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O golpe militar de 1964
O Golpe Militar de 1964 designa o conjunto de eventos ocorridos em 31 de março de
1964 no Brasil, e que culminaram no dia 1 de abril de 1964 em um golpe de estado.
A Ditadura Militar foi o período da política brasileira em que os militares governaram
o Brasil 1964 a 1985.
Falta de democracia;
Supressão de direitos constitucionais;
Censura;
Perseguição política e repressão aos que eram contra o regime militar;
Todavia, para a maioria dos militares, chamar o golpe de Revolução de 1964 estaria
associado à ideia de futuro, de esperança e de um tempo melhor, algo prometido para
a população, devido à corrupção que alegavam existir no Brasil.
Este golpe encerrou o governo do presidente João Belchior Marques Goulart, também conhecido como Jango, que havia sido democraticamente eleito vice-presidente pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) – na mesma eleição que conduziu Jânio da Silva Quadros do Partido Trabalhista Nacional (PTN) à presidência, apoiado pela União Democrática Nacional (UDN).Jânio renunciou ao mandato no mesmo ano de sua posse
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(1961) e quem deveria substituí-lo automaticamente e assumir a Presidência era João Goulart, segundo a Constituição vigente à época, promulgada em 1946.
A maior parte dos regimes militares são formadas após um golpe de Estado,
derrubando o governo anterior.
A crise política se arrastava desde a renúncia de Jânio Quadros em 1961. O vice de
Jânio era João Goulart, que assumiu a presidência num clima político adverso. O
governo de João Goulart (1961-1964) foi marcado pela abertura às organizações
sociais. Estudantes, organização populares e trabalhadores ganharam espaço,
causando a preocupação das classes conservadoras como, por exemplo, os
empresários, banqueiros, Igreja Católica, militares e classe média. Todos temiam uma
guinada do Brasil para o lado socialista. Vale lembrar, que neste período, o mundo
vivia o auge da Guerra Fria.
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Comício
O primeiro deles, o comício das Reformas, foi realizado no dia 13 de março de 1964, no Rio de Janeiro. Nele, diante de 150 mil pessoas, o presidente assinou dois decretos: um iniciando a reforma agrária, com a desapropriação de terras ociosas às margens das rodovias e açudes federais; outro encampando as refinarias particulares de petróleo Com o gesto, Jango iniciava a implementação das reformas de base sem a permissão do Congresso Nacional.Esse seria o principal argumento que os militares usariam para justificar o golpe. As reformas de Jango e a Marcha da Família com Deus pela Liberdade: tensões que
antecederam o golpe de 64.
O ano de 1964 começou com o rompimento das negociações entre o governo e as
forças conservadoras no Congresso Nacional para implementar as reformas de base,
reunindo reforma agrária, educacional, fiscal, bancária e eleitoral. Jango organizou,
então, uma ofensiva política para pressionar os parlamentares com a força das ruas.
Apoiado pelos movimentos populares, que haviam atingido um grau de organização
inédito na história do País, anunciou seu comparecimento a uma série de grandes
comícios nas principais cidades, a fim de mobilizar a população em favor das
reformas.
Reforma "na lei ou na marra"
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O presidente iniciou as reformas pela agrária porque o campo configurava um dos
problemas sociais mais sérios do País. A má distribuição de terras produzia efeitos
negativos para todo o País. A pobreza excluía do acesso ao mercado de bens
industrializados a maior parcela da população, uma vez que cerca de 70% dos
brasileiros habitavam a área rural até os anos 1950.
Pressões
Portanto, além de resolver o problema rural, restabelecendo a paz em áreas marcadas
por uma crescente mobilização social, a reforma agrária seria capaz de promover a
industrialização e o desenvolvimento econômico. Por isso, os movimentos sociais
decidiram pressionar o Congresso Nacional de modo firme, exigindo uma reforma
agrária "na lei o na marra". Foi nesse jogo de pressões que João Goulart realizou o
Comício das Reformas.
Marcha da Família
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A tensão política aumentava ao mesmo tempo em que a economia se deteriorava com
aumento da inflação. Em 63, a inflação atingira 75% e as projeções nos primeiros
meses de 64 estimavam alta de 140%. Para defender seu poder de compra, os
trabalhadores realizaram 302 greves em 1963. Muitas delas, porém, visavam
aumentar a participação da categoria nas decisões do governo e pressionar pelas
reformas. A direita também aumentava a pressão. Em São Paulo, as forças
conservadoras responderam ao Comício das Reformas com a Marcha da Família com
Deus pela Liberdade (foto), reunindo cerca de 200 mil pessoas. Nas faixas, pedidos
para Jango ser destituído.
Militares mobilizados para o golpe
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A divisão da sociedade
também chegara às Forças Armadas. Um setor era nacionalista, articulado ao
movimento sindical e a setores da esquerda e apoiava abertamente importantes
iniciativas progressistas como as reformas de base. O grupo contrário à política de
Goulart, por outro lado, se envolvia cada vez em ações que visavam a desestabilizar o
governo.
Política na era da ditadura ( Os Presidentes)
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Os militares tomam o poder. Em 9 de abril, é decretado o Ato Institucional Número 1
(AI-1). Este, cassa mandatos políticos de opositores ao regime militar e tira a
estabilidade de funcionários públicos.
O GOVERNO CASTELLO BRANCO (1964-1967)
Castello Branco, general militar, foi eleito pelo Congresso Nacional presidente da
República em 15 de abril de 1964. Em seu pronunciamento, declarou defender a
democracia, porém ao começar seu governo, assume uma posição autoritária.
Estabeleceu eleições indiretas para presidente, além de dissolver os partidos políticos.
Vários parlamentares federais e estaduais tiveram seus mandatos cassados, cidadãos
tiveram seus direitos políticos e constitucionais cancelados e os sindicatos receberam
intervenção do governo militar. Em seu governo, foi instituído o bipartidarismo. Só
estavam autorizados o funcionamento de dois partidos: Movimento Democrático
Brasileiro (MDB) e a Aliança Renovadora Nacional (ARENA). Enquanto o primeiro era
de oposição, de certa forma controlada, o segundo representava os militares.
O governo militar impõe, em janeiro de 1967, uma nova Constituição para o país.
Aprovada neste mesmo ano, a Constituição de 1967 confirma e institucionaliza o
regime militar e suas formas de atuação.
