• O utilitarismo é uma doutrina ética que, na tradição do pensamento aristotélico, ensina que o fim da conduta humana é a felicidade. Portanto, as ações são corretas na medida em que tendem a promover felicidade e erradas se tendem a promover infelicidade.
• Antes, porém, desses dois autores darem forma ao Utilitarismo, o pensamento utilitarista já existia, inclusive na filosofia antiga, principalmente no de Epicuro e seus seguidores na Grécia antiga.
• Francis Hutcheson, com sua teoria do “sentido interior da moralidade” (“moral sense”) manteve uma posição utilitarista mais clara. Ele cunhou a frase utilitarista de que “a melhor ação é a que busca a maior felicidade para o maior número de indivíduos”.
• Os principais defensores da ética utilitarista são todos ingleses ou estão na tradição de pensamento anglo-americana.
• Isso parece ter ocorrido em função das peculiaridades que caracterizam essa tradição.
Algumas características da filosofia inglesa
• Hobbes havia afirmado que o axioma ético fundamental é o de que a conduta correta é a que promove o nosso próprio bem-estar e que os códigos morais dominantes em uma sociedade só podem ser justificados se servem ao bem-estar daqueles que os observam.
• O utilitarismo também ganhou impulso a partir dos ensinamentos epistemológicos de Locke, para quem todas as nossas ideias são derivadas exclusivamente da experiência sensível.
• O aspecto ético dessa concepção é o de que nossas ideias de certo e errado e nossos julgamentos morais são originalmente derivados dos resultados de ações vivenciadas.
• Hume, por sua vez, conduziu uma extensa análise dos vários juízos aos quais submetemos nossa própria conduta, bem como as dos outros, e chegou à conclusão de que a virtude e o mérito pessoais consistem naquelas qualidades que são “úteis” para nós mesmos e para os outros.
Origem
O Utilitarismo é um tipo de ética normativa – com origem nas obras dos filósofos e economistas ingleses do século XVIII e XIX. Jeremy Bentham e John Stuart Mill são os principais teóricos.
• O utilitarismo clássico adota o princípio hedonista segundo o qual a finalidade da vida humana é a felicidade. A felicidade poderá ser encontrada pela vivência ou fruição de diferentes prazeres (ligados ao corpo ou ao espírito).
• Todas as ações desenvolvidas pelo homem terão como principal objetivo a felicidade. A felicidade identifica-se com o Bem Supremo.
• Todas as ações moralmente boas surgem, assim, como instrumentos para alcançar a felicidade.
O “credo” do utilitarismo
• “O credo que aceita a utilidade, ou Princípio da Maior Felicidade, como fundamento da moralidade, defende que as ações estão certas na medida em que tendem a promover a felicidade, e erradas na medida em que tendem a produzir o reverso da felicidade. Por felicidade, entende-se o prazer e a ausência de dor; por infelicidade, a dor e a privação de prazer.”
• É segundo este critério que toda a ação útil se torna legítima. Todavia, a felicidade alcançada não faz do critério moral utilitarista um critério fomentador do egoísmo.
• A moral utilitarista não exclui o altruísmo e a dedicação ao outro.
Objetivo do utilitarismo
• As ações praticadas devem ser capazes de trazer a máxima felicidade para o maior número possível de indivíduos. Ora, a máxima felicidade para todos (humanidade) surge como o objetivo principal da filosofia utilitarista.
• Bentham, que aparentemente acreditava que o indivíduo, no governo de seus atos iria sempre buscar maximizar seu próprio prazer e minimizar seu sofrimento, colocou no prazer e na dor ambos a causa das ações humanas e as bases de um critério normativo da ação.
• Todos somos governados pelos sentimentos de dor e prazer. São nossos “mestres soberanos”.
• O mais elevado objetivo da moral é maximizar a felicidade, assegurando a hegemonia do prazer sobre a dor.
• “Utilidade” ele define qualquer coisa que produza prazer ou felicidade e que evite a dor ou o sofrimento.
• A arte de alguém governar suas próprias ações, Bentham chamou “ética particular”. Neste caso a felicidade do agente é o fator determinante; a felicidade dos outros governa somente até o ponto em que o agente é motivado por simpatia, benevolência, ou interesse na boa vontade e opinião favorável dos outros.
