102
IV.1. Introdução A região de Óbidos é conhecida desde tempos remotos pela sua abundância em
recursos naturais. A sua exploração e utilização tem fornecido à região um valioso recurso
para o desenvolvimento socio-económico. Desta forma, este capítulo tem um papel
adicional relevante, relativamente aos restantes elementos apresentados. Sistematizam-se e
sumariam-se os recursos geológicos conhecidos e explorados ao longo dos tempos na
região de Óbidos, com base em trabalhos actualizados no que respeita aos recursos
hídricos (Almeida et al., 2000), numa perspectiva histórica em relação à maioria dos
recursos minerais (Zbyszewski, 1959; Zbyszewski e Almeida, 1960).
Assim, distinguem-se três tipos de recursos geológicos na região: os materiais de
construção, como as rochas ornamentais (calcários, doleritos, etc.) e os inertes para
construção (areias, argilas, grés, etc.); as águas minerais, de origem termal, salina, etc.;
jazidas minerais e antigas e recentes explorações mineiras (cobre, gesso, diatomitos,
petróleos e betumes).
IV.2. Os materiais de construção A importância dos materiais de construção na região deve-se à sua qualidade e
diversidade. Refere-se a presença de rochas ornamentais como os doleritos antigamente
explorados em Roliça; calcários do Oxfordiano em Sobral da Lagoa, S. Mamede,
Columbeira e Dagorda; calcários do Dogger em Sobral da Lagoa; calcários do Lias inferior
em Roliça; gesso em Bairro. Além de rochas ornamentais encontram-se também recursos
para a construção, como argamassas e argilas. Estas encontram-se sobre a forma de tufos
calcários em Olho Marinho e Amoreira e argilas do Lias inferior em Campo.
No momento apenas estão activas quatro explorações para materiais de construção
que são: a pedreira do Rio Real em Sobral da Lagoa; a pedreira da SEBOP em
Corujeira/Zambujeiro; e as gesseiras Avarela 1 e 2. Todas as outras explorações de recursos
para materiais de construção encontram-se actualmente inactivas.
IV.3. Os Aquíferos Nesta região, estão representados dois aquíferos principais, relacionados com o
encaixante rochoso, o qual caracteriza a forma, a distribuição e a exsurgência da superfície
103
freática. Apresentam qualidade para consumo humano média a alta e elevados teores de
alcalinização dos solos agrícolas (Almeida et al., 2000).
Com diferentes tipos de recarga, mas de forte capacidade, ambos os aquíferos são
bons, variando a qualidade no geral. Desta forma, distingue-se o aquífero de Cesareda (a
sul) e o aquífero das Caldas da Rainha (a norte) (Almeida et al., 2000).
IV.3.1. O Aquífero de Cesareda (iin Almeida e t al ., 2000) Distribui-se sob o carso que afecta os calcários do planalto de Cesareda,
através do qual é recarregado e circula livremente. É, no geral, um aquífero livre com
exsurgência em Olho Marinho, onde se observa areias quaternárias originárias deste
fenómeno.
Ao nível do seu balanço hídrico, apresenta as características de um aquífero
instalado em regiões carsificadas. Mostra diversificadas formas de recarga, feitas de
maneira abundante. A saída para o consumo humano e agrícola, assim como as saídas
naturais do aquífero, mostram uma transmissividade elevada assim como uma alta
produtividade.
A qualidade para consumo humano é boa, mostrando uma concentração de
iões e elementos microbianos abaixo dos níveis exigidos pela lei. Ao nível do
consumo agrícola, apresenta perigo de salinização médio e perigo de alcalinização
baixo.
IV.3.2. O Aquífero das Caldas da Rainha (in Almeida e t al ., 2000) Pertencente ao sistema de aquíferos da Nazaré e Caldas da Rainha, dispõe-se
ao longo do Vale Tifónico das Caldas da Rainha. O aquífero é confinado entre
camadas pliocénicas dobradas, que provocam um forte artesianismo do aquífero,
estando muitas vezes o nível piezométrico acima das cotas topográficas.
Ao nível da produtividade e transmissividade, os valores são deveras elevados,
variando muito ao longo do vale, possivelmente relacionados com a variação da
espessura das séries pliocénicas. De uma maneira geral, o aquífero encontra-se sub-
explorado, quando se comparam os valores da saída de água para o consumo
humano, agrícola e industrial (aproximadamente 12 hm3/ano) com os valores de
entrada (entre os 16 e os 20 hm3/ano).
Do ponto de vista da qualidade, a água é de média qualidade, mostrando
valores cima do VMA (valor máximo admissível) para os nitritos, ferro e manganês.
104
Os valores para os elementos como o sódio, potássio e cálcio são moderadamente
elevados. Também se identificaram alguns seres microbianos, mas de pouca
relevância tendo em conta o total de captações assinaladas para a região. Para o uso
agrícola, a maioria das águas representa um perigo de salinização dos solos médio a
muito alto e perigo de alcalinização dos solos baixo a médio.
IV.4. Águas Minerais Termais Exploradas desde tempos remotos, estas são possivelmente o recurso mais valioso
da região. A sua variedade e efeitos terapêutico-medicinais conferem-lhes um valor elevado,
pela sua raridade, diversidade e facilidade de exploração. Do ponto de vista qualitativo,
identificam-se os seguintes tipos de águas e aplicações terapêuticas e medicinais:
Águas Cloretadas Sódicas Usadas no tratamento de dermatoses, reumatismo e dispepsias ácidas.
Exploradas e identificadas nas nascentes de Alfandega Velha, Prainha de S.
Romengo e Ponta da Barra, região de Salir do Porto (Contacto Infralias – Lusitaniano
Superior); Nascente de Casal do Vale, Caldas da Rainha (Contacto Infralias –
Pliocénico); Nascente de Casal das Caixinas (Zona de falha que corta os calcários e as
margas do Hetangiano, no fundo da mina).
Sulfurosas Cálcicas Empregues no tratamento de dermatoses.
Representadas na nascente de Águas Santas (sulfurosa, cálcica, cloretada hipotermal)
(Contacto Hetangiano – Pliocénico).
Sulfurosas Neutras Usam-se no tratamento de dermatoses, do aparelho respiratório e
reumatismo.
Podem-se observar nas nascentes de S. Martinho do Porto, de Arco e das
Caldas da Rainha (sulfurosas cálcicas, sulfídricas cloretadas, muito fluoretadas,
radioactivas hipotermais) (Contacto Hetangiano-Oxfordiano).
Sulfatadas Cálcicas Observam-se em diferentes nascentes na Serra do Bouro.
105
IV.5. Jazidas Minerais e Mineiras As jazidas minerais e mineiras na região de Óbidos mostram singularidades de
elevado interesse geológico, histórico e antropológico. Existem diferentes jazidas metálicas
e não metálicas, com diferentes interesses industriais, onde se vislumbram por vezes
explorações romanas e árabes. Este tipo de recursos estão, de alguma forma, disseminados
por toda a região e relacionam-se directamente com a história geológica. No geral, as
antigas e as novas explorações mineiras apresentam também grande interesse científico,
pedagógico e didáctico, sendo locais privilegiados de observação e de sensibilização. Neste
ponto, é apenas essencial enumerar os diferentes elementos minerais explorados na
actualidade e antiguidade, mostrando mais uma vez a importância na região do registo
geológico encontrado, com toda a sua abundância e qualidade.
Deste ponto de vista definem-se, a partir do trabalho de Zbyszewski (1959), seis
tipos de jazida de acordo com a qualidade do recurso e o interesse industrial.
IV.5.1. Cobre Antiga exploração a céu aberto dentro das margas vermelhas Dagorda, a
oeste desta localidade, no centro do Vale Tifónico.
Fez-se a extracção de carbonato de cobre, no interior do Hetangiano, razão
pela qual aparece cobre nas análises efectuadas na água sulfurosa das Caldas da
Rainha. Sem interesse industrial.
IV.5.2. Diatomitos e Lignitos Depósito resultante da acumulação em pequenas bacias pliocénicas, quer de
diatomáceas quer de outros restos vegetais.
Este tipo de recurso não se encontra actualmente em exploração, apesar do
grande peso económico que envolveu. Encontram-se diversas explorações
abandonadas por todo o Vale Tifónico. Os únicos testemunhos actualmente
observáveis deste tipo de exploração encontram-se a servir de depósito de entulho,
como na Aldeia de Dagorda (diatomitos e lignitos), ou como explorações agrícolas,
como na Mina do Arneiro (lignitos). Aqui, encontram-se apenas ruínas de edifícios
mineiros, escombreiras e uma pequena frente de exploração. De notar que todas as
outras explorações se encontram cobertas por habitações, estradas, etc.
106
Na antiga exploração de diatomitos em Quinta do Jardim (Óbidos),
observava-se uma interessante flora. Esta formação prolonga-se num pequeno
sinclinal para a região de Dagorda e S. Mamede, que também inclui níveis lignitosos.
A leste de Nadadouro, as camadas estão na vertical (Zbyszewski, 1959).
Os lignitos foram também explorados nas minas de Palhagueiro, Trás do
Outeiro, etc.
IV.5.3. Petróleos e Betumes Encontram-se a impregnar as formações hetangianas e sinemurianas (argilitos
e dolomitos da Formação de Dagorda). Encontram-se massas de argilitos e margas
um pouco betuminosos, incluídos nas bolsas de sal-gema. O petróleo em diversas
partes do mundo está normalmente associado a regiões salinas. O sal presente nas
rochas favorece a betuminização por saponificação dos ácidos gordos.
IV.5.4. Gesso Distribuído por todo o vale, incluídos na Formação de Dagorda.
Encontramos gesso em afloramentos em Óbidos, Dagorda e Quinta do
Jardim. Distinguem-se duas formas distintas, uma sob a forma sacaróide e cristalina
de origem primária, e outra de origem secundária em calcários dolomíticos. Ocorrem
em domas associados ao fenómeno de diapirismo que afecta a região. A geometria da
sua ocorrência pode ser observada com clareza nas gesseiras Avarela 1 e 2.
IV.5.5. Sal-gema É o maior recurso mineral da região e apresenta-se extremamente bem
desenvolvido por toda a área tifónica, normalmente associado ao gesso, sob a forma
de domas salinos. Devido a uma mais elevada susceptibilidade à meteorização, a sua
ocorrência à superfície restringe-se ao preenchimento de porosidades primárias das
rochas encaixantes, onde está mais protegido.
108
V.1. Introdução A classificação e inventariação das ocorrências naturais mais importantes,
nomeadamente geológicas, torna-se indispensável para a valorização e desenvolvimento
sócio-cultural das regiões que delas beneficiam e para que, desta forma, possam usufruir do
conhecimento assim gerado. Neste contexto, a oportunidade criada pelo Município de
Óbidos para reunir os esforços de diferentes equipas de técnicos especializados, tendo em
vista o objectivo de classificar Património Natural e Histórico, deu espaço para a aplicação
de metodologias e competências no âmbito da inventariação e classificação de Património
Geológico nesta região.
Os trabalhos que decorrem neste campo do Património Natural na região de
Óbidos foram planeados, essencialmente, com dois objectivos: o reconhecimento,
interpretação e a divulgação da História Geológica da região; e a inventariação, protecção e
valorização do Património Geológico, mostrando a importância, significado (científico,
didáctico, geoturístico, cultural) e o grau de vulnerabilidade de cada local escolhido para o
processo de classificação. Para este processo têm-se em conta os critérios de selecção e
metodologias a seguir explicitadas.