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GOVERNO COSTA E SILVA (1967-1969)
Em 1967, assume a presidência o general Arthur da Costa e Silva, após ser eleito
indiretamente pelo Congresso Nacional. Seu governo é marcado por protestos e
manifestações sociais. A oposição ao regime militar cresce no país. A UNE (União
Nacional dos Estudantes) organiza, no Rio de Janeiro, a Passeata dos Cem Mil.
Em Contagem (MG) e Osasco (SP), greves de operários paralisam fábricas em protesto
ao regime militar. A guerrilha urbana começa a se organizar. Formada por jovens
idealistas de esquerda, assaltam bancos e seqüestram embaixadores para obterem
fundos para o movimento de oposição armada. No dia 13 de dezembro de 1968, o
governo decreta o Ato Institucional Número 5 (AI-5). Este foi o mais duro do governo
militar, pois aposentou juízes, cassou mandatos, acabou com as garantias do habeas-
corpus e aumentou a repressão militar e policial.
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GOVERNO DA JUNTA MILITAR (31/8/1969-30/10/1969)
Foi o governo que menos durou, formada por um grupo de militares, substituiu Arthur
da Costa e Silva, a junta era formada pelos ministros Aurélio de Lira Tavares
(Exército), Augusto Rademaker (Marinha) e Márcio de Sousa e Melo (Aeronáutica).
Governo conhecido pelo sequestro do embaixador dos EUA Charles Elbrick por dois
grupos de esquerda, O MR-8 e a ALN. Eles exigiram a libertação de 15 presos políticos,
exigência conseguida com sucesso. Mas, em 18 de Setembro, o governo decreta a Lei
de Segurança Nacional. Esta lei decretava o exílio e a pena de morte em casos de
"guerra psicológica adversa, ou revolucionária, ou subversiva". No final de 1969, o
líder da ALN, Carlos Mariguella, foi morto pelas forças de repressão em São Paulo.
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GOVERNO MEDICI (1969-1974)
Governo Médici: A euforia de um país "campeão" que vivia o auge da opressão
ditatorial. Em 1969, a Junta Militar escolhe o novo presidente: o general Emílio
Garrastazu Medici. Seu governo é considerado o mais duro e repressivo do período,
conhecido como “anos de chumbo”. A repressão à luta armada cresce e uma severa
política de censura é colocada em execução. Jornais, revistas, livros, peças de teatro,
filmes, músicas e outras formas de expressão artística são censuradas. Muitos
professores, políticos, músicos, artistas e escritores são investigados, presos,
torturados ou exilados do país. O DOI-Codi (Destacamento de Operações e
Informações e ao Centro de Operações de Defesa Interna) atua como centro de
investigação e repressão do governo militar. Ganha força no campo a guerrilha rural,
principalmente no Araguaia. A guerrilha do Araguaia é fortemente reprimida pelas
forças militares
O Milagre Econômico
Na área econômica o país crescia rapidamente. Este período que vai de 1969 a 1973
ficou conhecido com a época do Milagre Econômico. O PIB brasileiro crescia a uma
taxa de quase 12% ao ano, enquanto a inflação beirava os 18%. Com investimentos
internos e empréstimos do exterior, o país avançou e estruturou uma base de infra-
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estrutura. Todos estes investimentos geraram milhões de empregos pelo país.
Algumas obras, consideradas faraônicas, foram executadas, como a Rodovia
Transamazônica e a Ponte Rio-Niteroi.
Porém, todo esse crescimento teve um custo altíssimo e a conta deveria ser paga no
futuro. Os empréstimos estrangeiros geraram uma dívida externa elevada para os
padrões econômicos do Brasil.
GOVERNO GEISEL (1974-1979)
Em 1974 assume a presidência o general Ernesto Geisel que começa um lento
processo de transição rumo à democracia. Seu governo coincide com o fim do milagre
econômico e com a insatisfação popular em altas taxas. A crise do petróleo e a
recessão mundial interferem na economia brasileira, no momento em que os créditos
e empréstimos internacionais diminuem.Geisel anuncia a abertura política lenta,
gradual e segura. A oposição política começa a ganhar espaço. Nas eleições de 1974, o
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MDB conquista 59% dos votos para o Senado, 48% da Câmara dos Deputados e ganha
a prefeitura da maioria das grandes cidades.
Os militares de linha dura, não contentes com os caminhos do governo Geisel,
começam a promover ataques clandestinos aos membros da esquerda. Em 1975, o
jornalista Vladimir Herzog á assassinado nas dependências do DOI-Codi em São Paulo.
Em janeiro de 1976, o operário Manuel Fiel Filho aparece morto em situação
semelhante.
Em 1978, Geisel acaba com o AI-5, restaura o habeas-corpus e abre caminho para a
volta da democracia no Brasil.
GOVERNO JOAO BATISTA DE OLIVEIRA FIGUEIREDO (1979-1985
A vitória do MDB nas eleições em 1978 começa a acelerar o processo de
redemocratização. O general João Baptista Figueiredo decreta a Lei da Anistia,
concedendo o direito de retorno ao Brasil para os políticos, artistas e demais
brasileiros exilados e condenados por crimes políticos. Os militares de linha dura
continuam com a repressão clandestina. Cartas-bomba são colocadas em órgãos da
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imprensa e da OAB (Ordem dos advogados do Brasil). No dia 30 de Abril de 1981, uma
bomba explode durante um show no centro de convenções do Rio Centro. O atentado
fora provavelmente promovido por militares de linha dura, embora até hoje nada
tenha sido provado.
Em 1979, o governo aprova lei que restabelece o pluripartidarismo no país.
Os partidos voltam a funcionar dentro da normalidade. A ARENA muda o nome e
passa a ser PDS, enquanto o MDB passa a ser PMDB. Outros partidos são criados,
como: Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT).
Comício pelas Diretas Já!Local: Capão da Canoa (RS)
Data: 19/02/1984
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Sarney, o primeiro presidente civil pós-ditadura militar 15 de março de 1985
Depois de 21 anos de regime militar e uma transição política negociada para a posse do governo civil, os brasileiros esperavam que os novos tempos de democracia tivessem início em clima de festa. Não foi o que aconteceu. A votação do colégio eleitoral, realizada em 15 de janeiro de 1985, escolheu Tancredo Neves, 75 anos, para presidente e as notícias que se seguiram não foram nada festivas. Saído de uma campanha cansativa, o político mineiro passou a sentir fortes dores abdominais e foi internado na véspera da posse. Trinta e oito dias depois, seu falecimento foi anunciado pelo porta-voz Antônio Britto, no Hospital das Clínicas de São Paulo. Apesar das esparsas discussões jurídicas que questionavam a possibilidade de o presidente da Câmara dos Deputados, Ulysses Guimarães, assumir a Presidência, prevaleceu a interpretação tradicional. José Sarney, eleito vice na chapa de Tancredo, tornou-se então o primeiro presidente civil depois de mais de duas décadas. No poder, o ex-integrante do PDS restabeleceu as eleições diretas para presidente e promulgou a nova Constituição, três anos depois da posse. O governo Sarney também marcou a estréia do primeiro plano de choque na economia, o Cruzado, em fevereiro de 1986. Para controlar a inflação, congelou preços e salários e acabou com a correção monetária. Em edição de capa, ISTOÉ mostrou o intricado jogo de poder que se desenhava a partir da posse de José Sarney.
