UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO ACADÊMICO DO AGRESTE
LAYS SALGADO DE MENDONÇA
SIMBOLOGIA DAS CELEBRAÇÕES DE ANIVERSÁRIO
Uma perspectiva do Design sobre festas infantis
CARUARU
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO ACADÊMICO DO AGRESTE
LAYS SALGADO DE MENDONÇA
SIMBOLOGIA DAS CELEBRAÇÕES DE ANIVERSÁRIO
Uma perspectiva do Design sobre festas infantis
TCC apresentado à disciplina de Trabalho de
Conclusão de Curso (TCC) do Curso de
Bacharelado em Design, da Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE), como instrumento
avaliativo.
Orientador: Prof. Eduardo Romero Lopes Barbosa
CARUARU
2018
Catalogação na fonte:
Bibliotecária – Simone Xavier CRB/4-1242
M539s Mendonça. Lays Salgado de. Simbologia das celebrações de aniversário: uma perspectiva do design sobre as festas infantis. / Lays Salgado de Mendonça. – 2018.
55 f. ; il. : 30 cm. Orientador: Eduardo Romero Lopes Barbosa. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Universidade Federal de
Pernambuco, CAA, Design, 2018. Inclui Referências.
1. Festas infantis. 2. Ritos e cerimônias. 3.Imaginário. 4. Design. I. Barbosa,
Eduardo Romero Lopes (Orientador). II. Título.
740 CDD (23. ed.) UFPE (CAA 2018-183)
LAYS SALGADO DE MENDONÇA
SIMBOLOGIA DAS CELEBRAÇÕES DE ANIVERSÁRIO
UMA PERSPECTIVA DO DESIGN SOBRE FESTAS INFANTIS
Este trabalho foi julgado adequado e aprovado para a obtenção do título de graduação
em Design na Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do Agreste
Caruaru, 12 de Junho de 2018.
_____________________________________
Prof. M.Sc. ou Dr Ana Paula de Miranda
Coordenador do Curso de Design
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________________
Prof. M.Sc. ou Dr. Prof. Eduardo Romero Lopes Barbosa
Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do Agreste
Orientador
_____________________________________
Prof. Luciana Lopes Freire
Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do Agreste
Banca
_____________________________________
Prof. Glenda Gomes Cabral
Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do Agreste
Banca
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Cícero e Keila, e meus irmãos Eric e
Loyde, por serem artistas da vida, e sempre encontrarem
beleza e solução em tudo, a vocês sempre, meu mais puro
amor.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente ao Criador por ter me dado a chance de experimentar
o dom da vida, e a enxergar a beleza nas pequenas coisas.
Ao meu orientador Eduardo Romero por ter me acolhido e ter sido não apenas
mestre, mas um amigo e ser humano inspirador, junto a ele, todos alunos do FotoLab
que por tanto se permitirem se tornaram família, obrigada a todos vocês!
A todos professores que contribuíram na minha construção não só acadêmica,
mas profissional.
A todos amigos que foram apoio, conforto, lar, nos mais variados momentos.
''Para o homem da sociedade arcaica, portanto, é
essencial conhecer os mitos. Não somente porque os
mitos lhe oferecem uma explicação do mundo e de seu
próprio modo de existir no mundo, mas sobretudo
porque, ao rememorar os mitos e reatualizá-los é capaz
de repetir o que os deuses, os heróis ou os ancestrais
fizeram [...] conhecer os mitos é aprender o segredo da
origem das coisas. Em outros termos, aprende-se não
somente como as coisas vieram à existência, mas também
onde encontrá-las e como fazer com que reapareçam
quando desaparecem.'' MIRCEA ELIADE
RESUMO
A festa de aniversário é tida como uma oportunidade para compreender um
importante aspecto social que é a renovação e restauração do equilíbrio coletivo, um rito
de passagem importante e universal para a humanidade. O presente trabalho trilha um
caminho que une o simbolismo das comemorações, o imaginário e o Design,
percorrendo o contexto das origens das festas, celebrações e comemorações de
aniversários, desenredando os mitos cosmogônicos, de renovação e da encruzilhada
onde seus conceitos estão ancorados no nosso inconsciente coletivo correlacionado
com uma breve análise sobre os elementos presentes nas festas contemporâneas de
aniversários infantis a partir do design, segundo Lupton e Phillips no livro Novos
Fundamentos do Design (2008)
É um trabalho de natureza teórica, onde o percurso metodológico desenvolvido
foi realizado pela pesquisa qualitativa, que consiste em um processo de reflexão e
análise da realidade através da utilização de métodos e técnicas para compreensão
detalhada do objeto de estudo, que neste caso é reconhecido pelas festas infantis, na
perspectiva dos mitos e símbolos e suas relações estéticas e visuais através do Design.
Dada a natureza teórica, o presente trabalho não apresenta conclusões encerradas, mas
oferece caminhos para a reflexão sobre a temática das festas sobre o olhar do design.
Palavras-chave: Festas Infantis. Ritos de Passagem. Simbolismo, Imaginário e Design.
ABSTRACT
The birthday party is taken as an opportunity to understand an important social
aspect that is the renewal and restoration of the collective equilibrium, an important and
universal rite of passage for humanity. The present work trails a path that unites the
symbolism of the commemorations, the imaginary and the Design, through the context
of the origins of the festivals, celebrations and celebrations of anniversaries, untangling
the myths cosmogonic, renewal and the Crossroads Where its concepts are anchored in
the unconscious in our collective correlated with a brief analysis on the elements present
in the contemporary festivals of children's birthdays from the design, according to
Lupton and Phillips in the book New Foundations of Design (2008)
It is a work of a theoretical nature, where the methodological pathway
developed was carried out by qualitative research, which consists of a process of
reflection and analysis of reality through the use of methods and techniques for detailed
understanding of the object of Study, which in this case is recognized by the children's
festivals, in the perspective of myths and symbols and their aesthetic and visual
relations through Design. Given the theoretical nature, the present work does not present
conclusions, but offers ways to reflect on the theme of the festivals about the look of the
design.
Key words: Children's parties. Rites of Passage. Symbolism and imaginary.
Design.
LISTA DE FOTOGRAFIAS
Figura 1 - O Combate entre o Carnaval e a Quaresma é uma obra pintada por
Pieter Bruegel, o Velho em 1559 .................................................................................... 14
Figura 2 - Diana com seus cães de caça ao lado de Kill Jan Fyt (1611-1661).. 19
Figura 3 – Índio He-See-Moie Osage (1913) ................................................... 24
Figura 4 - Safári na África ................................................................................ 36
Figura 5 - Festa Safári do Lucas ....................................................................... 38
Figura 6 - Painel Semântico 1 | Bolo Safari ...................................................... 39
Figura 7 - Bolo Safári ....................................................................................... 40
Figura 8 - Balões Assimetria............................................................................. 42
Figura 9 - Balões Simetria e Enquadramento ................................................... 43
Figura 10 - Finding Nemo | Finding Dory ........................................................ 45
Figura 11 - Festa Procurando Nemo ................................................................. 47
Figura 12 - Painel Semântico 2 | Doces Procurando Nemo .............................. 49
Figura 13 – Tartaruga Squirt ............................................................................ 50
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
1 INTRODUÇÃO 11
2 ORIGEM E SIMBOLISMOS DAS COMEMORAÇÕES
E DAS FESTAS 14
2.1 Elementos simbólicos inseridos nas festas 16
3 COSMOLOGIA, RENOVAÇÃO E ARQUÉTIPOS 23
3.1 Narrativa mito simbólica 27
4 UMA ANÁLISE ESTÉTICA E SIMBÓLICA DAS FESTAS
INFANTIS 32
4.1 Design e festa: Análise segundo os novos fundamentos do
Design 34
4.2 Festa Safari 35
4.2.1 O Bolo 39
4.2.2 Balão 41
4.3 Procurando Nemo 44
4.3.1 Festa procurando Nemo 47
4.3.2. Os doces 48
5 CONCLUSÃO 52
REFERÊNCIAS 54
11
1 INTRODUÇÃO
As suposições que norteiam o início das comemorações na história são extensas.
O homem e sua necessidade de se relacionar com seus pares, tornou a celebração em
sociedade uma experiência lúdica, tornando-se um elemento importante o fato de
qualquer acontecimento ser comemorado. Para que isso aconteça, basta a interação das
partes num propósito em comum, ou seja, o entretenimento.
Estaria na essência da festa a capacidade de despertar e animar os sentidos.
Nela o participante perde o domínio da percepção e imerge no terreno das
“dimensões ocultas” que o remetem, por sua vez, à dimensão do imaginário.
(LOBATO, 2018, p. 13).
Na infância, essa interação social é apresentada nas festas de aniversários,
sabendo-se que o imaginário infantil em parte é banhado na expectação em torno dessa
data, onde a criança gera esperanças conforme esse dia se aproxima. Expectativas sobre
a alegria, celebrações, presentes e abraços.
Expressão teatral de uma organização social, a festa é também fato político,
religioso ou simbólico. Os jogos, as danças e as músicas que a recheiam não
só significam descanso, prazeres e alegria durante sua realização; eles têm
simultaneamente importante função social: permitem às crianças, aos jovens,
aos espectadores e atores da festa introjetar valores e normas da vida coletiva,
partilhar sentimentos coletivos e conhecimentos comunitários. (PRIORE,
1994, p. 10).
O dia em que seus desejos se tornam realidade: os presentes, os amigos reunidos,
e onde o aniversariante se torna o centro das atenções. O rito de passagem que todo ser
humano passa e que na infância é vivido de uma forma lúdica e leve, pelos sonhos
ingênuos que se condensam nesse dia. Logo, "A festa tem uma lógica interna que a
constitui e para compreendê-la é necessário o estado presencial. É preciso vivenciá-la,
respirar o seu ambiente." (LOBATO, 2018, p. 14)
A presente pesquisa parte do pressuposto de que a festa é uma oportunidade para
compreender a organização da natureza estética visual do imaginário infantil em relação
aos aniversários, logo, este trabalho investiga a origem das festas, das celebrações e
comemorações de aniversários e os aspectos da organização das imagens no imaginário
infantil. Trata-se, portanto, de uma análise dos elementos simbólicos presentes nas
12
festas atuais. Assim, a problemática da pesquisa está circunscrita ao tema das festas
infantis e sua relação com o debate teórico e conceitual do Design e do Imaginário.
O percurso metodológico desenvolvido é realizado através da pesquisa
qualitativa, que consiste em um processo de reflexão e análise da realidade através da
utilização de métodos e técnicas para compreensão detalhada do objeto de estudo, que
nesse caso consiste no estudo do Imaginário e Design.
Dessa forma, a pesquisa se aproxima do método fenomenológico, que abrange a
ciência da percepção, como determinada ação ou objeto é interpretado pela nossa
consciência, que se refere tanto as coisas físicas tal qual também à aparência de algo
intuído, imaginado, sentido ou desejado. Aqui vamos tratar do encargo dos elementos
simbólicos experimentado nas celebrações natalícias, mais especificamente na infância,
ou seja, como o indivíduo concebe o espaço vivido e experimentado por esses
elementos presente nas festas infantis, e como o Design contribui, dando subsídios para
analisar esses elementos.
