
procedência do dinheiro roubado.
O escândalo envolvendo o juiz de
São Paulo Edilson Pereira de Carvalho,
em 2005, fez a Federação Paulista
nomear o tenente-coronel da reserva
da PM Marcos Marinho para chefiar a
comissão de arbitragem. Foi para dar
credibilidade. Ainda hoje há dirigente
reclamando que ele não é do ramo.
“Até o ano que vem, a arbitragem
mineira será mais respeitada”,
diz Jurandy. B R E I L L E R P I R E S
Jurandy: é ele
quem apita na
arbitragem
mineira © 1
oVENENO!
“O Lulinha é
meia, mas
o Mano
Menezes
o escala
como
ponta, para
marcar o
lateral. Não
funcionaWagner Ribeiro,
agente de Lulinha
“Enquanto
eu for
presidente
do
Corinthians,
o Vanderlei
Luxemburgo
não será
o técnicoAndres Sanches,,
fechando as portas do
Parque São Jorge para o
treinador palmeirense
Reinaldo, tratado
como promessa no
Atlético-MG, agora
banca o grupo de
pagode em que toca
© 2
© 2
PL1330 aquecimento4.indd 32 4/20/09 10:08:03 PM
34 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 93434343434434 | | | | | | | WWW.WWW.WWW.WWW.WWWWWWW PLACPLACPLAPLACPLACPLACPLACAR.CAR.CAR.CAR CAR.CAR CAR COM.BOM.BOM.BOM BOM BOM BOM BOM RRRRRRRR | M| M | M| M| M| M| | A IA I OA I OA I OA I O OOOO | 2 0| 2 0| 2 0| 2| 2| 2| 2 0| 2 0|| 0 90 900 90 90 90 90 990 9
aquecimento
© I L U S T R A Ç Ã O C Á S S I O B I T T E N C O U R T
k O que Túlio, Viola, Clemer,
Adãozinho e Fernando têm em
comum? Todos eles chegaram aos
40 anos ainda nos gramados. O fenô-
meno antes restrito a poucos — a len-
da inglesa Stanley Matthews só parou
aos 50 anos e o longevo goleiro Man-
ga inspirou até slogan de rádio (“Dura
tanto quanto o Manga e é muito mais
bonito”) — em breve deve receber Ju-
nior Baiano e Macedo, ambos com 39.
A vida começa aos 40A idade tabu, que significava a aposentadoria compulsória de um jogador de futebol, deixou de ser uma barreira. Saiba como os veteranos conseguem se manter na ativa
Mas não basta querer para chegar às
quatro décadas em campo. “Todos
que tiveram lesões graves não passam
nem perto dessa idade”, diz Turíbio
Leite de Barros, fisiologista do São
Paulo. Para ele, a idade máxima em
que um jogador poderia atuar seriam
mesmo os 40, mas os atletas com téc-
nica apurada compensam a falta do
vigor físico — até o cansaço pesar bem
mais nessa balança. “Ele começa a
COMO O CORPO DO JOGADOR REAGE...
sentir os efeitos dos muitos anos de
prática, como lesões degenerativas
nas cartilagens e meniscos nos joe-
lhos, hérnias de disco na coluna lom-
bar”, afi rma outro especialista, Wag-
ner Castropill, da Sociedade Brasileira
de Ortopedia e Traumatologia e do
Comitê Olímpico Brasileiro. A pedido
de Placar, ele analisou as etapas de
um jogador até chegar à fase em que a
vida (de aposentado) começa.
LIGAMENTOSAumentam
distensões,
estiramentos,
rupturas e
tendinites
LIGAMENTOSLesões degenerativas
na cartilagem e
meniscos dos joelhos
TECIDOSComeça a haver
perda da elasticidade
por causa da queda
na produção de
testosterona
TECIDOSO desgaste
fica ainda
maior
LIGAMENTOSRisco de
entorses
com lesões
ligamentares
e/ou meniscais
CORAÇÃOAumentam
os riscos de
problemas
cardíacos
COLUNAHérnias de
disco na
coluna
lombar
MÚSCULOSA recuperação
é mais lenta. A
massa muscular
começa a diminuir
1% por ano
MÚSCULOSA perda
de massa
muscular se
torna mais
acentuada
MÚSCULOSContusões
e lesões.
Detecção
precoce facilita
a recuperação
25 30 40ANOS ANOS ANOS
34 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9
PL1330 aquecimento4.indd 34 4/21/09 3:57:29 AM
meutimedossonhosO S 1 1 M E L H O R E S D E T O D O S O S T E M P O S P A R A . . .
36 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9
“Só escolhi brasileiros porque aqui
estão os melhores talentos. Poucos
se comparam aos que temos aqui
Roberto CostaO ex-goleiro, bicampeão da Bola de Ouro em 1983 e 1984, monta sua equipe com cinco jogadores da seleção de 82
★ G O L E I R O
Taffarel “Tive a oportunidade de jogar com ele no
Internacional e o vejo como um dos melhores do Brasil”
★ L A T E R A I S
Carlos Alberto Torres “Um dos primeiros
alas que defendiam e atacavam muito bem. Quando foi jogar
de zagueiro, também atuou de maneira excelente”
Júnior “Apoiava, defendia, jogava no meio… Ele foi um
dos laterais que começaram a se infiltrar pelo meio-campo.
Era destro e jogava como ninguém na lateral esquerda”
★ Z A G U E I R O S
Oscar “Um capitão. Sabia comandar. Era firme, bom nas
bolas aéreas. Sobressaiu na Ponte Preta e mostrou grande
futebol em todo lugar por onde passou”
Luizinho “Compunha a zaga da seleção de 82 com
o Oscar. De muita técnica, foi um dos atletas mais
clássicos que eu vi jogar”
★ V O L A N T E S
Clodoaldo “Já jogava muito bem no Santos e se
transformava quando ia para a seleção. Tinha suas limitações,
mas desarmava e saía distribuindo o jogo”
Falcão “Tinha técnica apuradíssima. Era muito versátil.
Ele atacava e defendia com extrema eficiência e elegância”
★ M E I A S
Pelé “O título de rei do futebol o credencia para estar
no meu time dos sonhos. Jogador completíssimo”
Zico “Com objetividade e criatividade, transformou
o Maracanã no templo do futebol mundial”
★ A T A C A N T E S
Romário “Um atacante que possuía uma qualidade ímpar
para fazer gols, principalmente quando estava dentro da área”
Ronaldo “Finaliza muito bem perto do gol. Tinha explosão
e rapidez difíceis de encontrar em jogadores hoje em dia.
Ele está no meu time por tudo que passou no futebol”
★ T É C N I C O
Telê Santana “É o técnico dessa equipe
pelos títulos que conquistou no São Paulo e em
todos os lugares por que passou”
© 1 F O T O A R Q U I V O P E S S O A L
© 1
PL1330 TS.indd 36 4/21/09 2:21:37 AM
38 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9
miltonneves
Os cinco mais bonitosO concurso aqui não é de beleza exterior. Estamos falando de beleza da alma.
E os eleitos são Garrincha, Nilton Santos, Zico, Marcos e... Ronaldo
Não, não quero comentar a lista internacional dos mais
feios jogadores “eleitos”, que saiu recentemente na Europa
e foi encabeçada por um tal Dowie, do Queens Park Ran-
gers, da Inglaterra. Até porque o Amaral Coveiro, o Ro-
semiro, o ex-lateral Paulinho, do Inter e do Operário de
Campo Grande, o Luiz Carlos Beleza, que mora em Cuiabá,
e o Acosta foram indecentemente injustiçados pelos arro-
gantes europeus votantes.
E também não estou aqui analisando a beleza propria-
mente dita de Manicera, Perfumo, Raul, Doval, Kaká, Bar-
birotto, Bettega, Leivinha ontem e Sérgio Valentim. Essa
relação foi escolhida a dedo e lupa pelo analista Mauro
Beting, observador de tudo e de todos, ontem e hoje, em
seu imbatível best seller “A vida é a vida”.
Na verdade, o que importa para mim são os cinco histó-
ricos jogadores brasileiros mais bonitos em sua alma, em
seu interior, no respeito e no carinho que recebem ou re-
ceberam do torcedor.
São eles o goleiro Marcos, do Palmeiras, o campeoníssi-
mo do tema Garrincha, o glorioso Nilton Santos, o querido
Zico e... Ronaldo! Pelé perde essa e não entra no top 5 por-
que a torcida do Corinthians, a mais importante de todas,
não gosta dele por seculares traumas a ela transmitidos
pelo Rei nos anos 50 e 60.
Agora, Ronaldo, sim, e como! Ronaldo, esse Bill Gates
da grana, Madre Teresa de Calcutá da humildade, Pelé da
artilharia das Copas e Edmundo da falsa malandragem!
Quanto dinheiro ele merecidamente tem, quanta paciência
transmite, quanto gol importante fez e quanto rolo burro
ele arruma, hein?
“Ronaldo é esse Bill Gates da
grana, Madre Teresa de Calcutá
da humildade, Pelé da artilharia
das Copas e Edmundo da falsa
malandragem!”
© F O T O R E N A T O P I Z Z U T T O
Ronaldo: tudo
nele acaba sendo
especial
PL1330 MILTON.indd 38 4/21/09 2:20:10 AM
VOLTA DO FENÔMENO AO BRASIL INFLUENCIOU ADRIANO E BALANÇA CRAQUES COMO RONALDINHO E ROBINHO
P O R R I C A R D O P E R R O N E , S É R G I O X AV I E R F I L H O E B E R N A R D O I T R I
D E S I G N K . K . U . L . I L U S T R A Ç Ã O S T E FA N
SER RONALDOTODOS QUEREM
© F O T O I L U S T R A Ç Ã O R O D R I G O M A R O J A
PL1330 ADRIANO.indd 42-43 4/21/09 12:51:07 AM
44 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9 M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR | 45
© F O T O 1 E D I S O N V A R A © F O T O 2 A L E X A N D R E B A T T I B U G L I © F O T O S P I E R G I A V E L L I
ELES PODEM PINTAR POR AQUI
ROBERTO CARLOS EMERSON LINCOLN
DIDA MINEIRO ZÉ ROBERTO
Cartolas e agentes brasileiros se preparam para o retorno de uma nova leva de jogadores. O lateral Roberto Carlos, com o Palmeiras na mira, deve puxar a fila
Enquanto dirigentes brasileiros acre-
ditam que o “efeito Ronaldo” fará
mais atletas voltarem, empresários
da maioria dos veteranos tentam
segurar seus clientes no exterior.
Eles preferem vê-los jogando na
Arábia ou em outros mercados fora
da Europa, em que há mais dinheiro,
a vê-los no Brasil. Já os atletas se
queixam de saudade de parentes e
amigos. O retorno desses jogadores
fica cada vez mais próximo a partir
do momento em que suas atuações
lá fora decepcionam. “Muitos atletas
que voltam ao Brasil o fazem por
não estarem bem em seus clubes”,
afirma o empresário Gilmar Veloz,
sobre o regresso dos jogadores.
Mesmo com contrato longo, ele
quer ainda jogar no Santos. Mas
empresários dão como certos sua
volta e seu destino: Palmeiras.
Reserva até outro dia, tem pou-
cas perspectivas de continuar
fora. Sua volta deve causar dor
de cabeça em goleiros do Brasil.
Já não havia jogado bem no Her-
tha Berlin. A pedido de Felipão,
foi para o Chelsea, pouco jogou
e agora está no time B do clube.
Foi disputado a tapas pelos gran-
de de São Paulo e fez o Santos
pagar alto para tê-lo. Empresá-
rios dizem que ele está voltando.
Seu contrato com o Milan está
prestes a terminar e a renovação
é muito difícil. Veterano, não tem
muito mercado na Europa.
Foi procurado pelo São Paulo no
ano passado, mas a negociação
não deu certo. Está insatisfeito
no Galatasaray, da Turquia.
oncentrados para
enfrentar Equador
e Peru, jogadores da
seleção conversam
sobre a felicidade
de Ronaldo por vol-
tar a jogar no Brasil. E debatem: vale-
ria a pena retornar da Europa antes
dos 30 anos? Ganhar menos num clu-
be de seu país em troca de curtir a
vida ao lado dos amigos de infância e
da família? A resposta fica no ar. Mal
a seleção se desfaz e Adriano, 27 anos,
abandona a poderosa Internazionale
de Milão. Para empresários e dirigen-
tes, a deserção do Imperador é o iní-
cio do “efeito Ronaldo”. Que, segundo
eles, também faz Ronaldinho e Robi-
nho balançarem.
Ronaldo se encarrega de espalhar
que está radiante e provoca uma pon-
ta de inveja nos colegas, aparente-
mente fartos de seus clubes europeus.
“A noite de São Paulo é ótima e estou
a 40 minutos de avião do Rio”, diz aos
amigos, por telefone.
Gente que convive com Adriano as-
segura que o exemplo de Ronaldo in-
fluenciou na decisão. E que se apo-
sentar agora não passa por sua cabeça,
apesar de o atacante acenar com essa
possibilidade, após passar dias na fa-
vela em que foi criado no Rio. O plano
é seguir os passos do Presidente (ape-
lido de Ronaldo entre os boleiros) e
tocar a carreira no Brasil. Agora pra
valer, sem data para voltar à Europa,
como na passagem pelo São Paulo.
O comentário entre os colegas de
seleção é que o atacante está apala-
vrado com o Flamengo. Lá voltaria a
ser amado por uma torcida, como Ro-
naldo é hoje. Ficaria mais perto dos
amigos, que vão até Milão atrás dele.
Enquanto isso, membros do estafe
de Ronaldinho e Robinho afirmam
C
ÚLTIMO CLUBE REAL MADRID
CLUBE ATUAL FENERBAHÇE
CONTRATO 12/2010
ÚLTIMO CLUBE CORINTHIANS
CLUBE ATUAL MILAN
CONTRATO JUNHO/2010
ÚLTIMO CLUBE HERTHA BERLIN
CLUBE ATUAL CHELSEA
CONTRATO JUNHO/2009
ÚLTIMO CLUBE SANTOS
CLUBE ATUAL BAYERN
CONTRATO JUNHO/2009
ÚLTIMO CLUBE REAL MADRID
CLUBE ATUAL MILAN
CONTRATO JULHO/2009
ÚLTIMO CLUBE SCHALKE 04
CLUBE ATUAL GALATASARAY
CONTRATO JUNHO/2011
E F E I T O R O N A L D O
“ O RONALDO MOSTROU O CAMINHO. MOSTROU QUE É POSSÍVEL UM GRANDE JOGADOR ATUAR AQUIM U R I C Y R A M A L H O , T É C N I C O D O S Ã O P A U L O
Cartolas do
Flamengo
afirmam que
Adriano não
dava trabalho
Ronaldinho,
no Grêmio,
onde era o
bom menino
No Santos,
Robinho logo
forçou a saída
para o Real
Madrid
© 1
© 2
PL1330 ADRIANO.indd 44-45 4/21/09 12:51:20 AM
46 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9 M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR | 47
ELES NÃO DEVERIAM ESTAR AQUI
RONALDO
D'ALESSANDRO NILMAR KLEBER
FRED THIAGO NEVES
Crise mundial emperrou a venda de jogadores para o exterior e forçou clubes brasileiros a segurarem seus craques. Ao mesmo tempo, jogadores infelizes lá fora voltaram
Ficou sem clube na Europa e veio
se recuperar no Brasil. Acabou
contratado numa jogada de mar-
keting e agora inspira colegas.
O Inter só o trouxe graças ao em-
presário Delcir Sonda. Torcedor
colorado, ele investiu num atleta
fora do perfil jovem promissor.
Sua contusão impediu o Corin-
thians de vendê-lo. A crise mun-
dial dificultou, mas ele deve sair
na próxima janela europeia.
Descontente na Ucrânia, não
atraiu mercados mais fortes nem
indo bem no Palmeiras. Foi para
o Cruzeiro como moeda de troca.
Vivia de cara amarrada no Lyon.
Estava inconformado por não ser
titular no clube francês. Bateu
o pé para ir para o Fluminense.
Não emplacou na Alemanha, onde
ficou seis meses. Vendido ao
Al-Hilal, forçou seu empréstimo
ao Flu antes de ir para a Arábia.
ÚLTIMO CLUBE MILAN
CLUBE ATUAL CORINTHIANS
CONTRATO DEZEMBRO/2009
ÚLTIMO CLUBE SAN LORENZO
CLUBE ATUAL INTERNACIONAL
CONTRATO AGOSTO/2010
ÚLTIMO CLUBE CORINTHIANS
CLUBE ATUAL INTERNACIONAL
CONTRATO SETEMBRO/2011
ÚLTIMO CLUBE PALMEIRAS
CLUBE ATUAL CRUZEIRO
CONTRATO DEZEMBRO/2013
ÚLTIMO CLUBE LYON
CLUBE ATUAL FLUMINENSE
CONTRATO DEZEMBRO/2013
ÚLTIMO CLUBE HAMBURGO
CLUBE ATUAL FLUMINENSE
CONTRATO JULHO/2009
A última janela de transferências
para a Europa foi uma das mais fra-
cas para os clubes brasileiros. Entre
os jogadores da elite, poucos foram
negociados, como Alex, do Inter,
e Guilherme, do Cruzeiro. “Além de
o dinheiro estar curto, tem muito
brasileiro fazendo feio lá fora.