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A comoção de uma nação A morte de Tancredo Neves, em 21 de abril de 1985, provocou uma enorme comoção no País. Num dos maiores cortejos fúnebres já realizados no Brasil, cerca de dois milhões de pessoas viram o caixão de Tancredo passar por São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e São João Del-Rey. Na capital da República, seguido por imensa multidão durante quatro horas, o corpo de Tancredo foi velado e exposto à visitação pública no Palácio do Planalto, onde o arcebispo da cidade, dom José Freire Falcão, oficiou uma missa de corpo presente. No dia seguinte, o corpo de Tancredo Neves chegou ao
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aeroporto de Pampulha, em Belo Horizonte, para receber as homenagens no Palácio da Liberdade. As cenas registradas na capital mineira foram impressionantes. Tumultos na praça da Liberdade, provocados pela ansiedade popular em romper os cordões de isolamento, resultaram em quatro mortos e 271 feridos.
A economia e o Regime Militar
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O início do Regime Militar a inflação chega a 80% ao ano, o crescimento do Produto
Nacional Bruto (PNB) é de apenas 1,6% ao ano e a taxa de investimentos é quase nula.
Diante desse quadro, o governo adota uma política recessiva e monetarista,
consolidada no Programa de Ação Econômica do Governo (Paeg), elaborado pelos
ministros da Fazenda, Roberto de Oliveira Campos e Octávio Gouvêa de Bulhões. Seus
objetivos são sanear a economia e baixar a inflação para 10% ao ano, criar condições
para que o PNB cresça 6% ao ano, equilibrar o balanço de pagamentos e diminuir as
desigualdades regionais. Parte desses objetivos é alcançada. No entanto, em 1983, a
inflação ultrapassa os 200% e a dívida externa supera os US$ 90 bilhões.
Recessão
Para sanear a economia, o governo impõe uma política recessiva: diminui o ritmo das
obras públicas, corta subsídios, principalmente ao petróleo e aos produtos da cesta
básica, dificulta o crédito interno. Em pouco tempo aumenta o números de falências e
concordatas. Paralelamente, para estimular o crescimento do PNB, oferece amplos
incentivos fiscais, de crédito e cambiais aos setores exportadores. Garante ao capital
estrangeiro uma flexível lei de remessas de lucro, mão-de-obra barata e sindicatos sob
controle. Extingue a estabilidade no emprego e, em seu lugar, estabelece o Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). No final do governo Castello Branco a inflação
baixa para 23% anuais. A capacidade ociosa da indústria é grande, o custo de vida está
mais alto, há grande número de desempregados, acentuada concentração de renda e
da propriedade.
Financiamento interno
Para financiar o déficit público, o governo lança no mercado as Obrigações
Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTNs). Estimula a construção civil criando o
Banco Nacional de Habitação (BNH) para operar com os recursos captados pelo FGTS.
Estabelece também a correção monetária como estímulo à captação de poupança num
momento de inflação alta. Ao fazer isso, cria um mecanismo que, na prática, indexa a
economia e perpetua a inflação.
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Retomada do crescimento
A economia volta a crescer no governo Castello Branco. Os setores mais dinâmicos
são as indústrias da construção civil e de bens de consumo duráveis voltados para
classes de alta renda, como automóveis e eletrodomésticos. Expandem-se também a
pecuária e os produtos agrícolas de exportação. Os bens de consumo não-duráveis,
como calçados, vestuário, têxteis e produtos alimentícios destinados à população de
baixa renda têm crescimento reduzido ou até negativo.
Milagre econômico
Baseado no binômio segurança-desenvolvimento, o modelo de crescimento
econômico instaurado pela ditadura conta com recursos do capital externo, do
empresariado brasileiro e com a participação do próprio Estado como agente
econômico. O PNB cresce, em média, 10% ao ano entre 1968 e 1973. Antônio Delfim
Netto, ministro da Fazenda nos governos Costa e Silva e Garrastazu Medici e o
principal artífice do "milagre", aposta nas exportações para obter parte das divisas
necessárias às importações de máquinas, equipamentos e matérias-primas. O
crescimento do mercado mundial, na época, favorece essa estratégia, mas é a política
de incentivos governamentais aos exportadores que garante seu sucesso. Para
estimular a indústria, Delfim Netto expande o sistema de crédito ao consumidor e
garante à classe média o acesso aos bens de consumo duráveis.
O papel das estatais
Durante o Regime Militar, o Estado mantém seu papel de investidor na indústria
pesada, como a siderúrgica e de bens de capital. As empresas estatais crescem com a
ajuda do governo, obtêm grandes lucros, lideram empreendimentos que envolvem
empresas privadas e criam condições para a expansão do setor de produção de bens
duráveis.
Concentração de renda
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Em 1979, apenas 4% da população economicamente ativa do Rio de Janeiro e São
Paulo ganha acima de dez salários mínimos. A maioria, 40%, recebe até três salários
mínimos. Além disso, o valor real do salário mínimo cai drasticamente. Em 1959, um
trabalhador que ganhasse salário mínimo precisava trabalhar 65 horas para comprar
os alimentos necessários à sua família. No final da década de 70 o número de horas
necessárias passa para 153. No campo, a maior parte dos trabalhadores não recebe
sequer o salário mínimo.
Crescimento da miséria
Os indicadores de qualidade de vida da população despencam. A mortalidade infantil
no Estado de São Paulo, o mais rico do país, salta de 70 por mil nascidos vivos em
1964 para 91,7 por mil em 1971. No mesmo ano, registra-se a existência de 600 mil
menores abandonados na Grande São Paulo. Em 1972, de 3.950 municípios do país,
apenas 2.638 têm abastecimento de água. Três anos depois um relatório do Banco
Mundial mostra que 70 milhões de brasileiros são desnutridos, o equivalente a 65,4%
da população, na época de 107 milhões de pessoas. O Brasil tem o 9º PNB do mundo,
mas em desnutrição perde apenas para Índia, Indonésia, Bangladesh, Paquistão e
Filipinas.
