Universidade Estadual da Paraíba- UEPB
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência- PIBID
Subprojeto Letras- Língua Portuguesa
Escola de Atuação: E.E.E.F.M. Félix Araújo
Coordenadora de Área: Magliana Rodrigues da Silva
Supervisora: Geovana Nóbrega
Alunos bolsistas: André Ângelo
Fernanda Félix
Roberlânia Alves
Roberta Tiburcio
Renally Arruda
Projeto:
Nas Trilhas da Língua Portuguesa: o texto
em foco
1º Momento
NORDESTE: AQUI ÉO MEU LUGAR
Vou falar do meu lugar
Terra de cabra da peste
Terra de homem valente
Do sertão e do agreste
Terra do mandacaru
Do nosso maracatu
Meu lugar é o Nordeste!
Meu Nordeste tem riquezas
Só encontradas aqui
Sua música, sua dança
Sua gente que sorri
Nosso povo tem bravura
Tem tradição, tem cultura
Da Bahia ao Piauí.
A nossa música é linda
Temos coco e embolada
Aboio e banda de pife
Poesia improvisada
Axé, repente, baião
O forró do Gonzagão
Que faz a maior noitada.
Frevo, xote e xaxado
Violeiro, canturia
O martelo agalopado
O cordel e a poesia
O cantador de viola
Fazendo versos na hora
Pra nos trazer alegria.
Nossa dança é muito rica
E bastante popular
Tem ciranda, afoxé
Para quem quiser dançar
Bumba-meu-boi, capoeira
Essa dança brasileira
Querida em todo lugar.
Tem baião e tem forró
Pra dançar agarradinho
Tem maracatu, congada
Tem o cavalo-marinho
Festa junina animada
Pra toda rapaziada
Namorar um “bucadinho”.
Nossa culinária é rica
Em tradição e sabor
Tem cuscuz, tem macaxeira
Que têm um grande valor
Tem o xinxim de galinha
Rapadura com farinha
Tudo feito com amor.
Do bode tem a buchada
Carne de sol com pirão
O mocotó, a rabada
O bobó de camarão
Bredo no coco, paçoca
Vatapá e tapioca
Venha provar o qu’é bão.
Temos doce bem gostoso
Como o Bolo de Fubá
A cocada, a rapadura
O quindim e o mungunzá
Temos Beijinho de coco
Que deixa qualquer um loco
Venha aqui saborear.
As festas do meu Nordeste
Têm alegria e calor
O carnaval de Olinda,
De Recife e Salvador
Em Natal o “Carnatal”
Em Fortaleza o “Fortal”
Micaretas de valor.
Quando chega o São João
A "disputa" é pra valer
A "Capital do Forró"
Todos querem conhecer
Caruaru tem beleza
Campina Grande destreza
Para o forró não morrer.
Terra de Alceu Valença
E de Jackson do Pandeiro
Terra de Luís Gonzaga
Esse grande brasileiro
A terra de Elba Ramalho
E também de Zé Ramalho
Famosos no mundo inteiro.
A terra de Virgulino
O famoso Lampião
A terra de Vitalino
Rei do barro feito à mão
A terra do “Padim Ciço”
Dos milagres, “dos bendito”
Do poder da oração.
Piauí da Pré-História
Bahia do candomblé
Paraíba das cachaças
Em Sergipe eu boto fé
Pernambuco tem o frevo
Alagoas tem segredo
Vá descobrir o que é.
Maranhão é o estado
Pra dançar bumba-meu-boi
Ceará do “Padim Ciço”
Só conhece quem já foi
No Rio Grande do Norte
A cultura é muito forte
Vá! Não deixe pra depois.
Essa terra é muito boa
Dela ninguém me separa
Tem tudo pra se viver
Uma culinária rara
Uma beleza campestre
Só deixo o meu Nordeste
No último pau-de-arara.
Carlinhos Cordel
2º Momento
A variação linguística é um fenômeno que acontece com a língua e pode ser
compreendida através das variações históricas e regionais. Em um mesmo país, com um único
idioma oficial, a língua pode sofrer diversas alterações feitas por seus falantes. Como não é um
sistema fechado e imutável, a língua portuguesa ganha diferentes nuances. O português que é
falado no Nordeste do Brasil pode ser diferente do português falado no Sul do país. Claro que
um idioma nos une, mas as variações podem ser consideráveis e justificadas de acordo com a
comunidade na qual se manifesta.
As variações acontecem porque o princípio fundamental da língua é a comunicação,
então é compreensível que seus falantes façam rearranjos de acordo com suas necessidades
comunicativas. Os diferentes falares devem ser considerados como variações, e não como erros.
Quando tratamos as variações como erro, incorremos no preconceito linguístico que associa,
erroneamente, a língua aostatus.
Principais tipos de variação:
Variação Histórica ou de tempo - Aquela que sofre transformações ao longo do tempo. Como
por exemplo, a palavra “Você”, que antes era vosmecê e que agora, diante da linguagem
reduzida no meio eletrônico, é apenas VC. O mesmo acontece com as palavras escritas com
PH, como era o caso de pharmácia, agora, farmácia.
Variação Regional (os chamados dialetos) - São as variações ocorridas de acordo com a cultura
de uma determinada região, tomamos como exemplo a palavra mandioca, que em certas regiões
é tratada por macaxeira; e abóbora, que é conhecida como jerimum.
Destaca-se também o caso do dialeto caipira, o qual pertence àquelas pessoas que não tiveram
a oportunidade de ter uma educação formal, e em função disso, não conhecem a linguagem
“culta”.
Variação Social - É aquela pertencente a um grupo específico de pessoas. Neste caso, podemos
destacar as gírias, as quais pertencem a grupos de surfistas, tatuadores, entre outros; a
linguagem coloquial, usada no dia a dia das pessoas; e a linguagem formal, que é aquela
utilizada pelas pessoas de maior prestígio social.
Fazendo parte deste grupo estão os jargões, que pertencem a uma classe profissional mais
específica, como é o caso dos médicos, profissionais da informática, dentre outros.
Variedade formal e informal - O padrão formal está diretamente ligado à linguagem escrita,
restringindo-se às normas gramaticais de um modo geral. Razão pela qual nunca escrevemos
da mesma maneira que falamos. Este fator foi determinante para a que a mesma pudesse exercer
total soberania sobre as demais.
Quanto ao nível informal, este por sua vez representa o estilo considerado “de menor
prestígio”, e isto tem gerado controvérsias entre os estudos da língua, uma vez que para a
sociedade, aquela pessoa que fala ou escreve de maneira errônea é considerada “inculta”,
tornando-se desta forma um estigma.
Disponível em: http://www.brasilescola.com/gramatica/variacoes-linguisticas.htm
VARIEDADE DE TEMPO
Festa de arromba
Vejam só que Festa de Arromba!
(Bapára!)
No outro dia, eu fui parar...
(Bapára!)
Presentes no local,
o rádio e a televisão;
(Bapára!)
Cinema, mil jornais,
muita gente, confusão...
Quase não consigo
Na entrada chegar,
pois a multidão
estava de amargar!
Hey! Hey! (Hey! Hey!)
Que onda!
Que festa de arromba!...
Logo que eu cheguei, (Bapára!)
notei Ronnie Cord
com um copo na mão.
(Bapára!)
Enquanto Prini Lorez
bancava o anfitrião,
(Bapára!)
apresentando a todo mundo
Meire Pavão...
Wanderléa ria
e Cleide desistia
de agarrar um doce
que do prato não saia!
Hey! Hey! (Hey! Hey!)
Que onda!
Que festa de arromba!...
Renato e seus Blue Caps
tocavam na piscina;
The Clevers no terraço;
Jet Black's no salão;
Os Bells de cabeleira
não podiam tocar,
enquanto a Rosemary
não parasse de dançar...
Mas!
Vejam quem chegou de repente:
(Bapára!)
Roberto Carlos em seu novo carrão!
(Bapára!)
Enquanto Tony e Demétrius
fumavam no jardim,
(Bapára!)
Sérgio e Zé Ricardo
esbarravam em mim...
Lá fora um corre corre
dos brotos do lugar:
Era o Ed Wilson
que acabava de chegar!
Hey! Hey! (Hey! Hey!)
Que onda!
Que festa de arromba!...
(Bapára!) (Bapára!) (Bapára!)
Hey! Hey! (Hey! Hey!)
Renato e seus Blus Caps
tocavam na piscina;
The Clevers no terraço;
Jet Black's no salão;
Os Bells de cabeleira
não podiam tocar,
enquanto a Rosemary
não parasse de dançar...
Mas!
Vejam quem chegou de repente:
(Bapára!)
Roberto Carlos em seu novo carrão!
(Bapára!)
Enquanto Tony e Demétrius
fumavam no jardim,
(Bapára!)
Sérgio e Zé Ricardo
esbarravam em mim...
Lá fora um corre corre
dos brotos do lugar:
Era o Ed Wilson
que acabava de chegar
Hey! Hey! (Hey! Hey!)
Que onda!
Que festa de arromba!...(7x)
Festa boa
A festa é boa é hoje e nóis vamos pipocar
Tem o Gusttavo lima e o bicho vai pegar
Eu já liguei pras gata as mais linda sem
noção
Camarote lotado só tocando os pancadão
Eu desço champanhe as mina pira e paga
pau
Desço um pouco de uísque pra elas liberar
geral
O povo ficando louco, todo desorientado
E sua mulher não pode saber que você está
aqui do lado
Que do meu lado você beija sem noção
Que do meu lado você bebe Tequila pura
com limão
Que do meu lado dança arrocha sem parar
Que quando vai embora leva duas pra pra
pra pra (2x)
A festa é boa hoje e o bicho vai pegar
Tem Henrique e Diego e o pau vai quebrar
Eu já liguei pras gata as mais linda sem
noção
Camarote lotado só tocando os pancadão
Eu desço champanhe as mina pira e paga
pau
Desço um pouco de uísque pra elas liberar
geral
O povo ficando louco, todo desorientado
E sua mulher não pode saber que você está
aqui do lado
Que do meu lado você beija sem noção
Que do meu lado você bebe Tequila pura
com limão
Que do meu lado dança arrocha sem parar
Que quando vai embora leva duas pra pra
pra pra (2x)
3º Momento
Tipos de Assaltantes
Assaltante Cearense:
Ei, bixim...
Isso é um assalto...
Arriba os braços e num se bula nem faça munganga...
Passa vexado o dinheiro senão eu planto a peixeira no teu bucho e boto teu fato pra fora...
Perdão meu Padim Ciço, mas é que eu tô com uma fome da moléstia...
Assaltante Mineiro:
Ô sô, prestenção...
Isso é um assartin, uai...
Levanto os braço e fica quetin que esse trem na minha mão tá cheio de bala...
Mió passá logo os trocados que eu num tô bão hoje...
Vai andando, uai, tá esperando o que, uai.
Assaltante Gaúcho:
O gurí, ficas atento... Báh, isso é um assalto... Levantas os braços e te aquieta, tchê!
Não tente nada e tome cuidado que esse facão corta que é uma barbaridade...tchê!
Passa os pilas prá cá! E te manda a la cria, senão o quarenta e quatro fala!
Assaltante Carioca:
Seguiiiinnte, bicho...
Tu ta lascado, isso é um assalto...
Passa a grana e levanta os braços rapa... Não fica de bobeira que eu atiro bem pra cacete...
Vai andando e se olhar pra trás vira presunto...
Assaltante Baiano:
Ô meu rei...(longa pausa)... isso é um assalto...
Levanta os braços, mas não se avexe não...
Se num quiser nem precisa levantar, pra num ficar cansado...
Vai passando a grana, bem devagarinho...
Num repara se o berro está sem bala, mas é pra não ficar muito pesado...
Não esquenta, meu irmãozinho, vou deixar teus documentos na próxima encruzilhada...
Assaltante Paulista:
Ôrra, meu... Isso é um assalto, cara...
Alevanta os braços, meu...
Passa a grana logo, ô meu...
Mais rápido,ô meu, que eu ainda preciso pegar a bilheteria aberta pa comprar o ingresso do jogo
do Curintia, meu...
Pô, se manda, meu...
