MOTIVAÇÃO PARA A PRÁTICA DESPORTIVA DOS
ALUNOS DA ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA DE
CELORICO DE BASTO
CARVALHO, Carmen; MENDES, Filipe; OLIVEIRA, Liliana.
(UTAD; Escola Básica e Secundária de Celorico de Basto)
RESUMO
A realização deste estudo teve como objetivo investigar as
motivações que conduzem os jovens à prática desportiva. A amostra
foi constituída por alunos de ambos os sexos, da Escola Básica e
Secundária de Celorico de Basto, onde participaram 143 inquiridos
todos eles praticantes de atividades desportivas. O instrumento
aplicado foi o Questionário de Motivação para as Atividades
Desportivas – QMAD versão traduzida e adaptada de Serpa & Frias,
(1992) da versão original Participation Motivation Questioner – PMQ
(Gill et al., 1983). Os resultados obtidos demonstram como motivos
mais importantes para a prática “melhorar as capacidades técnicas”,
“divertimento”, “estar em boa condição física” e “manter a forma”. Os
menos importantes compreendem “influência da família ou outros
familiares”, “pretexto para sair de casa”, “ser conhecido” e “ter a
sensação de ser importante”. As análises comparativas indicam que as
variáveis independentes afetam os jovens na prática desportiva.
Palavras - chave: Motivação, prática desportiva, escola
ABSTRACT
The purpose of this study was investigating the motivations
that take young people to sport. The sample consisted of students of
both sexes, the Primary and Secondary School in Celorico de Basto,
attended by all 143 participants practicing sports activities. The
instrument used was the Motivation Questionnaire for Sports
Activities - QMAD translated and adapted version of Serpa & Frias,
(1992) original version of the Participation Motivation Questioner -
PMQ (Gill et al., 1983). The results revealed how the most important
reasons for the practice "to improve the technical capabilities," "fun",
"be in good physical condition" and "keep fit". The least important
being "the influence of family or other relatives," "excuse to leave
home," "be known" and "have a sense of being important."
Comparative analyzes indicate that the independent variables affect
youth in sports.
Key words: Motivation, sports, school
INTRODUÇÃO
A atividade física tem sofrido algumas transformações ao
longo do tempo, e se um dia foi utilizada pelo ser humano como um
instrumento para caçar, atualmente adquire um papel crucial na
cultura e na educação da sociedade.
Este fenómeno social desencadeou uma atenção especial por
parte dos investigadores e vários têm sido os estudos científicos que
demonstram a pertinência da atividade física tanto na prevenção de
doenças como na promoção da saúde e na melhoria da qualidade de
vida das pessoas (Mouratidis & Michou, 2011; Aaltonen et al., 2012;
Moreno et al., 2012). Contudo e apesar dos conhecimentos adquiridos
acerca dos beneficios da atividade fisica, ainda são elevados os
números de sedentários na nossa sociedade. Estes dados têm sido alvo
de enúmeras preocupações dos profissionais do desporto para tentar
compreender as motivações e os motivos que levam as pessoas à
prática de atividade física e à prática do desporto (Patherick &
Weingand, 2002) e consequente maximização na adesão dos
adolescentes à prática das mesmas. (Allen, 2003; Moreno et al., 2012).
A motivação e os motivos não são lineares nem têm o mesmo
significado. Motivação tem como origem etimológica o verbo latim
“movere” que surge como uma força interna ou externa que nos leva a
desenvolver uma determinada ação. A intensidade desta ação irá
variar de pessoa para pessoa.
Motivo, surge do latim “motivum” que significa “uma causa
que põe em movimento” estando relacionados com os impulsos do ser
humano relativamente a uma tarefa. (Buonamano et al., 1995;
Weinberg et al., 2000).
Estudos recentes têm vindo a generalizar a área da motivação
como uma componente que não se rege apenas por forças internas mas
que depende também de fatores externos ao indivíduo nomeadamente
no contexto social e cultural onde este se encontra inserido. (Vallerand
& Losier, 1999; Gagne & Deci, 2005).
