ATAS DO SEMINRIO INTERNACIONALO FUTURO DOS MUSEUS UNIVERSITRIOSEM PERSPETIVA
Alice Semedo, Elisa Noronha Nascimento e Rui Centeno (coord.)
Arq. Alcino Soutinho (1930-2013) in memorian
ATAS DO SEMINRIO INTERNACIONALO FUTURO DOS MUSEUS UNIVERSITRIOSEM PERSPETIVAArq. Alcino Soutinho (1930-2013) in memorian
Secretariado Sandra CarneiroDepartamento de Cincias e Tcnicas do PatrimnioFLUP Via Panormica, s/n, 4150 564 Porto, PortugalTel. +351 226077182
apoioS
ttuloataS do Seminrio internacional o Futuro doS muSeuS univerSitrioS em perSpetiva
coordenao editorialAlice Semedo, Elisa Noronha Nascimento e Rui Centeno
editor: Universidade do Porto | Faculdade de Letras | Departamento de Cincias e Tcnicas do Patrimnio
edio: Universidade do Porto | Faculdade de Letras | Biblioteca Digital
local de edio: Portoano: 2014iSbn: 978-989-8648-23-5
concepo e arranjo GrFico: Elisa NoronhaimaGem da capa: Susana Medina
Os textos contidos nesta publicao so de inteiraresponsabilidade de seu autores.
local de realizaoSalo Nobre da Reitoria da Universidade do Porto
data28 e 29 de novembro de 2013
coordenaoAlice SemedoRui Centeno
comiSSo cientFicaAlexandre MatosAlice SemedoElisa Noronha NascimentoFortunato CarvalhidoSusana MedinaRui Centeno
comiSSo orGanizadoraAlexandre MatosClia MachadoElisa Noronha NascimentoFortunato CarvalhidoMaria Manuela RestivoSusana Medina
ATAS DO SEMINRIO INTERNACIONAL
O FUTURO DOS MUSEUS
UNIVERSITRIOS EM PERSPETIVA
AgrAdecimentos
O Departamento de Cincias e Tcnicas do Patrimnio da Faculdade de Letras da Universidade do Porto agradece a especial colaborao de:
lvaro Domingues, Amlia Cupertino de Miranda, Amlcar Correia, Filipe Couto, Ins Ferreira, Marta Rocha, Miguel Tom, Sandra Senra e Vanessa Nascimento Freitas.
AtAs do seminrio internAcionAl o Futuro dos museus universitrios em perspetivA
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ApresentAo
A palavra crise tornou-se constante em nosso tempo. Seu significado apon-ta para tenses e conflitos, assim como desafios a serem enfrentados. No entanto, o termo crise, em condies genricas, tem sido acompanhado de ambivalncias e, normalmente, onde encontramos crise ansiamos ver tambm solues para a mesma. A esperana de superao do momento da crise sempre objetivo desejvel e prope investigao, anlise e reflexo, para, a seguir, praticar as solues em bus-ca de momentos menos tormentosos e mais estveis.
Nas ltimas dcadas, profissionais e estudiosos de museus convivem com cri-ses e superaes das mesmas no setor museolgico. Contudo, os museus universi-trios tm enfrentado uma crise em paralelo com suas instituies irms. Nos anos 1980, ocorreu o que se denominou de crise dos museus universitrios. A difcil situ-ao caracterizava-se, em primeiro lugar, por uma crise de identidade e de propsi-to; em segundo, por menos reconhecimento de sua funo e importncia por parte da universidade e sociedade; em terceiro, por falta de recursos. Ao mesmo tempo, nos rgos internacionais como o Comit Internacional de Museus (ICOM), e nos congressos da rea de museologia, houve um momento de crise caracterizada por muitos questionamentos; a crise torna-se, portanto, um momento de redefinio a indicar novos paradigmas museolgicos.
AtAs do seminrio internAcionAl o Futuro dos museus universitrios em perspetivA
ApresentAo
lciA Glicrio mendonA
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Procurando encorajar e participar na reflexo e no debate sobre a misso e os modelos de organizao de museus universitrios e a superao dos desafios que a atividade museolgica em mbito universitrio implica, os Cursos de Doutoramento e Mestrado em Museologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto - FLUP realizaram nos dias 28 e 29 de novembro de 2013, no Salo Nobre da Reitoria da Universidade do Porto o Seminrio Internacional O Futuro dos Museus Universitrios em Perspetiva. O evento acolheu discusses sobre museus univer-sitrios, seus desafios, avanos, impasses, bem como apontou tendncias que ainda no se consolidaram. Estiveram presentes estudiosos e profissionais de museus uni-versitrios dedicados s cincias, engenharias e tecnologia, s colees arqueolgi-cas, histricas e etnogrficas bem como s artes visuais; assim como professores, investigadores e estudantes de vrias instituies de Portugal, Brasil e Inglaterra. Os temas escolhidos para debate foram os seguintes:
o papel dos museus universitrios e suas colees como agentes no processo de construo, transmisso e difuso do conhecimento;
o enquadramento dos museus universitrios no quotidiano e na realizao da misso da instituio acadmica;
as grandes tendncias e os modelos alternativos de gesto e financiamento dos museus universitrios;
o museu universitrio enquanto mediador entre os centros de produo cien-tfica e diferentes parceiros sociais.
Enfim, aps as discusses apresentadas ao longo do seminrio, pode-se afir-mar que persistem alguns desafios a serem superados pelos museus universitrios e seus profissionais. O mais problemtico e persistente definir claramente o pa-pel institucional e social desempenhados pelos mesmos. As dificuldades variam de instituio para instituio e de cultura universitria. Pelo visto, a soluo dever surgir, em um primeiro momento, individualmente a partir de solues criativas inerentes a cada instituio. possvel que esta problemtica no seja resolvida por estratgia ou reflexo de carter coletivo e unificado. Se cada universidade um organismo singular, os museus e colees sob sua tutela certamente apresentaram qualidades e percalos especficos. Uma soluo de consenso para o problema do papel e relevncia dos museus e colees universitrias para suas instituies de tutela poder ou no surtir o efeito desejado e esperado por todos.
Lcia Glicrio Mendona
NDICE
aprEsENtaoLcia Glicrio Mendona
MusEu DE CINCIa Da uNIvErsIDaDE Do porto: traNsMIsso, proDuo E DIfuso Do CoNhECIMENtoLus M. Bernardo
o MusEu Da uNIvErsIDaDE DE avEIro: CoLEEs, INvEstIGao E hEraNa patrIMoNIaLana Bela de Jesus Martins e ana Cristina fernandes Corts Justino
prIMEIro passo: DoCuMENtar as CoLEEsalexandre Matos
a IMpLEMENtao DE uM pLaNo DE CoNsErvao prEvENtIva para o aCErvo Da faCuLDaDE DE BELas-artEs Da uNIvErsIDaDE DE LIsBoaalice Nogueira alves, Marta frade e Carlos alcobia
pINtura Do aCErvo Da fBauL: uMa CoLEo para o futuroLus Lyster franco
rEpENsar a MIsso Dos MusEus uNIvErsItrIos No tErrItrIotranscrio da Conferncia de paulo Cunha e silva
os MusEus uNIvErsItrIos Do porto E a sua INtEGrao No turIsMo CuLturaL Da CIDaDEantnio ponte e rui Centeno
MusEus uNIvErsItrIos: DE LEGIsLaDorEs Do saBEr a INtErprEtEs DE CuLturasLcia Glicrio Mendona
MusEu DE artE CoNtEMporNEa Da uNIvErsIDaDE DE so pauLo: CoNtExtuaLIzaEs E proCEssosElisa Noronha Nascimento
MusEu vIrtuaL fBauL: work IN proGrEss para a CoLEo DE pINturaana Mafalda Cardeira
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REPENSAR A MISSO DOS MUSEUS UNIVERSITRIOS NO TERRITRIO
COLEES UNIVERSITRIAS E O PROCESSO DE CONSTRUO E TRANSMISSO DE CONHECIMENTO
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DIY Na uNIvErsIDaDE Do porto: INstruMENtos CIENtfICosfaBrICaDos LoCaLMENtEMarisa L. Monteiro, Jos Moreira arajo e Lus M. Bernardo
MusEu fEup: EstratGIas E MtoDos para a GEsto DE proDutos Do CoNhECIMENtosusana Medina
o MusEu DE GEoLoGIa fErNaNDo rEaL E pErspEtIvas futuras Elisa Gomes, ana alencoo, Martinho Loureno e Carlos Coke
INtErsEEs: os rECursos DIGItaIs No CoNtExto Da MusEoLoGIa uNIvErsItrIaJoo Carlos Carvalho aires de sousa
proCEsso CrIatIvo DE INvEstIGao No MusEu Da fEup Maria van zeller
INvEstIGao E CuraDorIa Nos MusEus uNIvErsItrIos Do porto [DEpsIto (2007); rEsCaLDo E rEssoNNCIa (2009); EDIfCIos & vEstGIos (2012)]Ins Moreira
CuraDorIas CoMpartILhaDas: uM EstuDo soBrE as ExposIEs rEaLIzaDas No MusEu Da uNIvErsIDaDE fEDEraL Do rIo GraNDE Do suL (2002 a 2009)Maria Cristina padilha Leitzke e zita rosane possamai
rELatrIos | Mapas CoNCEptuaIsIns ferreira e vanessa Nascimento freitas
Notas BIoGrfICas Dos autorEs
APNDICES
MUSEUS UNIVERSITRIOS COMO MEDIADORES
MODELOS DE GESTO DOS MUSEUS UNIVERSITRIOS
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COLEES UNIVERSITRIAS E O PROCESSO DE CONSTRUO E TRANSMISSO DE CONHECIMENTO
9Museu de CinCia da universidade do Porto:transMisso, Produo e difuso do ConheCiMento
Lus M. Bernardo
Resumo
Numa poca em que a cincia e a tecnologia desempenham um papel relevante na
vida dos povos, importante que os museus universitrios contribuam para o fomen-
to da cultura cientfica e para o despertar vocaes tcnicas e cientficas nas crianas e nos jovens. Para conseguir tais objectivos, o Museu de Cincia da Universidade do
Porto desenvolveu um conjunto de iniciativas e estratgias que sero brevemente
apresentadas.