Assaltante Candango (Brasília):
Caro povo brasileiro, no final do mês, aumentaremos as seguintes tarifas energia, água, esgoto,
gás, passagem de ônibus, iptu, ipva, licenciamento de veículos, seguro obrigatório, gasolina,
álcool, imposto de renda, IPI, ICMS,PIS, COFINS...
Poema de Ciço para Luzia
"Pruela, caço o arriscoso.
Pruela, nem calo nem friera.
Pruela, desafio essa terra qui num fulora mais
essa disolação, essa areia fininha e quente.
Inriba daquela serra, prantei uma taperinha
Pra quem nada pissui,
Deus mandô Padim Ciço dá sabença
Deus mandô meu Padim me dá Luzia
Ah Luzia! Cuma a santa, afasta eu da ceguêra
Dessa vida firina
Quem num tem lui nos zói
Vive a trumenta dos golado preso nas gaiola da cidade grande.
Inda hoje, boca da noite
Me dano no mei da rodage
Aproveito a mansidão do céu
Conto uma duza de istrela
dô tudin pra ela
e inda agaranto
cá permissão de meu Padim
qui num tem uma qui brie cuma os zóio dela"
Referência: MOURA,José Efigênio Eloi. Ciço de Luzia.21.ed.Campina Grande: Latus, 2010.
CIÇO E LUZIA
Compositor(es): XICO BIZERRA e
CARLOS VILLELA
NARRADOR:
Ciço amava Luzia
E Luzia amava Ciço
Era grande o rebuliço
Por causa desse namoro
Muito riso, nenhum choro
Fartura de alegria
E o Ciço só queria
Os Carinhos Da Morena
No final valeu a pena
Esse amor de noite e dia
Luzia amava Ciço
Ciço amava luzia
Toda noite, todo dia
Tinha beijos e carinho
Para os dois um só caminho
Sem saberem o que é dor
Tinha um cheirinho de flor
Se os dois se encontrassem
Faziam a mesma viagem
Com destino ao amor
CIÇO CANTANDO:
Eu sou Ciço do sertão
Fí de Santana e Rumão
Sou vaqueiro em zabelê
Me endoidici por Luzia
Ai meu Deus, Vige Maria
Sem ela num sei vivê
Ela tem um feitiço no zoiá
Ela tem o mais branco dos sorriso
Ela tem um jeitinho de gostá
Ela tem a chave do paraíso
LUZIA CANTANDO:
eu sou Luzia, sou luz
Vige Maria, ai jesus
Ciço vei me endoidecê
penso nele toda hora
choro s’ele vai-simbora
ele é meu bem-querê
Ele tem as cantigas de elomar
Ele tem as rimas de maciel
Ele tem um benvindo ‘chego já’
Ele tem um pedacinho do céu
CIÇO DECLAMANDO:
Hoje a noite bem cedinho
Hora das zave maria
Robo u’a duza de estrela
Dô de presente a luzia
E dessa ruma de estrela
Do meu presente pra ela
Num vai ter u’a que brie
Que nem bria os zóio dela
LUZIA DECLAMANDO:
Das estrela do presente
Vou guardá a mais formosa
Pr’alumiá minha vida
Me deixá mais amorosa
Pra que tu fique sabendo
Sem precisar preguntá
Qu’esses meus zóio só bria
Quando espia o teu oiá
CIÇO CANTANDO:
Eu sou Ciço do sertão ...
LUZIA CANTANDO:
Eu sou Luzia ...
...
Quem Gravou:
BIA MARINHO e XANGAI, no
FORROBOXOTE 9
4º Momento
Morte e vida Severina
(Auto de Natal Pernambucano)
João Cabral de Melo Neto
O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI
— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.
ENCONTRA DOIS HOMENS
CARREGANDO UM DEFUNTO
NUMA REDE, AOS GRITOS DE "Ó
IRMÃOS DAS ALMAS! IRMÃOS
DAS ALMAS! NÃO FUI EU QUE
MATEI NÃO!"
— A quem estais carregando,
irmãos das almas,
embrulhado nessa rede?
dizei que eu saiba.
— A um defunto de nada,
irmão das almas,
que há muitas horas viaja
à sua morada.
— E sabeis quem era ele,
irmãos das almas,
sabeis como ele se chama
ou se chamava?
— Severino Lavrador,
irmão das almas,
Severino Lavrador,
mas já não lavra.
— E de onde que o estais trazendo,
irmãos das almas,
onde foi que começou
vossa jornada?
— Onde a Caatinga é mais seca,
irmão das almas,
onde uma terra que não dá
nem planta brava.
— E foi morrida essa morte,
irmãos das almas,
essa foi morte morrida
ou foi matada?
— Até que não foi morrida,
irmão das almas,
esta foi morte matada,
numa emboscada.
— E o que guardava a emboscada,
irmão das almas,
e com que foi que o mataram,
com faca ou bala?
— Este foi morto de bala,
irmão das almas,
mais garantido é de bala,
mais longe vara.
— E quem foi que o emboscou,
irmãos das almas,
quem contra ele soltou
essa ave-bala?
— Ali é difícil dizer,
irmão das almas,
sempre há uma bala voando
desocupada.
— E o que havia ele feito,
irmãos das almas,
e o que havia ele feito
contra a tal pássara?
— Ter um hectares de terra,
irmão das almas,
de pedra e areia lavada
que cultivava.
— Mas que roças que ele tinha,
irmãos das almas,
que podia ele plantar
na pedra avara?
— Nos magros lábios de areia,
irmão das almas,
os intervalos das pedras,
plantava palha.
— E era grande sua lavoura,
irmãos das almas,
lavoura de muitas covas,
tão cobiçada?
— Tinha somente dez quadros,
irmão das almas,
todas nos ombros da serra,
nenhuma várzea.
— Mas então por que o mataram,
irmãos das almas,
mas então por que o mataram
com espingarda?
— Queria mais espalhar-se,
irmão das almas,
queria voar mais livre
essa ave-bala.
— E agora o que passará,
irmãos das almas,
o que é que acontecerá
contra a espingarda?
— Mais campo tem para soltar,
irmão das almas,
tem mais onde fazer voar
as filhas-bala.
— E onde o levais a enterrar,
irmãos das almas,
com a semente de chumbo
que tem guardada?
— Ao cemitério de Torres,
irmão das almas,
que hoje se diz Toritama,
de madrugada.
— E poderei ajudar,
irmãos das almas?
vou passar por Toritama,
é minha estrada.
— Bem que poderá ajudar,
irmão das almas,
é irmão das almas quem ouve
nossa chamada.
— E um de nós pode voltar,
irmão das almas,
pode voltar daqui mesmo
para sua casa.
— Vou eu, que a viagem é longa,
irmãos das almas,
é muito longa a viagem
e a serra é alta.
— Mais sorte tem o defunto,
irmãos das almas,
pois já não fará na volta
a caminhada.
— Toritama não cai longe,
irmão das almas,
seremos no campo santo
de madrugada.
— Partamos enquanto é noite,
irmão das almas,
que é o melhor lençol dos mortos
noite fechada.
O RETIRANTE TEM MEDO
DE SE EXTRAVIAR PORQUE SEU GUIA,
O RIO CAPIBARIBE, CORTOU
COM O VERÃO
— Antes de sair de casa
aprendi a ladainha
das vilas que vou passar
na minha longa descida.
Sei que há muitas vilas grandes,
cidades que elas são ditas;
sei que há simples arruados,
sei que há vilas pequeninas,
todas formando um rosário
cujas contas fossem vilas,
todas formando um rosário
de que a estrada fosse a linha.
Devo rezar tal rosário
até o mar onde termina,
saltando de conta em conta,
Passando de vila em vila.
Vejo agora: não é fácil
seguir essa ladainha;
entre uma conta e outra conta,
entre uma a outra ave-maria,
há certas paragens brancas,
de planta e bicho vazias,
vazias até de donos,
e onde o pé se descaminha.
Não desejo emaranhar
o fio de minha linha
nem que se enrede no pêlo
hirsuto desta caatinga.
Pensei que seguindo o rio
eu jamais me perderia:
ele é o caminho mais certo,
de todos o melhor guia.
Mas como segui-lo agora
que interrompeu a descida?
Vejo que o Capibaribe,
como os rios lá de cima,
é tão pobre que nem sempre
pode cumprir sua sina
e no verão também corta,
com pernas que não caminham.
Tenho de saber agora
qual a verdadeira via
entre essas que escancaradas
frente a mim se multiplicam.
Mas não vejo almas aqui,
nem almas mortas nem vivas;
ouço somente à distância
o que parece cantoria.
Será novena de santo,
será algum mês-de-Maria;
quem sabe até se uma festa
ou uma dança não seria?
NA CASA A QUE O
RETIRANTE CHEGA
ESTÃO CANTANDO
EXCELÊNCIAS PARA
UM DEFUNTO, ENQUANTO
UM HOMEM, DO LADO
DE FORA,VAI PARODIANDO
AS PALAVRAS DOS
CANTADORES
— Finado Severino, quando passares em Jordão e o demônios te atalharem perguntando o
que é que levas...
— Dize que levas cera, capuz e cordão mais a Virgem da Conceição.
— Finado Severino, etc. ...
— Dize que levas somente coisas de não: fome, sede, privação.
— Finado Severino, etc. ...
— Dize que coisas de não, ocas, leves: como o caixão, que ainda deves.
— Uma excelência dizendo que a hora é hora.
— Ajunta os carregadores que o corpo quer ir embora.
— Duas excelências...
— ... dizendo é a hora da plantação.
— Ajunta os carregadores...
— ... que a terra vai colher a mão.
CANSADO DA VIAGEM O RETIRANTE PENSA INTERROMPÊ-LA POR UNS
INSTANTES E PROCURAR TRABALHO ALI ONDE SE ENCONTRA.
— Desde que estou retirando
só a morte vejo ativa,
só a morte deparei
e às vezes até festiva;
só a morte tem encontrado
quem pensava encontrar vida,
e o pouco que não foi morte
foi de vida severina
(aquela vida que é menos
vivida que defendida,
e é ainda mais severina
para o homem que retira).
Penso agora: mas porque
parar aqui eu não podia
e como o Capibaribe
interromper minha linha?
ao menos até que as águas
de uma próxima invernia
me levem direto ao mar
ao refazer sua rotina?
Na verdade, por uns tempos,
parar aqui eu bem podia
e retomar a viagem
quando vencesse a fadiga.
Ou será que aqui cortando
agora minha descida
já não poderei seguir
nunca mais em minha vida?
(será que a água destes poços
é toda aqui consumida
pelas roças, pelos bichos,
pelo sol com suas línguas?
será que quando chegar
o rio da nova invernia
um resto de água no antigo
sobrará nos poços ainda?)
Mas isso depois verei:
tempo há para que decida;
primeiro é preciso achar
um trabalho de que viva.
Vejo uma mulher na janela,
ali, que se não é rica,
parece remediada
ou dona de sua vida:
vou saber se de trabalho
poderá me dar notícia.
DIRIGE-SE À MULHER NA
JANELA QUE DEPOIS DESCOBRE
TRATAR-SE DE QUEM SE SABERÁ
— Muito bom dia, senhora,
que nessa janela está;
sabe dizer se é possível
algum trabalho encontrar?
— Trabalho aqui nunca falta
a quem sabe trabalhar;
o que fazia o compadre
na sua terra de lá?
— Pois fui sempre lavrador,
lavrador de terra má;
não há espécie de terra
que eu não possa cultivar.
— Isso aqui de nada adianta,
pouco existe o que lavrar;
mas diga-me, retirante,
que mais fazia por lá?
— Também lá na minha terra
de terra mesmo pouco há;
mas até a calva da pedra
sinto-me capaz de arar.
— Também de pouco adianta,
nem pedra há aqui que amassar;
diga-me ainda, compadre,
que mais fazia por lá?
— Conheço todas as roças
que nesta chã podem dar:
o algodão, a mamona,
a pita, o milho, o caroá.
— Esses roçados o banco
já não quer financiar;
mas diga-me, retirante,
o que mais fazia lá?
— Melhor do que eu ninguém
sei combater, quiçá,
tanta planta de rapina
que tenho visto por cá.
— Essas plantas de rapina
são tudo o que a terra dá;
diga-me ainda, compadre;
que mais fazia por lá?
— Tirei mandioca de chãs
que o vento vive a esfolar
e de outras escalavradas
pela seca faca solar.