Isso também atrapalhou”, diz
o empresário Wagner Ribeiro.
A expectativa é que no segundo
semestre a situação melhore. “Se o
Kaká for vendido, o dinheiro acaba
chegando aqui de alguma maneira”,
afirma o empresário Carlos Leite.
que ambos sonham regressar ao
Brasil com a mesma intensidade com
que um dia sonharam partir. Mas hoje
suas multas contratuais não deixam.
“Ouvi de um veterano que voltou ao
futebol brasileiro o seguinte: a me-
lhor fase da vida de um homem é dos
25 aos 30 anos. Jogador passa esse pe-
ríodo longe da família e dos amigos. O
Ronaldo mostrou para o pessoal que
dá para voltar mais cedo e aproveitar
a vida por aqui”, afirma o empresário
Wagner Ribeiro, que trabalhava com
Robinho até a transferência do ata-
cante para o Manchester City.
“Acho que os jogadores pensam
mesmo em voltar mais cedo. Hoje não
é difícil ganhar 150000 reais jogando
aqui. Tem gente que recebe 300000,
isso dá uns 150000 euros. Com a cri-
se, não está fácil fazer um contrato
desses na Europa”, diz Júlio Mariz,
presidente da Traffic.
Ronaldo ganha 400000 reais men-
sais livres de impostos. E pode chegar
a 1,5 milhão por mês com cotas de pa-
trocínio no Corinthians. Adriano fa-
tura 1,75 milhão de reais mensais na
Inter. Robinho, que tem mais três
anos de contrato, abocanha cerca de
1,4 milhão no Manchester City. O ex-
santista triplicou os rendimentos que
tinha no Real Madrid. Mas está infe-
liz, como o clube com ele.
“O desejo do Robinho é voltar ao
Santos, mas agora é meio impossível”,
diz Evandro Souza, o “Bad Boy”, fun-
cionário de Robinho, do tipo faz-tudo.
“Campeão, estamos bem no Milan.
São 30 milhões de euros em jogo”,
afirma Assis, irmão e empresário de
Ronaldinho, lembrando o valor da
multa rescisória. Entre os principais
agentes brasileiros, Assis é visto como
a única pessoa que impede Ronaldi-
nho de antecipar seu regresso.
“ ADRIANO TEM DEFEITOS QUE MUITAS PESSOAS TÊM. E QUALIDADES QUE POUCAS TÊMG I L M A R R I N A L D I , A G E N T E D E A D R I A N O
No Barça,
Ronaldinho
viveu o auge
de sua carreira
Robinho
chegou
ao Real
prometendo
ser o melhor
do mundo
O Imperador
na Inter: depois
do sucesso,
problemas
com álcool
E F E I T O R O N A L D O
© F O T O 1 G I U L I A N O B E L I L A C Q U A © F O T O 2 A L E X A N D R E B A T T I B U G L I © F O T O 3 P I E R G I A V E L L I © F O T O 1 R E N A T O P I Z Z U T T O © F O T O 2 P H O T O C A M E R A © F O T O 3 E D U A R D O M O N T E I R O © F O T O 4 E D I S O N V A R A © F O T O 5 E D U A R D O S Á V I O
© 1
© 3
© 1 © 2 © 3
© 4 © 4 © 5
© 2
PL1330 ADRIANO.indd 46-47 4/21/09 12:51:38 AM
48 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9
A trajetória de Adriano e Robinho
fora dos gramados cada vez mais se
assemelha com a de Ronaldo: o gosto
pelas noitadas, escândalos e casos de
polícia. A situação do Imperador é
mais dramática. Não consegue se li-
vrar do álcool e vez por outra tem de
negar a pessoas próximas que usa dro-
gas. Para piorar, é vítima de uma série
de boatos. De acordo com o mais re-
A decisão de Adriano de não voltar
à Inter surpreendeu os amigos
que o recepcionaram na favela da
Vila Cruzeiro. “Ninguém entendeu,
ficou todo mundo se perguntando o
que estava acontecendo. Aí alguns
ligaram para o Adriano, que disse
que está tudo bem. Mas as pesso-
as ainda estão tentando entender”,
afirmou o volante Ives, que acabou
de ser rebaixado no Campeonato
Carioca com o Mesquita e conhece
o Imperador de longa data.
O amigo assistiu a uma pelada de
veteranos com o atacante. Depois
foram para a piscina e, mais tarde,
encontraram outros moradores
numa pracinha. “O Adriano jogou
baralho, eu prefiro dominó. Lá,
ele anda descalço e sem camisa.
Ninguém repara, é normal. Onde
mais pode fazer isso?”, diz Ives.
Enquanto isso, a torcida italiana se
desiludia. “Acho que a relação entre
Adriano, a Inter e nós se deterio-
rou. A solução é o fim do casamen-
to”, diz Gaetano Chiappini, de uma
das torcidas mais antigas do time.
O treinador José Mourinho também
irritou-se com o brasileiro. “O Mou-
rinho estava bravo, mas expliquei a
situação do Adriano e ele entendeu.
Aliás, essa história do Adriano
não gostar do técnico é mentira”,
declara o agente Gilmar Rinaldi.
Na Vila Cruzeiro e em Milão, a
pergunta sem resposta é: qual o
problema de Adriano? A dúvida gera
boatos. “Garanto que ele não usa
drogas”, diz Rinaldi. Mas há uma
certeza: o atacante não se livrou
do álcool. P O R F L Á V I A R I B E I R O E
F E R N A N D A C . M A S S A R O T T O
PISCINA
E BARALHO
NA FAVELA
Adriano já sentiu o gosto
de voltar a atuar no Brasil
Robinho não
demonstra
felicidade na
Inglaterra
Ronaldinho
no Milan:
frequentador
do banco
cente, ele teria morrido na favela. Ro-
naldinho gosta da noite, mas consegue
aparecer menos nos jornais.
As derrapadas fora do campo podem
ser perdoadas por torcedores e dirigen-
tes. Desde que eles sejam recompensa-
dos com gols e boas atuações. E o Fenô-
meno ensinou ao trio que no Brasil,
diante de adversários menos qualifica-
dos, essa missão é bem mais fácil.
“ LIGUEI E O ADRIANO ME DISSE: “ESTOU BEM, DEU MEU TEMPO LÁ. ELES QUE NÃO QUEREM VER ISSO”
C A R L O S A L B E R T O , J O G A D O R D O V A S C O
© 1
© 2 © 3
© F O T O 1 A L E X A N D R E B A T T I B U G L I © F O T O 2 A F P © F O T O 3 P I E R G I A V E L L I
PL1330 ADRIANO.indd 48 4/21/09 12:52:07 AM
★ a evolução do futebol ★ 03| A BOLA
1930Na final da Copa, curiosi-dade: o primeiro tempo é jogado com uma bola dos argentinos e o segundo, com uma dos uruguaios, que viram o jogo
1994A inovação da polêmica Adidas Questra, usada na Copa dos EUA, é uma camada de espuma de polietileno que deixa a bola mais veloz e macia
2009Em uma década, a Nike entra firme na briga dos novos materiais e forma-tos. A Total 90 Omni tem pentágonos maiores e mais esfericidade
Século 16A bola mais antiga já en-contrada pertencia à rai-nha Maria I da Escócia. Eram placas de couro costuradas sobre uma bexiga de porco inflada
Século 19Chega de inflar bexigas ani-mais: Charles Goodyear (o do pneu) cria a bola de fu-tebol com câmara de borra-cha. Ela é usada na inven-ção do basquete, em 1891
1950Modelos como a Super-ball, usada na Copa, já têm a válvula no exterior. Em 1951, para facilitar a visua- lização na TV, surgem as primeiras bolas brancas
1986A Adidas Azteca é a primeira bola 100% sintética na his-tória das Copas do Mundo. O couro é substituído por uma camada de fibras de-senvolvidas em laboratório
2006Na Adidas +Teamgeist, o “padrão Buckminster” é abandonado e não há mais costuras: os 14 gomos são unidos por meio de um pro-cesso de soldagem térmica
1970A Adidas passa a forne-cer as bolas da Copa. A Telstar, de 1970, consa-gra o “padrão Buckmins-ter”, de 20 gomos hexa-gonais e 12 pentagonais
Na caçapa
A sinuca inspirou a “Bola 8”, da Penalty, cujo nome se refere ao número de gomos que tem
Da pátria
Em tempos de Copa surgem modelos para o torcedor, como o que a Nike fez para o Brasil em 2006
Viva a cor
Até em torneio oficial os tons de branco sumiram: foi na Copa Africana de Nações de 2008
Pessoal
O marketing pede produtos com a cara dos ídolos, como esta bola personalizada para Ronaldinho
Tribal
As cores vivas da África do Sul dão o tom do modelo oficial da Copa das Confedera-ções de 2009
Exclusiva
O Paulistão adota modelo com selo para identificar o Corinthians x Palmeiras da volta de Ronaldo
Uso único
Para cada jogão, uma bola: a da final da Liga dos Campeões foi lançada meses antes da partida
POR BRUNO SASSI, L.E. RATTO, RODRIGO MAROJA, SATTU E LUIZ IRIA
BALL IS
FASHION
As constantes inova-ções já não têm a ver apenas com tecnologia, mas também com o visual
Costura externa para dar acesso à válvula
A câmara (A) agora é coberta por uma camada de fibras (B)
O formato clássico da Telstar: um icosaedro truncado
Válvula externa, entremeada na costura dos gomos
Linha e agulha para quê? Basta soldar os gomos termicamente
Câmara (A), camada de fibras (B) e espuma de polietileno (C)
Pentágonos maiorese mais encaixados nos hexágonos
Simples: bexiga de porco (A) envolta em couro (B)
Charles Miller(pioneiro do futebol no Brasil)
Guillermo Stábile(artilheiro da Copa de 1930)
Ademir Menezes(artilheiro da Copa de 1950)
Gerd Müller(artilheiro da Copa de 1970)
Gary Lineker(artilheiro da Copa de 1986)
Hristo Stoichkov(artilheiro da Copa de 1994)
Miroslav Klose(artilheiro da Copa de 2006)
Lionel Messi(um dos melhores do mundo hoje)
Câmara de borracha (A) sob o couro (B)
Uma bexiga de porco
coberta com couro ou
uma composição de
fibras sintéticas?
A
B
A
B
A
B
C
B
A
PL1330 INFO bola.indd 2-3 4/21/09 4:25:53 AM
PL1330 ingressos.indd 53 4/21/09 4:51:20 AM
54 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9 M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR | 55
A prática gera perda de receitas
para os clubes e pode provocar super-
lotação. Acontece um pouco de tudo
nas portarias antes dos jogos. Como
um torcedor ser liberado para entrar
no Palestra Itália por ser padre. Ou
um juiz de futsal ganhar passe livre
no Morumbi como recompensa por
trabalhar em um jogo do São Paulo.
Dois dirigentes do São Paulo pedem
anonimato ao apontarem a PM como
principal responsável pela evasão de
renda. E jornalistas que usam creden-
ciais para assistirem a jogos como tor-
cedores em segundo lugar.
Contra o Fluminense, no Brasileiro
de 2008, o São Paulo, de acordo com
um de seus diretores, registrou em
listas nas portarias a entrada de 300
policiais militares ou convidados de-
les sem comprarem ingresso.
O clube iniciou operação para tapar
os buracos de seu queijo suíço. Qua-
tro funcionários foram demitidos por
facilitarem a entrada de torcedores.
Segundo a diretoria, algumas partidas
tiveram 20% do público formado por
bicões. “Melhoramos, mas há muito a
fazer”, diz Adalberto Dellape, diretor
de marketing são-paulino.
O problema está mesmo longe de
ser resolvido. Contra o Palmeiras,
pela primeira fase do Campeonato
Paulista de 2009, entraram ao menos
60 pessoas sem pagar no Morumbi
usando o nome da PM, de acordo com
um fiscal da Federação Paulista de
Futebol (FPF).
“Ninguém da PM entra sem ingres-
so. São Paulo, Palmeiras e Corinthians
nos mandam entradas como cortesia.
Para o jogo do São Paulo contra o Pal-
meiras foram 50”, afirmou o tenente-
coronel Hervando Velozo, coman-
dante do 2º Batalhão de Choque da
QUEIJO SUÍÇO
SÃO PAULO F.C. INDICA POLICIAIS MILITARES COMO OS QUE MAIS “INVADEM”. PM NEGA E DIZ GANHAR INGRESSOS DOS CLUBES
CONHEÇA ALGUNS DOS TRUQUES QUE OS PENETRAS USAM PARA ENTRAR NO PRINCIPAIS ESTÁDIOS DE SÃO PAULO
abe aquela sensa-
ção de que o públi-
co no estádio é
maior que o divul-
gado pelo placar
eletrônico? Você
arriscaria dizer o que policiais milita-
res e civis, jornalistas e dirigentes têm
a ver com essa história? Placar acom-
panhou a rotina em portões vulnerá-
veis no Morumbi, no Palestra Itália e
no Pacaembu. Ouviu diretores, teve
acesso a relatórios e fl agrou penetras.
O resultado é um roteiro com poli-
ciais, cartolas, jornalistas e funcioná-
rios de clubes como personagens que
contribuem consideravelmente para
a evasão de renda.
DEU PAUCARTEIRADAINGRESSO PARA INGLÊS VERALGEMA INVISÍVELJORNALISTA-TORCEDORNOME NA LISTA
PM, que cuida dos estádios.
“Tenho todo interesse em apurar
isso. Mas os clubes têm que fazer a
denúncia. Ouvi falar que existia lista
de convidados da PM antes do meu
tempo. Agora não”, completou.
O São Paulo nega que mande in-
gressos aos policiais. O Corinthians
confirma. “Tratamos a PM como par-
ceira. Não queremos o constrangi-
mento de barrar um PM”, diz Lúcio
Blanco, do setor de arrecadação do
clube do Parque São Jorge. Quando
cede ingressos “oficiais”, o clube dei-
xa de ganhar, mas paga impostos e
evista o risco de superlotação.
Antes do jogo com o Botafogo, pelo
Campeonato Paulista, o Palmeiras fez
reunião para declarar guerra aos bi-
cões. Porém, a reportagem viu dezenas
de penetras. “Infelizmente, tem dire-
tor que acha que pode colocar amigos
de graça. Vamos explicar que isso faz
parte do passado. Tem gente com car-
teira da Federação, e tem o pessoal da
PM”, diz Wlademir Pescarmona, dire-
tor administrativo do Palmeiras.
S
O fiscal de uma das catracas fica de costas
para os torcedores, impedindo a passagem
deles. Simula um defeito no equipamento.
A fila aumenta e a torcida se irrita. Sob
o pretexto de evitar confusão, ele recolhe
os ingressos manualmente, libera a roleta
e passa os bilhetes para cambistas.
O torcedor apresenta ao porteiro uma carteira
qualquer, que não serve para liberar a entrada.
As preferidas são as que têm
o brasão da República. Se não der certo,
o torcedor ainda solta a frase: “Sabe com
quem está falando?” Já teve gente usando
carteira de funcionário de cartório.
Do lado de fora, o amigo de um funcionário do
clube promete colocar torcedores no estádio
sem ingresso, com preços menores ou no
mesmo valor de bilheteria quando a venda
já acabou. Pequenos grupos são formados
e levados até um portão. Rapidamente,
o funcionário deixa todos passarem.
Relatório feito por conselheiros do Palmeiras
registra caso em que políciais passam pelo
portão como se estivessem conduzindo
torcedores presos. Eles estão cabisbaixos
e com as mãos para trás. Mas ninguém
consegue ver as algemas. Os torcedores
são conduzidos para dentro do estádio.
Em vez de se dirigir ao portão destinado à
imprensa, os jornalistas procuram portarias
nas quais os funcionários não estão
acostumados a lidar com eles. Exigem que
o porteiro libere a entrada de seus parentes.
Mesmo com credencial de trabalho, há quem
vá com a camisa do time de coração.
Quem conhece funcionários e dirigentes tenta
colocar o nome numa lista de pessoas que
poderão entrar sem ingresso. Quem
não tem nome na lista chega ao portão
e telefona para o amigo. Depois de alguns
minutos, alguém do clube aparece
para liberar a entrada.