Segundo vários autores como Linnenbrink & Pintrich, (2002),
vários fatores podem afetar e até mesmo alterar as motivações dos
alunos perante uma determinada tarefa destacando-se como por
exemplo: organização do sistema educativo, as aspirações dos pais e
professores, o ambiente escolar e as perspetivas e ambições
individuais de cada aluno.
Assim sendo, podemos definir duas orientações motivacionais:
a intrínseca e a extrínseca, visto que o individuo não se encontra
isolado do meio, mas sim em constante simbiose com o mesmo.
Desta forma a motivação intrínseca relaciona-se com
atividades realizadas pelo ser humano e lhe conferem um elevado grau
de prazer e satisfação, definindo-se na busca pela aventura, pelo
desafio onde a recompensa que extrai dessa ação é a satisfação do
modo de explorar essa tarefa.
Este tipo de motivação pode ser identificado por exemplo na
persistência do aluno na aquisição de um determinado conhecimento
bem como o empenho e a dedicação que este disponibiliza nas tarefas
que lhe são propostas. (Ryan & Deci, 2000a; Ryan & Deci, 2000b).
Segundo Briere et al., (1995), a motivação intrínseca pode ser
subdividida em três categorias: para saber, para realizar e para
experiência. A motivação “para saber”, está relacionada com a
satisfação de uma necessidade, enquanto a motivação “para realizar”
está relacionada com o prazer de executar alguma atividade. Por
último temos a motivação para a experiência, que ocorre quando o
indivíduo realiza uma atividade para experienciar as situações
estimulantes a ela inerentes. (Vallerand & Losier, 1999).
Por outro lado, temos a motivação extrínseca que se encontra
relacionada com a recompensa que o ser humano adquire da atividade
a que se propõe executar, e que não considera inerente à própria
pessoa. (Ryan & Deci, 2000).
Para Mouratidis & Michou, (2011) podemos também
caracterizar a motivação extrínseca em categorias de acordo com o
grau de autonomia: Motivação de regulação externa quando o
comportamento humano é regulado por premiações materiais ou então
consequências negativas. Motivação de regulação interiorizada
quando o comportamento tem uma fonte inicial externa e é
interiorizada, por exemplo o sentimento de culpa ou a necessidade de
pertencer a um grupo; por último a motivação de regulação
identificada quando alguma atividade é realizada na qual não tem
opção de escolha, uma atividade importante de ser realizada mesmo
que não lhe seja interessante.
Os primeiros estudos nesta temática foram de Gill et al., (1983)
destacando-se como um dos estudos mais relevantes. Neste estudo foi
desenvolvido um questionário designado por “Participacion
Motivation Questionnaire”, onde os resultados mostraram que os
motivos mais importantes para a participação desportiva foram
melhorar as competências, divertimento, aprender novas
competências, desafio e ser fisicamente saudável. Paralelamente à
análise destas respostas permitiu identificar várias dimensões da
motivação para a participação desportiva: realização/estatuto,
orientação para a equipa, saúde física, descarga de energias, fatores
situacionais, desenvolvimento de competências, amizade e
divertimento.
Na década de 90, Buonamano et al., (1995) efetuaram um
estudo sobre a motivação para a participação desportiva em jovens
italianos através do questionário de motivação de participação de Gill
et al., (1983). Este estudo foi realizado com o intuito de verificar se
um país latino com uma cultura desportiva diferente dos países de
língua inglesa apresentavam os mesmos fatores motivacionais. Na
análise das respostas identificaram-se como motivos mais importantes
o divertimento, saúde física, amizade e competição.
Recentemente, estudos realizados nesta área têm demonstrado
que as crianças realizam atividades físicas por enumeras razões sendo
as mais significativas: desenvolvimento da técnica; demonstração de
competências; exercitação; desafio e o divertimento (Yli-Piipari et al.,
2009).
Veigas et al., (2009) constataram que os motivos mais
importantes para a prática da atividades física são: estar em boa
condição física; atingir um nível desportivo mais elevado e manter a
forma física. Os mesmos autores também referenciaram os fatores: ser
conhecido; a sensação de ser importante e pretexto para sair de casa
como os motivos menos importantes referidos pelas crianças para a
prática de atividade física.
