UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAISPROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SANEAMENTO,
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS
CONDIÇÕES SANITÁRIAS NA TERRA INDÍGENA XAKRIABÁ – MG. ASSOCIAÇÃO COM INDICADOR DE
SAÚDE POR MEIO DE ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO TRANSVERSAL
Armando Macedo Chaves
Belo Horizonte
2004
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG2
Condições Sanitárias na Terra Indígena Xakriabá – MG. Associação com Indicador de Saúde por Meio de Estudo
Epidemiológico Transversal
Armando Macedo Chaves
Armando Macedo Chaves
Condições Sanitárias na Terra Indígena Xakriabá – MG. Associação com Indicador de Saúde por Meio de Estudo
Epidemiológico Transversal
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação
em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da
Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito
parcial à obtenção do título de Mestre em Saneamento,
Meio Ambiente e Recursos Hídricos.
Área de concentração: Saneamento
Linha de pesquisa: Impacto das condições do ambiente
sobre a saúde
Orientador: Professor Léo Heller
Belo Horizonte
Escola de Engenharia da UFMG
2004
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG5
Página com as assinaturas dos membros da banca examinadora, fornecida pelo Colegiado do
Programa
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG7
AGRADECIMENTOS
Todo este trabalho não teria sido possível se não contasse com a prestimosa e voluntária
participação das 1225 famílias residentes na Terra Indígena Xakriabá, que de maneira singela
e despreendida receberam os entrevistadores nos seus lares e a eles passaram todas as
informações constantes do protocolo de pesquisa – são para esses humildes, porém tenazes
habitantes daquela área indígena, os meus primeiros e mais sinceros agradecimentos.
À Fundação Nacional de Saúde, que propiciou todo o apoio logístico para o desenvolvimento
dos trabalhos de campo, com disponibilização de pessoal e veículos, sem o que, tudo teria
sido muito mais difícil.
Ao sempre disponível “Corpo Docente” do “Programa de Pós-graduação em Saneamento,
Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Universidade Federal de Minas Gerais”, pelo apoio e
esclarecimentos sempre que solicitados.
À Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES, que, em parceria com a
Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, propiciou-me esta tão sonhada possibilidade
de obtenção do grau de Mestre.
À CAPES, que acreditou na pesquisa e terá como resultado o que pude elaborar.
Aos Agentes Indígenas de Saúde e entrevistadores de campo, Sandra Gomes Leite, Matilde de
Sousa Santos, Cleonice de Souza Araújo, Rosângela Leite da Silva, Odete Paulo Santiago,
Maria Eliza Santiago Oliveira, Antônio de Araújo Santana, Maria do Socorro Santana,
Senhorinha Ferreira da Cruz, Eulício de Souza Almeida, Eusébio Ferreira de Oliveira, Ivone
Pereira Freire e Marcilene dos Santos, que foram pacientes e persistentes na árdua e penosa
tarefa de percorrer toda a “Reserva Indígena”, cobrindo a integralidade das moradias ali
existentes, para colher as informações a serem transcritas para o protocolo de entrevistas.
Aos Agentes Indígenas de Saneamento, Adailton Cavalcante Bezerra, Ivo Ferreira Leite, João
Batista Ferreira santos, Jorge Souza Freire, Reinaldo Caetano Queiroz, Salvi Evaristo da
Silva, Santo Gomes Araújo e Valdemir Ferreira dos Santos, que comigo percorreram diversas
aldeias e sub-aldeias da terra indígena, na busca de informações imprescindíveis à pesquisa.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMGi
A Ismael Vieira, Carlos Jorge e Edílson Coutinho, servidores da FUNASA, pela atenção e
disponibilidade freqüentes com que marcaram seus trabalhos em campo.
À Dona Natalina, que nos momentos iniciais, ainda na fase de treinamento dos
entrevistadores, forneceu-nos alimentação, por sinal, muito gostosa e com tempero típico que
deixou saudades.
Ao Professor Léo Heller, que, ao oferecer seus ensinamentos durante as disciplinas de
“Epidemiologia Ambiental” e “Análise de Estudos Epidemiológicos”, na sua forma
diferenciada de abordagem das questões de Saúde Pública e destacado empenho em concitar a
todos ao debate e aprofundamento das questões postas, buscou explorar através do
entendimento e sensibilidade de cada um, a compreensão de “episódios epidemiológicos” que
envolveram grandes contingentes populacionais. Quando o tive como orientador para a minha
Dissertação, percebi e constatei a sua grande vocação para as questões que envolvem os
excluídos deste país, que tem como estigma, meramente a “sorte”. Léo está na minha
memória, como alguém que norteia a sua atividade profissional para o estudo das intrincadas
teias que envolvem as relações sociais primárias com o saneamento básico naquilo que de
mais perverso pode resultar: “O acometimento de pessoas, especialmente de crianças”.