Numeradas Portão principal
Arquibancada Arquibancada
PL1330 ingressos.indd 54-55 4/21/09 4:49:09 AM
56 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9 M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR | 57© 1 F O T O F U T U R A P R E S S © 2 F O T O E U G Ê N I O S Á V I O © 3 F O T O A G Ê N C I A E S T A D O
Os clubes costumam dar ingressos
para jogadores, membros da comis-
são técnica e funcionários de seus
departamentos de futebol distribuí-
rem a amigos e parentes. A prática,
às vezes, facilita a ação de cambistas.
No jogo do Corinthians contra o
Santos, pela primeira fase do Campe-
onato Paulista, ao menos um desses
bilhetes acabou com um cambista.
Um torcedor corintiano comprou
o tíquete e depois da partida
o entregou à reportagem de Placar.
No verso do bilhete, no local reserva-
do para o nome do cliente, está
escrito: “Diretoria do Corinthians”.
Segundo Lúcio Blanco, do setor de
arrecadação do Corinthians, isso
significa que o ingresso faz parte
do lote destinado pelos dirigentes
aos componentes do time. Nos
casos de compra feita na bilheteria,
aparece o nome do torcedor.
“Às vezes, o jogador se sensibiliza
com alguém que está no portão
e dá o ingresso. Aí o cara joga
na mão do cambista”, diz Blanco.
Ele afirmou que poderia identificar
quem no clube recebeu o bilhete, mas
não respondeu à reportagem depois
de receber os dados do ingresso.
CAMBISTA
OFICIAL
D E B I C O N A F E S T A
Este é o portão mais problemático do Palestra Itália. É o mesmo por onde entram as equipes
MORUMBI, 28 DE MARÇO
PALESTRA ITÁLIA, 5 DE ABRIL
PACAEMBU, 31 DE MARÇO
“DEIXE ENTRAR. É NOSSO INTERESSE.
ELE APITOU JOGO DO SÃO PAULO”
“PODE DEIXAR ESSE AÍ ENTRAR, NEM PRECISA
ANOTAR O NOME DELE. ELE É PADRE”
INGRESSO DADO PARA
CARTOLAS E ATLETAS
ACABA REVENDIDO
DELEGADO ENTRA EM JOGO DO CORINTHIANS EXIBINDO IDENTIFICAÇÃO.
CARTEIRINHA DE DIRIGENTE DO CLUBE SERVE COMO INGRESSO
Faltam 20 minutos para São Paulo x Palmeiras pelo Cam-
peonato Paulista. Um fiscal da Federação Paulista, conheci-
do como “seu” Guedes, cuida do portão ao lado da entrada
principal, por onde passam os ônibus dos times. Ele avisa à
recepcionista: “Vão chegar 60 japoneses do Osmar”. Dito e
feito. Descem de um ônibus 60 jovens japoneses. São acom-
panhados por seis brasileiros. Ninguém tem ingresso, mas o
grupo é bem recebido. Depois, a diretoria do São Paulo afir-
mou que deve se tratar de convênio feito pelas categorias
de base. Mas que o ideal seria que eles tivessem recebido
entradas e passado pelas catracas.
Na sequência, no mesmo portão, um grandalhão, com jei-
to de segurança, dá o recado: “O sargento Gonzaga vai en-
trar por aqui, com duas crianças”. Está quase na hora do
clássico. Mas não para de chegar gente. Um PM passa com
dois torcedores que vestem a camisa do São Paulo. Atraves-
sam a apertada recepção, e ele pergunta em que lugar do
estádio os são-paulinos ficarão para ver o jogo.
Chega um PM fardado, com a identificação “soldado
Vieira” no uniforme. Orgulhoso, diz: “Oi, seu Guedes. Hoje
não vim para assistir jogo, vim para trabalhar”.
Mais dois tricolores uniformizados aparecem. “O Eduar-
do do futsal mandou a gente procurar o tenente Mello [ fun-
cionário do clube]”. O fiscal da Federação pede o nome de
um deles e confere uma lista. Não está lá. Aí vem o tenente
Mello, que confunde o repórter de Placar com um funcio-
nário do São Paulo e solta: “É de interesse nosso, deixa en-
trar, ele apitou o jogo de futsal do São Paulo”.
Um dos torcedores confirma: “É, fui eu que apitei, sou o
Roberto Paganini”. No dia 10 de março o árbitro atuou na
vitória do Tricolor por 4 x 2 sobre o São José, pelo Troféu
Cidade de São Paulo de futsal. Mello entra com os dois e dá
um tapinha no peito do repórter, num gesto de cumplicida-
de. Minutos depois, Mello, um dos responsáveis pela segu-
rança no Morumbi e policial militar aposentado, desconfia
que cometeu uma gafe. Aborda o repórter de Placar. “Pen-
sei que você fosse subordinado à nossa diretoria.” Questio-
nado, diz que por lá só entra quem trabalha.
Na partida entre São Paulo e Corinthians, pelas semifi-
nais do Paulista, a reportagem flagrou policiais fardados
passando pelo mesmo portão com gente sem ingresso.
Faltam 25 minutos para Corinthians x
Ituano pelo Campeonato Paulista. Um
homem de terno chega ao portão por
onde entram jornalistas. Pega uma
credencial e diz: “Delegado”. É o sufi-
ciente para entrar. Ele não explica se
está a trabalho. Segundo a Secretaria
Municipal de Esportes, Lazer e Recre-
ação não há lei que permita a entrada
gratuita de policiais no estádio da pre-
feitura. O decreto municipal 25202,
de 1987, reserva 54 lugares no Paca-
embu para a Secretaria. São ainda 64
para a Federação Paulista de Futebol e
54 para membros dos poderes Execu-
tivo, Legislativo e Judiciário. Depois
do policial, chegam seis conselheiros
corintianos, alguns da oposição. A
maioria apresenta um convite de pa-
pel, e um deles mostra a carteirinha
do Conselho Deliberativo. Ninguém é
barrado, apesar de a diretoria alegar
Faltam 55 minutos para começar Pal-
meiras x Botafogo, pelo Campeonato
Paulista. Dois homens se aproximam
do fiscal da Federação Paulista que
controla o portão por onde entram os
times. Parece que vão perguntar algo,
mas percebem que o representante da
Federação está concentrado na retira-
da de uma placa com o escudo do Pal-
meiras. Aproveitam e entram. O por-
tão fica perto do vestiário e do acesso
às arquibancadas. É a portaria mais
vulnerável do Palestra Itália.
Agora a placa já foi retirada. Dois
fiscais da FPF estão por lá, junto com
seguranças do Palmeiras. Um casal
chega, cumprimenta a todos e entra.
Em seguida, seis homens passam.
Nem deixam os nomes numa lista que
os fiscais carregam.
Jean Patrick, diretor do clube,
orienta os seguranças: “Mesmo quan-
do a pessoa estiver autorizada, demo-
rem um pouco. Senão, quem está por
perto acha que é fácil e tenta”. Em se-
guida, um torcedor e uma torcedora
pedem passagem. São 10 minutos até
a liberação. O fiscal tenta anotar os
nomes, mas ouve de um homem cha-
mado Valdeci: “Não precisa, deixe en-
trar. Ele é padre”. E lá se vai o padre
para a arquibancada, vestindo a cami-
sa do Palmeiras com o nome de Jorge
Preá nas costas.
Pronunciar o nome de Valdeci é
como proferir uma palavra mágica
que abre o portão. “O Valdeci libe-
rou”, diz um torcedor, acompanhado
de dois amigos. Deixam os nomes na
lista e estão dentro.
Um segurança do clube sai apressa-
do pelo portão. Volta com o volante
Pierre, que não vai jogar, e dois ami-
gos. Eles passam, mas são barrados no
vestiário. Pierre os deixou para trás.
Questionado pela reportagem, Jean
Patrick diz que entram somente as
pessoas que estão trabalhando, mas
ressalta que não está autorizado a fa-
lar pelo Palmeiras.
que precisariam de ingressos. Outro
torcedor exibe carteirinha com o es-
cudo do time e diz: “Diretoria”. Tam-
bém passa facilmente.
Uma mulher põe a cara no portão e
chama o repórter de Placar: “É você
que está esperando ingresso?” Diante
da negativa, fica parada com o bilhete
na mão. Enquanto isso cambistas gri-
tam: “Ingresso sobrando eu compro”.
E há bilhetes nos guichês.
ra
té
Bilhete vendido por cambista
Este é o portão mais vulnerável
do Morumbi
PL1330 ingressos.indd 56-57 4/21/09 4:50:15 AM
P O R ALEXANDRE SIMÕES E JONAS OLIVEIRA
D E S I G N L . E . R AT T O
F O T O S E U G Ê N I O S ÁV I O
PODE UM GOLEIRO QUE SOFREU UM GOL HUMILHANTE EM UM CLÁSSICO RECUPERAR O PRESTÍGIO JUNTO À TORCIDA? O CRUZEIRENSE FÁBIO PROVOU QUE SIM, FAZENDO DO PIOR MOMENTO DE SUA CARREIRA O COMBUSTÍVEL PARA DAR A VOLTA POR CIMA
ÁPL1330 fabio2.indd 58-59 4/21/09 4:33:59 AM
60 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9 M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR | 61
atingido a marca de 259 jogos pelo
clube, e estava prestes a tomar de
Paulo César Borges (263 partidas) o
posto de quarto goleiro que mais
atuou com a camisa do clube. Ainda
que sua média de gols sofridos após o
fatídico episódio do gol de costas não
tenha se alterado de forma muito sig-
nifi cativa — caiu de 1,16 para 1,13 gols
por partida —, a percepção de seu de-
sempenho melhorou de forma consi-
derável. O Fábio que antes cometia
falhas tão espetaculares quanto algu-
mas de suas defesas deu lugar a um
goleiro mais regular. Tanto que, no
ano passado, fi cou atrás apenas de
imagem rodou o mun-
do: o goleiro caminha
cabisbaixo em dire-
ção ao gol, de costas
para o círculo central,
quando o atacante do time adversário
rouba a bola, ganha a dividida do za-
gueiro e chuta para o gol vazio. O gol,
o quarto da vitória por 4 x 0 do Atléti-
co sobre o Cruzeiro no primeiro jogo
da fi nal do Campeonato Mineiro de
2007, teve efeito devastador no clube.
Jogadores dispensados, pedido de de-
missão do treinador, protestos da tor-
cida. Grande protagonista do lance, o
goleiro Fábio, que já era tido como ir-
regular por parte da torcida do Cru-
zeiro, conquistou a unanimidade, mas
pelo lado negativo. Além de aturar as
piadas dos rivais — que foram desde o
apelido “Fábio de Costas” à imagem
de um suposto novo uniforme, com
um espelho retrovisor —, o goleiro
teve de ser afastado devido a uma sé-
ria contusão, sofrida em um lance do
mesmo jogo. Era a senha para o tér-
mino de seu ciclo no clube.
O que poderia ter sido o fi m se tor-
nou o começo de tudo para Fábio. De
improvável, seu retorno se transfor-
mou em uma surpreendente volta por
cima. De renegado, Fábio passou a ca-
pitão e ídolo da torcida (apesar de
ainda dividir opiniões). Até o fecha-
mento desta edição, Fábio já havia
máximo para ajudar o Cruzeiro”, diz.
Paulo Autuori também defende o jo-
gador. “Fábio é um ótimo profi ssional,
uma boa pessoa e um cara de perfi l vi-
torioso. Aquele foi um lance inco-
mum. Fui conversar na ocasião com
Fábio, sim. Fiz isso porque essa é mi-
nha maneira de viver, não apenas de
trabalhar. Vivo sempre entendendo
que erros acontecem e, no trabalho,
sei quem é quem”, diz Autuori, atual-
mente no Al-Rayyan, do Qatar.
Quem assumiu o Cruzeiro logo após
as fi nais do Mineiro foi Dorival Jú-
nior, que hoje dirige o Vasco. “Já co-
nhecia o Fábio e sabia o que ele repre-
sentava para a equipe. Por isso, logo
que cheguei ao Cruzeiro disse que era
para ter tranquilidade, pois, assim que
estivesse recuperado da contusão,
voltaria a ser o titular”, diz o treina-
dor, que não poupa elogios a Fábio.
“Qualquer treinador gostaria de con-
tar com um atleta como o Fábio no
seu grupo. Ele é uma liderança muito
positiva, um jogador equilibrado. Na
recuperação daquele grupo do Cru-
F Á B I O
Rogério Ceni, do São Paulo, e Victor,
do Grêmio, entre os goleiros na Bola
de Prata de Placar — foi o quinto me-
lhor jogador do Brasileirão.
Era de esperar que Fábio quisesse
esquecer a todo custo o lance do gol
sofrido quando estava de costas. Mas
o jogador usou o fato como combustí-
vel para sua volta por cima. “Foi um
dos momentos mais difíceis da minha
carreira. Mas para mim tudo começou
ali. Foi onde encontrei o verdadeiro
caminho, que leva a Jesus Cristo, e co-
mecei a segui-lo. Hoje, agradeço a
Deus por ter sido na dor”, diz o golei-
ro, que já era evangélico, mas só se tor-
nou praticante de fato após o episódio.
“Passei a encarar a vida de outra ma-
neira. Eu achava que era o melhor, que
não precisava fazer esforço por ter
uma qualidade acima da média. Acha-
va que ia pegar qualquer bola e justa-
mente as bolas fáceis se tornavam as
mais difíceis, e assim aconteciam os
erros”, afi rma o jogador.
Fábio afi rma ter pedido para sair do
clube, mas foi convencido pelo dire-
tor de futebol Eduardo Maluf e o en-
tão presidente Alvimar de Oliveira
Costa a permanecer. “Eles disseram
que eu era o menos culpado pela der-
rota. O Paulo Autuori [então treinador
do Cruzeiro] também foi muito im-
portante naquele momento. Ele me
disse que sabia que eu tinha feito o
“ FÁBIO É UM ÓTIMO
PROFISSIONAL. ERROS
ACONTECEM E, NO TRABALHO,
SEI QUEM É QUEMPaulo Autuori, ex-técnico do Cruzeiro
k
Acima, o momento em que Fábio busca as duas bolas, após o “gol de costas”. Desde então, ele e o Cruzeiro somam uma invencibilidade de dez jogos contra o rival, que seria posta à prova nas finais do Mineiro
A
ACIMA DA MÉDIA
“Ti h b
Tem a menor média de gols sofridos. Foi o goleiro dos títulos da Supercopa em 1991 e 1992 e Copa do Brasil de 1993.
Maior goleiro da história do clube, conquistou 11 títulos — entre eles a Taça Brasil de 1966 e a Libertadores de 1976.
Último grande ídolo a vestir a camisa 1. Foi fundamental nas con-quistas da Copa do Brasil em 1996 e da Libertadores de 1997.
Chegou à seleção, mas também não era unanimidade. Foi o goleiro do título brasileiro e da Copa do Brasil em 2003.
Como titular, venceu apenas dois Campeonatos Mineiros. A torcida o acusa de falhar nos momentos decisivos.
Sofreu várias lesões que o impediram de ter uma sequência no clube. Foi o goleiro do título da Copa do Brasil de 2000.
zeiro, no Brasileiro de 2007, ele foi
fundamental”, diz Dorival.
CONTUSÃO
Não bastassem a goleada e o caráter
inusitado do quarto gol, Fábio ainda
sofreu uma grave lesão. No segundo
gol, após levar um chapéu do atacante
Danilinho, Fábio chocou seu joelho
esquerdo contra a trave e rompeu o
ligamento cruzado posterior. “Na
hora senti que tinha machucado, mas
estava com o corpo quente ainda e
minha musculatura é muito forte. Es-
tava jogando porque não tinha mais
como entrar um jogador. Ia fi car pior
ainda se alguém da linha fosse para o
gol. Falei que ia para o sacrifício”, diz
Fábio. Na época, a contusão do golei-
ro chegou a levantar suspeitas, pelo
fato de ele ter continuado em campo
após a contusão (o lance ocorreu aos
37 minutos do segundo tempo). “O li-
gamento que o Fábio lesou é menos
exigido nos movimentos executados
por um goleiro, pois ele é mais força-
do no giro e o goleiro trabalha
Paulo César Borges Raul Plasmann Dida Gomes Fábio* André
0,71 0,79 0,99 1,00 1,15 1,19
1989 a 1993 e 1998 1966 a 1978 1994 a 1998 2002 a 2004 2000 e desde 2005 1999 a 2003
263 J 189 G 549 J 434 G 303 J 301 G 110 J 110 G 259 J 298 G 123 J 147 G
ENTRE OS MAIORES GOLEIROS DA HISTÓRIA DO CRUZEIRO,
APENAS ANDRÉ TEM PIOR MÉDIA DE GOLS SOFRIDOS QUE FÁBIO
* A T É 1 9 / 4 / 2 0 0 9© 1 F O T O E U G Ê N I O S Á V I O © 2 F O T O A N D R É P O S S A T I / O T E M P O
© 1
© 2
PL1330 fabio2.indd 60-61 4/21/09 4:01:58 AM
62 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9 M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR | 6362 | WWW.PLACAR.COM.BR | A B R I L | 2 0 0 9
Na comunidade do Cruzeiro no
site de relacionamentos Orkut, os
temas mais populares costumam
render até 300 comentários. O tó-
pico recordista, criado em novem-
bro de 2007, se chama “Fábio......