V.2. Critérios de selecção Nem todas as ocorrências geológicas são passíveis de serem consideradas
Património Geológico. É necessário ter em conta a sua singularidade, significância,
contexto paisagístico-ecológico, etc. Assim, dada a necessidade de uniformizar critérios
para a selecção de tais sítios, desde a década de 80 do século XX que, no que respeita a
Portugal, têm sido propostas e aperfeiçoadas formas concretas de inventariação, avaliação e
109
classificação de geótopos ou geossítios, promovidas por associações e instituições como a
Liga para a Protecção da Natureza, Instituto da Conservação da Natureza, Associação
Portuguesa de Geólogos, ex-Instituto Geológico e Mineiro, ProGeo, Museu Nacional de
História Natural. Os diversos valores associáveis à Geodiversidade, base dos sistemas de
suporte da Biodiversidade e da dinâmica do Planeta fundamentam, no fundo, a organização
dos critérios considerados. A este propósito, vejam-se, como principais critérios:
V.2.1. Critérios científicos A importância científica de uma ocorrência geológica é independente da sua
espectacularidade e potencial didáctico (embora muitas vezes estas valências coincidam),
pode verificar-se a diversas escalas e em relação a um ou vários temas. Em geral, prende-se
de forma estreita com a quantidade de publicações científicas existentes sobre essa
ocorrência, mas tal não é condição obrigatória (por ex., descoberta recente; aplicação de
novas vias de estudo; etc.). Podem ser definidos critérios mais específicos, consoante a área
da Geologia para a qual a ocorrência reveste particular interesse (interesse temático). Existe
ainda, subjacente, o valor intrínseco que decorre do facto de os objectos geológicos
representarem a componente abiótica e paleobiótica da Natureza, com papel fundamental
na estrutura e na dinâmica do Planeta, bem como nos ecossistemas terrestres (tipo de
substrato, interacção geosfera-biosfera-clima, processos destrutivos e construtivos, etc.).
V.2.2. Critérios educacionais (potencial didáctico e pedagógico)
- Ocorrências que permitem explicar como se pode reconhecer num quadro
espacio-temporal a História da Terra e da evolução biológica, compreender muitos dos
mecanismos reguladores do funcionamento do Planeta e utilizar essa informação na
Actualidade e na previsão (por exemplo, variações do clima e do nível do mar, questões
ambientais), identificar e avaliar os geo-recursos, etc.
- Ocorrências que permitem estabelecer inter-relações fundamentais com estudos e
conhecimentos de outras áreas, nomeadamente Biologia, Física, Química, Geografia.
- Ocorrências especialmente úteis para o ensino da Geologia no campo e/ou para
educação e divulgação científico-ambiental, promoção cultural das populações,
dinamização de actividades museológicas.
110
V.2.3. Critérios culturais - Valor cultural sensu lato (civilizacional) das ocorrências, enquanto instrumentos de
valorização social da Ciência e da Natureza; interesse histórico-arqueológico, directo ou
indirecto; valor espiritual/sentido de identidade dos locais; interrelação com diversos
aspectos da cultura/tradições populares (arquitectura rural; uso e ocupação do solo em
função da litologia, da orografia, da rede hidrográfica, etc.).
- Valor ambiental da ocorrência, enquanto parte integrante duma Área Protegida
ou, de per si, se não inserida em Área Protegida.
- Valor estético: patente na beleza paisagística (local, regional, etc.), na
beleza/espectacularidade de uma ocorrência geológica singular; justifica e determina, em
grande parte, o geoturismo e o turismo da Natureza em geral; valoriza outros aspectos do
património natural; concorre directa ou indirectamente para a aprazibilidade dos lugares e
sua relação com o bem-estar das pessoas, a “inspiração” para actividades literárias e
artísticas, ou outras.
Parece claro, face ao exposto, que aos valores científicos, didácticos e culturais do
Património Geológico se podem associar valores sociais e económicos: a Geodiversidade e
o Património Geológico, para além de constituirem uma importante mais-valia educativa e
cultural para as populações, influenciam, em larga medida, o tipo e a evolução da ocupação
e da actividade antrópica. O conhecimento do papel da Geologia e adequadas medidas de
geoconservação permitem, assim, melhor aproveitamento dos recursos geológicos, hídricos
e energéticos, ordenamento e gestão integrada do território, adequação dos tipos de uso do
solo (agricultura, vitivinicultura, povoamento vegetal), criação de empregos e ganhos
económicos com actividades relacionados com o geo/ecoturismo e outras formas de lazer
em equilíbrio com a Natureza.
O presente estudo pretende contribuir para que estes aspectos sejam devidamente
enquadrados e optimizados para a região de Óbidos.
V.3. Metodologias usadas As metodologias usadas para este processo, tendo em conta os critérios acima
descritos, foram as seguintes:
i) Recolha de elementos bibliográficos e estudos de campo e subsequente redacção
de textos descritivos e explicativos da geologia da região de Óbidos: um texto mais
aprofundado, com abordagem científica, embora sintética, dos vários aspectos geológicos,
111
realce da geomorfologia e da evolução da Lagoa de Óbidos; elaboração de textos
simplificados de apoio aos Geo-Sítios e Geo-Percursos propostos, que se reunem aqui.
ii) Recolha e tratamento de dados cartográficos, incorporando-os de forma a
interpretar a geomorfologia da região e para a criação de percursos temáticos, que traduzam
a vontade e os objectivos traçados no início deste processo. Os produtos resultantes deste
processo são mapas temáticos acerca da Geomorfologia e Geologia da região, os quais
podem ser utilizados pela população em geral, com circuitos delineados que ligam os
Locais com Interesse Geológico (ou Geo-Sítios) escolhidos para este processo.
iii) Reconhecimento de campo, de modo a efectuar uma recolha de base para o
trabalho de inventariação de sítios com interesse geológico. Estes locais sofreram uma
selecção tendo em conta a representatividade e raridade no terreno, a espectacularidade na
exposição da Geologia e Geomorfologia no campo, a localização geográfica e o grau de
conservação dos elementos geológicos.
Os elementos coligidos neste processo de inventariação destinam-se a inclusão em
percursos explicativos do ambiente natural desta região, a ser usados como suporte e prova
da variedade e do valor do espólio natural geológico da região e da sua relação com as
diferentes entidades que se lhe sobrepõem, tais como a flora, fauna e ocupação humana.
Contribui-se assim, também, para o enriquecimento da preparação do processo de
candidatura a classificação final do Concelho de Óbidos a Património Mundial.
V.4. Geossítios indicados
V.4.1. Aldeia de Dagorda Nesta localidade é de assinalar a única ocorrência, numa exploração abandonada na
Aldeia de Dagorda, da Formação dos Lignitos e Diatomitos do Espadanal pertencente ao
“Complexo Astiano de Nadadouro e Águas Santas” e às “Camadas Vila-franquianas com
lignitos e diatomitos” de Rio-Maior, Óbidos, etc., de idade pliocénica. É um afloramento
com algum interesse geológico visto representar as características de um ambiente
sedimentar (fluvio-lacustre) que existia no Pliocénico. Da base para o topo da sequência
observa-se: i) diatomito negro com leitos de lignito; ii) lignito maçico no que parece ser
uma pequena bacia de acumulação; iii) argilas finas e massa de diatomito cinza claro (Fig.
V.1. e V.2.).
Esta unidade pertence ao último período de sedimentação pliocénica e marca um
evento regressivo que favorece a substituição do estilo sedimentar marinho por um estilo
112
continental de água doce. Este conjunto de camadas é constituído essencialmente por
fósseis de diatomáceas no caso dos diatomitos (seres microscópicos de água doce e salgada;
neste caso dominam os de água doce) e por fósseis de plantas, no caso dos lignitos. Estas
camadas encontram-se deformadas, em função do basculamento da estrutura para a atitude
(N20ºE, 20ºNW), neste local.
Figura V.1.: Aspecto da antiga frente de exploração da pedreira na Aldeia de Dagorda. Observam-se diatomitos negros (base), arenitos grosseiros com a presença de um nível carbonoso, os lignitos (centro) e diatomitos brancos (topo). Estas três camadas pretencem às Camadas vilafranquianas com lignitos e diatomitos de Rio Maior.
Interesse Temático: Petrológico (sedimentar), paleontológico (fósseis de plantas e
de diatomáceas), pedagógico (características tipo deste tipo de ocorrência), histórico (valor
e utilização destas matérias primas, cerâmica, energia, cosmética, etc.)
Tipo de Valor: Científico (petrologia, paleontologia, estratigrafia), didáctico
(características tipo), antropológico e arqueológico (acção do homem sobre a paisagem,
antigas indústrias)
Grau de Importância: Neste momento esta ocorrência tem um elevado grau de
importância, vistos os valores, interesses e abundância deste tipo de jazida.
Vulnerabilidade: Actualmente corre o risco de desaparecer devido às
características da sua localização. Estes afloramentos ocorrem numa antiga exploração
destes recursos, sob a forma de um open-pit (exploração a “céu aberto”), a qual se encontra
a ser preenchida por entulho derivado da construção de edifícios.
Protecção/Recuperação: Tendo em conta o avançado estado de “entulhamento”
do local, a sua protecção e recuperação são praticamente inviáveis.
Acessibilidade: Bons acessos até à proximidade do bordo da pedreira. Até ao
afloramento, o acesso é muito mau.
Perigosidade: Elevada devido à existência de inúmeros materiais cortantes
(fragmentos de cerâmicas de casa de banho, por exemplo), e de descargas periódicas de
entulho para dentro da antiga exploração.
113
Figura V.2.: Vista geral sobre o afloramento da Figura V.1.. Observa-se o reaproveitamento da antiga exploração para depósito de entulho proveniente da construção civil. Esta propriedade pertence a uma empresa de construção civil sedeada neste local. Este afloramento encontra-se em risco iminente de desaparecimento, sendo, neste momento, a única ocorrência de um afloramento exemplificativo desta unidade estratigráfica. É também o único local onde se observa uma antiga exploração de diatomitos e lignitos na região de Óbidos, famosos nesta região.
V.4.2. Moinho de Dagorda Este cabeço, conhecido por diversos autores desde o século XIX, apresenta o
corte-tipo da Formação de Dagorda, incluindo o seu termo superior (Dolomitos em
plaquetas) e, possivelmente, o contacto com as camadas iniciais do Sinemuriano
(Dolomitos). A Formação de Dagorda apresenta-se muito deformada, sendo impossível
discernir alguma réstia de estratificação original. Os níveis em plaquetas são laminitos e
brechas (sedimentos microbianos, com dessecação e deformação sinsedimentar e
tectónica?). A passagem para os possíveis primeiros níveis dos Dolomitos do Sinemuriano
faz-se através de uma superfície tectonizada derivada, provavelmente, da tectónica salina.
Assim, o limite é apenas aparentemente concordante (Fig. V.3., V.4. e V.5.).
Figura V.3.: Corte do cabeço do Moinho de Dagorda, baseado nos dados de campo recolhidos. Podem observar-se esquematicamente todos os aspectos mais evidentes no campo, apresentados neste trabalho.
114
A génese deste elemento topográfico deve-se ao efeito de erosão diferencial que
actua directamente sobre os dolomitos no topo, e as argilas salíferas na base (Fig. V.6.). A
maior resistência da rocha dolomítica favorece a sua conservação no topo das morfologias
geradas por este processo; no sopé dos cabeços encontram-se frequentemente as rochas
mais susceptíveis à erosão como as argilas salíferas. Como se pode constatar, este é um
óptimo local para compreender a formação destes elementos de resistência à erosão,
fazendo a relação com os outros elementos que compõem a paisagem local. Pode verificar-
se que os relevos de resistência do interior do Vale Tifónico se encontram alinhados
segundo a direcção NE-SW.
Figura V.4.: A – Escape de uma porção da massa argilo-salífera da Formação de Dagorda através das camadas dolomíticas do topo desta formação; B – Pormenor da deformação criada neste processo, com a inversão das camadas dolomíticas através de dobramento.
Figura V.5.: Vista da vertente leste do cabeço do Moinho de Dagorda, mostrando o aspecto tipo do afloramento da Formação de Dagorda. A descrição e o estudo das características deste local remontam ao século XIX, fortalecendo a importância científica histórica presente neste local.
Interesse Temático: Petrológico (formação das margas, dolomias e evaporitos),
estratigráfico (ambientes deposicionais, contacto Hetangiano – Sinemuriano aparente),
mineralógico (gesso, halite e quartzo bipiramidal), tectono-estrutural (argilo e halocinese,
contactos mecânicos, dolomias dobradas), geomorfológico (relevos no centro do Vale
Tifónico.), histórico (moinhos e antigas explorações).
Tipo de Valor: Científico, didáctico, antropológico e arqueológico.
115
Grau de Importância: Tem uma importância elevada devido à agregação das
características mais importantes deste tipo de cabeço e, da importância científica histórica.
Vulnerabilidade: Medianamente vulnerável. A única pressão a assinalar é a
existência de uma pista de motociclos no topo do cabeço e em redor do moinho.