Assim a pergunta pesquisa se coloca da seguinte maneira: Como os elementos
simbólicos formais presentes nos aniversários podem ser estudados a partir do Design?
Partindo desse questionamento segue-se o problema de pesquisa em questão: Quais
ferramentas conceituais e de pesquisa dão subsídios ao Design para o estudo dos
elementos simbólicos presente nas festas infantis.
Diante disso, o objetivo geral dessa pesquisa é fazer uma análise dos elementos
simbólicos presente nas festas infantis, e como os mesmos podem ser analisados
esteticamente a partir dos Fundamentos do Design.
Logo, os objetivos específicos dessa pesquisa são:
- Elaborar uma fundamentação teórica, contextualizando historicamente a origem das
festas, celebrações e comemorações de aniversários, através do estudo da simbologia,
elencando tais elementos presente nesse rito de passagem;
- Parafrasear as narrativas mitos simbólicas, através das análises dos mitos cosmogônico
e da encruzilhada, no que diz respeito a origem do Universo por excelência e
consequentemente do nascimento dos demais seres, o renascimento e a renovação.
13
Todas estas instâncias estão intrínsecas nos arquétipos que norteiam as comemorações
de aniversário.
- Fazer uma análise através de painéis semânticos dos elementos simbólicos presentes
nas festas, criando conexões entre o Design e as festas, como parâmetro para a pesquisa
formal que se dará por meio da conceitualização dos fundamentos do Design
apresentadas por Lupton e Phillips no livro Novos Fundamentos do Design (2008).
14
2 ORIGEM E SIMBOLISMO DAS COMEMORAÇÕES E DAS
FESTAS
Na festa ocorre uma experiência estética aquém do quotidiano, onde se
manifestam formas de representação social. Por exemplo, o corpo se prepara com o
gestual e um figurino apropriado, transfigurando-se para construir cenas que denotam
certa ruptura com o contexto do dia-a-dia.
“Na festa acontece uma espécie de reencantamento da vida, um jogo espontâneo
de faz de conta, como se a memória do grupo fosse um acervo vivo de experiências a
serem reinventadas a cada momento. ” (GOMES, 2008, p. 44).
As festas aprimoram os sentidos, aguçam o imaginário. Nela o indivíduo está se
dispondo a interagir socialmente. O espaço tempo da festa é reanimado na sociedade
urbana, onde o homem reencontra-se com sua atividade através da atribuição do sentido.
(LINHARES apud PEREIRA, SARDINHA E BALSAN 2016 p. 62).
Figura 1 - O Combate entre o Carnaval e a Quaresma é uma obra pintada por Pieter
Bruegel, o Velho em 1559
Fonte:www.herodote.net/Moeurs-synthese-405.php
15
Diariamente celebram-se milhares de aniversários no mundo, e para o contexto
dessa pesquisa é importante conhecer qual a origem desse costume. Todavia, celebrar
não é algo novo na história, especialmente quando se pensa em aniversário. Mas afinal
quando surgiram os aniversários? Em que época exatamente surgiram as comemorações
coletivas e individuais?
Os aniversários são comemorados desde o Egito Antigo, ou seja,
surgiu por volta de 3000 a.C. Tanto os egípcios quanto os gregos,
adotaram o costume, restringiam as comemorações apenas a seres
superiores, como faraós e deuses. Com o tempo, o hábito foi se
estendendo aos mortais e contaminou também os romanos, que davam
o privilégio ao imperador, à sua família e aos senadores. Nos
primórdios do cristianismo, o costume foi abolido por causa das suas
origens pagãs. (LINTON & LINTON apud PEREIRA, SARDINHA
E BALSAN 2016 p. 62)
Há também outras linhas de estudos que indicam que originalmente a ideia de
aniversário, saudações e desejos de felicidade, foi enraizada na magia de povos pagãos
que faziam trabalhos de feitiços para o bem e/ou mal com o uso principal da bruxaria.
Todavia eles acreditavam que os aniversariantes estavam especialmente suscetíveis a
tais feitiços, visto que os espíritos pessoais são aproximados nessa época (LINTON &
LINTON, 1952).
Linton & Linton (1952) explica que “os gregos acreditavam que todo ser
humano tinha um espírito protetor ou um daemon que o assiste desde o nascimento e o
vigia por toda vida. ” Este espírito tem uma relação mística com o aniversário de um
deus e o dia em que o indivíduo nasceu. Esta noção foi enraizada nas crenças atuais no
anjo da guarda, na fada madrinha e nos santos padroeiros.
No tempo de Ramsés II no final do segundo milênio A.C., o calendário egípcio
apresentava uma sequência de aniversários, ou seja, em cada dia era comemorado um
acontecimento na vida dos deuses. Também na mesma época, segundo os egípcios, o
nascimento de uma criança era cuidadosamente anotado, pois o dia e a hora permitiam
predizer seu futuro (SANTOS, 2013).
Entretanto o aniversário, enquanto evento, nem sempre foi registrado a partir da
ideia de marcar progressivamente a idade. Embora seja difícil precisar, a origem das
comemorações e dos aniversários, segundo pesquisas históricas (FRAZER, 1982),
podemos perceber na mitologia grega os relatos de plantações feitas por Apolo, pois ele,
apesar de suas muitas funções, ainda fazia prosperá-las e, na época das colheitas, eram-
lhe ofertadas muitas dádivas.
16
Assim, os primeiros frutos colhidos eram ofertados na festa em comemoração
ao aniversário de Artêmis e Apolo. Possivelmente, a data desta festa seria nos
dias 6 a 7 de targélion, e o mês de colheita, correspondendo a 24 a 25 de
maio. (FRAZER, 1982, p. 68)
Partindo do pressuposto da pesquisa, o intuito desse capitulo é mostrar de forma
breve, que as comemorações estão intrínsecas no ser humano, o modo de compreender o
rito de passagem que é a chegada de uma nova idade e como isso foi inserido nas
culturas através dos mitos.
As celebrações de aniversários aqui são compreendidas não como simples
rituais, entendesse que é a relação do passado sobre expectação da alma em direção ao
futuro, no qual é cheia de renovação e infinitas possibilidades.
Nas culturas, cada elemento tem um teor simbólico para as comemorações, os
convites, o bolo, as velas... todo qual tem uma significância importante, com variações
dependendo dos costumes e crenças socioculturais. Posteriormente veremos a origem
desses elementos e as suas significâncias, e como esses símbolos vão se unindo e
tomando outras dimensões na pós-modernidade.
2.1 ELEMENTOS SIMBÓLICOS INSERIDO NAS FESTAS
Segundo (PITTA 2005, p.13) “Nada para o ser humano é insignificante. E dar
significado implica entrar no plano simbólico” entendendo-se como início de um ciclo,
cada celebração de aniversário, se torna um ato ritualístico, acredita-se que realizando
esses ritos de passagem, os quais podem interferir no momento atual e no vindouro,
para o indivíduo o ato de comemorar e ritualizar esse único dia no calendário o torna
único e substancial para o resto do ano.
Os símbolos na suma maioria das vezes é a identificação de um lugar, de um
povo; através deles conceitualismos as gerações. Nas festas de aniversários a simbologia
é inserida a partir dos costumes de cada sociedade e pela sua percepção de
espaço/mundo. As crenças servem de fator determinante nesses ritos e como será a
cerimônia em torno dessas comemorações, sendo ritualizada e seguida pelos seus
adeptos e passada de geração a geração ao logo da história.
17
Deste modo, esse trabalho parte do pressuposto a fim de conhecer os
significados dos símbolos para as festas de aniversário, apresentando as simbologias
utilizadas em festas infantis. Os presentes, o bolo e as velas, os convites para festa, os
balões, os doces e a música cantada como parte da cerimônia do aniversário.
Nas culturas ocidentais os presentes têm a representação de homenagear o
aniversariante do dia, com o encargo simbólico de carinho ou afeto da parte do
presenteador. Já o bolo e as velas elementos emblemáticos que não podem faltar em tal
comemoração, carregam a função de centralizar a atenção ao aniversariante, geralmente
com aspectos estéticos que o representem, seja um tema que goste, sua cor favorita, ou
como é tradicionalmente mais usado, velas como indicação da sua idade. Para compor o
cardápio da festa, os doces estão comumente presentes nas comemorações de
aniversário. Aqui no Brasil, o conhecido brigadeiro foi institucionalizado como
indispensável nas festas infantis, e para embalar e fechar o ritual natalício, têm a tão
popularmente cantada música "Parabéns para você" que logo, especificamos aqui nesse
trabalho que a versão em português foi originalmente composta com o título "Parabéns
a você", por Bertha Celeste.
Cada elemento simbólico presente nas celebrações que conhecemos hoje, têm
um fator específico por trás, seja um ato de proteção ou um ritual aos deuses, os
aniversários natalícios são cerimônias encharcadas de significados e simbologia, que
atravessaram gerações e chegaram até a nossa sociedade atual como aspecto
indispensável da nossa cultura.
Segundo (PITTA 2005, p. 22), as imagens agrupadas no nosso imaginário
através dos arquétipos, formam uma representação visual da qual está ligada as
experiências que nossa cultura vivência ou vivenciou, e continuamos perpetuando ao
longo da vida.
Cada imagem – seja ela mítica, literária ou visual – se forma em torno de
uma orientação fundamental, que se compõe dos sentimentos próprios de
uma cultura, assim como de toda experiência individual e coletiva. (PITTA,
2005 p.22)
Ainda,
Os símbolos tornam-se a identidade do lugar, de um povo, uma comunidade;
e os símbolos das festas são inseridos pelos costumes e vivências
apresentados através da história. (PEREIRA, SARDINHA E BALSAN 2016
p. 62).
Segundo Priore (1994), para compreender a importância dos aniversários
18
natalícios, deve-se entender que na Idade Média, as pessoas tinham uma crença
profunda na existência de espíritos bons e maus. Os desejos ruins de inimigos
representavam ameaças, por isso, acreditava-se que as felicitações protegeriam o
aniversariante, que ficava rodeado pela família e pelos amigos, alimentando os votos de
felicidade. A oferenda de presentes resultava numa proteção mais forte e, quando
acompanhada por uma refeição em conjunto, ajudava a invocar a presença dos espíritos
bons.
Foi somente no século IV d.C. que a Igreja começou a celebrar o nascimento
de Cristo, com a convenção do dia 25 de dezembro. Com isso, ressurgiu o
hábito de festejar aniversários, e pouco a pouco foram surgindo as peças
simbólicas: o bolo, a vela, o convite, dentre outras. (LINTON & LINTON
apud PEREIRA, SARDINHA E BALSAN 2016 p. 62).
Ainda, conforme Priore (1994), na transição entre os séculos XVII e XVIII
começa-se uma valorização da criança, uma consciência da importância do seu papel no
acompanhamento das reformas religiosas, na sedimentação do casamento e da família,
além da receptividade que esses pequenos figurantes encontraram nos comportamentos
sociais. "Parte marcante do conjunto da festa é a presença de crianças. A infância é
espectadora dos festejos, mas neles entra também como protagonista" (PRIORE, 1994
p. 73).
