Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP – USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.
Paulo Marreiro dos Santos Júnior.
OS ROSTOS DO PERIGO
A IMPRENSA E A CIÊNCIA CRIMINAL ESTEREOTIPANDO CULTURAS NA MANAUS DA BELLE ÉPOQUE
Trabalho apresentado ao Seminário Temático 15
À Comissão Organizadora do XIX Encontro Regional de História da ANPUH São Paulo.
agosto de 2008
Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP – USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom. 2
Doutorando: Paulo Marreiro dos Santos Júnior. UF: Manaus - Amazonas Telefone : (92)3654-4940 e (92)9186-0123 e-mail : [email protected]
OS ROSTOS DO PERIGO A IMPRENSA E A CIÊNCIA CRIMINAL ESTEREOTIPANDO CULTURAS NA
MANAUS DA BELLE ÉPOQUE O pensamento racial europeu adotado no
Brasil não parece fruto da sorte. Introduzido de forma crítica e seletiva, transforma-se em instrumento conservador e mesmo autoritário na definição de uma identidade nacional e no respaldo a hierarquias sociais já bastante cristalizadas.
Roberto Ventura1
No final do século XIX a cidade de Manaus era considerada um núcleo
irradiador do desenvolvimento da economia gomífera. Para seus dirigentes, mais
que mero entreposto comercial, a cidade assumia a importante função de ser uma
ilha de civilização, urbanidade e modernidade, singularizada num mar em que
imperavam a selva, natureza bruta, e primitivismo.
A cidade crescera desde as décadas finais do século XIX, embalada pelo
dinheiro do extrativismo da borracha, tornando-se um ponto obrigatório das trocas
comerciais entre os centros dinâmicos do sistema econômico mundial e uma
Amazônia pouco explorada e desconhecida que se abria assim, como uma nova
fronteira para o capital.
Como era de se esperar, a dinâmica cultural avança a par com o
desenvolvimento econômico, incorporando – em alguns casos – sofregamente
hábitos europeizados. Nesse contexto, a imprensa manaura floresce – alcançando
patamares nunca antes imaginados no interior de uma sociedade ainda
1 In: SCHWARCZ, Lilia Moritz. O Espetáculo das Raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870 – 1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993, p. 42.
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extremamente marcada pela oralidade e pela incorporação tardia da língua
portuguesa 2 – incorporando ideais de progresso, civilidade e modernidade.
Enquanto busca a valorização de tais ideais, acaba por entabular discursos
de franca desqualificação de tudo aquilo que estivesse associado ao que considera
“antigo” no contexto regional.
Da mesma forma que para boa parte do pensamento social da época, como
retratado por Euclídes da Cunha e Alberto Rangel 3, para a imprensa amazonense
era preciso combater o arcaísmo, humanizando a natureza, o que pressupunha,
portanto, sua domesticação.
A tarefa de edificação da “nova” sociedade, moderna, dinâmica, civilizada, só
parece possível pelo avanço da europeização, entendendo-se por ela, inclusive, a
gradual, mas contínua substituição da população indígena e cabocla por um fluxo
migratório capaz de transferir também novos valores culturais.
Assim, enquanto diversos estudos buscaram acompanhar tais idéias no
pensamento social (melhor dizer, “racial”) que tanto caracterizou o período4,
percebe-se a difusão e o debate das idéias de eugenia social no interior do
discurso jornalísticos manauara, tratando os meios de comunicação e seus agentes
(proprietários, editores, redatores, jornalistas) como mediadores culturais5 capazes
de traduzir e transferir os discursos científicos da época para um público leigo mais
amplo.
É importante ressaltar que esse trabalho emerge de discussões iniciadas em
pesquisa anterior, na qual se passou da constatação à análise de um processo de
criminalização das práticas populares ocorrido na cidade de Manaus entre 1907 e
19176. Naquele estudo, chamou atenção um conjunto de informações que, vindas
da fonte jornalística, associavam, muito diretamente, crime e discurso racial. Como
na época, não houve oportunidade de explorar devidamente tais evidências
documentais, aproveito esse trabalho para torná-las, em parte, oportunas e assim
contribuir para a reflexão sobre as temáticas abordadas na tese de doutoramento.
2 PINHEIRO, Maria Luiza Ugarte. Folhas do Norte: letramento e periodismo no Amazonas, 1880-1920. Tese de Doutorado em História. São Paulo, PUC, 2001. 3 Cf: CUNHA, Euclides da. À Margem da História, 1909; RANGEL, Alberto, Inferno Verde.1906 4 SCHWARCZ, Lilia Moritz. O Espetáculo das Raças. Op. Cit. 5 BURKE, Peter. Variedades de História Cultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. 6 SANTOS JÚNIOR, Paulo Marreiro. Criminalidade e Criminalização de Práticas Populares em Manaus. Dissertação de Mestrado em História. São Paulo: PUC, 2005.
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Logo, torna-se essencial compreender e analisar como o debate racial da
época ganhou vazão na Imprensa amazonense. Tal enfoque ganhou prioridade
pela incorporação das teses acerca da eugenia social, enquanto concepção teórica
de época que identificava desqualificações étnico-culturais de populares, enquanto
representantes por excelência dos “males” advindos de uma pretensa “impureza
racial”. Daí a opção por, no discurso jornalístico do período, centrar o foco nas
crônicas policiais, já que se trabalha com o suposto de que, neste tipo específico de
discurso, a relação entre “raça” e “crime” emerge com maior significação.
Na análise das fontes jornalísticas, percebeu-se que essa mesma imprensa,
promotora e reprodutora de discursos eugênicos, influenciou e foi influenciada no e
pelo cotidiano policial da cidade, para assumir uma atitude negativa e condenatória
das práticas e ações dos populares, em especial quando associados a grupos
étnicos específicos: os índios, os caboclos e os migrantes nordestinos.
A difusão de idéias de melhoria da qualidade da raça estava associada à
Eugenia Social7, pensamento que gradativamente se expandiu e se
Institucionalizou, tornando-se uma das principais preocupações das autoridades da
época, quando se pensava em “futuro do Amazonas”.
