ERAUMAVEZ A
REPUBLICA
JOSÉFANHATEXTO
ALEXGOZBLAUILUSTRAÇÃO
TEXTOJOSÉ FANHA
ILUSTRAÇÃOALEX GOZBLAU
DESIGNJORGE SILVA
REVISÃO CIENTÍFICAPEDRO PEREIRA
Fontes iconográficas consultadas
D. Carlos I, 1935O Jogo da Política Moderna, catálogo, Câmara Municipal de Lisboa, 2010
História do Regimen Republicano em Portugal, Luís de Montalvôr, 1935Portugal Século XX, Círculo de Leitores, 1995
Tesouros da Caricatura de Imprensa Portuguesa, 2001Varões Assinalados, Francisco Valença, A Editora 1909-1911
Visão História: Primeira Guerra Mundial, Fev. 2009
CréditosArquivo Fotográfico Municipal: pág. 57 (fotografia de Joshua Benoliel,
cota:JBN000445/A4229)Colecção Biblioteca do Museu República e Resistência: págs. 20 e 61
Colecção Gabinete de Estudos Olissiponenses: pág. 67Museu Bordalo Pinheiro: págs. 8-9, 16, 22, 24, 34, 80
Hemeroteca de Lisboa: págs. 76 e 77Todas as outras imagens: Colecção Jorge Silva
Ilustrações de Alex GozblauCapa, págs. 2-3, 10, 19, 32-33, 38, 39, 71, 73, 78-79, 82-83, 84, 85 e 86-87
Com o apoioMuseu Bordalo Pinheiro / CML
Hemeroteca de Lisboa
© 2010, Edições GailivroRua Cidade de Córdova, n.º 22610-038 Alfragide-Portugal
Telef.: +351 214 272 200Fax.. +351 214 272 201
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1.ª Edição, Setembro de 2010Impressão e Acabamento: Eigal
ISBN: 978 989 557 771 2Depósito Legal: 304 745/10
Gailivro, uma chancela do grupo LeYa
ÍNDICE
11 AS HISTÓRIAS DA HISTÓRIA12 MONARQUIA E REPÚBLICA15 O ULTIMATUM17 O MAPA COR-DE-ROSA18 A FAMÍLIA REAL20 A BELLE ÉPOQUE25 O REGICÍDIO27 MAÇONARIA29 CARBONÁRIA32 ADAMASTOR42 O 5 DE OUTUBRO45 CRONOLOGIA58 A BANDEIRA NACIONAL60 DA INSTAURAÇÃO DA REPÚBLICA
À PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL62 A PORTUGUESA66 AS MULHERES E A REPÚBLICA70 FERNANDO PESSOA71 O MODERNISMO72 AMADEO DE SOUZA-CARDOSO74 DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
À DITADURA DE SIDÓNIO PAIS78 SIDÓNIO PAIS80 O HUMOR NA REPÚBLICA82 A PRIMEIRA TRAVESSIA AÉREA
DO ATLÂNTICO SUL84 OS PRESIDENTES DA REPÚBLICA
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<< O Dia de Reis, cartoon de Rafael Bordalo Pinheiro no jornal O António Maria
AS HISTÓRIAS DA HISTÓRIAJOSÉ FANHA
Já passaram 100 anos depois dessa data tão importante para a nossa História
recente que é o 5 de Outubro de 1910 em que foi dado fim à Monarquia e se deu a
implantação da República.
Muitas vezes falamos com à-vontade de presidentes e reis, de momentos históricos
determinantes, revoluções, guerras… Mas, quando queremos explicar quem eram
essas personalidades, que obras fizeram, porque é que se deram as revoluções em de-
terminado momento e que consequências tiveram, ficamos engasgados e não nos sai
nada de jeito.
Será que todos sabemos o que é uma República? Qual é a diferença entre a República
e a Monarquia? E o Mapa Cor-de-Rosa, quem o desenhou? Como é que nasceu o hino
nacional? Como é que se escolheu a nova bandeira portuguesa? Quem é que era eleito
para o Parlamento? O que é a Maçonaria? E a Carbonária? Por que é que assassinaram
o rei D. Carlos? Quem foi Afonso Costa? Por que é que chamavam o Presidente-rei a Si-
dónio Pais?
São muitas as perguntas que nos vêm à boca quando falamos do 5 de Outubro de
1910, do que esteve para trás e do que veio para a frente dessa data. E foi à procura de
respostas simples e claras a essas perguntas que meti mãos à obra e comecei a escre-
ver este livro.
É claro que para o escrever tive de ir estudar. E como eu gosto de estudar! Gosto de
perceber o porquê disto e daquilo, conhecer os pormenores, perceber as razões pro-
fundas de cada acontecimento histórico. Estudei e aprendi imensas coisas que estou
ansioso por partilhar com os meus leitores.
A História de Portugal é longa de quase 900 anos e rica em acontecimentos de
grande dimensão como foram, por exemplo, a saga dos Descobrimentos e da Expan-
são, e também em momentos trágicos como a batalha de Alcácer- Quibir ou o terra-
moto de 1755.
Devo confessar-vos que adoro ler e escrever, ouvir e contar histórias. E o que é a
História senão um nunca mais acabar de pequenas histórias? São essas pequenas his-
tórias que venho contar-vos. Para que com elas possamos conhecer uma parte da nossa
grande História, essa raiz que nos faz perceber quem somos e de onde vimos, e que
nos pode ajudar a entender para onde vamos.
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Forma de governo de uma nação em que o
governante supremo é o rei, ao qual sucede,
em princípio, o filho primogénito. Chama-se a
este processo a sucessão hereditária.