Palavras-chave: museu de cincia, museu interativo, divulgao da cincia
Abstract
In a time where science and technology play a relevant role in the life of nations, it is
important the university museums contribute to promote the scientific culture and to awake technical and scientific vocations in children and youth. To achieve such aims, the Science Museum of the University of Porto has developed a set of actions
and strategies that will be briefly presented.
Keywords: science museum, interactive museum, popularization of science
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1. objeCtivos
Os museus de cincia e tecnologia sempre despertaram a curiosidade e a aten-
o dos visitantes [1]. Os objectivos destes primeiros museus eram, no entanto, dis-tintos dos atuais. O famoso Museu Kircheriano (1651) do padre Athanasius Kircher
era constitudo por livros, aparelhos cientficos e teatrais, e espcimes de histria natural. Como o prprio padre escrevia, o seu museu destinava-se a satisfazer o desejo de investigao dos conhecedores, a admirao dos ignorantes e incultos e, finalmente, o entretenimento de prncipes e magnatas [2].
Os objectivos dos museus de cincia forem evoluindo com o passar do tempo.
Em 1852, num memorando da Royal Society of Arts de 1852, afirmava-se que um museu, propriamente considerado no uma coleo de curiosidades, monstruosi-dades, antiguidades ou trabalhos artsticos colocados juntos em vitrinas numa esp-
cie de confuso nativa, mas se merece o nome, um lugar onde se pode adquirir ins-
truo (e educao) e consequentemente no qual a ordem, o arranjo e o mtodo so evidentes por todo o lado [3]. Com a popularizao da cincia e da tcnica, iniciada no sculo XIX, os museus de cincia assumiram o papel de transmissores, produ-
tores e difusores de conhecimento objectivos que ainda hoje mantm. Conservar
e expor os equipamentos antigos sua guarda, produzir conhecimento, divulgar e
promover a cincia e a tecnologia, fazem parte dos objectivos do Museu de Cincia
da Universidade do Porto, fundado em 1996.
2. Colees
O Museu ocupa o edifcio histrico da Universidade, onde funciona atualmen-te e Reitoria. Um dos espaos mais emblemticos do Museu o Laboratrio Ferreira da Silva [4], cuja traa arquitectnica sofreu ao longo dos anos algumas modifica-es. Entre 1927 e 1949 dotado com uma arquitetura influenciada pela chamada Arte Nova apresentava-se como um laboratrio qumico, moderno e funcional, tpico da poca. Tm sido feitos esforos para que volte, tanto quanto possvel, a esta traa arquitectnica, embora adaptado a funcionalidades museolgicas renovadas que ponham em harmonia antiguidade e modernidade. O seu restauro constituir
um importante contributo para a cultura cientfica nacional, pois dotar o pas com um laboratrio tpico do incio do sculo XX que se juntar ao da Universidade de Coimbra, do sculo XVIII, e ao da Universidade de Lisboa, do sculo XIX. Com estes
trs laboratrios, Portugal ocupar um lugar nico na histria cultural da Qumica.
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lus M. bernardo
Museu de CinCia da universidade do Porto: transMisso, Produo e difuso do ConheCiMento
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Para realizar os seus objectivos, o Museu de Cincia possui um conjunto de
equipamentos antigos e modernos. Com os primeiros, tm-se realizado atividades
de transmisso, produo e difuso de conhecimento histrico-cientfico, atravs da investigao e da exposio das colees. Com os segundos, integrados no museu interativo, tm-se promovido aes de divulgao da cincia e da tecnologia, atravs de exposies e do servio educativo.
O acervo de instrumentos antigos tem origens na Universidade do Porto e nas
instituies que a precederam Aula Nutica (1763), Aula de Debuxo e Desenho (1779), Real Academia de Marinha e Comrcio (1803) e Academia Politcnica (1837) [5-9]. Apesar de estarem cientificamente desatualizados, estes instrumentos consti-tuem, porm, uma importante coleo para o estudo da histria da cincia, da tc-nica e das instituies.
De entre os objetos mais emblemticos do Museu encontram-se: um relgio de preciso com pndula compensada, um par de globos de grandes dimenses, uma importante coleo de cartas nuticas, um conjunto de gravuras, usadas no ensino do desenho, e muitos documentos ligados histria das vrias instituies a que pertenceram.
O relgio de preciso com pndula compensada foi adquirido por 84 libras pela Academia Real da Marinha e Comrcio da cidade do Porto em finais de 1804 [10]. O fabricante John Arnold uma referncia no campo da horologia, tendo to-mado parte no intenso drama cientfico da descoberta de um mtodo preciso de determinao da longitude [11]. Este relgio foi construdo em 1798 quando a firma j era gerida pelo filho de Arnold, John Roger e tinha uma preciso de 0.2 s por dia, um valor extraordinrio para a poca. Acertado astronomicamente pela
observao da passagem de astros no meridiano local, servia como referncia para a regulao dos cronmetros martimos, utilizados por marinheiros e agentes comer-ciais da cidade.
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fig. 1. Par de globos, terrestre e celeste,
exibidos na Exposio 250 Anos da Criao
da Aula Nutica do Porto (2012).
Os dois globos, terrestre e celeste (Fig. 1), foram construdos por John Addison de Londres, tm um dimetro de 36 polegadas e foram adquiridos em 1829 pela Junta Administrativa da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro para a Real Academia de Marinha e Comrcio da cidade do Porto. Constituem um
par nico em todo o mundo, sabendo-se apenas da existncia de um globo terrestre semelhante no castelo Amerongen na Holanda. Estes globos eram usados para dar
informao geogrfica e celeste e eram destinados ao ensino da arte de navegar [12]. Ao mesmo fim se destinava a importante coleo de cartas nuticas da autoria de Johanes / Gerhard van Keulen. constituda por 22 cartas geogrficas e 6 cartas de perfis de costa, datadas do sculos XVII ao XIX, sendo a mais antiga de 1695 [13] (Fig. 2).
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fig. 2. Carta nutica das costas de
aunis e saintonge (frana), entre olonne
e la Gironde (esturio formado pelos
rios Garonne e dordogne, a jusante de
bordeaux). Gemetra: vooght, amsterdam.
editor: johannes van Keulen, amsterdam,
1695. Cartela em francs e holands de
515 X 595 mm.
A coleo de gravuras e estampas, existentes no Museu, muito variada e foi usada no ensino do desenho artstico e tcnico, professado desde 1779 na Aula de Debuxo e Desenho. No incio do sculo XIX, esta aula foi integrada na Real Academia de Marinha e Comrcio juntamente com a Aula Nutica. O desenho tcnico desen-
volveu-se sobretudo a partir da criao da Academia Politcnica em 1837, tendo sido adquiridas por esta instituio a maioria das estampas existentes no Museu. A divulgao desta coleo ser feita em 2014 numa exposio dedicada ao desenho tcnico ensinado na Universidade do Porto e nas instituies que a precederam.
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Existem no Museu vrios documentos que so importantes para a histria da cincia e das instituies: catlogos de instrumentos, relatrios tcnicos, folhas de servio, facturas, cartas de ilustres figuras da cincia nacionais e estrangeiras. Esta documentao a marca de uma poca que tende a desaparecer com a utilizao ge-neralizada do documento electrnico, um fenmeno que dever merecer a ateno e o estudo dos muselogos portugueses de forma a integrar convenientemente esta nova forma de registo na memria histrica.
3. Museu interativo
A caracterstica mais relevante dos museus interativos cujo paradigma o
Exploratorium de San Francisco (1969) a facilidade com que os visitantes podem interagir fisicamente com o objecto exposto e desta forma terem uma experincia viva da investigao ou explorao cientficas. O Museu de Cincia da Universidade do Porto tem um museu interativo, montado em 2006 e constitudo por quatro salas uma das quais dedicada s energias renovveis.
fig. 3. aspecto de uma das salas do
museu interactivo onde so visveis alguns
mdulos.
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Os mdulos montados nestas salas (Fig. 3) desafiam a curiosidade, a intuio e os conhecimentos do visitante com a apresentao de fenmenos inesperados e contraintuitivos. Mais do que transmitir conhecimento, o objectivo destes mdulos estimular a procura do conhecimento. Em cada mdulo apresenta-se a descrio ou explicao sumria de uma experincia e colocam-se questes que o visitante interessado poder explorar. Os mdulos tm tambm a finalidade de destacar algu-mas caractersticas e valores do trabalho cientfico, como, por exemplo, a pacincia e a persistncia, qualidades que um cientista cultiva constantemente.
A estrutura central da sala das energias renovveis uma maqueta (Fig. 4) que representa vrios ambientes geogrficos meios rural e urbano, parques ldico e industrial onde se movimentam comboios e outros aparelhos miniaturizados,
alimentados por energia proveniente de painis solares fotovoltaicos localizados no
tecto do edifcio. Pretende-se com esta montagem transmitir a ideia das mltiplas funcionalidades das energias renovveis e valorizar o seu papel ecolgico.
fig. 4. Maqueta da sala das energias
renovveis.
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Um labirinto de espelhos e elementos decorativos alusivos a fenmenos de percepo visual e iluses esto instalados numa parte desta sala, com o objectivo de demonstrar alguns fenmenos de percepo particularmente intrigantes.
3. atividades de estudo, ProMoo e divulGao
As colees antigas existentes no Museu foram adquiridas durante dois sculos e meio pelas instituies de ensino j referidas, com os objectivos de ministrar e pro-duzir conhecimento. So estes mesmos objectivos que se pretende dar atualmente
s colees, estudando-as sob diferentes perspectivas: funcionalidade, utilidade e histria. A informao assim obtida tem sido difundida em publicaes, exposies e na base de dados da Universidade do Porto (Index Rerum) que se encontra aces-
svel na internet.
Para o conhecimento das colees tm sido muito importantes as relaes in-ternacionais estimuladas e mantidas com especialistas individuais, ou integrados
em museus similares bem como as participaes em congressos nacionais e in-ternacionais. Atravs dos contactos assim estabelecidos, tem sido possvel no s conhecer melhor o valor das colees em termos comparativos e trocar experincias e conhecimentos, mas tambm divulgar, nacional e internacionalmente, o esplio do Museu.