No final do século XIX, o Brasil era visto como o país do amálgama das
raças. Conforme as autoridades, esse hibridismo influenciaria as relações
socioculturais, econômicas, hábitos, costumes, condutas e as relações de poder.
O progresso, a civilização, a ordem, o futuro do país estavam comprometidos.
Autoridades, intelectuais, cientistas nacionais discutiam as formas de
transformação de “um típico país miscigenado” 8. Essa percepção não se
restringia aos debates internos.
Ao longo do século XIX, naturalistas - em busca da fauna e flora - veicularam
suas interpretações sobre as formações étnicas, sociais e culturais brasileiras.
Por onde passaram, registraram seus olhares intimamente ligados aos tipos
humanos nacionais, produzindo reflexões teóricas sobre o tema. No estado do
Amazonas, não seria diferente.
7 MATOS, Maria Izilda Santos de. Âncora de Emoções: corpos, subjetividades e sensibilidades. Bauru, SP: EDUSC, 2005. 8 LACERDA. In: SCHWARCZ, Lílian Moritz. O Espetáculo das Raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870-1930. 5º reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 1993, p.11.
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Segundo o viajante inglês Henry Walter Bates, a região amazônica, em
meados do XIX, passou a ser o paraíso científico dos naturalistas 9. Estes tinham
por objetivos centrais “classificar, ordenar, organizar em mapas e coleções o que
se encontra pelo caminho” 10 a respeito da fauna e flora.
Porém, além de atenderem as suas motivações botânicas e zoológicas, tais
naturalistas preocuparam-se em descrever hábitos, costumes, religiosidade,
cultura, relações de trabalho, miscigenações, origens étnicas entre outras
características dos habitantes. Foram elaborados diagnósticos que tiveram como
conseqüência a formação de opiniões para a ocupação humana na região
amazônica. Sob o tema, os portugueses tornar-se-iam personagens significativos.
Na região do Amazonas, as seqüelas socioculturais produzidas pela
mestiçagem, conforme o discurso dos naturalistas, atingiam tonalidades próprias,
provocadas pela degradação do indígena, do tapuia e do caboclo. Homens e
mulheres amazônicos rotulados pelos seus aportes culturais e raciais.
Chama atenção o fato de que, na quase totalidade das vezes em que os viajantes referiram-
se aos habitantes da região, era para enfatizar que estes eram parte dos grandes
empecilhos, chegando mesmo a funcionarem como entraves para o desenvolvimento da
mesma. Este raciocínio era válido em relação a todos os tipos humanos, desde os
indígenas, quer fossem destribalizados ou não, passando pelos mestiços nos seus vários
cruzamentos, atingindo também aos negros (...).11
Na concepção dos viajantes europeus, o ser amazônico não correspondia à
tipologia biológica e sociocultural admissíveis para povoar, explorar e progredir a
região. Na produção dos discursos, os sentidos alinhavam-se ao selvagem,
primitivo, rude e preguiçoso.
Os Agassiz, quando chegaram à região (1865-1866), iluminaram o
povoamento da Amazônia como um problema. A maior presença do índio e as daí
resultantes miscigenações representava uma dificuldade a mais frente ao resto do
país.
O juízo construído por antropólogos, etnógrafos sociais e demais estudiosos
frisava o grau de inferioridade intelectual do indígena e suas variantes, com
9 COSTA, Hideraldo Lima da. Amazônia: paraíso dos naturalistas. Amazônia em Cadernos, Manaus, n. 6, p. 229-270, jan./dez.2000, p. 235. 10 Idem, p. 238. 11 Idem, p.241.
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aptidões muito limitadas e com difícil caminho à civilização, era a “base da
pirâmide humana concebida em moldes evolucionistas” 12. Para os Agassiz, o
rótulo da degeneração amazônica tinha também como alicerce o não dito: a
ausência do elemento caucasiano.
Outra particularidade que igualmente impressiona o estrangeiro, é o aspecto fraco e
depauperado da população. Já o havia assinalado anteriormente; mas, nas províncias no
Norte, isto é bem mais impressionante que nas do sul. Não se trata apenas de ver crianças
de todas as cores: a variedade de coloração testemunha, em toda sociedade em que impera
a escravidão, o amálgama das raças. (...) É como se toda pureza de tipo houvesse sido
destruída, daí resultando um composto vago, sem caráter e sem expressão. Essa classe
híbrida, ainda mais marcada na Amazônia por causa do elemento índio, é numerosíssima
nas vilas e nas grandes plantações 13.
Anterior aos Agassiz, Martius e Spix (1817-1820) também estiveram na
região estudando-a. Refletiram sobre a situação de “inferioridade” dos indígenas e
as miscigenações resultantes, concluindo que nem as ações das autoridades,
nem a cristandade – apesar dos esforços – teriam capacidade de transformar
homens e mulheres amazônicos para que esses alcançassem o nível
sociocultural em conformidade com os anseios locais e do estado brasileiro.
Nem os sentimentos cristãos dos reis nem a bem intencionada disposição dos estadistas,
nem a proteção e poder da Igreja puderam levantar os índios do Grão-Pará do estado
selvagem em que foram encontrados, para os benefícios da civilização e do bem-estar
cívico; como dantes permanece essa raça rebaixada, sofredora, sem significação no
conjunto dos outros, joguete dos interesses e da cobiça de particulares, um peso morto para
a comunidade, que de má vontade a suporta 14.
Tapuias de “qualidades físicas e morais” semelhante ao “indígena do
interior”, mamelucos das cidades e nativos com “inflexibilidade de caráter”,
incapazes “de se adaptar a novas situações”, “população não (...) genuinamente
adaptada a região” 15, essas foram algumas das conclusões de outro naturalista
que diagnosticou de forma desqualificadora as populações amazônicas: o inglês
Henry Walter Bates (1848 – 1859). 12 SCHWARCZ, Lílian Moritz. Obra citada, p. 75. 13 Casal Agassiz. In: COSTA, Hideraldo Lima da. Obra citada, p. 243. 14 Martius e Spix. In: COSTA, Hideraldo Lima da. Obra citada, p. 246. 15 Henry Walter Bates. In: COSTA, Hideraldo Lima da. Obra citada, p. 247.