O costume de entregar presentes no dia do aniversário estava ligado a ideia de
que anjos malignos vinham roubar o espírito do aniversariante, então era preciso tomar
medidas para prevenir isso. Portanto, no dia do aniversário alguns presentes e objetos de
proteção eram espalhados ao redor do aniversariante para afastá-lo do mal. Os
familiares e amigos se reuniam e entregavam os amuletos às crianças. Essa tradição foi
evoluindo e chegou até os dias atuais. (PEREIRA, SARDINHA E BALSAN 2016 p.
62).
Tomando como base o Dicionário de Símbolos de Jean Chevalier (1986), o
amuleto vem como símbolo relacionado a proteção, antes e após a morte, em vida
acreditava-se que eles serviam para preservar a saúde, felicidade e vida eterna; na
cultura Egípcia as múmias dos faraós deviam ser cobertas de amuletos de ouro, bronze,
pedra ou barro, para salvar e guardar o falecido.
Ainda permeando às diversas formas de celebrações entre as culturas, o bolo e as
velas foram uma tradição herdada dos Gregos. Todo dia 6, eram trazidas oferendas ao
19
templo, dado que nessas datas era comemorado os aniversários de Apolo e Artêmis.
Segundo a mitologia greco-romana, Artêmis era a lua, deusa da caça, portanto, uma vez
por mês havia uma homenagem com bolo e velas, no qual as luzes representavam o
luar.
Associa-se também à origem do bolo de aniversário a evolução de um
preparado de pão e mel, em forma de lua, que era oferecido pelos gregos em
culto à deusa Artêmis, celebrada como deusa da fertilidade no famoso templo
em sua homenagem em Éfeso, antiga colônia grega na atual Turquia. O
costume das velas acesas nos bolos começou com os gregos. (SANTOS, 2013
p. 51).
Figura 2 - Diana com seus cães de caça ao lado de Kill Jan Fyt (1611-1661)
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Joannes_Fijt_-
Diana_with_Her_Hunting_Dogs_beside_Kill_-_WGA08348.jpg
À frente na Idade Média inserida nos rituais das crenças populares, os plebeus
faziam uma nova analogia sobre as velas de aniversário. Acreditando que eram dotadas
de magia especial para a concessão de desejos. As lâmpadas iluminadas e os fogos
sacrificais tiveram um significado místico desde que o primeiro homem estabeleceu
altares a seus deuses.
Com o tempo, esse hábito acabou por chegar à Alemanha, na Idade Média,
onde os camponeses festejavam os aniversários dos seus filhos com um bolo
no qual havia velas em número idêntico à idade da criança e mais uma vela
que simbolizava a luz da vida. (LINTON & LINTON apud PEREIRA
SARDINHA E BALSAN 2016 p. 62).
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Já os balões há indícios que eles foram os primeiros brinquedos das crianças.
Obviamente os primeiros não eram feitos de plástico, mas de intestinos e tripas de
animais mortos, inflados com ar. Eles passaram a figurar nas festas de aniversário como
um agrado às crianças. O ato de fazer barulho também era um costume antigo para
espantar os maus espíritos. (MOTOMURA, 2011)
Dentre esses elementos simbólicos há o costume de enviar cartões, que surgiu no
início do século passado, e segundo as autoras Pereira, Sardinha e Balsan (2016),
acredita-se que os pioneiros no envio de cartões foram os ingleses. A intenção não era
apenas desejar bons votos, mas sim, desculpar-se por não comparecer ao aniversário.
Para os ingleses, não ir ao aniversário sem dar uma satisfação era – e ainda é – um ato
grosseiro. Hoje é habitual enviar convites a possíveis participantes da festa, mas não se
espera dos faltosos o envio de cartões.
Desde das primeiras celebrações a boa culinária está presente nas festas, as
mesas dos reis e grandes oficiais eram repletas das melhores iguarias, na maioria das
vezes em forma de ritual sacrifical. De acordo com o Dicionário de Símbolos de Jean
Chevalier "O banquete é tido como um ritual quase universal, e frequentemente
constituído por ofertas anteriormente consagradas" (1986, p. 174). Nas celebrações
atuais as comidas que compõem o cardápio das festas variam conforme as regiões e
costumes das sociedades, aqui no Brasil, essencialmente nas festas infantis o menu é
composto por bebidas, bolo, salgados e os doces.
A convenção dos doces nas festas foi introduzida através das guloseimas e
poderiam variar de acordo com a cultura local, como até hoje acontece. O brigadeiro,
criação da culinária brasileira, surgiu através da incorporação do chocolate ao leite
condensado com o intuito de homenagear o Brigadeiro Eduardo Gomes, candidato à
eleição presidencial no fim da Era Vargas.
A partir de então essa guloseima ganhou fama e tornou-se a paixão das crianças.
Não há aniversário infantil sem a majestática iguaria. A aliança do leite condensado com
o chocolate em pó, redundou em um casamento perfeito, vencendo os anos e
completando mais de meio século de gulodice de crianças e adultos. Desde então, o
brigadeiro conquista os paladares no Brasil e no mundo (CASTILHO, 2012, QUINTAS,
2010).
Como as celebrações são eventos sociais com intuito de interação entre as partes,
21
que de alguma forma se expressão, seja através das decorações ou de cada elemento que
compõe esse rito de passagem. Como elemento primordial a música, que por assim
dizer é a "arte de exprimir os sons", tem o propósito de orquestrar o momento de
festividade, promovendo a unidade entre as pessoas. Em cada cultura há uma forma
comemoração, tomando as culturas ocidentais são cantados nas festas de aniversários
músicas de felicitações para o aniversariante do dia. Aqui no Brasil a "modinha" foi
escolhida por votação popular num concurso de uma rádio local.
De acordo com Gehringer (2001), Parabéns a Você é a melodia mais conhecida
e mais cantada no mundo em todos os tempos. O autor descreve que a melodia teve sua
origem nos Estados Unidos, em 1875, com as irmãs Mildred e Patrícia Smith Hill. Elas
foram professoras primárias da cidade de Louisville, no estado de Kentucky, e
resolveram compor uma quadrinha para seus alunos cantarem quando chegassem à
escola. Do resultado surgiu a letra Good morning to all (Bom Dia para Todos), uma
simples música cuja letra se resumia a um verso cantado repetidamente por quatro
vezes. Meio século mais tarde, segundo Gehringer (2001), no ano de 1924, foi lançado
um livro de partituras, o Celebration Songs, e como na época não havia nenhuma
música específica para ser tocada nos aniversários, a editora utilizou a música das irmãs
Hill, renomeado de Happy Birthday to You (Feliz Aniversário para Você). Essa mesma
melodia foi usada em uma peça teatral na Broadway, em 1983, sofrendo uma pequena
alteração na letra: o “to you".
No final da década de 1930, o autor destaca que a música se espalhou pelo
mundo e chegou ao Brasil. Aqui, era cantada apenas em festas de famílias mais
abastardas e em inglês. Um apresentador de um programa na Rádio Tupi, do Rio de
Janeiro, incomodado com a música cantada no idioma estrangeiro, o cantor Almirante,
pseudônimo de Henrique Foréis Domingues, decidiu promover um concurso para a
escolha de uma letra e melodia em português.
O concurso aconteceu no ano de 1942, tendo como campeã Bertha Celeste
Homem de Mello, com 40 anos de idade, que após o evento doutorou-se em Letras e
dedicou-se à poesia. Ela apresentou seu verso composto por quatro linhas diferentes,
que segundos os ouvintes "Dava de goleada até na letra original…" (GEHRINGER,
2001).
Além de passar boa parte da vida contando a história de seu famoso verso,
Bertha insistia para que as pessoas o cantassem direito. Quem canta – como
22
muita gente faz – “Parabéns pra você, nessa data querida, muitas felicidades,
muitos anos de vida”, está cometendo três erros (gravíssimos, asseverava
dona Bertha): na primeira linha, o certo é “Parabéns a você”. Na segunda, o
correto é “nesta”, e não “nessa”. E, na terceira, “muita felicidade” é singular e
não plural. Ah, e aquela coisa de “É pique-pique-pique, é hora, é hora, é
hora” depois do “Parabéns a Você” não tem nada a ver nem com a melodia
original, nem com dona Bertha. (GEHRINGER, 2001).
No que tange os relacionamentos entre pessoas, por meio da interação se faz
necessário o uso de seus corpos, seus sinais e mensagens, como um instrumento de
comunicação. Esses tipos de relações só são cometidos pelos homens, a qual muitas
vezes passa por despercebida pelo protagonista.
Por tratar-se de espaço de encontro, celebração, compartilhamento e
cumplicidade, palco de atualização da memória coletiva, a festa torna-se
realidade comum a todos, outorgando um sentido ao grupo e em última
instância à vida. (Gomes, 2008, p.45).
Tomando como base a introdução do simbolismo e elementos presentes nas
festas de aniversários, de acordo com os costumes das culturas e sociedades,
transcorreremos o estudo agora abordando os arquétipos da cultura, a Cosmologia, e a
renovação e restauração vista por Mircea Eliade – Mito e Realidade (1998) e a narrativa
mito simbólica da encruzilhada segundo Dicionário de Símbolos de Jean Chevalier
(1986) e como os aspectos do mito, conversa com a narrativa primitiva para celebrações
de aniversários.
O mito seria então a organização de imagens universais (arquetípicas) em
constelações, em narrações, sob a ação transformadora da situação social" (PITTA
2005 p. 16-17). O que implica em uma unidade entre o indivíduo, a espécie e o cosmos.
23
3 COSMOLOGIA, RENOVAÇÃO E ARQUÉTIPOS
Após reunir os contextos históricos dos símbolos que compõem as
comemorações de aniversários ocidentais, o próximo passo é debater os sistemas
simbólicos das festas com base nos mitos cosmogônicos e a renovação através da
narrativa do mito da encruzilhada. Transcorreremos esse capítulo com intuito de debater
esse aspecto dentro do imaginário das celebrações de aniversários.
Se considerarmos a definição do Aurélio, a cosmologia é: Ciência das leis que
regem o Universo. De acordo com o livro Mito e Realidade de Mircea Eliade "Sendo a
criação do Mundo a criação por excelência, a cosmogonia torna-se o modelo exemplar
para toda espécie de criação". (ELIADE, 1998, p. 25)
Ao nascer, cada pessoa carrega em si, o nascimento do mundo inteiro. É como
se o Universo se renovasse e se inteirasse sobre o novo ser que nasce. Compreende-se a
"ação" de existir como um ato sagrado, recebido como presente divino, ancorado e
lapidado pelos modelos terrenos, mas ainda assim, à excelência da vida como o modelo
exemplar de toda criação.
Desde do nascimento, o imaginário do sujeito começa a ser influenciado pelo
seu meio, e pelos arquétipos que norteiam a sua sociedade, onde através dos mitos se
inicia a compreensão que cada ser humano cria sobre o mundo.