A realizao peridica de exposies e a publicao dos respectivos catlogos constituem uma forma eficaz de divulgao e uma forte motivao para o estudo das colees [5,12,14]. A abordagem expositiva das peas museolgicas deve ser explo-rada com perspectivas diversificadas, mantendo sempre, no entanto, o objectivo de melhorar a cultura cientfica dos visitantes. Por exemplo, a exposio dos sucessivos modelos de um instrumento pode contar a histria da evoluo tecnolgica, da mes-ma maneira que uma exposio de fsseis pode revelar a evoluo biolgica. Pode evidenciar-se desta forma o conceito de evoluo, ligado cincia e tecnologia, que no existe, pelo menos de uma forma evidente, noutras reas de atividade humana
como o caso das artes. Uma opo expositiva, que ligue o objecto exposto cida-de atravs da sua histria, pode constituir um importante elo de ligao emocional com os visitantes e contribuir para o fortalecimento dos laos sentimentais entre as populaes e as suas instituies de ensino e investigao. Uma exposio cientfi-ca, realizada num espao ou museu de arte, pode atrair o interesse para a cincia de grupos populacionais com motivaes predominantemente artsticas. Com uma abordagem expositiva apropriada, uma exposio pode transmitir valores que vo para alm do valor cientfico e tcnico diretamente ligado s peas.
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fig. 5. Catlogo impresso da exposio
dois sculos: instrumentos Cientficos na
histria da universidade do Porto, realizada
no Museu nacional de soares dos reis.
Para alm das exposies, a publicao de artigos e de catlogos (Fig. 5) um motivo ponderoso para o estudo das colees e produo de contedos. A publicao do catlogo de uma exposio permite o registo da iniciativa e dos resultados das investigaes realizadas, devendo ser, na atividade museolgica universitria, um objectivo to importante como a prpria exposio. Atualmente, sempre possvel fazer a sua publicao electrnica (e-book) mesmo que as dificuldades financeiras impeam a publicao tradicional.
O servio educativo do Museu de Cincia incluiu uma iniciativa integrada na Universidade Jnior, Experimentar no Museu de Cincia, que tem por objectivo motivar as crianas para a atividade experimental. As experincias propostas para realizao [15] so muito simples e podem ser replicadas em casa. Pem em evi-dncia fenmenos fsicos da vida diria e pretendem incutir nas crianas valores fundamentais do trabalho cientfico.
No h estudos sistemticos que avaliem a eficcia do servio educativo no de-senvolvimento de vocaes cientficas. No entanto, os testemunhos de muitos cien-tistas mostram que a divulgao cientfica, nas suas mais variadas formas, estimula, indelevelmente, vocaes para a cincia.
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4. ConCluso
Tendo como ideia de fundo o futuro dos museus universitrios e o seu papel no processo de transmisso, produo e difuso do conhecimento, foi apresentado um conjunto de estratgias e atividades realizadas no Museu de Cincia da Universidade
do Porto. Com base na experincia adquirida, defendemos que os museus de cincia
universitrios, tal como no passado, devem ter como objectivo fundamental contri-
buir para o aumento da cultura cientfica das populaes, despertar vocaes para a cincia, e promover os valores da cincia e da metodologia cientfica. As atividades ldicas ou espetaculosas podem comprometer a transmisso das ideias de esforo e de rigor associadas cincia, podendo at estimular o facilitismo to prejudicial ao
esprito cientfico. A experincia virtual de fcil acesso atravs das novas tecno-logias poder secundarizar o valor da experincia real, oferecida por um mdulo interativo, onde se promove o contacto fsico com os objetos.
Os aspectos histricos tm sido muito valorizados nas atividades de investiga-o do Museu de Cincia, por se considerar que a histria permite compreender a evoluo da cincia e projetar o seu futuro.
Um dos problemas do museus universitrios e, particularmente, dos museus
de cincia manter a fidelidade dos visitantes. Esta deve ser estimulada pela cons-tante renovao da oferta expositiva e educativa. Para isso necessrio um esforo de produo contnua de contedos que s possvel atravs do estudo e da investi-gao das colees, bem como da inovao das tcnicas expositivas.
Referncias
1. Bernardo, Lus Miguel (2013), Cultura Cientfica em Portugal Uma Perspectiva Histrica, Porto: UP Editorial, pp. 130-137.
2. Findlen, Paula (2003), Scientific Spectacle in Baroque Rome: Athanasius Kircher and the Roman College Museum, in Jesuit Science and the Republic of Letters, edit. Mordechai Feingold, London: The MIT Press, p. 262.
3. Lord Amulree (1939), The Museum as an Aid to the Encouragement of Arts, Manufactures and Commerce, Journal of the Royal Society of Arts, Vol. LXXXVII, n. 4534, Outubro 13, p. 1167.
4. Monteiro, Marisa; Bernardo, Lus (2012), The Ferreira da Silva Chemistry Laboratory a valuable asset in a university collection, University Museums and Collections (UMAC) Journal, 5, pp. 31-38.
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lus M. bernardo
Museu de CinCia da universidade do Porto: transMisso, Produo e difuso do ConheCiMento
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5. Bernardo, Lus M.; Arajo, J. Moreira; Monteiro, Marisa (2011), Dois Sculos: Instrumentos Cientficos na Histria da Universidade do Porto, Catlogo de Exposio, Porto: Universidade do Porto.
6. Monteiro, Marisa L; Bernardo, Lus M.; Arajo, Jos M. (2010), O Museu de Cincia da Universidade do Porto: colees de cincias exatas da Faculdade de Cincias, in Marcus Granato, Marta Loureno (org.), Colees Cientficas Luso-Brasileiras: patrimnio a ser descoberto, Museu de Astronomia e Cincias Afins- MAST/MCT, Rio de Janeiro, pp. 211-230.
7. Arajo, Jos Moreira de (2003), Equipamento da Academia, in Catlogo da Exposio Comemorativa do 2 Centenrio da Academia Real da Marinha e Comercio da Cidade do Porto, Porto: Reitoria da Universidade do Porto, pp. 50-129.
8. Monteiro, Marisa; Bernardo, Lus M.; Arajo, Jos M. (2008), Preserving Memory in the University of Porto: The Physics Collection of the Faculty of Science, Sci. Inst. Soc. Bull., n. 7, pp. 27-30.
9. Monteiro, Marisa L; Soares, Miguel F. O. (2010), Metheorological (and other) instruments revealed: the collection of the Geophysical Institute of Porto University, Sci. Inst. Soc. Bull., n. 104, pp. 17-21.
10. Bernardo, Lus M.; Arajo, J. Moreira; Monteiro, Marisa (2011), Dois Sculos: Instrumentos Cientficos na Histria da Universidade do Porto, Catlogo de Exposio, Porto: Universidade do Porto, pp. 36-37.
11. Sobel, Dava (1995), Longitude, New York: Walker and Company.
12. Arajo, Jos Moreira de; Bernardo, Lus Miguel; Monteiro, Marisa (2012), 250 Anos da criao da Aula Nutica do Porto, Catlogo de Exposio, Porto: Museu de Cincia da Universidade do Porto, in http://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/64528 (acedido em 28 de Fevereiro de 2014).
13. Idem, pp. 66-91.
14. Catlogo da Exposio Comemorativa do 2 Centenrio da Academia Real da Marinha e Comercio da Cidade do Porto (2003), Porto: Reitoria da Universidade do Porto.
15. Experimentar no Museu de Cincia (2013), Manual das experincias, Museu de Cincia da Universidade do Porto (publicao interna).
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O Museu da universidade de aveirO: cOlees, investigaO e herana patriMOnial
Ana Bela de Jesus Martins e Ana Cristina Fernandes Corts Justino
Resumo
Os museus universitrios, para alm da sua funo de conservao do patrimnio
cultural para as geraes futuras, como qualquer outro museu, podem tornar-se
centros de excelncia no apoio ao ensino-aprendizagem e investigao. O Museu
da Universidade de Aveiro (MUA) pode constituir-se uma mais-valia e um potencial
de oportunidades de investigao sobre as colees que o ncleo de museologia in-
tegra. Neste contexto, abordam-se algumas das atividades desenvolvidas com base
nas diversas colees existentes.
Palavras-chave: museu universitrio; coleo museolgica; museologia
Abstract
The universities museums, in addition to its function of assuring the cultural heri-
tage conservation to future generations, as any other museum, can became centers
of excellence in supporting the processes of teaching, learning and research. The
Museum of the University of Aveiro (MUA) can be set up into an added advantage
and become a big support to the scientific community. In this context, we will appro-ach some of the activities developed within the existing collections.
Keywords: university museum; museological collection; museology
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atas dO seMinriO internaciOnal O FuturO dOs Museus universitriOs eM perspetiva
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University museums are powerful resource centers for higher education institutions wishing to maximize the impact of their teaching and research and to reach new audiences in their region or beyond. They therefore have a unique bridging role in the dissemination of knowledge and of the understanding of science besides their primary roles as keepers of collections in various fields. (OECD, 2001, p. 3)
Desde Alexandria, que mais no era do que um prottipo de universidade, o
conceito de Museu manteve-se, durante muito tempo, ligado a colees privadas e
a obras culturais, com acesso restrito apenas aos seus diretos possuidores. S em
1683, com o aparecimento do primeiro museu universitrio, o Ashmolean Museum
de Oxford, no Reino Unido, que lhe associado um espao fsico e o conceito de
disponibilizao pblica. Desta forma, iniciou-se, um pouco por todo o mundo, o
aparecimento de museus nacionais e regionais, tendo-se assistido, tambm, a uma
diversificao na tipologia das suas colees (Lewis, 2012a, 2012b). Bastante mais tarde, surgiram, no conceito de museu, as componentes educativa, de estudo e de
lazer, bem como o alargamento ao patrimnio ambiental e imaterial (Jacomy, 1997;
Rayward, 1998; Silva, 2006).