Ao meu colega, sempre presente, João Luiz Pena, que comigo trilhou caminhos sinuosos (e
por vezes perigosos) na busca da melhor informação, sem jamais deixar que os fatos
inusitados desestabilizassem os nossos objetivos (o que não foi fácil) para que o
encaminhamento de todas as demandas fosse conduzido de maneira natural, tranqüila e dentro
da mais absoluta ética.
À Prof. Marize Fagundes, que se comprometeu e dedicou parte do seu escasso e precioso
tempo, no auxílio à compreensão e tratamento estatísticos dos dados.
Á minha mãe, que além do “colo” permanente, auxiliou no processo de revisão ortográfica e
gramatical do texto.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMGii
RESUMO
O presente trabalho diagnosticou as condições de saneamento básico, de hábitos e costumes
higiênicos, bem como a sua associação com a ocorrência de casos de diarréia em crianças
com idade compreendida entre 4 meses a 4 anos e 11 meses, na terra indígena Xakriabá,
localizada no município de São João das Missões, norte do Estado de Minas Gerais, num total
de 994 indivíduos que ali residem em 614 domicílios distribuídos em 27 aldeias e 25 sub-
aldeias. O delineamento epidemiológico aplicado foi o transversal, tendo sido investigado
todo o universo de crianças. Os dados foram obtidos através de pesquisa estruturada para
aquelas condições peculiares, colhidos a partir de entrevistas domiciliares, tendo como
entrevistados, preferencialmente, a mãe, o pai ou membro adulto da família. Foram
constatadas que 50 crianças, residentes em 49 domicílios, apresentaram diarréia no intervalo
de até 3 dias que antecederam a pesquisa. A estatística descritiva indicou alguns aspectos
considerados interessantes para uma melhor compreensão do estado geral de saneamento,
hábitos e costumes higiênicos da população estudada. A análise univariada indicou
associações não significantes em um nível de 95% para a renda familiar, a água tratada e o
número de refeições, dentre outras, em relação à variável dependente – diarréia. O modelo de
regressão logística binária utilizado para a análise multivariada identificou um grupo de três
variáveis independentes com significância estatística, cujos fatores de risco associados à
diarréia infantil foram: brincar em água suja, uso terapêutico da urina e a existência de
banheiro no domicílio. Os resultados finais apontam para a compreensão de que os hábitos e
costumes higiênicos são importantes para tornar o "meio" menos propício à ocorrência de
diarréia, sendo reforçado, inclusive, pelo aspecto de que "não ter banheiro" apresentou-se
como "fator de proteção", considerando que as instalações sanitárias existentes não merecem
dos seus usuários a limpeza devida, proporcionando, assim, um ambiente adequado ao
desenvolvimento da patologia estudada – diarréia. O quadro sanitário – sistemas de
saneamento, encontrado na terra indígena Xakriabá, comparativamente à ocorrência de casos
de diarréia, indicaram, provavelmente, que a baixa cobertura e falhas na operação dos
sistemas, associadas ainda aos hábitos higiênicos daquela população, destacaram-se em
relação à doença.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMGiii
ABSTRACT
The present work diagnosed the conditions of basic sanitation, of habits and hygienic habits,
as well as their association with the occurrence of cases of diarrhea in children with age
comprehended among 4 months to 4 years and 11 months, in the Xakriabá indigenous land,
located in the municipal district of São João das Missões, north of the state of Minas Gerais,
in a total of 994 individuals residents in 614 homes distributed at 27 villages and 25 sub-
villages. The applied epidemic delineation was the transverse, having been investigated the
whole universe of children. The data were obtained through research structured for those
peculiar conditions, picked from home interviews, being interviewed, preferentially, the
mother, the father or adult member of the family. The research showed that 50 children,
residents in 49 homes, presented diarrhea in the interval of up to 3 days that preceded the
research. The descriptive statistics indicated some aspects considered interesting for a better
understanding of the general state of sanitation, habits and hygienic habits of the studied
population. The univaried analysis indicated associations non significant in a level of 95% for
the family income, the treated water and the number of meals, among other, in relation to
dependent variable - diarrhea. The model of logistic binary regression used for the multivaried
analysis identified a group of three independent variables with statistical significance of
which risk factors associated to the infantile diarrhea were: to play in dirty water, the
therapeutic use of the urine and the bathroom existence in the home. The final results point to
the understanding that the habits and hygienic habits are important to make the "ambience"
less favorable to the diarrhea occurrence, reinforcing inclusive the aspect that "not to have
bathroom" was presented as "protection" factor, considering that the existent sanitary facilities
don't deserve of their users the due cleaning, providing like this, an appropriate atmosphere to
the development of the studied pathology - diarrhea. The sanitary aspect - systems of