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Para Bates, tornava-se necessário extinguir – sem “lamentações ou
condolências” 16 – os estratos da “raça rebaixada”. Nessa finalidade, o naturalista
foi categórico quanto à solução: “seria através dos processos constantes,
sucessivos e ininterruptos de maciças mestiçagens” 17.
A inserção do imigrante europeu na região corresponderia às necessidades
ocupacionais, civilizatórias e etnológicas, ilustradas por estrangeiros e aceitas –
com adaptações – por autoridades e intelectualidade locais. Mas, quais europeus
e que mecanismos de atração seriam utilizados para despertar o fascínio do
imigrante por uma região de aparentemente inóspita e selvagem?
A promessa de terras, lucros fáceis, trabalho em abundância eram
propagadas por Delegações locais para países da Europa Continental. No
entanto, o clima quente e úmido, a densa vegetação, cidades menos populosas,
as distâncias para interior do Brasil, economia pouco dinâmica, menores relações
de parentesco tornaram a vinda de múltiplas nacionalidades européias difícil para
a região do Amazonas. Populações da Europa Central, do Norte e mediterrânea
buscaram o litoral do país, as campinas do Sul, São Paulo e circunvizinhanças.
Estratégias de capitação de imigrantes estavam contidas na lei nº 8, de 21
de setembro de 1892, na qual o governador do Amazonas Eduardo Ribeiro ficou
autorizado a conceder passagens de terceira classe gratuítas a bordo de navios a
vapor, da Europa ou da América do Norte rumo ao Brasil, para todo artífice
desejasse fixar-se na região. Os benefícios de transporte eram estendidos às
famílias do pretendente. No primeiro mês, enquanto não se acomodassem,
tinham direito a alojamento e a uma diária de 2$000 reis 18.
Foi nessa busca pela europeização da região que os portugueses tiveram
papel preponderante. Acrescenta-se ainda a força com que as idéias eugênicas
penetraram e ganharam corpo no seio das elites dirigentes que viam uma
possibilidade de “melhorar a qualidade” da população amazônica, principalmente
no período da economia da Borracha, via incentivo à colonização européia, de
preferência ibérica.
Os argumentos de Augusto Ximeno Villeroy – governador do Estado do
Amazonas (04.01 a 02.11 de 1890) – apresentados em comunicação premiada 16 Idem ibidem. 17 Idem, p. 246. 18 Coleção de Leis 1892, 1901. In: MESQUITA, Otoni Moreira de. Manaus: Historia e arquitetura 1852-1910. Manaus EDUA, 1997, p. 227
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que procurava responder “como se deve povoar o solo amazônico”, partiam de
uma avaliação negativa da população regional, salvaguardando a figura do
imigrante europeu, preferencialmente o português, como representação de
“ordem”, “critério” e “seleção”:
A nacionalidade brasileira resulta de uma mistura de raças, ainda não fundidas intimamente,
o que será o trabalho dos séculos, de modo que etnograficamente não constituímos ainda –
um povo; conseqüentemente, seria um erro aumentar a desordem existente, importando
colonos a esmo, sem critério, sem seleção; portanto, para não alterar o caráter fundamental
da nacionalidade nascente, convém limitar a colonização aos povos ocidentais,
especialmente ibéricos (...) 19.
Após essas considerações gerais, concluía ressaltando o caráter arrojado e
empreendedor dos portugueses e recordando que a colonização da região fora
feita por Portugal, portanto haveria uma essência cultural que facilitava a
identificação mais rápida do colono com a geografia e as culturas do novo meio,
evitando-se traumas maiores de adaptação. Assim, para o governador era
incontestável que:
... esta raça preenche todas as condições para viver, crescer e progredir no meio
amazonense. Inútil expender aqui argumentos para demonstrar uma verdade sentida por
todos, brilhantemente atestada pela nossa história e pela pujança da colônia portuguesa da
Amazônia, principal esteio do seu comércio 20.
Nas últimas décadas do século XIX, tais considerações foram decisivas para
as vantagens de portugueses sobre os naturais no Amazonas, principalmente no
mundo do trabalho. Na dicotomia labor e indolência, os discursos de época
construíam sentidos que – na sua influência – determinavam escolhas.
Nos jornais da época, as prioridades de trabalho para portugueses tornavam-
se evidentes nos classificados de Manaus: “prefere-se português” 21.
19 VILLEROY, A. X. Como se Deve Povoar o Solo Amazônico. In: PINHEIRO, Maria Luiza Ugarte. A cidade Sobre os Ombros: trabalho e conflito no conflito no porto de Manaus (1899-1925). Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 1999, p.109. 20 Idem, p. 110. 21 “Caixeiro – Na Mercearia Alfacinha precisa-se de um de 12 a 15 anos; prefere-se português”. Jornal do Commércio do Amazonas, 14 de fevereiro de 1899. In: Pinheiro, Maria Luiza Ugarte. Obra citada, p. 110.
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Inúmeras profissões tiveram portugueses e portuguesas como preferências
generalizadas na região. Amas-secas lusitanas eram requisitadas pelas donas de
casa mais ricas de Manaus, conforme consta nos anúncios e dos precisa-se
publicados nos jornais da época 22.
Também pelo peso das determinações eugênicas, portugueses
disseminaram-se com sucesso na vida do Amazonas, sobretudo na capital: eram
carregadores e catraieiros do porto, carroceiros, padeiros, vendedores
ambulantes, pescadores e seus barcos, horticultores e verdureiros nos arrabaldes
da cidade, pedreiros, ferreiros, carpinteiros, serralheiros e mestres-de-obras, que
ajudaram a construir, com os seus ofícios, os prédios da cidade, além de
barbeiros, bordadeiras, costureiras, lavadeiras, cozinheiras 23, uma teia de
relações profissionais e de sociabilidades que geraram juízos favoráveis ao
imigrante português, pela similitude desse ao labor.
Essa preferência dada a muitos dos trabalhadores portugueses, em
detrimento dos locais, gerava protestos, paralisações e sentimentos xenófobos.
Em 1911, em Manaus, estivadores nativos, nordestinos entre outros nacionais
realizaram uma série de protestos contra a crescente contração de estivadores
portugueses 24.