Fim do milagre
A partir de 1973 o crescimento econômico começa a declinar. No final da década de
70 a inflação chega a 94,7% ao ano. Em 1980 bate em 110% e, em 1983, em 200%.
Nesse ano, a dívida externa ultrapassa os US$ 90 bilhões e 90% da receita das
exportações é utilizada para o pagamento dos juros da dívida. O Brasil mergulha em
nova recessão e sua principal conseqüência é o desemprego. Em agosto de 1981 há
900 mil desempregados nas regiões metropolitanas do país e a situação se agrava nos
anos seguintes.
A Mídia e a Ditadura
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A grande imprensa sofria censura da ditadura, ou se afinava com o governo, enquanto
que os pequenos jornais alternativos denunciavam os abusos de tortura e violação dos
direitos humanos no Brasil. A imprensa alternativa era redigida por jornalistas de
movimento popular ou de orientação política de esquerda, em boa parte, despedidos
dos grandes veículos.
Os jornais alternativos foram instrumentos de resistência e espaço público durante o
período de abertura. Porém os grandes veículos impressos tinham jornalistas
combativos, em dezembro de 1969, a revista Veja tinha em sua equipe Raimundo
Pereira, Élio Gaspari, Dirceu Brizola, Bernardo Kucinski, cuja redação fora
desmontada após a publicação de duas reportagens de 1969 a 1988, sofrendo forte
censura militar até meados da década de 70.referentes a tortura de presos políticos.
Em 25 de outubro de 1975, sob tortura, foi assassinado o jornalista chefe da TV
Cultura, Vladimir Herzog. A maioria dos jornais alternativos tiveram vida curta como
Versus, Coojornal, Repórter, Opinião, Movimento, Em Tempo, entre outros; o Pasquim
durou mais,
Jornalista Vladimir Herzog, vítima do golpe saudado pelos tubarões da mídia
Com supressão das liberdades, cassação de mandatos, exilamentos de artistas e
profissionais liberais, além de prisões em massa, torturas e assassinatos, o período
compreendido entre os anos de 1964 e 1985 viria a ser conhecido pela historiografia e
pelos historiadores como os "tempos de chumbo" da ditadura militar
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Os militares golpistas contaram com o apoio declarado das elites conservadoras, das
associações de grupos urbanos católicos e de setores da própria Igreja, além da
grande imprensa curvada aos interesses políticos e econômicos em questão.
Em 196 os principais jornais brasileiros, a maioria auto-proclamados defensores da liberdade de expressão, da democracia e do Estado de Direito:
“Escorraçado”. “Escorraçado, amordaçado e acovardado, deixou o poder como imperativo de legítima
vontade popular o Sr. João Belchior Marques Goulart, infame líder dos comuno-
carreiristas-negocistas-sindicalistas. Um dos maiores gatunos que a história brasileira
já registrou, o Sr João Goulart passa outra vez à história, agora também como um dos
grandes covardes que ela já conheceu”. (Tribuna da Imprensa – Rio de Janeiro – 2 de
Abril de 1964)
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31/03/64 – FOLHA DA TARDE – (Do editorial A GRANDE AMEAÇA): “… cuja
subversão além de bloquear os dispositivos de segurança de todo o hemisfério,
lançaria nas garras do totalitarismo vermelho, a maior população latina do mundo…”
31/03/64 – CORREIO DA MANHÃ – (Do editorial, BASTA!): “O Brasil já sofreu
demasiado com o governo atual. Agora, basta!”
1o/04/64 – CORREIO DA MANHÃ – (Do editorial, FORA!): “Só há uma coisa a dizer ao
Sr. João Goulart: Saia!”
“Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem
agradecer aos bravos militares que os protegeram de seus inimigos”. “Este não foi um
movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da vida política
brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras presidenciais”. (O
Globo – Rio de Janeiro – 2 de Abril de 1964)
De Norte a Sul vivas à Contra-Revolução
“Desde ontem se instalou no País a verdadeira legalidade… Legalidade que o caudilho
não quis preservar, violando-a no que de mais fundamental ela tem: a disciplina e a
hierarquia militares. A legalidade está conosco e não com o caudilho aliado dos
comunistas”. (Editorial do Jornal do Brasil – Rio de Janeiro –1º de Abril de 1964)
A paz alcançada
“A vitória da causa democrática abre o País a perspectiva de trabalhar em paz e de
vencer as graves dificuldades atuais. Não se pode, evidentemente, aceitar que essa
perspectiva seja toldada, que os ânimos sejam postos a fogo. Assim o querem as
Forças Armadas, assim o quer o povo brasileiro e assim deverá ser, pelo bem do
Brasil”. (Editorial de O Povo – Fortaleza – 3 de Abril de 1964)
02/04/64 – O GLOBO – “Fugiu Goulart e a democracia está sendo restaurada”…
“atendendo aos anseios nacionais de paz, tranqüilidade e progresso… as Forças
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Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos,
livrando-a do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam
envolvido o Executivo Federal”.
05/04/64 – O ESTADO DE MINAS: “Feliz a nação que pode contar com corporações
militares de tão altos índices cívicos”. “Os militares não deverão ensarilhar suas armas
antes que emudeçam as vozes da corrupção e da traição à pátria.”
Enquanto o AI-5 esteve em vigor, 1968 e 1978, qualquer veículo de comunicação
passava por inspeção da pauta por agentes autorizados. A CONTEL era a responsável
pela censura dos meios de comunicação, sendo comandada pelo SNI e pelo DOPS
vetava qualquer notícia de manifestação comandada por estudantes. Música,
programas televisivos, programas de rádio, cinema, livros e jornais eram todos
avaliados antes da publicação. Em muitas ocasiões eram vetadas matérias em jornais,
que publicavam em seu lugar matérias em branco ou receitas culinárias que nunca
resultavam no que se propunha inicialmente, tudo como tentativa de despertar a
população para o que estava acontecendo. A maioria da população desconhecia as
torturas e não se davam conta dos desaparecimentos de conhecidos causados pelo
regime, a violência do Estado era notada através dos confrontos policiais, mas não era
possível para muitos ter a noção precisa das verdadeiras proporções das atrocidades
existentes.