Segundo (ELIADE, 1998), na tribo norte-americana Osage, o nascimento é
admiravelmente ilustrado. Quando uma nova criança nasce na tribo convoca-se a
presença de um "guru" ou "sacerdote", homem que "fala com os deuses". Ao chegar à
casa de parturiente, ele recita para o recém-nascido toda história da criação do Universo
e dos animais terrestres. Somente após esse ritual é o que bebê pode ser amamentado.
Mais tarde, quando o bebê quer tomar água, chama-se novamente o mesmo
homem ou outro. Mais uma vez ele recita a Criação, completando-a com a
história da origem da Água. Quando a criancinha atinge a idade de ingerir
alimentos sólidos, volta o homem "que falou aos deuses" e recita novamente
a Criação, mencionando também desta vez a origem dos cereais e de outros
alimentos. (ELIADE, 1998, p. 35).
24
Figura 3 – Índio He-See-Moie Osage (1913)
Fonte:https://lh6.googleusercontent.com/-pI-b1tHJ4XA/T-hqaRDD1-
I/AAAAAAAAxpg/CNxs3TxCJMg/s506/152.jpg
Toda essa recapitulação simbólica da cosmogonia, tem como objetivo informar
ao imaginário daquele recém-nascido, a realidade do seu meio, sacramentando a
existência do mundo e da cultura, proclamando sua conformidade com os paradigmas
míticos. Os mesmos rituais se perpetuam pelo resto da sua vida, cada vez que se inicia
uma série de começos, onde se insere novamente a origem. A ideia implícita nessa
crença trata-se de que, não se pode começar algo, antes do conhecimento da sua origem,
na maioria dos casos não é apenas uma forma de mostrar conhecimento, mas sim
vivência. Ao recitar os mitos, poderíamos dizer que eles são "transportados" ao
momento em que os deuses ou seus entes sobrenaturais deram origens as coisas.
Portanto, de modo análogo, ensina-se às novas gerações não o que seu pai ou avô
fizeram, mas o que foi feito pelo seus Ancestrais no Tempos míticos.
25
A origem das crenças e grandes mitologias, não vem dos Gregos, Egípcios ou
Indianos. A maioria dos mitos gregos é uma versão recontada, articulada e sistematizada
(ELIADE, 1998 p. 10). O ponto de partida vem das mitologias ditas "primitivas"
contada pelos primeiros viajantes, onde ao longo dos séculos as histórias foram
transformadas pelas culturas ditas superiores ou tecnologicamente mais avançadas.
Não obstante, é preferível começar por estudar o mito nas sociedades arcaicas
e tradicionais, reservando para uma análise ulterior as mitologias dos povos
que desempenharam um papel importante na história. Isso porque, apesar das
modificações sofridas no decorrer dos tempos, os mitos dos "primitivos"
ainda refletem um estado primordial. Trata-se, ademais, sociedades onde os
mitos inda estão vivos, onde fundamentam e justificam todo comportamento
e toda atividade do homem. (ELIADE, 1998, p. 10).
A mentalidade primitiva não inventa mitos, mas os vivência. Eles têm
significado vital para a continuação da vida na tribo.
Para Eliade (1998), a renovação vem num exemplo da consagração do rei
indiano, rajasûya, no ritual incluía uma representação da recriação do Universo.
Dividida em três fases, a regressão do futuro soberano ao estado embrionário, sua
gestação e seu renascimento místico como Cosmocrator, correspondente e identificado
como (o Deus-Tudo) e com o Cosmo. O período embrionário corresponde ao processo
maturação do Universo e pode ser correlacionado as colheitas. Compreendemos que o
ritual de coroação como renovação universal, a entronização de um rei era tida
renovador de todo o Cosmo.
A renovação por primazia tem vigência no Ano Novo, quando se inaugura um
novo ciclo temporal. Com a renovação do calendário, vem a instância de fechamento e
iniciação de ciclos, esses, que de certa forma regem nosso intelecto sobre futuro, e
reintegram nosso ato de existir.
Mas a renvation efetuada pelo ritual do Ano Novo é, no fundo, uma
reiteração da cosmogonia. Cada Novo Ano recomeça a Criação. E são os
mitos - tanto os cosmogônicos como os mitos de origem - que recordam os
homens como o Mundo foi criado e tudo o que ocorreu posteriormente. O
mundo é sempre o "nosso mundo", o mundo que se vive. E, se bem que o
modo de ser da existência humana. (ELIADE, 1998, p. 43).
Já para o pai da psicologia analítica, o psiquiatra sueco Carl Gustav Jung, no
livro “Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo” (2002, p. 119-121) o renascimento vem
em quatro instâncias: Metempsicose, isto é, na transmigração da alma após a morte, de
26
um corpo para outro; a Reencarnação que contém o conceito de continuidade pessoal,
ou seja, a personalidade e memória transmuta após a morte para outro corpo, ao
reencarnar o indivíduo pode lembrar-se das vidas anteriores, e essas lembranças podem
ajudar no seu redescobrimento pessoal. No geral a reencarnação trata-se dos
renascimentos entre os corpos. A terceira forma de renascimento é a Ressurreição, visto
que tem um subsídio de transmutação, o processo não entendido como material, mas
que nessa nova condição, a pessoa venha em um nível superior, num estado de
incorruptibilidade.
A quarta forma de renascimento a qual trataremos aqui como principal, é a de
Restauração na vida individual. Possui então uma conotação que provêm da ideia de
renovação, onde sua essência pode ser alterada, fortalecida ou melhorada. Além do
melhoramento mental acredita-se também na cura física, através de cerimônias e rituais.
Entende-se o renascimento como a crença no melhoramento ou evolução da
alma, onde o indivíduo tem poder de acreditar em algo e consegui-lo. Os homens têm
uma tendência natural em preocupar-se com futuro e as incertezas que o permeiam. O
ser humano como um ser temporal, divide sua exigência em ciclos: Nascer, crescer,
procriar, envelhecer e morrer. Contudo, começa tal interpretação, toda virada de ciclo é
uma oportunidade, potencialmente de evolução, onde Jung entende como um tempo de
restauração e renovação. Esse aspecto de temporalidade vem embargada de profundas
expectações positivas, as experiências de redescobrimento vêm com intuito de
ressignificar o passado e a transmutação para futuro promissor.
Todos os aspectos do inconsciente coletivo relacionado a festas levam a um
ponto em comum: No dia do seu aniversário simbolicamente o indivíduo é levado há
duas instâncias: Nascimento e Renascimento. O Renascimento são as suas perspectivas
para o futuro, sua vontade de melhoramento pessoal ou financeiro, ou seja, as aspirações
do seu novo ano. Já o do nascimento tem a ver com sua origem, a volta ao dia e hora
que nasceu, o qual aquele dia representa para ele, seja através de signos e ascendentes,
ou até mesmo conversas com os pais de como foi esse dia. A razão aqui é a alusão ao
passado e futuro, e quanto esses aspectos interferem na sua projeção do mundo.
Contudo, percebe-se que o homem ocidental celebra o aniversário não só tentando
desafiar o futuro, mas também vivendo uma recapitulação simbólica do início da sua
história.
27
3.1 Narrativa mito simbólica
É significativa a distinção feita pelas "histórias verdadeiras" e as "histórias
falsas". Ambas relatam fatos e uma série de eventos que se passaram em um passado
distante e fabuloso. Embora os protagonistas dos mitos sejam deuses e entes
sobrenaturais, para Eliade (1998, p. 15), o que os contos e mitos tem em comum são a
falta do mundo cotidiano. Os mitos, não narram apenas a origem do mundo, mas cada
acontecimento primordial, como formas de existir e se perpetuar na nossa civilização.
De modo que, se o Mundo existe, houve entes sobrenaturais desenvolvendo uma
atitude criadora no princípio. Eliade toma por exemplo a vivência de uma tribo.
De modo análogo, uma certa tribo vive de pesca, e isso porque, nos tempos
míticos, um Ente Sobrenatural ensinou seus ancestrais a apanhar e a cozer os
peixes. O mito conta história da primeira pescaria, efetuada por um Ente
Sobrenatural, e dessa forma revela simultaneamente um ato sobre-humano,
ensina aos homens como devem efetuá-lo por seu turno e, finalmente, explica
por que essa tribo de se nutrir dessa maneira.
Seria fácil multiplicar os exemplos. Mas os já citados demonstram por que,
para o homem arcaico, o mito é uma questão da mais alta importância, ao
passo que os contos e as fábulas não o são. O mito lhe ensina as "histórias"
primordiais que o constituíram existencialmente, e tudo o que se relaciona
com a sua existência e com o seu próprio modo de existir no cosmo o afeta
diretamente. (ELIADE, 1998, p. 16).
A interpretação do mito se torna então, uma perspectiva relacionada aos tempos
míticos, sempre voltada para sociedades arcaicas, onde o homem ocidental poderia
tomar como raciocínio, o seguinte modo: Eu sou o que sou hoje, porque antes de mim
houveram uma série de descobertas, as quais determinam meu comportamento nos dias
atuais. O aspecto que mais diferencia o homem moderno do homem arcaico é sua
interpretação de vivência, para o primeiro, não há relevância nos mitos que antecedem
sua história, já para o arcaico não é só suma importância entender os mitos como
replicá-los.
O mito, portanto, é um ingrediente vital da civilização humana; longe se der
uma fabulação vã, ele é ao contrário uma realidade viva, à qual se recorre
incessantemente; não é absolutamente uma teoria abstrata ou uma fantasia
artística, mas uma verdadeira codificação da religião primitiva e da sabedoria
prática. (ELIADE, 1998, p. 23)
28
Entendemos que cada cultura interpreta a celebração dos aniversários de acordo
com sua vivência, mais precisamente a religiosa. Segundo Carvalho, (2017) podemos
identificar em culturas como na Índia, que a comemoração continua em torno de rituais
sacrificais, com frutas e legumes oferecidos aos deuses. Na Espanha e na Rússia, por
outro lado, países bastante religiosos, a comemoração é feita duas vezes ao ano, no dia
do seu nascimento e no dia do seu Santo protetor. Na China a contagem dos anos
começa a ser feita a partir da concepção do indivíduo, quando o bebê completa seu
primeiro mês de vida, já fazem a primeira celebração, ao completar dois anos, os pais da
criança colocam objetos a sua frente, acredita-se que dependendo da sua escolha
naquele momento, será definido sua profissão no futuro. Os objetos são: Caneta (futuro
acadêmico) Dinheiro (empresário), etc.
Tomaremos como exemplo chave, o mito da Encruzilhada, correlacionando,
portanto, aos costumes atuais, e a narrativa mito-simbólica por trás dessa interpretação,
onde as iscas semânticas para comunicar-se com o mito, por exemplo, o ato de assoprar
as velas e o desejo oculto, os presentes e a proteção dos pais aos filhos, abrir e fechar
ciclos, o cruzamento e o destino.
Assim como o nascimento, as comemorações de aniversários têm uma
importância simbólica universal, onde a Encruzilhada é um símbolo que se caracteriza
como aspectos em comuns em diversas culturas. De acordo com o Dicionário de
Símbolos de Jean Chevalier (1986, pg. 447), a Encruzilhada está relacionada ao lugar de
passagem, ou centro do mundo. É vista como lugar de desejo, ao mesmo tempo
perigoso. Para algumas civilizações é tida como solo sagrado, onde são feitos rituais
sacrificais de animais como forma de purificação da alma ou alcance de desejos.