Empresas como Booth Line, Companhia do Amazonas e Armazéns
Andressen, entre outras, alegavam que os estivadores portugueses tinham
melhor robustez e aptidão, realizando contratações crescentes, mesmo sendo um
descumprimento dos dispositivos legais contidos nos Estatutos dos Armazéns
Alfandegados, no qual estabelecia que “os brasileiros natos são os que devem ser
os preferidos para o serviço” 25
Com o auge do período da Borracha (1890 – 1910), as oportunidades se
multiplicaram na região. Nas principais cidades do Amazonas, como Manaus, a
economia se expandiu possibilitando novos investimentos. Como era a maior
comunidade de imigrantes do estado, os portugueses consolidaram as relações
de parentesco, de solidariedade e mesmo de exploração entre seus membros.
22 BENCHIMOL, Samuel. Amazônia: Formação social e cultural. Manaus: Valer, / EDUA, 1999, p. 72-73. 23 Idem ibidem. 24 PINHEIRO, Maria Luiza Ugarte. Obra citada, p. 111. 25 Idem ibidem.
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Tendo por base princípios eugênicos, que geraram e foram geradores de
discursos, construindo sentidos favoráveis, associados aos créditos fornecidos e a
confiabilidade hegemônica fincada na tríade: trabalho, poupança e ascensão, os
portugueses realizaram investimentos, acumulando patrimônios e reforçando o
senso comum na relação Significante – Significado 26, na qual se solidificaram as
associações português-trabalho, português-esforço, português-acumulação
material, português-sucesso.
Qual a relação entre os jornais locais e o discurso eugênico das
autoridades?
Sobre o periódico Diário de Manáos possibilita-se fazer uma leitura sobre a
construção dos discursos em relação ao imigrante português. Em sua coluna
“Chronica da Europa” era relatada a novidade da notícia na Europa,
principalmente comentários sobre o conteúdo jornalístico do Porto e Lisboa.
Nessas duas cidades havia um correspondente de imprensa do Diário de
Manáos, que enviava por carta os temas mais relevantes para o jornalismo
português.
Através da coluna “Chronica da Europa” 27, no Diário de Manaós,
estabeleciam-se ponderações oficiais sobre a imigração européia para o
Amazonas/Brasil, priorizada no português. O termo ausente, mas registrado nas
entre linhas, eram os rótulos e o desprestígio às populações locais e seus
elementos culturais. Isso se dá a partir do momento em que se buscava adaptar
aquilo que era visto como original no circuito europeu. A impressa local
colaborava com esse entendimento.
É um cabra sarado o José Valentim de Freitas. Dos sertões da Pharayba, de onde é oriundo
trouxe fama de valente e a ilharga sob o cinturão grousso de couro cru. Uma temenda
língua de tatu de um palmo e meio. Aqui, ambiente outro, convivencia diferente, Valentim foi
se transformando aos poucos sempre para a peor, já se vê, à faca ponteaguda juntou uma
pistola mauser 9 tiros, um bacamarte de fazer medo ao mais audaz e assim andava ele
ostentando aquela armaria toda como um arsenal ambulante. (...) e o mantenedor da ordem
ferrou os guantes no Valentim, levando de roldão, armas e tudo à delegacia do primeiro
distrito. O arsenal foi apreendido e o Valentim marchou para as grades.28
26 FOUCAULT, Michel. As Palavras e as Coisas. Traduzido por Salma Tannus Muchail. 8. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 59. 27 Diário de Manáos. Chronica da Europa, 02 de julho de 1891. Laboratório de Imprensa da UFAM. 28 Jornal do Comércio. Coisas Policiais, ”Arsenal ambulante”. Manaus, 10 de maio de 1917.
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Práticas populares como a noticiada acima eram registradas nos periódicos
locais com certa freqüência, geralmente ressaltando a origem do acusado e sua
dissonância com a pretensa modernidade da Belle Époque manauara.
Dessa forma, um conjunto de imagens passaram a ser construídas sobre
segmentos sociais, tendo com pano de fundo sua etnicidade: índios, caboclos,
nordestinos principalmente. Este, rural ou urbano, tornou-se passivo de signos,
construídos através de representações de semelhança, formas esboçadas
também pelo discurso jornalístico, que tinham capacidade de mudar ou reforçar
preconceitos construídos pelas páginas lidas nesses periódicos.
Houve um interessa em exprimir o acolhimento do discurso racial,
evidenciando formas de veiculação em suas páginas, associando o discurso racial
à modernização.
O desejo de modernidade emergiu nas elites manauaras assumindo importância
singular, envolvendo apropriação de práticas normatizadas. No momento em que
o sentido do “modo de vida moderno” mudasse, o sujeito urbano deveria se
enquadrar, remediar suas experiências, revisando-se mediante os novos padrões.
Assim, na busca pela homogenização, “a modernidade, não se deve esquecer,
produz diferença, exclusão e marginalização. Afastando a possibilidade da
emancipação, as instituições modernas ao mesmo tempo criam mecanismos de
supressão, e não de realização, do eu” 29.
Dessa forma, estava implícito às fontes que o “eu” se realizou na Manaus
da Borracha, independente dos mecanismos de supressão das instituições
modernas, o “eu” tornou-se manifesto, tornou-se agente dos seus próprios feitos,
demonstrando força para reconfiguração de seu meio, agindo sobre as posturas
normatizadas 30.
29 GIDDENS, Anthony 1938. Modernidade e Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2002, p. 13. 30 Em 1912, a Chefatura de Polícia do Estado do Amazonas solicita a criação emergencial de delegacias nos arrabaldes mais “povoados e extensos que rodeiam a cidade” , pois “o quadro das delegacias, duas apenas, cada qual servida por um delegado, dois sub-delegados, quatro inspectores e oito agentes, trás sérios embaraços às necessidades do serviço policial.” Relatório da Chefatura de Policia do Estado do Am. Delegacias, p. 102. In: Mensagem lida perante o Congresso dos Representantes, pelo Exm. Sr. Cel. Antonio Clementino Ribeiro Bittencourt, 10 de julho de 1912. Arquivo Público do Estado do Am. Em 1918, consta no Relatório da Polícia Civil que “os pequenos delictos contra a pessoa e propriedade vão, infelizmente, augmentando dia a dia, segundo informa o Dr. Freitas Bastos, em
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Para as elites defensoras da aplicabilidade da modernidade, a vida fora de
sintonia com o eixo da modernidade significava ser moroso, contemplativo,
conformado com a condicionante que lhe assiste.