— Isto aqui não é Vitória
nem é Glória do Goitá;
e além da terra, me diga,
que mais sabe trabalhar?
— Sei também tratar de gado,
entre urtigas pastorear:
gado de comer do chão
ou de comer ramas no ar.
— Aqui não é Surubim
nem Limoeiro, oxalá!
mas diga-me, retirante,
que mais fazia por lá?
— Em qualquer das cinco tachas
de um banguê sei cozinhar;
sei cuidar de uma moenda,
de uma casa de purgar.
— Com a vinda das usinas
há poucos engenhos já;
nada mais o retirante
aprendeu a fazer lá?
— Ali ninguém aprendeu
outro ofício, ou aprenderá:
mas o sol, de sol a sol,
bem se aprende a suportar.
— Mas isso então será tudo
em que sabe trabalhar?
vamos, diga, retirante,
outras coisas saberá.
— Deseja mesmo saber
o que eu fazia por lá?
comer quando havia o quê
e, havendo ou não, trabalhar.
— Essa vida por aqui
é coisa familiar;
mas diga-me retirante,
sabe benditos rezar?
sabe cantar excelências,
defuntos encomendar?
sabe tirar ladainhas,
sabe mortos enterrar?
— Já velei muitos defuntos,
na serra é coisa vulgar;
mas nunca aprendi as rezas,
sei somente acompanhar.
— Pois se o compadre soubesse
rezar ou mesmo cantar,
trabalhávamos a meias,
que a freguesia bem dá.
— Agora se me permite
minha vez de perguntar:
como senhora, comadre,
pode manter o seu lar?
— Vou explicar rapidamente,
logo compreenderá:
como aqui a morte é tanta,
vivo de a morte ajudar.
— E ainda se me permite
que volte a perguntar:
é aqui uma profissão
trabalho tão singular?
— É, sim, uma profissão,
e a melhor de quantas há:
sou de toda a região
rezadora titular.
— E ainda se me permite
mais outra vez indagar:
é boa essa profissão
em que a comadre ora está?
— De um raio de muitas léguas
vem gente aqui me chamar;
a verdade é que não pude
queixar-me ainda de azar.
— E se pela última vez
me permite perguntar:
não existe outro trabalho
para mim nesse lugar?
— Como aqui a morte é tanta,
só é possível trabalhar
nessas profissões que fazem
da morte ofício ou bazar.
Imagine que outra gente
de profissão similar,
farmacêuticos, coveiros,
doutor de anel no anular,
remando contra a corrente
da gente que baixa ao mar,
retirantes às avessas,
sobem do mar para cá.
Só os roçados da morte
compensam aqui cultivar,
e cultivá-los é fácil:
simples questão de plantar;
não se precisa de limpa,
de adubar nem de regar;
as estiagens e as pragas
fazem-nos mais prosperar;
e dão lucro imediato;
nem é preciso esperar
pela colheita: recebe-se
na hora mesma de semear.
O RETIRANTE CHEGA À
ZONA DA MATA, QUE O
FAZ PENSAR, OUTRA VEZ,
EM INTERROMPER A VIAGEM
— Bem me diziam que a terra
se faz mais branda e macia
quando mais do litoral
a viagem se aproxima.
Agora afinal cheguei
nesta terra que diziam.
Como ela é uma terra doce
para os pés e para a vista.
Os rios que correm aqui
têm a água vitalícia.
Cacimbas por todo lado;
cavando o chão, água mina.
Vejo agora que é verdade
o que pensei ser mentira.
Quem sabe se nesta terra
não plantarei minha sina?
Não tenho medo de terra
(cavei pedra toda a vida),
e para quem lutou a braço
contra a piçarra da Caatinga
será fácil amansar
esta aqui, tão feminina.
Mas não avisto ninguém,
só folhas de cana fina;
somente ali à distância
aquele bueiro de usina;
somente naquela várzea
um banguê velho em ruína.
Por onde andará a gente
que tantas canas cultiva?
Feriando: que nesta terra
tão fácil, tão doce e rica,
não é preciso trabalhar
todas as horas do dia,
os dias todos do mês,
os meses todos da vida.
Decerto a gente daqui
jamais envelhece aos trinta
nem sabe da morte em vida,
vida em morte, severina;
e aquele cemitério ali,
branco na verde colina,
decerto pouco funciona
e poucas covas aninha.
ASSISTE AO ENTERRO DE UM
TRABALHADOR DE EITO E OUVE O
QUE DIZEM DO MORTO OS AMIGOS
QUE O LEVARAM AO CEMITÉRIO
— Essa cova em que estás,
com palmos medida,
é a cota menor
que tiraste em vida.
— É de bom tamanho,
nem largo nem fundo,
é a parte que te cabe
deste latifúndio.
— Não é cova grande,
é cova medida,
é a terra que querias
ver dividida.
— É uma cova grande
para teu pouco defunto,
mas estarás mais ancho
que estavas no mundo.
— É uma cova grande
para teu defunto parco,
porém mais que no mundo
te sentirás largo.
— É uma cova grande
para tua carne pouca,
mas a terra dada
não se abre a boca.
— Viverás, e para sempre,
na terra que aqui aforas:
e terás enfim tua roça.
— Aí ficarás para sempre,
livre do sol e da chuva,
criando tuas saúvas.
— Agora trabalharás
só para ti, não a meias,
como antes em terra alheia.
— Trabalharás uma terra
da qual, além de senhor,
serás homem de eito e trator.
— Trabalhando nessa terra,
tu sozinho tudo empreitas:
serás semente, adubo, colheita.
— Trabalharás numa terra
que também te abriga e te veste:
embora com o brim do Nordeste.
— Será de terra tua derradeira camisa:
te veste, como nunca em vida.
— Será de terra e tua melhor camisa:
te veste e ninguém cobiça.
— Terás de terra
completo agora o teu fato:
e pela primeira vez, sapato.
— Como és homem,
a terra te dará chapéu:
fosses mulher, xale ou véu.
— Tua roupa melhor
será de terra e não de fazenda:
não se rasga nem se remenda.
— Tua roupa melhor
e te ficará bem cingida:
como roupa feita à medida.
— Esse chão te é bem conhecido
(bebeu teu suor vendido).
— Esse chão te é bem conhecido
(bebeu o moço antigo).
— Esse chão te é bem conhecido
(bebeu tua força de marido).
— Desse chão és bem conhecido
(através de parentes e amigos).
— Desse chão és bem conhecido
(vive com tua mulher, teus filhos).
— Desse chão és bem conhecido
(te espera de recém-nascido).
— Não tens mais força contigo:
deixa-te semear ao comprido.
— Já não levas semente viva:
teu corpo é a própria maniva.
— Não levas rebolo de cana:
és o rebolo, e não de caiana.
— Não levas semente na mão:
és agora o próprio grão.
— Já não tens força na perna:
deixa-te semear na coveta.
— Já não tens força na mão:
deixa-te semear no leirão.
— Dentro da rede não vinha nada,
só tua espiga debulhada.
— Dentro da rede vinha tudo,
só tua espiga no sabugo.
— Dentro da rede coisa vasqueira,
só a maçaroca banguela.
— Dentro da rede coisa pouca,
tua vida que deu sem soca.
— Na mão direita um rosário,
milho negro e ressecado.
— Na mão direita somente
o rosário, seca semente.
— Na mão direita, de cinza,
o rosário, semente maninha.
— Na mão direita o rosário,
semente inerte e sem salto.
— Despido vieste no caixão,
despido também se enterra o grão.
— De tanto te despiu a privação
que escapou de teu peito a viração.
— Tanta coisa despiste em vida
que fugiu de teu peito a brisa.
— E agora, se abre o chão e te abriga,
lençol que não tiveste em vida.
— Se abre o chão e te fecha,
dando-te agora cama e coberta.
— Se abre o chão e te envolve,
como mulher com quem se dorme.
O RETIRANTE RESOLVE
APRESSAR
OS PASSOS PARA
CHEGAR LOGO AO RECIFE
— Nunca esperei muita coisa,
digo a Vossas Senhorias.
O que me fez retirar
não foi a grande cobiça;
o que apenas busquei
foi defender minha vida
de tal velhice que chega
antes de se inteirar trinta;
se na serra vivi vinte,
se alcancei lá tal medida,
o que pensei, retirando,
foi estendê-la um pouco ainda.
Mas não senti diferença
entre o Agreste e a Caatinga,
e entre a Caatinga e aqui a Mata
a diferença é a mais mínima.
Está apenas em que a terra
é por aqui mais macia;
está apenas no pavio,
ou melhor, na lamparina:
pois é igual o querosene
que em toda parte ilumina,
e quer nesta terra gorda
quer na serra, de caliça,
a vida arde sempre, com
a mesma chama mortiça.
Agora é que compreendo
porque em paragens tão ricas
o rio não corta em poços
como ele faz na Caatinga:
vivi a fugir dos remansos
a que a paisagem o convida,
com medo de se deter
grande que seja a fadiga.
Sim, o melhor é apressar
o fim desta ladainha,
o fim do rosário de nomes
que a linha do rio enfia;
é chegar logo ao Recife,
derradeira ave-maria
do rosário, derradeira
invocação da ladainha,
Recife, onde o rio some
e esta minha viagem se fina.
CHEGANDO AO RECIFE,
O RETIRANTE SENTA-SE
PARA DESCANSAR AO PÉ DE
UM MURO ALTO E CAIADO E
OUVE, SEM SER NOTADO,
A CONVERSA DE DOIS COVEIROS
— O dia de hoje está difícil;
não sei onde vamos parar.
Deviam dar um aumento,
ao menos aos deste setor de cá.
As avenidas do centro são melhores,
mas são para os protegidos:
há sempre menos trabalho
e gorjetas pelo serviço;
e é mais numeroso o pessoal
(toma mais tempo enterrar os ricos).
— Pois eu me daria por contente
se me mandassem para cá.
Se trabalhasses no de Casa Amarela
não estarias a reclamar.
De trabalhar no de Santo Amaro
deve alegrar-se o colega
porque parece que a gente
que se enterra no de Casa Amarela
está decidida a mudar-se
toda para debaixo da terra.
— É que o colega ainda não viu
o movimento: não é o que se vê.
Fique-se por aí um momento
e não tardarão a aparecer
os defuntos que ainda hoje
vão chegar (ou partir, não sei).
As avenidas do centro,
onde se enterram os ricos,
são como o porto do mar:
não é muito ali o serviço:
no máximo um transatlântico
chega ali cada dia,
com muita pompa, protocolo,
e ainda mais cenografia.
Mas este setor de cá
é como a estação dos trens:
diversas vezes por dia
chega o comboio de alguém.
— Mas se teu setor é comparado
à estação central dos trens,
o que dizer de Casa Amarela
onde não pára o vaivém?
Pode ser uma estação
mas não estação de trem:
será parada de ônibus,
com filas de mais de cem.
— Então por que não pedes,
já que és de carreira, e antigo,
que te mandem para Santo Amaro
se achas mais leve o serviço?
Não creio que te mandassem
para as belas avenidas
onde estão os endereços
e o bairro da gente fina:
isto é, para o bairro dos usineiros,
dos políticos, dos banqueiros,
e no tempo antigo, dos banguezeiros
(hoje estes se enterram em carneiros);
bairro também dos industriais,
dos membros das associações patronais
e dos que foram mais horizontais
nas profissões liberais.
Difícil é que consigas
aquele bairro, logo de saída.
— Só pedi que me mandassem
para as urbanizações discretas,
com seus quarteirões apertados,
com suas cômodas de pedra.
— Esse é o bairro dos funcionários,
inclusive extranumerários,
contratados e mensalistas
(menos os tarefeiros e diaristas).
Para lá vão os jornalistas,
os escritores, os artistas;
ali vão também os bancários,
as altas patentes dos comerciários,
os lojistas, os boticários,
os localizados aeroviários
e os de profissões liberais
que não se liberaram jamais.
— Também um bairro dessa gente
temos no de Casa Amarela:
cada um em seu escaninho,
cada um em sua gaveta,
com o nome aberto na lousa
quase sempre em letras pretas.
Raras as letras douradas,
raras também as gorjetas.
— Gorjetas aqui, também,
só dá mesmo a gente rica,
em cujo bairro não se pode
trabalhar em mangas de camisa;
onde se exige quépi
e farda engomada e limpa.