Os museus universitrios, para alm de tratarem e conservarem os seus acer-
vos e proporcionarem o acesso a esse legado patrimonial s geraes futuras bem
como comunicarem o discurso expositivo dos objetos que possuem, com exposi-
es permanentes e /ou temporrias (Jacomy, 1997, Rayward, 1998), constituem-se como centros de excelncia e de apoio investigao, especialmente para a comuni-
dade cientfica das instituies onde esto integrados. Para alm disso, funcionam, tambm, como polo de atrao de novos pblicos s universidades.
Os acervos so maioritariamente compostos por colees que refletem a his-tria das Instituies, nomeadamente a sua vertente pedaggica. Formaram-se e cresceram com peas utilizadas em aulas das mais diversas reas, como etnografia, cincias naturais, farmacologia, fsica, entre outras. Em Portugal, nas Universidades
de Coimbra, Porto e Lisboa existem alguns destes exemplos. Em muitos casos, tam-bm, os museus universitrios cresceram a partir de colees privadas, provenien-
tes de doaes de benfeitores e de mecenas1. De facto, observa-se que os museus
inseridos nas universidades mais antigas desenvolveram-se em torno do seu prprio
acervo museolgico, como o caso dos objetos de uso em aulas prticas, ao longo
1 no presente contexto entende-se por mecenas, pessoas ilustres da regio que pretendem disponibilizar os seus esplios
a favor da investigao.
ana Bela de Jesus Martins e ana cristina Fernandes cOrts JustinO
O Museu da universidade de aveirO: cOlees, investigaO e herana patriMOnial
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da sua histria, enquanto os que esto integrados nas universidades mais recentes
desenvolvem as suas prprias colees (OECD, 2001), doadas ou adquiridas por
diversas formas.
Os museus ajudam-nos a compreender o passado e a imaginar o futuro. No
seio acadmico, em contextos privilegiados de investigao, acesso informao,
conhecimento, tecnologia e know how, os museus universitrios assumem um pa-
pel essencial e de relevo neste contexto. com com base nesta premissa que as com-
petncias estratgicas definidas para o Museu da Universidade de Aveiro insidem em trs vetores: patrimnio, inovao e criatividade.
O Museu ua
De acordo com a tabela classificativa2 indicada por Ambrose e Paine (2007) pode-se classificar da seguinte forma o Museu da Universidade de Aveiro (MUA): quanto tipologia das suas colees considera-se genrico; quanto subordinao
Universitrio; local no que diz respeito rea geogrfica que serve; e simulta-neamente educativo e especialista quanto ao pblico-alvo.
O Museu UA serve uma vasta comunidade interna de mais de 18 mil potenciais
utilizadores, distribuda por 16 departamentos, 4 escolas politcnicas, 14 unidades
de investigao e 4 laboratrios associados. A diversidade que carateriza esta comu-
nidade implica uma estratgia abrangente no que diz respeito ao apoio ao utiliza-
dor, com recurso a diferentes abordagens e servios em funo das necessidades
das diversas reas cientficas, mais ou menos complexas. Para alm de servir a sua comunidade acadmica, o museu da UA pretende alargar o espetro de utilizadores
comunidade envolvente, onde se inclui o pblico em geral e as comunidades educa-
tivas, como o caso das escolas dos vrios nveis de ensino.
De cariz maioritariamente patrimonial3 o MUA tem como misso () guar-
dar, preservar e documentar as colees museolgicas da Universidade de Aveiro,
assim como impulsionar o estudo e divulgao deste patrimnio (SBIDM, 2013). Inserido, desde final de 2009 nos Servios de Biblioteca Informao Documental e
2 a tabela inclui ainda a classificao do museu quanto forma como so expostas s as colees. todavia, como o museu
da ua apenas dispe de dois espaos expositivos, optou-se por no realizar a classificao de acordo com esta varivel.
3 atualmente o museu da universidade de aveiro agrega vrias colees, de entre as quais: vidro, cermicas, cartazes,
pintura e escultura. para mais informaes consultar o portal do Museu. [consult. 29 out. 2013]. disponvel em WWW:.
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O Museu da universidade de aveirO: cOlees, investigaO e herana patriMOnial atas dO seMinriO internaciOnal O FuturO dOs Museus universitriOs eM perspetiva
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Museologia (SBIDM), o Museu desenvolveu j vrias atividades enquadradas nas suas competncias e com vista projeo das suas colees.
as cOlees dO Mua
As colees do Museu da UA so essencialmente compostas por doaes priva-
das. Atualmente so formadas por onze (11) colees com vrios milhares de objetos
museolgicos.
A primeira coleo, a de pintura, teve incio em 1995 com a doao de um con-
junto de pinturas e desenhos da artista francesa Hlne de Beauvoir4. Composta por
cerca de 250 obras, grande parte da coleo retrata cenrios do quotidiano portu-
gus, fruto da sua passagem por Portugal, no final do sc. XX.
A coleo de pintura da UA foi sendo enriquecida, ao longo dos anos, com
outras doaes e aquisies de trabalhos de vrios artistas plsticos de Aveiro, no-
meadamente, Cndido Teles, Artur Fino, Hlder Bandarra, Mrio Silva, Jeremias
Bandarra ou ainda Z Penicheiro.
Na UA destaca-se, tambm, um conjunto de arte pblica que integra mltiplos
artefactos, sob a forma de ao galvanizado, pedra, madeira, granito, ao, vidro espe-
lhado e mrmore que se encontram localizados ao longo do campus, sob exposio
permanente.
A maior doao feita UA, todavia, foi realizada por Francisco Madeira Lus, em 2001. Com as colees de vidro, cartazes e cermica, foram acrescentadas, ao
museu, 5000 peas de vidro, 40000 mil cartazes e 3000 objetos, respetivamente.
A coleo de vidros inclui objetos essencialmente de cariz utilitrio, havendo ainda
alguns objetos de luxo e abrange um espao temporal compreendido entre a segun-
da metade do sculo XIX e a primeira metade do sculo XX. Existe um pequeno conjunto de peas datadas dos finais do sc. XVIII. A coleo de cartazes inclui peas recolhidas a partir dos anos 60 do sc. XX, maioritariamente de origem portuguesa, sob diversas temticas e apresenta-se sob trs formatos (A0, A1, A2). A coleo de
cermica contempornea, tambm maioritariamente de origem portuguesa, inclui
artigos de uso quotidiano, fabricadas entre os sculos XIX e XX. Algumas peas so oriundas de fbricas j extintas, como o caso da Fbrica de Sacavm.
4 em homenagem doadora, a universidade de aveiro atribuiu o seu nome sala de exposies da Biblioteca central.
ana Bela de Jesus Martins e ana cristina Fernandes cOrts JustinO
O Museu da universidade de aveirO: cOlees, investigaO e herana patriMOnial
24
Em 2005, o MUA voltou a crescer com a doao de uma nova coleo. Desta
feita do crtico de jazz Jos Duarte. O esplio pessoal do crtico musical doado, com-
posto por uma panplia de objetos da rea musical do Jazz, esteve na base da cons-
tituio do Centro de Estudos de Jazz, havendo j alguma produo acadmica e
cientfica realizadas.
Outra coleo adicionada ao MUA aconteceu em 2009, com a insero das
peas arqueolgicas descobertas quando dos trabalhos para as fundaes da nova
cantina universitria, na zona do Crasto. De acordo com Morgado (2013), as pe-
as descobertas so referentes s idades compreendidas entre a do Ferro, Bronze e
Calcoltico.
Entre os anos de 2010 e 2013 outras quatro colees foram adicionadas ao
MUA: o esplio do compositor Frederico de Freitas, uma coleo de discos goma-la-
ca, uma de gravuras e outra de instrumentos musicais (UA, 2013). A primeira destas
colees foi doada por Elvira de Freitas, filha do compositor e composta por cerca de 1500 documentos, de entre os quais, partituras (algumas delas inditas), corres-
pondncia pessoal e profissional, recortes de imprensa, fotografias, notas pessoais e textos manuscritos, bem como alguns discos em vinil. Este esplio reveste-se de
grande importncia para a investigao da rea da msica, tendo levado a Fundao
Calouste Gulbenkian a conceder um financiamento UA, para o seu tratamento, estudo e preservao (SBIDM, 2012).
A coleo de discos goma-laca composta por uma vasta compilao de m-
sica portuguesa, principalmente de fados, desde o primeiro disco gravado, em 1900
at 1950, altura em que este tipo de suporte deixa de ser utilizado para as gravaes
sonoras. Ao todo so cerca de seis mil discos goma-laca de 78rpm. Esta coleo foi
doada UA, por Jos Moas, proprietrio da editora Tradisom.
A coleo de gravuras da UA composta por um conjunto de 257 gravuras de
artistas portugueses editadas pela Gravura Sociedade Cooperativa de Gravadores
Portugueses, doadas pelo colecionador Madeira Lus e inclui artistas destacados como Jlio Pomar, Almada Negreiros e Bartolomeu Cid dos Santos, entre outros.
Desta coleo fazem parte, tambm, 7 gravuras de Hlne de Beauvoir e 39 gravuras
de vrios autores, entre eles Jlio Resende e Cndido Teles.
A coleo mais recentemente doada ao MUA composta por 23 instrumentos
musicais do construtor e violeiro Joaquim Domingos Capela (UA, 2013).
ana Bela de Jesus Martins e ana cristina Fernandes cOrts JustinO
O Museu da universidade de aveirO: cOlees, investigaO e herana patriMOnial atas dO seMinriO internaciOnal O FuturO dOs Museus universitriOs eM perspetiva
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alguMas atividades desenvOlvidas
O conjunto razovel de colees existentes no MUA, com potencial relevn-
cia para a investigao produzida na UA levou os SBIDM (Servios de Biblioteca, Informao Documental e Museologia) a organizar uma srie de atividades, algu-mas delas com a colaborao de docentes da Universidade.
Frederico de Freitas Do fado msica erudita: Exposio comemorati-
va dos 110 anos do nascimento do compositor, foi uma exposio realizada pelos
SBIDM, em 2013, em colaborao com a Professora Helena Marinho, que a comis-sariou e com Professora Maria do Rosrio Pestana, ambas docentes de msica da
UA.