O PEGA NADA...”, e já tem mais de
38600 mensagens. “Pelas mani-
festações, acho que pelo menos
30% dos cruzeirenses não gostam
dele”, diz Paulo Couto Lessa, 36
anos, criador da comunidade. Em
contrapartida, Fábio tem um fã-clu-
be com 150 associados. “Quando
ele sofreu o gol de costas, chega-
ram a mandar mensagens xingando
ele e a gente. Mas não nos inti-
midamos”, diz Bárbara Olimpia,
de 15 anos, que preside o fã-clube.
em cinco partidas, sofreu dez gols.
Em seguida, o próprio Lauro se con-
tundiu e deu lugar ao jovem Gatti, que
sofreu 12 gols em seis jogos — embora
tenha se notabilizado por defender
um pênalti em um clássico contra o
Atlético, vencido por 4 x 2 pelo Cru-
zeiro. A torcida, que aguardava a con-
tratação de um novo goleiro, surpre-
endeu-se com o retorno de Fábio,
antes do tempo esperado. O Cruzeiro
optou por um tratamento não-cirúr-
gico, que no geral exigiria quatro a
seis meses de recuperação. No entan-
to, o goleiro voltou a campo dois me-
ses e meio depois da contusão. “Voltei
sem fazer esforço nenhum. A torcida,
que tinha pedido minha saída, estava
pedindo minha volta ao gol do Cru-
zeiro”, diz Fábio.
Para Sérgio Freire Júnior, o sucesso
da recuperação se deveu à dedicação
do atleta. Para Fábio, tratou-se de um
milagre. “Fiz uma oração diante da
TV. Estava assistindo a um programa
do pastor R.R. Soares, da Igreja Inter-
nacional da Graça de Deus, de São
Paulo, e depois daquele momento tive
a certeza de que iria voltar e bem.
Cheguei a sentir o joelho queimar du-
rante a oração”, afi rma o goleiro.
SELEÇÃOA última convocação de Fábio para a
seleção foi em setembro de 2006, para
os amistosos contra Argentina e País
de Gales. Ao todo, o goleiro tem 16
convocações para o time brasileiro,
embora não tenha atuado um minuto
sequer. “Sou o único goleiro que foi
convocado e não teve a oportunidade
de jogar. Outros que passaram, como
Gomes, Júlio César, Doni, Renan,
Hélton, todos tiveram oportunidade.
Na seleção é fundamental poder ser
analisado, e isso só aconteceu comigo
em treinos”, diz.
De lá para cá, Fábio perdeu o espaço
para outros goleiros, como Doni, da
Roma, e Renan, do Valencia, que de-
fendeu a seleção na Olimpíada. Ainda
assim, com 28 anos, Fábio acredita
merecer a terceira vaga para a Copa
de 2010. “O Fábio Costa já é mais ve-
lho [31 anos]. Felipe e Fernando Hen-
rique se destacam, mas são muito no-
vos [ambos têm 25]. Acho que fi ca mais
entre o Hélton e o Gomes. O impor-
tante é analisar quem está bem, inde-
pendentemente de em qual país joga”,
diz Fábio. Dorival Júnior endossa a
candidatura de Fábio. “Vejo o Fábio
tecnicamente como um dos melhores
goleiros do Brasil, incluindo os que
atuam fora do país. Ele tem totais con-
dições de brigar por uma vaga na sele-
ção e, se ele mantiver a regularidade e
a sequência que vem tendo, com cer-
teza será convocado”, afi rma.
No início do ano, Fábio renovou o
contrato com o Cruzeiro até dezem-
bro de 2011. Seu salário, em torno de
120 000 reais, seria o segundo maior
do clube, menor apenas que o de Klé-
ber, estimado em 150 000. “Tive a
chance de ir para o Osasuna, da Espa-
nha, logo depois que voltei da lesão.
Este ano, o Cruzeiro fez o máximo
que podia para me segurar. Em ter-
mos fi nanceiros, o que tenho aqui é o
que ia ganhar lá fora”, diz o goleiro,
que pretende jogar por mais 12 anos.
“Tenho a oportunidade de tirar o pas-
saporte italiano, isso vai ajudar muito.
Este ano tive proposta de um clube da
Escócia, de um clube menor da Ingla-
terra, que seria uma ponte para um
clube maior, depois que tirasse o pas-
saporte. Estava sendo tratado pelo
Kia [Joorabchian, ex-presidente da
MSI] desde o ano passado. Mais re-
centemente, recebi proposta de um
clube russo”, diz Fábio.
A meta de ser o terceiro goleiro em
2010 parece distante, mesmo com as
boas atuações de Fábio. Para quem es-
teve nas primeiras convocações de
Dunga, fi car fora do Mundial da Áfri-
ca do Sul pode parecer um sinal de
fracasso. Mas, partindo do pressupos-
to de que seria reserva, ir à Copa não
o faria dar o grande salto que falta em
sua carreira: vencer um grande título
como titular — conquistou uma Copa
do Brasil pelo Cruzeiro, um Campeo-
nato Brasileiro pelo Vasco e uma Copa
América pela seleção, todos como re-
serva. Fábio precisa contar de novo
com seus milagres, e com a ajuda de
seus companheiros, para conquistar a
Libertadores e entrar de vez na gale-
ria dos grandes goleiros do Cruzeiro.
E poder olhar para trás, desta vez para
enxergar sua bela volta por cima. ✪
Um dos grandes mentores de Fábio é, quem diria, um dos maiores ídolos
da história do Atlético. “O João Leite foi um precursor, que começou com os
Atletas de Cristo. Ele conta a dificuldade que era, que havia muito preconcei-
to, mas com fé e perseverança Deus o colocou num lugar de destaque e ele
segue carregando isso até hoje”, diz Fábio, que espera tomar emprestado de
João Leite o título de “Goleiro de Deus”. “Espero que não só eu, mas outros
goleiros também.” Também evangélico, João Leite ganhou a alcunha por ter
o hábito de entregar Bíblias aos adversários antes das partidas. João Leite
retribui a admiração de Fábio. “Estive com Fábio algumas vezes nos encontros
dos Atletas de Cristo e ele e a esposa são líderes junto aos outros jogadores.
O Fábio é um excelente goleiro”, afirma o ex-goleiro.
mais com movimentos laterais,
para a frente e para trás e saltos. Além
disso, a força muscular dele ajudou na
sua permanência em campo até o fi m
da partida”, afi rma o médico do Cru-
zeiro, Sérgio Freire Júnior.
Caso semelhante aconteceu com o
goleiro André, que sofreu rompimen-
to do ligamento cruzado com lesão do
menisco no joelho esquerdo. Foi num
lance com Fábio Aurélio, aos 27 mi-
nutos do segundo tempo, em 16 de
agosto de 2000, num empate por 2 x 2
entre Cruzeiro e São Paulo, no Minei-
rão, pela Copa João Havelange. No
mesmo dia seu reserva, Rodrigo Pos-
so, sofreu uma lesão muscular no
aquecimento. “Na hora senti o estalo
no joelho, mas não deu para parar
porque o lance estava correndo. A dor
era grande, mas deu para controlar e
continuar em campo”, afi rmou André
na época. No dia seguinte à contusão,
André foi convocado para a seleção
brasileira por Vanderlei Luxemburgo,
para uma partida contra a Bolívia, pe-
las Eliminatórias. Acabou cortado e
Velloso foi chamado em seu lugar.
Enquanto Fábio se recuperava da
lesão, o goleiro Lauro (hoje no Inter-
nacional) assumiu o gol do Cruzeiro:
Em sua primeira
passagem pelo
Cruzeiro, em
2000, Fábio não
foi aproveitado e
acabou emprestado
ao Vasco.
Lá, foi convocado
pela primeira vez
para a seleção
Fábio: malhado no Orkut, amado pelo fã-clube
ACHAVA QUE IA PEGAR QUALQUER BOLA E JUSTO AS FÁCEIS SE TORNAVAM AS MAIS DIFÍCEIS ”
ATAQUE E DEFESA
GOLEIRO DE DEUS
F Á B I O
k
© 1 F O T O E D U A R D O M O N T E I R O
© 1
PL1330 fabio2.indd 62-63 4/21/09 2:44:52 AM
66 | WWW.PLACAR.COM.BR | D E Z E M B R O | 2 0 0 8
INFÂNCIA MISERÁVEL, FALTA DE COMIDA, DESNUTRIÇÃO... QUEM
VÊ O BRIGADOR TAISON VOANDO NO INTER NÃO TEM IDEIA DO QUE
ELE PASSOU. ATÉ ONDE ESSE RAPAZ OBSTINADO E EVIDENTEMENTE
FOMINHA PODE CHEGAR?
P O R L E A N D R O B E H S D E S I G N K . K . U . L .
F O T O S E D I S O N VA R A
PL1330 TAISONn.indd 66-67 4/21/09 1:59:45 AM
68 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9 M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR | 69
O L U T A D O R
A TRANSFORMAÇÃO
nha de Navegantes 2 (uma vila popu-
lar que fi cou grande demais e ganhou
status de bairro) a inscrição nas esco-
linhas do Brasil de Pelotas. Ficou
pouco tempo lá; afi nal, era preciso pa-
gar para frequentar o clube. A vizinha
não teve condições de continuar qui-
tando as mensalidades, e os Barcellos
Freda tinham outras prioridades na-
quele momento. Taison saiu, mas se-
guiu batendo bola em times de várzea.
Até que um dia foi visto pelo presi-
dente do Progresso — equipe amado-
ra da cidade, que revelou o volante
Émerson, do Milan, e Daniel Carva-
lho, do CSKA, entre outros —, Alcione
Dornelles. Encantado com os dribles
em velocidade do meia-ata cante ma-
gricelo e de pernas fi ninhas, ele foi
até dona Rosângela. Queria levar o
menino para o Progresso. Descobriu
que Taison tinha anemia e difi culda-
des alimentares. “Ele foi para o Pro-
gresso. Passou por um tratamento
com sulfato ferroso para recuperar a
saúde e começou a fazer as refeições
no clube. Em três meses, virou outra
pessoa”, afi rma Dornelles. A cada jogo do Progresso, Taison
começava a se destacar. Aos poucos,
foi se tornando o dono do time. Em
2004, então com 16 anos, o atacante
foi levado por Dornelles ao Beira-Rio
para um teste. Acabou reprovado.
Disseram que ele era muito mirrado,
não tinha corpo para aguentar as pan-
cadas dos zagueiros. Naquele mesmo
ano, Progresso e Inter se encontraram
na semifi nal do Estadual Juvenil. Jo-
gando em Pelotas, Taison foi o desta-
que da vitória do Progresso sobre os
colorados. No jogo de volta, em Porto
Alegre, o Inter acabou eliminando o
adversário. E Taison nem voltou para
casa. Ficou morando na concentração
do Beira-Rio, com Alexandre Pato,
que o considera seu “sucessor”.
Sempre antes de entrar em campo,
Taison cumpre um ritual. Telefona
para a mãe e pede a bênção. Só assim
joga tranquilo. Apesar dos 21 anos,
ainda tem uma ligação umbilical com
dona Rosângela. Foi ela quem conse-
guiu criar os fi lhos com dignidade,
longe das drogas, algo comum entre a
garotada da Navegantes 2. Talvez por
esse apego à mãe ele tenha custado a
estourar no Inter. Após dois anos de
clube, Taison voltou para Pelotas e
não apareceu mais no Beira-Rio. Era o
fi m da temporada 2006, e ele surgia
como o grande trunfo do Inter...
“Ele havia sido eleito o melhor jo-
gador em um torneio na Holanda. Ha-
via europeus de olho, estávamos in-
vestindo pesado nele, realizando k
“ ELE PRECISAVA SER
FORTE PARA VENCER NA VIDA.
POR ISSO O NOME: TAISON
Freda, a manter os 11 fi lhos. “Guarda-
va 2 reais para jogar fl iperama”, afi r-
ma Taison, que tinha então 10 anos,
lembrando alguns dos poucos mo-
mentos de alegria de sua infância.
Com um time de futebol para cui-
dar e separada do pai de seus fi lhos,
dona Rosângela diz que teve um pres-
ságio na hora em que foi registrar
o oitavo fi lho. Se os demais se chama-
vam Tatiana, Felipe, Fabiana, Leandro
e Márcio (gêmeos), Diego, Jaqueline
— e, depois de Taison, ainda vieram
Yasmin, Camila e Humberto —, por
que dar um nome americanizado, de
um boxeador famoso, à criança?
“Acho que tive um ‘cutuque’. Ele
nasceu ‘pequeninho’ demais, precisa-
ria ser forte para vencer na vida. Gos-
tava de ver o Mike Tyson lutar na TV.
Era forte, como sempre sonhei para
meus meninos. Só que o meu Taison
se escreve diferente, né? Registraram
assim no cartório. Mas o som do nome
é o mesmo”, diz a mãe coruja.
Aos 15 anos, mesmo menorzinho
que os demais guris de sua idade, Tai-
son ganhou de presente de uma vizi-
izer que a maioria
dos jogadores surgi-
dos no Brasil saiu da
base da pirâmide
social é lugar-co-
mum. Geralmente os que vencem vie-
ram de famílias pobres, com poucos
recursos, e passaram por uma infân-
cia de difi culdades. O novo ídolo do
Inter, porém, vivenciou o lado mais
doloroso da miséria: a fome.
Nas noites de frio em Pelotas, para
ter o que comer em casa, Taison pre-
cisava entrar na fi la do “sopão do po-
bre”, na porta lateral da Igreja Cabe-
luda (como é conhecida a Catedral
Anglicana de Pelotas, que recebeu o
apelido depois que uma trepadeira
cobriu o prédio de folhas e galhos).
Panelinha na mão, geralmente vestia
um abrigo e um par de chinelos. Ho-
ras antes de se juntar a muitos outros
necessitados, ele já havia passado a
tarde nas ruas do bairro Fragata, tra-
balhando como fl anelinha, cuidando
de carros por alguns trocados. Ganha-
va de 7 a 8 reais por dia. Dava 5 para
auxiliar a mãe, Rosângela Barcellos
F O T O R E N A T O P I Z Z U T T O
Como passar de promessa
a principal jogador do time?
Para Taison não foi fácil. Não
fosse um desafio proposto
pelo dirigente Fernando Car-
valho, talvez a história fosse
diferente. Incomodado com a
falta de apetite pela artilharia,
Carvalho propôs uma aposta.
Caso Taison marcasse 20 gols
até a metade do ano, teria
100% de aumento; passaria de
15000 para 30000 reais men-
sais. Até a fim do Gauchão, o
atacante já havia marcado 17...
Mas não foi só por dinheiro
que Taison passou a marcar
gols. Após a transformação
física, ele foi treinado para
destruir goleiros. Desde outu-
bro de 2008, o auxiliar-técnico
Cléber Xavier vem trabalhando
finalizações com o guri. Neste
ano, ele trabalha escanteios,
faltas e pênaltis. “Taison é do
nível de Nilmar, de Keirrison,
mas vai atingir o auge lá por
2010, 2011”, afirma Xavier.
Em 2008, Taison foi promovido aos profissionais e
entregue ao coordenador de preparação física do Inter,
Élio Carravetta. Precisava aumentar a massa muscular.
Ganhou 5 kg. Passou para 69,5 kg, com 49,5% de massa
muscular. Uma conquista à base de treinamento e carboi-
dratos. Ganhou em explosão muscular, força, arranque,
agilidade e velocidade. “Modificamos a estrutura genéti-
ca do Taison e a adaptamos para o futebol”, resume Car-
ravetta. Hoje, Taison é um dos jogadores mais velozes do
Brasil. Ele e Nilmar correm a cerca de 30 km/h, conforme
os fisicultores colorados. Taison é mais rápido em linha
reta, Nilmar tem maior agilidade para se livrar
de adversários. Problemão para as defesas inimigas.
D O N A R O S Â N G E L A , m ã e d e T a i s o n e f ã d o o u t r o , o b o x e a d o r
Contra o Novo
Hamburgo, pelo
Gauchão: o melhor
do campeonato
Comemorando um título, como um boxeador: ainda faltam músculos
Carvalho: apostando em seu menino
© 1
PL1330 TAISONn.indd 68-69 4/20/09 9:11:15 PM
70 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9
um trabalho de reforço muscular.