— Mas não foi pelas gorjetas,
não, que vim pedir remoção:
é porque tem menos trabalho
que quero vir para Santo Amaro;
aqui ao menos há mais gente
para atender a freguesia,
para botar a caixa cheia
dentro da caixa vazia.
— E que disse o Administrador,
se é que te deu ouvido?
— Que quando apareça a ocasião
atenderá meu pedido.
— E do senhor Administrador
isso foi tudo que arrancaste?
— No de Casa Amarela me deixou
mas me mudou de arrabalde.
— E onde vais trabalhar agora,
qual o subúrbio que te cabe?
— Passo para o dos industriários,
que é também o dos ferroviários,
de todos os rodoviários
e praças-de-pré dos comerciários.
— Passas para o dos operários,
deixas o dos pobres vários;
melhor: não são tão contagiosos
e são muito menos numerosos.
— É, deixo o subúrbio dos indigentes
onde se enterra toda essa gente
que o rio afoga na preamar
e sufoca na baixa-mar.
— É a gente sem instituto,
gente de braços devolutos;
são os que jamais usam luto
e se enterram sem salvo-conduto.
— É a gente dos enterros gratuitos
e dos defuntos ininterruptos.
— É a gente retirante
que vem do Sertão de longe.
— Desenrolam todo o barbante
e chegam aqui na jante.
— E que então, ao chegar,
não têm mais o que esperar.
— Não podem continuar
pois têm pela frente o mar.
— Não têm onde trabalhar
e muito menos onde morar.
— E da maneira em que está
não vão ter onde se enterrar.
— Eu também, antigamente,
fui do subúrbio dos indigentes,
e uma coisa notei
que jamais entenderei:
essa gente do Sertão
que desce para o litoral, sem razão,
fica vivendo no meio da lama,
comendo os siris que apanha;
pois bem: quando sua morte chega,
temos que enterrá-los em terra seca.
— Na verdade, seria mais rápido
e também muito mais barato
que os sacudissem de qualquer ponte
dentro do rio e da morte.
— O rio daria a mortalha
e até um macio caixão de água;
e também o acompanhamento
que levaria com passo lento
o defunto ao enterro final
a ser feito no mar de sal.
— E não precisava dinheiro,
e não precisava coveiro,
e não precisava oração
e não precisava inscrição.
— Mas o que se vê não é isso:
é sempre nosso serviço
crescendo mais cada dia;
morre gente que nem vivia.
— E esse povo lá de riba
de Pernambuco, da Paraíba,
que vem buscar no Recife
poder morrer de velhice,
encontra só, aqui chegando
cemitérios esperando.
— Não é viagem o que fazem,
vindo por essas caatingas, vargens;
aí está o seu erro:
vêm é seguindo seu próprio enterro.
O RETIRANTE APROXIMA-SE
DE UM DOS CAIS DO CAPIBARIBE
— Nunca esperei muita coisa,
é preciso que eu repita.
Sabia que no rosário
de cidade e de vilas,
e mesmo aqui no Recife
ao acabar minha descida,
não seria diferente
a vida de cada dia:
que sempre pás e enxadas
foices de corte e capina,
ferros de cova, estrovengas
o meu braço esperariam.
Mas que se este não mudasse
seu uso de toda vida,
esperei, devo dizer,
que ao menos aumentaria
na quartinha, a água pouca,
dentro da cuia, a farinha,
o algodãozinho da camisa,
ao meu aluguel com a vida.
E chegando, aprendo que,
nessa viagem que eu fazia,
sem saber desde o Sertão,
meu próprio enterro eu seguia.
Só que devo ter chegado
adiantado de uns dias;
o enterro espera na porta:
o morto ainda está com vida.
A solução é apressar
a morte a que se decida
e pedir a este rio,
que vem também lá de cima,
que me faça aquele enterro
que o coveiro descrevia:
caixão macio de lama,
mortalha macia e líquida,
coroas de baronesa
junto com flores de aninga,
e aquele acompanhamento
de água que sempre desfila
(que o rio, aqui no Recife,
não seca, vai toda a vida).
APROXIMA-SE DO RETIRANTE
O MORADOR DE UM DOS
MOCAMBOS QUE EXISTEM
ENTRE O CAIS E A ÁGUA DO RIO
— Seu José, mestre carpina,
que habita este lamaçal,
sabes me dizer se o rio
a esta altura dá vau?
sabe me dizer se é funda
esta água grossa e carnal?
— Severino, retirante,
jamais o cruzei a nado;
quando a maré está cheia
vejo passar muitos barcos,
barcaças, alvarengas,
muitas de grande calado.
— Seu José, mestre carpina,
para cobrir corpo de homem
não é preciso muito água:
basta que chega ao abdome,
basta que tenha fundura
igual à de sua fome.
— Severino, retirante,
pois não sei o que lhe conte;
sempre que cruzo este rio
costumo tomar a ponte;
quanto ao vazio do estômago,
se cruza quando se come.
— Seu José, mestre carpina,
e quando ponte não há?
quando os vazios da fome
não se tem com que cruzar?
quando esses rios sem água
são grandes braços de mar?
— Severino, retirante,
o meu amigo é bem moço;
sei que a miséria é mar largo,
não é como qualquer poço:
mas sei que para cruzá-la
vale bem qualquer esforço.
— Seu José, mestre carpina,
e quando é fundo o perau?
quando a força que morreu
nem tem onde se enterrar,
por que ao puxão das águas
não é melhor se entregar?
— Severino, retirante,
o mar de nossa conversa
precisa ser combatido,
sempre, de qualquer maneira,
porque senão ele alaga
e devasta a terra inteira.
— Seu José, mestre carpina,
e em que nos faz diferença
que como frieira se alastre,
ou como rio na cheia,
se acabamos naufragados
num braço do mar miséria?
— Severino, retirante,
muita diferença faz
entre lutar com as mãos
e abandoná-las para trás,
porque ao menos esse mar
não pode adiantar-se mais.
— Seu José, mestre carpina,
e que diferença faz
que esse oceano vazio
cresça ou não seus cabedais,
se nenhuma ponte mesmo
é de vencê-lo capaz?
— Seu José, mestre carpina,
que lhe pergunte permita:
há muito no lamaçal
apodrece a sua vida?
e a vida que tem vivido
foi sempre comprada à vista?
— Severino, retirante,
sou de Nazaré da Mata,
mas tanto lá como aqui
jamais me fiaram nada:
a vida de cada dia
cada dia hei de comprá-la.
— Seu José, mestre carpina,
e que interesse, me diga,
há nessa vida a retalho
que é cada dia adquirida?
espera poder um dia
comprá-la em grandes partidas?
— Severino, retirante,
não sei bem o que lhe diga:
não é que espere comprar
em grosso tais partidas,
mas o que compro a retalho
é, de qualquer forma, vida.
— Seu José, mestre carpina,
que diferença faria
se em vez de continuar
tomasse a melhor saída:
a de saltar, numa noite,
fora da ponte e da vida?
UMA MULHER, DA PORTA
DE ONDE SAIU O HOMEM,
ANUNCIA-LHE O QUE SE VERÁ
— Compadre José, compadre,
que na relva estais deitado:
conversais e não sabeis
que vosso filho é chegado?
Estais aí conversando
em vossa prosa entretida:
não sabeis que vosso filho
saltou para dentro da vida?
Saltou para dento da vida
ao dar o primeiro grito;
e estais aí conversando;
pois sabei que ele é nascido.
APARECEM E SE APROXIMAM
DA CASA DO HOMEM VIZINHOS,
AMIGOS, DUAS CIGANAS ETC.
— Todo o céu e a terra
lhe cantam louvor.
Foi por ele que a maré
esta noite não baixou.
— Foi por ele que a maré
fez parar o seu motor:
a lama ficou coberta
e o mau-cheiro não voou.
— E a alfazema do sargaço,
ácida, desinfetante,
veio varrer nossas ruas
enviada do mar distante.
— E a língua seca de esponja
que tem o vento terral
veio enxugar a umidade
do encharcado lamaçal.
— Todo o céu e a terra
lhe cantam louvor
e cada casa se torna
num mocambo sedutor.
— Cada casebre se torna
no mocambo modelar
que tanto celebram os
sociólogos do lugar.
— E a banda de maruins
que toda noite se ouvia
por causa dele, esta noite,
creio que não irradia.
— E este rio de água cega,
ou baça, de comer terra,
que jamais espelha o céu,
hoje enfeitou-se de estrelas.
COMEÇAM A CHEGAR
PESSOAS TRAZENDO
PRESENTES PARA O
RECÉM-NASCIDO
— Minha pobreza tal é
que não trago presente grande:
trago para a mãe caranguejos
pescados por esses mangues;
mamando leite de lama
conservará nosso sangue.
— Minha pobreza tal é
que coisa não posso ofertar:
somente o leite que tenho
para meu filho amamentar;
aqui são todos irmãos,
de leite, de lama, de ar.
— Minha pobreza tal é
que não tenho presente melhor:
trago papel de jornal
para lhe servir de cobertor;
cobrindo-se assim de letras
vai um dia ser doutor.
— Minha pobreza tal é
que não tenho presente caro:
como não posso trazer
um olho d'água de Lagoa do Carro,
trago aqui água de Olinda,
água da bica do Rosário.
— Minha pobreza tal é
que grande coisa não trago:
trago este canário da terra
que canta corrido e de estalo.
— Minha pobreza tal é
que minha oferta não é rica:
trago daquela bolacha d'água
que só em Paudalho se fabrica.
— Minha pobreza tal é
que melhor presente não tem:
dou este boneco de barro
de Severino de Tracunhaém.
— Minha pobreza tal é
que pouco tenho o que dar:
dou da pitu que o pintor Monteiro
fabricava em Gravatá.
— Trago abacaxi de Goiana
e de todo o Estado rolete de cana.
— Eis ostras chegadas agora,
apanhadas no cais da Aurora.
— Eis tamarindos da Jaqueira
e jaca da Tamarineira.
— Mangabas do Cajueiro
e cajus da Mangabeira.
— Peixe pescado no Passarinho,
carne de boi dos Peixinhos.
— Siris apanhados no lamaçal
que há no avesso da rua Imperial.
— Mangas compradas nos quintais ricos
do Espinheiro e dos Aflitos.
— Goiamuns dados pela gente pobre
da Avenida Sul e da Avenida Norte.
FALAM AS DUAS CIGANAS
QUE HAVIAM APARECIDO
COM OS VIZINHOS
— Atenção peço, senhores,
para esta breve leitura:
somos ciganas do Egito,
lemos a sorte futura.
Vou dizer todas as coisas
que desde já posso ver
na vida desse menino
acabado de nascer:
aprenderá a engatinhar
por aí, com aratus,
aprenderá a caminhar
na lama, como goiamuns,
e a correr o ensinarão
o anfíbios caranguejos,
pelo que será anfíbio
como a gente daqui mesmo.
Cedo aprenderá a caçar:
primeiro, com as galinhas,
que é catando pelo chão
tudo o que cheira a comida;
depois, aprenderá com
outras espécies de bichos:
com os porcos nos monturos,
com os cachorros no lixo.
Vejo-o, uns anos mais tarde,
na ilha do Maruim,
vestido negro de lama,
voltar de pescar siris;
e vejo-o, ainda maior,
pelo imenso lamarão
fazendo dos dedos iscas
para pescar camarão.
— Atenção peço, senhores,
também para minha leitura:
também venho dos Egitos,
vou completar a figura.
Outras coisas que estou vendo
é necessário que eu diga:
não ficará a pescar
de jereré toda a vida.
Minha amiga se esqueceu
de dizer todas as linhas;
não pensem que a vida dele
há de ser sempre daninha.
Enxergo daqui a planura
que é a vida do homem de ofício,
bem mais sadia que os mangues,
tenha embora precipícios.
Não o vejo dentro dos mangues,
vejo-o dentro de uma fábrica:
se está negro não é lama,
é graxa de sua máquina,
coisa mais limpa que a lama
do pescador de maré
que vemos aqui, vestido
de lama da cara ao pé.
E mais: para que não pensem
que em sua vida tudo é triste,
vejo coisa que o trabalho
talvez até lhe conquiste:
que é mudar-se destes mangues
daqui do Capibaribe
para um mocambo melhor
nos mangues do Beberibe.