Protecção/Recuperação: De fácil protecção e recuperação como espaço de
observação da natureza (biologia, geologia, geomorfologia), com a capacidade de poder
acolher um percurso próprio.
Acessibilidade: Média a boa.
Perigosidade: Baixa, com a excepção da zona de exploração cuja perigosidade
aumenta para média a elevada.
Figura V.6.: Características do contacto entre os dolomitos (topo) e as argilas (base) da Formação de Dagorda, na vertente sul do cabeço do Moinho de Dagorda, aqui evidenciadas na frente de uma antiga exploração. Pode constatar-se neste local que o contacto entre os dois membros desta formação é mecânico, derivado da migração horizontal das massas argilo-salíferas. Este contacto em pseudo-concordância, foi possivelmente reactivado muitas vezes ao longo do tempo dificultando uma interpretação completa deste contacto. No extremo leste do afloramento observa-se uma estrutura em book-shelf, gerada durante o processo de remobilização das massas diapíricas em profundidade.
V.4.3. Areeiro Pliocénico (Dagorda) Este local mostra as características típicas do Pliocénico marinho, pertencente à
série inferior descrita por Zbyszewski e Moitinho de Almeida (1960). O seu conjunto é
caracterizado pela presença de fácies marinhas de foreshore e backshore, com uma
estratificação laminada basculada. A fácies foreshore mostra uma atitude (N30ºE, 30NW) que
indica que o conjunto está basculado, com a amplificação da inclinação da laminação. A
fácies backshore, por seu lado apresenta-se sub-horizontal, comprovando o basculamento do
conjunto do Pliocénico. Estes depósitos marinhos mostram um arenito micáceo com
intercalações conglomeráticas (bichouro). Este fenómeno marca variações periódicas na
velocidade de transporte em meio marinho, produto de eventos tempestuosos ou os
impulsos de uma regressão marinha maior. A passagem dos feixes foreshore para backshore
faz-se através de uma descontinuidade erosiva, que marca a passagem da sedimentação de
praia intertidal (foreshore) para uma praia supratidal (backshore) (Fig. V.7. e V.8.).
116
O topo desta sequência observada neste areeiro pertence ao Quaternário, que
trunca as camadas pliocénicas através de uma superfície erosiva, sobre a qual foi depositado
um conjunto menos estruturado de cor avermelhada com argilas e calhaus mal calibrados,
as Rañas.
Figura V.7.: Aspecto geral da frente de exploração abandonada num areeiro entre a Aldeia de Dagorda e Sobral da Lagoa. Observa-se a truncatura de um depósito quaternário sobre as areias marinhas pliocénicas.
Interesse Temático: Petrológico (Depósitos marinhos), estratigráfico (ambientes
deposicionais, contacto Pliocénico – Quaternário, variação vertical e lateral de fácies,
variação do nível do mar), tectono-estrutural (basculamento do Pliocénico).
Tipo de Valor: Científico, didáctico.
Grau de Importância: A sua importância (baixa a média) está directamente ligada
à compreensão dos movimentos associados à variação de fácies ao longo do Pliocénico, em
conjunto com os afloramentos de Dagorda.
Vulnerabilidade: Medianamente vulnerável. A única pressão a assinalar é a acção
dos agentes meteorológicos sobre o afloramento.
Protecção/Recuperação: De fácil protecção e recuperação.
Acessibilidade: Média a boa.
Perigosidade: Baixa.
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Figura V.8.: A – Aspecto da fácies típica presente nas areias pliocénicas, com feixes foreshore (parte virada para o oceano de uma barra arenosa) e backshore (o mesmo, mas para o continente) truncados por um depósito conglomerático de idade quaternária (Plisto-Holocénico); B – Aspecto de uma falha, produto da neo-tectónica, que afecta os depósitos marinhos pliocénicos.
V.4.5. Pedreira do Rio Real Esta pedreira mostra as características típicas do bordo do Vale Tifónico das Caldas
da Rainha. O contacto aparente do Jurássico Médio a Superior sobre a Formação de
Dagorda é aqui evidente. A passagem destas últimas para o conjunto superior faz-se através
de uma unidade tectonizada, de cor amarelo-esbranquiçada, cujas figuras tectónicas,
apresentam uma disposição aparentemente vertical, paralela à clivagem associada ao
cisalhamento. Por cima desta unidade observam-se calcários e margas de cor amarelo-
alaranjada de idade caloviana (Dogger), sobrepostas pelos calcários fossilíferos do Malm
(Oxfordiano) (Fig. V.9.). Estes últimos apresentam uma truncatura estratigráfica que
encosta às margas do Dogger. Pode pressupor-se que nesta altura os movimentos
halocinéticos tiveram um papel muito importante na distribuição dos ambientes
sedimentares na região. Também se encontra a afectar o Malm um paleocarso preenchido
por sedimentos areníticos finos, laminados, que se apresenta extremamente deformado
devido à compressão que afecta toda a região (Fig. V.10.). Estão referidos trilhos de
pegadas de dinossáurios nalguns dos níveis superiores desta pedreira.
Do ponto de vista da geomorfologia, aqui podem observar-se os efeitos da erosão
diferencial entre o bordo e o centro do Vale Tifónico das Caldas da Rainha, e o efeito da
sobreimposição e antecedência da rede de drenagem.
118
Figura V.9.: Características típicas do bordo ocidental do Vale Tifónico das Caldas da Rainha. Pode constatar-se que ocorreram movimentos diapíricos ainda no decorrer do Oxfordiano, vista a truncatura sedimentar observada, a qual evidencia a existência de uma paleo-geografia com a elevação dos terrenos a leste deste local, no sítio exacto onde afloram as massas argilo-salíferas da Formação de Dagorda.
Interesse Temático: Petrológico (Depósitos marinhos), estratigráfico (ambientes
deposicionais, contacto Malm – Dogger, paleocarsificados), tectono-estrutural
(cavalgamento no bordo do Vale Tifónico, indicadores cinemáticos, dobramento em
calcários e margas).
Tipo de Valor: Científico, didáctico.
Grau de Importância: A sua importância média a elevada está ligada à
compreensão dos movimentos halocinéticos e tectónicos, que marcam a evolução antiga e
actual do Vale Tifónico das Caldas da Rainha.
Vulnerabilidade: Muito vulnerável. A única pressão a assinalar é a acção do ser
humano com o decorrer da exploração da pedreira.
Protecção/Recuperação: De fácil protecção e recuperação, tendo em conta as
características actuais do local.
Acessibilidade: Média a boa.
Perigosidade: Elevada, derivada da movimentação constante de maquinaria
pesada e de fortes inclinações das paredes de exploração que apresentam alguma
instabilidade.
119
Figura V.10.: A – Paleocarso oxfordiano (?). Neste período ocorreu a exumação das unidades do Jurássico Médio neste local, provocando a erosão (carsificação) e deposição de sedimentos finos no interior das cavidades então geradas; B – Pormenor da caixa de falha que separa as argilas vermelhas da Formação de Dagorda (a leste, no interior do Vale Tifónico) e os Calcários do Sobral da Lagoa (a oeste, na bordadura). Ocorre uma mistura parcial das duas unidades, provocando em simultâneo a geração de figuras tectónicas em conformidade com os movimentos tectónicos e diapíricos que afectaram a região.
V.4.6. Ribeira em Camarnais Bordo sul do Vale Tifónico das Caldas da Rainha. Observa-se mais uma vez o
contacto aparente entre o Malm e o Lias (Formação de Dagorda). Este local apresenta
diversas características com elevado interesse tectono-estratigráfico. Podemos observar
junto a este contacto tectónico, um pequeno fragmento de um conglomerado pliocénico
que se encontra aparentemente fora do sítio e, provavelmente, verticalizado (Fig. V.12.B).
As relações de corte entre as rochas jurássicas do bordo do Vale Tifónico e as rochas
pliocénicas e quaternárias facultam uma interpretação mais generalizada para a região do
Vale Tifónico. Observam-se também inúmeros depósitos quaternários que adornam
pequenos ravinamentos antigos, assim como a ribeira de Camarnais. Neste local é de
salientar a recente e intensa incisão da ribeira sobre os sedimentos mais recentes e sobre o
Jurássico, reforçando a sensação de instabilidade tectónica/variação do nível de base. Não
se conhecem causas naturais recentes para a ocorrência deste evento (Fig. V.11. e V.12.A).
Ao nível dos ambientes sedimentares do Jurássico, este vale poderá mostrar
variações de maneira rigorosa. Podem-se observar inúmeras estruturas sedimentares
pertencentes a fácies de plataforma carbonatada, sendo estas que, em conjunto com o
conteúdo paleontológico que normalmente as acompanha (algas, corais, gastrópodes, etc...),
mostram as variações dos ambientes deposicionais em função do clima e relevos antigos
(variações verticais e laterais).
120
Tal como no caso anterior pode observar-se o efeito que a erosão diferencial tem
na genese das morfologias do Vale Tifónico, que cria tanto os relevos do seu interior como
o desnível existente entre o seu bordo e o interior.
Figura V.11.: Encaixe acentuado na desembocadura da ribeira de Camarnais, no interior do Vale Tifónico das Caldas da Rainha.
Interesse Temático: Petrológico (génese e estrutura dos depósitos marinhos),
estratigráfico (ambientes deposicionais, contacto aparente Malm – Lias, variação vertical e
lateral de fácies, variação do nível eustático, discordâncias e descontinuidades), tectono-
estrutural (basculamento e cisalhamento a afectar o Jurássico e o Pliocénico)
geomorfológico (características da incisão pronunciada do rio em função da estrutura
geológica existente).
Tipo de Valor: Científico, didáctico, paisagístico.
Grau de Importância: Importância media, útil para a compreensão das estruturas
sedimentares e tectónicas actuais e antigas, que marcam a evolução do Vale Tifónico.
Vulnerabilidade: Medianamente vulnerável. A única pressão a assinalar é a acção
dos agentes erosivos sobre o afloramento e as descargas de lixo doméstico e entulho na
ribeira.
Protecção/Recuperação: De fácil protecção e recuperação.
Acessibilidade: Média a boa.
Perigosidade: Média a elevada, consoante a zona e o trajecto ao longo da Ribeira.
121
Figura V.12.: A – Aspecto da incisão recente da Ribeira de Camarnais, que afecta os depósitos quaternários aluvionares e os Calcários do Oxfordiano. Este fenómeno marca um aumento da capacidade erosiva da ribeira, relacionado com uma alteração brusca das características que regulam o seu funcionamento; B – Relações geométricas entre as diversas unidades presentes neste local. Observa-se que a unidade pliocénica aqui presente se encontra verticalizada e ligeiramente cavalgada.
V.4.7. Columbeira Local de observação do tipo de meteorização criada pela água nos calcários. O
processo de carsificação é facilmente identificado pelo aparecimento de Lapas e Grutas
escavadas naturalmente pela acção das águas subterrâneas. Este local torna-se importante
para a compreensão da evolução geomorfológica pós-pliocénica da região. Aqui observa-se
o produto do efeito da carsificação que a afecta. A presença de lapas e grutas evidencia a
circulação de águas subterrâneas, facultando a dissolução e precipitação de carbonato de
cálcio presente nas rochas calcárias do Jurássico do Planalto de Cesareda. Olhando para
norte pode-se constatar que ocorrem com frequência deslizamentos de material
(avalanches) marcados por cicatrizes de avalanche e cascalheiras dispostas ao longo das
vertentes da Ribeira de Columbeira (Fig. V.13.). Outro efeito que se pode observar é o da
erosão diferencial que afecta todo o Vale Tifónico.
As Lapas e Grutas estão actualmente bem assinaladas, mas o percurso criado
necessita de reabilitação. Como no caso anterior, é possível identificar as fácies típicas dos
períodos Malm – Dogger, que bordejam o Vale Tifónico (Fig. V.14.). Neste local também
se podem tirar conclusões relativas ao modelado Geomorfológico do Vale Tifónico, mas
também de regiões calcárias em geral.
Figura V.13.: Vista para nordeste a partir do bordo sul do Vale Tifónico na região da Columbeira. Nesta encosta observa-se a presença de inúmeras marcas de deslizamento de material rochoso ao longo da encosta, criando avalanches sazonalmente. Esta característica é bastante comum ao longo das encostas mais inclinadas do Bordo do Vale Tifónico das Caldas da Rainha.