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A ditadura e as novelas
A Censura do Governo Militar e as Novelas da Globo
A censura à imprensa gerou diferentes reações. Jornais e revistas quando tinham suas
matérias censuradas, deixavam longos espaços em branco, publicavam receitas
culinárias indecifráveis, ou recorriam à poesia de Camões no lugar das matérias
vetadas.
A MPB teve várias canções censuradas, com “Cálice” (Chico Buarque – Gilberto Gil),
“Apesar de Você” (Chico Buarque) ou “Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores”
(Geraldo Vandré). Capas de discos foram censuradas, como a do álbum “Índia”, de Gal
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Costa, de 1973, em que a cantora trazia um close frontal em uma vestida de uma tanga
minúscula. A censura ao corpo do cantor Ney Matogrosso, que na época fazia parte da
banda “Secos & Molhados” (1973), apresentando-se sem camisa. Como conseqüência,
a televisão só podia focalizar o seu rosto, ou o corpo ao longe, sem closes.
O cinema foi um dos veículos de comunicação mais prejudicado pela censura da
ditadura militar. Filmes como “Emmanuelle” (1974), com Sylvia Kristel, “O Último
Tango Em Paris” (1972), com Marlon Brando, só foram exibidos em 1980, quando a
ditadura militar proporcionou uma abertura e liberou certas obras censuradas. Mas o
filme “Pra Frente Brasil”, de 1982, que falava da tortura no regime militar, não
escapou à tesoura da censura.
A censura não poupou a telenovela, que se tornou o principal produto de consumo do
telespectador brasileiro. Autores como Dias Gomes, Janete Clair, Lauro César Muniz e
Mário Prata, tiveram seus textos destruídos pelos censores, que se encarregavam de
verificar se o que se ia ao ar estava de acordo com as regras do regime militar e com
os seus valores morais.
Capítulos e Novelas Censuradas
A telenovela diária, como forma de entretenimento da televisão brasileira no formato
que se tem hoje, surgiu em 1963, com 2-5499 Ocupado, tendo como protagonistas
Tarcísio Meira e Glória Menezes. Na primeira fase da ditadura militar (1964-1968), as
telenovelas não tinham grande poder de formação de opinião junto ao público, o que
fez com que os censores só olhassem para elas a partir de 1970. Naquele ano, o
sucesso de “Irmãos Coragem”, de Janete Clair, pôs o hábito no brasileiro de ver
telenovela no horário nobre, tradição que perdura até os dias atuais. A paixão tão bem
correspondida entre o brasileiro e as telenovelas, fez com que as mais estranhas
formas de censura caíssem sobre os textos dos autores até o fim da ditadura militar.
A primeira telenovela de Dias Gomes foi “A Ponte dos Suspiros” (1969), feita pela
Rede Globo. Era um dramalhão que se passava em Veneza. O dramaturgo, temendo
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represálias devido à sua militância política declaradamente de esquerda, assinou esta
novela com o pseudônimo de Stela Calderón. Dias Gomes tinha a supervisão do seu
texto feita pela poderosa Glória Magadan. Com a demissão de Glória Magadan pela
Globo, o autor mudou radicalmente o texto, passando a debater temas políticos. Com a
mudança no conteúdo, a censura paulista obrigou a novela a ser transmitida às 22
horas, inaugurando assim, um novo horário na emissora que perduraria até 1979. Na
novela “Bandeira 2” (1971/72), o protagonista era o bicheiro Tucão (Paulo Gracindo),
que teve grande aceitação popular. A censura exigiu que ele fosse morto no fim da
trama, para moralizar a história. A censura atingiria a próxima novela de Dias Gomes,
a mítica “O Bem-Amado” (1973). A música tema da abertura da novela, “Paiol
de Pólvora” (Vinícius de Moraes – Toquinho), foi censurada por causa do verso
“Estamos sentados em um paiol de pólvora”, sendo substituída por “O Bem-Amado”
(Vinícius de Moraes – Toquinho), tocada pelo Coral Som Livre. Ainda nesta novela, foi
proibido que Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo) fosse chamado de “coronel” e Zeca
Diabo de “capitão”, o que obrigou a emissora carioca a apagar o áudio em mais de 15
capítulos já gravados em que apareciam as palavras. “Ódio” e “vingança” foram outras
palavras proibidas pela censura de serem pronunciadas na novela. O maior golpe que
sofreu Dias Gomes foi a censura completa da novela “Roque Santeiro”, em 1975. Já
com 36 capítulos gravados e editados, prontos a estrear, a Delegacia de Ordem Pública
e Social (DOPS), descobriu que o dramaturgo estava a adaptar o texto teatral “O Berço
do Herói”, de sua autoria, que fora escrito e proibido em 1963. A história de
Sinhozinho Malta (Lima Duarte), viúva Porcina (Betty Faria) e Roque (Francisco
Cuoco) nunca foi ao ar, sendo substituída por uma reprise compacta de “Selva de
Pedra”. A novela só seria liberada dez anos depois, em 1985, trazendo o mesmo Lima
Duarte no papel de Sinhozinho Malta, mas com Regina Duarte (Porcina) e José Wilker
(Roque) como protagonistas. A novela tornar-se-ia um dos maiores sucessos da
televisão brasileira. Durante a ditadura militar e a sua rígida censura, Janete Clair foi a
autora de telenovelas que mais produziu grandes sucessos, sendo a que teve mais
textos vetados pela censura. “O Homem Que Deve Morrer” (1971), sugeria de forma
alegórica, uma adaptação da vida de Cristo. Ciro Valdez (Tarcísio Meira), nascia de
uma mulher virgem do interior do Brasil. Dois dias antes da estréia, o tema foi
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considerado impróprio, os dez primeiros capítulos foram totalmente vetados pela
censura. Diante do impasse, Janete Clair baseou a sua novela em “Eram os Deuses
Astronautas”, de Erich von Daniken, e o protagonista passou a ser filho não do espírito
santo, mas de um ET. Janete Clair voltaria a sofrer com a censura na sua novela
seguinte, “Selva de Pedra” (1972). Na novela, o casamento entre Cristiano (Francisco
Cuoco) e Fernanda (Dina Sfat) não se realizou porque a censura considerava a união
um estímulo à bigamia. Cristiano acreditava que a sua mulher Simone (Regina
Duarte), tinha morrido em um acidente, mas a censura não permitiu a cerimônia,
alegando que o público sabia que o casamento era bigamia. Janete Clair fez com que
Fernanda fosse abandonada no altar e, inutilizou 22 capítulos já escritos, que seriam
exibidos logo após o casamento das personagens. Em 1973, a autora teve a novela
“Cidade Vazia” vetada pela censura, sendo obrigada a improvisar com “O Semideus”.