FALAM OS VIZINHOS, AMIGOS,
PESSOAS QUE VIERAM COM
PRESENTES ETC.
— De sua formosura
já venho dizer:
é um menino magro,
de muito peso não é,
mas tem o peso de homem,
de obra de ventre de mulher.
— De sua formosura
deixai-me que diga:
é uma criança pálida,
é uma criança franzina,
mas tem a marca de homem,
marca de humana oficina.
— Sua formosura
deixai-me que cante:
é um menino guenzo
como todos os desses mangues,
mas a máquina de homem
já bate nele, incessante.
— Sua formosura
eis aqui descrita:
é uma criança pequena,
enclenque e setemesinha,
mas as mãos que criam coisas
nas suas já se adivinha.
— De sua formosura
deixai-me que diga:
é belo como o coqueiro
que vence a areia marinha.
— De sua formosura
deixai-me que diga:
belo como o avelós
contra o Agreste de cinza.
— De sua formosura
deixai-me que diga:
belo como a palmatória
na caatinga sem saliva.
— De sua formosura
deixai-me que diga:
é tão belo como um sim
numa sala negativa.
— É tão belo como a soca
que o canavial multiplica.
— Belo porque é uma porta
abrindo-se em mais saídas.
— Belo como a última onda
que o fim do mar sempre adia.
— É tão belo como as ondas
em sua adição infinita.
— Belo porque tem do novo
a surpresa e a alegria.
— Belo como a coisa nova
na prateleira até então vazia.
— Como qualquer coisa nova
inaugurando o seu dia.
— Ou como o caderno novo
quando a gente o principia.
— E belo porque com o novo
todo o velho contagia.
— Belo porque corrompe
com sangue novo a anemia.
— Infecciona a miséria
com vida nova e sadia.
— Com oásis, o deserto,
com ventos, a calmaria.
O CARPINA FALA COM O
RETIRANTE QUE ESTEVE
DE FORA, SEM TOMAR
PARTE EM NADA
— Severino retirante,
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga;
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, severina;
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.
E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina.
O cortiço
O sujeito fez sina! aos dois urbanos, que o acompanharam logo, e encaminharam-se todos
para o interior da casa. Botelho, à frente deles, ensinava-lhes o caminho. João Romão ia atrás,
pálido, com as mãos cruzadas nas costas.
Atravessaram o armazém, depois um pequeno corredor que dava para um pátio calçado,
chegaram finalmente à cozinha. Bertoleza, que havia já feito subir o jantar dos caixeiros, estava
de cócoras, no chão, escamando peixe, para a ceia do seu homem, quando viu parar defronte
dela aquele grupo sinistro.
Reconheceu logo o filho mais velho do seu primitivo senhor, e um calafrio percorreu-lhe o
corpo. Num relance de grande perigo compreendeu a situação; adivinhou tudo com a lucidez
de quem se vê perdido para sempre: adivinhou que tinha sido enganada; que a sua carta de
alforria era uma mentira, e que o seu
Amante, não tendo coragem para matá-la, restituía-a ao cativeiro. Seu primeiro impulso foi
de fugir. Mal, porém, circunvagou os olhos em torno de si, procurando escapula, o senhor
adiantou-se dela e segurou-lhe o ombro.
— É esta! disse aos soldados que, com um gesto, intimaram a desgraçada a segui-los.
— Prendam-na! É escrava minha!
A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com uma das mãos espalmada no
chão e com a outra segurando a faca de cozinha, olhou aterrada para eles, sem pestanejar.
Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam os sabres. Bertoleza então,
erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e, antes que alguém conseguisse
alcançá-la, já de um só golpe certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado.
E depois embarcou para a frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa lameira de
sangue. João Romão fugira até ao canto mais escuro do armazém, tapando o rosto com as mãos.
Nesse momento parava à porta da rua uma carruagem. Era uma comissão de abolicionistas
que vinha, de casaca! trazer-lhe respeitosamente o diploma de sócio benemérito.
Ele mandou que os conduzissem para a sala de visitas. (AZEVEDO, p. 162)
Exercício de fixação
1. Observe o trecho a seguir e responda às questões abaixo.
“Pois é. U portuguêis é muito fáciu di aprender, purqui é uma língua qui a genti iscrevi
ixatamenti cumu si fala. Num
é cumu inglêis qui dá até vontade de ri quandu a genti discobri cumu é qui si iscrevi algumas
palavras. Im portuguêis, é só
prestátenção. U alemão pur exemplu. Qué coisa mais doida? Num bate nada cum nada. Até nu
espanhol qui é parecidu, si
iscrevi muito diferenti. Qui bom qui a minha língua é u potuguêis. Quem soubé falá, sabi
iscrevê.”
Jô Soares, Veja, 28 de novembro de 1990.
a) Esse trecho pertence à linguagem culta/formal ou à coloquial/informal?
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b) Reescreva-o de acordo com a linguagem oposta a que você respondeu no item anterior.
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7ºMomento
A triste partida do Rei do Baião
Autor: Guaipuan Vieira
Cinco e quinze da manhã
Do dia dois de agosto
Do ano de oitenta e nove
Houve um terrível desgosto
De luto entrava o Nordeste
Com pranto triste no rosto.
As rádios anunciavam
Morreu o Rei do Baião
O mestre Luiz Gonzaga
O popular Gonzagão
Deixando muita saudade
Pra esta grande Nação.
No sertão também se ouvia
Acauã executar
Lento toque de silêncio
E outras aves a chorar
E mãe deusa da natura
Do seu trono a soluçar.
E concretizava o luto
Com sentimento profundo
Entre todas as gerações
Por este sofrido mundo
Em homenagem a Luiz
O primeiro sem segundo.
Luiz nasceu em Exu
Agreste pernambucano
Mil novecentos e doze
Foi este o sagrado ano
Que o destino lhe escolheu
Pra ele seguir bom plano.
Filho doutro sanfoneiro
Com nome de Januário
Desde então herdou seu dom
Uma causa sem inventário
Isto quando ainda garoto
Segundo seu comentário.
Desta forma seu Luiz
A seu pai acompanhando
Nos bailes, forrós e feiras
Seu baião foi ensinando
E fama na região
Já estava até ganhando.
Deixou a terra natal
Ao exército foi servir
Vindo então pra Fortaleza
Pra sua missão cumprir
O que muito lhe ajudou
E a bons planos fez seguir.
Devido as Revoluções...
Sempre era transferido
E nestas suas andanças
Morou num lugar querido
Minas Gerais de Tancredo
O homem nunca esquecido.
Foi então que conheceu
Um amigo e companheiro
Que já servira ao exército
Naquele rincão mineiro
Este fora Dominguinhos
Especial sanfoneiro.
Através desta amizade
Luiz voltou a estudar
Dominguinhos professor (*)
E amigo particular
Que também lhe ensinou
A modinha popular.
(*) Um velho músico e amigo de
Luiz Gonzaga.
.
Mas a vida de milícia
Igualmente a do vaqueiro
Sempre é solicitado
Segue outro paradeiro
Desta forma pra São Paulo
Seu Luiz seguiu ligeiro.
Na terra dos bandeirantes
Mudou sua opinião
Nova sanfona comprou
Que lhe deu inspiração
Assim Luiz começou
Aprimorar seu baião.
Sendo ainda militar
Foi pro Rio de Janeiro
De onde se desligou
Do exército brasileiro
E formou a parceria
Com o Xavier Pinheiro.
Xavier um português
Que vinha se apresentando
Na grande Rio de Janeiro
Lá no mangue executando
Valsas, tangos e até fados
Com Luiz auxiliando
Este estilo pra Luiz
Não era o seu verdadeiro
Pois queria apresentar
Seu próprio cancioneiro
A música regional
E nada do estrangeiro.
Com isto Luiz Gonzaga
Se encheu de esperança
Nos programas de calouros
Foi cantar com segurança
Apresentando seus Shows
Com muita garra e pujança.
Saindo dos auditórios
No Nordeste apareceu
A música de seu Luiz
Porque na sanfona leu
O sertão em poesia
Daí então se ergueu.
O primeiro nordestino
Num trabalho a se empenhar
Pra música regional
No Brasil vir espalhar
Provando assim a existência
Da arte mais popular.
Desta forma seu Luiz
Por ter rica criação
Lançou o xote e o forró
O xaxado e o baião
Ficando o arrasta-pé
Como símbolo do sertão.
Lançando estas criações
Fez o zabumba tocar
Dando ao mesmo mais valor
Na arte de forrozar
Também deu vida ao triângulo
Hoje instrumento exemplar.
Em pouco tempo o Brasil
Seu valor reconheceu
E grupo de seguidores
Ligeiramente nasceu
E Luiz Rei do Baião
Este título recebeu.
O seu valor cultural
Foi da maior importância
Pra história brasileira
Veja a significância
Pois decantou o Nordeste
Com jeito e com elegância.
Foi quem mais reivindicou
Melhoria pro Nordeste
Mostrando pros governantes
A seca, a fome e a peste
Que muito maltrata o povo
De todo sertão agreste.
No seu canto interpretou
O profundo sentimento
Da alma do sertanejo
Que sofre a todo o momento
No Nordeste que retrata
O mais cruel sofrimento.
Quando seu Luiz cantava
Simbolizava o vaqueiro
Seu aboio e seu gemido
Invadiam o tabuleiro
Desta forma ele exaltava
O Nordeste brasileiro.
Mas por força do destino
A um chamado atendeu
Vinda do Pai soberano
Quem chamou o filho seu
Para cantar lá no céu
As músicas que aprendeu.
Certamente o velho "Lua"
O mestre Rei do Baião
Já se encontra com seu pai
Lá em outra dimensão
Aquele que lhe ensinou
Tão honrosa profissão.
Este pequeno folheto
É somente uma mostragem
Daquele que foi em vida
Nosso maior personagem
Que o povo guardará
Para sempre a sua imagem.
Termino aqui esta história
Com o coração enlutado
Escrita no mesmo dia
Que Luiz ouviu chamado
Pra morar na Santa Casa
Por Deus sendo abençoado.
8º Momento
Romance do Pavão Misterioso
João Melquíades Ferreira da Silva
Eu vou contar uma história
De um pavão misterioso
Que levantou vôo na Grécia
Com um rapaz corajoso
Raptando uma condessa
Filha de um conde orgulhoso.
Residia na Turquia
Um viúvo capitalista
Pai de dois filhos solteiros
O mais velho João Batista
Então o filho mais novo
Se chamava Evangelista.
O velho turco era dono
Duma fábrica de tecidos
Com largas propriedades
Dinheiro e bens possuídos
Deu de herança a seus filhos
Porque eram bem unidos.
Depois que o velho morreu
Fizeram combinação
Porque o tal João Batista
Concordou com o seu irmão
E foram negociar
Na mais perfeita união.
Um dia João Batista
Pensou pela vaidade
E disse a Evangelista:
- Meu mano eu tenho vontade
de visitar o estrangeiro
se não te deixar saudade.
- Olha que nossa riqueza
se acha muito aumentada
e dessa nossa fortuna
ainda não gozei nada
portanto convém qu'eu passe
um ano em terra afastada.
Respondeu Evangelista:
- Vai que eu ficarei
regendo os negócios
como sempre eu trabalhei
garanto que nossos bens
com cuidado zelarei.
- Quero te fazer um pedido:
procure no estrangeiro
um objeto bonito
só para rapaz solteiro;
traz para mim de presente
embora custe dinheiro.
João Batista prometeu
Com muito boa intenção
De comprar um objeto
De gosto de seu irmão
Então tomou um paquete
E seguiu para o Japão.
João Batista no Japão
Esteve seis meses somente
Gozando daquele império
Percorreu o Oriente
Depois voltou para a Grécia
Outro país diferente.
João Batista entrou na Grécia
Divertiu-se em passear
Comprou passagem de bordo
E quando ia embarcar
Ouviu um grego dizer
Acho bom se demorar.
João Batista interrogou:
- Amigo fale a verdade
por qual motivo o senhor
manda eu ficar na cidade?
Disse o grego: - Vai haver
Uma grande novidade.
- Mora aqui nesta cidade
um conde muito valente
mais soberbo do que Nero
pai de uma filha somente
é a moça mais bonita
que há no tempo presente
- É a moça em que eu falo
Filha do tal potentado
O pai tem ela escondida
Em um quarto de sobrado
Chama-se Creuza e criou-se
Sem nunca ter passeado.