Para alm das atividades decorrentes das prticas museolgicas, a nvel da
investigao surgiram vrias produes resultantes do estudo destas colees,
como exemplo o artigo de Helena Marinho e Susana Sardo. Construir a Nao
com Msica: o Protagonismo do Compositor Frederico de Freitas no Primeiro
Fonofilme Portugus: A Severa. Musica Hodie 12, no. 1 (2012): 87-103; a Tese de Doutoramento de Maria Helena Ferreira Braga Barbosa, sob o ttulo Uma histria
do design do cartaz portugus do sculo XVII ao sculo XX ou ainda as dissertaes
de mestrado Msica em dilogo: talas da msica hindustnica na bateria de jazz,
de Fabio Manzione Ribeiro e Chord-melody : investigao e arranjos para guitar-
ra, de ngelo Guimares Mongiovi, ambas apresentadas Universidade de Aveiro.
cOnclusO
Apesar de muito trabalho j efetuado, colaboraes estabelecidas e planos de-
lineados, para futuro, o MUA ainda apresenta algumas dificuldades. Temos j duas salas expositivas, na Fbrica da Cincia da UA e temos um espao para as reservas
museolgicas, mas j sentimos necessidade de maiores e melhores instalaes.
Para alm das instalaes, a componente tecnolgica uma das lacunas mais
prementes, neste momento. Efetivamente o MUA ainda no dispe de um siste-
ma integrado de gesto museolgica que permita o registo de todas as peas, para
se proceder criao de um ponto comum de pesquisa que permita ao utilizador
pesquisar a informao, independentemente de esta se encontrar nas bibliotecas
UA, no museu ou no arquivo. A plataforma eletrnica que venha a ser adotada ir
permitir, tambm, a criao de exposies virtuais, minimizando, assim, a falta de
ana Bela de Jesus Martins e ana cristina Fernandes cOrts JustinO
O Museu da universidade de aveirO: cOlees, investigaO e herana patriMOnial
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espaos expositivos fsicos, e alargando as possibilidades de maior visualizao das
colees.
O MUA, em articulao com os vrios Departamentos da UA, ir desencadear
esforos no sentido de cativar e envolver mais investigadores para o estudo e comu-
nicao das suas colees, bem como alargar o espectro de audincias, para alm da
comunidade acadmica (Boylan, 1999; Were, 2010), atravs da cedncia de peas
para exposio noutros museus e na organizao de exposies em espaos externos
UA.
Referncias
Ambrose, T., & Paine, C. (2007). Museum basics. London: Routledge.
Boylan, P. J. (1999). Universities and Museums: Past, Present and Future. Museum Management and Curatorship, 18(1), 43-56. doi: 10.1080/09647779900501801
Jacomy, B. (1997). Muse. In S. Cacaly (Ed.), Dictionnaire encyclopdique de linformation et de la documentation (pp. 417-419). Paris: Nathan.
Lewis, G. D. (2012a). History of museums. In Encyclopdia Britannica (Ed.), Encyclopdia Britannica Online. [London]: Encyclopdia Britannica Inc.
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Morgado, P. (2013). Nota sobre a identificao de uma pea arqueolgica de cermica proveniente de Vale de Castanheiro, Salreu . Terras de Antu : histrias e memrias do concelho de Estarreja, 7(7), 127-130.
OECD. (2001). Managing University Museums. Paris: OECD Publishing.
Rayward, W. B. (1998). Electronic information and the functional integration of libraries, museums, and archives. In E. HIGGS (Ed.), History and electronic artfefacts (pp. 207-226). Oxford: Clarendon Press.
SBIDM. (2012). Fundo Frederico de Freitas. Folha Interna, 6(39).
SBIDM. (2013), Museu: misso e objetivos. O museu da Universidade de Aveiro in http://www.ua.pt/sbidm/museu/PageText.aspx?id=16556 (acedido em 28 de fev. 2014).
Silva, A. M. d. (2006). A informao: da compreenso do fenmeno e construo do objecto cientfico. Porto: Edies Afrontamento.
UA. (2013). Tesouros desconhecidos do Museu da UA mostram-se ao pblico. Linhas: revista da Universidade de Aveiro, 10(20), 54-56.
Were, G. (2010). Re-engaging the university museum: Knowledge, collections and communities at University College London. Museum Management and Curatorship, 25(3), 291-304.
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Primeiro Passo: Documentar as colees
Alexandre Matos
Resumo
A documentao dos acervos nos museus , facilmente o ouvimos nas comunidades
museolgicas nacional e internacional, uma prioridade no trabalho dos museus. No
entanto, apesar do reconhecimento da sua importncia, os museus, os seus respon-
sveis e as tutelas no tm dado a esta tarefa, primordial para a gesto das prprias
instituies, a importncia que ela merece. Apesar do elevado investimento que se
assistiu desde h alguns anos at presente data, os indicadores recolhidos nos l-
timos estudos europeus sobre os processos de digitalizao do patrimnio cultural,
so manifestamente baixos. Os factores que contribuem para os nmeros conheci-
dos atualmente so diversos e tm diferentes justificaes, no entanto, tentaremos advogar neste artigo e apresentao a necessidade de colocar a documentao das
colees como uma prioridade absoluta e sugerir alguns instrumentos que podero
auxiliar os museus a conhecer e utilizar melhor o seu maior ativo: as colees.
Palavras-chave: documentao em museus; normalizao; poltica de colees; ges-
to de colees; estratgia e plano de documentao
atas Do seminrio internacional o Futuro Dos museus universitrios em PersPetiva
28
Abstract
The documentation of collections in museums is often mentioned in national and
international museum communities, as a priority for museums. However, despi-
te the recognition of its importance, the museums, their boards and guardianships
havent given to this task, central to the management of the institutions themselves,
the importance it deserves. Despite the large investment in that kind of museum
task, the indicators collected in recent European studies about digitization of cultu-
ral heritage are clearly low. The factors contributing to the numbers known today
are diverse and have different reasons, however, well advocate in this article the
need to establish museum documentation as a top priority and suggest some tools
that could help museums to have better knowledge and use better their greatest as-
set: the collections.
Keywords: museum documentation; museum standards; collections policies; col-
lections management; strategy and documentation planning
atas Do seminrio internacional o Futuro Dos museus universitrios em PersPetiva
alexanDre matos
Primeiro Passo: Documentar as colees
29
Documentar o processo atravs do qual registamos um conjunto de
informaes de carcter histrico, contextual, administrativo, etc. sobre os
objetos que compem as colees dos museus. O principal objetivo da docu-
mentao potenciar a reflexo e a contnua construo de conhecimento sobre as colees e facilitar a interao entre o museu e o Pblico.
No , certamente, uma definio completa do que entendo pelo todo do pro-cesso de documentao nos museus. A mesma teria que incluir algumas referncias
a outras matrias relacionadas com as preocupaes normativas, no entanto, esta
descrio do mbito da documentao nos museus permite-nos reconhecer dois
momentos fundamentais e justificadores do processo em si: a reunio de informa-o e consequente criao do conhecimento associado e a utilizao desse conheci-
mento na interao com o pblico dos museus. Um e outro momento esto inscritos
na definio daquilo que deve ser um museu atualmente.
A documentao de colees e, a par, a sua gesto, so o ponto de partida para
qualquer museu que pretenda cumprir eficazmente a sua misso. Sem o conheci-mento das colees o museu no pode utilizar, porque desconhece, a razo da sua
prpria existncia e cumprir todas as funes a que est obrigado de acordo com a
definio de museu do ICOM. Esta uma viso que vimos defendendo j h alguns anos e que, pese embora o esforo de muitos museus, no tem tido de todos os
envolvidos tutelas, profissionais, associaes do sector, etc. a ateno devida. Atualmente o ponto focal de ateno dos museus pblico, as pessoas, os seus vi-
sitantes, no entanto, concentrar toda a ateno no pblico no nos far descuidar
o desenvolvimento da rea especfica da documentao, gesto e conhecimento das colees? No poderamos considerar o pblico e a coleo como elementos centrais
e imprescindveis da estratgia destas instituies? nossa convico que no s
poderamos, como deveramos. Vejamos, porm, alguns dados que fundamentam
o descuido com a documentao e gesto de colees e que nos permitiro concluir
sobre a urgncia deste trabalho.
Em 2010, a pedido do comit de Sbios da Unio Europeia, a Collections Trust, atravs do seu CEO, Nick Poole, preparou um relatrio intitulado The Cost of Digitising Europes Cultural Heritage (POOLE, 2010) que pretendeu estabele-
cer um valor de custo para a digitalizao do patrimnio cultural europeu conside-
rando a sua diversidade e complexidade. Este relatrio, que serviria para informar
o Comit na tomada de decises estruturais a este respeito, aponta dados bastan-
atas Do seminrio internacional o Futuro Dos museus universitrios em PersPetiva
30
te interessantes que permitem esclarecer o ponto de situao da digitalizao1 do
patrimnio cultural europeu, processo que embora represente apenas uma parte
daquilo que consideramos como documentao de colees, tem absorvido fundos
considerveis dos governos e da Unio Europeia.
O relatrio aponta nmeros sobre o processo de digitalizao de uma grande
variedade de instituies culturais que tem sua guarda diferentes tipos de patri-
mnio, como bibliotecas, arquivos, emissoras de rdio e televiso, porm, para este
artigo pretendemos apenas considerar os valores apresentados na rea dos museus.
No que o valor total de colees digitalizadas 11% em arquivos, bibliotecas,
emissoras, museus, etc. no nos permitisse ter desde logo uma viso importante re-
lativamente premncia deste processo, mas no caso dos museus os mesmos dados
podero constituir um engano, se no tivermos em considerao a percentagem de
colees que aguardam digitalizao num e noutro caso. Os valores no caso especfi-co dos museus apontam para um total de 25% de colees que j esto digitalizadas
e 72% de colees que necessitam de passar pelo processo, ao contrrio dos nmeros
relativos a todos os tipos de instituies onde apenas 58% das colees aguardam
ainda pelo processo de digitalizao. Estes valores demonstram, de forma evidente,
que apesar do investimento pblico feito at ento, a percentagem de colees no
digitalizadas implicar no futuro um esforo considervel.