122
Interesse Temático: Geomorfológico (encaixe da linha de água, carsificado),
histórico (azenhas, canais de transporte de água, utilização das grutas).
Tipo de Valor: Didáctico, paisagístico.
Grau de Importância: Importância baixa a média. Observação de estruturas
relacionadas com o movimento das águas subterrâneas em calcários e a importância destes
para a recarga das reservas de água para consumo.
Vulnerabilidade: Medianamente vulnerável. A única pressão a assinalar é a acção
dos agentes erosivos sobre o afloramento.
Protecção/Recuperação: De fácil protecção e recuperação. Dada a existência de
um percurso bem delineado, apenas será necessária a sua reabilitação de forma enquadrada
com a natureza.
Acessibilidade: Média a boa.
Perigosidade: Média a elevada, consoante a zona do percurso, que por vezes
apresenta perigos de maior grau como a instabilidade de algumas vertentes.
Figura V.14.: A – Lapa do Suão; B – Gruta do Caixão. Estes são exemplos de como o processo de carsificação afecta a região, escavando a rocha em profundidade com a passagem de rios subterrâneos. Estas grutas já tiveram ocupação humana ao longo do Plisto-Holocénico, servindo de abrigo e local sacro ao longo da história do Homem, nesta região.
V.4.8. Castelo de Óbidos No centro do Vale Tifónico e na região onde ele é mais estreito, ocorre o cabeço
mais saliente. À semelhança com o que acontece no cabeço do Moinho de Dagorda,
observamos aqui a sequência e o corte tipo de um cabeço liásico do Vale Tifónico das
Caldas da Rainha. Desta forma encontramos no topo deste o Hetangiano-Sinemuriano?
com as suas fácies típicas de sabkha cujos dolomitos apresentam inúmeras estruturas sin-
123
sedimentares, tais como laminação fina intercalada e interdigitada com bancadas que
sofreram brechificação hidráulica, slumps, marcas de dessecação e estratificação convoluta.
A base deste cabeço é composta pelos argilitos gesso-salíferos da Formação de Dagorda,
que apresentam, tal como noutros locais, uma continuidade estratigráfica aparente com o
Sinemuriano (Fig. V.15., V.16. e V.17.).
Figura V.15.: Corte do cabeço do Castelo de Óbidos. Mostra a estrutura dobrada observada neste local e relação com as argilas da base da Formação de Dagorda.
Como já foi referido, este fenómeno é produto da tectónica compressiva Alpina em
conjunto com os movimentos horizontais argilo e halocinéticos. Este conjunto de situações
geodinâmicas provoca também o dobramento intenso das camadas sinemurianas,
favorecendo a sua conservação como relevos de resistência à meteorização físico-química.
Como consequência, observam-se ao longo do Vale Tifónico diversos cabeços como este,
que apresentam uma orientação entre N20ºW e N20ºE, em concordância com a estrutura
interna observada.
124
Figura V.16.: Aspecto do afloramento na enconsta norte do Castelo de Óbidos. Observam-se as variações verticais de fácies presentes nas unidades dolomíticas da Formação de Dagorda. A estratificação vertical evidencia o basculamento da estrutura com as compressões alpinas e os movimentos diapíricos das massas evaporíticas no interior do Vale Tifónico. A presença de figuras como slumps e estratificação brechificada evidenciam instabilidade tectónica sin-sedimentar durante o Sinemuriano.
Interesse Temático: Petrológico (formação das margas, dolomias e evaporitos,
estruturas sedimentares), estratigráfico (ambientes deposicionais triásicos e liásicos,
contacto Hetangiano – Sinemuriano aparente), mineralógico (gesso, halite e quartzo
bipirâmidal), tectono-estrutural (tectónica alpina, argilo e halocinese, contactos mecânicos,
dolomias dobradas), geomorfológico (relevos no centro do Vale Tifónico, paisagem
envolvente), histórico (Castelo e vila de Óbidos).
Tipo de Valor: Científico, didáctico, paisagístico, antropológico e arqueológico.
Grau de Importância: Importância média a alta. Local tipo para a compreensão
das estruturas associadas aos movimentos argilo-halocinéticos em função da compressão
alpina e das estruturas sedimentares típicas de ambientes áridos a semi-áridos com a
evolução primordial de um rift.
Vulnerabilidade: Medianamente vulnerável. A única pressão a assinalar é a acção
dos agentes erosivos sobre o afloramento.
Protecção/Recuperação: De fácil protecção, já que actualmente é um local de
frequentes visitas, encontrando-se por isso reabilitado.
Acessibilidade: Média a boa.
Perigosidade: Média.
125
Figura V.17.: Pormenores observados ao longo do cabeço do castelo. A – Slump indicando o sentido de deslizamento ao longo de uma encosta; B – Aspecto da estratificação com e sem brechificação por pressão de fluidos.
V.4.9. Pedreira Avarela 1 A norte da Vila de Óbidos encontram-se ainda em exploração algumas gesseiras
com vista a utilização do gesso na construção civil. Neste local é possível observar-se e
estudar de que forma aparecem as jazidas de gesso e sal, sob a forma de mineral maciço
correspondente à acumulação de sais evaporíticos em domas salinos através do processo de
diapirismo. Estas acumulações anómalas são o produto dos movimentos horizontais e
verticais das massas evaporíticas, as quais se agregam em bolsas em função do espaço
criado no decorrer de um evento compressivo, como em dobras por exemplo. Nesta mina
é possível observar a estrutura das massas salinas, altamente dobradas e cisalhadas, que
induzem uma zonação química com bandas anóxicas e outras oxidadas. Também é possível
perceber de que forma a exploração evoluiu, desde a exploração em galerias (que se ainda
observam e servem como locais de armazenamento) até à exploração a céu aberto.
Apresenta também algumas singularidades do ponto de vista mineralógico, com o
aparecimento nas regiões mais anóxicas de pirites com formas cristalinas muito
interessantes (Fig. V.18.).
126
Figura V.18.: A e B – Aspecto da exploração activa desta gesseira. Pode observar-se que a exploração neste local evoluiu de galeria para céu aberto. Em B pode ainda constatar-se a deformação provocada pela intrusão de um doma diapírico arqueando o topo da sequência.
Interesse Temático: Petrológico (formação dos evaporitos), mineralógico (gesso,
halite e pirite), tectono-estrutural (tectónica alpina, argilo e halocinese, contactos
mecânicos, gesso deformado), histórico (evolução da importância deste tipo de recursos
para a região).
Tipo de Valor: Científico, didáctico, antropológico e arqueológico.
Grau de Importância: Importância média a alta. Imprescindível para a
compreensão das estruturas associadas aos movimentos argilo-halocinéticos em função da
compressão alpina e da forma como estes fenómenos são importantes para a concentração
anómala de minerais evaporíticos.
Vulnerabilidade: Muito vulnerável. Devido ao tipo de exploração.
Protecção/Recuperação: De difícil protecção e recuperação. Como actualmente
é uma exploração activa, a acção de reabilitação poder-se-ia iniciar com visitas didáctico
científicas ao local, onde a própria empresa teria o interesse em mostrar o valor patrimonial
que lhe pertence. Desta forma, a criação de um eixo de compreensão entre entidades
(privadas e púbicas) para a divulgação deste tipo de património, serviria para valorizar tanto
os trabalhos de mineração como os trabalhos de reabilitação.
Acessibilidade: Média a boa.
Perigosidade: Média.
V.4.10. Praia da Rocha do Gronho Nesta arriba desta praia, a sul da Foz da Lagoa de Óbidos, encontra-se um conjunto
considerável de feixes de paleocanais fluviais do Cretácico. Este afloramento prolonga-se
para sul, mostrando uma boa continuidade ao longo da linha de costa. Devido às suas
127
características e localização, este local torna-se importante do ponto de vista científico e
didáctico, dado que se observam as fácies características do período Cretácico (Fig. V.19. e
V.20.).
Este afloramento rochoso é composto por conglomerados, arenitos e argilitos
dispostos em figuras de canais entrançados, com as respectivas componentes estratigráficas
e sedimentares. Desta forma podem-se individualizar os canais em sentido estrito, através
da presença de um conglomerado na base do canal; este vai sendo colmatado por
sedimentos cada vez mais finos, como as areias. Este processo é acompanhado pelo
aumento da estruturação sedimentar em feixes entrecruzados e laminações sub-horizontais,
respectivamente, da base para o topo. Lateralmente a estes canais observam-se as antigas
planícies de inundação, marcadas por sedimentos finos (siltes e argilas) de coloração negra
e restos de vegetais. Estas planícies de inundação estão marcadas pela presença de rico
conteúdo fóssil de origem vegetal, que inclui troncos de árvores incarbonizados, com uma
cor negra a cinza-escuro características. Incluídos nestes níveis argilo-siltosos negros
encontramos pirite (sulfureto de ferro) e enxofre nativo, indicadores de um ambiente
anóxico para estes sedimentos A disposição destes canais no espaço (lateralmente) e no
tempo (verticalmente), mostra um sistema fluvial estuarino deltaico, com um padrão de rios
entrecruzados, que estão constantemente a mudar de sentido e direcção, acabando por se
truncarem quer lateral quer verticalmente (Fig. V.20.).
A beleza estética deste afloramento de rochas cretácicas está marcada pela possança
desta arriba e pelas colorações diversificadas (ocres, amarelos, cinzas, vermelhos,
arroxeados, etc.). De salientar, ainda, a presença de uma duna consolidada (fóssil) de idade
plisto-holocénica (?) encostada ao bordo norte desta arriba.
Figura V.19.: Panorama sobre a arriba na Praia da Rocha do Gronho. Pode observar-se uma duna consolidada do Plisto-Holocénico (Quaternário) encostada à face norte desta arriba. Ao longo desta arriba é possível identificar-se as estruturas fluviais características de um ambiente deltáico no Cretácico inferior.
128
Interesse Temático: Petrológico (fácies sedimentares fluviais), estratigráfico
(paleo-climatologia, paleo-correntes e paleo-geografia do Cretácico continental),
geomorfológico (evolução da linha de costa).
Tipo de Valor: Científico, didáctico, paisagístico.
Grau de Importância: Importância média a alta. Essencial para a compreensão
das estruturas sedimentares num ambiente dominado por um delta fluvial. Evolução paleo-
geográfica da região. Abrasão marinha.
Vulnerabilidade: Muito vulnerável. Sob forte acção da abrasão marinha.
Protecção/Recuperação: De difícil protecção e sem necessidade de recuperação.
A protecção para este tipo de locais passa apenas por se gerir a erosão natural da falésia,
dado esta também ser um fenómeno natural.
Acessibilidade: Média a boa.
Perigosidade: Média a alta, tendo em conta a instabilidade da falésia.
129
Figura V.20.: Aspectos comuns observáveis ao longo da arriba da Praia da Rocha do Gronho: A – Remobilização parcial de um leito de inundação por um episódio de alta energia hidrodinâmica; B - Truncatura erosiva da base de um canal fluvial sobre canais mais antigos, marcando as migrações laterais e verticais num sistema deltaico; C – Aspecto de uma aluvião de um episódio tempestuoso, o qual produz o aumento da energia hidrodinâmica e consequente remobilização dos sedimentos subjacentes. Pode ser observada a inclusão de resíduos de leito de inundação sob a forma de litoclastos argilosos. A posteriori ocorreu a impregnação destes sedimentos por enxofre nativo e pirite (D), mostrando um ambiente anaeróbio, também constatado pela presença de fósseis de vegetais incarbonizados (E).
V.4.11. Praia do Rei Cortiço Conjunto de afloramentos em continuação para sul com os afloramentos da Praia
da Rocha do Gronho. Devido à sua posição geográfica e acessibilidade, este local apresenta
melhores condições do que o local anterior.
À semelhança do que acontece na praia a norte, este conjunto de afloramentos que
constituem a arriba marinha, apresenta as características base do Cretácico continental
(deltaico) como as acima descritas. A baixa altura da arriba facilita o acesso à informação,
que em simultâneo com o basculamento geral das camadas para sul, pode-se observar uma
parte da sequência deltaica ao longo da praia, para sul, da base para o topo.