sanitation, found in the Xakriabá indigenous land, comparatively to the occurrence of cases of
diarrhea, indicated, probably, that the low covering and flaws in the operation of the systems,
still associated to the hygienic habits of that population, stood out in relation to the disease.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMGiv
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................................................1
2 OBJETIVOS..................................................................................................................................................5
2.1 OBJETIVO GERAL.....................................................................................................................................52.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS..........................................................................................................................5
3 REVISÃO DA LITERATURA....................................................................................................................6
3.1 SANEAMENTO INADEQUADO E IMPACTO A SAÚDE.....................................................................................63.2 PANORAMA SANITÁRIO MUNDIAL DO SANEAMENTO...................................................................................73.3 DADOS SÓCIO-SANITÁRIOS BRASILEIROS...................................................................................................83.4 QUADRO SANITYÁRIODAS POPULAÇÕES INDÍGENAS - ASPECTOS GERAIS..................................................103.5 INFRA-ESTRUTURA DE SANEAMENTO NA TERRA INDÍGENA XAKRIABÁ......................................................113.6 DELINEAMENTO EPIDEMIOLÓGICO APLICADO - ESTUDO TRANSVERSAL SECCIONAL.................................143.7 DIARRÉIA INFANTIL ASSOCIADA AO SANEAMENTO INADEQUADO..............................................................17
3.7.1 Definição.........................................................................................................................................173.7.2 Identificação do quadro de diarréia..............................................................................................183.7.3 Agentes causadores de diarréia......................................................................................................203.7.4 Medidas de prevenção e profilaxia.................................................................................................213.7.5 Vigilância epidemiológica..............................................................................................................223.7.6 Ocorrência de diarréia em populações indígenas brasileiras........................................................22
3.8 CLASSIFICAÇÃO AMBIENTAL DE DOENÇAS RELACIONADAS À ÁGUA E AO ESGOTO....................................243.9 MEDIDAS DE RISCO E DE SIGNIFICÂNCIA ESTATÍSTICA...........................................................................27
3.9.1 Variáveis estatísticas.......................................................................................................................273.9.2 Variáveis dependentes e variáveis independentes..........................................................................283.9.3 Relações entre variáveis.................................................................................................................293.9.4 Aspectos básicos da relação entre variáveis..................................................................................30
4 METODOLOGIA........................................................................................................................................32
4.1 ÁREA DE ESTUDO...................................................................................................................................324.2 DEFINIÇÃO DOS ESTADOS "DOENTES" E "NÃO-DOENTES".......................................................................344.3 DEFINIÇÃO DOS ESTADOS DE "RXPOSIÇÃO" E DE "NÃO-EXPOSIÇÃO"......................................................354.4 PROTOCOLO DE ENTREVISTA..................................................................................................................374.5 TREINAMENTO DA EQUIPE DE CAMPO ...................................................................................................384.6 TREINAMENTO DA EQUIPE DE REVISÃO E CODIFICAÇÃO ........................................................................394.7 COLETA DOS DADOS..............................................................................................................................404.8 ANÁLISE DOS DADOS .............................................................................................................................424.9 PRÉ-REQUISITOS LEGAIS PARA INGRESSO NA TERRA INDÍGENA ..............................................................444.10 COLETA E ANÁLISES DA QUALIDADE DA ÁGUA CONSUMIDA ....................................................................45
5 RESULTADOS............................................................................................................................................46