Pese embora estes dados possam parecer negativos h um conjunto de facto-
res que contribuem para que o processo de digitalizao e documentao das cole-
es esteja, a nvel internacional pelo menos, a ser conduzido atravs de uma viso
estratgica. Ainda segundo o estudo da Collections Trust h um total de 83% das
instituies que se encontram interessadas e participam no processo de digitaliza-
o, das quais 34% tm estratgia de digitalizao definida e 31% uma poltica clara relativamente utilizao do resultado deste processo. Outros dois dados que nos
parecem importantes para esta anlise baixa percentagem de pessoal que est li-
gado diretamente a esta tarefa (3,3%) e a elevada percentagem de fundos internos,
no dependentes de terceiros, que so aqui despendidos (87%).
Conhecendo estes dados ficamos curiosos em conhecer melhor a realidade portuguesa e procuramos informao disponvel que nos permitisse comparar, ain-
da que de forma menos exaustiva, alguns dos dados referidos no relatrio. No h,
1 a definio de digitalizao que subscrevemos a que nick Poole apresenta no referido relatrio: Digitisation is a loosely-
defined term which describes the set of management and technical processes and activities by which material is selected,
processed, converted from analogue to digital format, described, stored, preserved and distributed. (Poole, 2010).
atas Do seminrio internacional o Futuro Dos museus universitrios em PersPetiva
alexanDre matos
Primeiro Passo: Documentar as colees
31
como conhecido, um estudo semelhante sobre documentao ou digitalizao nos
museus portugueses. A informao que resulta dos inquritos feitos aos Museus
Portugueses e que tem sido publicada pelo extinto Instituto Portugus de Museus e Observatrio das Actividades Culturais no extensa sobre este tpico e, data des-te seminrio, apenas se encontram dados publicados at ao ano 2003. Assim sendo
procuramos informao disponvel online sobre colees ou patrimnio que tenha
passado por processos de digitalizao.
Os projetos que selecionamos para o efeito foram o MatrizNet, o portal de pes-
quisa dos Bens Culturais da Igreja, o projeto de inventrio do patrimnio museol-gico do Ministrio da Educao e o Museu da Cincia da Universidade de Coimbra. Todos estes exemplos de processos de digitalizao representam um esforo con-
sidervel (financeiro e humano) no mbito de cada uma das instituies mencio-nadas. Os resultados que apresentavam, nas plataformas de pesquisa de cada um
dos projetos, perfaziam totais de 89.530 registos no MatrizNet para 34 Museus/
Palcios, 21.075 registos nos Bens Culturais da Igreja para 6 dioceses e 35.741 regis-tos relativos a 144 escolas no projeto do patrimnio museolgico do Ministrio da
Educao2. Valores considerveis que infelizmente no podem ser apresentados em
percentagem, porque desconhecemos o valor total de cada uma das colees, mas
que ainda assim nos parecem insuficientes dada a expectvel extenso3 das diferen-tes colees tuteladas por cada uma das entidades mencionadas.
Com o caso do Museu da Cincia da Universidade de Coimbra, que estudamos com maior detalhe na nossa tese de doutoramento (MATOS, 2012), pretendemos dar uma viso mais fina sobre os nmeros envolvidos nos processos de digitaliza-o e documentao. No caso deste museu o total das colees que gere (as antigas
colees dos departamentos da Universidade de Coimbra) cifra-se em 233.000 ob-jetos. Destes, em setembro de 2012, estavam registados em base de dados um total
de 23.588 objetos, sendo que apenas 20.058 estavam disponveis no Museu Digital
(plataforma online de pesquisa das colees do Museu da Cincia). Considerando o estimativa do total de objetos, podemos afirmar que, aproximadamente, 10% da coleo do Museu da Cincia est documentada e digitalizada. No entanto, o esforo necessrio para alcanar este valor maior do que a frieza dos nmeros apresenta.
Para os 10% de objetos documentados existem um conjunto de registos de eventos,
2 Dados obtidos atravs da consulta aos respetivos repositrios em Julho de 2013. referem-se apenas a registos de
inventrio de bens culturais.
3 embora no existam valores absolutos relativamente quantidade de bens culturais tutelados pelas diferentes instituies
mencionadas, os dados existentes apontam para valores muito superiores aos aqui mencionados (santos, 2005).
atas Do seminrio internacional o Futuro Dos museus universitrios em PersPetiva
32
entidades, referncias documentais, ficheiros multimdia e relaes entre registos criados que s no caso de informao especfica de inventrio (Autorias, Estados de conservao, Localizaes, etc.) contabiliza mais de meio milho de registos.
um esforo, na nossa opinio notvel, mas que pode ser afectado pela inexis-
tncia, ao contrrio do que apresenta o relatrio de Nick Poole, de uma estratgia
nacional para este trabalho ou de polticas que definam o que fazer com os resulta-dos de um investimento to alto, para alm de que este trabalho essencial, assente
normalmente no financiamento pblico, no tem grandes perspectivas de continui-dade4 dada a crise financeira que o pas atravessa.
Retomemos, porque importa sempre frisar essa informao, o relatrio de Nick
Poole sobre a percentagem de colees que ainda esto por digitalizar nos museus
72% e acrescentemos a este elevado valor o custo mdio estimado de todo o processo
de digitalizao do patrimnio cultural ainda no concludo 38.73 bilies de euros
e temos dados objetivos para discutir este assunto e pensar em formas de melhorar
os processos utilizados na digitalizao das colees e na sua disponibilizao, pers-
pectivando formas que permitam aos museus maiores proveitos do investimento
realizado.
No se pense que estamos perante uma tarefa fcil. O museu precisa, no caso
portugus, de mudar o paradigma em que assenta at agora a documentao das
suas colees. Precisa o museu, precisamos ns, os seus profissionais, de encarar as colees e a sua documentao como um elemento central, a par (e para) do seu
pblico, para cumprir a sua misso. Precisamos de deixar de conter informao em
diferentes silos no comunicantes sobre gesto, histria, conservao, inventrio,
eventos, entidades, etc. e passar a uma situao onde os silos de informao comu-
nicam entre si, em pontos estratgicos, que permitem a criao de relaes entre
informao e consequente facilitao de criao autnoma (independente) de co-
nhecimento.
Nesse sentido, os museus, tal como foi (e bem) preconizado pela Rede
Portuguesa de Museus no seu incio, tero que obrigatoriamente concentrar a sua
ateno em definir, antes de mais, uma poltica de colees abrangente, pblica, su-portada pela misso do museu, que defina claramente a sua atuao relativamente ao desenvolvimento, conservao, documentao e acessibilidade da coleo. Um
4 entenda-se a continuidade aqui como o desenvolvimento contnuo deste tipo de trabalho, sem interrupes alargadas que
destroem qualquer tentativa de construo de equipas e utilizao de equipamentos de forma rentvel e eficiente.
atas Do seminrio internacional o Futuro Dos museus universitrios em PersPetiva
alexanDre matos
Primeiro Passo: Documentar as colees
33
instrumento que dever servir como guia de longo prazo para o museu, para os seus
profissionais e, acima de tudo, para o seu pblico.
A partir da poltica de colees poder ento o museu definir a estratgia de atuao relativamente aos processos de documentao e digitalizao da coleo,
definindo objetivos, prazos, metodologias, prioridades e produtos finais desejados tendo em conta o exposto sobre a acessibilidade coleo. Esta estratgia, que de-
ver ser um documento discutido e revisto com base na avaliao de desempenho de
todo o processo, permitir, por sua vez, a definio do planeamento do processo de documentao e digitalizao onde o museu estabelecer as ferramentas, recursos
humanos e financeiros, prazos, responsabilidade e momentos de avaliao (pontual e global) que sustentaro, na prtica, a atuao de toda a equipa do museu.
Um ltimo aspecto a considerar na concepo de todo o projeto de certa forma
paralelo ao momento anterior, porque condiciona algumas escolhas no planeamento
a normalizao, internacional e nacional, existente para a elaborao desta tarefa.
Algumas instituies internacionais de referncia como o Comit Internacional para a Documentao do ICOM (CIDOC), a Canadian Heritage Information Network, a Collections Trust, o Getty Research Institute, etc. tm, ao longo dos anos, dedicado
um considervel esforo na definio de normas que rentabilizam e facilitam o tra-balho dos museus na documentao das colees. Divididas em trs grandes reas:
estrutura de dados, procedimentos e terminologias, as normas especficas para a documentao museolgica, coadjuvadas por um conjunto auxiliar de normas tc-
nicas (intercmbio de dados, formatos, etc.) no pretendem unificar descries ou simplesmente normalizar descritivos, mas sim habilitar a utilizao da informao
produzida sobre as colees nos mais diversos contextos, atravs de diversos canais
e pblicos.
No caso dos museus universitrios, tal como o Museu da Cincia da Universi-dade de Coimbra, os elementos preparatrios do processo descritos atrs aplicam-se da mesma forma. No entanto, fruto da prpria natureza da instituio que os
tutela, cabe, na nossa opinio, aos museus universitrios um papel de explorao e
investigao na rea da museologia, especificamente na rea da documentao de museus, que no poder ser desempenhado da mesma forma pelos restantes mu-
seus. A experimentao e avaliao de normas, a explorao de novas metodologias
para a descrio dos bens culturais, a criao de thesauri, a verificao de normas tcnicas, etc. s so possveis em instituies com a possibilidade de reunir em si
diferentes conhecimentos de reas especficas como a histria, informtica, cincias naturais, cincias da informao entre muitas outras que contribuem para o sucesso
da documentao e gesto das colees museolgicas.
atas Do seminrio internacional o Futuro Dos museus universitrios em PersPetiva
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O museu universitrio encarado assim como centro de investigao e experi-
mentao nas mais diversas reas da museologia e cincias conexas, tal como acon-
teceu, nesta rea especfica, com o trabalho que desenvolvemos conjuntamente com o Museu da Cincia da Universidade de Coimbra (MATOS, 2012), ganha para si e possibilita aos museus no universitrios o usufruto dos trabalhos de investigao
a realizados.