Assim, o ato simbólico de fazer um pedido secreto no momento de assoprar as
velas do bolo de aniversário, vem enraizado de desejos positivos que devem ser
mantidos em anonimato até que se cumpram. A vela tem a conotação de singularidade,
assim como o "único desejo" do aniversariante, a ligação com luz da chama da vela vem
de abrir caminhos bons e deixar os ruins para trás. Como dito anteriormente a tradição
das velas vêm dos camponeses que as acendiam contabilizando número de velas de
acordo com idade da criança e mais uma representando o futuro. O costume do bolo
vem da Grécia, onde tinha o formato de lua que era dedicado a deusa Ártemis no dia 6
de janeiro. Essa a deusa é para mitologia grega, símbolo de proteção a mulher,
29
principalmente às grávidas.
Na memória da boa vela é onde devemos encontrar os nossos sonhos de
paciência, escreve Bachelard. "a chama está sozinha, naturalmente sozinho,
quer permanecer sozinho" (BACC, 36). Para esta ideia de unidade, de luz
pessoal, Bachelard acrescenta que dá verticalidade. A chama da vela sobre a
mesa de Solitaire, escreve, prepara todos os devaneios da verticalidade. A
chama é um forte e frágil vertical. Um murmúrio perturba a chama, mas esta
está endireitada. Símbolo da vida ascendente, vela é a alma dos aniversários.
Tantas velas, todos estes anos, tantos estágios à perfeição e felicidade. Se ele
deve ser desligado de um sopro, é menos para lançar suas chamas na noite do
esquecimento, ou para aniquilá-los no passado com suas cicatrizes de
queimaduras, que para manifestar a persistência de um sopro de vida superior a
tudo o que já viveu. (CHEVALIER ,1986, pg. 1052).
Tido a proteção como símbolo primordial na construção dos mitos relacionados
aos aniversários, veremos nas páginas seguintes, a construção do mito da encruzilhada,
na concepção da ideia da proteção dos pais aos filhos.
O anseio dos pais em assegurar o bem-estar dos filhos é inerente a condição
cultural, é um ato instintivo proteger e testificar que a cria esteja segura. Assim como as
velas, os presentes foram inseridos na cerimônia de aniversário como amuletos de
proteção. Ainda, segundo o Chevalier, os romanos faziam cultos aos lares nas
encruzilhadas, precisamente para se livrar de um destino ruim. O lar tem a função de ser
amparo, de carregar a alma do seu morador, "[...] a casa significa o ser interno, de
acordo com Bachelard; suas plantas, seu porão e seu celeiro simbolizam vários Estados
da alma. O porão corresponde ao inconsciente, o celeiro com a elevação
espiritual"(Bachelard apud CHEVALIER 1986, pg. 257). Assim como a Encruzilhada,
a casa também é considerada o centro do Universo, onde nela habita os sonhos e
realizações de toda uma vida, a realidade do lar expressa a alma do dono.
Chegavam as encruzilhadas para ofertar as oferendas em troca de proteção
dessas divindades dos lugares, a proteção dos lares/casas. [“Lar” e lar foram
num princípio términos sinônimos como prova a persistência do catalã do
vocábulo /lar para designar ao lar/casa ou fogo] agrupados ao redor do
cruzamento de estradas, proteção para os campos semeados no bairro, proteção
para a população e para a cidade. (CHEVALIER ,1986, pg. 447).
Relacionando a essas afirmações, consideramos a Encruzilhada como lugar de
encontro, assim como no dia do aniversário é um tempo expectação em relação ao
futuro. Acredita-se também que a Encruzilhada é o lugar do desconhecido, e, frente ao
30
desconhecido, a reação humana mais habitual é o medo, onde o primeiro aspecto
expressivo é a inquietude. No inconsciente revela-se a inquietação, diante ao oculto,
onde pode haver o sentimento de encontrar no cruzamento novos caminhos ou
orientação, trazendo renovação para alma e espírito. É também nesse cruzamento que
encontramos nosso destino, como no mito de Édipo, que ele encontra seu pai numa
encruzilhada: "Édipo encontra e mata seu pai, Layo, e sua tragédia começa. Ao término
de uma longa viagem que tinha servido só para fugir do seu destino é quando
precisamente, em uma encruzilhada, esse destino se impõe" (CHEVALIER ,1986, pg.
446). Cada ser é em si mesmo uma encruzilhada, onde se cruzam e onde se combatem
os diversos aspectos de sua personalidade, com a instância de fechar e abrir ciclos,
tendo a oportunidade de evoluir e renovar-se. Sabendo que as escolhas vêm sempre
entre cruzamentos.
A encruzilhada é também o lugar onde se encontra aos demais, tanto externos
como internos. É o lugar privilegiado das emboscadas: exige atenção e
vigilância. Se é nas encruzilhadas onde está a triple Hécate e Hermes
psicopompo, é porque devemos escolher, para nós e em nós, entre o céu, a
terra e os infernos. Na verdadeira aventura humana, a aventura interior, um
não encontra na encruzilhada mais que a si mesmo: é esperado uma resposta
definitiva, não há mais que novos caminhos, novas provas, novos andares que
se abrem. (CHEVALIER ,1986, pg. 447).
Por fim, a Encruzilhada é, portanto, um lugar que pode ter uma representação
boa ou ruim, pode ser um lugar onde se encontra a luz e a paz interior, proteção ao lar,
descobrimento de novo caminhos. Ante o desconhecido, é o lugar onde cruzamentos
podem levar ao seu destino inevitável, ou pode ser um local de oportunidades,
fechamentos e inícios de ciclos, como os mitos são a nossa interpretação humana do
sobrenatural glorioso, assim como no dia do aniversário, onde a narrativa da
encruzilhada vem como ponto de partida, de início, escolha e reflexão. A encruzilhada
é, portanto, lugar de decisão.
A encruzilhada não é um fim, é um alto, um convite a ir mais além. Um não
se para ali se não é porque quer atuar sobre os demais, para bem ou para mal,
ou se descobre incapaz de escolher por si mesmo: é então o lugar de
meditação, de espera, não de ação. Mas é também o lugar da esperança: a rota
seguida até aqui não estava fechada; uma nova encruzilhada oferece uma
nova oportunidade de eleger a boa via. Encruzilhada agora bem, as escolhas
são irreversíveis. Para nos mostrar toda a força deste símbolo há contos nos
quais a encruzilhada mesmo se apaga, depois da passagem do herói: os
problemas da eleição foram. (CHEVALIER ,1986, p. 448).
31
Continuaremos percorrendo o imaginário que envolve o universo das
celebrações de aniversário, mais especificamente festas infantis, porém nos detendo
agora a sua configuração estética e formal com base em alguns dos fundamentos básicos
do Design encontrados na obra Lupton e Phillips "Novos Fundamentos do Design",
buscando relacionar com os mitos apresentados.
32
4 UMA ANÁLISE ESTÉTICA E SIMBÓLICA DAS FESTAS
INFANTIS
''Hoje é dia de festa
Pois em um rostinho lindo
Um sorriso me encantou
E em seus olhinhos a me olhar
A pureza me mostrou
E levou-me a voar
Como balões coloridos
Quando leves toques
De seus dedinhos
Fez-me flutuar.
Hoje é dia de festa
Uma grande festa
Quando a contemplar
A doçura multiforme
De uma coisinha
Tão simples, meiga e grandiosa
Que me faz amar, sonhar e confiar...''
Terezinha Guimarães
Parafraseando o poema acima, a criança enxerga o mundo com encanto, pureza e
inocência, é um ser atemporal, faz com que todos a sua volta realcem o olhar as
pequenas coisas, as cotidianas despercebidas, aquelas que por toda via moldam a vida
de alegria e felicidade, as que nos dão força para continuar sonhando e acreditando na
criança dentro de nós.
Para melhor enaltecer essa curta fase da vida, desenvolveremos esse capítulo no
intuito de analisar as configurações formais dos elementos que compõem as festas de
aniversário infantis, e relacionar a ligação de sua estética com os mitos cosmogônico e
da encruzilhada, buscando compreender o diálogo entre Design e Imaginário.
33
Com finalidade de construir uma análise pertinente e que seja enriquecedora
para os campos do Design e do Imaginário, se faz necessário a conceituação de como se
configuram formalmente os itens que compõem uma festa, ou seja, como se
materializam os sonhos lúdicos das crianças e suas famílias na concretização da festa.
Portanto, a pesquisa formal se dará por meio da conceitualização dos
fundamentos do Design apresentadas por Lupton e Phillips no livro "Novos
Fundamentos do Design" (2008) buscando um parâmetro que seja prático e confiável
para construir a base sobre a qual desenvolveremos a análise estética.
Se contextualizarmos as festas de aniversário hoje no Brasil, podemos notar que
tais comemorações passaram a ser grandes eventos com forte impacto econômico, onde
as empresas festeiras se comprometem em realizar as expectativas das famílias em torno
dessa data. Se especializando cada vez mais para melhor atrair o consumidor, cada
aniversário se torna então um grande espetáculo moldado pelos padrões de estética
segundo o tema escolhido. Os elementos e símbolos que vimos anteriormente vão
ganhando forma dentro da celebração, o bolo, as bolas, os doces, se tornam então um
componente estético para melhor compor um cenário.
Na intenção de melhor analisar esses elementos listados acima, elegemos dois
temas de aniversários infantis unissex, são eles: Safári e Procurando Nemo, os mesmos
são comumente encontrados nas comemorações de crianças entre 1 e 7 anos de idade.
Nos primeiros dois anos da criança geralmente os temas são escolhidos pelos pais, que
optam pelos lúdicos e que sirvam para ambos os gêneros, a partir dos 3 anos a tendência
é que a criança direcione a festa segundo sua escolha, portanto, os temas são uma das
maneiras de expressar suas preferências e identidade.
Como os mitos estão ancorados no nosso inconsciente, relacionaremos esses
temas de aniversário aos arquétipos encontrados nos mitos cosmogônico e da
encruzilhada, associando as iscas semânticas abordadas no capítulo anterior como: A
recapitulação da origem do Universo e a proteção dos pais aos filhos, os quais são base
para enredar a narrativa dos temas das festas.
Como ferramenta para exemplificar tais componentes das celebrações,
utilizaremos então painéis semânticos ou Moodboard, que servem para trazer
clareza no processo criativo desta análise, que conseguintemente estará sendo feita
através dos Fundamentos de Design. Deste modo, os temas aqui, serão analisados
segundo os fundamentos: ponto, linha e plano, simetria e assimetria, cor, textura,
34
hierarquia, harmonia e contraste.
Para ilustrar tendências e nortear os profissionais da área. Atribui-se o uso
efetivo do painel semântico a essas áreas do design que tratam com
informações mais efêmeras para desenvolvimento de produto, fazendo da
técnica de painel semântico uma ferramenta importante capaz de otimizar
com o poder da comunicação gráfica e da rápida visualização a compreensão
de significados abrangentes, facilitando para o raciocínio projetual.