Mas ele foi para casa, sentia muita fal-
ta da mãe e sabia que precisava traba-
lhar para ajudar a família”, diz Jorge
Macedo, diretor da base do Inter. “Só
conseguimos convencê-lo a voltar
quando dissemos a ele que a melhor
forma de ajudar em casa seria se tor-
nando profi ssional.”
Assim que começou a ganhar me-
lhor, logo nos primeiros meses de
profi ssional, Taison comprou um
apartamento de dois quartos próximo
ao Beira-Rio e trouxe dona Rosângela
para a capital — junto com o irmão ca-
çula, Humberto. Adquiriu também
um Ford Fiesta, mas ainda não tem
carteira para dirigir. “Sempre ouço a
mãe. Ela costuma dizer para eu jamais
esquecer de onde saí. Nunca vou mas-
carar”, assegura ele, garantindo que,
se um dia for para a Europa, dona Ro-
sângela embarcará junto.
Por enquanto, o Inter pode curtir o
ídolo à vontade. Ele é o jogador do
ano do Colorado. Por conta dele, o
clube abriu mão de Alex, principal
atleta da equipe em 2008. “Ele ama-
dureceu muito rápido”, elogia o téc-
nico Tite. O dirigente Fernando Car-
valho acredita que Taison será a
grande revelação do ano no Brasil. Nilmar até pode ser vendido na aber-
tura da janela européia. Taison, não. A
multa contratual é de 40 milhões de
euros — os direitos federativos do jo-
gador pertencem 80% ao Inter e 20%
a Alcione Dornelles, seu descobridor.
Nos próximos dias, Taison terá per-
sonalizada a camisa 7 — assim como
D’Alessandro é o 10, e Guiñazu, o 5.
Com a autoridade de capitão do time,
Guiña vai além. “Não quero me meter
com a seleção de vocês, mas, em breve,
Taison estará pedindo passagem no
time de Dunga.” Alguém duvida?
Com Nilmar: a dupla
mais rápida do
futebol brasileiro
Contratado pelo Inter em
julho, D’Alessandro chegou a
Porto Alegre como o grande
nome do futebol gaúcho. No
vestiário, encontrou o con-
terrâneo Guiñazu, o primeiro
a dar-lhe as boas-vindas. Aos
poucos, porém, percebeu que
um guri curioso se aproxima-
va. Era Taison. Dos primeiros
dias de convivência nasceu
uma grande amizade. Taison
ensinou os primeiros palavrões
a D’Alessandro, que em troca
abriu sua casa para o guri.
Taison passou a conviver com
a esposa do meia, Erika, e os
filhos, Martina e Santín. Taison
ensinou D’Alessandro a gostar
de pagode. “Taison é um meni-
no de ouro. Teve uma infância
sofrida, certamente muito
mais dramática que a de qual-
quer um de nós. Hoje é ídolo do
Inter, algo difícil para qualquer
um”, diz D’Alessandro. “Eu me
inspiro muito nele. Quero ter
uma carreira tão bonita quanto
a do Dale”, devolve Taison.
k
D’Alessandro: fã incondicional de Taison
PL1330 TAISONn.indd 70 4/20/09 9:11:46 PM
k
© I L U S T R A Ç Ã O S O B R E F O T O S D E A F P / I M A G E F O R U M / M A U R I C I O L I M A E D I V U L G A Ç Ã O N I K E
FERAACUADA
POR T H I A G O B A S T O S
DESIGN K . K . U . L . F O T O M A U R Í C I O D E S O U Z A
COM UM CURRÍCULO CHEIO DE ENCRENCAS E DEFESAS EM
JOGOS DECISIVOS, FÁBIO COSTA ENFRENTA RESISTÊNCIA
NA VILA BELMIRO. E, ADIVINHE, NÃO ESTÁ NEM AÍ
oze de fevereiro de
2009, Estádio Bento
de Abreu. No inter-
valo do jogo contra
o Marília, Fábio
Costa chega ao vestiário e se desen-
tende com o zagueiro Fabiano Eller.
Eles são apartados, após discussão
que descambou para a agressão. O
goleiro tenta usar uma tesoura
como arma. Jogadores e seguranças
têm de intervir, enquanto o técnico
Márcio Fernandes acompanha a
cena, perplexo.
DO episódio é só mais um na exten-
sa lista de confusões que envolvem
Fábio Costa, desde que chegou à
Vila Belmiro em 2000. De lá para cá,
foram mais de 330 partidas com a
camisa do Santos, alternando defe-
sas espetaculares, falhas grosseiras
e explosões de fúria. Chamado pelos
fãs de “Fera” ou “Muralha”, o golei-
ro convive também com duras críti-
cas de quem reclama de seu tempe-
ramento e o acusa de estar sempre
acima do peso. “Não me considero
polêmico. Defendo minhas ideias.
As pessoas estão acostumadas com
jogadores que dizem ‘sim senhor’
pra tudo”, afi rma ele.
Após a briga com Eller, conselhei-
ros do clube pediram a cabeça do
camisa 1 ao presidente do Santos,
Marcelo Teixeira. Fábio reagiu
como uma fera arredia. “Recomen-
daria ao clube buscar um outro go-
leiro, desde que esteja disposto a
trazer alguém que não vai entrar em
campo. Porque quem vai jogar sou
eu. Sempre foi assim”, afi rma o go-
leiro de 31 anos. k
72 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9 Antes mesmo de chegar ao Santos, o goleiro já
revelava seu destempero. No Brasileirão de 1999,
num jogo entre Vitória e Atlético-MG, deu golpes
PL1329 FABIO COSTA.indd 72-73 4/20/09 10:17:40 PM
74 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9 M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR | 75
das no Parque São Jorge, aconteceu
pelo fato de o dirigente nunca ter en-
golido a saída de seu protegido. Mes-
mo no Corinthians, o goleiro recebia
ligações do cartola todas as semanas.
“Logo que assumi, em 2000, fomos
buscar o Fábio no Vitória. No Santos,
ele tem uma trajetória vitoriosa, sen-
do injustiçado em convocações para a
seleção, pois está entre os melhores
do mundo”, diz Teixeira.
No ano seguinte à conquista do
Brasileiro de 2002, Fábio estava no
auge da carreira. Pelas oitavas-de-fi-
nal da Libertadores, pegou três pênal-
tis contra o Nacional de Montevidéu,
na Vila Belmiro. Por que não foi con-
vocado? A explicação está no lado ne-
gativo da Fera. No fim de 2001, o Pei-
xe trouxe Carlos Alberto Parreira. O
descontrole do goleiro contribuiu
para encurtar a permanência do trei-
nador na Vila Belmiro, e provavel-
mente fechou suas portas na seleção
— mesmo antes de reassumir o co-
mando do time nacional, Parreira ti-
nha trânsito na CBF. Durante um pe-
ríodo de treinamentos no interior de
São Paulo, o massagista Ari Jarrão
lançou um copo de água para o golei-
k
O MÉDICO E O MONSTROFÁBIO COSTA COLECIONA ATUAÇÕES MEMORÁVEIS, ESPECIALMENTE EM JOGOS DECISIVOS. MAS SEU CURRÍCULO TAMBÉM TEM CONFUSÕES INESQUECÍVEIS
F Á B I O C O S T A
Acima, o início
de sua carreira,
no Vitória, onde
arrumou uma briga
memorável em
um jogo contra o
Atlético-MG. Pela
seleção brasileira,
fez parte do grupo
que conquistou
o torneio Pré-
Olímpico, em
2000. Ao lado, sua
passagem pelo
Corinthians — onde
protagonizou lance
polêmico com Tinga,
no Brasileirão de
2005 — antes de
retornar ao Santos
1 BOTAFOGO 0 X 1
SANTOS
18/10/08, Engenhão
De volta após longo período lesionado,
faz primeiro tempo de gala.
2 AMÉRICA-MÉX
0 X 0 SANTOS
16/5/07, Azteca
Segura os mexicanos pelas
quartas-de-final da Libertadores.
3 SANTOS 0 X 0
BRAGANTINO
22/4/07, Morumbi
Na semifinal do Paulista, faz pelo
menos três defesas importantes.
4 SANTOS 2 X 2
NACIONAL
07/5/03, Vila Belmiro
Defende três cobranças de pênalti
e classifica o time para as quartas-
de-final da Libertadores.
5 CORINTHIANS
2 X 3 SANTOS
15/12/02 Morumbi
Com três defesas espetaculares,
garante o título brasileiro.
1 MARÍLIA 2 X 1
SANTOS
12/2/09, Bento de Abreu
No intervalo, briga com Fabiano Eller
no vestiário. O desentendimento é o
estopim para o pedido de demissão
do técnico Márcio Fernandes.
2 SANTOS 1 X 2 BARUERI
31/1/08, Vila Belmiro
É afastado da concentração por
Emerson Leão após discutir com o
preparador de goleiros Pedro Santilli.
3 SANTOS 1 X 1
FLUMINENSE
20/9/06, Vila Belmiro
Torcedores reclamam da atuação do
goleiro, que responde com gestos obs-
cenos. Na saída do vestiário, briga com
a torcida. Um funcionário do Santos se
fere com vidro atirado pelo goleiro.
4 INTER 3 X 0
SANTOS
15/11/01, Beira-Rio
Desentende-se com o técnico Carlos Al-
berto Parreira por ter sido substituído em
um treino coletivo. Antes da derrota de 3
x 0 sofrida para o Inter, em Porto Alegre, o
técnico presencia Fábio Costa descon-
trolado no vestiário com o roupeiro.
5 AMISTOSO
14/7/01, Jalisco
Contra o Atlas, em Guadalajara
(México), atravessa o gramado
do Estádio Jalisco e acerta uma
voadora no peito de um adversário.
ro. O copo explodiu no peito da Fera.
Foi o sufi ciente para Fábio agredir o
funcionário. Contra o Internacional,
em novembro de 2001, o roupeiro es-
queceu em Santos a camisa que Fábio
utilizava de seu patrocinador. O golei-
ro explodiu em xingamentos no vesti-
ário, enquanto Parreira tentava orien-
tar os jogadores. No retorno a Santos,
o técnico pediu demissão.
“O Parreira é um cara muito culto e
eu era muito jovem, queria abraçar o
mundo. Ele me tirou de três coletivos
seguidos com 5 minutos. Minha cabe-
ça foi a mil. Discuti com ele. Mandei
[o técnico] para aquele lugar. Não foi
correto, mas entendo que fui sincero.
Pelo menos não fui fazer panelinha
para derrubá-lo pelas costas”, diz o
jogador, que acredita que o desenten-
dimento o tenha tirado da seleção.
“Adoraria ter disputado uma Copa,
mas aprendi a conviver sem isso. Não
me arrependo. O Leonardo deu uma
cotovelada na Copa [de 1994] e conti-
nuou sendo bonzinho. Nas cagadas
que faço, só eu me ferro.”
Quem convive com Fábio Costa diz
que ele é de lua. Capaz de descer para
o café da manhã e abraçar os compa-
nheiros e mudar de comportamento
no almoço, horas depois. O tempera-
mento difícil inibe quem é novo no
Santos. Fábio odeia quem chega ga-
nhando muito, sem ter identificação
com o clube. Os zagueiros temem er-
rar, alguns treinadores se sentem
pressionados. “É muito mais cômodo
elogiar que cobrar por um posiciona-
mento errado. Não faço nada para
agradar ninguém. É meu jeito. Jamais
mando recado; digo na cara. Sempre
fui assim e perdi muitas coisas no fu-
tebol por causa disso. Minha cachaça
é ser autêntico. Quem gosta, bem,
quem não gosta, azar”, dispara. k
Antes mesmo de chegar ao San-
tos, o goleiro já revelava seu destem-
pero. No Brasileirão de 1999, num
jogo entre Vitória e Atlético-MG, deu
golpes de capoeira em Lincoln e
Gallo, armando uma briga generali-
zada no Estádio Independência, em
Belo Horizonte. Apostando em seu
talento, o Santos deu de ombros e
trouxe no ano seguinte o goleiro tão
promissor quanto problemático.
Na Vila, Fábio Costa goza de muito
prestígio com o presidente, que o
considera um fi lho. Seu retorno ao
clube, em 2006, após duas tempora- Contra o Nacional, três pênaltis defendidos
© F O T O 1 F E R N A N D O V I V A S © F O T O 2 J A D E R D A R O C H A © F O T O 3 R E N A T O P I Z Z U T T O
© 1
© 3 © 3
© 3
© 2
PL1329 FABIO COSTA.indd 74-75 4/20/09 9:06:47 PM
76 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9 © 1 F O T O R E N A T O P I Z Z U T T O © 2 F O T O D I V U L G A Ç Ã O
Sobre seu comportamento mui-
tas vezes intempestivo, Fábio se de-
fende. “Campo de jogo não é conven-
to. Não concordo em punirem um
jogador com quatro ou cinco meses
de suspensão. Tem bandido que mata
e não fi ca nem uma semana na ca-
deia”, afirma o goleiro. “Tento me
controlar, mas na hora não consigo.
Acho que sou foco de muita coisa por
ser capitão do time. Fico sobrecarre-
gado. Não justifica, mas chega uma
hora que acabo explodindo.” Francis-
co Lopes, ex-diretor de futebol do
Santos, conviveu com o goleiro e con-
ta que o clube desenvolveu uma téc-
nica para lidar com suas explosões.
“Sempre colocamos o baú de roupa ao
alcance do Fábio no vestiário. Quan-
do o Santos perde, ele arrebenta o
baú. Ele bate ali para não dar um soco
no treinador ou no diretor”, diz Lo-
pes. Fábio admite a histeria após um
revés. “Já quebrei várias portas de
vestiário pelo fato de um juiz meter a
mão no time ou por uma discussão
com alguém”, confi rma.
Mas, se treinadores menos tarim-
bados tinham receio de Fábio Costa,
com Emerson Leão era diferente. A
relação entre os dois era de respeito,
embora um desafiasse o outro cons-
tantemente. “Com o Leão minha rela-
ção foi totalmente profissional. Saí do
Santos [no fim de 2003] porque ele
não queria trabalhar comigo e tinha
um cara de confi ança que era o Júlio
Sérgio [goleiro reserva]. Mas não exis-
te corpo mole comigo. Jamais me de-
dicaria menos pelo fato de o Leão ser
o técnico”, afi rma Fábio.
Pelo Santos, Fábio não é só atleta. É
também torcedor. Associado do clube
desde 2006, comprou um camarote
para a família na Vila Belmiro e ajuda
os funcionários mais carentes. Em
2006, por exemplo, pegou o dinheiro
da caixinha dos jogadores, no fi m do
ano, e comprou várias TVs de 29 pole-
gadas para os funcionários mais hu-
mildes. Muito companheiros não
concordaram. Fábio nem ligou.
Fábio Costa tem contrato com o
Santos até 2012. Até lá, seus desafetos
terão de engolir seu temperamento —
e suas inegáveis boas atuações em jo-
gos decisivos. E, se seus planos derem
certo, terão de suportá-lo ainda por
muito tempo. “Quero parar bem da-
qui a quatro anos. Depois, tenho abso-
luta certeza de que vou contribuir
como dirigente. Não vou dar moleza,
mas também irei cumprir com minha
palavra. Não serei como esses diri-
gentes que enrolam jogador.”
✪
F Á B I O C O S T A
k
Semifinal contra
o Palmeiras: nem
o frango ofuscou
sua atuação
CASO DE POLÍCIAEm março, o nome de Fábio Costa
esteve envolvido em um crime
passional. A polícia teve acesso aos
registros telefônicos do celular
de Ana Cláudia da Silva, 18 anos,
morta pelo ex-marido, Janken Ferraz
Evangelista, e confirmou que a
vítima havia feito uma ligação para
o goleiro santista, pouco antes de
ser assassinada. O telefonema
foi apontado pelo acusado como
o estopim para a briga entre o casal.
Em entrevista coletiva concedida
ao lado de sua esposa, Fábio disse
que conheceu a ex-mulher de Janken
em 2005, quando jogava no Corin-
thians. Ele negou, no entanto, ter
tido um relacionamento com ela. Ao lado da esposa, Fábio se explicou
✪
© 1
© 2
PL1329 FABIO COSTA.indd 76 4/20/09 9:07:32 PM
P O R M A R C O S S E R G I O S I LVA D E S I G N K . K . U . L .
F O T O S R E N AT O P I Z Z U T T O
O SORRISO DE DENTINHO TEM DIAS CONTADOS NO CORINTHIANS: A ESPERANÇA É FAZER ALGUM DINHEIRO COM O GAROTO DE 20 ANOS, UMA DAS POUCAS CRIAS DO TERRÃO QUE DERAM CERTO NO CLUBE NESTA DÉCADA
SEGUNDADENTIÇÃO
uando esta reporta-gem começou a ser apurada, tudo indi-cava que o destino de Dentinho seria a Itália. Inter e Juven-
tus eram as líderes dos boatos. Certo é que Dentinho — ou Bruno Bonfim, como seu primeiro técnico, Paulo Cesar Carpegiani, gostaria que fosse chamado (“Um nome tão bonito...”, diz o treinador, lamentando) — não deve ficar para o segundo semestre. Aos 20 anos, o atacante é a esperança
Qdo Corinthians de fazer dinheiro com a safra que colheu a grama mal-dita dos rebaixados em 2007.