Alm das vantagens da investigao aplicada, o museu ganha com uma me-
lhor, mais eficiente, gesto da informao sobre a sua coleo que facilita a criao do conhecimento atravs do estabelecimento de relaes e associaes de informa-
o sobre diferentes bens, eventos, entidades ou documentao.
No entanto, h alguns problemas que tm, ao longo dos anos, impedido um
melhor desenvolvimento desta rea em Portugal. Desde logo a falta de investimen-
to a longo prazo e a exigncia de resultados prticos e mensurveis que permitam
perceber o retorno (principalmente o no financeiro) gerado. Ligado a este primeiro ponto negativo podemos tambm apontar a no existncia, na maior parte dos mu-
seus portugueses, de pessoal com dedicao exclusiva a esta tarefa, facto que resulta,
amide, em na ausncia de continuidade das equipas que so constitudas para pro-
jetos pontuais, normalmente suportados por fundos europeus. Por fim, h tambm uma lacuna na formao museolgica neste sector, uma vez que se privilegiam mais
os conhecimentos na utilizao de ferramentas informticas, do que uma formao
mais basilar na definio de polticas e no conhecimento das normas utilizadas para a documentao das colees. Estes problemas precisam, de forma urgente, de ser
ultrapassados. Se o conseguirmos fazer, os museus ficaro mais capacitados para uma das suas mais importantes tarefas, a criao e divulgao do conhecimento
atravs das suas colees e a capacidade de aproximao, atravs das histrias que
tem para transmitir, ao seu pblico.
Termino, tal como na apresentao no seminrio, com uma frase de um an-
terior Chairman da Museum Documentation Association sobre a importncia da
documentao para os museus que julgo ser um excelente fim e, ao mesmo tempo, arranque para as reflexes que este texto possa provocar.
Documentation, the management of information about collections, is the key to unlocking the potential of our museums. It is more than simply a means of managing an object in a collection. It is a way of turning that object into a working artifact, a vital part of the creative process which transforms
recognition into inspiration for our users Mike Houlihan (Antigo Chairman da MDA).
atas Do seminrio internacional o Futuro Dos museus universitrios em PersPetiva
alexanDre matos
Primeiro Passo: Documentar as colees
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Referncias
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A implementAo de um plAno de ConservAo preventivA pArA o ACervo dA FACuldAde de BelAs-Artes dA universidAde de lisBoA
Alice Nogueira Alves, Marta Frade e Carlos Alcobia
Resumo
O projecto CAREFUL - Implementao de um Plano de Conservao Preventiva
nos acervos da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, pretende
criar um conjunto de normas e procedimentos, com os objectivos de preservao e
divulgao do Patrimnio desta instituio. Este artigo tem como objectivo dar n-
fase s questes relacionadas com a participao da Comunidade Acadmica neste
processo.
Palavras-Chave: conservao preventiva; acervos; arte; Faculdade de Belas-Artes;
CAREFUL
Abstract
The project CAREFUL - Implementation of a Preventive Conservation Plan in the
collections of the Faculty of Fine Arts of the University of Lisbon aims to create a
set of rules and procedures with the objective of preserving and disseminating the
heritage of this institution. This article intends to emphasize the issues related to the
participation of the Academic Community in this process.
Keywords: preventive conservation; collections; art; Faculty of Fine Arts;
CAREFUL
AtAs do seminrio internACionAl o Futuro dos museus universitrios em perspetivA
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ApresentAo
A Faculdade de Belas-Artes descende em linha directa da Academia de Belas
Artes de Lisboa, fundada em 1836. Ao longo dos seus mais de 175 anos de existncia
passaram pelo antigo Convento de S. Francisco muitas geraes de professores e
alunos, cujas obras fazem parte do nosso patrimnio. No esplio actualmente exis-
tente no edifcio, dividido entre a Academia Nacional de Belas-Artes e a Faculdade,
encontramos vrios tipos de acervos: desenho e gravura, escultura em gesso e pe-
dra, pintura, fotografia, mobilirio, cermica, etc.. Estes elementos esto maiorita-riamente em reserva, por uma questo de segurana, existindo algumas esculturas
espalhadas pelos corredores e salas de aula e pinturas em gabinetes. Deve ser ainda
destacada a importncia do prprio edifcio, com origens no sculo XIII, que sofreu grandes transformaes desde ento, especialmente em consequncia das destrui-
es causadas pelo Terramoto de 1755.
Para alm deste acervo, existem muitos elementos dispersos por outros locais
em Lisboa e sua periferia. Entre estes deve-se destacar o valioso legado do mestre
Lagoa Henriques herdado pela Faculdade recentemente.
Apesar do processo de estudo, inventariao e preservao j se encontrar
iniciado em algumas reas, e de existirem reservas com condies de acondicio-
namento muito modernizadas, este tipo de procedimentos ainda no se encontra
implementado de um modo sistemtico. Falta ainda muito trabalho para se alcanar
uma viso global das coleces e das medidas necessrias para a sua proteco e
divulgao.
Por essa razo foi criado o projecto CAREFUL - Implementao de um
Plano de Conservao Preventiva nos acervos da Faculdade de Belas-Artes da
Universidade de Lisboa no mbito da Seco Francisco de Holanda do CIEBA - Centro de Investigao e de Estudos em Belas-Artes, uma Unidade de Investigao e de Desenvolvimento ligada a esta Instituio. O objectivo deste plano prende-se, no s com a preservao do esplio, mas tambm com a continuao da disponi-
bilizao da informao no Museu Virtual, criado pela Professora Doutora Lusa
Arruda no mbito de um dos vrios estudos acadmicos dedicados s nossas colec-es. Este plano ser baseado nas mais recentes inovaes tericas e tecnolgicas
desenvolvidas na rea especfica da Conservao Preventiva a nvel internacional, onde a interdisciplinaridade a palavra-chave.
AliCe nogueirA Alves, mArtA FrAde e CArlos AlCoBiA
A implementAo de um plAno de ConservAo preventivA pArA o ACervo dA FACuldAde de BelAs-Artes dA universidAde de lisBoA
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A referida parte da coleco exposta nos corredores da Faculdade constituda
principalmente por esculturas em gesso de grande porte. Estas peas tinham como
objectivo original servirem de modelo aprendizagem dos alunos e continuam ac-
tualmente a cumprir essa mesma funo. Entre elas podemos destacar as adqui-
ridas no ano de 1850 em Itlia, onde encontramos reprodues do Laocoonte, do Apolo de Belvedere ou da Vnus de Milo, bem como de esculturas de Miguel ngelo
e Canova. Podemos tambm referir algumas oferecidas pelo Governo Espanhol,
vinte e um anos mais tarde, como o Gladiador Ferido, a Diana a Caadora ou o
Gladiador Borghese, entre outras. Para alm da sua materialidade, este patrimnio
tem j uma forte componente imaterial, constituindo o testemunho da evoluo das
prticas do ensino artstico em Portugal, bem como em outras Academias do estra-
geiro, com quem eram permutados estes modelos. Esta troca resultou em episdios
interessantes, entre os quais podemos destacar uma requisio, efectuada por um
proeminente museu estrangeiro, de moldes e rplicas de um modelo de uma escul-
tura greco-romana, cujo original desapareceu em consequncia das destruies da
2. Grande Guerra.
o restAuro nA FACuldAde de BelAs-Artes
Apesar de aparentemente nova, a tradio do Restauro nas instituies prece-
dentes Faculdade iniciou-se logo a partir de 1836, com a fundao da Academia
de Lisboa. A necessidade de se preservarem as pinturas mais valiosas provenientes
dos conventos extinctos, passou nessa altura para o seu cargo, com o objectivo de se
formar um Museu de Belas Artes.
A orientao das intervenes ento realizadas ficou a cargo dos professores da Academia, destacando-se entre eles vrios nomes de monta, como Antnio Manuel
da Fonseca (1796-1890) ou Luciano Freire (1864-1934), sendo na oficina deste l-timo que se introduziram as bases do Restauro moderno em Portugal. Este espa-
o manteve-se nas instalaes da Academia at 1946, quando passou para o novo
edifcio anexo ao Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa, onde mais tarde seria
institucionalizado o Instituto Jos de Figueiredo, um laboratrio exclusivamente dedicado Conservao e Restauro e suas cincias analticas complementares.
Durante este percurso assistimos, a partir de 1936, a uma colaborao sistem-
tica entre os mtodos de exame e anlise, atravs da implementao do Laboratrio
no Museu, e os trabalhos efectuados pelos restauradores da Oficina de Restauro de Pintura, ento sob a direco de Fernando Mardel, uma figura importantssima
AliCe nogueirA Alves, mArtA FrAde e CArlos AlCoBiA
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nesta rea e muito pouco estudada. Esta ligao fortaleceu-se na prtica da profisso sendo hoje impensvel separar as duas reas.
A rea da Conservao e Restauro teve a sua oferta formativa na Faculdade a
partir de 2008, ao se iniciar a Licenciatura em Cincias da Arte e do Patrimnio (tam-
bm ao nvel da licenciatura, devemos destacar a criao de disciplinas de Restauro
de Gesso ligadas ao curso de Escultura). Passados quatro anos foi a vez do Mestrado
em Cincias da Conservao, Restauro e Produo de Arte Contempornea ter in-
cio, bem como a especialidade em Museologia, Conservao e Restauro do nosso
Doutoramento em Belas-Artes. Estas iniciativas visam a implementao desta rea
no seio da Universidade de Lisboa, at agora inexistente no conjunto dos trs ci-
clos.
Com este regresso da Conservao e Restauro s Belas-Artes, pretendemos
retomar esta tradio secular, mas adaptada aos novos princpios e critrios da rea,
numa ligao estreita com as outras cincias, atravs da cooperao com a Faculdade
de Cincias e o Centro de Fsica Atmica da Universidade de Lisboa. A colaborao
entre docentes e alunos deu j ocasio a propostas de projectos de investigao e
orientaes de teses partilhadas sobre peas do esplio da Faculdade, num trabalho
interdisciplinar muito importante na actual disciplina da Conservao e Restauro.