(SANTOS; JACQUES, 2009, p. 531 apud PEREIRA E SCHNEIDER, 2016
p. 156).
O intuito desses painéis é melhor exemplificar as tendências dentro das festas, é
uma forma criativa que os profissionais encontraram de melhor exemplificar aos
clientes a curadoria de materiais do seu interesse, no entanto, apresentando o melhor
resultado do segmento em questão.
No final do estudo iremos elencar um elemento e analisá-lo, sendo divididos um
painel semântico por tema, imagem dos elementos e a paleta de cores. Todas referências
foram obtidas de sites de compartilhamento de imagens e blog's de tendências em
festas.
4.1 Design e festa: Análise segundo os novos fundamentos do design
Como base teórica que darão subsídio para argumentar sobre o Design,
utilizaremos a obra de Lupton e Phillips no livro Novos Fundamentos do Design (2008).
O Livro retrata como duas educadoras sentiram a necessidade re-conceituar os
fundamentos do Design, já que os mesmos tinham sidos estruturados há 40 anos antes.
Com a pós-modernidade, novas ferramentas e softwares se tornavam indispensáveis no
Design Gráfico, com essa nova adaptação educadores teriam então, a responsabilidade
de ensinar e aprender as ferramentas, ainda sim proporcionando pensamento visual e
crítico. Conforme (LUPTON E PHILLIPS, 2008 P. 6) relatam, “Algumas vezes, a forma
se perdeu pelo caminho, à medida que metodologias de design se afastavam de
conceitos visuais universais em direção a uma compreensão mais antropológica do
design”. Este livro enfoca sobretudo a forma, acreditando numa base comum nos
princípios visuais para designers ao redor do mundo, tomando como princípio a tradição
35
da Bahuaus e do trabalho de grandes educadores do Design formal, de Armin Hofmann
a alguns de nossos próprios professores, incluindo Malcolm Grear.
Por fim, trabalhos feitos por alunos são o suporte que as autoras usaram para
exemplificar e definir os fundamentos: Ponto, linha e plano, ritmo e equilíbrio, escala,
textura, cor, figura/fundo, enquadramento, hierarquia, camadas, transparência,
modularidade, grid, padronagem, diagrama, tempo e movimento e regras e acasos no
decorrer dos capítulos.”
Através de um painel semântico contendo cada elemento simbólico que compõe
a festa, sendo eles: O bolo, os balões, e os doces. Elegeremos o que mais se enquadra
nos seguintes fundamentos: Ponto, Linha e Plano, Cor, textura, Simetria e
Assimetria, Harmonia e Hierarquia. Cada elemento será analisado segundo esses
fundamentos.
4.2 Festa Safári
Safári. No fim do século XIX o termo ficou conhecido a partir de expedições
por terra em lugares selvagens, geralmente voltadas ao continente Africano. Cientistas e
exploradores corajosos percorriam a África à procura dos grandes mamíferos como
Leões, Leopardos, Búfalos, Rinocerontes e Elefantes, além de Girafas e Zebras. Na
volta para Europa ao relatarem o que viram, despertaram a atenção dos curiosos para,
infelizmente, caçar e matar esses animais. Segundo (CASTRO, 2016):
As incursões ao interior das províncias em busca de animais selvagens
passaram a ser chamadas “safári”, palavra que
significa jornada ou viagem em suaíli, idioma amplamente usado no leste do
continente. Assim, safári se tornou sinônimo de caçada ou de
uma expedição para encontrar e matar animais perigosos.
Dessa atividade nasceu outro termo amplamente usado no continente, os Big
Five, ou os cinco grandes animais que representavam os maiores riscos para
os caçadores. Entraram na lista dois poderosos felinos – o leão e o leopardo –
, o maior mamífero terrestre – o elefante – e dois animais pesados, fortes e
volumosos – o rinoceronte e o búfalo. Todos com um grande potencial
de revidar o ataque humano caso os caçadores falhassem seu alvo na primeira
tentativa.
Nas últimas cinco décadas, os conceitos éticos sobre à caça foram se
transformando. Buscar, encurralar e matar um animal selvagem deixou de ser um ato
36
heroico e passou a ser considerado uma covardia humana. Assim, graças à beleza e aos
novos amantes da natureza, as espingardas e armadilhas foram trocadas por máquinas
fotográficas, que na mão de pessoas talentosas capturam momentos de esplendor e
magnitude da vida selvagem.
Figura 4 - Safári na África
fonte: https://www.kangaroo.com.br/pacotes/africa-do-sul/africa-do-sul-safari-e-cape-
town.html
Ainda de acordo com CASTRO (2016) "[...] assim foi nascendo o que
chamamos hoje de safári fotográfico, uma jornada em busca de vida selvagem onde a
arma deixou de ser mortífera e passou a documentar um instante singular do encontro
entre seres humanos e animais".
Com essa definição partimos para conjectura da vida no Ocidente, e o
distanciamento do homem com a natureza, uma expedição como essa propicia a
religação com sua essência.
Como visto por ELIADE (1998) sobre os mitos de origem; a criação ou
recriação do Universo é inserida em nossa cultura pelos contos mitológicos, que
recapitulam o modo ou início da criação, o mito de origem recorda então, os momentos
essenciais da criação do mundo, ou da origem dos seres, ou dos primeiros remédios, em
37
todos os casos essas abordagens prolongam e complementam o mito cosmogônico.
O resultante é, o mito origem depende do cosmogônico, portanto, o meio que
se vive constitui o Mundo; sua origem e sua história, precede de uma outra história
individual, "Um novo estado de coisas implica sempre um estado precedente, e este, em
última instância é o Mundo. É a partir dessa totalidade inicial que desenvolvem as
modificações ulteriores." (ELIADE, 1998 pág. 38)
Portanto, a ideia mítica de origem está enraizada no mistério da criação, um
poder se manifestou no mundo, porque um acontecimento o precedeu. Logo, os mitos
cosmogônicos antecedem os mitos de origem, já que o cosmogônico se dá da criação e o
de origem da modificação, enriquecimento ou empobrecimento do Universo.
O elo que une a origem o nascimento e o renascimento do mundo, vem dos
conceitos das sociedades arcaicas de que a vida não pode ser reparada, se não for
mediante o retorno as fontes de origem. E a 'fonte' por excelência é o jorrar de energia,
de vida e fertilidade ocorrido durante a Criação do Mundo.
Que as águas se separem, que os Céus se formem, que a Terra seja!". Essas
palavras cosmogônicas de Io, graças às quais o mundo passou a existir, são
palavras criadoras, carregadas de poder sagrado. Também os homens as
pronunciam em todas as circunstâncias em algo a fazer, a criar. [...] as
palavras com as quais Io modelou o Universo - isto é, graças às quais este foi
concebido e levado a gerar um mundo de luz - essas mesmas palavras são
empregadas no rito de fecundação de uma matriz estéril. As palavras graças
às quais Io fez brilhar a luz nas trevas são utilizadas nos ritos destinados a
alegrar um coração triste e desalentado, o ancião decrépito, [...] para todos
esses casos, o ritual, que tem por objetivo espargir a luz e a alegria, reproduz
as palavras de que Io se serviu para vencer e dissipar as trevas. (ELIADE,
1998, p. 33).
Essa recapitulação simbólica da origem, nos faz compreender que o ser humano
tem a necessidade de buscar entender o início das coisas, é por esse modo que linkamos
aqui a natureza dos elementos vistos nas festas, e como o mito cosmogônico dialoga
com o tema Safári.
Ainda conforme (ELIADE, 1998. P. 44) "O "Mundo", portando, é sempre o
mundo que se conhece e no qual se vive; ele difere de um tipo de cultura para outro.
Existe, por conseguinte, um número considerável de "Mundos". Entender que o ser
humano é apenas uma parte que compõe o todo, varia consideravelmente dentre os
contextos culturais que está compreendida a existência humana.
Cada vez mais pode se notar o distanciamento do homem ocidental em relação
38
ao meio ambiente e os seres viventes. À recapitulação simbólica da origem traduz então,
o "voltar atrás", recuperação do tempo original, do entendimento do qual para que cada
coisa foi criada, e, portanto, existe. O resultado disso, é a clara impressão da
oportunidade de renovação. A regressão para reestruturação dos cosmos trazendo
equilíbrio e estabilidade.
Evidentemente podemos sinalizar que essa diversidade de meios e modos de
viver não anula o fato, que pertencemos ao mundo embora em contextos divergentes,
mas ainda assim, dependentes das mesmas necessidades.
Como forma de simbolizar a vida selvagem, os pais procuram representar
através da festa de aniversário da criança a recapitulação simbólica da cosmogonia,
colocando o aniversariante ainda que por um instante como pertencente da vida em
harmonia com os animais e florestas.
No mercado das festas, o Safári é considerado um tema unissex e comumente
presente nos aniversários infantis, geralmente com a paleta de cores, Verde como
representação da floresta, amarelo e laranja como a pelugem dos Leões, Leopardos e
Girafas, Marrom para terra e os troncos das árvores e por último Cinza para representar
a cor dos Elefantes e Rinocerontes.
Figura 5 - Festa Safári do Lucas
Fonte: https://www.instagram.com/p/BaGvIZsn3Zx/?taken-by=perbambinifestas
39
4.2.1 O Bolo
Como abertura da análise escolhemos o elemento simbólico central da festa,
embora os outros símbolos sejam especialmente importantes, ainda sim, o bolo é tido
como indispensável em qualquer aniversário, mesmo em pequenas comemorações tem-
se o ritual de colocá-lo no centro da mesa para bater os parabéns, no intuito do
aniversariante apagar as velas e cortar o bolo. Conforme Santos (2013. P. 90),
participar das diversas etapas do rito do aniversário, requer envolvimento e articulações
interpessoais, pois é através da celebração que o sujeito constrói sua identidade social.
O bolo poder ser considerado então, elemento que representa o rito de aniversário.
O bolo de aniversário, glorioso objeto efêmero, ele sozinho, simboliza o
ritual no imaginário social da infância contemporânea, o momento central
eletivo da infância. Os bolos de aniversários, incontornáveis do ritual se
tornam assim ao mesmo tempo objetos comerciais e de modos de expressão e
de exposição de si. (SANTOS, 2013. P. 90)
Figura 6 - Painel Semântico 1 | Bolo Safari
Fonte: https://soloinfantil.com/temas-de-festa-infantil/bolo-safari/
40
Figura 7 - Bolo Safári
Fonte: https://soloinfantil.com/temas-de-festa-infantil/bolo-safari/
Este é um bolo considerado de três andares. Como podemos observar na parte
superior, há bonequinhos feitos de pasta americana representando os animais do Safári,
eles estão em cima de uma camada plana na cor verde demonstrando a floresta. Porém,
como aspecto visual principal notamos as manchas e grafismos como textura e
padronagem nas duas outras camadas, como a representação da pelagem da Girafa e da
Zebra, nas cores amarelo e marrom, branco e preto.