Logo, a modernidade contrapõe-se aos elementos que regem a
existencialidade no meio natural, sendo o destaque do predomínio da
modernidade no domínio do homem sobre a natureza. A dinâmica da
modernidade representou a domesticação da fera natural: selvas eram cortadas
por ferrovias (como a Madeira Mamoré); as distâncias transoceânicas pareciam
ficar menores com as embarcações a vapor, o telégrafo permite comunicações
longínquas. Na Manaus da Borracha, os personagens estigmatizados pela sua
“jettatura” 31, como estereotipavam as crônicas policiais, eram o ameríndio, o
tapuio, o caboclo ribeirinho, o seringueiro, o migrante nordestino e outros
personagens que expusessem culturas semelhantes a esses.
Gradativamente, os leitores e opinião pública – influenciados pelos
periódicos locais – faziam relação entre “práticas condenáveis” e segmentos
sociais, havendo uma confusão entre segmentos classificados socialmente e
etnicidades/culturalidades.
Tais abordagens jornalísticas não eram debatidas de forma isolada,
vinham acompanhadas de abordagens teóricas cunhadas pelo cientificismo da
época, representantes de “centros de saber” e pelas autoridades públicas. Um
dos principais questionamentos, e que se fazia debatidos nas páginas dos jornais,
era quais modelos de (i)migração e povoamento para a Amazônia eram os ideais
para a região, ressaltando em segmentos étnicos como condição prévia para o
desenvolvimento da região.
Desde as últimas décadas do século XIX, cientistas nacionais e estrangeiros,
autoridades, intelectuais, literatos e outros formadores de opinião, ocupavam-se
com o estudo das condições ideais necessárias para projetar no Amazonas as
qualidades físicas e morais capazes de favorecer o bom desenvolvimento de
gerações futuras, obedecendo a concepções caucasianas e civilizadoras.
seu relatório, por meio de um diagramma synthetico, sobre a criminalidade de Manáos.” Relatório da Polícia Civil, p. 156. In: Mensagem lida perante a Assemblea Legislativa pelo Exm. Sr. Dr. Governador do estado Pedro de Alcântara Bacellar. 10 de julho de 1918. Arquivo Público do Estado. Isso mostra que as vontades individuais foram superiores às normatizações sociais. 31 Jornal do Comercio do Amazonas. “O fim de um sabbat”, 30-09-1917.
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Nessas análises constava a principal inquietação: quais grupos étnicos
faziam parte do modelo ideal para o fluxo migratório? Neste debate, já se chegara a
conclusão prévia, através da visão deturpada de que as populações nativas (índios,
mestiços e até negros) eram incapazes de gerirem seu próprio destino. Partiam
também da idéia de que tais segmentos nativos causariam uma espécie de
“pauperismo étnico”, o que levava a busca de alternativas exógenas para melhor
desenvolver a região.
Com tais discussões, Manaus passa a ser palco de intensos debates sobre
eugenia. Tais debates encontram na imprensa do período um caminho
importantíssimo para disseminação de idéias que ancorassem a mudança de
cotidiano de uma cidade que aumentava sua densidade populacional através de
intenso fluxo migratório. Assim, nos parece claro que eram nos jornais que as
discussões sobre “a raça ideal para o Amazonas” ganharam maior destaque e
valorização, podendo alcançar um público amplo.
Muitas das vezes, as discussões sobre eugenia constavam na imprensa
através de normatização de padrões culturais estipulados pelas elites, convenções
sociais que eram qualificadas em detrimento de práticas de desqualificação a que
eram imediatamente associadas a naturalidade, a origem, a fisionomia e a cultura
de seu praticante.
Foi nas páginas da imprensa que se fez presente a força da influência na
aceitação e disseminação de novos estilos de vida, informando, de maneira
impositiva, práticas socioculturais a grupos étnicos rotulados sempre de forma
negativa, a quem se acusava sempre de desvio de conduta, ocasionando uma
das mais difundidas idéias sobre o avanço da criminalidade: a origem racial.
Esse tipo de mensagem e de associação de idéias, os Jornais traziam
cotidianamente, principalmente através de suas colunas policiais, todas elas
carregadas de subjetividade. Em boa medida, nelas podiam ser lidos – na
contramão da condenação de certas práticas de segmentos populares – os ideais
eugênicos do momento.
Assim, quanto à criminalização de práticas e de segmentos sociais – em
regra apontados como “grupos raciais” – a imprensa tinha um papel determinante,
atuando como aparelho produtor e disseminador de idéias segregadoras e
excludentes, historicamente construídas.
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Do recôndito do sertão cearense, atirado á proa de um cargueiro, aportou ás regiões amazônicas o Jose Caninana. Não sendo propriamente um finório, o Caninana também não era lá para que se diga nenhum trouxa. Passaram-se os mezes, e tendo experimentado mil diversos meios de cavar a vida, não via desaparecer-lhe da pessoa aquele aspecto caipira com que desembarcara na terra das farturas e das piracemas. Parecia-lhe mesmo que o actuara a influencia maleficiosa de uma jettatura de que ouvira falar aos periódicos locaes. (...) 32
Com expressões como caipira, influência maleficiosa e jettatura, entre outras
cotidianamente registradas nos “periódicos locaes”, foi sendo criada uma
mentalidade que contrapunha o progresso e a vida civilizada a esses personagens
enquadrados no noticiário.
Sobre essas posturas encontradas na imprensa local, chamar-se-á atenção
sobre outras correntes científicas que envolviam a etnicidade, interligando essa à
criminalidade, entre elas a Antropologia ou Ciência Criminal, esta citada por
inúmeras autoridades locais como alternativa para maior controle dos indesejados
sociais.