Obter informações mais detalhadas relativamente às
motivações dos alunos irá permitir ao professor orientar as suas aulas,
aperfeiçoando as oportunidades de aprendizagem de forma mais
adequadas, tendo em conta as características e especificidades dos
alunos e do meio.
Sendo a educação física um conceito vinculado na formação
integral e permanente do aluno, este trabalho tem como objetivo
conhecer e identificar as motivações para a prática da atividade física
nos alunos do ensino Básico e Secundário da Escola de Celorico de
Basto.
METODOLOGIA
Amostra
A amostra deste estudo é de conveniência, tendo os
participantes sido selecionados de acordo com a sua prática de
atividade física, obtendo na Escola Básica e Secundária de Celorico de
Basto, um total de 143 alunos, sendo todos eles praticantes de alguma
modalidade.
Para o presente estudo, esta investigação envolveu 61 alunos
do sexo masculino (42,7%) e 82 elementos do sexo feminino (57,3%)
com idades compreendidas entre os 10 e 19 anos de idade (13,8±2,26).
Relativamente ao ciclo de escolaridade, no 2º ciclo obtivemos 40
participantes (28%), no 3º ciclo 52 participantes (36,4%) e no
secundário 51 (35,7%).
Quadro 1: Caracterização da amostra dos Praticantes de Atividade Física (n=143)
VARIÁVEIS INDEPENDENTES n %
Sexo Masculino 61 42,7
Feminino 82 57,3
Ciclo de Escolaridade 2º Ciclo 40 28,0
3º Ciclo 52 36,4
Secundário 51 35,7
Instrumentos
Neste estudo utilizou-se o QMAD (Questionário de Motivação
para as Atividades Desportivas), com o objetivo de avaliar os motivos
que levam os alunos à prática desportiva.
O QMAD foi traduzido e adaptado do Participation Motivation
Questioner – PMQ (Gill et al., 1983) traduzido e adaptado por Serpa
& Frias, (1991) e utilizado por Ávila & Vasconcelos Raposo, (1999).
O instrumento foi formado por 30 itens, e agrupado em 8 fatores sendo
o fator 1- Estatuto (motivos que se relacionam com a tentativa de
aquisição ou manutenção de um estatuto perante os outros. Itens: 5,
14,19, 21, 25 e 28); fator 2- Emoções (motivos que envolvem, de
algum modo, a vivência de emoções. Itens: 4, 7, 13); fator 3- Prazer
(constituído pelos motivos que se relacionam com a experimentação
de prazer. Itens: 16, 29 e 30.); fator 4- Competição (constituído pelos
motivos que envolvem competição. Itens: 3, 12, 20 e 26.); fator 5-
Forma física (motivos relacionados com a tentativa de aquisição ou
manutenção de uma boa condição ou forma física. Itens: 6, 15, 17 e
24.); fator 6- Desenvolvimento técnico (motivos que se relacionam
com a tentativa de melhoria do nível técnico atual. Itens: 1, 10 e 23);
fator 7- Afiliação geral (constituído pelos motivos que envolvem, de
uma forma geral, o relacionamento com outras pessoas. Itens: 2, 11 e
22) e fator 8- Afiliação específica (motivos relacionados com as
relações geradas no âmbito da equipa. Itens: 8, 9, 18 e 27). Este
instrumento é precedido pela seguinte expressão “As pessoas praticam
atividades desportivas para…”. E as respostas são dadas numa escala
de tipo de Likert, representando o 1- “nada importante”, 2- “pouco
importante”, 3- “importante”, 4- “muito importante”, 5- “totalmente
importante”.
Para a avaliação da consistência interna, foi utilizado o alfa de
Cronbach em cada um dos fatores que indica uma razoável
consistência interna variando entre 0,60 e 0,84.