“De 12 milhões a 15 milhões de eu-ros a gente aceita negociar”, chuta seu “descobridor” José Ferreira, o Talquinho. Dentinho tem a idade e o estilo que o Velho Mundo procura. Corre, arma e não sentiu o baque da progressão repentina, que contem-porâneos seus das categorias de base sofreram (veja texto na pág. 81). A camisa de titular lhe caiu bem.
O caso é raro em se tratando das
crias corintianas nesta década. Des-de a geração campeã da Copa São Paulo em 1999 um rebento da base não conquistava técnico e torcida. Nesse intervalo, não fixaram posição promessas como Jô e Rosinei.
Dentinho age como se não fosse deixar o país tão cedo. Uma oferta de 7 milhões de euros dos Emirados Árabes já foi recusada em 2008 por clube, jogador e pelo empresário, o ex-lateral do Palmeiras Cláudio Gua-dagno. A venda faria três partes lu-crarem: além do Corinthians, dono k
PL1330 DENTINHO.indd 78-79 4/21/09 1:03:29 AM
80 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9 M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR | 81
comandado por Talquinho no vizinho
Jaguaré. Sua primeira ficha como jo-
gador foi preenchida no Força, clube
ligado à central sindical, na terceira
divisão do Campeonato Paulista.
A estreia entre os profissionais viria
no Brasileiro de 2007, na fatídica cam-
panha do rebaixamento. “Fui o treina-
dor das vacas magras”, afirma Paulo
Cesar Carpegiani, obrigado a recorrer
à base para repor as perdas. “Vieram
só quatro jogadores do Bragantino. O
restante tive que apelar para juvenis,
como o Dentinho.”
O elenco remendado não foi sufi-
ciente para manter o clube na série A.
Em 2008, Mano Menezes assumiria
como técnico e efetivaria Dentinho
no ataque. Em breve o garoto que imi-
tava as coreografias de Marcelinho
estaria comemorando seus gols. Nas
primeiras férias como profissional,
tatuou nos pulsos os nomes do pai e
da mãe. Desde então, beijá-los viraria
marca registrada e de sorte: terminou
2008 artilheiro do time, com 24 gols.
“Ele é veloz, finta com velocidade e
é goleador”, diz Adaílton Ladeira,
técnico de Dentinho no curto espaço
em que jogou nos juniores. “Mas ele
deveria passar mais tempo no amador
para ganhar nos fundamentos.” Se-
gundo Ladeira, Dentinho aproveitou
(bem) a série B para corrigir alguns
defeitos. Melhorou no arremate, nos
passes e nos cruzamentos, mas ainda
está longe do ideal. “Ele tem dificul-
dade no domínio da bola”, afirma.
Mas Dentinho ainda tem muito a
aprender. Até mesmo com o “pai” pos-
tiço, Ronaldo Fenômeno, que pratica-
mente adotou o menino nesses quatro
meses de Parque São Jorge. “Ele não
gostou muito quando disse que forma-
ríamos a dupla Dentinho e Dentão”,
diz, rindo, o jogador. “Pediu para arru-
mar outro parceiro.”
No clássico contra o Santos, no Pau-
lista, o brilho do menino ofuscou as
outras duas estrelas — além de Ronal-
do, Neymar — com o gol que decidiu o
duelo. Mais forte, Dentinho prevê que
o sorriso vai durar ainda mais nessa
fase “adulta”: os dentes de menino
podem dar lugar aos de astro do fute-
bol, neste ou no Velho Mundo.
© F O T O 1 E D I S O N V A R A
ELES AINDA NÃO VINGARAM
SORTE OU REVÉS
Com Ronaldo:
“pai” e “filho”
ou “Dentão”
e Dentinho
Lulinha: talento empacado no clube
O beijo nos nomes
da mãe e do pai nos
pulsos: marca própria
O Fenômeno no time
trouxe projeção ao ata-
cante. Ronaldinho Gaú-
cho, por tabela, já andou
falando bem do garoto.
Arsenal, Juventus e Inter
se interessaram
Quando Ronaldo che-
gou, Dentinho estava na
seleção sub-20. Voltou
sem lugar certo no time,
que ainda tinha Lulinha,
Souza, Jorge Henrique e
Otacílio Neto na posição
RONALDO
O Corinthians pós-MSI
era um time sem grana e
sem atletas, o que facili-
tou sua estreia. Na série
B, jogou contra equipes
mais frágeis, o que aju-
dou em sua adaptação
Dentinho pulou etapas
e chegou rápido ao pro-
fissional, mas deixou de
aprender alguns funda-
mentos — o passe e o
arremate, por exemplo,
precisam melhorar
A QUEDA
Tem como empresários
Talquinho (foto) e Cláu-
dio Guadagno, que fez
com que fosse testado
no Corinthians depois
de duas baterias prati-
camente ignorado
Guadagno hoje é ad-
versário da direção do
clube, o que faz com que
seu salário seja um dos
mais baixos do time —
45000 reais, inferior
aos de Acosta e Lulinha
O AGENTE
Nem tudo são fl ores na carreira de Dentinho. Desde que foi promovido, teve que passar por algumas provações
Os três vieram na mesma leva de Dentinho. Entenda o que aconteceu com cada um deles
ALLISON
Artilheiro do Corinthians na Copa
São Paulo de 2007, a mesma em
que Dentinho jogou, não foi apro-
veitado pelo time profissional.
Emprestado para o Atlético-PR
no fim de 2008, ainda não teve
chances na equipe principal.
RENATO
Zagueiro, considerado o “Breno
melhorado”, segundo Zé Augusto,
técnico da base. O Grupo Sonda
adquiriu 25% do passe no fim
do ano passado. Subiu para
o profissional no começo de
2008, mas não é aproveitado.
LULINHA
Era a maior aposta das catego-
rias de base: marcou 297 gols.
Entre os profissionais, teve seu
talento contestado pela torcida
e só marcou um gol neste ano.
Deve ser negociado.
de 52% do seu passe, o próprio
Guadagno, que detém 20% com Tal-
quinho, e o fundo de investimentos
Sonda (outros 28%).
“Não penso em ir para esses lugares
afastados”, afirma o próprio jogador,
amparado pelo discurso de Talquinho.
“Se pensasse apenas na independência
financeira, estaria tranquilo, mas seu
futuro como jogador estaria compro-
metido”, diz Talquinho. De fato, Denti-
nho quer jogar fora do país, mas prefere
escolher Espanha ou Itália.
Dinheiro seria determinante para o
garoto de família humilde, cria de uma
escolinha de futebol na região do Rio
Pequeno, zona oeste paulistana, e que
dependia da ajuda de 70 reais mensais
do São Paulo, primeiro clube em que
tentou a sorte no futebol. Dentinho
cresceu num conjunto residencial cons-
truído para abrigar funcionários do or-
fanato no qual seu pai, o vigia Adonias,
e sua mãe, a assistente social Nilce, tra-
balhavam. Da mãe herdou a religião bu-
dista. Na casa adquirida com o salário
de 45000 reais, abaixo do de colegas de
elenco como Souza, Acosta e Lulinha,
todos na reserva, guarda um oratório
em que dedica suas preces. “É na reli-
gião que encontro a tranquilidade. Por
isso estou sempre bem-humorado.”
Antes de chegar ao Corinthians,
Dentinho passou por algumas prova-
ções. Uma delas foi ser dispensado da
base do São Paulo ainda menino. “Foi
uma decepção muito grande”, afirma,
lembrando a fase em que seu corpo
franzino servia para questionar seu
talento com a bola nos pés. “Sempre
enfiei na cabeça que era magrinho,
mas habilidoso, e tinha que tomar
muito tapa para ganhar espaço”, diz.
De lá, migrou para a escolinha do
Rio Pequeno, mais tarde incorporada
ao Molecaje, um celeiro de jogadores
k
© 1
PL1330 DENTINHO.indd 80-81 4/21/09 1:04:02 AM
M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR | 83
planeta bola
k
C R A Q U E S E B A G R E S Q U E F A Z E M O F U T E B O L N O M U N D O
E D I Ç Ã O J O N A S O L I V E I R A D E S I G N K . K . U . L .
© F O T O P I E R G I A V E L L I
k Grafi te deixou o futebol brasileiro, em 2006, com
a carreira marcada por episódios polêmicos ou inu-
sitados. Em 2004, estava ao lado do zagueiro Serginho, do
São Caetano, quando ele teve uma parada cardíaca fulmi-
nante. Meses antes, marcou contra o Juventus no Campeo-
nato Paulista e salvou o Corinthians do rebaixamento. Em
2005, foi o pivô da prisão do zagueiro argentino Leandro
Desábato, do Quilmes, acusado de racismo em jogo da Li-
bertadores. No início desta temporada, já no Wolfsburg,
Pichando o seteCom uma carreira marcada por polêmicas e fatos inusitados, Grafite enfim passa a ser reconhecido na Alemanha por seu verdadeiro ofício: fazer gols
k
virou motivo de piada ao desmaiar durante um treino físico
do técnico Felix Magath. Agora Grafite volta às manchetes.
Desta vez pelos gols, muitos gols, que tem marcado.
O mais impressionante deles, na goleada por 5 x 1 sobre
o Bayern de Munique, escreveu defi nitivamente seu nome
na história da Bundesliga. O lance é repetido à exaustão na
televisão local e tornou o atacante uma celebridade em solo
alemão. Os pedidos de entrevista são tantos que a assessora
de imprensa do Wolfsburg já sabe de cor e salteado a his-
Grafite: em sua terceira temporada na Europa, ele reencontrou o gol
01_PL1330_ABRE.indd 83 4/20/09 7:36:24 PM
84 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9 M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR | 85
planeta bola
k
Esqueceu de mimAbandonado por Dunga, Afonso Alves fala sobre a seleção brasileira e a reserva no quase rebaixado Middlesbrough
© 1 F O T O P I E R G I A V E L L I © 2 F O T O A F P © 3 F O T O D I V U L G A Ç Ã O
Melhor que Eto’oRodrigo Teixeira é o melhor brasileiro em ranking da IFFHS
© 1
kQuando foi seu último con-
tato com Dunga?
Faz tempo, mas não há nada de es-
tranho nisso. Se não faço gols, se mi-
nha equipe não vence, é normal que
eu não seja lembrado. Não tenho nada
para reclamar, pelo contrário.
As críticas ao Dunga quando o
convocou não foram poucas...
As pessoas falam mal do Dunga,
mas os jogadores gostam dele. Nunca
um treinador abriu tantas portas para
os jogadores de fora dos grandes cen-
tros. Deu chance a quem estava na
Rússia, Ucrânia, Holanda, convocou
vários jovens. E ganhou a Copa Amé-
rica, então ninguém pode criticá-lo.
No Middlesbrough, você é criti-
cado por ser a contratação mais
cara da história. O que houve?
Ah, os jornais aqui adoram escrever
isso de “o jogador mais caro”, mas eu
não dou bobeira para eles. Nosso time
tem bons jogadores, mas deixaram
kArtilheiro do Deportivo Cuen-
ca na Libertadores, Rodrigo
Teixeira pode ser considerado o me-
lhor atacante brasileiro em atividade
— ao menos pelos critérios da IFFHS
(Federação Internacional de História
e Estatística do Futebol). Conhecido
por seus rankings polêmicos, o órgão
internacional classifi cou Rodrigo na
nona posição entre os melhores arti-
lheiros de todo o mundo em 2009 — o
camaronês Eto’o, por exemplo, apare-
ce apenas em 50º. Natural de Barra
Mansa-RJ, Rodrigo surgiu para o fu-
RODÍZIO MEXICANOCarlos Vela e Giovani dos Santos, ambos com 20 anos, deixaram cedo o México
rumo à Europa. Aos 16, Vela fechava contrato com o Arsenal e Giovani era
descoberto por olheiros do Barcelona. Mas, enquanto Giovani despontava na
equipe principal do Barça em 2007, Carlos Vela estava esquecido, emprestado ao
Osasuna-ESP. Agora a situação se inverteu. Sem oportunidades no Barça, Giovani
foi vendido ao Tottenham e, no início de março, emprestado ao Ipswich Town, da
segunda divisão inglesa. Já o pupilo dos Gunners, de volta à Inglaterra desde o
ano passado, vive sua melhor fase. Começa a se firmar no time de Arsène Wenger
e ganha espaço, também, na seleção principal do México. B R E I L L E R P I R E S
Rodrigo Teixeira: o
melhor brasileiro em
atividade — ao menos
para a IFFHS...
tebol nas categorias de base do Vasco
da Gama — foi vice-campeão da Copa
São Paulo de Futebol Júnior em 1999.
Depois de ser emprestado para equi-
pes de pequena expressão no Brasil,
Rodrigo foi contratado pelos equato-
rianos do Esmeraldas Petrolero. De
lá, foi para o Barcelona de Guayaquil,
antes de chegar ao Deportivo. Em
2003, chegou a ser convidado para
defender a seleção do Equador. “Meu
empresário da época disse que era
melhor não. Me arrependo até hoje”,
diz o atacante. A L E X A N D R E S A L V A D O R
Na Bundesliga, média de gols impressionante
© 2
sair muitos jogadores experientes. Aí,
de uma hora para a outra, eu passei a
ser o mais velho do grupo. A cada der-
rota, a equipe sente muito, perde con-
fi ança. Até o técnico é jovem.
Você se arrepende de ter ido
para o Middlesbrough?
De jeito nenhum. Eu estou na me-
lhor liga do mundo, jogando sempre
contra os melhores. Mesmo o Man-
chester City, com o Robinho e todo o
dinheiro, está tendo problemas.
E fora de campo? Middles-
brough foi eleita a pior cidade
para morar na Inglaterra...
Realmente aqui não é um lugar dos
mais bonitos. Joguei na Suécia e na
Holanda, com cidades bem bonitas e
mulheres lindas também. Essa é ou-
tra grande diferença... Na Holanda,
você saía à noite e o técnico já estava
na balada [risos]. Mas, dentro de cam-
po, não dá para comparar. O nível aqui
é muito mais alto. R A F A E L M A R A N H Ã O
© 2Lembra do Afonso?
Nem o Dunga...
Vela e Giovani dos
Santos: sucesso
alternado
© 2
DOCE CAYMANImagine receber um bom salário,
morar em paraíso fiscal e turístico
do Caribe, falando inglês, com
sossego e excelente qualidade de
vida, trabalhando com o que mais
gosta: futebol. De bônus, competições
oficiais da Fifa e direito a voto na
eleição de craques do ano. Essa é a
vida do brasileiro Thiago Cunha, 30
anos, das Ilhas Cayman, arquipélago
britânico que, até o ano passado, era
o quinto maior centro financeiro do
planeta. Thiago chegou em 2003 para
criar a seleção feminina caimana.
Acumula ainda a preparação física
do time masculino. “É muito bom
comandar um país há cinco anos
e meio. São duas Eliminatórias de
Copa e uma do Mundial feminino,
dois Pré-Olímpicos em cada
categoria”, diz Cunha. E L I A N O J O R G E
Thiago (dir.) com a seleção feminina caimana
© 3
tória de vida do paulista de Campo
Limpo, que vendia sacos de lixo de
porta em porta e ganhou um apelido
politicamente incorreto quando joga-
va na Matonense. Seu nome, aliás,
provoca discussões intermináveis na
Alemanha quanto à pronúncia: fala-se
“Grafi TE” ou “Grafi TCH?”
Só nesta temporada, Grafi te marcou
29 gols em 25 partidas. “Eu teria feito
mais se não tivesse me machucado e
fi cado tanto tempo parado pela minha
cirurgia no joelho”, diz. Em seu se-
gundo ano na Alemanha, o jogador do
Wolfsburg tem aproveitamento infe-
rior apenas ao do lendário Gerd Mül-
ler, que tem média de 0,85 gol por par-
tida, contra 0,76 de Grafi te. Marcas
tão expressivas levam à clássica ques-
tão, tão repetida quanto o gol contra o
Bayern: como ele não está na seleção?
“Sonho com isso todos os dias, mas só
chegarei lá se estiver jogando bem.
Foi assim em 2005, quando fui convo-
cado para o lugar do Ronaldo para um
jogo contra a Argentina. Na mesma
semana sofri uma contusão e fui cor-
tado. Se continuar assim, acho que a
convocação acaba vindo”, afi rma.