Para analisar o respectivo bolo de acordo com os fundamentos do Design,
usaremos os elementos visuais do ponto, da linha e do plano. O ponto vem na
reprodução da pelagem da Girafa, que consiste numa série de manchas reticuladas, que
juntas formam um padrão de repetição. “Um ponto indica uma marca, posição, sinal;
graficamente eles são elementos primordiais para qualquer criação, é através dos
41
grandes grupos de linhas e pontos que são construídos as padrões e texturas. (LUPTON
e PHILLIPS, 2008 p. 15-16)
O fundamento linha pode ser identificada como contorno de todas as formas,
todo plano como a pelagem da zebra, por exemplo, é formado por linhas contrastantes
brancas e pretas, dispostas verticalmente, com espaçamento entre elas. A linha é tida por
uma série infinita de pontos, geometricamente uma linha tem apenas comprimento,
com ausência de largura, sendo então estrutura dos objetos, delimitadoras de espaços,
etc. "Graficamente, as linhas existem em muitos pesos; a espessura e a textura, assim
como o trajeto da marca, determinam sua presença visual." (LUPTON e PHILLIPS,
2008 p. 16)
A linha em movimento torna-se plano, o plano nada mais é que uma superfície
lisa que se estende em altura e largura, neste contexto vem sendo representada no
primeiros 'andar' do bolo, na cor verde para dar a conotação de floresta. O plano pode
ser percebido
Uma linha fecha-se para tornar-se uma forma, um plano delimitado. Formas
são planos com limites. Em programas com base vetorial, toda forma possui
contorno e preenchimento. (LUPTON e PHILLIPS, 2008 p. 18)
4.2.2 Balão
Conforme Motomura (2011), o que começou sendo uma brincadeira de criança
com tripas e intestino de animais mortos, inflados com ar, se tornou um dos elementos
decorativos mais importantes da festa. Os balões são o colorido da festa, representam a
alegria e diversidade. Podemos notar a infinidade de cores, estampas, tipos de
42
enchimento e arranjos que são oferecidos hoje. As empresas especializadas em projetos
de arte com balões, fazem verdadeiros monumentos como: Animais, Castelos, Carros,
entre outros, isto é, tudo que seja do tema ou referencial para festa, pode ser
representado.
Figura 8 - Balões Assimetria
Fonte: https://www.instagram.com/rubyrabbitparty/
No Design, a conceituação desses projetos de arte em balões pode ser feita a
partir dos fundamentos Ritmo e Equilíbrio, mais precisamente nesse contexto, os
fundamentos de simetria e assimetria.
Para Lupton e Phillips (2008 p. 31), a simetria e a assimetria pode ser
direcionada a qualquer ângulo, seja de direita para esquerda ou de cima para baixo, ou
ambos jeitos. Entretanto, para que organismos naturais atinjam o equilíbrio, há uma
distribuição de pesos e medidas no qual tais elementos consigam estabilidade, essa
43
divisão se dá a nós seres humanos, aos animais, às árvores, etc. Tomando assim forma
assimétrica. Todavia, não há garantia de equilíbrio apenas em elementos simétricos,
existem composições magníficas perfeitamente assimétricas, onde se pode encontrar
perfeita estabilidade dentro de projetos altamente contrastantes.
Figura 9 - Balões Simetria e Enquadramento
Fonte: https://www.instagram.com/p/BcfY6pqHHV-/?hl=pt-br&taken-by=littlemissparty
Nessas duas imagens podemos ressaltar a significativa distinção na disposição
dos balões, na figura 8 a intenção do decorador era informar uma festa fora do padrão
convencional, demonstrando na disposição dos balões assimetria, no formato, cores e
tamanhos, geralmente nas brasileiras os arcos de bolas estão sempre atrás da principal
onde geralmente fica o bolo e os doces, nessa festa, a intenção era colocá-lo na frente,
em posição de destaque, as cores foi outra forma de desconstrução do convencional já
que na grande maioria predomina o laranja, nessa, ele teve o intuito de dar lugar ao
44
preto e branco, junto com variados tons de verde, variando nos formatos e tamanhos das
bolas.
Na figura 9, já vemos o oposto, mais precisamente expressado pelos
fundamentos do design da simetria e também do enquadramento. Os balões estão
dispostos em fileira, cumprindo o mesmo alinhamento das cadeiras, nas cores
e padronagens da pelugem do animais representados no safari, o número um
demonstrando a idade da criança, vem no centro da mesa, como ponto central para o
olho do expectador, e onde todos outros elementos; chapéus dos uniformes comumente
usados pelos guias do Safari, pratos e copos, dispostos sobre a mesa, dependem do
seu enquadramento.
4.3 Procurando Nemo
Como propomos fazer no tópico anterior seguiremos relacionando os elementos
e símbolos presentes nas festas de aniversário infantil, desta vez relacionando o mito da
encruzilhada, abordando mais especificamente, a proteção dos pais aos filhos como
tema central, correlacionando com o filme Procurando Nemo.
O filme da Disney em parceria com a Pixar, Finding Nemo, lançado em 30 de
maio de 2003 nos EUA, no Brasil, lançado no dia 04 de julho do mesmo ano com o
título Procurando Nemo. O filme ganhou o Oscar de melhor animação em 2003 e foi
um sucesso de bilheteria devido ao brilhante roteiro do diretor Andrew Stanton, também
diretor de Toy Story.
A Narrativa começou a ser estudada seis anos antes do seu lançamento, a
animação traz referências dos filmes anteriores da Pixar, retratando um mundo onde os
peixes e outros seres marinhos vivem numa sociedade semelhante à dos seres humanos.
No filme é contada a comovente história da incansável busca de um peixe palhaço
Marlin que perdeu seu filho Nemo em mar aberto.
No fundo do oceano, vive o peixe-palhaço Marlin que perde sua companheira
e quase toda sua ninhada, com exceção de uma, num ataque de barracuda.
Depois disso, Marlin tornou-se um peixe inseguro em relação ao oceano e um
pai superprotetor do filho sobrevivente, Nemo, que por causa do ataque
sofrido tem uma de suas barbatanas menor do que a outra. A superproteção e
a crença de que Nemo não consegue sobreviver sozinho provoca tensão na
45
relação deles. Tanta que no primeiro dia de aula de Nemo, esse decide
desafiar a crença do pai nadando para longe da Grande Barreira de Coral
onde vivem. Neste momento, ele acaba sendo capturado por um mergulhador
e levado para um aquário em seu consultório dentário em Sydney, Austrália.
Marlin, desesperadamente, parte a procura de seu filho. No caminho encontra
Dory, um peixe que sofre de perda de memória recente, que promete ajudá-lo
na procura por Nemo. Juntos, eles vivem inúmeras aventuras: encontram
tubarões e tartarugas; mergulham na escuridão do oceano; atravessam uma
floresta de águas-vivas; são perseguidos por gaivotas e até engolidos por uma
baleia. Ao mesmo tempo, que seu pai tenta resgatá-lo, Nemo precisa escapar
do aquário com a ajuda de seus amigos de confinamento já que sua vida está
em perigo: ele será dado de presente a uma criança “assassina” de peixes.
Suas tentativas são frustradas. Porém, quando Nemo fica sabendo que seu pai
– que ele acreditava que não iria procurá-lo por causa do medo do mar – está
atravessando o oceano e enfrentando aventuras, ele se entusiasma e consegue
escapar com a ajuda de seus amigos. Pai e filho se reencontram no mar e
juntos, um acreditando na possibilidade do outro de agir, precisam salvar
Dory e vários outros peixes presos na rede de pescadores. Nemo e Marlin se
desculpam pelos transtornos que um causou ao outro; ambos, agora com a
amiga Dory, nadam de volta a Grande Barreia do Coral. (VALENTE, 2011.
p. 13 e 14)
Pelo indiscutível sucesso do filme Procurando Nemo, em 2016 foi lançado uma
continuação da animação, agora intitulado Procurando Dory, relatando agora, a busca
do pai Marlin e o filho Nemo, pela amiga Dory, um peixe que sofre de perda de
memória recente.
Essa volta dos personagens Nemo, Marlin e Dory aos cinemas, trouxeram
também o retorno aos temas preferenciais de aniversário infantil, a seguir ligaremos o
mito da encruzilhada com a proteção dos pais aos filhos.
Figura 10 - Finding Nemo | Finding Dory
Fonte: https://www.amazon.co.uk
46
Como abordado anteriormente e enfatizado por Elíade (1998, p. 10) “[...] é
preferível estudar o mito a partir das sociedades arcaicas e tradicionais, ressaltando o
importante papel dos seus costumes, e como hoje eles fundamentam e justificam todo
comportamento e toda atividade humana”.
De acordo, com o Dicionário de Símbolos de Jean Chevalier (1986, pg. 93)
“Acredita-se que o amuleto possui uma força mágica: realiza o que simboliza, uma
relação particular entre a pessoa que carrega as forças que ele representa.” Os povos
arcaicos tinham uma postura de proteção aos filhos, no dia dos seus aniversários as
crianças eram cercadas de amuletos de sorte e boas felicitações, para livrarem os
espíritos maus.
Modernamente quando presenteamos um aniversariante, não o fazemos no
sentido de proteção como os povos arcaicos faziam, o fazemos como forma de
demonstração de afeto e carinho, e porque acreditamos que aquele determinado presente
irá satisfazer a pessoa que está recebendo.
Segundo Jean Chevalier (1986, pg. 447), “[...] posteriormente os romanos
prestavam culto aos Lares nas encruzilhadas, precisamente para se livrar de um destino
ruim.” Eles chegavam as encruzilhadas levavam oferendas em troca de proteção dessas
divindades dos lugares, a proteção dos lares/casas.
Assim como o lar a encruzilhada tem a representação de segurança, é dentro das
casas que se passam os momentos mais felizes e tristes da vida, da mesma maneira que
na encruzilhada tem caminhos e rotas opostas a seguir, bem como vem com a conotação
de oportunidades.
A relação dos pais com os filhos na suma maioria das vezes, passa por
momentos difíceis e contradições quando se trata de autoridade e excesso de proteção,
no filme Procurando Nemo, Marlin e Nemo enfrentam este momento no primeiro dia de
aula de Nemo, geralmente essa atitude super protetora dos pais são o gatilho para os
filhos iniciarem os sonhos de liberdade. Contudo quando há conflitos, há também
chance de restauração e fortalecimento, pessoal e emocional, a encruzilhada é
igualmente lugar de mudanças positivas, em todas instancias.
Os gênios das encruzilhadas absorvem as forças das quais a pessoas se
desfazem, e que constituem para eles uma sorte de alimento que será
devolvido aos homens em forma de presentes limpos de toda a sujeira. Se
invoca particularmente a proteção desses gênios nos momentos importantes
da vida coletiva. (CHEVALIER .1986, p. 447)
47
Levando em consideração todos os fatos, tomamos encruzilhada como lugar de
proteção, resolução e por fim, a partida, não se sabe para onde ou para quê, mas sem
dúvida a ação de partir, é uma das funções mais importantes desse local.
4.3.1 Festa Procurando Nemo
A animação é repleta de cenários coloridos e fascinantes, de fato essa é uma
das maiores motivações para pais e filhos preferirem este tema, o mesmo é considerado
unissex, geralmente usados nos primeiros anos da criança, onde é levada em conta a
preferência dos pais, talvez um dos pontos relevantes na escolha seria o interesse dos
mesmos pelo mar, ou animais marinhos.