Sobre tal aspecto da história da cidade de Manaus, é evidente a contraposição
de duas idéias ou discursos bem perceptíveis nos jornais locais, ou pelo menos no
Jornal do Comércio do Amazonas: o ideal de “Progresso” e o rótulo ou
desqualificação expressa como “Jecatatura”. A primeira traduz-se na representação
que as elites têm da cidade, a segunda expõe ao público, através da imprensa, a
falta de sintonia entre personagens sociais (migrantes ou populares com
características bem definidas) e a própria cidade idealizada.
Cabe ainda ressaltar que um dos principais objetivos das autoridades locais e
da Primeira República seria introduzir no Amazonas e no país um contexto de
progresso e modernidade, arrancando-os do aparente primitivismo. Para que tal
empreitada saísse do campo da abstração e se convertesse em prática era
imperativa a legitimação de estudos étnicos, pressuposto que sustentava os
objetivos de um progresso idealizado.
A desigualdade social talvez seja o maior problema que o Brasil hoje enfrenta,
pois tal questão está na origem e é o resultado final de demais questões nos
aspectos políticos, econômicos, violência urbana, movimentos sociais, diferenças
32 Jornal do Comercio. “O fim de um sabbat”. Manaus, 30 de set. de 1917. Nota: a escrita e expressões de linguagem foram fac-similadas.
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regionais, raciais, culturais, entre outros. São aspectos desafiadores provocados
por inúmeras diversidades entre grupos rivais ou segmentos que se contradizem
no cotidiano social, contradições essas mais ou menos explícitas, que – em
alguns casos – asseguram a estrutura de poder vigente.
No Brasil, a desigualdade social pauta-se sobre causas que vão muito além
do mero desnivelamento econômico. No cerne desse problema há inúmeros
fatores, entre eles as desigualdades étnicas, escamoteadas pelo mito da
democracia racial.
São desigualdades e antagonismos que se manifestam nas diversidades,
multiplicidades de etnias e culturas no país. Isso se torna cada vez mais evidente
pela disseminação de grupos e movimentos sociais que têm como principal
bandeira a ressalva a sua etnia e identidade, como o Movimento Pardo-Mestiço
brasileiro, a Associação dos Caboclos e Ribeirinhos da Amazônia, Fórum Afro da
Amazônia, Fórum Permanente dos Afrodescentes do Amazonas, Organização da
Resistência Mulata, sem anunciar a diversidade de organizações de fortalecimento
étnico-cultural indígena do Amazonas.
Do ponto de vista étnico e cultural torna-se inegável que inúmeros
segmentos da sociedade atual são vistos de forma preconceituosa, gerando
marginalização. Caso tal evidência fosse fictícia, o que justificaria a existência e
proliferação de movimentos sociais com posturas étnicas e de identidade?
Essa perspectiva vem sendo historicamente construída desde os tempos
coloniais, sendo reforçada no período da Belle Époque amazônica, quando se
objetivou uma pretensa europeização na região.
Talvez seja ousado considerar este estudo relevante (materializado em
trabalho disciplinar), mas se pode afirmar – sem receio de equívocos - que a
sociedade atual não está hierarquizada somente em graus socioeconômicos, em
uma sociedade de classes. Há outros determinantes que se fazem presentes no
cotidiano social que são frutos remanescentes de estrutura, padrões e valores das
sociedades escravocratas, coloniais e pós-coloniais.
Com a expansão do capitalismo no país e diversificação das atividades
econômicas no campo e na cidade, com a abolição da escravidão, industrialização,
urbanização e outros processos estruturais têm-se a idéia que a mobilidade social é
inteiramente viável a partir do fator exclusivamente econômico. A partir daí, se
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reconfigura a estrutura social, dando margem a novas modalidades de lutas
sociais.
Entretanto, nas estruturas de classes subsistem outros modelos de
estratificação social. O índio, o mestiço, o negro têm sido historicamente
discriminados. Como sustenta Octavio Ianni, afirmando que o que
os atinge não é apenas a (discriminação) de classe, do mercado, da sociedade competitiva, mas de raça (...). É como se um remanescente arqueológico, pretérito de longe, fosse recriado cotidianamente na trama das relações de classes. Tanto assim que os trabalhadores brancos, negros, mulatos, índios, mestiços e outros são classificados diferencialmente pelos que os empregam (...). Aliás, distinguem-se entre si, na mesma fábrica, fazenda e outros locais de trabalho.33
Esse cotidiano, visto enquanto tensão, está para além da estruturação da
sociedade em classes. Há uma mescla com fatores de depreciação étnico-cultural
que dificulta a mobilidade social e desqualifica o reconhecimento quando esse
deslocamento é em direção a ascendência socioeconômica.
Tal questão adquiriu nova roupagem – ou pelo menos um reforço dos ideais
anteriores - quando a Primeira República buscou europeizar o país, e as
autoridades locais, a cidade de Manaus.
O processo de enriquecimento com a Borracha trouxe a migração e
ressaltou a presença da população tradicionalmente local. Nessa multiplicidade
crescente na cidade foi realimentada a desigualdade, a diferença, tendo como pano
de fundo a desvalorização do “colorido” regional. A ciência criminal34 toma esse
viés desqualificador e, às vezes, determinante, quando entende que a criminalidade
e o perigo social têm íntimas ligações com modelos étnicos e culturais previamente
definidos como primitivos e prejudiciais aos princípios de progresso, civilidade e
modernização. E a imprensa local teve o papel de preservar, ou perverter, na
memória ideais étnicos pré-estabelecidos, fazendo com que no presente boa parte
da população local reproduza desqualificativos do ponto de vista étnico.
33 IANNI, Octávio. O Labirinto Latino-americano. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 53. 34 Ver escola italiana – fusão da antropologia criminal de Césare Lombroso com a sociologia criminal de Henrique Ferri. Também criminologia positivista francesa.
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Assim, compreende-se que a “ignorância do passado não se limita a
prejudicar o conhecimento do presente; compromete, no presente, a própria ação” 35.
OS ROSTOS DA HISTORIOGRAFIA
Para encaminhamento desse trabalho, não se pode furtar do referencial
fornecido por autores e obras no trâmite do doutoramento. Através do suporte
historiográfico, tornaram-se possível analisar a imprensa sob a presença de
pressupostos advindos de discussões sobre Eugenia, princípios
geneticistas/antropológicos e a ciência criminal.