- De ano em ano essa moça
bota a cabeça de fora
para o povo adorá-la
no espaço de uma hora
para ser vista outra vez
tem um ano de demora.
O conde não consentiu
Outro homem educá-la
Só ele como pai dela
Teve o poder de ensiná-la
E será morto o criado
Que dela ouvir a fala.
Os estrangeiros têm vindo
Tomarem conhecimento
Amanhã quando ela aparece
No grande ajuntamento
É proibido pedir-se
A mão dela em casamento.
Então disse João Batista
- Agora vou me demorar
pra ver essa condessa
estrela desse lugar
quando eu chegar à Turquia
tenho muito o que contar.
Logo no segundo dia
Creuza saiu na janela
Os fotógrafos se vexaram
Tirando o retrato dela
Quando inteirou uma hora
Desapareceu a donzela.
João Batista viu depois
Um retratista vendendo
Alguns retratos de Creuza
Vexou-se e foi dizendo:
- Quanto quer pelo retrato
porque comprá-lo pretendo.
O fotógrafo respondeu:
- Lhe custa um conto de réis
João Batista ainda disse:
- Eu compro até por dez
se o dinheiro não der
empenharei os anéis.
João Batista voltou
Da Grécia para a Turquia
E quando chegou em Meca
Cidade em que residia
Seu mano Evangelista
Banqueteou o seu dia.
Então disse Evangelista:
- Meu mano vá me contando
se viste coisas bonitas
onde andaste passeando
o que me traz de presente
vá logo entregando.
Respondeu João Batista:
- Para ti trouxe um retrato
de uma condessa da Grécia
moça que tem fino trato
custou-me um conto de réis
ainda achei muito barato.
Respondeu Evangelista
Depois duma gargalhada:
- Neste caso meu irmão
pra mim não trouxe nada
pois retrato de mulher
é coisa bastante usada.
- Sei que tem muitos retratos
mas como o que eu trouxe não
vais agora examiná-lo
entrego em tua mão
quando vires a beleza
mudará de opinião.
João Batista retirou
O retrato de uma mala
Entregou ao rapaz
Que estava de pé na sala
Quando ele viu o retrato
Quis falar tremeu a fala.
Evangelista voltou
Com o retrato na mão
Tremendo quase assustado
Perguntou ao seu irmão
Se a moça do retrato
Tinha aquela perfeição.
Respondeu João Batista
- Creuza é muito mais formosa
do que o retrato dela
em beleza é preciosa
tem o corpo desenhado
por uma mão milagrosa.
João Batista perguntou
Fazendo ar de riso:
- Que é isso, meu irmão
queres perder o juizo?
Já vi que este retrato
Vai te causar prejuizo.
Respondeu Evangelista
- Pois meu irmão eu te digo
vou sair do país
não posso ficar contigo
pois a moça do retrato
deixou-me a vida em perigo.
João Batista falou sério:
- Precipício não convém
de que te serve ir embora
por este mundo além
em procura de uma moça
que não casa com ninguém.
- Teu conselho não me serve
estou impressionado
rapaz sem moça bonita
é um desaventurado
se eu não me casar com Creuza
findo meus dias enforcado.
- Vamos partir a riqueza
que tenho a necessidade
dá balanço no dinheiro
porque eu quero a metade
o que não posso levar
dou-te de boa vontade.
Deram o balanço no dinheiro
Só três milhões encontraram
Tocou dois a Evangelista
Conforme se combinaram
Com relação ao negócio
Da firma se desligaram.
Despediu-se Evangelista
Abraçou o seu irmão
Chorando um pelo outro
Em triste separação
Seguindo um para a Grécia
Em uma embarcação.
Logo que chegou na Grécia
Hospedou-se Evangelista
Em um hotel dos mais pobres
Negando assim sua pista
Só para ninguém saber
Que era um capitalista.
Ali passou oito meses
Sem se dar a conhecer
Sempre andando disfarçado
Só para ninguém saber
Até que chegou o dia
Da donzela aparecer.
Os hotéis já se achavam
Repletos de passageiros
Passeavam pelas praças
Os grupos de cavalheiros
Havia muito fidalgos
Chegado dos estrangeiros.
As duas horas as tarde
Creuza saiu à janela
Mostrando a sua beleza
Entre o conde e a mãe dela
Todos tiraram o chapéu
Em continência à donzela.
Quando Evangelista viu
O brilho da boniteza
Disse: - Vejo que meu mano
Quis me falar com franqueza
Pois esta gentil donzela
É rainha de beleza.
Evangelista voltou
Aonde estava hospedado
Como não falou com a moça
Estava contrariado
Foi inventar uma idéia
Que lhe desse resultado.
No outro dia saiu
Passeando Evangelista
Encontrou-se na cidade
Com um moço jornalista
Perguntou se não havia
Naquela praça um artista.
Respondeu o jornalista:
- Tem o doutor Edmundo
na rua dos Operários
é engenheiro profundo
para inventar maquinismo
é ele o maior do mundo.
Evangelista entrou
Na casa do engenheiro
Falando em língua grega
Negando ser estrangeiro
Lhe propôs um bom negócio
Lhe oferecendo dinheiro.
Assim disse Evangelista:
- Meu engenheiro famoso
primeiro vá me dizendo
se não é homem medroso
porque eu quero custar
um negócio vantajoso
- Na arte não tenho medo
mas vejo que o amigo
quer um negócio em segredo
como precisa de mim
conte-me lá o enredo.
- Eu amo a filha do conde
a mais formosa mulher
se o doutor inventar
um aparelho qualquer
que eu possa falar com ela
pago o que o senhor quiser.
- Eu aceito o seu contrato
mas preciso lhe avisar
que eu vou trabalhar seis meses
o senhor vai esperar
é obra desconhecida
que agora vou inventar.
- Quer o dinheiro adiantado?
Eu pago neste momento
- Não senhor, ainda é cedo
quando terminar o invento
é que eu digo o preço
quanto custa o pagamento.
Enquanto Evangelista
Impaciente esperava
O engenheiro Edmundo
Toda noite trabalhava
Oculto em sua oficina
E ninguém adivinhava.
O grande artista Edmundo
Desenhou nova invenção
Fazendo um aeroplano
De pequena dimensão
Fabricado de alumínio
Com importante armação.
Movido a motor elétrico
Depósito de gasolina
Com locomoção macia
Que não fazia buzina
A obra mais importante
Que fez em sua oficina.
Tinha cauda como leque
As asas como pavão
Pescoço, cabeça e bico
Lavanca, chave e botão
Voava igualmente ao vento
Para qualquer direção.
Quando Edmundo findou
Disse a Evangelista:
- Sua obra está perfeita
ficou com bonita vista
o senhor tem que saber
que Edmundo é artista.
- Eu fiz o aeroplano
da forma de um pavão
que arma e se desarma
comprimindo em um botão
e carrega doze arroba
três léguas acima do chão.
Foram experimentar
Se tinha jeito o pavão
Abriram a lavanca e chave
Encarcaram num botão
O monstro girou suspenso
Maneiro como balão.
O pavão de asas abertas
Partiu com velocidade
Coroando todo o espaço
Muito acima da cidade
Como era meia noite
Voaram mesmo à vontade.
Então disse o engenheiro:
- Já provei minha invenção
fizemos a experiência
tome conta do pavão
agora o senhor me paga
sem promover discussão.
Perguntou Evangelista:
- Quanto custa o seu invento?
- Dê me cem contos de réis
acha caro o pagamento
o rapaz lhe respondeu:
Acho pouco dou duzentos.
Edmundo ainda deu-lhe
Mais uma serra azougada
Que serrava caibro e ripa
E não fazia zuada
Tinha os dentes igual navalha
De lâmina bem afiada.
Então disse o jovem turco:
- Muito obrigado fiquei
do pavão e dos presentes
para lutar me armei
amanhã a meia-noite
com Creuza conversarei.
À meia-noite o pavão
Do muro se levantou
Com as lâmpadas apagadas
Como uma flecha voou
Bem no sobrado do conde
Na cumeeira pousou.
Evangelista em silêncio
Cinco telhas arredou
Um buraco de dois palmos
Caibros e ripas serrou
E pendurado numa corda
Por ela escorregou.
Chegou no quarto de Creuza
Onde a donzela dormia
Debaixo do cortinado
Feito de seda amarela
E ele para acordá-la
Pôs a mão na testa dela.
A donzela estremeceu
Acordou no mesmo instante
E viu um rapaz estranho
De rosto muito elegante
Que sorria para ela
Com um olhar fascinante.
Então Creuza deu um grito:
- Papai um desconhecido
entrou aqui no meu quarto
sujeito muito atrevido
venha depressa papai
pode ser algum bandido.
O rapaz lhe disse: - Moça
Entre nós não há perigo
Estou pronto a defendê-la
Como um verdadeiro amigo
Venho é saber da senhora
Se quer casar-se comigo.
De um lenço enigmático
Que quando Creuza gritava
Chamando o pai dela
Então o moço passava
Ele no nariz da moça
Com isso ela desmaiava.
O jovem puxou o lenço
Ao nariz da moça encostou
Deu uma vertigem na moça
De repente desmaiou
E ele subiu na corda
Chegando em cima tirou.
Ajeitou os caibros e ripas
E consertou o telhado
E montando em seu pavão
Voou bastante vexado
Foi esconder o aparelho
Aonde foi fabricado.
O conde acordou aflito
Quando ouviu essa zuada
Entrou no quarto da filha
Desembainhou a espada
Encontrou-a sem sentido
Dez minutos desmaiada.
Percorreu todos os cantos
Com a espada na mão
Berrando e soltando pragas
Colérico como um leão
Dizendo: - Aonde encontrá-lo
Eu mato esse ladrão.
Creuza disse: - Meu pai
Pois eu vi neste momento
Um jovem rico e elegante
Me falando em casamento
Não vi quando ele encantou-se
Porque me deu um passamento.
Disse o conde: - Nesse caso
Tu já estás a sonhar
Moça de dezoito anos
Já pensando em se casar
Se aparecer casamento
Eu saberei desmanchar.
Evangelista voltou
Às duas da madrugada
Assentou seu pavão
Sem que fizesse zuada
Desceu pela mesma trilha
Na corda dependurada.
E Creuza estava deitada
Dormindo o sono inocente
Seus cabelos como um véu
Que enfeitava puramente
Como um anjo de terreal
Que tem lábios sorridentes.
O rapaz muito sutil
Foi pegando na mão dela
Então a moça assustou-se
Ele garantiu a ela
Que não eram malfazejos:
- Não tenha medo donzela.
A moça interrogou-o
Disse: - Quem é o senhor
Diz ele: - Sou estrangeiro
Lhe consagrei grande amor
Se não fores minha esposa
A vida não tem valor.
Mas Creuza achou impossível
O moço entrar no sobrado
Então perguntou a ele
De que jeito tinha entrado
E disse: - Vai me dizendo
Se és vivo ou encantado.
Como eu lhe tenho amizade
Me arrisco fora de hora
Moça não me negue o sim
A quem tanto lhe adora!
Creuza aí gritou: - Papai
Venha ver o homem agora.
Ele passou-lhe o lenço
Ela caiu sem sentido
Então subiu na corda
Por onde tinha descido
Chegou em cima e disse:
- O conde será vencido.
Ouviu-se tocar a corneta
E o brado da sentinela
O conde se dirigiu
Para o quarto da donzela
Viu a filha desmaiada
Não pode falar com ela.
Até que a moça tornou
Disse o conde: - É um caso
sério
Sou um fidalgo tão rico
Atentado em meu critério
Mas nós vamos descobrir
O autor do mistério.
- Minha filha, eu já pensei
em um plano bem sagaz
passa essa banha amarela
na cabeça desse audaz
só assim descobriremos
esse anjo ou satanás.
- Só sendo uma visão
que entra neste sobrado
só chega à meia-noite
entra e sai sem ser notado
se é gente desse mundo
usa feitiço encantado.
Evangelista também
Desarmou seu pavão
A cauda, a capota, o bico
Diminuiu a armação
Escondeu o seu motor
Em um pequeno caixão.