Também é o local onde se iniciam os campos de dunas, actualmente em risco
devido à pressão turística da região (Bom Sucesso, Praia d’El Rei). Este é um bom local,
ainda em estado relativamente selvagem, para se estudar a evolução de um campo de dunas
assim como a evolução da linha de costa ao longo dos tempos mais recentes. À semelhança
da paragem anterior, estas arribas assumem uma beleza estética derivada da diversidade de
tons, relacionados com os diferentes episódios sedimentares e com a posterior alteração
supergénica, que oxida muitos níveis incarbonizados enriquecidos em pirite e fósseis (Fig.
V.21. e V.22.).
Figura V.21.: A – Corte tipo ao longo da faixa costeira a sul da Praia do Rei Cortiço. Podem ser observadas as características do ambiente sedimentar neste período geológico. Aqui destacam-se dois episódios de paragem na sedimentação e/ou erosão, que separam três episódios sedimentares com características hidrodinâmicas distintas. Neste local também se observa a estruturação interna dos canais deltaicos, com as suas truncaturas sedimentares, estruturas em teepee, etc.; B – Aspecto de um canal fluvio-deltaico (secção
130
transversal) truncado superiormente por um canal (em secção longitudinal) que efectuou transporte perpendicularmente ao canal inferior
Interesse Temático: Petrológico (fácies sedimentares fluviais cretácicas e dunares
actuais), estratigráfico (paleo-climatologia, paleo-correntes e paleo-geografia do Cretácico
Continental), geomorfológico (evolução da linha de costa, campos de dunas).
Tipo de Valor: Científico, didáctico, paisagístico.
Grau de Importância: Importância média a alta. Essencial para a compreensão
das estruturas sedimentares num ambiente dominado por um delta fluvial. Evolução paleo-
geográfica da região. Abrasão marinha.
Vulnerabilidade: Muito vulnerável. Sob forte acção da abrasão marinha.
Protecção/Recuperação: De fácil protecção e sem necessidade de recuperação. A
protecção para este tipo de locais passa apenas por se gerir a erosão natural da falésia, dado
esta também ser um fenómeno natural de valor imensurável. Neste caso, como no anterior,
a preservação das condições existentes seria o melhor ao nível da valorização deste espaço.
Acessibilidade: Média a boa.
Perigosidade: Baixa a Média, devido à baixa altura da arriba.
Figura V.22.: Dois pormenores da figura anterior (A). A – Truncatura lateral e vertical sinsedimentar de canais fluviais; B – Corte longitudinal na estrutura interna de um canal, mostrando estruturas em flama e teepee, que indicam instabilidade tectónica e escape de fluidos aquando da sedimentação detrítica no decorre do Cretácico inferior.
V.4.12. Mina do Arneiro Terraplanagem da zona onde existia a mina de lignito do Pliocénico. Ainda se
observam alguns restos de diatomito e lignito na zona mais a sul nesta área. Nesta paragem
observa-se um contacto anómalo por uma falha de desligamento entre as Margas vermelhas
da Formação de Dagorda e as areias micáceas do Pliocénico. Esta geometria resulta de pelo
menos dois eventos tectónicos. O primeiro evento caracteriza-se pela intrusão do diapiro
131
margo-salífero da Formação de Dagorda no interior das rochas pliocénicas, alterando e
deformando a antiga superfície de aplanação na qual as areias se depositaram. Este evento
terá decorrido após a deposição das areias micáceas pliocénicas (2Ma), e terá sido
impulsionado pela compressão tectónica Alpina do período Plio-Quaternário. À primeira
vista não se consegue vislumbrar se ocorreu a exumação deste corpo diapírico neste
período.
À posteriori, ocorreu a deslocação da massa diapírica intrusiva na horizontal através
do segundo evento tectónico. Deste resulta a criação de uma falha vertical (N20ºE) com
origem na tectónica Alpina actual. Pode dizer-se com alguma confiança que o
deslocamento se deu de forma sinistrógira (segundo a compressão máxima actual),
provocando a movimentação relativa das margas da Formação de Dagorda de NE�SW,
criando o contacto aqui observado (Fig. V.23.).
Figura V.23.: A – Contacto anómalo vertical de origem tectónica entre a unidade argilosa da Formação de Dagorda e as areias micáceas do Pliocénico; B – Pormenor de A, mostrando que a movimentação da falha teve que ser quase exclusivamente horizontal, visto a alta inclinação do respectivo plano.
Interesse Temático: Estratigráfico (fácies sedimetares do Pliocénico, indicando
uma regressão do nível do mar marcada pela passagem das areias micáceas da base, para os
lignitos e diatomitos do topo do Pliocénico), tectónico (marcas do diapirismo e da
tectónica alpina)
Tipo de Valor: Científico e didático.
Grau de Importância: Importância baixa a média.
Vulnerabilidade: Neste momento a vulnerabilidade é média a baixa. De realçar a
presença de uma exploração agrícola sobre o local e a acção dos agentes meteóricos.
Protecção/Recuperação: Sem estatuto de protecção e/ou recuperação.
132
Acessibilidade: Boa.
Perigosidade: Baixa.
V.4.13. Pedreira Avarela 2 Gesseira em actividade (Fig. V.24.). Neste local pode-se observar o resultado da
actividade argilo-halocinética, com a acumulação e a mobilização de sais, neste caso o
gesso. Aqui o diapiro salino entra em contacto directo com as areias pliocénicas e com os
dolomitos do Hetangiano – Sinemuriano. Estes contactos são aparentemente
estratigráficos, sendo que no último caso em especial, pode-se assumir que o contacto é
tectónico, derivado da movimentação horizontal e vertical das massas diapíricas.
Imediatamente para SE encontramos um afloramento dolomítico, composto por brechas e
laminitos, intercalados com o que parecem paleocanais, dolomito-areníticos, com
estratificação oblíqua e convoluta (Fig. V.25.).
Nas escombreiras da pedreira podemos observar brechas pertencentes às paredes
do encaixante do diapiro, cimentadas por gesso. Esta brecha mostra clastos de diferentes
origens, tais como: rochas vulcânicas básicas, dolomitos, pedaços de margas, etc.
Figura V.24.: Panorama sobre a exploração na gesseira Avarela 2. Aqui podem observar-se diversos aspectos e episódios sedimentares recentes (Pliocénico e Plisto-Holocénico) que cobrem o doma gessífero da Formação de Dagorda.
Interesse Temático: Petrológico (génese e estrutura dos depósitos de sabkha),
estratigráfico (ambientes deposicionais do Hetangiano, do Sinemuriano e do Pliocénico),
tectono-estrutural (estruturas criadas pelo diapirismo, evolução dos fenómenos diapíricos),
mineralógico (gesso, pirite, anidrite?).
Tipo de Valor: Científico, didáctico.
Grau de Importância: Importância média a alta, muito útil para a compreensão
das estruturas sedimentares e tectónicas actuais e antigas, que marcam a evolução do Vale
Tifónico. Relevância para a importância de uma exploração mineira e seus aspectos
positivos e negativos.
133
Vulnerabilidade: Muito vulnerável. Devido ao facto de ser uma exploração activa
que destrói o registo geológico.
Protecção/Recuperação: Tendo em conta as características deste local, a
recuperação e protecção deste local e arredores é relativamente fácil, podendo-se reabilitar
o espaço para que se possa ter alguma actividade após o fim da exploração da mina.
Acessibilidade: Média a boa.
Perigosidade: Média a elevada, devendo-se apenas visitar o local com protecção
adequada e com o acompanhamento de algum guia que conheça bem o local.
Figura V.25.: Aspecto dos dolomitos a oeste da pedreira Avarela 2. Pode constatar-se a presença de laminitos areníticos intercalados com laminitos mais finos, com a produção de figuras de instabilidade tectónica sin-sedimentar, como os slumps.
V.4.14. Crista do Arelho Ao longo desta crista marginal da Lagoa de Óbidos, que pertence ao bordo do Vale
Tifónico, observam-se bons afloramentos da Formação da Figueira da Foz, em secções
longitudinais. Este conjunto mostra a fácies típica desta unidade. Podemos observar
sequências de canais fluviais entrecruzados, muito idênticos aos do Cretácico fluvial, mas
com uma coloração mais vermelha devido a uma maior intensidade de ferruginização.
Estes conjuntos mostram um arranjo em canais com estratificação oblíqua e entrecruzada,
dispostos segundo uma atitude de estratificação (N20ºW, 40ºSW) (Fig. V.26.). Este
basculamento da estrutura deve-se à ascenção do diapiro das Caldas da Rainha e pelas
compressões tectónicas que afectaram a região. Esta sequência prolonga-se para sul, em
direcção à aldeia de Arelho.
Para sul, à entrada da aldeia de Arelho, encontra-se um corte transversal sobre estes
canais, que mostra a distribuição lateral e vertical destes (Fig. V.27.). Ambos os
afloramentos são complementares, visto podermos fazer a projecção tridimensional da
134
estruturação interna destes conjuntos de canais entrecruzados. Estes afloramentos mostram
ser um bom local de estudo da fácies sedimentares fluviais deltaicas, visto ter boa expressão
espacial.
Figura V.26.: Areias deltaicas da Formação de Bombarral. Aspecto típico da fácies presente nestes estratos. Observa-se a variação vertical dos mesmos em cortes longitudinais, que mostram a sua estrutura interna.
Interesse Temático: Petrológico (génese e estrutura dos depósitos fluviais
deltaicos), estratigráfico (ambientes deposicionais, evolução paleoclimática do Jurássico
Superior), tectono-estrutural (basculamento afectar o Jurássico Superior e relação com a
tectónica e a argilo-halocinese) geomorfológico (bordo do diapiro a controlar a forma da
Lagoa e o relevo em redor)
Tipo de Valor: Científico, didáctico, paisagístico.
Grau de Importância: Importância média a alta, visto ser muito útil para a
compreensão das estruturas sedimentares do Jurássico Superior como consequência das
variações climáticas e eustáticas.
Vulnerabilidade: Pouco vulnerável. A única pressão a assinalar é a acção dos
agentes erosivos sobre o afloramento e a presença de pequeníssimas explorações agrícolas
no sopé da crista.
135
Protecção/Recuperação: De fácil protecção e recuperação. As principais medidas
para actuar sobre este local serviriam apenas para conservar as características naturais que
ainda conserva.
Acessibilidade: Média a boa.
Perigosidade: Baixa a média, depende da zona onde se observa o afloramento.
Figura V.27.: Corte transverssal de um canal deltaico. Em conjunto com o afloramento anterior, é possível criar um modelo tridimensional do tipo de depósito criado nestes ambientes sedimentares, assim como das estruturas geradas e sentidos de corrente.
V.4.15. Pedreira do Zambujeiro (Bouro) Nesta pedreira podemos observar um conjunto de rochas muito tectonizado e
diaclasado, com uma série de contactos interessante do ponto de vista estratigráfico e
tectónico. À entrada da pedreira, no lado oeste encontramos um contacto anómalo,
mecânico, do Malm com o Pliocénico. Está marcado por uma falha de atitude (N50ºE,
55ºNW). No lado Este observa-se uma unidade carbonatada que aparenta uma forte
tectonização. Esta encontra-se no topo do afloramento e pode representar uma unidade
tectónica onde se processou parte do cisalhamento responsável pela deformação aqui
observada. No topo deste afloramento pode encontrar-se representada uma unidade
estratigráfica ainda não identificada neste local. O contacto entre esta unidade e a
subjacente faz-se de forma discordante, e mostra um basculamento para norte,
evidenciando deformação pós-deposicional. De acordo com as características
mesoscópicas, esta unidade é composta por um arenito com cimento carbonatado com
uma estruturação interna bem marcada. Estes elementos levam a crer que esta unidade
136
pertencerá à Formação de Cabaços da base do Malm, que se depositou após a criação de
um modelado cársico que afectou os calcários do Dogger. Assim, a discordância terá uma
idade compreendida entre as idades das respectivas formações (Fig. V.28. e V.29.).
Figura V.28.: Corte esquemático da pedreira abandonada de Zambujeiro. Ver fotografias e texto para melhor compreensão deste corte.
A sul desta pedreira abandonada encontra-se em franca actividade uma pedreira
com uma dimensão considerável. É usada para a exploração dos calcários do Malm. Nesta
pedreira podemos identificar diversos contactos e relações entre as diferentes unidades do
bordo e do núcleo do Vale Tifónico das Caldas da Rainha. Pode-se observar numa das
frentes de exploração a norte da pedreira, a seguinte disposição: Malm (topo e oeste),
Pliocénico (?), Formação de Dagorda (base e em direcção ao centro do Vale, a leste).