Da mesma forma, cabe o registro a autores e obras que auxiliaram em
fundamentos teóricos e metodológicos, como Edward P. Thompson, Michel de
Certeau, Roger Chartier, entre outros.
Em primeiro lugar, cabe registrar que o uso do jornal pelos historiadores vem
passando por sistemáticas tentativas de construção de arcabouços metodológicos
que busquem dar conta da utilização de materiais tão complexos no processo de
construção do saber historiográfico. Para Renné Barata Zicmam, o envolvimento
dos historiadores com a imprensa tem oscilado entre produzir uma “História da
Imprensa” e/ou uma “História através da Imprensa”. No primeiro caso, trata-se de
“reconstruir a evolução histórica dos órgãos de imprensa e levantar suas
principais características para um determinado período” e, no segundo caso,
tomar a imprensa “como fonte para a pesquisa histórica”. 36
Situado na confluência desses dois campos, esse trabalho buscou identificar
a especificidade dos jornais enquanto veículos que debatem, assumem e
informam idéias eugênicas, além de dar visibilidade ao potencial que a Imprensa
apresenta como fonte capaz de iluminar os aportes de uma história sociocultural
preocupada com os populares e com os processos de exclusão social, podendo,
assim, minimizar lacunas grandes de nossa escrita da História.
Zicman apresenta também importante contribuição no sentido de se buscar,
no interior do processo de pesquisa, uma caracterização precisa dos órgãos de
35 BLOCH, Marc. Introdução à História. Trad: Maria Manuel e Rui Grácio. Lisboa. Publicações Europa-América, 1965, p.40. 36 ZICMAN, Renée Barata. A História através da Imprensa: algumas considerações metodológicas. Projeto História, nº 4. São Paulo: Educ, 1985.
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imprensa, levando em consideração quatro pontos prioritários: a) os aspectos
formais e materiais do jornal (formato, número de páginas, tipo de impressão,
etc.); b) aspectos históricos do jornal (local e data de fundação, proprietários,
vínculos político-ideológicos, corpo redacional, etc.); c) aspectos econômicos do
jornal (financiamento, assinaturas, tiragem, publicidade, difusão, preço, etc.); e d)
aspectos da clientela do jornal: o público-leitor alvo (destinatários explícitos,
“cartas ao leitor”, etc.).37
Outra preocupação importante será a de identificar “o lugar social de onde
cada jornal fala”, contextualizando os diversos jornais, já que eles se inserem e
atuam no interior de sociedades complexas, crivadas pelos mais diversos tipos de
estratificação. Como os demais atores sociais, os jornais não só externam
representações específicas do real, como também incorporam, de forma
consciente ou inconsciente, um projeto social e apontam caminhos para sua
viabilidade.38
No caso específico das práticas eugênicas e da ciência criminal, um dos mais
importantes autores para a construção dessa pesquisa foi Lilia Moritz Schwarcz,
em seu O Espetáculo das Raças, já citado anteriormente. Schwarcz percebe a
importância dessas doutrinas no Brasil de fins do século XIX em sua curiosa
mestiçagem com o liberalismo, e ter evidenciado, com talento e etnográfica
perspicácia, a desenvoltura dos intelectuais no manejo eclético de correntes
científicas. A autora ainda percebe que no Brasil, na Primeira República, a
hierarquia social vai encontrar refúgio e apoio ideológico em um discurso racial.
Segundo a autora, de 1870 a 1930 o racismo no Brasil alcança abrangência
por fazer parte de teorias que servem à hierarquia interna, condenando – ao
mesmo tempo – o país ao fracasso pela sua mestiçagem. A obra analisa também
os centros brasileiros de saber histórico, jurídico e médico, a ambição de
Instituições construírem uma nação viável através de acomodações das doutrinas
raciais 39. Por tais motivos a obra de Schwarcz tornou-se importante para a
fundamentação da análise materializada nesse trabalho. Pois traz à luz
idealizações que transformaram o cotidiano da sociedade no âmbito local.
37 Idem. 38 VIEIRA, Mª do Pillar at al. A Pesquisa em História. São Paulo: Àtica, 1989. 39 In: SCHWARCZ, Op. Cit.
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A obra de Olívia Maria Gomes da Cunha, Intenção e Gesto40, direciona o
olhar para os arquivos policiais do Rio de Janeiro no início do século XX,
expondo os Sistemas Antropométrico de Bertillon, Dactiloscópico de Vucetich,
aplicados na identificação de presos nas Casas de Detenção, como também as
discussões nas Faculdades de Ciências Jurídicas sobre o melhor sistema de
identificação utilizado. A autora possibilita vislumbrar um panorama dos Serviços
de Identificação criminal utilizados no Rio.
Com o mesmo ímpeto, Cunha analisa as preocupações que surgem no início
dos anos trinta sobre o Sistema de Identificação criminal, através da leitura das
inscrições papilares, aliados à fotografia. As discussões da época criticavam a
real função do Sistema. Parte dos críticos “enfatizavam que as práticas de
identificação se prestavam a estigmatizar e desclassificar socialmente aqueles
sobre os quais a justiça ainda não tinha culpa formada. Quando isso ocorria, a
passagem por uma delegacia policial deixava um rastro de humilhação para o
cidadão que havia sido identificado”. 41
O diálogo com a obra se justifica pela avaliação e emprego, no campo
institucional, das técnicas de identificação criminal no país, nas primeiras
décadas do século, iluminando os diferentes conjuntos de crenças não
exatamente preocupadas com a inviolabilidade dos corpos, mas com a
sofisticação de aparatos científicos, jurídicos e policiais que protegessem o
Estado da ação dos indivíduos. A autora contextualiza e historioriza os clamores
em torno não só da funcionalidade, mas da eficácia simbólica do registro criminal,
que provocaram sua rápida disseminação por outras capitais brasileiras logo nas
primeiras décadas do século XX.
A autora contribui ainda para o projeto quando discute conceitos aplicados na
época, como a noção de “fenótipo”. Visto como modelo e estratégia de racializar
o cotidiano das relações sociais, traçando interpretações sobre as diferenças de
classe e gênero que são visíveis, reconhecíveis e identificáveis nos corpos.