Quadro 2: Análise descritiva das variáveis dependentes (QMAD)
QMAD
Média Desvio
Padrão Skewness Kurtosis α
Estatuto 3,25 1,04325 -,298 -,673 , 84
Emoções 3,83 ,77910 -,224 -,665 , 74
Prazer 4,02 ,73561 -,522 -,447 , 81
Competição 3,83 ,70351 -,149 -,101 , 83
Forma Física 4,33 ,56211 -,876 ,763 , 60
Desenvolvimento
Técnico 4,45 ,60824 -1,198 1,141 , 80
Afiliação Geral 4,16 ,75459 -,753 -,172 , 75
Afiliação
Específica 3,68 ,68972 -,463 ,453 , 66
Observando o quadro anterior, que reporta a análise descritiva
da amostra em causa, confirmamos estar perante uma distribuição
normal, uma vez que os valores de Skewness (assimetria) e Kurtosis
(achatamento) do QMAD encontram-se dentro do intervalo
considerado para uma distribuição normal] -1.1 [, exceto em um fator
que se encontra ligeiramente acima do intervalo, porém tendo em
conta a proporção reduzida da nossa amostra os dados foram
estudados como seguindo uma distribuição normal.
Procedimentos
Antes da entrega dos questionários aos alunos fora realizada
uma informação inicial dos propósitos da investigação e a obtenção do
consentimento informado por parte dos indivíduos. Foi aplicado o
QMAD (Serpa & Frias, 1991), sendo os alunos alertados para a
realização de uma leitura das instruções de preenchimento dos
questionários, foi também reforçada a ideia de que não existem
respostas certas nem erradas e que as respostas seriam mantidas como
confidenciais. Por outro lado, foram fornecidas as devidas instruções
de preenchimento e os esclarecimentos de eventuais dúvidas, de forma
a evitar reservas por parte dos inquiridos. Na primeira parte do
questionário foram também recolhidos alguns dados
sociodemográficos: sexo, idade, local de residência e ano de
escolaridade.
Salvo algumas dúvidas nas respostas, meramente pontuais, o
preenchimento do inquérito decorreu com normalidade, não se
registando grandes dificuldades
Após a inserção dos dados recolhidos numa matriz do SPSS
v.20 para Windows, procedeu-se a um conjunto de análises
estatísticas. Inicialmente, realizaram-se análises descritivas
(frequências, média, desvio-padrão, assimetria e achatamento) e de
consistência interna das escalas. Posteriormente, na análise
comparativa dos instrumentos utilizados em função da variável
independente sexo, foi utilizado o t-test para as comparações entre
médias; a análise de variância (ANOVA) para comparações entre
fatores no caso da variável ciclos de escolaridade e o teste F de
Scheffé.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Através da análise descritiva dos dados o quadro 3 apresenta-
nos o valor médio das respostas a cada um dos 30 itens e de acordo
com a escala de importância do QMAD, os valores 4 e 5 reproduzem
motivos muito ou totalmente importantes. Da mesma forma, os
valores inferiores a 3 indicam-nos motivos pouco ou nada importante.
Assim, e em concordância com o quadro 3, os inquiridos indicaram
como principais motivos para a prática desportiva, “melhorar as
capacidades técnicas”, “divertimento”, “manter a forma”, “estar em
boa condição física”
Como menos importantes os inquiridos apontaram “pretexto
para sair de casa”, “influência da família ou de outros amigos” e “ser
conhecido”.