Na extremidade sul desta pedreira activa encontra-se, em contacto discordante, uma
unidade pliocénica marinha, composta por areias micáceas (Chico Fininho) e conglomerados
(Bichouro) típicos de fácies marinhas proximais evidenciando uma deposição com uma
variação relativamente rápida das condições de sedimentação e transporte.
Para terminar, é ainda possível identificar mais um local com interesse geológico. A
sul da pedreira da SEBOP pode ser visível outra exploração de calcários abandonada (Fig.
V.30.A). No topo das frentes de exploração identifica-se um paleo-carso de idade
indeterminada, que mostra as características tipo da alteração das rochas carbonatadas pelas
águas meteóricas. Ocorre posteriormente a sedimentação de um tufo calcário caracterizado
pela sua típica coloração avermelhada. Estes sedimentos são comummente conhecidos
como Terra Rossa, que significa “terra vermelha” (Fig. V.30.B).
137
Figura V.29.: A – Pedreira abandonada de Zambujeiro, com carsificação durante o Oxfordiano (?), depositando uma unidade ainda não identificada, cujas características petrográficas são semelhantes às da Formação de Cabaços. Este conjunto encontra-se basculado e intensamente fracturado, produto das tectónicas compressivas e dos movimentos argilo-halocinéticos; B – Pormenor do paleocarso aqui observado.
Interesse Temático: Estratigráfico (ambientes deposicionais, evolução
paleogeográfica do Vale Tifónico) tectono-estrutural (basculamento e estruturas de
cisalhamento a afectar o Malm e o Pliocénico e relação com a tectónica alpina e a argilo-
halocinese), geomorfológico (bordo influencia da tectónica e da litologia como agente
modelador do relevo), histórico (diferentes necessidades e explorações ao longo do tempo).
Tipo de Valor: Científico, didáctico, paisagístico.
Grau de Importância: Importância (média a alta) para valorizar o papel da
tectónica alpina ao longo do Meso-Cenozóico no processo de diapirismo dos “pacotes”
evaporíticos do Triásico – Hetangiano. Também é importante do ponto de vista das
relações geométricas entre unidades estratigráficas.
Vulnerabilidade: Muito vulnerável, devido à intensa exploração que aqui se
observa.
Protecção/Recuperação: As pedreiras abandonadas podem ser um bom local
para o estudo das estruturas tectónicas e sedimentares ao longo do tempo. A sua protecção
e recuperação podem passar pela reabilitação destes locais de forma a torná-los mais
agradáveis a visitas.
Na pedreira em exploração, a sua actividade é o principal entrave à recuperação e
protecção. É por isso necessário que a reabilitação deste tipo de locais seja feita tendo em
vista a valorização do terreno após perder o interesse económico. Poderá ser feita a
reutilização do espaço como área de estudo e de lazer.
138
Acessibilidade: Média a boa.
Perigosidade: Pedreiras abandonadas: média a alta, depende da zona onde se
observa o afloramento. Pedreira activa: elevada, devido ao normal funcionamento deste
tipo de exploração, devendo-se apenas visitar com as devidas precauções e protecções,
assim como o acompanhamento de uma pessoa que conheça bem o local, como um
funcionário da SEBOP.
Figura V.30.: A – Aspecto das fácies marinhas pliocénicas na pedreira activa da SEBOP; B – Pedreira abandonada a sul da pedreira anterior, com as rochas jurássicas bastante fracturadas e afectadas pela carsificação actual e antiga.
V.4.16. Vale de Tornada Nesta ribeira do bordo sul do Vale Tifónico, encontram-se muitos aspectos com
especial relevância. A sua diversidade de aspectos quer naturais quer antropológicos,
conferem-lhe singularidade perante outros locais idênticos.
Desta forma pode-se observar logo na desembocadura da ribeira para o Vale
Tifónico, o contacto tectonizado típico entre a Formação de Dagorda na base, e os
calcários do Oxfordiano no topo. Este contacto é marcado pela presença de uma unidade
tectonizada que faz a passagem das rochas do Oxfordiano para as margas hetangianas
(Figura V.31.). A montante podem-se identificar as variações laterais e verticais presentes
nas fácies carbonatadas das rochas do Oxfordiano do Planalto da Cesareda. Observam-se
oóides, pisóides, oncóides, fósseis de coral, de algas, de estromatoporídeos, de moluscos,
etc., indicadores dos diferentes ambientes sedimentares (Figura V.32.). Do ponto de vista
tectónico e geomorfológico salienta-se o facto de se observar em pormenor as relações
geométricas das falhas e fendas de tracção, assim como o desnível topográfico criado pelas
litologias mais resistentes do bordo do Vale Tifónico. Devido às características
geomorfológicas e também de alguns dados colhidos no campo, pode-se constatar que o
trajecto rectilíneo e encaixado desta linha de água dá-se ao longo de uma caixa de falha.
139
Ao longo das margens da ribeira, pode-se ainda constatar a presença de inúmeras
azenhas e as devidas canalizações (levadas) que desviavam parte da água do trajecto natural
da ribeira, assim como uma muralha e muitas pontes de pedra de pequenas dimensões.
Figura V.31.: Aspecto geral do contacto tectónico no bordo sul do Vale Tifónico. Observa-se uma caixa de falha com inúmeras figuras tectónicas, que indicam o sentido aparente do movimento criado pelos eventos de diapirismo e compressão tectónica.
Interesse Temático: Estratigráfico (ambientes deposicionais do Oxfordiano),
paleontológico (abundante registo fóssil contido nos calcários), tectono-estrutural
(basculamento e estruturas de cisalhamento a afectar o Oxfordiano), geomorfológico
(encaixe do rio, disposição dos relevos no interior e bordo do Vale Tifónico), histórico
(utilização dos recursos e das energias renováveis na antiguidade assim como a importância
económica deste local na região ao longo do tempo).
Tipo de Valor: Científico, didáctico, paisagístico, antropológico e arqueológico.
Grau de Importância: Importância elevada. Pela agregação das características
acima descritas e por actualmente se apresentar em boas condições de conservação.
Vulnerabilidade: Baixa, sujeito às condições atmosféricas actuais.
Protecção/Recuperação: Neste local interessa conservar as características do
local, reabilitando talvez uma das azenhas de forma a criar um centro interpretativo do
local Ribeira de Pó.
Acessibilidade: Média a boa.
Perigosidade: Baixa a média, tendo em conta a inclinação por vezes acentuada das
vertentes adjacentes.
140
Figura V.32.: Três pormenores da figura anterior: A – Aspecto da alteração oxidante por percolação de fluidos através de descontinuidades na rocha encaixante; B – Secções de algas nas rochas da Formação de Montejunto; C – Pormenor de B.
V.4.17. Pedreira da Roliça Pedreira abandonada, que explorava o filão da Roliça. Este filão básico teschenítico
parece estar alterado devido à coloração cinza clara e inúmeros pontos de óxidos de ferro.
Este filão marca o relevo da região SE do interior do Vale Tifónico através de um relevo de
resistência, que se confunde com os cabeços sinemurianos que adornam o centro do Vale
(Figura V.33.). É talvez, o único afloramento de rochas magmáticas na área em estudo,
encontrando-se em bom estado de conservação. Este marca a acção do 2º Ciclo Magmático
na Bacia Lusitânica, que produziu neste caso, uma rocha alcalina, criada através da
assimilação por fusão das margas e evaporitos hetangianos por parte dos magmas dioríticos
em ascensão.
141
Figura V.33.: A – Aspecto do filão teschenítico de Roliça; B – Entrada para a pedreira, a necessitar de intervenção por parte do saneamento público para mais fácil acesso e reabilitação do espaço em causa.
Interesse Temático: Petrológico (génese e evolução geoquímica dos magmas para
gerar este tipo de rocha), estratigráfico (idade absoluta do filão que data um evento à escala
da Bacia Lusitânica), geomorfológico (relevo de resistência à erosão, tendo em conta o
envolvente), histórico (utilização dos recursos minerais neste local e causa do seu
abandono)
Tipo de Valor: Científico, antropológico e arqueológico.
Grau de Importância: Importância elevada, devido à sua possança a nível regional
e pela ausência de afloramentos deste tipo de rocha.
Vulnerabilidade: Baixa, sujeito às condições atmosféricas actuais.
Protecção/Recuperação: Neste local interessa recuperar um pouco o espaço
limpando o lixo, o entulho e algum mato que se acumulam neste preciso local, facilitando o
acesso ao filão.
Acessibilidade: Média a boa.
Perigosidade: Média, tendo em conta o acesso (correndo o risco de ocorrerem
cortes devido ao vidro) e a inclinação da frente de exploração.
V.4.18. Pedreira de Dagorda À semelhança com o que acontece na Pedreira do Rio Real, esta pedreira mostra as
características-tipo morfológicas e geológicas do bordo do Vale-Tifónico das Caldas da
142
Rainha. Pode observar-se a ocorrência das unidades mais comuns na sequência da zona do
bordo do Vale, basculadas centrifugamente em relação ao interior desta mega-estrutura.
Observam-se, do núcleo para a periferia, as seguintes unidades estratigráficas: Formação de
Dagorda, uma unidade intensamente tectonizada castanho-creme possivelmente
pertencente ao Caloviano, e finalmente a topo a Formação de Alcobaça, formada por
calcários oncolíticos na base e calcários recifais cristalinos e margosos, no topo, de idade
kimeridgiana (Fig. V.34. e V.35.).
A disposição actual destas unidades estratigráficas resulta da interação dos
diferentes eventos tectónicos, argilo-halocinéticos, e sedimentares. O basculamento
observado é possivelmente posterior à deposição dos calcários Kimeridgianos, é
acompanhado por uma forte tectonização das unidades do Hetangiano e Caloviano
inferiores, mas também pelo aparecimento de inúmeras falhas de baixo ângulo que cortam
e deslocam o Kimeridgiano.
Como em casos descritos anteriormente, é muito improvável separar todos os
impulsos tectónicos e diapíricos sofridos por estas rochas devido ao facto de cada evento
se sobrepôr ao anterior apagando-o quase na totalidade.
Como em casos descritos anteriormente, é muito improvável separar todos os
impulsos tectónicos e diapíricos sofridos por estas rochas devido ao facto de cada evento
sobrepor-se ao anterior apagando-o quase na totalidade.
Figura V.34.: Aspecto geral da pedreira abandonada a sul da Aldeia de Dagorda. Neste local observam-se as características tipo da bordadura do Vale Tifónico das Caldas da Rainha, neste caso no bordo oriental.
Interesse Temático: Estratigráfico (idades das unidades Estratigráficas, ambientes
deposicionais, contacto Malm – Dogger), tectono-estrutural (cavalgamento no bordo do
Vale Tifónico, indicadores cinemáticos, basculamento em calcários e margas),
143
geomorfológico (relevos de resistência e relevos tectónicos do bordo do Vale Tifónico das
Caldas da Rainha), histórico (utilização dos recursos minerais neste local e causa do seu
abandono)
Tipo de Valor: Científico, didático, antropológico e arqueológico.
Grau de Importância: Importância elevada, ligada à compreensão dos
movimentos halocinéticos e tectónicos, que marcam a evolução antiga e actual do Vale
Tifónico das Caldas da Rainha e devido à sua possança a nível regional.
Vulnerabilidade: Baixa, sujeito às condições atmosféricas actuais.
Protecção/Recuperação: Neste local interessa recuperar um pouco o espaço
limpando o lixo, o entulho e algum mato que se acumula neste local.
Acessibilidade: Boa.
Perigosidade: Elevada, derivada das fortes inclinações das antigas paredes de
exploração as quais apresentam alguma instabilidade.
Figura V.35.: Pormenor da figura anterior, mostrando o padrão de fracturação intensa sofrida. De salientar a presença de uma unidade não identificada (de idade caloviana ?) intensamente tectonizada. Esta unidade mostra-se sempre presente com maior ou menor expressão ao longo de toda a bordadura do Vale Tifónico. Como se pode constatar nas duas figuras deste local, também está presente uma unidade com um abundante conteúdo fossilífero de origem algal.