C A R L O S E D U A R D O F R E I T A S
01_PL1330_ABRE.indd 84-85 4/20/09 7:36:51 PM
86 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9 M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR | 87
planeta bola
DiegoTem sido o principal homem do
Werder Bremen na campanha da
Copa da Uefa. É um dos jogadores
mais cotados para jogar na Itália
na próxima temporada.
Michel BastosJogando como meia no Lille, o lateral-
esquerdo que passou por Grêmio
e Figueirense briga pela artilharia
do Campeonato Francês.
Rodrigo PossebonO volante do Manchester United,
que recentemente adquiriu a
cidadania italiana, foi convocado
pela seleção sub-20 da Azzurra.
lSOBE
pDESCE
Carlos EduardoLevou um gancho de cinco jogos
por ter dado uma cotovelada em
um adversário. E o Hoffenheim, que
chegou a liderar o campeonato,
despencou na tabela.
Edu DracenaCotado para se transferir para a
Roma na próxima temporada, sofreu
uma grave lesão no joelho e deve
ficar parado por quatro meses.
KerlonEm sua primeira temporada no
Chievo, o “Foquinha” não se livra
das contusões. Jogou apenas três
partidas e ainda não marcou.
kA comparação é inevitável.
Olhar para um brasileiro que
hoje faz sucesso pelo Lyon, da França,
meio-campista, e não vê-lo como um
sucessor de Juninho Pernambucano é
quase impossível. Atualmente, esse
cara se chama Éderson, que joga na
França há cinco anos — quatro pelo
Nice e um pelo Lyon. Já Juninho está
desde 2001 no time e venceu os sete
campeonatos franceses disputados.
Com o iminente fim de contrato de
Juninho Pernambucano (acaba no
meio de 2010), o caminho da sucessão
está aberto para Éderson. Apesar de
toda essa expectativa, o jogador não
gosta da comparação. “Eu sempre
disse que não seria o substituto do Ju-
ninho”, afirma o meia.
Éderson teve uma passagem discre-
ta no Brasil — atuou por RS, Juventu-
de e Inter. “Não consegui ter uma se-
quência de jogos. Sofri algumas lesões
Sucessor naturalMesmo sem aceitar comparações, Éderson segue os passos de Juninho e deve ser o brasileiro da vez do Lyon
1 Brasi lPara chegar ao título do Sul-Americano de 1920, o
Uruguai empatou com a Argentina e venceu os anfitriões
chilenos. Entre as duas partidas, goleou o Brasil por
6 x 0, no dia 18 de setembro. José Pérez e Ángel Romano,
artilheiros da competição, marcaram duas vezes cada.
Pior impossívelCom o 6 x 1 para a Bolívia, a Argentina igualou seu pior resultado na história. Mas há vexames piores POR LEANDRO GUIMARÃES
2 Itál iaO primeiro jogo entre Hungria e Itália foi
disputado em 1910, em Budapeste, com vitória da seleção
da casa: 6 x 1. Quatorze anos depois, em 6 de abril de 1924,
o jogo se repetiu na capital magiar. Mesmo sem a estrela
Imre-Schlosser Lakatos, a Hungria fez 7 x 1 na Azzurra.
3 InglaterraA primeira derrota inglesa para um time não-
britânico em Wembley veio em 1953, quando a Hungria
venceu por 6 x 3. Em 23 de maio de 1954, as seleções se
reencontraram em Budapeste. Dois gols de Puskas e dois
de Kocsis ajudaram a construir a goleada húngara por 7 x 1.
4 AlemanhaEm 1908, em plena Berlim, os ingleses venceram
os alemães por 5 x 1. Em 13 de março do ano seguinte, os
alemães viajaram a Oxford em busca da revanche. Mesmo
com uma seleção amadora, graças a três gols de Dunning
e outros três de Porter, a Inglaterra fez 9 x 0.
5 FrançaApesar de todos os placares elásticos, entre os
últimos campeões mundiais, ninguém supera a França. Em
22 de outubro de 1908, os Azuis foram a Londres enfrentar
a Dinamarca. O destaque foi Nielsen Sophus Erhard, que
sozinho fez dez gols.: vitória dinamarquesa por 17 x 1.
© 1 F O T O A F P © 2 F O T O D I V U L G A Ç Ã O
e acabei jogando pouco”, diz a nova
sensação do Lyon. Mesmo assim, foi
emprestado ao Nice em 2004, pelo
RS, e, após boas atuações, o clube o
contratou em definitivo.
Mas seu namoro com o Lyon existia
há tempos, desde que chegou à Fran-
ça. Juninho já começava um conven-
cimento para jogarem juntos. “Antes
adversários, nós conversávamos pou-
co, só nos jogos. Mas o Juninho falava
que o Lyon estava de olho em mim. Aí,
no início de 2008, ele começou a me
explicar os objetivos do clube”, diz
Éderson sobre sua relação com Juni-
nho. Hoje, além de companheiros de
clube, Éderson e Juninho fazem uma
parceria que pode render ao Lyon o
oitavo título consecutivo. Na próxima
temporada, ela deve continuar. Mas,
em 2011, se Pernambucano sair, Éder-
son, seu sucessor natural, deve virar a
engrenagem do time. B E R N A R D O I T R I Julio Santa Cruz: seguindo os passos do irmão
© 2
© 1 SANTA CRUZ DO PARAGUAIFeliz com o sucesso na equipe do
principal atacante paraguaio da
atualidade, Roque Santa Cruz, o
Blackburn se rendeu ao estilo sul-
americano dentro da área. Irmão mais
novo de Roque, Julio Santa Cruz, que
faz 19 anos este mês, era jogador das
categorias de base do Cerro Porteño
até a metade de 2008. Ajudado pelo
irmão, o também atacante ganhou
uma chance de mostrar seu valor na
Inglaterra. Não deu outra. O técnico
do Blackburn na época, Paul Ince, se
impressionou tanto com os testes de
Julio que lhe propôs um contrato de
três anos. Em sua primeira temporada
com os reservas dos Rovers, Julio
assegurou uma vaga como titular e
anotou seus primeiros gols. O caçula
também já figura no elenco principal,
esperando a oportunidade de estrear
na Premier League para, quem sabe,
realizar seu grande sonho. “Jogar ao
lado de Roque é um desejo pessoal.
Não é sempre que irmãos jogam
juntos no futebol profissional”,
diz Julio. M A R C E L O S I L V A
Éderson: alegria em sua primeira temporada no Lyon
02_PL1330_top5.indd 86-87 4/20/09 7:37:35 PM
88 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9 M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR | 89
planeta bola
© 1 F O T O P I E R G I A V E L L I © 2 F O T O A F P
SETE POR SETE
Em 1911, por causa de ventos fortes, a maioria dos jogado-
res do Galatasaray não pôde chegar ao estádio do Fener-
bahçe. Com isso, o time começou o jogo com apenas sete
atletas e, mesmo assim, venceu por 7 x 0. Além disso,
o Fenerbahçe terminou a partida com dez jogadores,
depois de o goleiro ter se machucado.
Pancadaria no último
clássico: fim da chance
de título para ambos
GALATASARAY TÍTULOS
1 COPA DA UEFA
1 SUPERCOPA DA UEFA
17 CAMPEONATOS TURCOS
14 COPAS DA TURQUIA
FENERBAHÇE TÍTULOS
1 TAÇA DOS BÁLCÃS
17 CAMPEONATOS TURCOS
4 COPAS DA TURQUIA
★ CLÁSSICOS DO MUNDO ★
CENTENÁRIO
O primeiro clássico entre
Galatasaray e Fenerbahçe
ocorreu em 17 de janeiro de
1909, no local onde hoje está
o Sükrü Saracoglu, estádio do
Fenerbahçe. O Galatasaray,
que venceu a partida por
2 x 0, fica na porção euro-
peia de Istambul, enquanto
o Fenerbahçe fica na parte
asiática. A divisão é marcada
pelo estreito de Bósforo,
que liga o mar Negro
ao mar de Mármara.
APENAS 14
O menor público registrado
no clássico foi em 17 de
novembro de 1922, com
apenas 14 torcedores. Por
causa da forte tempes-
tade, o juiz Fethi Tahsin
Basaran apitou a partida
usando um guarda-chuva.
Já o jogo de maior público
foi em 21 de setembro de
2003, no estádio Atatürk
Olimpiyat, quando 70 125
pessoas compareceram.
ARTILHEIRO
O maior artilheiro do clássico foi Zeki Riza Sporel, do
Fenerbahçe. Ele jogou entre 1915 e 1934 e marcou 27 gols
em 42 jogos. Os outros grandes artilheiros também são do
Fenerbahçe. Alaattin Baydar fez 24 gols e Lefter Küçükan-
donyadis, 20. O maior artilheiro do Galatasaray no dérbi é
Metin Oktay, com 19 gols. Quem mais jogou o clássico foi
Turgay Seren, ex-goleiro do Galatasaray, com 55 jogos.
ÍDOLOS
Vários jogadores importantes do
futebol mundial passaram pelos
dois clubes, entre eles muitos bra-
sileiros. Defenderam o Galatasaray
o romeno Gheorghe Hagi, o goleiro
Taffarel e o atacante Jardel. Do lado
do Fenerbahçe, atuaram o argentino
Ariel Ortega, o francês Nicolas
Anelka, o nigeriano Jay-Jay Okocha
e o goleiro turco Rüstü Recber.
ÚLTIMO JOGO12/4 ESTÁDIO ALI SAMI YEN
Galatasaray 0 x 0 Fenerbahçe
© 1
O estreito de Bósforo divide a Istambul asiática da europeia
Rustu, com a camisa do Fenerbahçe
Zero a zero absolutoEm um clássico marcado pela violência em campo, o resultado diz tudo: sem gols, sem chances, sem sucesso para os inimigos mortais Galatasaray e Fernerbahçe
kHá 100 anos acontecia o pri-
meiro clássico turco entre Ga-
latasaray e Fenerbahçe, uma das
maiores rivalidades do mundo. Em
turco, a palavra “yüz” tem dois signi-
fi cados: “rosto” e “cem”. Se alguém
faz algo vergonhoso, pode-se dizer,
em turco: “yüz karasi”. No ano do
centenário do dérbi, o jogo entre as
equipes no estádio Ali Sami Yen, em
Istambul, foi realmente vergonhoso.
Os dois times decepcionaram seus
torcedores, mesmo com grandes per-
sonagens ali, como Dani Güiza, Ro-
berto Carlos, Harry Kewell e Milan
Baros. Quem perdesse o jogo perderia
ainda as esperanças de vencer o Cam-
peonato Turco. Um empate também
acabaria com as chances de troféu das
equipes e, quando os jogadores per-
ceberam que esse seria o desfecho do
jogo, transformaram a noite de espe-
táculo em pancadaria.
O curioso é que alguns dos atletas
que estrelaram a briga estavam juntos
na abertura de uma loja do ex-jogador
do Galatasaray Serhat Akyüz, no dia 8
de abril, e falaram sobre amizade na
seleção. Apenas cinco dias após essa
cordialidade, esses mesmos jogadores
mais pareciam heróis de luta-livre.
Depois de uma falta cobrada para fora
por Roberto Carlos, Lugano deu uma
cabeçada em Emre Asik e, a partir daí,
começou a pancadaria. O jogo fi cou
parado por 6 minutos e Semih, Luga-
no, Arda e Emre Asik foram expulsos.
Após o término da partida, a sete
rodadas do fi m da competição, as duas
equipes fi caram 8 pontos atrás do Si-
vasspor, a surpresa do torneio. Nunca
na história Galatasaray ou Fener-
bahçe perderam as chances de ser
campeões tão cedo, na 27ª rodada. O
placar refl etiu bem as notas que os ti-
mes merecem pela temporada — e
pela atitude em campo: 0 e 0.
POR GALIP ÖZTÜRK, DE ISTAMBUL
363JOGOS
137VITÓRIAS DO FENERBAHÇE
115VITÓRIAS DO GALATASARAY
11EMPATES
507GOLS DO FENERBAHÇE
462GOLS DO GALATASARAY
Taffarel, que defendeu o Galatasaray
© 2
03_PL1330_classicos.indd 88-89 4/20/09 7:38:02 PM
90 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9
planeta bola
kA Hungria sempre foi mestra
na arte de surpreender o mun-
do do futebol. Primeiro, com a revela-
ção de craques como Kubala, Czibor e
Kocsis, que brilharam no Barcelona
nos anos 50. Depois, comandada pelo
maior dos craques húngaros, Ferenc
Puskas, foi vice-campeã mundial em
1954. A derrota por 3 x 2 para a Ale-
manha Ocidental naquela decisão,
que fi cou conhecida como “O Milagre
de Berna”, também foi uma surpresa
— a Hungria jogava o melhor futebol
da Copa e havia batido a própria Ale-
manha por 8 x 3 na primeira fase.
Com pouco mais de 10 milhões de
habitantes, o país já ocupou o topo do
ranking da Fifa, ganhou três meda-
lhas de ouro olímpicas (1952, 1964 e
1968), além de outro vice-campeona-
to mundial, em 1938. No entanto, a
Retorno magiarCom bagagem repleta de glórias e craques, a Hungria tenta voltar à Copa do Mundo e resgatar sua tradição
O lateral Szélesi
(esq.) em jogo contra
a Dinamarca: perto
da classificação
CAPITAL:
BUDAPESTE
IDIOMA:
HÚNGARO
MOEDA: FLORIM
HÚNGARO
POPULAÇÃO: 10 050 000
RANKING DA FIFA: 44º
NA FIFA DESDE: 1907
JOGADORES
REGISTRADOS: 127 226
CLUBES
REGISTRADOS: 2 778
HUNGRIA
© 1 F O T O P I E R G I A V E L L I © 2 F O T O A N P
última Copa disputada pela Hungria
foi em 1986, no México. De lá para cá,
os craques, que abundavam no passa-
do, pararam de surgir, e o futebol
húngaro entrou em decadência.
Mas a Hungria de tantas tradições
quer surpreender novamente. Nas
Eliminatórias para a Copa de 2010, a
seleção húngara ocupa o primeiro lu-
gar do grupo A, ao lado da Dinamar-
ca, com 13 pontos, deixando para trás
Suécia e Portugal. Nesses 23 anos fora
de uma Copa, a Hungria nunca esteve
tão perto da classifi cação. “Quando
cheguei, minha primeira impressão
da equipe não foi nada boa. Mas isso
mudou; todos os jogadores estão mo-
tivados a levar o país de volta à Copa”,
diz o técnico holandês Erwin Koe-
man. É ver para crer em mais uma
surpresa magiar. B R E I L L E R P I R E S
NOVO PUSKAS?Destaque da seleção e do PSV
Eindhoven, Balázs Dzsudzsák é uma
das maiores promessas do futebol
húngaro. Dono de uma canhota
habilidosa, o meia de 22 anos chega
a ser comparado na Hungria ao
lendário Puskas, que brilhou no Real
Madrid entre 1958 e 1967. Mas ao
contrário de Puskas, que marcou 84
gols pela seleção húngara, Dzsudzsák
não é muito de balançar as redes:
marcou apenas um gol pela Hungria,
num amistoso contra a Grécia.
Dzsudzsák, a grande promessa dos húngaros
© 2
© 1
04_PL1330_HUNGRIA.indd 90 4/20/09 7:38:36 PM
11ªchuteiradeouroP L A C A R P R E M I A O M A I O R A R T I L H E I R O D O B R A S I L
Gols sem moderaçãoDestaque do Mineiro, Tardelli é o cara deste mês. Pernambucanos dominam as outras posições
S - SELEÇÃO; BRA - BRASILEIRO - SÉRIE A; CB - COPA DO BRASIL; L - LIBERTADORES; CS - COPA SUL-AMERICANA; EST - PRINCIPAIS ESTADUAIS; EST/B - DEMAIS ESTADUAIS E SÉRIE B
kEm abril, Keirrison mantinha
uma boa distância entre seus
concorrentes à Chuteira. Ele não pa-
rava de fazer gols e, até o fim dos cam-
peonatos estaduais, o K9 dava pinta de
que permaneceria isolado. Mas, como
dizia a matéria de Placar do mês pas-
sado, “Antes tarde do que nunca”, Die-
go Tardelli marcou sete gols e agora é
líder ao lado do palmeirense.
Tardelli vem sendo decisivo para o
Atlético Mineiro. O Galo terminou a
primeira fase do Estadual como lí-
der, passou fácil nas quartas-de-final
e, nas semifinais, dos três gols mar-
cados pelo Atlético, dois vieram de
Tardelli. Nada mais merecido que
premiar essa fase com a liderança na
Chuteira de Ouro.
Abaixo de Tardelli e Keirrison, entre
o terceiro e o sétimo colocados, quatro
atletas são de Pernambuco. Gilmar
(Náutico), Marcelo Ramos (Santa
Cruz), Fabio (Central) e Ciro (Sport),
que disputaram o Pernambucano, es-
tão entre os maiores goleadores do
Brasil. A explicação para isso é a fragi-
lidade da competição. O fato de o arti-
lheiro ser o veteraníssimo Marcelo
Ramos e de o Sport vencer o campeo-
nato com sobras comprova a tese.