• Para Bentham, a regra de se buscar a maior felicidade possível para o maior número possível de pessoas devia ter papel primordial na arte de legislar, na qual o legislador buscaria maximizar a felicidade da comunidade inteira criando uma identidade de interesses entre cada indivíduo e seus companheiros.
• Para Bentham, prazer é prazer e dor é dor.
Propostas práticas de Bentham• Panopticon – presídio dirigido por um
empresário que gerenciaria a prisão em trocas dos lucros gerados pelo trabalho dos prisioneiros, que trabalhariam 16 horas por dias.
• Arrebanhando mendigos – deve tirá-los da ruas porque “ para os mais sensíveis, a visão de um mendigo produz um sentimento de dor; para os mais insensíveis, causa repugnância.
Princípios fundamentais
Princípio do bem-estar (the greatest happiness principle ).O “bem” é definido como sendo o bem-estar. Diz-se que o objetivo pesquisado em toda ação moral se constitui pelo bem-estar.
Consequencialismo – As conseqüências de uma ação são a única base permanente para julgar a moralidade desta ação. O utilitarismo não se interessa desta forma pelos agentes morais, mas pelas ações – as qualidades morais do agente não interferem no “cálculo” da moralidade de uma ação, sendo então indiferente se o agente é generoso, interessado ou sádico, pois são as consequências do ato que são morais.
Há uma dissociação entre a causa (o agente) e as consequências do ato. Assim, para o utilitarismo, dentro de circunstâncias diferentes um mesmo ato pode ser moral ou imoral, dependendo se suas conseqüências são boas ou más.
Princípio da agregação – O que é levado em conta no cálculo é o saldo líquido (de bem-estar, numa ocorrência) de todos os indivíduos afetados pela ação, independentemente da distribuição deste saldo. O que conta é a quantidade global de bem-estar produzida, qualquer que seja a repartição desta quantidade.
Sendo assim, é considerado válido sacrificar uma minoria, cujo bem-estar será diminuído, a fim de aumentar o bem-estar geral. Esta possibilidade de sacrifício se baseia na ideia de compensação: a desgraça de uns é compensada pelo bem-estar dos outros. Se o saldo de compensação for positivo, a ação é julgada moralmente boa. O aspecto dito sacrificial é um dos mais criticados pelos adversários do utilitarismo.
• Princípio de otimização – O utilitarismo exige a maximização do bem-estar geral, o que não se apresenta como algo facultativo, mas sim como um dever.
• Imparcialidade e universalismo – Os prazeres e sofrimentos são considerados da mesma importância, quaisquer que sejam os indivíduos afetados. O bem-estar de cada um tem o mesmo peso dentro do cálculo do bem-estar geral.
Objeção 1
A vulnerabilidade mais flagrante do utilitarismo, muitos argumentam, é que ele não consegue respeitar os direitos individuais.
Ao considerar a soma das satisfações, pode ser muito cruel com o indivíduo isolado.
Objeção 2
O utilitarismo procura mostrar-se como uma ciência de moralidade baseada na quantificação, na agregação e no cômputo geral da felicidade.
Exemplos Na Roma antiga, cristãos eram jogados
aos leões no Coliseu para diversão da multidão.
A tortura é justificável em alguma circunstância? (bomba-relógio está por explodir em Vitória ES). Os números realmente parecem fazer uma diferença moral.
Os benefícios do câncer de pulmão
Questões
A moral é uma questão de avaliar vidas quantitativamente e pesar custos e benefícios? Ou certos deveres morais e direitos humanos são tão fundamentais que estão acima de cálculos dessa natureza?
Essas são respostas que encontraremos no formalismo kantiano da ação moral.
Fontes http://
www.dialogocomosfilosofos.com.br/category/utilitarismo. Acesso: 20/05/12.
SANDEL, J. Michael. Justiça: o que é fazer a coisa certa? Civilização Brasileira,2011.
EAGLETON, Terry. O problema dos desconhecidos: Um estudo da ética. Civilização Brasileira, 2010.
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