Quadro 3 – Análise descritiva em função dos itens do QMAD
QMAD n Média
Desvio
Padrão
1. Melhorar as capacidades técnicas 143 4,6084 ,61707
2. Estar com os amigos 143 4,1119 1,00775
3. Ganhar 143 3,3357 1,16246
4. Descarregar energias 143 3,5455 1,13663
5. Viajar 143 3,8322 1,21601
6. Manter a forma 143 4,4056 ,91342
7. Ter emoções fortes 143 4,0070 ,92307
8. Trabalhar em equipa 143 4,2657 ,86359
9. Influência da família ou de outros amigos 143 2,9930 1,25875
10. Aprender novas técnicas 143 4,4825 ,78591
11. Fazer novas amizades 143 4,3497 ,94391
12. Fazer alguma coisa em que se é bom 143 4,3846 ,75920
13. Libertar tensão 143 3,9441 1,03988
14. Receber prémios 143 3,3986 1,33817
15. Fazer exercício 143 4,2028 ,93115
16. Ter alguma coisa para fazer 143 3,7622 1,11303
17. Ter ação 143 4,1678 ,87199
18. Espírito de equipa 143 4,2517 ,97481
19. Pretexto para sair de casa 143 2,7692 1,30919
20. Entrar em competição 143 3,4406 1,27612
21. Ter a sensação de ser importante 143 3,1958 1,36999
22. Pertencer a um grupo 143 4,0210 1,01029
23. Atingir um nível desportivo mais elevado 143 4,2657 ,92653
24. Estar em boa condição física 143 4,5594 ,84439
25. Ser conhecido 143 3,1259 1,34723
26. Ultrapassar desafios 143 4,1469 ,96384
27. Influências dos treinadores 143 3,2098 1,26075
28. Ser reconhecido e ter prestígio 143 3,1818 1,35645
29. Divertimento 143 4,5664 ,75582
30. Prazer na utilização das instalações e material desportivo 143 3,7273 1,12702
Pode-se constatar que os fatores mais importantes do nosso
estudo, são muitas vezes apontados na literatura como principais
motivos dos jovens à prática desportiva. A bibliografia evidencia
vários motivos para a prática desportiva, contudo, alguns surgem
frequentemente referidos como os mais importantes. É o caso da
melhoria das capacidades técnicas, divertimento, vencer e
desenvolver/manter a forma física. No que se refere aos menos
importantes também eles são frequentemente referidos como é o caso
da influência da família ou amigos e ser conhecido (Gill et al., 1983;
Buonamano, Cei, & Mussino, 1995; Veigas et al., 2009).
Em suma, podemos então referir que os motivos internos são
os que mais contribuem para a prática desportiva dos jovens.
Da análise do quadro 4 constata-se que existem diferenças
estatisticamente significativas em 2 dos 8 fatores. Assim os rapazes
dão mais importância que as raparigas aos fatores “forma física” e
“desenvolvimento técnico”.
Quadro 4: Análise comparativa da variável dependente (QMAD) em função do sexo
QMAD Rapazes Raparigas
t p
(n=61) (n=82)
M±DP M±DP
Estatuto 3,36 ± 1,16 3,17 ± 0,94 1,089 ,28
Emoções 3,85 ± 0,87 3,82 ± 0,70 ,268 ,79
Prazer 4,05 ± 0,81 3,99 ± 0,67 ,503 ,61
Competição 3,95 ± 0,77 3,74 ± 0,63 1,769 ,08
Forma Física 4,45 ± 0,60 4,25 ± 0,51 2,173 ,03*
Desenvolvimento Técnico 4,59 ± 0,55 4,35 ± 0,62 2,377 ,02*
Afiliação Geral 4,07 ± 0,84 4,23 ± 0,67 -1,305 ,19
Afiliação Específica 3,64 ± 0,75 3,71 ± 0,63 -,546 ,59 *p<0,05 **<0,01, ***<0,001
Indo ao encontro da bibliografia (Weinberg et al., 2000; Jones
et al., 2006) alguns estudos indicam que a variável competição é mais
importante para os rapazes do que para as raparigas. No nosso estudo
isso também se observa, no entanto, esta não é estatisticamente
significativa. As variáveis “forma física” e “desenvolvimento técnico”
tendem a ter mais importância no sexo masculino do que no sexo
feminino como é referido por Pelletier et al., (1995) e por Recours et
al., (2004) que dizem que as raparigas referiam mais aspetos ligados à
motivação intrínseca e menos em relação à motivação extrínseca, do
que os rapazes, ou seja, as raparigas estariam mais direcionadas para
os motivos sociais do que os rapazes, e estes estavam mais orientados
para motivos extrínsecos como a “competição” e a “forma física”.
No quadro 5 faz-se uma comparação entre os vários grupos,
(ciclos de escolaridade), de acordo com os 8 fatores identificados,
segundo uma análise de variância (ANOVA), complementada com um
teste F de Scheffé, para verificar entre que grupos se observam essas
diferenças.
De acordo com o quadro 5, vemos que há diferenças
estaticamente significativas em 5 dos 8 fatores. Assim os alunos do 2º
ciclo dão maior importância que os alunos do Secundário aos fatores
“estatuto”, “prazer”, “afiliação geral” e “afiliação específica”, bem
como, maior importância do que os de 3º ciclo ao fator
“desenvolvimento técnico”.