Em Manaus, a noção de “fenótipo” torna-se aplicável quando se percebe que
foi no campo das relações e convenções sociais que a desqualificação étnica e
40 CUNHA, Olívia Maria Gomes da. Intenção e Gesto. Pessoa, cor e a produção cotidiana da (in)diferença no Rio de Janeiro 1927–1942. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2002. 41 SCHWARCZ, Op. cit., p. 17
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cultural se colocou de forma mais aguda. Nesse contexto local cabe trabalhar
com o conceito de racismo alargado por Uday Mehta.
Racismo é um estilo de pensamento e ação relacionado a outras coisas que não à ‘raça’. Não há nenhuma contradição nesta afirmação, uma vez que se reconheça que não existe tal coisa como um unívoco conceito de ‘raça’. Tal categoria se torna operante quando, devido a questões táticas ou estratégicas relacionadas à classe, gênero, normas sociais, moralidade e mesmo relações entre Estados, aparece convenientemente expressa de forma a ocultar uma contingência, inevitabilidade ou apenas a reinterpretação desses interesses. 42
Um autor e obra que discute a origem das temáticas abordadas pelos
autores anteriores é Stepen Jay Gould, A Falsa Medida do Homem43. O autor
aborda o determinismo biológico, sustentado pelas normas comportamentais
compartilhadas, bem como as diferenças sociais e econômicas existentes entre os
grupos humanos - principalmente de raça, classe e sexo – derivam de distinções
herdadas e inatas, e que, nesse sentido, a sociedade é um reflexo fiel da biologia.
A obra discute, numa perspectiva histórica, um dos principais aspectos do
determinismo biológico: a tese de que o valor dos indivíduos e dos grupos sociais
pode ser determinado através da medida da inteligência como quantidade isolada.
Para analisar essa condicionante, o autor o estuda a craniometria e suas
derivações.
A abordagem da obra vai além dos postulados científicos, demonstra a
debilidade científica e os contextos políticos dos argumentos deterministas. Ou
seja, ilumina a temática de forma analítica, criticando o mito que diz ser a ciência
uma empresa objetiva, trazendo para o campo da objetividade cientifica a
subjetividade político-social e a influência do meio.
Os temas privilegiados pelo autor também contemplam os objetivos do
projeto por trabalhar com as abordagens quantificadas da anatomia humana
empregadas pelo determinismo biológico. Entre tais abordagens, deve-se
ressaltar a tentativa de explicar o comportamento dos criminosos como um
atavismo biológico que se reflete na morfologia simiesca dos assassinos e outros
delinqüentes 44. O autor, portanto, traz as bases do Darwinismo Social e os
42 In: SCHWARCZ, Op. cit, p. 52. 43 GOULD, Stepen Jay, A Falsa Medida do Homem. 2º ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 44 Idem, p. 9.
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estudos posteriores que foram apropriados por Instituições e personagens no
âmbito nacional e local do contexto da Primeira República brasileira.
A iniciativa de focar esse trabalho em práticas populares registradas nas
páginas policiais, tendo como viés princípios raciais de época, teve o incentivo
através das reflexões de Edward P. Thompson no que tange às “ebulições e as
ações diretas da multidão”.
Nos estudos realizados, não foi iniciativa enfatizar distúrbios coletivos
populares. Mas as “ebulições e as ações” 45, conforme Thompson, trouxeram
fundamentos para a percepção do cotidiano vivido por muitos daqueles que não
eram observados por grande parte da historiografia manauara, recusando visões
que desconsideravam e desqualificaram historicamente as pessoas comuns pelo
seu estrato social, suas práticas cotidianas e/ou sua origem étnica, não
percebendo suas ações como atividades de sujeitos históricos e sociais.
(...) nada relacionado com o mais ínfimo do que é vulgar pode ser estranho à nossa
investigação, e menos ainda escapar à nossa atenção; nada que diga respeito àqueles
que ocupam o lugar mais humilde, embora de modo algum o menos importante na
distribuição política dos seres humanos 46.
Foi através de Thompson que se maturou a idéia de que eram necessários
recursos analíticos que extraíssem o significado de cada ação, percebendo essa
ação em seu contexto específico, embutido em equilíbrio de forças, sem cair em
armadilhas ou amarras teóricas, que abarcam a realidade, enquanto camisa de
força da experiência cotidiana 47.
Com “As Peculiaridades dos Ingleses e outros artigos”, tornou-se mais
evidente que a abordagem dada nesse trabalho tem inspirações no presente. Da
Manaus da Belle Époque proveio a arquitetura rebuscada de prédios e
monumentos do período da borracha. Mas também as permanências de visões
deturpadas sobre a população local, seus traços culturais, suas práticas
cotidianas, sua origem étnica, a miscigenação. Ao que parece, princípios como
“raça depauperada”, conforme os Agassiz, ainda permanecem na atualidade
local. 45 THOMPSON, E. P. Costumes em Comum. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 77-78. 46 Idem, p. 13-14. 47 THOMPSON, E. P. A Miséria da Teoria, ou um Planetário de Erros. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
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Logo, a visão histórica posta envolve em perene engajamento com o
presente, e a pesquisa se posta com permanente preocupação com sua
relevância histórica para o presente, contribuindo “para o desenvolvimento da
compreensão da história como política, entendida como compromisso com a vida
e os desejos dos homens e mulheres reais” 48.
Com Michel de Certeau, mais agudamente se percebeu as formas como a
presença de populares, e suas condicionantes étnicas e culturais, passou a ser
notada como desconforto, agressão e/ou perigo iminente às elites que se
idealizavam e se viam européias, e com isso os métodos abstratos e concretos,
explícitos e implícitos utilizados para a manutenção dos distanciamentos entre
categorias sociais, buscando evitar hibridismos. Entre tais métodos, as páginas da
imprensa local.
Assim, é natural que perceba microdiferenças onde tantos outros só vêem obediência e
uniformização. É natural que ele concentre a atenção nos minúsculos espaços de jogo que
táticas silenciosas e sutis “insinuam”, como lhe apraz dizer, brincando com os dois
sentidos do verbo, na ordem imposta 49.
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