Depois de sessenta dias
Alta noite em nevoeiro
Evangelista chegou
No seu pavão bem maneiro
Desceu no quarto da moça
A seu modo traiçoeiro.
Já era a terceira vez
Que Evangelista entrava
No quarto que a condessa
À noite se agasalhava
Pela força do amor
O rapaz se arriscava.
Com um pouco a moça acordou
Foi logo dizendo assim:
- Tu tens dito que me amas
com um bem-querer sem fim
se me amas com respeito
te senta juntos de mim.
Evangelista sentou-se
Pôs-se a conversar com ela
Trocando o riso esperava
A resposta da donzela
Ela pôs-lhe a mão na testa
Passou a banha amarela.
Depois Creuza levantou-se
Com vontade de gritar
O rapaz tocou-lhe o lenço
Sentiu ela desmaiar
Deixou-a com uma síncope
Tratou de se retirar.
E logo Evangelista
Voando da cumeeira
Foi esconder seu pavão
Nas folhas de uma palmeira
Disse: - Na quarta viagem
Levo essa estrangeira.
Creuza então passou o resto
Da noite mal sossegada
Acordou pela manhã
Meditava e cismada
Se o pai não perguntasse
Ela não dizia nada.
Disse o conde: - Minha filha
Parece que estás doente?
Sofreste algum acesso
Porque teu olhar não mente
O tal rapaz encantado
Te apareceu certamente.
E Creuza disse: - Papai
Eu cumpri o seu mandado
O rapaz apareceu-me
Mas achei-o delicado
Passei-lhe a banha amarela
E ele saiu marcado.
O conde disse aos soldados
Que a cidade patrulhassem
Tomassem os chapéus de
Quem nas ruas encontrassem
Um de cabelo amarelo
Ou rico ou pobre pegassem.
Evangelista trajou-se
Com roupa de alugado
Encontrou-se com a patrulha
O seu chapéu foi tirado
Viram o cabelo amarelo
Gritaram: - Esteja intimado!
Os soldados lhe disseram:
- Cidadão não estremeça
está preso a ordem do conde
e é bom que não se cresça
vai a presença do conde
se é homem não esmoreça.
- Você hoje vai provar
por sua vida responde
como é que tem falado
com a filha do nosso conde
quando ela lhe procura
onde é que se esconde.
Evangelista respondeu:
- Também me faça um favor
enquanto vou me vestir
minha roupa superior
na classe de homem rico
ninguém pisa meu valor.
Disseram: - Pode mudar
Sua roupa de nobreza
A moça bem que dizia
Que o rapaz tinha riqueza
Vamos ganhar umas luvas
E o conde uma surpresa.
Seguiu logo Evangelista
Conversando com o guarda
Até que se aproximaram
Duma palmeira copada
Então disse Evangelista:
- Minha roupa está trepada.
E os soldados olharam
Em cima tinha um caixão
Mandaram ele subir
E ficaram de prontidão
Pegaram a conversar
Prestando pouca atenção.
Evangelista subiu
Pôs um dedo no botão
Seu monstro de alumínio
Ergueu logo a armação
Dali foi se levantando
Seguiu voando o pavão.
E os soldados gritaram:
- Amigo, o senhor se desça
deixe de tanta demora
é bom que não aborreça
senão com pouco uma bala
visita sua cabeça.
Então mandaram subir
Um soldado de coragem
Disseram: - Pegue na perna
Arraste com a folhagem
Está passando na hora
De voltarmos da viagem.
Quando o soldado subiu
Gritou: - Perdemos a ação
Fugiu o moço voando
De longe vejo um pavão
Zombou de nossa patrulha
Aquele moço é o cão.
Voltaram e disseram ao conde
Que o rapaz tinham encontrado
Mas no olho de uma palmeira
O moço tinha voado
Disso o conde: - Pois é o cão
Que com Creuza tem falado.
Creuza sabendo da história
Chorava de arrependida
Por ter marcado o rapaz
Com banha desconhecida
Disse: - Nunca mais terei
Sossego na minha vida.
Disse Creuza: - Ora papai
Me prive da liberdade
Não consente que eu goze
A distração da cidade
Vivo como criminosa
Sem gozar a mocidade.
- Aqui não tenho direito
de falar com um criado
um rapaz para me ver
precisa ser encantado
mas talvez ainda eu fuja
deste maldito sobrado.
- O rapaz que me amou
só queria vê-lo agora
para cair nos seus pés
como uma infeliz que chora
embora que eu depois
morresse na mesma hora.
- Eu sei que para ele
não mereço confiança
quando ele vinha aqui
ainda eu tinha esperança
de sair desta prisão
onde estou desde de criança.
Às quatro da madrugada
Evangelista desceu
Creuza estava acordada
Nunca mais adormeceu
A moça estava chorando
O rapaz lhe apareceu.
O jovem cumprimentou-a
Deu-lhe um aperto de mão
A condessa ajoelhou-se
Para pedir-lhe perdão
Dizendo: - Meu pai mandou
Eu fazer-te uma traição.
O rapaz disse: - Menina
A mim não fizeste mal
Toda a moça é inocente
Tem seu papel virginal
Cerimônia de donzela
É uma coisa natural.
- Todo o seu sonho dourado
é fazer-te minha senhora
se quiseres casar comigo
te arrumas e vamos embora
senão o dia amanhece
e se perde a nossa hora.
- Se o senhor é homem sério
e comigo quer casar
pois tome conta de mim
aqui não quero ficar
se eu falar em casamento
meu pai manda me matar.
- Que importa que ele mande
tropas e navios pelos mares
minha viagem é aérea
meu cavalo anda nos ares
nós vamos sair daqui
casar em outros lugares.
Creuza estava empacotando
O vestido mais elegante
O conde entrou no quarto
E dando um berro vibrante
Gritando: - Filha maldita
Vais morrer com o seu amante.
O conde rangendo os dentes
Avançou com passo extenso
Deu um pontapé na filha
Dizendo: - Eu sou quem venço
Logo no nariz do conde
O rapaz passou o lenço.
Ouviu-se o baque do conde
Porque rolou desmaiado
A última cena do lenço
Deixou-o magnetizado
Disse o moço: -Tem dez
minutos
Para sairmos do sobrado.
Creuza disse: - Eu estou pronta
Já podemos ir embora
E subiram pela corda
Até que saíram fora
Se aproximava a alvorada
Pela cortina da aurora.
Com pouco o conde acordou
Viu a corda pendurada
Na coberta do sobrado
Distinguiu uma zuada
E as lâmpadas do aparelho
Mostrando luz variada.
E a gaita do pavão
Tocando uma rouca voz
O monstro de olho de fogo
Projetando os seus faróis
O conde mandando pragas
Disse a moça: - É contra nós.
Os soldados da patrulha
Estavam de prontidão
Um disse: - Vem ver fulano
Aí vai passando um pavão
O monstro fez uma curva
Para tomar direção.
Então dizia um soldado
- Orgulho é uma ilusão
um pai governa uma filha
mas não manda no coração
pois agora a condessinha
vai fugindo no pavão.
O conde olhou para a corda
E o buraco do telhado
Como tinha sido vencido
Pelo rapaz atilado
Adoeceu só de raiva
Morreu por não ser vingado.
Logo que Evangelista
Foi chegando na Turquia
Com a condessa da Grécia
Fidalga da monarquia
Em casa do seu irmão
Casaram no mesmo dia.
Em casa de João Batista
Deu-se grande ajuntamento
Dando vivas ao noivado
Parabéns ao casamento
À noite teve retreta
Com visita e cumprimento.
Enquanto Evangelista
Gozava imensa alegria
Chegava um telegrama
Da Grécia para Turquia
Chamando a condessa urgente
Pelo motivo que havia.
Dizia o telegrama:
"Creuza vem com o teu marido
receber a tua herança
o conde é falecido
tua mãe deseja ver
o genro desconhecido."
A condessa estava lendo
Com o telegrama na mão
Entregou a Evangelista
Que mostrou ao seu irmão
Dizendo: - Vamos voltar
Por uma justa razão.
De manhã quando os noivos
Acabaram de almoçar
E Creuza em traje de noiva
Pronta para viajar
De palma, véu e capela
Pois só vieram casar.
Diziam os convidados:
- A condessa é tão mocinha
e vestida de noiva
torna-se mais bonitinha
está com um buquê de flor
séria como uma rainha.
Os noivos tomaram assento
No pavão de alumínio
E o monstro se levantou-se
Foi ficando pequenino
Continuou o seu vôo
Ao rumo do seu destino.
Na cidade de Atenas
Estava a população
Esperando pela volta
Do aeroplano pavão
Ou o cavalo do espaço
Que imita um avião.
Na tarde do mesmo dia
Que o pavão foi chegado
Em casa de Edmundo
Ficou o noivo hospedado
Seu amigo de confiança
Que foi bem recompensado.
E também a mãe de Creuza
Já esperava vexada
A filha mais tarde entrou
De braço com o seu noivo
Disse: - Mamãe estou casada.
Disse a velha: - Minha filha
Saíste do cativeiro
Fizeste bem em fugir
E casar no estrangeiro
Tomem conta da herança
Meu genro é meu herdeiro.
FIM
A LITERATUA DE CORDEL
A literatura de cordel, também conhecida como folheto, aqui no Brasil é um tipo de poesia
popular que é impressa e divulgada em folhetos. Suas imagens são feitas através da xilogravura.
Este é um gênero literário popular, que existe em outros países além do Brasil. O nome literatura
de cordel tem origem na forma como esses folhetos são vendidos, eles normalmente são
pendurados em barbantes, cordas ou cordéis. Por isso o nome Literatura de Cordel. Estes
folhetos eram vendidos em bancas, nas feiras e nos mercados.
A origem
A literatura de cordel teve início no século XVI, quando o Renascimento passou a popularizar
a impressão dos relatos que pela tradição eram feitos oralmente pelos trovadores. A tradição
desse tipo de publicação vem da Europa. No século XVIII esse tipo de literatura já era comum,
e osportugueses a chamavam de literatura de cego, pois em 1789, Dom João V criou uma lei
em que era permitido à Irmandade dos homens cegos de Lisboa negociar esse tipo de
publicação. No início, a literatura de cordel também tinha peças de teatro, como as que Gil
Vicente escrevia. Esta literatura foi introduzida no Brasil pelos portugueses desde o início da
colonização.
Como chegou ao Brasil?
Foi no século XVIII que a literatura de cordel chegou em nosso país. Durante o início da
colonização os portugueses a trouxeram e aos poucos ela começou a se tornar popular. Há quem
afirme que os folhetos foram introduzidos no Brasil pelo cantador Silvino Pirauá e em seguida
pela dupla Leandro Gomes de Barros e Francisco das Chagas Batista. Inicialmente, quase todos
os autores da literatura de cordel brasileira eram cantadores. Estes improvisavam os versos na
hora que estavam cantando, viajavam pelas fazendas, vilarejos e pequenas cidades do sertão.
Para os escritores desse gênero é possível ser o repórter dos acontecimentos, representante do
povo, narrar as histórias de Lampião, de João Grilo, falar sobre histórias de amor. Nos dias
atuais a região brasileira onde temos o foco da literatura de cordel é o Nordeste. Os folhetos
ainda são vendidos em lonas ou malas estendidas nas feiras populares, ainda podemos encontra-
los pendurados em cordões. Muitos escritores foram influenciados pela literatura de cordel, e
entre eles temos: João Cabral de Melo, Ariano Suassuna, José Lins do Rego e Guimarães Rosa.
Características
O gênero cordel possui algumas características bem peculiares, veja algumas das principais
características desse gênero:
Suas ilustrações são feitas por xilogravuras;
Possui uma essência cultural muito forte, pois relata tradições culturais regionais e
contribui bastante para a continuidade do folclore brasileiro;
São baratos e por isso atingem um grande público e isso acaba sendo um incentivo à leitura;
Quando os textos são considerados romances temos alguns recursos muito utilizados na
narrativa, como: descrição de personagens, monólogos, súplicas, preces por parte do
protagonista;
Suas histórias têm como ponto central uma problemática que deve ser resolvida com a
inteligência e astúcia do personagem.
Sempre há um herói que sofre por não conseguir ficar com o seu amor, isso pode ser devido
a uma proibição dos pais, noivados arranjados, coisas que impedem que o casal de ficar
junto.