Paralelamente temos tambm desenvolvido uma forte presena no panorama
acadmico da Museologia. Em 2002 abrimos o primeiro Mestrado em Museologia e
Museografia, onde se pretendia uma formao com uma forte componente prtica. Neste mbito tm-se desenvolvido vrios trabalhos de estudo e inventariao das nossas coleces, tendo j culminado na disponibilizao de informao no referido
Museu Virtual.
CAreFul A implementAo de um plAno de ConservAo preventivA
Para se comearem a constituir as bases do referido projecto CAREFUL, se-
guimos os manuais existentes na rea da Conservao Preventiva, publicados pelas
entidades competentes. Posteriormente foi realizada uma adaptao ao nosso caso
concreto, onde o contexto acadmico caracteriza todas as questes a ser colocadas
e resolvidas.
Nesta fase inicial do processo, contamos com a seguinte previso para a siste-
matizao do processo:
AliCe nogueirA Alves, mArtA FrAde e CArlos AlCoBiA
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- Inventariao Como referido este processo encontra-se completo em algu-mas reas, como o desenho antigo e a escultura, no entanto ainda h muito trabalho
a fazer nas outras reas;
- Estudo do edifcio Neste ponto dever ser realizada uma recolha de infor-mao referente histria do edifcio e suas transformaes ao longo dos sculos.
Posteriormente ser efectuada uma caracterizao do seu estado actual, materiais,
espaos, problemas de conservao, riscos, recursos, acessibilidades, etc. Para se al-
canarem estes objectivos dever ser implementada a monotorizao das condies
ambientais dos diferentes espaos, incluindo as reservas;
- Caracterizao dos acervos Estudo material e das tcnicas existentes, com-plementado com a caracterizao do seu estado de conservao. Para a concretiza-
o deste projecto contamos com o apoio fundamental do Centro de Fsica Atmica
da Universidade de Lisboa, bem como de docentes da Faculdade de Cincias, para a
caracterizao dos espaos e, especialmente, dos materiais constituintes das peas.
Este processo fundamental, no s para o conhecimento das nossas coleces de
um modo muito mais aprofundado, como para a compreenso dos processos de al-
terao existentes e, consequentemente, da melhor forma de os evitar;
- Caracterizao do Pblico/Comunidade Acadmica No caso da Faculdade, este ponto afigura-se como um dos essenciais para a preservao dos seus acervos. necessrio criar uma campanha para a sensibilizao de quem contacta diariamente
com as nossas coleces, sejam docentes, discentes, funcionrios ou pblico exte-rior. O conhecimento da importncia do patrimnio de que usufrumos essencial para a sua preservao. No captulo seguinte iremos aprofundar um pouco mais esta
questo;
- Determinao dos principais factores de risco Depois de estudados todos estes aspectos, estaremos prontos para a apresentao dos principais factores de
risco e sua esquematizao;
- Criao de um Plano de Conservao Preventiva Criao de um conjunto de normas e procedimentos, com o objectivo de preservar e divulgar estas colees.
Este processo poder passar pela adaptao de novos espaos a reservas, monotori-
zao e controle ambiental, entre outros aspectos pertinentes, como a implementa-
o de planos de emergncia.
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Aps o estabelecimento deste plano, poderemos avanar para a musealizao
global, permitindo s comunidades acadmicas e a todos os visitantes o acesso ao
nosso vasto esplio.
Paralelamente a este processo sero desenvolvidas algumas aces considera-
das essenciais para a conservao e divulgao dos nossos acervos:
- Intervenes de Conservao e Restauro Nas peas cujo estado de conser-vao constitua um ponto de risco, devero ser realizadas intervenes para asse-
gurar a sua preservao. Neste processo tambm contaremos com uma colaborao
interdisciplinar;
- Incremento das coleces - Outro aspecto fundamental a implementao de um sistema de recolha de peas, no s nas reas existentes, mas tambm nas
outras linhas da nossa oferta formativa. A coleco da Faculdade no deve constituir
um conjunto fechado, mas ser amplificada atravs dos trabalhos dos artistas que por aqui vo passando, criando-se um patrimnio do ensino artstico em Portugal,
essencial para o conhecimento das geraes vindouras;
- Divulgao Como objectivo final, dever ser favorecida uma adio mais sistemtica de informao ao Museu Virtual, disponibilizando esta coleco ao p-blico em geral, bem como a investigadores mais especializados. Este processo po-
der seguir o modelo j existente, complementado com novos meios virtuais, bem
como com a informao material conseguida atravs da aplicao dos mtodos de
exame e anlise.
Todos estes processos so obviamente apoiados por especialistas que tm vin-
do a estudar os nossos acervos em diferentes reas. O suporte nestes trabalhos de
investigao essencial para uma divulgao cuidada e fundamentada, contribuin-
do-se deste modo para vincar um forte carcter didtico.
A pArtiCipAo dA ComunidAde ACAdmiCA
A utilizao corrente do edifcio da Faculdade, onde se albergam as nossas co-
lees, tem caractersticas muito peculiares, completamente vocacionadas para o
ensino das artes. Este aspecto impede a concretizao de um espao museolgico
real, levando soluo virtual, onde dada a informao essencial sobre cada pea,
abrindo-se a possibilidade adio peridica de novos dados alcanados nos vrios
estudos referidos.
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As questes relacionadas com a prpria comunidade acadmica, que frequenta
e usufrui diariamente destas coleces e do espao, um dos pontos mais importan-
tes do nosso projecto. essencial criar estratgias para a educao e sensibilizao da importncia e cuidados a ter para a conservao deste patrimnio essencial para a Histria da educao artstica em Portugal. Apenas com a participao deste con-
junto de pessoas conseguiremos preservar e incrementar as nossas coleces, para
as poder partilhar com um pblico mais generalizado.
Para a concretizao destes objectivos crimos um conjunto de pontos como
base de trabalho da educao patrimonial da comunidade acadmica:
- Sesses de formao e esclarecimento gerais Estas aces devero ser rea-lizadas de modo generalizado a docentes e discentes. Um dos meios previstos cons-
tar na realizao de pequenas apresentaes durante as aulas do maior nmero de disciplinas possvel, tentando abranger o mximo de pessoas. Dever tambm ser
sistematizada a realizao de uma sesso na abertura do ano acadmico, de modo a
se chegar aos novos alunos.
- Formao dos funcionrios a instituio de aces de formao a todos os funcionrios das instituies museolgicas prtica corrente nas grandes institui-
es. Apenas deste modo se poder garantir uma proteco mais completa.
- Colocao de tabelas nas peas presentes nos espaos comuns Este pro-cedimento permitir a compreenso da importncia das peas. A colocao de ele-mentos tpicos de um Museu poder conferir-lhes esse estatuto, contribuindo para a
existncia de um maior respeito pelo conjunto, muitas vezes inexistente. No mbito do Mestrado de Museologia e Museografia, foram j desenvolvidas propostas para o preenchimento destes elementos por alunos de anos anteriores, sob a orientao da
Professora Doutora Lusa Arruda.
- Penalizao a comportamentos incorrectos Este tipo de aces dever co-mear a ser aplicado. Apenas deste modo a comunidade perceber a importncia das peas e o respeito que lhes deve ser prestado.
- Responsabilizao pelas peas deslocadas das reservas Este procedimento j comeou a ser implementado. Num local onde as peas continuam a ter uma fun-
o pedaggica, especialmente no caso da escultura em gesso, necessrio que to-
dos as vejam como elementos patrimoniais e no apenas como meros instrumentos
de trabalho. Ao se exigir esta formalidade aos professores, estaremos a passar uma
mensagem tambm aos alunos.
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- Direccionamento de trabalhos de disciplinas obrigatrias para o estudo das
coleces Este processo seguido nos mestrados referidos anteriormente. No en-tanto, pensamos que poderia tambm ser iniciado ao nvel do primeiro ciclo, nas
vrias licenciaturas. O estudo das peas e da sua histria seria um bom contributo
para o conhecimento dos alunos da sua importncia e, consequentemente, da sua preservao.
ConsiderAes FinAis
A implementao deste conjunto de procedimentos essencial para a preser-
vao do vasto esplio existente nesta instituio.
Esta herana legada pelas vrias geraes que foram passando pela Faculdade
e suas instituies precedentes, onde se reflectem as tcnicas do ensino artstico e da sua evoluo ao longo dos sculos, deve ser conservada como parte essencial da
nossa memria patrimonial.
Se o Patrimnio identificado por quem usufrui dele, seja qual for a razo para este processo, e se a nossa comunidade acadmica no est a fazer este re-
conhecimento, altura de comearmos a ensinar a importncia deste legado. Um dos melhores meios para alcanar este objectivo ser promover o seu envolvimento
activo na sua conservao e manuteno, atravs do incentivo ao contributo com os
seus prprios trabalhos. Deste modo manteremos a tradio e a manuteno de um
registo do ensino artstico em Portugal.
Com este trabalho, esperamos alcanar um sentimento de coeso comunitria
ligando indelevelmente os nossos alunos Escola onde tiveram a sua formao ar-
tstica acadmica.
A Faculdade de Belas-Artes de Lisboa no pode ser apenas considerada como
um dos maiores centros de ensino da produo da Arte Contempornea. imprescin-dvel pensar nesta grande escola, como portadora e responsvel por um Patrimnio
que ultrapassa a sua prpria histria. O caminho para o futuro tem de ser realizado
com os olhos postos no passado.
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A implementAo de um plAno de ConservAo preventivA pArA o ACervo dA FACuldAde de BelAs-Artes dA universidAde de lisBoA
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PINTURA DO ACERVO DA FBAUL: UMA COLEO PARA O FUTURO
Lus Lyster Franco
Resumo
Podemos associar a origem da coleo de pintura fundao da Academia das Belas-
Artes de Lisboa (ANBA) e sua funo pedaggica. Um pouco semelhana da
Coleo de Desenho, este acervo composto, na sua quase totalidade, por trabalhos
acadmicos realizados em diferentes contextos. Como exceo, encontramos algu-
mas obras adquiridas com o fim do ensino da pintura decorativa, provas de concur-sos de admisso de professores, e algumas ofertas de antigos docentes.
Utilizada inicialmente com fins didticos no ensino da pintura, um nmero consi-dervel de obras permaneceu exposto em salas de aula, gabinetes e corredores,
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