V.4.19. Foz do Arelho Na região envolvente a esta localidade podem observar-se muitos aspectos típicos
das rochas que compõem a Formação do Bombarral, bastante rica em conteúdo fóssil de
origem vegetal. Aqui é fácil identificar os principais aspectos relacionados com a
sedimentação num ambiente deltaico. Podem ser observadas as estruturas internas dos
canais fluviais em três secções perpendiculares que cortam transversalmente,
longitudinalmente e a topo as estruturas internas destes canais, sendo fácil compreender a
estruturação destas unidades.
Como aspecto com especial interesse, salienta-se o facto das principais fracturas,
descontinuidades e zonas com elevada porosidade, se encontrarem impregnadas por óxidos
144
de ferro, com origem na percolação de fluidos enriquecidos nestes materiais oxidados
(FiguraV.36.). A génese destes fluidos pode ser interpretada como puramente diagenética,
ou seja, através da libertação de fluidos por compactação dos sedimentos mais ricos em
água e consequente migração vertical daqueles para regiões onde irão precipitar. Ao longo
deste trajecto estas águas facultarão a oxidação de minerais como a pirite (FeS2) produzindo
diferentes tipos de sulfatos e óxidos, nomeadamente de ferro, insolúveis, que precipitam
em zonas “armadilha”; estas, no caso dos óxidos, serão as camadas mais porosas do
conjunto arenito-conglomerático do Titoniano. Como produto final, observa-se que os
veios preenchidos por óxidos adquirem uma maior resistência à erosão e traduzem-se por
relevos positivos em crista, adornados por halos de alteração paralelos em toda a sua
extensão.
Figura V.36.: A – Características típicas dos afloramentos no topo da arriba da Foz do Arelho. Presença de crostas ferruginosas e veios preenchidos por óxidos de ferro. A percolação de fluidos diagenéticos enriquecidos em ferro favorece a precipitação destes em zonas com porosidade mais elevada, como em arenitos, fracturas e falhas; B – Aspecto da estratificação oblíqua na Pedra Furada (ver figura seguinte).
Interesse Temático: Sedimentológico (fácies deposicionais do Titoniano),
estratigráfico/paleontológico (idades e conteúdo fossilífero das unidades Estratigráficas,
ambientes deposicionais deltaicos), mineralógico (precipitação de óxidos em veios),
geomorfológico (relevos de resistência induzidos pela imprgnação de óxidos, arco eólico).
Tipo de Valor: Científico, didático.
Grau de Importância: Importância alta, devido ao grande numero de fenómeno
observáveis e ao fácil acesso.
Vulnerabilidade: Média, sujeito às condições atmosféricas actuais e à pressão
urbanística imposta pelo Homem.
Protecção/Recuperação: Estes locais deveriam estar protegidos da acção do
Homem, porque se tratam de locais com alguma vulnerabilidade, mantendo-se as
145
características naturais das arribas e das formas geomorfológicas. De salientar que o recuo
natural da arriba provoca instabilidade das vertentes viradas para o oceano, sendo por isso
necessária a advertência para este efeito erosivo.
Acessibilidade: Boa.
Perigosidade: Alta, derivada da instabilidade das arribas marinhas sujeitas a
abrasão marinha e aos agentes meteóricos que provocam o abarracamento.
V.4.20. Planalto de Cesareda Neste planalto pode identificar-se uma superfície carsificada, ou seja, produto da
meteorização química da rocha calcária por parte das águas meteóricas. Este fenómeno de
dissolução do carbonato de cálcio (CaCO3) favorece a criação de um modelado irregular,
com a produção de diferentes elementos geomorfológicos característicos, tais como algares,
estruturas ruiniformes e, em profundidade, grutas e cavernas usadas no escoamento de
águas subterrâneas do aquífero de Cesareda (Figura V.37.).
Figura V.37.: Planalto de Cesareda. Observa-se a superfície de carsificação através da qual se inicia o percurso das águas subterrâneas do aquífero de Cesareda, facultando a sua distribuição na região.
Interesse Temático: Geomorfológico e hidrogeológico (processo de carsificação).
Tipo de Valor: Científico, didático.
Grau de Importância: Média, derivada da sua importância na distribuição de água
potável na região por ele abrangido.
Vulnerabilidade: Baixa. Pouca pressão urbanística.
Protecção/Recuperação: A principal protecção a salientar é conservar as
condições de infiltração das águas meteóricas de forma a conservar o seu potencial
hidrogeológico.
146
Acessibilidade: Boa, através da estrada que liga Olho Marinho ao Reguengo
Grande.
Perigosidade: Baixa, sem perigos a assinalar.
V.4.21. Lagoa de Óbidos O geossítio da Lagoa da Lagoa de Óbidos inclui diversos valores, geológicos
geomorfológicos, observáveis em diferentes locais da sua margem (Fig. 5.38.). Devido à sua
importância económica, ambiental, cultural e social, este geossítio assume relevância
fundamental para o Concelho de Óbidos. O sistema lagunar apresenta na sua totalidade
vulnerabilidade intrínseca muito elevada, a qual é extremamente potenciada pela pressão
antrópica. Pela sua natureza e vulnerabilidade, o sistema lagunar de Óbidos devia dispor de
um perímetro de protecção e parte da sua envolvente deveria ser objecto de recuperação
ambiental.
10
Figura V.38.: Localização dos pontos de observação.
V.4.21.1. Cruz do Facho A Cruz do Facho é um ponto elevado, que se localiza no topo de arribas litorais
talhadas em calcários e margas do Jurássico, sobranceiras ao oceano. A vista para sul
possibilita, particularmente em baixa-mar, observação do sistema de barreira e barra de
147
maré (“Aberta”), incluindo os diversos tipos de bancos e canais de escoamento (deltas de
enchente e vazante) que povoam a zona da embocadura lagunar (Fig. V.39. e V.40.). É
ainda observável o dique de guiamento de correntes (Fig. V.40.). A praia da Foz do Arelho
tem um perfil variado consoante a época do ano; na praia submarina e quase destapados
em baixa-mar, são persistentes barras de espalho (swash-bars) descontínuas, típicas da faixa
de rebentação. Em segundo plano são visíveis as arribas talhadas em arenitos pouco
consolidados do Cretácico, que se estendem para sul; a praia de areia que as margina resulta
em grande parte da sua erosão. Já na margem sul da laguna, merece referência o sistema
dunar do Bom Sucesso, hoje extremamente degradado por ocupação urbana.
Figura V.39.: Vista para norte a partir do Ponto de observação 1, Cruz do Facho.
A vista para norte permite observação sobre um pano de arriba activo, em recessão
à custa do desprendimento e escorregamento de lajes ou blocos rochosos a favor da
estratificação que aqui inclina para o mar. No sopé desta arriba acumulou-se uma praia de
blocos recobrindo uma plataforma rochosa, de abrasão, que se prolonga para o mar. Para
norte, as praias de areia são escassas devido à natureza essencialmente calcária do substrato
em erosão, o qual não produz senão quantidades modestas de areias para alimentar a zona
costeira.
Figura V.40.: Vista para SE a partir do Ponto de observação 1, Cruz do Facho.
Coordenadas UTM: 29SMD807654
148
Interesse Temático: Geomorfológico (deltas de maré, praias, restingas, arribas,
dunas), Dinâmica Costeira (dinâmica das barras de maré, morfodinâmica sazonal de praias,
evolução de arribas, alimentação sedimentar).
Tipo de Valor: Científico, didáctico, paisagístico.
Acessibilidade: Boa, através de estrada asfaltada.
Perigosidade: Baixa, excepto nas proximidades do bordo da arriba, ao qual deve
ser mantida uma distância de segurança.
V.4.21.2. Praia da Foz do Arelho Este local de observação compreende a praia oceânica, a praia lagunar e a superfície
que as une (raso de barreira) na restinga norte da Lagoa de Óbidos. Pode-se observar o
perfil de praia, com as características berma e face de praia. Junto ao canal da barra a
escarpa expõe a estrutura interna laminada e quase horizontal típica da arquitectura dos
depósitos de praia (Fig. V.41.A). Na região apical da restinga podem observar-se evidências
da fixação da areia pela vegetação dunar (Fig. V.40. e V.41.B), contudo sem expressão
significativa. Os pequenos edifícios dunares embrionários são ocasionalmente galgados e
destruídos pelas ondas de tempestade, originando corredores deprimidos em certos locais
(Fig. V.41.B). Na praia lagunar e em baixa-mar, é possível observar campos de figuras de
corrente (ripple-marks) – Fig. V.41.C - que testemunham a actividade das correntes de
enchente e vazante e ainda das ondas de vento. Neste local é frequente assistir-se à apanha
de bivalves (Fig. V.41.D).
Coordenadas UTM: 29SMD802648
Interesse Temático: Geomorfológico (deltas de maré, praias, restingas, dunas),
Dinâmica Costeira (dinâmica das barras de maré, morfodinâmica sazonal de praias, figuras
de corrente).
Tipo de Valor: Científico, didáctico, paisagístico, antropológico.
Acessibilidade: Boa, através de estrada asfaltada até ao estacionamento e a pé no
areal.
Perigosidade: Baixa.
149
Figura V.41.: Praia da Foz do Arelho. A. Canal da barra; B. Fixação de areia por parte de vegetação; C.
Ripple-marcks; D. Apanha de bivalves.
V.4.21.3. Monte das Barreiras Este é igualmente um ponto de observação elevado em crista formada por camadas
do Jurássico, dobradas até quase à verticalidade que possibilita vista sobre a zona central da
Lagoa de Óbidos, onde o espelho lagunar atinge maior dimensão. Deste ponto é possível
ver o Banco do Arinho, corpo arenoso do delta de enchente, que termina na coroa do
Arinho, um cordão que funciona como escudo natural, deflectindo as correntes de vazante
e guiando o escoamento da maré para o canal periférico. Para leste, o monte termina em
escarpa de origem tectónica (bordo do Vale Tifónico), dando lugar a uma planície aluvial
formada por sedimentos trazidos pelo rio - o Juncal do Armazém (à esquerda na figura
V.42.), antigo terreno pantanoso que hoje, mais assoreado, é inteiramente utilizado para
fins agrícolas.
Coordenadas UTM: 29SMD811650
Interesse Temático: Geomorfológico (deltas de maré, planície aluvial, relevo do
bordo do Vale Tifónico).
150
Tipo de Valor: Científico, didáctico, paisagístico, antropológico.
Acessibilidade: Boa, até ao depósito de água, em piso asfaltado e terra batida. Daí
até ao local de observação, o caminho é de pé posto e atravessa aterro.
Perigosidade: Baixa.
Figura V.42.: Vista a partir do ponto de observação 3, Monte das Barreiras.
V.4.21.4. Pedra Furada A Pedra Furada é um monumento natural muito conhecido na região. O nome
deve-se às numerosas cavidades que afectam um grande bloco de arenito jurássico da
Formação de Bombarral e que a erosão isolou do restante maciço, aflorante nas vertentes
vizinhas. Uma destas cavidades atravessa toda a espessura do bloco, formando um arco
(Fig. V.43.). As referidas cavidades ocorrem em outros locais da margem lagunar onde
formações idênticas afloram e recebem o nome científico de tafoni. Tafoni são cavidades da
dimensão de pequenas cavernas, que apresentam entrada em arco, paredes côncavas e lisas
e fundo plano coberto por detritos resultantes da desintegração das rochas em que se
instalam. A sua origem e desenvolvimento são ainda controversos mas pensa-se que
resultam de desintegração de rochas de grão grosseiro (arenitos ou granitos alterados) nas
quais existam grãos resistentes mergulhados numa matriz silto-argilosa expansiva. A
libertação dos grãos resistentes é favorecida por ciclos sucessivos de humidificação e
secagem da superfície rochosa, ou recristalização de sais dissolvidos na água de percolação
durante episódios de evaporação intensa. Uma vez formada, o interior de cada cavidade
favorece a permanência de ambiente ligeiramente mais húmido e frio, conduzindo a
haloclastia. A iniciação seria proporcionada por efeito da sombra projectada por pequenas
irregularidades morfológicas da superfície exposta do maciço relativamente à radiação solar
incidente, quase sempre oblíqua em taludes muito inclinados, o que explicaria também a
sua ocorrência em grupos na mesma vertente, geralmente muito inclinada. Podem também
151
iniciar-se em pontos da superfície onde aflorem fracturas ou outras descontinuidades que
favoreçam a emergência de água de percolação [3]. Em alternativa ou em combinação com
este mecanismo, e por semelhança com outros arcos litorais de morfologia semelhante, é
provável que o arco da Pedra Furada possa ter tido origem na erosão marinha, numa altura
em que a inundação lagunar era superior, estendendo-se ao espaço marginal actual (Fig.