Após o término de “O Semideus”, “Cidade Vazia” foi liberada com o nome de “Fogo
Sobre Terra” (1974). A novela narrava a história da cidade fictícia de Divinéia, que
seria inundada por uma hidrelétrica. A novela sofreu grandes problemas com a
censura por causa do protagonista Pedro Azulão (Juca de Oliveira), que liderava o
povo contra a construção da hidrelétrica. Pedro Azulão foi obrigado a mudar a sua
convicção ideológica. Na trama, a autora pensava em matar a personagem no final,
mas a censura não deixou, para que não se transformasse em mártir, e de quebra fez
com que a personagem se retratasse. Esta novela teve vários capítulos mutilados pela
censura, fazendo a coerência do texto desaparecer por completo. De uma só vez, a
autora rasgou 12 capítulos censurados. Mais tarde, Janete Clair declararia que “Fogo
Sobre Terra”, tinha sido a sua novela mais prejudicada pela censura. A autora voltaria
a sofrer retaliações com “Duas Vidas” (1977), cuja temática mostrava a
desapropriação de residências pelas obras da construção do metrô do Rio de Janeiro.
Como o metrô era uma obra do governo federal, não podia ser criticado pela televisão.
Nenhuma personagem podia reclamar sequer da poeira feita pelas obras. Uma cena
entre as personagens Valdo (Luís Gustavo) e Naná (Arlete Salles), que sugeria uma
discussão violenta, foi inteiramente cortada, o telespectador ficava sem perceber se
Valdo tinha matado ou espancado Naná. A ditadura dos generais era moralista, pois
era sustentada por uma burguesia conservadora e rígida, composta por senhoras de
28
família que saíram às ruas em 1964, com rosários nas mãos, a apoiar o golpe militar.
Nas novelas da época, um homem casado não se poderia apaixonar por outra mulher,
ter amantes, muito menos trocar um beijo e carinhos com ela. Na novela “Sem Lenço,
Sem Documento” (1977), de Mário Prata, Marco (Ney Latorraca) era casado com Iara
(Cidinha Milan), nutria uma paixão velada por Carla (Bruna Lombardi), por este
motivo, a censura obrigou o autor a matar Iara, fazendo de Marco um viúvo disponível
para viver o seu amor por Carla. “Escalada” (1975), o maior sucesso de Lauro César
Muniz, contava a história da construção de Brasília, mas o protagonista Antônio Dias
(Tarcísio Meira), e as outras personagens da trama, eram proibidas de falar no nome
de Juscelino Kubtschek, o presidente que havia construído a capital federal, e, que fora
exilado pelo regime militar. Lauro César Muniz voltaria a sofrer com a censura em
1977, na novela “Espelho Mágico”, as personagens Nora (Yoná Magalhães) e Jordão
(Juca de Oliveira) viviam um casamento desgastado, marcado por cenas de fortes
discussões, que foram cortadas e excluídas, não indo ao ar pela censura achar que
serviam de incentivo à separação dos casais. O mais curioso é que esta novela foi ao ar
no momento histórico da aprovação da lei do Divórcio no Brasil, promulgada naquele
ano, lei que criou um mal-estar entre a burguesia e a igreja conservadoras, os maiores
aliados dos militares. Às vezes a censura comportava-se de forma que não se percebia,
como no caso da novela “Escrava Isaura” (1976), de Gilberto Braga, que tinha como
tema a escravidão, mas que não se podia usar a palavra “escravo”. Esta palavra tinha
que ser substituída por “peça”. Na novela “O Bofe” (1972), de Bráulio Pedroso,
Inocêncio (Paulo Gonçalves) era um vigarista que se passava por padre para dar um
golpe, quando os censores perceberam o ardil, obrigaram o autor a manter a
personagem como padre e ser punido no fim da trama. Um ano após a proibição de
“Roque Santeiro”, a Rede Globo sofreria mais um golpe, “Despedida de Casado”, de
Walter George Durst, programada para substituir “Saramandaia”, foi proibida pela
censura. O projeto de lei que instituiria o divórcio no Brasil estava no auge do seu
debate, e a lei seria promulgada seis meses depois da estréia dessa novela, mesmo
assim, a censura continuava conservadora, não permitindo que o tema, as crises
conjugais do casal Stela (Regina Duarte) e Rafael (Antônio Fagundes) após dez anos de
casados, fosse abordado pela televisão. Os 30 primeiros capítulos tinham sido
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aprovados pela censura, depois de gravados e editados, não agradaram aos censores e
a novela foi definitivamente vetada. A solução foi Walter George Durst escrever outra
história e aproveitar o elenco de “Despedida de Casado”. “Nina” foi a novela escrita
para substituir a malograda história. Ao contrário de “Roque Santeiro”, que foi
retomada dez anos depois, “Despedida de Casado” foi definitivamente esquecida, pois
teve a sua temática datada após a lei do divórcio.
Já feita a anistia política e retomada a abertura, no finzinho do regime militar, a mini-
série “Bandidos da Falange” (1982), de Aguinaldo Silva, foi censurada, só liberada
cinco meses depois, após sofrer grandes cortes, vindo a ser exibida em 1983.
Não só de cunho político, como também de vertente moralista e defensora dos
costumes da época, a censura que perdurou enquanto do regime militar, provocou o
decepamento de centenas de capítulos das novelas, culminando com o veto total de s
delas, “Roque Santeiro” (1975) e “Despedida de Casado” (1976), ambas da Rede
Globo.
O povo e a ditadura
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A censura no regime militar foi um dos elementos mais marcantes da severidade do
regime autoritário que governava o país. O povo brasileiro era controlado pelos
órgãos do governo que tentavam transparecer a paz e a estabilidade social no país
tendo como sustento o desenvolvimento econômico.
Os famosos Atos Institucionais foram as medidas constitucionais tomadas pelo
governo militar que deram as condições necessárias para tornar o Brasil uma ditadura
comandada pelos militares por tantos anos. Conforme os Atos Institucionais se
avançavam também avançava a severidade do regime, marcado por sua característica
despótica, capaz de vetar os direitos que eram garantidos pela constituição brasileira,
estabelecendo a opressão militar e policial e também o silêncio dos opositores.
