Encontros com o Patrimnio da Humanidade I
Alto Douro Vinhateiro
Categoria de paisagem cultural evolutiva e
viva
H dias Joo Cotrim de Figueiredo, Presidente
do Turismo de Portugal afirmou que 2014 poder
ser de novo um ano histrico para o turismo
portugus. Destacando ainda, o facto de o INE ter
divulgado que as dormidas e os proveitos na
hotelaria mantiveram o crescimento homlogo em
maio de 12,3% e 18,9% respetivamente. A nossa
principal indstria exportadora, surge assim aos
olhos dos portugueses com uma estratgia acertada
e clara na divulgao de Portugal. A maior
visibilidade no estrangeiro caracteriza-se sobretudo
pelas enormes potencialidades do nosso pas em
atrair turistas, nos mais diversos segmentos. A sua
histria, cultura, gastronomia e hospitalidade fazem
o resto.
Os frutos dessa estratgia surgem todos os dias
com milhares de turistas a visitar as mais diversas
regies do pas, bem como na obteno de
distines internacionais. Nos incios de agosto o
jornal Pblico noticiava Portugal arrasa nos
scares do
turismo europeu.
Em Atenas na gala
europeia da
indstria turstica,
Portugal atingiu o seu Olimpo, ao serem-lhe
atribudos 16 World Travel Awards Europa. Estes
galardes distinguiram-nos como lder no Golfe, ao
Algarve como melhor destino de praias e a Madeira
como melhor destino insular ou Lisboa como melhor
destino para escapadelas. Considerou a Douro Azul
como a melhor companhia de cruzeiros fluviais e o
Turismo de Portugal, o melhor organismo oficial de
Turismo na Europa. Quanto a mim vou continuar a
fazer o que est ao meu alcance para divulgar a
Histria, a Cultura e a Gastronomia do meu Portugal.
Histria do Caminho de Ferro em Portugal
Linha do Douro
A linha do Douro, de via larga (1,67 m), liga
Ermesinde, na linha do Minho, a Barca DAlva, numa
extenso total de 212 km. Segundo Jos Ribeiro da
Silva, no seu livro Os comboios em Portugal: do
vapor electricidade, na segunda metade do sc.
XIX a regio do Douro surgia como uma importante
fonte de riqueza para o pas. O aumento da produo
de vinho do Porto [1] e a necessidade de melhorar o
seu transporte, tanto em termos econmicos como
em segurana e rapidez, nomeadamente entre a
Rgua e o Porto, levaram a que se comeasse a
pensar no caminho de ferro como alternativa aos
meios de transporte existentes. As obras nesta linha,
que percorria um terreno muito acidentado ao longo
das margens do rio, previa-se serem de difcil
execuo tcnica e muito dispendiosas. A definio
da cota (altura) a que a plataforma da linha do
Douro foi erguida quando se desenvolveu ao longo
do rio, estava condicionada pelo nvel das cheias. A
partir de Mosteir foi necessrio construir
quilmetros de muros de suporte sobre o rio e em
muitos casos, na impossibilidade de serem
contornados ou lanados nas encostas, foram feitas
extensas perfuraes nas rochas granticas e
xistosas. A abertura de 23 tneis, numa extenso
total de 6.900 metros e a construo de 35 pontes e
viadutos, do a ideia dos trabalhos ciclpicos que foi
necessrio realizar.
caso para perguntar o que que no ciclpico
construir nas encostas do Douro ?
Alto Douro Vinhateiro
Categoria de paisagem cultural evolutiva e viva
No passado dia 14 de dezembro, o Alto Douro
Vinhateiro comemorou o dcimo terceiro
aniversrio da sua inscrio na lista do Patrimnio
Mundial da Humanidade da UNESCO, na categoria
de paisagem cultural evolutiva e viva. Em Helsnquia
declarou-se que: O Alto Douro produz vinho desde
h dois mil anos, e desde o sc. XVIII o seu principal
produto, o vinho do Porto, mundialmente famoso
pela sua extraordinria qualidade. Esta longa
tradio produziu uma paisagem cultural de beleza
excecional que ao mesmo tempo o reflexo da sua
evoluo tecnolgica, econmica e social. [2]
Uma viagem de comboio [3] pela linha do Douro
ou um cruzeiro no Douro, permite ao viajante
desfrutar de uma paisagem nica e distinguida pela
UNESCO. A regio demarcada mais antiga do mundo
combina a natureza monumental do vale encantado,
feito de encostas ngremes e solos pobres e
acidentados, com a ao ancestral, contnua e tenaz
do homem. Essa parceria permitiu um
aproveitamento exemplar dos terrenos, com a
modelao da paisagem em socalcos, preservando-a
da eroso e permitindo o cultivo da vinha. Uma
labuta diria destes homens e mulheres para fazer
brotar da fragaria o mais generoso nctar dos
deuses. Alves Redol no seu livro Horizonte Cerrado,
do Ciclo Port Wine I, a sua personagem Fontela
descreve-o de forma sublime:
Em qualquer banda uma cepa se agarra; mas do
nosso, criado na fragaria
- verdadeiro sangue de Cristo interveio Fontela
- Mais do que isso!... vinho do Doiro sangue dos
homens. Sangue dos homens, pois !
Nas sbias palavras de Miguel Torga, no seu Dirio
XII que j tive oportunidade de ler, este escritor
natural de S. Martinho de Anta descreve uma das
paisagens durienses que ele mais apreciava, vista do
alto de So Leonardo (Galafura).
"O Doiro sublimado. O prodgio de uma
paisagem que deixa de o ser fora de se desmedir.