V.43.A e V.43.C).
Neste bloco é ainda possível ver laminação entrecruzada nas várias camadas do
Jurássico que formam estes depósitos arenosos grosseiros com grãos angulosos, típica de
escoamento fluvial de alta energia e testemunhando variações na direcção da corrente ao
longo do tempo (Fig. V.43.D).
Este monumento apresenta-se hoje fragilizado devido à contínua actividade dos
agentes da meteorização, tendo algumas fracturas recentemente abertas sido
intervencionadas, de modo a melhorar a consolidação do maciço (fig. V.43.B).
Coordenadas UTM: 29SMD819644
Interesse Temático: Sedimentológico (fácies deposicionais fluviais),
geomorfológico (modelado em tafoni, arco litoral), processos de erosão/meteorização.
Tipo de Valor: Científico, didáctico, paisagístico.
Acessibilidade: Boa.
Perigosidade: Baixa.
152
Figura V.43.: Pedra Furada. A. Vista geral do monumento; B. Promenor onde é visível a intervenção em
fractura; C. Vista para sul da Pedra Furada; D. Estratificação entrecruzada numa das paredes da Pedra Furada;
E. Tafoni numa das paredes da Pedra Furada.
V.4.21.5. Panorâmica da Lagoa de Óbidos (Pedra da Aia) Este é um local com vista privilegiada sobre grande parte da Lagoa de Óbidos (Fig.
V.44.): (1) para NE observa-se a barra, bem como todo o corpo arenoso do delta de
enchente e particularmente o Banco do Arinho (ver V.4.21.3.); (2) na margem norte, é
possível distinguir o relevo artificial criado por um depósito de dragados; (3) a SW estende-
se toda a margem esquerda da laguna, desde a embocadura até ao Braço do Bom Sucesso;
(4) para sul o espelho de água adquire cor castanha, nas proximidades do delta fluvial do
Rio Arnóia e Real, resultante do sedimento em suspensão que é transportado para a laguna
quando estes rios estão em descarga.
Coordenadas UTM: 29SMD827640
Interesse Temático: Geomorfológico (deltas de maré, praia lagunar, delta fluvial),
Dinâmica Costeira (dinâmica das barras de maré).
Tipo de Valor: Científico, didáctico, paisagístico.
Acessibilidade: Boa. Este ponto de vista corresponde a um lote de terreno
intercalado entre dois outros, já construídos e murados.
Perigosidade: Baixa a média.
Figura V.44.: Panorâmica da Lagoa de Óbidos, vista do ponto de observação 5.
V.4.21.6. Cais Palafita Esta estrutura (Fig. V.45.) localiza-se no canal de ligação entre o Braço da Barrosa e
a laguna, a E da Ponta da Ardonha. Consiste num conjunto de pontos de acostagem e
amarração de embarcações de pesca artesanal, construído em estacaria e pranchas de
madeira com uma concepção que se tem mantido invariante ao longo de milhares de anos.
A necessidade desta estrutura reside na configuração aplanada da margem lagunar aliada à
sua natureza lodosa. Em maré baixa, podem observar-se as fácies de raso de maré, bastante
desenvolvido e de sapal, incipiente.
Coordenadas UTM: 29SMD835619
153
Interesse Temático: Geomorfológico e Sedimentológico (sapais e rasos de maré).
Tipo de Valor: Científico, didáctico, paisagístico, antrpopológico.
Acessibilidade: Boa. Este ponto é acessível por estrada de terra batida.
Perigosidade: Baixa.
Figura V.45.: Cais palafíta.
V.4.21.7. Sapal do Braço da Barrosa A margem lodosa do Braço da Barrosa constitui na sua maioria um ambiente de
raso de maré extenso marginado por alto sapal (Fig. V.46.). Neste local é possível observar:
a reduzida espessura da coluna de água (em baixa-mar o fundo do Braço fica praticamente
todo descoberto e a água limita-se a escoar por um canal central); a grande quantidade de
biomassa vegetal, em particular algas que, depois de mortas, contribuem para o conteúdo
em matéria orgânica do sedimento vasoso descarregado pelos Rios Borraça e da Cal; a
vegetação do alto sapal, plantas vasculares tolerantes ao sal ou mesmo halófitas,
representadas por um número reduzido de espécies capazes de suportar as condições de
stress ambiental decorrentes da salinidade e da submersão periódica. A elevada densidade do
coberto vegetal actua sobre o sedimento em suspensão como armadilha, promovendo a sua
deposição e inibindo a sua ressuspensão.
Coordenadas UTM: 29SMD836622
Interesse Temático: Geomorfológico e Sedimentológico (sapais e rasos de maré).
Tipo de Valor: Científico, didáctico, paisagístico.
Acessibilidade: Média. Este ponto é acessível por estrada até ao talude marginal,
íngreme, o qual tem de ser percorrido a pé.
Perigosidade: Média.
154
Figura V.46.: Sapal e raso de maré do Braço da Barrosa.
V.4.21.8. Delta fluvial do Rio da Cal (Braço da Barrosa) Trata-se de um ponto elevado oferecendo vista panorâmica sobre a depressão da
Barrosa, com especial interesse para observação do delta fluvial do Rio da Cal (Fig. V.47.)
e, em segundo plano, o do Rio Borraça. Distingue-se a porção mais antiga do delta, já
colonizada por canavial e a porção mais recente, despida de vegetação, resultado da
progradação actual sobre o fundo lagunar, na dependência do canal activo, também ele
bem visível.
O Braço da Barrosa é uma das regiões marginais à laguna com menor ocupação
antrópica.
Coordenadas UTM: 29SMD837615
Interesse Temático: Geomorfológico e Sedimentológico (sapais, rasos de maré,
delta fluvial progradante), Dinâmica Fluvial.
Tipo de Valor: Científico, didáctico, paisagístico.
Acessibilidade: Média. Este ponto é acessível por estrada até à ETAR, e requer
percurso pedonal na parte superior da vertente coberta com aterro fortemente ravinado.
Perigosidade: Baixa.
Figura V.47.: Braço da Barrosa, visto do ponto de observaçao 8.
155
V.4.21.9. Delta Fluvial dos Rios Arnóia/Real Este local de observação, no topo de arriba talhada em arenitos jurássicos, marginal
ao espaço lagunar, permite uma observação detalhada do delta fluvial progradante dos Rios
Arnóia/Real, regularizados na sua porção terminal e perspectiva sobre a planície de
inundação destes cursos de água, bem como do corpo lagunar central, a partir de sul (Fig.
V.48.). Nesta porção final, a planície de inundação apresenta uma superfície bastante
elevada relativamente ao espelho de água, em consequência da deposição de um extenso
volume de dragados, lodosos e arenosos, na década de 80. Os depósitos arenosos mantêm
morfologia mais sobressaliente, formando mesmo colinas artificiais ocupadas hoje por
vegetação arbustiva e arbórea; os depósitos lodosos, produziram uma superfície mais
aplanada, posteriormente colonizada por vegetação de sapal. O bordo norte da planície
aluvial apresenta um ressalto bem marcado que se associa a um muro de contenção hoje
parcialmente destruído pelas ondas de geração local. À frente deste muro pode observar-se
a porção mais recente da planície aluvial, colonizada por vegetação de sapal e a porção
activa do delta fluvial claramente progradante sobre o espaço lagunar.
Figura V.48.: Delta fluvial dos Rios Arnóia/Real, visto do ponto de observação 9.
Coordenadas UTM: 29SMD831614
Interesse Temático: Geomorfológico e Sedimentológico (sapais, rasos de maré,
delta fluvial progradante), Dinâmica Fluvial.
Tipo de Valor: Científico, didáctico, paisagístico.
Acessibilidade: Boa. Parque de merendas.
Perigosidade: Baixa.
V.4.21.10. Margem da laguna junto ao Delta fluvial do Rio Arnóia/Real Trata-se de margem estreita, de natureza areno-lodosa, apenas acessível em maré
baixa. O local proporciona observação de afloramento de arenitos do Jurássico, com fácies
semelhante à descrita no ponto V.4.21.4. e erodida igualmente por numerosos tafoni,
originando formas peculiares (Fig. V.49.).
156
Coordenadas UTM: 29SMD830613
Interesse Temático: Sedimentológico (fácies deposicionais fluviais),
geomorfológico (modelado em tafoni, arco litoral, margem lagunar), processos de
erosão/meteorização.
Tipo de Valor: Científico, didáctico.
Acessibilidade: Apenas em baixa-mar. Média, a partir do ponto V.4.21.10. e
através de escadaria construída na vertente. Boa, a partir da estrada em terra batida.
Perigosidade: Baixa.
Figura V.49.: Ponto de observação 10.
V.4.21.11. Torre de Vigia
Esta torre de vigia, tal como o local descrito em V.4.21.9. é um ponto privilegiado
de observação sobre o delta progradante dos Rios Arnóia/Real, sobre a planície de
inundação destes cursos de água e corpo lagunar central (Fig. V.50.). Para S notam-se os
vestígios de antiga exploração de sal, dissimuladas pelo soterramento por depósitos de
dragados.
Coordenadas UTM: 29SMD828610
Interesse Temático: Geomorfológico e Sedimentológico (sapais, rasos de maré,
delta fluvial progradante), Dinâmica Fluvial.
Tipo de Valor: Científico, didáctico, paisagístico.
Acessibilidade: Boa. Caminho pedonal a partir da estrada de terra batida e ponte.
Perigosidade: Baixa.
157
Figura V.50.: Planície aluvial e delta dos Rios Arnóia/Real, vistos do ponto de observação 11.
V.4.21.12. Poças do Vau e da Coelheira Deste ponto localizado a cota elevada, observam-se as Poças do Vau e da
Coelheira, actualmente zonas húmidas de água doce com vegetação típica de paul (Fig.
V.51.), mas que até há pouco tempo integravam o mais importante braço que prolongava o
espelho de água lagunar para sul.
Coordenadas UTM: 29SMD821592
Interesse Temático: Geomorfológico (paul).
Tipo de Valor: Científico, didáctico, paisagístico.
Acessibilidade: Boa.
Perigosidade: Baixa.
Figura V.51.: Poça do Vau, vista a partir do ponto de observação 12.
V.4.21.13. Margem do Braço do Bom Sucesso Trata-se de margem estreita, maioritariamente lodosa, ocupada por rasos de maré,
alto sapal e canavial, este último nas zonas de menor influência de água salgada (Fig. V.52.).
A vegetação do alto sapal, plantas vasculares tolerantes ao sal ou mesmo halófitas, é
representada por um número reduzido de espécies capazes de suportar as condições de
stress ambiental decorrentes da salinidade e da submersão periódica. A elevada densidade do
coberto vegetal em sapais e canaviais actua sobre o sedimento em suspensão como
armadilha, promovendo a sua deposição e inibindo a sua ressuspensão.
Coordenadas UTM: 29SMD812604
158
Interesse Temático: Geomorfológico e Sedimentológico (sapais, canaviais, rasos
de maré).
Tipo de Valor: Científico, didáctico.
Acessibilidade: Boa.
Perigosidade: Baixa.
Figura V.52.: Margem do Braço do Bom Sucesso.
V.4.21.14. Bom Sucesso Deste local são observáveis todas as componentes do sistema lagunar referenciadas
no ponto V.4.21.1 (Fig. V.53.). É ainda perceptível o impacto da ocupação antrópica no
sistema dunar que originalmente cobria a superfície hoje densamente urbanizada e
impermeabilizada.
Coordenadas UTM: 29SMD797640
Interesse Temático: Geomorfológico (deltas de maré, praias, restingas, dunas),
Dinâmica Costeira (dinâmica das barras de maré), Ordenamento do Território.
Tipo de Valor: Científico, didáctico, paisagístico.
Acessibilidade: Boa.
Perigosidade: Baixa.
Figura V.53.: Barreira e barra de maré da Lagoa de Óbidos observadas do Bom Sucesso.
159
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