O Ato Institucional Número 5 (AI-5) inauguraria a fase de pior repressão dentro da
ditadura militar. Como ordem do então presidente Costa e Silva, o AI-5 foi decretado
no dia 13 de dezembro de 1968, o qual cancelava todos os dispositivos da constituição
de 1967 que pudessem ser utilizados pela oposição. Antes do AI-5 a repressão já era
praticada com base na Lei de Segurança Nacional, enquadrava-se os líderes de
associações civis contrárias ao regime ou líderes sindicais tidos como subversivos. Foi
criado um Conselho Superior de Censura com base no modelo norte-americano de
1939, seguido por tribunais de censura para julgar os órgãos de comunicação que
burlassem as regras, fechando-os imediatamente.
A cultura e a ditadura
Contra A Censura, Pela Cultura: A Grande Trilha Sonora Da Ditadura Militar
“Este é tempo de divisas, tempo de gente cortada... É tempo de meio silêncio, de boca
gelada e murmúrio, palavra indireta, aviso na esquina.” CARLOS DRUMMOND DE
ANDRADE
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Entre 1968 e 1978 mais de 600 filmes, 500 peças teatrais, vários livros e assuntos
escolares foram proibidos pela censura. Mas no campo da produção cultural quem
mais sofreu com a repressão foi a Música Popular Brasileira, tratada pelo Estado como
causadora de mal à população, ofensiva às leis, à moral e aos costumes. A música tem
uma capacidade própria de tomar o subconsciente das pessoas e propagar idéias, foi
justamente o que causou maior atenção dos censores com os compositores, muitas
vezes as músicas eram barradas apenas pelo título escolhido por seu criador. Muitos
autores foram presos ou expatriados, discos foram vetados ou recolhidos e algumas
canções permaneceram desconhecidas do público.
Um dos mais perseguidos e que encabeça uma grande lista de nomes durante a
ditadura militar foi Chico Buarque. Os compositores utilizavam de recursos de duplo
sentido para propagar suas idéias e conseguir driblar os censores que só se davam
conta do verdadeiro significado depois do sucesso da música, como é o caso de Cálice,
composta por Chico Buarque. O próprio título da música já faz um jogo sonoro com a
expressão “cale-se” e seus versos são todos mascarados trazendo para os mais atentos
a realidade opressiva que governava o Brasil.
32
.
Caetano Veloso é um exemplo digno de grande admiração, por suas letras, que além
de muito harmoniosas, eram um exemplo clássico de luta contra a ditadura. Desde o
início da carreira, Caetano sempre demonstrou uma posição política ativa e
esquerdista, ganhando por isso a inimizade do regime militar. Por esse motivo, as
canções foram frequentemente censuradas neste período, e algumas até banidas.Em
27 de dezembro de 1968, Caetano e o parceiro Gilberto Gil foram presos, acusados de
terem desrespeitado o hino nacional e a bandeira brasileira. Foram levados para o
quartel do exército de Marechal Deodoro, no Rio, e tiveram suas cabeças raspadas.
Ambos foram soltos em 19 de fevereiro de 1969, quarta feira de cinzas, e seguiram
para salvador, onde tiveram de se manter em regime de confinamento, sem aparecer
nem dar declarações em público. Em julho de 1969, após dois shows de despedida no
teatro Castro Alves, no dia 20 e 21, Caetano e Gil partiram com suas mulheres, para o
exílio na Inglaterra. O espetáculo, precariamente gravado, se transformou no disco
Barra 69, de três anos mais tardes.
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Geraldo Vandré tornou-se o inimigo número um do regime militar. A sua canção
“Caminhando (Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores)”, que ficou com o polêmico
segundo lugar no Festival Internacional da Canção, em 1968, tornou-se um hino
contra a ditadura militar, cantado por toda a juventude engajada do Brasil de 1968.
Esta canção, afirmam alguns analistas de história, foi uma das responsáveis pela
publicação do AI-5. Ficou proibida de ser cantada e executada em todo país. Só
voltaria a ser ressuscitada em 1979, após a abertura política e a anistia, quando a
cantora Simone a cantou em um show, no Canecão. Perseguido pelo regime, Geraldo
Vandré esteve exilado de 1969 a 1973. Após o exílio, jamais conseguiu recuperar a
carreira interrompida pela censura da ditadura militar. Calava-se uma expressiva
carreira emprestada ao combate à ditadura. A canção "pra não dizer que não falei das
flores" foi gravada tambem pelo grupo Charlie Bronw Jr, e infelizmente, não deixou de
ser uma música atual.
Taiguara, uma das mais belas vozes masculinas da MPB, interpretou com maestria
diversos gêneros musicais. Foi um dos cantores que mais se opôs contra a repressão
da ditadura militar. Sua obra pagou o preço da perseguição e da censura. Deparou-se
com a atenção da censura em 1971, que esteve atenta às canções do álbum “Carne e
Osso”. Em 1973 teve 11 músicas proibidas. Perseguido pela censura, Taiguara teve
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muitas das suas músicas assinadas por Ge Chalar da Silva, sua esposa na época.
Exilado em Londres, Taiguara gravou o álbum “Let the Children Hear the Music“, em
inglês. O disco foi proibido de ser lançado, pela EMI, por decisão da polícia federal
brasileira. O compositor recorreu ao Conselho Superior de Censura, em 1982, tendo o
disco finalmente liberado.
Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores
Geraldo Vandré
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
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Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição
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Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Mário de Andrade.
Na ignorância cega da censura, sem uma lógica que a sustentasse, até o poeta Mário de
Andrade foi vetado. O fato inusitado aconteceu em 1970, quando a gravadora Festa
decidiu homenagear os 25 anos da morte do poeta, preparando um disco com alguns
dos seus mais conhecidos poemas. Após ser submetido à censura, o projeto teve seis
poemas proibidos, entre eles “Ode ao Burguês” e “Lira Paulistana”. Os vetos foram
justificados pelos censores como estéticos, “falta de gosto”. O que se concluía era que,
os censores jamais tinham ouvido falar em Mário de Andrade, confundindo-o com um
autor vulgar do Brasil da época.
"Minha obra toda badala assim: Brasileiros, chegou a hora de realizar o Brasil."
"Passado é lição para refletir, não para repetir."
Frases de Mário de Andrade.
