“Libertei um. Libertei-me a mim.” “[...] a liberdade para todos só pode vir com a destruição
das ficções sociais [...].”
“Anarquia e Heteronímia: O Banqueiro Anarquista de Fernando Pessoa”
Burghard Baltrusch, Universidade de Vigohttp://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
Subversão das ideias fundacionais da modernidade:
odesqualificar a ideia que uma fraternidade natural legitimaria os sistemas políticos;ocontrariar a ideia que num estado natural todos os seres humanos seriam iguais e felizes;odesvalorizar a tese que o fortalecimento do interesse próprio e da liberalização do mercado teriam como consequência o bem-estar geral;odesconstruir as ideias românticas escondidas nas utopias políticas;oquestionar a ideia da revolução como estrutura arquetípica e psicologicamente inerente à cultura humana.
Apontamentos para uma estética não-aristotélica
A arte, portanto, é antes de tudo, um esforço para dominar os outros. [...] Há uma arte que domina captando, outra que domina subjugando.[...]Assim, ao contrário da estética aristotélica, que exige que o indivíduo generalize ou humanize a sua sensibilidade, necessariamente particular e pessoal, nesta teoria o percurso indicado é inverso: é o geral que deve ser particularizado, o humano que se deve pessoalizar, o "exterior" que se deve tornar "interior".
Apontamentos para uma estética não-aristotélica :
Creio esta teoria mais lógica – se é que há lógica – que a aristotélica; e creio-o pela simples razão de que, nela, a arte fica o contrário da ciência, o que na aristotélica não acontece. Na estética aristotélica, como na ciência, parte-se, em arte, do particular para o geral; nesta teoria parte-se, em arte, do geral para o particular [...].
[...] o artista não-aristotélico subordina tudo à sua sensibilidade, [...] para assim, [...], se tornar um foco emissor abstracto sensível que force os outros, queiram eles ou não, a sentir o que ele sentiu, que os domine pela força inexplicável, [...] como o fundador de religiões converte dogmática e absurdamente as almas alheias na substância de uma doutrina que, no fundo, não é senão ele-próprio.
O banqueiro:
“Eu não criei tirania. A tirania, que pode ter resultado da minha acção de combate contra as ficções sociais, é uma tirania que não parte de mim, que portanto eu não criei; está nas ficções sociais, eu não ajuntei a elas. Essa tirania é a própria tirania das ficções sociais; e eu não podia, nem me propus, destruir as ficções sociais. Pela centésima vez lhe repito: só a revolução social pode destruir as ficções sociais; antes disso, a acção anarquista perfeita, como a minha, só pode subjugar as ficções sociais, subjugá-las em relação só ao anarquista que põe esse processo em prática, porque esse processo não permite uma mais larga sujeição dessas ficções. Não é de não criar tirania que se trata: é de não criar tirania nova, tirania onde não estava.”
“Não há nada superior a mim. […] Assim como o
mundo transformado em propriedade chegou a ser um
material com o qual faço o que quero, assim a razão há-
de tornar-se propiedade e descender a um estado material que já não me inspira nenhuma santa
timidez.”
“o ser humano é um animal egoísta em
guerra com os outros”
“Não há critério da verdade senão não concordar consigo
próprio. O universo não concorda consigo próprio, porque passa. A vida não concorda consigo própria
porque morre. O paradoxo é a fórmula típica da Natureza. Por isso toda a verdade tem
uma forma paradoxal.“
“O anarquismo é a irreligião natural, posta pela Natureza no
coração dos homens”.
Página 6 do livro, conclusão da leitura aplicada a Alexander Search:
1. O meu princípio, senão único objectivo [na vida] é a minha própria [?] felicidade. 2. Logo, o ser é [...] a felicidade de cada um.
[...]5. Por isso, o meu interesse está […] em mim mesmo […] minha vida + felicidade para […] mim […] será possível?
«La propriété est la plus grande force révolutionnaire qui existe et qui se puisse opposer au pouvoir [...]. Où trouver une puissance capable de contre-balancer cette puissance
formidable de l'Etat ? Il n'y en a pas d'autre que la propriété […].
La propriété moderne peut être considérée comme le triomphe de la liberté […]. La propriété est destinée
à devenir, par sa généralisation, le pivot et le ressort de tout le système
social.» (Théorie de la propriété, 1862)
“Marx disse que as revoluções são a locomotora da história
universal. Mas talvez isto seja completamente distinto.
Talvez as revoluções aconteçam quando a
humanidade, que viaja neste comboio, tire do travão de
emergência.”
Walter Benjamin, notas para as Teses sobre a História
Fernando Pessoa, Way of the Serpent:
Considerar todas as coisas como acidentes de uma ilusão irracional, embora cada uma se apresente racional para si mesma – nisto reside o princípio da sabedoria. Mas este princípio da sabedoria não é mais que metade do entendimento das mesmas coisas. A outra parte do entendimento consiste no conhecimento dessas coisas, na participação íntima delas. Temos que viver intimamente aquilo que repudiamos. [...] Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo – quando o homem se ergue a este píncaro, está livre, como em todos os píncaros, está só, como em todos os píncaros, està unido ao céu, a que nunca está unido, como em todos os píncaros.
“Libertei um. Libertei-me a mim.” “[...] a liberdade para todos só pode vir com
a destruição das ficções sociais [...].”
Burghard Baltrusch, Universidade de Vigohttp://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
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