Há dois grandes tipos de monarquias: a
Monarquia Absoluta e a Monarquia Consti-tucional. Na Monarquia Absoluta, o rei
detém todo o poder de formar e demitir os
seus ministros ou secretários. Chega-se a
afirmar que os reis absolutos são os repre-
sentantes legítimos de Deus na Terra e por
isso mesmo são absolutos.
D. João V em Portugal ou o rei Luís XIVem França são exemplos típicos do absolu-
tismo. Na Monarquia Constitucional, o
poder encontra-se distribuído e cabe ao rei
verificar o seu bom funcionamento. Neste
tipo de regime há uma lei da nação, a Cons-
tituição, e eleições para um Parlamento. Ao
rei competirá escolher para chefiar o go-
verno o representante do partido mais vo-
tado para o Parlamento.
Na Monarquia Constitucional, o rei tem
uma função semelhante à do Presidente na
República, tendo direitos e obrigações que
lhe são conferidos pela Constituição. Em Por-
tugal, a Monarquia Constitucional teve início
com a aprovação da Constituição de 1822.
Esse regime político governou o país até à im-
plantação da República em 1910.
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MONARQUIA
A palavra REPÚBLICA vem do latim RESPÚBLICA, ou seja, coisa pública, e é uma forma
de governo na qual o povo escolhe por eleição
um chefe para o país. Esse chefe é normal-
mente chamado presidente e pode ou não ser
também o chefe do governo.
A forma de eleição é normalmente realizada
por voto livre e secreto, em intervalos regula-
res. Em Portugal, segundo a Constituição de 1911,
o povo elegia os membros do Parlamento e eram
estes que escolhiam o Presidente da República.
A primeira REPÚBLICA de que se tem notí-
cia é a República romana, fundada no século VI
a. C., que se opôs à Monarquia etrusca. Na
Idade Média surgiram diversas repúblicas, das
quais as mais famosas foram as italianas como
Veneza, Génova, Pisa e Florença, que, de qual-
quer maneira, tinham características bastante
diferentes das repúblicas actuais.
Em Portugal, o movimento republicano
ganha força pública com os protestos que se se-
guiram ao Ultimatum, em 1890. Logo a seguir, o
republicanismo sofre algum abalo com a re-
pressão e as prisões que se seguiram à revolta
de 31 de Janeiro de 1891, no Porto para voltar a
crescer com grande força e entusiasmo a partir
do início da século XX. As organizações republi-
canas multiplicaram-se e espalharam-se pelo
país embora com uma grande predominância
em Lisboa.
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REPÚBLICA
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O ULTIMATUMQuando queremos contar uma história, a primeira coisa necessária é saber por onde co-
meçar. Só que a História é como as cerejas: puxa-se por uma e vêm montes delas atrás. Que-
remos explicar um acontecimento e temos de começar a andar para trás e para trás…
Porque está tudo enrodilhado desde o princípio dos tempos.
Não vamos andar tanto lá para trás. Vamos começar 20 anos antes da Revolução Repu-
blicana, em 1890. E o nosso ponto de partida é o Ultimatum, um acontecimento que aba-
lou a sociedade portuguesa de alto a baixo.
Estão agora os meus leitores a perguntar: o que foi o Ultimatum? Porque terá sido um
choque tão grande para os portugueses daquele tempo? E como é que era o Portugal da-
quele tempo?
Para responder tenho de andar outra vez um bocadinho para trás.
No início do século XIX, quando se deram as invasões francesas e o rei D. João VI partiu
com toda a Corte para o Brasil, Portugal era um país atrasado em relação a outros países eu-
ropeus como a França, a Alemanha ou a Inglaterra. As comunicações e o transporte de mer-
cadorias faziam-se de barco pelo mar, entre o Algarve, Lisboa e o Porto. E também pelos rios
Tejo, Douro, Sado e Guadiana. Havia poucas estradas e o acesso a algumas zonas interiores
do país era extremamente difícil.
< Brito Capelo e Roberto Ivens em ÁfricaCartoon de Bordalo Pinheiro n’Os Pontos nos ii, 1890
Por outro lado, as leis eram antiquadas e baseadas nos privilégios dos senhores das ter-
ras. Os impostos eram muito pesados. Chegava a ser mais barato importar cereais do es-
trangeiro para fazer o pão do que trazê-los do campo para Lisboa. A economia baseava-se
na agricultura, nalguma indústria muito pequena e, sobretudo, na exploração dos recursos
que vinham de África e do Brasil.
Em 1822, o Brasil declarou a independência, acabando com uma grande parte dos bene-
fícios que de lá vinham para Portugal.
As coisas ainda pioraram com a terrível Guerra Civil que rebentou entre duas facções po-
líticas, os absolutistas e os liberais. Quando este conflito acabou, em 1834, Portugal estava
exausto e tornava-se ainda mais urgente modernizar o país.
Foi o que aconteceu a partir de meados do século XIX com uma nova política chamada
Fontismo, baseada nas medidas tomadas pelo ministro Fontes Pereira de Melo e que inci-
diram sobretudo no desenvolvimento das Obras Públicas.
Construíram-se estradas e iniciou-se o cami-
nho-de-ferro, formas muito mais rápidas de
fazer chegar os produtos do campo à cidade e
da cidade ao campo. A circulação de passa-
geiros também aumentou, o que permitiu a
afluência de muita gente à cidade onde
vinham procurar trabalho nas indús-
trias que começavam a crescer.
Fontes Pereira de Melo caricaturado por Bordalo Pinheiro
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