Em nome do "bom gosto", até Mário de Andrade
teve poemas censurados pela ditadura militar
Adoniran Barbosa e a letra de Tiro ao Álvaro,
vetada: a "falta de gosto" impediu a liberação da
música
Em 1970, a gravadora Festa preparou um disco em homenagem a Mário de Andrade,
morto 25 anos antes, com alguns de seus mais conhecidos poemas. Cumprindo a
exigência legal de então, o projeto foi submetido ao Serviço de Censura de Diversões
Públicas. Resposta: seis poemas proibidos. Entre eles, Ode ao Burguês ("Eu insulto o
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burguês! O burguês-níquel, o burguês-burguês!") e Lira Paulistana. As razões dos
vetos eram alegadamente estéticas. "Falta de gosto" era expressão recorrente.
Histórias como essa aconteceram com freqüência durante o regime militar instalado
em 1964. Mas acabaram ficando em segundo plano na memória do período, por causa
da truculência da censura musical exercida com motivação política. VEJA recolheu
alguns desses casos nos acervos do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro e de Brasília,
onde as pastas relativas à ação da censura ocupam mais de 800 metros lineares de
prateleiras.
Esse quase 1 quilômetro de manifestações de arrogância e ignorância abriga
pareceres que vetaram, provisória ou definitivamente, 1 023 letras de músicas – só
nos anos 70. O veto a Lira Paulistana foi justificado nos seguintes termos: "Quanta
Na obra de Lupicínio Rodrigues, o alvo foi sua música Bicho de Pé, mais tarde batizada
de Sozinha ("Vivia sozinha num ranchinho velho feito de sopapo"). Em 1973, foi
proibida com um parecer lapidar: "A falta de inspiração leva o autor a poetiza rum
bicho-de-pé, colocando elemento subdesenvolvido como exemplo do caráter
feminino". Vetos com esse teor ajudam a compreender o clima de pessimismo entre os
artistas naquele período. "A ação da censura era imprevisível, não havia critério. Isso
criou em todos nós uma película de autocensura e um sentimento de desânimo diante
de tanta coisa que não passava", diz o compositor e produtor Hermínio Bello de
Carvalho.
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39
AS torturas
Em 1969, a tortura teve seu período mais difícil no país. As
guerrilhas estavam com grande atuação e ocorriam muitos assaltos a banco
e, com isso, a repressão se tornou mais forte. Nessa época, foram criados
processos para esconder as atitudes dos militares. As mais diversas formas
de tortura eram praticadas e isso provocou uma onda de suicídios. Elas eram
tão violentas e marcantes, que o preso não desejava mais viver. O suicídio
também foi utilizado pelos militares para justificar mortes de prisioneiros
nos quartéis e presídios. Além disso, crianças sofreram torturas e o regime
também foi responsável por centenas de abortos que ocorreram em
mulheres.
Pau-de-Arara
O Pau-de-Arara consistia numa barra de ferro que era atravessada entre os
punhos amarrados e a dobra do joelho, sendo o conjunto colocado entre
duas mesas, ficando o corpo do torturado pendurado a cerca de 20 ou 30
centímetros do solo. Este método quase nunca era utilizado isoladamente,
seus complementos normais eram eletrochoques, a palmatória e o
afogamento
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Choque Elétrico
O Choque Elétrico foi um dos métodos de tortura mais cruéis e largamente utilizados
durante o regime militar. Geralmente, o choque dado através telefone de campanha do
exército que possuía dois fios longos que eram ligados ao corpo nu, normalmente nas
partes sexuais, além dos ouvidos, dentes, língua e dedos. O acusado recebia descargas
sucessivas, a ponto de cair no chão.
Pimentinha
A Pimentinha era uma máquina que era constituída de uma caixa de madeira que, no
seu interior, tinha um ímã permanente, no campo do qual girava um rotor combinado,
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de cujos terminais uma escova recolhia corrente elétrica que era conduzida através de
fios. Essa máquina dava choques em torno de 100 volts no acusado.
Afogamento
No Afogamento, os torturadores fechavam as narinas do preso e colocavam uma
mangueira, toalha molhada ou tubo de borracha dentro da boca do acusado para
obrigá-lo a engolir água. Outro método era mergulhar a cabeça do torturado num
balde, tanque ou tambor cheio de água (ou até fezes), forçando sua nuca para baixo
até o limite do afogamento.
Cadeira do Dragão
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A Cadeira do Dragão era uma espécie de cadeira elétrica, onde os presos sentavam
pelados numa cadeira revestida de zinco ligada a terminais elétricos. Quando o
aparelho era ligado na eletricidade, o zinco transmitia choques a todo o corpo. Muitas
vezes, os torturadores enfiavam na cabeça da vítima um balde de metal, onde também
eram aplicados choques.
Geladeira
Na Geladeira, os presos ficavam pelados numa cela baixa e pequena, que os impedia
de ficar de pé. Depois, os torturadores alternavam um sistema de refrigeração super
frio e um sistema de aquecimento que produzia calor insuportável, enquanto alto-
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falantes emitiam sons irritantes. Os presos ficavam na “geladeira” por vários dias, sem
água ou comida.
Palmatória
A Palmatória era como uma raquete de madeira, bem pesada. Geralmente, esta
instrumento era utilizado em conjunto com outras formas de tortura, com o objetivo
de aumentar o sofrimento do acusado. Com a palmatória, as vítimas eram agredidas
em várias partes do corpo, principalmente em seus órgãos genitais.
Produtos Químicos
Haviam vários Produtos Químicos que eram comprovadamente utilizados como
método de tortura. Para fazer o acusado confessar, era aplicado soro de pentatotal,
substância que fazia a pessoa falar, em estado de sonolência. Em alguns casos, ácido
era jogado no rosto da vítima, o que podia causar inchaço ou mesmo deformação
permanente.
44
Agressões Físicas
Vários tipos de Agressões Físicas eram combinados às outras formas de tortura. Um
dos mais cruéis era o popular “telefone”. Com as duas mãos em forma de concha, o
torturador dava tapas ao mesmo tempo contra os dois ouvidos do preso. A técnica era
tão brutal que podia romper os tímpanos do acusado e provocar surdez permanente.
Tortura Psicológica
Falar de Tortura Psicológica é redundância, considerando que toda o tipo de tortura
deixa marcas emocionais que podem durar a vida inteira. Porém, haviam formas de
tortura que tinha o objetivo específico de provocar o medo, como ameaças e
perseguições que geravam duplo efeito: fazer a vítima calar ou delatar conhecidos.
45
Bibliografia
Fonte: www.conhecimentosgerais.com.br
46
Fonte: brasilcultura.com.b
Home » História do Brasil » Brasil República » Ditadura Militar » 10 Torturas da
Ditadura Militar
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