5.1 CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO ESTUDADA E DOS FATORES DE EXPOSIÇÃO........................................465.2 DIARRÉIA...............................................................................................................................................565.3 ANÁLISE UNIVARIADA.............................................................................................................................595.4 ANÁLISE MULTIVARIADA.........................................................................................................................61
6 DISCUSSÃO................................................................................................................................................63
6.1 METODOLOGIA......................................................................................................................................636.2 ANÁLISE ESTATÍSTICA.............................................................................................................................646.3 ABASTECIMENTO DE ÁGUA.....................................................................................................................65
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMGv
6.4 ESGOTAMENTO SANITÁRIO ....................................................................................................................676.5 RESÍDUOS SÓLIDOS ...............................................................................................................................696.6 HÁBITOS E COSTUMES HIGIÊNICOS ........................................................................................................70
7 CONCLUSÕES ...........................................................................................................................................73
8 RECOMENDAÇÕES..................................................................................................................................76
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................................78
10 ANEXOS......................................................................................................................................................83
10.1 ANEXO A – PROTOCOLO DE PESQUISA...................................................................................................8310.2 ANEXO B – ESTATÍSTICA DESCRITIVA.....................................................................................................8410.3 ANEXO C – ANÁLISE UNIVARIADA..........................................................................................................8910.4 ANEXO D – ANÁLISE MULTIVARIADA .....................................................................................................9310.5 ANEXO E – MAPA GEOREFERENCIADO - CRIANÇAS COM DIARRÉIA - TERRA INDÍGENA XAKRIABÁ - MG. .9410.6 ANEXO F – FOTOGRAFIAS DATERRA INDÍGENA XAKRIABÁ - MG............................................................95
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMGvi
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
AIS – Agente Indígena de Saúde
AISAN – Agente Indígena de Saneamento
CESAMA – Companhia de Saneamento e Pesquisa do Meio Ambiente – Juiz de Fora (MG)
CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico
CODEVASF – Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco
COEP – Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais
CONEP – Comitê Nacional de Ética em Pesquisa
CRL – Cloro Residual Livre
DATASUS – Base de informações do Sistema Único de Saúde
DESAI – Departamento de Saúde Indígena
DIP – Doenças infecciosas e parasitárias
DSEI – Distrito Sanitário Especial Indígena
FUNAI – Fundação Nacional do Índio
FUNASA – Fundação Nacional de Saúde
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
OMS – Organização Mundial de Saúde
OPAS – Organização Pan-Americana da Saúde
pH – Potencial hidrogeniônico
PVC – Cloreto de Poli-vinila
Q.I – Quociente de inteligência
SISAGUA – Sistema de Informação de Água para Consumo Humano
SISABI – Sistema de Informação de Saneamento em Áreas Indígenas
SIASI – Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena
SPI – Serviço de Proteção ao Índio
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMGvii
SPSS – Statistical Package for Social Science
SUS – Sistema Único de Saúde
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
UNICEF – United Nations of the Children Found
uH – Unidade Hanzen
URCQA – Unidade Regional de Controle da Qualidade da Água
UT – Unidade de turbidez
WHO – World Health Organization
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMGviii
LISTA DE FIGURASpág.
Figura 3.1 Relação de variáveis estatísticas 29
Figura 5.1 Tipos de instalações sanitárias encontradas no ambiente sanitário dos domicílios de crianças – Terra Indígena Xakriabá, 2003
48
Figura 5.2 Criações que se movimentam no lixo e criações que entram na casa – Terra Indígena Xakriabá
56
Figura 5.3 Crianças com diarréia em áreas expostas e não-expostas – Terra Indígena Xakriabá, 2003
57
Figura 10.1 Crianças em áreas expostas e não-expostas – Terra Indígena Xakriabá, 2003
85
Figura 10.2 Crianças com diarréia em áreas expostas e não-expostas, por tipo de manancial – Terra Indígena Xakriabá, 2003
86
Figura 10.3 Mapa georeferenciado – crianças com diarréia – Terra Indígena Xakriabá - MG
94
Figura 10.4 Fotografias – Terra Indígena Xakriabá, 2003 95
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMGix
LISTA DE TABELASpág.