Quadro 5: Análise comparativa da variável dependente (QMAD) em função dos ciclos
de escolaridade
QMAD 2º Ciclo 3º Ciclo Secundário
F p Comparação intergrupo
(n=40) (n=52) (n=51)
M±DP M±DP M±DP
Estatuto 3,73 ± 0,93 3,49 ± 0,86 2,62 ± 0,99 18,84 ,000*** 2>Sec.
Emoções 4,00 ± 0,77 3,79 ± 0,75 3,73 ± 0,79 1,36 ,259
Prazer 4,29 ± 0,72 4,18 ± 0,64 3,63 ± 0,67 12,93 ,000*** 2>Sec.
Competição 4,01 ± 0,64 3,90 ± 0,73 3,60 ± 0,67 4,50 ,013
Forma Física 4,48 ± 0,46 4,30 ± 0,56 4,24 ± 0,61 2,30 ,104
Desenvolvimento Técnico
4,73 ± 0,38 4,33 ± 0,70 4,35 ± 0,58 6,40 ,002** 2<3
Afiliação Geral 4,55 ± 0,60 4,18 ± 0,67 3,83 ± 0,80 11,81 ,000*** 2>Sec.
Afiliação Específica 4,01 ± 0,59 3,70 ± 0,72 3,39 ± 0,60 10,54 ,000*** 2>Sec.
*p<0,05 **<0,01, ***<0,001
Relativamente aos resultados desta variável, esta não vai ao
encontro da literatura no que se refere aos fatores mais importantes,
tendo em conta que estes referem que os alunos do secundário
atribuem maior importância à realização/ estatuto relativamente aos
alunos do ensino básico. (Veigas et al., 2009). Aquilo que ocorre é que
os alunos do ensino básico dão mais importância do que os do
secundário aos fatores estatuto, prazer, desenvolvimento técnico,
afiliação geral e específica. Isso poderá dever-se ao facto dos jovens
do 2º ciclo, sendo eles muito novos acharem todos os fatores muito
importantes na prática desportiva. Em contrapartida os alunos do
secundário, com maior maturidade são capazes de filtrar aquilo que
mais os cativa na prática desportiva.
CONCLUSÕES
Os resultados do nosso estudo coincidem com a literatura,
podendo então concluir que os jovens envolvem-se na prática regular
de atividades desportivas devido a motivos intrínsecos. Dentro desses
motivos, nos rapazes, salienta-se: estar em forma física ou
desenvolver a técnica e as suas capacidades. As raparigas são mais
orientadas para aspetos sociais como pertencer a um grupo e as
relações de amizade. Estes comportamentos podem dever-se à nossa
sociedade, à nossa cultura e à forma como esta se encontra
organizada, pois desde cedo os rapazes são incentivados a competir
entre eles e a elevarem as suas capacidades físicas e técnicas. Em
contrapartida, as raparigas são orientadas para a autoimagem, que elas
têm de elas próprias, sendo estimuladas a interagir com amigas e a não
se dedicar a atividades físicas de forma tão evidente.
No que diz respeito aos anos de escolaridade, os resultados do
nosso estudo contrariam a literatura, pois este revelou que os alunos
do ensino básico indicam que todos os fatores são muito importantes,
contrariando os alunos do secundário que possuindo outra maturidade,
conseguem catalogar os motivos mais importantes para a prática
desportiva.
Os motivos que levam as pessoas à prática desportiva na nossa
sociedade têm um cariz de grande importância, pois segundo a
Organização Mundial de Saúde, os benefícios da prática de atividade
física são evidentes e já estão comprovados a nível internacional, pelo
que saber o que cativa ou afasta as pessoas é de uma grande
relevância.
Estando a educação física integrada na nossa comunidade e
sendo o ponto de partida na maior parte dos jovens nas suas atividades
desportivas, esta tem um maior interesse, pois irá contribuir para que
os indivíduos no futuro estejam ou não ligados à atividade física.
Para a prática do desporto é então indispensável investir não só
em infraestruturas apropridas para os jovens, mas sobretudo na
educação e formação dos profissionais ligados a esta área através de
boas práticas educativas, fazendo com que os jovens adiram ao
desporto, como uma prática regular de saúde.
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