No um panorama que os olhos contemplam:
um excesso da natureza. Socalcos que so passadas
de homens titnicos a subir as encostas, volumes,
cores e modulaes que nenhum escultor, pintor ou
msico podem traduzir, horizontes dilatados para
alm dos limiares plausveis da viso. Um universo
virginal, como se tivesse acabado de nascer, e j
eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo
silncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a
sumir-se furtivo por detrs dos montes, ora
pasmado l no fundo a reflectir o seu prprio
assombro. Um poema geolgico. A beleza
absoluta." (in Dirio XII).
Linha do Corgo
Caso a linha do Corgo ainda estivesse em
funcionamento, a qual ligava as estaes da Rgua,
na linha do Douro, e Chaves, numa extenso de
96,350 Km. O turista teria a oportunidade de
degustar com os seus cinco sentidos uma viagem
atravs do tempo. O comboio ao subir lentamente
pela encosta escarpada, o vale surge-nos como um
despenhadeiro profundo, vertiginoso e de uma
beleza nica, com os flancos recortados de socalcos
plantados de vinhedos at ao cume, ponteados por
pequenas povoaes e quintas dispersas na
paisagem humanizada. Depois de vencidas vrias
estaes e apeadeiros, eis-nos chegados a Vila Real.
Caro leitor, esta viagem s possvel nas
recordaes e memrias de outro ora. Para os
menos atentos, a populao desta regio
transmontana ficou privada deste meio de
transporte, devido ao encerramento da linha do
Corgo ao trfego ferrovirio, a partir de 1 de janeiro
de 1990.
Parque do Corgo
Partindo da antiga estao do comboio da linha
do Corgo, em direo ao corao de Vila Real e ao
atravessar a ponte, podemos acompanhar o rio
Corgo e vislumbrar o parque com o mesmo nome.
Situado nas margens do rio tem uma rea de cerca
de 33 hectares. Est ligado ao Parque Florestal, o
verdadeiro pulmo da cidade, dotado de um circuito
de manuteno, que convida prtica desportiva e
a hbitos de vida saudveis.
Gastronomia
Depois deste priplo pelo Alto Douro Vinhateiro e
sendo horas de almoo, nada melhor que escolher
algo tpico da regio para o repasto. A sugesto do
chef seria uma alheira de Mirandela como entrada.
A alheira um enchido tradicional portugus muito
apreciado. Tradicionalmente tem como ingredientes
a carne e a gordura de porco, carne de aves, po de
trigo, azeite, banha, sal, alho e pimento.
Reza a histria que a alheira foi inventada nos finais
do sculo XV pelos Judeus refugiados em Trs-os-
Montes. Como a sua religio os impedia de comer
carne de porco acabavam por ser facilmente
identificados: quem no produzisse os tpicos
enchidos de carne de porco muito possivelmente
seria Judeu, e isso era meio caminho para a
perseguio... Para convencer a Inquisio da sua
converso ao Cristianismo, pelo menos na
aparncia, e assim serem poupados s respetivas
punies, os Judeus comearam a fazer pequenos
enchidos dourados que pareciam conter carne de
porco. Claro que na realidade o que tinham era carne
de aves e de outros animais. Como prato principal
um coelho moda de Vila Real, manso e guisado,
com batata cozida e grelos. Acompanhado de
Mateus Ros, um vinho com personalidade forte e
sabor nico. Para sobremesa as tigelinhas de laranja
(pequenas formas forradas com uma massa de
farinha, manteiga e gua, que se enchem de com um
preparado de acar, gemas e sumo e raspa de
laranja). Boa comida e boa bebida, apreciada pelos
portugueses e por todos aqueles que escolhem o
Douro para uma estadia inesquecvel.
Palcio de Mateus e Capela Nova ou dos Clrigos
Por terras de Panias, o forasteiro espera
encontrar vestgios do passado recente, mas
tambm visitar alguns ex-libris da urbe duriense.
Poder seguir no rasto do arquiteto Nicolau Nasoni
ao visitar na cidade, o Solar de Mateus e a Capela
Nova ou dos Clrigos. A tambm conhecida por Casa
de Mateus dos melhores exemplares da
arquitetura civil barroca rodeado dos seus
magnficos e encantadores jardins. Foi construdo
em meados do sc. XVIII e alguns autores atribuem
a obra a Nasoni, sobretudo pela exuberncia barroca
da fachada principal e da capela. A capela palatina
foi construda em 1750 e as suas raras propores
muito alta para o comprimento e a largura de que
dispe alm das particularidades decorativas que
levam a ser comparada com a Igreja dos Clrigos de
Vila Real. Por sua vez, esta trata-se de um templo
elegante, com uma fachada imponente. Nada como
uma visita ao seu interior, para apreciar os painis
de azulejos sobre a vida de So Pedro e de S. Paulo.
Carlos Cruchinho
Licenciado no Ensino da Histria e Cincias Sociais
Texto redigido segundo o novo acordo ortogrfico
[1]Mais conhecido por vinho fino ou vinho generoso pelos durienses.
[2] Nomeao do ADV n. 1046 CPM, Helsnquia - Deciso 25 Com X.a
[3] No comboio turstico para os mais abonados.
Bibliografia consultada:
SILVA, Jos Ribeiro da (2004) Os comboios em Portugal: do vapor
electricidade: [Vol. I] Queluz: Mensagem.
REDOL, Alves (1981) Horizonte Cerrado, do Ciclo Port Wine I
Mem Martins: Publicaes Europa-Amrica.
TORGA, Miguel (1977) Dirio XII , Coimbra.
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