Na paleta de cores a cor predominante é o azul representando o fundo do mar,
mas também laranja, preto e branco, simbolizando as cores do peixe palhaço. Ao
decorrer da narrativa da animação há uma série de referências de um modelo de
sociedade parecida com a dos seres humanos, com sinais de trânsito e escolas regulares,
por esse motivo, houve várias espécies de animais marinhos presentes no filme, de tal
modo que podemos notar também cores como: Verde, retratando as tartarugas e as algas
marinhas, cinza para o tubarão, e roxo para o polvo, no fim há uma grande e harmoniosa
gama de cores.
Figura 11 - Festa Procurando Nemo
Fonte: https://pragentemiudacriacoes.com.br/festa-nemo-2/
48
4.3.2 Os doces
Como citado no início desse trabalho, desde as mais remotas celebrações o
banquete estava presente nas mesas como forma simbólica do rito da confraternização,
de partilha e vida em sociedade. O mesmo é tido como um ritual universal, sendo
muitas vezes sacrificial, entretanto caraterizado como um ritual de oferta, uma refeição
preparada obstinadamente na intenção entrega, aos deuses ou pessoas de seu convívio.
Como citado por Chevalier (1986, p. 174), “Por extensão é o símbolo da
comunhão dos Santos, ou seja, do Bliss celestial para a partilha de a mesma graça e da
mesma vida. [...] é um símbolo de participação em uma sociedade, um projeto, uma
festa”.
Embora as festas de aniversários brasileiras tenham um cardápio bastante
diversificado em composições doces e salgadas, o que consideraremos aqui como
abordagem estética central serão os doces. Bastante popular e cada vez mais
precisamente e minuciosamente trabalhados, os doces, tem se mostrado também como
componente estético e indispensável da festa.
Como representação e exemplo, da arte da confeitaria e culinária, com doces
minuciosamente moldados nas cores e padrões dos personagens. Nesse painel semântico
selecionamos três imagens de aniversários infantis com o tema Procurando Nemo, com
a paleta de cores e componentes do fundo do mar presente nas festas desse respectivo
tema.
Contudo, tendo o design como um campo de análise e estudo interdisciplinar,
presente nas mais diversas áreas, e implicando efetivamente nelas, embora
ocasionalmente não sendo percebido, ainda sim abre porta para discursões sobre a
forma e sua flexibilidade, os significados e interpretações que cada ser humano pode vir
a ter a partir dessa interpretação.
Em suma, faremos novamente as conceituações dos elementos presentes nos
doces, a partir dos Fundamentos do Design, segundo Lupton e Phillips (2008), para
melhor enaltecer a análise, selecionaremos a imagem que melhor se enquadra agora nos
fundamentos, cor, textura, harmonia e contraste.
49
Figura 12 - Painel Semântico 2 | Doces Procurando Nemo
Fonte: Autor 2018
O Tato é um dos sentidos mais importantes dos seres humanos, através dele é
que entendemos a natureza das coisas, podemos perceber as texturas, conseguindo
diferenciar os diferentes formatos presente ao nosso redor, o que faz dele um sentido
experiencial.
O fundamento de textura no design pode ser tanto concreto como apenas visual,
a maneira como ela é utilizada altera a percepção do projeto, a usamos como elemento
de diferenciação para expressar uma sensação e reforçar um ponto de vista, que pode
exemplificada através de ilustrações detalhadamente desenhadas, ou impressas em
papéis foscos ou brilhos, lisos ou ásperos, vernizes, etc.
Assim como na vida, a beleza da textura no design encontra-se, com
frequência, na pregnância de sua justaposição ou contraste: espinhosa / lisa,
pegajosa / seca, rugosa / macia e etc. Colocando uma textura em relação a
outra, oposta ou complementar, o designer pode amplificar as propriedades
formais únicas de cada uma delas. (LUPTON e PHILLIPS, 2008 p. 53)
Outro fundamento que se torna indispensável nesta análise é a cor, ela é a
responsável em exprimir sentimentos, destacar elementos, representar temperaturas,
cores contrastantes promovem energia visual dando a qualquer composição
50
significância para codificar uma informação.
A cor pode exprimir uma atmosfera, descrever uma realidade ou codificar
uma informação. […] A cor tornou-se parte integrante do processo de design.
A impressão em cor, antes um luxo, virou rotina. Um número infinito de
matizes e intensidades dá nova vida à mídia moderna, revigorando a página, a
tela e o ambiente construído, compondo com sensualidade e significância. As
Artes gráficas e a cor encontraram-se. (LUPTON e PHILLIPS, 2008 p. 70)
Figura 13 – Tartaruga Squirt
Fonte: https://www.instagram.com/p/BFgsyiePZ7A/?taken-by=isaherzog
Das três imagens, essa é a que melhor representa os fundamentos de textura, cor,
harmonia e contraste. Nessa figura podemos observar a representação de um dos
personagens mais lembrado da animação, a tartaruga marinha Squirt, um filhote falante
cujo o Pai Crush, ajuda Marlin chegar na Califórnia e encontrar Nemo.
As características mais marcantes do doce são as texturas, tanto as táteis quanto
visuais, podemos observa-las nos mais diferenciados formatos, dando volume e forma
ao doce. As machinhas como textura visual em verde lodo, e o casco em marrom com
tons de laranja, amarelo e vermelho, com pequenos furinhos dando uma textura tátil.
Como observa Lupton e Phillips (2008), “Textura concreta a qualidade física que resulta
51
dos atos de recortar, queimar, marcar e extrair, repetidamente, cria superfícies de
texturas concretas com forte apelo. ”
As cores no total trazem tons harmônicos, variando entre intensidades de
marrom para o casco, e verde claro para patinhas e cabeça, tendo o ponto mais alto grau
de contraste nos olhos da tartaruguinha, variando em tons de preto, branco e laranja. É
na impossível não pontuar particularmente as cores da animação, que foram
minuciosamente selecionadas para destacar os animais marinhos na imensidão de tons
azul.
Harmonia e contraste de textura detalhes de superfícies podem ter
características harmônicas ou contrastantes, produzindo efeitos visuais
distintos. Algumas texturas têm alto grau de contraste e são construídas com
elementos reativam ente grandes; outras têm contraste baixo e um grão fino,
delicado. (LUPTON e PHILLIPS, 2008 p. 62)
Por se dizer um trabalho de análise concluímos este respectivo capitulo
ressaltando a importância de vê a beleza do design em tudo, nas mais remotas áreas,
mas que há inúmeros conceitos e fundamentos sendo aplicados nelas, precisando apenas
de reconhecimento de tais.
52
5 CONCLUSÃO
Todo signo concreto evocando, por uma relação natural, algo ausente ou
impossível de ser percebido. É uma representação que faz aparecer um
sentido secreto (PITTA, 2005 p. 18).
Sendo o Design uma área de conhecimento que bebe de variadas fontes, dentre
elas a Sociologia, a Antropologia, a Psicanálise, a Semiótica e o Imaginário, torna-se
essencial o estudo dos símbolos e dos signos criados pelos seres humanos em situações
diferentes e específicas, podendo variar ao longo do tempo, dependendo das
transformações da cultura, portanto a análise consiste em se esses símbolos vão se
transformar ou não de acordo com o contexto histórico.
Quando uma festa de aniversário infantil está sendo projetada, não se imagina
que por trás de todos elementos simbólicos há tantos significados e que cada
componente simbólico está enraizado de vários costumes e conceitos do quais foram se
consolidando e sendo levado de geração em geração, moldado por crenças e rituais
segundo as religiões e culturas, conforme chegou à nós e fomos reproduzindo na mesma
medida.
Esse trabalho partiu do objetivo de analisar os elementos simbólicos e formais
presentes nas festas de aniversário infantis, a partir dos fundamentos de Design, e
dialogando com os mitos, presente no inconsciente coletivo, que transformaram esses
arquétipos em símbolos.
Vimos como cada elemento surgiu, suas modificações de acordo com o tempo,
onde na maioria das vezes os costumes surgiram de maneira seletiva, em comemorações
aos deuses ou aos altos escalões das sociedades, aos reis, faróis, e imperadores, para que
posteriormente os costumes fossem chegando às pessoas comuns, mais precisamente
com o cunho de proteção aos aniversariantes do dia, com ações sacrificiais para guardar
a alma do aniversariante.
Com todas multiformidade ao longo do tempo, chegamos a elementos aos
formais do bolo, das velas, dos balões, dos convites, dos doces e salgados, etc. Com as
mudanças, esses elementos foram se moldando com padrões estéticos de cada época,
onde na atualidade estão cada vez mais minuciosamente trabalhados, cheios de
conceitos e fundamentos que podem ser analisados pelo ponto de vista do Design.
53
Percorremos pelos caminhos do imaginário para compreender melhor, como
cada símbolo foi ancorado no nosso inconsciente, onde não poderíamos estudar os
costumes atuais sem ressaltar a importância dos mitos nas sociedades arcaicas e
tradicionais, revelando o importante papel que esses povos desempenharam em nossa
história.
De modo que para esses povos as crenças continuam se perpetuando quase
imutavelmente pelo fato de sempre ensinarem não o que seus pais ou avós fizeram, mas
por acreditarem que os mitos narram essas histórias fabulosas de Entes Sobrenaturais
desenvolvedores de ações criadoras no princípio, ao qual devem desempenhar até hoje.
Por fim, ao transcorrer pelas narrativas mito simbólicas e a importância dela
para as sociedades atuais, dialogamos entre os mitos, o Imaginário e o Design. Os
fundamentos do Design são a base para criação de qualquer projeto, como por exemplo,
o estudo da forma, da cor, da textura, da hierarquia, etc., que são conceitos universais
utilizados por escolas renomadas como a Bauhaus, onde podemos conferir no livro
Novos Fundamentos do Design (LUPTON e PHILLIPS, 2008) fazem um estudo
ressaltando o desafio de fazer um bom design na era dos programas, o trabalho nasceu
da necessidade de ressaltar novos fundamentos que surgiram na era pós-modernidade.
Assim como Lupton e Phillips percebem a necessidade de abordar novos
conceitos de design, ressalto aqui a importância desse trabalho de enxergar conceitos
em áreas distintas como festas infantis, onde cada elemento simbólico formal e sua
estética presente nas festas. Ainda, como o respectivo tema pode ser analisado a partir
de conceitos de design, vimos a importâncias desses elementos mais simples como os
doces, mas com grande função visual que são moldados a partir de elementos tais como
a textura, tátil ou visual e a paleta de cor minuciosamente estudada para contrastar com
os outros elementos.
Finalizo essa pesquisa, acreditando que este trabalho abre portas para outras
posteriores pesquisas se inspirarem em enxergar o design em todas as áreas, inclusive
no estudo da identidade visual presente nas festas, campo crescente e cheio de
significados, acreditando que existem inúmeras áreas ainda a serem desbravadas.
Coloco humildemente este trabalho como um pequeno espaço de atuação e amor, que
não seria por outro motivo a não ser por paixão em enxergar a beleza nas pequenas
coisas, assim como as crianças.
54
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