No final da história, o herói sempre sai ganhando, caso ele não consiga realmente o que
queria há outra forma de equilibrar a história e fazer com que ele seja favorecido de alguma
forma.
A poética do cordel
Quadra – uma estrofe de quatro versos
Sextilha – uma estrofe de seis versos
Septilha – uma estrofe de sete versos, essa é a mais rara
Oitava – uma estrofe de oito versos
Quadrão – os três primeiros versos rimam entre si, o quarto com o oitavo e o quinto, o
sexto e o sétimo também entre si
Décima – uma estrofe de dez versos
Martelo – estrofes formadas por decassílabos (estes são muito comuns em desafios e
versos heroicos)
Disponível em: http://www.estudopratico.com.br/literatura-de-cordel/
9º Momento
AGORA É SUA VEZ!
Após ler, declamar, assistir e estudar o gênero cordel, escolha a sua xilogravura preferida e
produza um cordel a partir dela. Lembre-se: Seu texto será lido por outras pessoas, então
capriche e use a sua criatividade!
Mãos à obra!
10º Momento
CONCEPÇÕES DE CULTURA
CULTURA DE MASSA
A cultura de massa veio com o nascimento do século XX e dos novos meios de
comunicação que ficaram sob o domínio da massa. O cinema, rádio e a televisão ganharam
destaque e homogeneizaram os padrões da cultura. Produto de uma atividade econômica de
larga escala, está vinculada inevitavelmente ao capitalismo industrial, acabando desta forma
por oprimir as demais culturas, buscando os gostos culturais da massa para aumentar vendas.
CULTURA ERUDITA
Cultura erudita é a produção acadêmica centrada no sistema educacional, sobretudo na
universidade. Trata-se de uma cultura produzida por uma minoria de intelectuais das mais
diversas especialidades, e geralmente saídos dos segmentos superiores da classe média e da
classe alta. A cultura erudita está ligada à elite, ou seja, está subordinada ao capital pelo fato de
este fator viabilizar esta cultura. Esta exige estudo, pesquisa para se obter o conhecimento,
portanto não é viável a uma maioria, e sim a uma classe social que por sua vez possui condições
para investir nesses aspectos e em fim obter o conhecimento.
CULTURA POPULAR
Cultura popular é uma expressão que caracteriza um conjunto de elementos
culturais específicos da sociedade de uma nação ou região.
Muitas vezes classificada como cultura tradicional, a cultura popular é um conjunto de
manifestações criadas por um grupo de pessoas que têm uma participação ativa nelas. A cultura
popular é de fácil generalização e expressa uma atitude adotada por várias gerações em relação
a um determinado problema da sociedade. A grande maioria da cultura popular é transmitida
oralmente, dos elementos mais velhos da sociedade para os mais novos.
A cultura popular surgiu graças à interação contínua entre pessoas de regiões diferentes e à
necessidade do ser humano de se enquadrar ao seu ambiente envolvente. Alguns estudiosos
indicam que cada pessoa tem no seu interior a noção do que é popular, que é definido pela
vertente de tradição e comunidade.
A cultura popular é influenciada pelas crenças do povo em questão e é formada graças
ao contato entre indivíduos de certas regiões. A cultura popular brasileira é caracterizada por
diferentes categorias culturais, causadas pelo regionalismo. Na cultura popular brasileira é
possível verificar variações na música, dança e gastronomia. A música sertaneja, a capoeira, o
folclore, a literatura de cordel, o samba, são elementos importantes da cultura popular brasileira.
No âmbito da gastronomia, a culinária baiana é das mais apreciadas no Brasil.
Disponível em: http://www.estudopratico.com.br/cultura-de-massa
Biografia em Cordel
Autor: Júnior do Bode
Celebremos o talento
De um artista verdadeiro
Rei do ritmo popular
Imortal no cancioneiro
Vulto de Orfeu no Nordeste
É o Jackson do Pandeiro.
Nasceu José Gomes Filho (31/08/1919)
Numa cidade brejeira
De nome Alagoa Grande
Sua mãe foi cantadeira
De coco e José cresceu
Vendo o cantador de feira.
No Agreste da Paraíba
Onde passou a infância
Desde novo na enxada
Trabalhando numa “estância”
E o sonho de ter sanfona
Acordava-lhe com ância.
E quem lhe deu um presente
Foi a mãe Flora Mourão
Mas não deu o que queria
Pois não tinha condição
Em vez d’um fole, um pandeiro
E houve a conformação.
Sua mãe cantava coco
Pelo folguedo e tocava
Zabumba e também ganzá
Onde José se espelhava
Pra depois formar o Jackson
Que no coco iniciava.
Aos treze anos mudou-se
Com a família pra Campina
Grande, atrás de melhora
Na pobreza nordestina
Sempre, sempre trabalhando
E cantando a sua sina.
Certa vez foi ao cinema
Pra ver um filme com Jack (Jeque)
Um ator de faroeste
Antes que o encanto seque
Adotou Jack pra si
Brincadeira de moleque...
“O meu nome é José Jack”
Jackson se nomeava
Sua mãe achava estranho
Quando o povo lhe chamava
De: “Zé Jack” – “Ô Zé Jack”
E umas lapadas, lhe dava.
Mas a vontade de ser
Um artista era mais forte
Cantava: coco, rojão
Com samba aumentou o porte
E baião, frevo, xaxado
Todos os ritmos do norte.
Saiu pelo o mundo afora
Cantando com maestria
Transpondo às latadas tristes
Uma chuva de alegria
Em 40, em João Pessoa
Fixou a moradia.
Mudou-se para o Recife
Pois o talento lhe chama
Com seu pandeiro nas rádios
Foi sucesso no programa
Feito na Rádio Jornal
Aí Jackson ganhou fama.
Começou as gravações
Em que Jackson do Pandeiro
Registrou SEBASTIANA
E o FORRÓ EM LIMOEIRO
Com sua nova pisada
Se espalhou pro mundo inteiro.
Então Jackson do Pandeiro
Com a fama repentina
Casou com Almira Castilho
Uma bela dançarina
Selando a famosa dupla
Da cultura nordestina.
Com Neusa fez o segundo
Laço matrimonial
Espirituoso espírita
Um artista fenomenal
Faleceu, deixou chorando (10/07/1982)
Sua lacuna musical.
Cantou o CABO TENÒRIO
E CHICLETE COM BANANA
FORRÒ EM CARUARU
XOTE DE COPACABANA
E NA BASE DA CHINELA
Quem dançou SEBASTIANA?
Por isso é que o Rei do Ritmo
Com justiça cultural
É outro homenageado
No centro da capital
Viva Jackson do Pandeiro
Grande artista brasileiro
Um talento musical.
MÚSICAS COM ASPECTOS
REGIONAIS:
Forró em Limoeiro
(Jackson do Pandeiro)
Eu fui pra Limoeiro
E gostei do forró de lá.
Eu vi um caboclo brejeiro
Tocando a sanfona, entrei no fuá.
No meio do forró houve um tereré
Disse o Mano Zé, aguenta o pagode
Todo mundo pode, gritou o Teixeira
Quem não tem peixeira briga no pé.
Foi quando eu vi a Dona Zezé
A mulher que é, diz que topa parada
De saia amarrada fazer cocó
E dizer: eu brigo com cabra canalha
Puxou da navalha e entrou no forró.
Eu que sou do morro, não choro, não corro,
Não peço socorro quando há chuá
Gosto de sambar na ponta da faca
Sou nego de raça e não quero apanhar.
Petrolina Juazeiro (Alceu Valença)
Na margem do São Francisco, nasceu a
beleza
E a natureza ela conservou
Jesus abençoou com sua mão divina
Pra não morrer de saudade, vou voltar pra
Petrolina
Do outro lado do rio tem uma cidade
Que em minha mocidade eu visitava todo
dia
Atravessava a ponte ai que alegria
Chegava em Juazeiro, Juazeiro da Bahia
Hoje eu me lembro que nos tempos de
criança
Esquisito era a carranca e o apito do trem
Mas achava lindo quando a ponte
levantava
E o vapor passava num gostoso vai e vem
Petrolina , Juazeiro, Juazeiro, Petrolina
Todas duas eu acho uma coisa linda
Eu gosto de Juazeiro e adoro Petrolina
Qui Nem Jiló (Gonzaguinha)
Se a gente lembra só por lembrar
Do amor que a gente um dia perdeu
Saudade inté que assim é bom
Pro cabra se convencer
Que é feliz sem saber
Pois não sofreu
Porém, se a gente vive a sonhar
Com alguém que se deseja rever
Saudade intonce aí é ruim
Eu tiro isso por mim
Que vivo doido a sofrer
Ai, quem me dera voltar
Pros braços do meu xodó
Saudade assim faz roer
Amarga que nem jiló
Mas ninguém pode dizer
Que vivo triste a chorar
Saudade, meu remédio é cantar
Saudade, meu remédio é canta
11º Momento
MÚSICAS QUE RETRATAM O IMAGINÁRIO CAMPINENSE
Jackson do Pandeiro
Cantando meu forró vem à lembrança
O meu tempo de criança que me faz
chorar.
Ó linda flor, linda morena
Campina Grande, minha Borborema.
Me lembro de Maria Pororoca
De Josefa Triburtino, e de Carminha Vilar.
Bodocongó, Alto Branco e Zé Pinheiro
Aprendi tocar pandeiro nos forrós de lá.
Paraíba Joia Rara
Ton Oliveira
Aqui o sol nasce primeiro
E tão desinibido
E a lua exibe um estrelato
Com tanta beleza
Que até o algodão se empolga
E já vem colorido
Exibições inexplicáveis
Da mãe natureza
Aqui até os dinossauros
Fizeram morada
E a gente pode ao som
De jackson pandeirear
Ouvir a voz que na bandeira
Ficou estampada
Dar frutos
Que o tempo e a história
Não vão apagar
Eu sou da paraiba é meu esse lugar
A cara desse povo tem a minha cara
Encanto de beleza que me faz sonhar
Lugar tão lindo assim pra mim é joia rara
Que bom estar no ponto mais oriental
Astrologicamente ser um ariano
Rimar como um augusto tão angelical
Eu sou muito feliz, eu sou paraibano
Alô Campina Grande
Jackson do Pandeiro
Alô Alô minha Campina Grande
Quem te viu e quem te vê
Não te conhece mais
Campina grande tá bonita, tá mudada
Muito bem organizada, cheia de cartaz
Recebe turista o ano inteirinho
Ao seu visitante trata com carinho
Quem vai a Campina, pede pra ficar
Tem muita menina pra se namorar
E se amarra na garota, não sai mais de lá
Ô não sai mais de lá, Ô não sai mais de lá
E se visita Zé Pinheiro não sai mais de lá
Ô não sai mais de lá, Ô não sai mais de lá
E se tomar cana da boa não sai mais de lá
REFERÊNCIAS
MOURA, Efigênio Eloi. Ciço de Luzia. Campina Grande: Latus, 2013.
http://www.iteia.org.br/textos/cordel-nordeste-aqui-e-o-meu-lugar
http://www.forroboxote.com.br/forroboxote9/composicoes/?composicao=379&p=2
http://www.releituras.com/joaocabral_morte.asp
http://www.brasilescola.com/gramatica/variacoes-linguisticas.htm
http://www.mundoeducacao.com/gramatica/variacoes-linguisticas.htm
http://www.portugues.com.br/redacao/variacao-linguistica-lingua-movimento.html
http://www3.universia.com.br/conteudo/literatura/atristepartidadoreidobaiao.pdf
http://www.wagnerlemos.com.br/romancedopavaomisteriosotextointegral.pdf
http://www.estudopratico.com.br/literatura-de-cordel/
http://www.estudopratico.com.br/cultura-de-massa
https://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20080924083511AA6nRD5
http://www.jacksondopandeiro.mus.br/index.php?option=com_content&task=view&id=18&It
emid=33
http://letras.mus.br/luiz-gonzaga/47093/
http://letras.mus.br/jackson-do-pandeiro/608428/
http://letras.mus.br/ton-oliveira/paraiba-joia-rara/
http://letras.mus.br/jackson-do-pandeiro/1850071/
http://letras.mus.br/alceu-valenca/400650/
http://letras.mus.br/jackson-do-pandeiro/608429/
http://www.contaoutra.com.br/mostratexto.asp?id_bla=73