Agora o Brasileirão começa, os jo-
gos ganham equilíbrio, fazer gols se
torna cada vez mais difícil e a disputa
pela Chuteira de Ouro deve fi car ain-
da mais acirrada.
Tardelli:
especialista em
marcar gols
★ C H U T E I R A D E O U R O 2 0 0 9 | A T É 2 0 / 4
DIEGO TARDELLI ATLÉTICO-MG 0 0 6 (3) 0 32 (16) 0 38
KEIRRISON PALMEIRAS 0 0 12 (6) 0 26 (13) 0 38
3 GILMAR NÁUTICO 0 0 8 (4) 0 28 (14) 0 36
MARCELO RAMOS SANTA CRUZ 0 0 0 0 36 (18) 0 36
TAISON INTERNACIONAL 0 0 4 (2) 0 30 (15) 0 34
FABIO CENTRAL 0 0 0 0 32 (16) 0 32
CIRO SPORT 0 0 2 (1) 0 28 (14) 0 30
WASHINGTON SÃO PAULO 0 0 4 (2) 0 24 (12) 0 28
KLÉBER CRUZEIRO 0 0 4 (2) 0 22 (11) 0 26
KLÉBER PEREIRA SANTOS 0 0 6 (3) 0 20 (10) 0 26
MAICOSUEL BOTAFOGO 0 0 2 (1) 0 24 (12) 0 26
NILMAR INTERNACIONAL 0 0 0 0 26 (13) 0 26
PEDRÃO BARUERI 0 0 0 0 26 (13) 0 26
RAFAEL MOURA ATLÉTICO-PR 0 0 2 (1) 0 24 (12) 0 26
SANDRO SOTILLE SÃO JOSÉ-RS 0 0 0 0 26 (13) 0 26
BRUNO MENEGHEL GOIÁS 0 0 0 0 22 (11) 0 22
© F O T O E U G Ê N I O S Á V I O M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR | 93
1
3
5
6
7
8
9
16
PL1330 chuteira.indd Sec1:93 4/20/09 7:39:13 PM
94 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9
batebolaP O R T I A G O L E M E , D E L O N D R E S
A concorrência na zaga do Chelsea é grande, e você
nem sempre é titular. Isso o incomoda?
O pessoal do clube sempre gostou de mim. Só que aqui tem
o Ricardo Carvalho e o John Terry, que são jogadores top, já
ganharam muita coisa. É difícil. Mesmo estando em um clu-
be grande, não é bom aceitar e se acostumar a ficar no banco.
Quero sempre jogar. Cheguei a falar que queria ir embora,
mas agora penso em dar continuidade, jogar.
Você chegou a pedir para sair do clube?
Falei com o Felipão que queria ir embora 15 dias após a
chegada dele. Conversei numa boa, mas ele falou que não me
liberaria. Na época do Avram Grant e do Felipão, eu jogava
sempre que o Terry ou o Ricardo se machucavam. Na FA Cup
do ano passado, joguei a Copa toda. Mas na final, contra o
Tottenham, o Grant me tirou porque o Terry estava voltando.
Isso não é bom para ninguém.
Você trabalhou com Guus Hiddink no PSV e ele o
conhece bem. Isso está ajudando agora?
Sempre me dei bem com o Hiddink, e estou jogando bas-
tante agora. Ele foi ver alguns jogos do Santos no Brasil, em
2002, e cheguei a conversar com ele. Foi ele quem pediu mi-
nha contratação. Espero que ele fique mais tempo aqui.
Na sua opinião, por que Felipão foi demitido?
Ele teve muitos problemas com o idioma, de comunicação.
Ele queria motivar os jogadores nas preleções, mas as pala-
vras em inglês fugiam. Ele também mudou muito os treina-
mentos. Eram no estilo do Brasil, muitos coletivos 11 contra
11, e o pessoal aqui não está acostumado a fazer isso. O nor-
mal aqui é treinar em campo curto, trabalhar mais forte.
Os jogadores reclamavam dos treinamentos dele?
Às vezes eles reclamavam um pouco porque não tinham
muito o costume. Tanto os ingleses quanto os holandeses
querem as coisas do jeito que eles são acostumados a fazer,
aí chega um treinador brasileiro e é totalmente diferente.
É verdade que o grupo estava rachado?
Não é verdade, pelo menos nunca presenciei nada. Teve
uma situação que foi um mal-entendido. O Felipão sempre
dava liberdade para o Peter Cech e falava: “Dentro da área
você é o capitão, você manda”. Aí, em um jogo contra o Fu-
lham, tomamos um gol no último minuto. Depois, o Felipão
falou que dentro da área quem mandava era o Cech. Mas ele
entendeu mal, entendeu que ele, Cech, disse que foi falta de
comunicação na área porque ele não teria falado nada no
lance. Mas não foi nada disso, depois esclareceu tudo.
A demissão dele já era esperada por vocês?
Foi uma surpresa quando vi a notícia na internet. Pensei
que ele ficaria até o fim da temporada. Mas não falei com ele
depois, ele não foi nem ao centro de treinamento se despedir.
Acho que o Felipão teve muita falta de sorte. A gente estava
ganhando alguns jogos que pareciam fáceis, mas dava um
branco e tomávamos gol no fim. Ele teve muito azar.
Quais são seus planos para o futuro?
Tenho contrato até a metade de 2011. Fico aqui se continu-
ar jogando. A cidade é boa, e minha família gosta bastante,
mas tenho de pensar nessa área também. Tem Copa do Mun-
do no próximo ano; quero voltar à seleção. Vou esperar para
ver o que acontece até o fim da temporada, e dependendo
disso a gente conversa com a diretoria.
Como foi a decepção de perder a final da última
Champions League nos pênaltis?
O Terry chorou até o dia seguinte. Saímos no outro dia de
manhã, e dava para ver que o olho dele estava bem fechado
de tanto que ele chorou. Mas o grupo deu apoio, porque ele
é uma pessoa muito boa, que ajuda todo mundo. O Lampard,
por exemplo, é mais fechado. Não que seja mala, mas o John
Terry é mais aberto, mais moleque, sempre brincalhão.
Você acha que deixou o Santos na hora correta?
No Brasil, se você está em um momento bom, acho que
tem que sair mesmo. Em 2003, o Cruzeiro estava muito bem
e a gente não conseguia chegar neles. Saía na rua em Santos
e o pessoal cobrava. Às vezes, você perdia jogos em casa e
não podia nem passear com a família. Aí você acaba ficando
chateado e quer ir embora. Aqui na Europa nunca passei por
isso. Ano passado não ganhamos nada no Chelsea, mas, mes-
mo em segundo lugar no Campeonato Inglês, demos a volta
olímpica no último jogo em casa e a torcida aplaudiu.
Pede pra sair!Feliz com a titularidade no Chelsea de Guus Hiddink, Alex diz que prefere sair do
clube a ficar no banco — e fala dos motivos que provocaram a demissão de Felipão
© F O T O T I A G O L E M E
“Felipão teve
muitos problemas
com o idioma,
de comunicação.
Ele queria motivar
os jogadores nas
preleções, mas
as palavras em
inglês fugiam
PL1330 ALEXX.indd 94-95 4/20/09 7:41:31 PM
96 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9
batebolaP O R F L Á V I A R I B E I R O
Por que você deixou a seleção da África do Sul an-
tes da Copa do Mundo?
Larguei porque tive de largar mesmo. Foram problemas de
ordem familiar, mas não quero falar sobre isso. Lamentei ter
deixado para trás a oportunidade de participar de minha oi-
tava Copa do Mundo. Não estou aqui para brigar por recor-
des, mas gostaria de ter ido à Copa, claro.
É verdade que você recusou uma proposta do Fla-
mengo 30% melhor que a do Fluminense?
É boato, nem chegamos a falar sobre valores. Na época do
convite do Flamengo, ainda não podia aceitar. Recebi quatro
convites, um do próprio Fluminense, e foi duro ter de rejeitá-
los. Em março, então, três meses depois desses convites, re-
cebi mais um do Fluminense. A vida estava monótona e os
problemas familiares, resolvidos. Achei que não podia mais
recusar. E claro que ajudou ser o Fluminense, um time com
o qual tenho uma identificação. E ajudou ser no Rio. Conti-
nuo morando na minha cidade, pego minha neta na escola...
Quando começou a trabalhar na Traffic, você disse
que era um primeiro passo para sair das quatro li-
nhas. Por que voltou?
Cheguei a pensar que poderia sair mesmo. Mas não disse
que sairia com todas as letras porque é difícil cortar um cor-
dão umbilical de 40 anos. Passa a estar dentro de você.
Como foi seu trabalho na Traffic?
O trabalho ia começar agora, quando o centro de treina-
mento ficou pronto. Pouco fiz nesse tempo. O que eu ia fazer
era dar cursos para treinadores, trazer jovens jogadores de
fora e observar os daqui. Conversei com o Hawilla, e ele dis-
se: “Vai lá, faz seu trabalho no Fluminense. Quando você ter-
minar, a gente conversa de novo, se você quiser”.
O que você fez para não misturar o Parreira da Traf-
fic com o técnico?
Não teria condições de ficar ligado à Traffic, me desliguei
totalmente. Se vierem críticas, serão completamente injus-
tas e infundadas. Quando cheguei aqui, não trouxe ninguém.
No futuro, posso até indicar alguém de lá ou qualquer outro
grupo econômico, mas não vou indicar porque é da Traffic.
O que mudou no Fluminense desde a sua chegada?
Acho que incuti confiança na equipe. Aumentei também
a carga de trabalho em intensidade. Agora tenho de definir o
grupo. Não é bom trabalhar com 32, 35 jogadores. O time está
começando a ter uma cara, a ganhar uma identidade.
Como administrar um time em que uns recebem em
dia e outros convivem com salários atrasados?
Nunca ninguém comentou nada comigo. Até porque, hoje,
o Fluminense está com os salários em dia.
Mas nem sempre esteve. Você já passou por isso?
Já passei por isso. É muito difícil. Trabalhei em um clube
que teve jogador devolvendo carro, até casa. E o treinador
fica sem ter o que fazer. Todo mundo pensa que jogador
é rico. Alguns ganham muito bem, sim. Mas aqui mesmo, no
Fluminense, tem jogador que ganha 800 reais.
Você prefere seleção a clube?
Nunca preferi seleção a clube. Sempre aconteceu. Aí criei
esse perfil de seleção. É mais responsabilidade, você está en-
volvido com um país. Mesmo que o clube tenha uma torcida
muito exigente, é mais fácil que dirigir a seleção brasileira.
Você dirigiu uma seleção brasileira campeã e outra
que fracassou. O que faz uma seleção vencedora?
Mesmo com os melhores jogadores do mundo, foram
24 anos entre um título e outro, sem nem chegar a uma final
de Copa. O que leva ao título? São condições especiais, a quí-
mica da vitória. Em 1994, fizemos uma Eliminatória difícil,
mas fomos campeões. Em 2006, deu tudo certo até a Copa.
Aí não deu mais, e não chegamos à final. Jogadores impor-
tantes como Ronaldo, Ronaldinho e Adriano não estavam no
melhor de sua forma — e nunca voltaram a ser os mesmos.
Você voltaria a comandar a seleção brasileira?
Para voltar à seleção, você tem de ser a bola da vez. E eu
não sou. Tem mais é que dar oportunidade a caras novas. Já
dirigi a seleção quase 130 vezes.
E se fosse a bola da vez? Descartaria um convite?
Descartaria.
Aceitaria comandar alguma outra seleção?
Não saio mais do Brasil. Dificilmente saio do Rio.
O Rio é minha praiaDe volta ao Fluminense, Parreira lamenta não poder disputar a próxima Copa — mas descarta voltar à seleção brasileira e deixar o Rio de Janeiro
© F O T O A N D R E A M A R Q U E S / F O T O N A U T A
“Nunca preferi
seleção a clube.
Mesmo que
o clube tenha
uma torcida
muito exigente,
é mais fácil que
dirigir a seleção
brasileira
PL1330 PARREIRA.indd 96-97 4/20/09 7:42:01 PM
Do site ofi cial de Cláudio Milar:
12 janeiro 2009 — Cláudio Milar
em boa atuação ajudou o G.E. Brasil
a vencer o primeiro amistoso ofi cial
da temporada 2009. O jogo foi contra
a seleção do Chuy (Uruguai).
16 janeiro 2009 — É com muito
pesar que nós, administradores do
Blog de Cláudio Milar, anunciamos
o falecimento do nosso eterno camisa
7 Cláudio Milar na madrugada des-
sa sexta-feira em acidente de ônibus
junto à delegação do G.E. Brasil.
Roberto Cláudio Milar Decuadra
nasceu no dia 6 de abril de 1974 no lado uruguaio da fron-
teira, em Chuy. Seu início de carreira foi no Nacional de
Montevidéu. Passou pelo argentino Godoy Cruz. Mas em
1998 veio para o Brasil jogar no Caxias. Tinha 1,78 metro
de altura e talento para marcar gols.
Depois Milar virou ídolo no Recife, tanto pelo Santa Cruz
quanto pelo Náutico. Teve também uma ligeira passagem
pelo futebol carioca no Botafogo. A carreira de Cláudio Mi-
lar tomou então um rumo bizarro. Alternou passagens entre
o Brasil de Pelotas e uma carreira internacional por times
exóticos: Club Africain, da Tunísia (2001), o LKS Ptak, da
Polônia (2002), o israelense Hapoel Far Saba (2003-2004)
e outro clube polonês, o Pogon Szczecin (2005-2006).
Mas seu coração passou esses anos de século 21 planta-
do em Pelotas. Lá estabeleceu a mulher Caroline e o fi lho
Agustín. Ganhou uma camisa comemorativa ao marcar seu
centésimo gol pelo Brasil-RS em 2008. Comemorou tanto
o gol que suas chuteiras desapareceram. Procurou-as por
um bom tempo, e foi até apelidado de Cinderela.
A torcida xavante era devotada ao atacante uruguaio. Es-
pecialmente desde a volta à primeira divisão do Gaúcho,
em 2004. Milar retribuía comemorando seus gols com uma
flechada imaginária em direção às arquibancadas.
No dia 15 de janeiro de 2009, Milar
jogou um amistoso em Vale do Sol
contra o Santa Cruz do Sul. O Pelotas
ganhou por 2 x 1. O uruguaio tinha
jurado desde o fi m de 2007 não bater
mais pênaltis (quando cobrou três
vezes no mesmo torneio na trave do
Caxias). Nessa tarde, quebrou a pro-
messa: marcou de trivela, com o pé
direito. Foi o último gol de sua vida.
Na saída do jogo, um repórter de TV
perguntou se ele já tinha recuperado
as chuteiras perdidas. Sorrindo, o bo-
nitão e sempre bronzeado Milar res-
pondeu: “Sim, consegui. O rapaz que estava com ela levou
uma pressão muito grande da torcida, acabou devolvendo
e os gols voltaram. Está bem guardadinha, é uma chuteira
histórica tanto para mim quanto para o clube, e eu às vezes
uso em ocasiões especiais”. Foi sua última entrevista.
Pouco antes da meia-noite, o ônibus do clube seguia pela
RS-471, próximo à cidade de Canguçu. Entrou numa curva
ascendente que levava à BR-392 para os últimos quilôme-
tros rumo a Pelotas. Mas o motorista perdeu o controle.
No alto da rampa, o ônibus capotou e rolou 40 metros pelo
barranco. Parou com as quatro rodas para cima.
O primeiro a sair foi o goleiro Danrlei, o ex-ídolo gre-
mista. Antes mesmo de sair, ele já tinha visto que Cláudio
Milar havia morrido instantaneamente no desastre. Logo
chegou o resgate, e mais duas vítimas fatais foram encon-
tradas no ônibus: o zagueiro Régis e o preparador de go-
leiros Giovani Guimarães.
O dia 16 foi uma sexta-feira de choque e tristeza em Pe-
lotas. Os três caixões foram levados sob aplausos de 2 000
pessoas e velados no centro do estádio Bento Freitas. Em
seguida o corpo de Cláudio Milar seguiu para ser enterrado
no outro lado da fronteira, em Chuy. Seu plano era jogar até
o centenário do clube, em 7 de setembro de 2011.
98 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9
O Brasil de Pelotas fez do uruguaio Cláudio Milar seu maior ídolo. Uma curva de uma estrada o transformou em um mito xavante
Milar: carreira interrompida em uma curva
moRTOSvivos
Flechada na alma
P O R D A G O M I R M A R Q U E Z I
PL1330 MORTOS.indd 98 4/20/09 7:39:54 PM
Top Related