Tabela 3.1 Doenças relacionadas com água contaminada 26
Tabela 3.2 Doenças relacionadas com a ausência de rede de esgotos sanitários 27
Tabela 4.1 Aldeias e sub-aldeias com crianças de 4 meses a 4 anos e 11 meses, e número de domicílios
33
Tabela 4.2 Codificação das categorias utilizadas na análise univariada 43
Tabela 4.3 Cronologia da pesquisa junto às instituições federais, aos comitês de ética em pesquisa e ao povo Xakriabá
45
Tabela 5.1 Idade e renda familiar das crianças estudadas – Terra indígena Xakriabá 46
Tabela 5.2 Hábitos e costumes higiênicos das crianças estudadas – Terra Indígena Xakriabá
47
Tabela 5.3 Caracterização do esgotamento sanitário para domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá
47
Tabela 5.4 Identificação de motivos para o não-uso de vinte e oito banheiros, em domicílios com crianças, por aldeia e sub-aldeia – Terra Indígena Xakriabá
48
Tabela 5.5 Local das dejeções, por domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá
49
Tabela 5.6 Disposição final das águas servidas por domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá
50
Tabela 5.7 Tipologia do abastecimento de água em domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá
50
Tabela 5.8 Uso da água de poço tubular profundo nos domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá
51
Tabela 5.9 Intermitência da água proveniente de poço tubular profundo em domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá
51
Tabela 5.10 Condição do armazenamento da água consumida nos domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá
52
Tabela 5.11 Resultados bacteriológicos e físico-químicos da água dos mananciais responsáveis pelo abastecimento de 33 moradias com crianças – Terra Indígena Xakriabá
53
Tabela 5.12 Resultados das análises microbiológicas realizadas nos recipientes usados para armazenar a água de beber de nove moradias com crianças doentes, em aldeias e sub-aldeias – Terra Indígena Xakriabá
54
Tabela 5.13 Disposição final dos resíduos sólidos gerados pela casa com crianças – Terra Indígena Xakriabá
55
Tabela 5.14 Disposição final dos resíduos sólidos gerados pelo banheiro de domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá
55
Tabela 5.15 Domicílios, em aldeias e sub-aldeias, que apresentaram, simultaneamente, crianças com e sem diarréia-Terra Indígena Xakriabá
56
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMGx
Tabela 5.16 Aldeias e sub-aldeias de crianças com diarréia – Terra Indígena Xakriabá
58
Tabela 5.17 Análise univariada – estimativas de OR, intervalo de confiança a 95% e significância estatística
59
Tabela 5.18 Análise multivariada – estimativas de OR e intervalo de confianças a 95%
62
Tabela 6.1 Número médio de pessoas por domicílio, cômodo e dormitório – Terra Indígena Xakriabá
71
Tabela 10.1 Distribuição espacial das crianças, por aldeia e sub-aldeia – Terra Indígena Xakriabá
87
Tabela 10.2 Abastecimento de água (614 domicílios e 994 crianças) – Terra Indígena Xakriabá
88
Tabela 10.3 Razões de prevalências e significâncias para domicílios de crianças doentes e não-doentes – variáveis qualitativas – análise univariada – Terra Indígena Xakriabá
90
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMGxi
1 INTRODUÇÃO
Esta pesquisa integra e complementa três outras pesquisas que formarão uma base de
informações para a linha de pesquisa “Impacto das condições do ambiente sobre a saúde”,
registrada no Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG, no Programa de
Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG e no Diretório
de Grupos de Pesquisa do CNPq. A relação entre saneamento e saúde em populações
excluídas do contexto das intervenções do setor de saneamento é o enfoque maior dos
projetos integrados.
A avaliação dos impactos das ações de saneamento e o estado de saúde observado na
população indígena Xakriabá, cujas terras estão localizadas no município de São João das
Missões, norte do Estado de Minas Gerais, apontam para o eixo de estudos setoriais que
merece atenção para análise dentro do contexto sócio-sanitário existente, tendo sido tratados
por meio da técnica epidemiológica quantitativa com o desenho transversal, com base em
dados primários de pesquisa própria realizada na área indígena estudada. Visa, ainda,
conhecer a situação da infra-estrutura de saneamento disponibilizada, hábitos e costumes
higiênicos e suas relações com as condições individuais de saúde daquela população,
particularmente em crianças com idade compreendida entre 4 meses a 4 anos e 11 meses.
A política governamental contemporânea em relação à questão indígena brasileira tem por
objetivo a "emancipação" dos mesmos, mas, na prática, o que tem acontecido é o seu
confinamento em pequenas porções de seus antigos territórios, geralmente com o meio
ambiente quase completamente devastado, privando-os das condições de vida integrada à
natureza. A partir daí, verifica-se uma grande morosidade, no que se refere à legalização e
desintrusão (retirada dos intrusos não-indígenas) de suas terras; e um assistencialismo
precário, que os tornam ainda mais dependentes do Estado para sobreviverem (RIBEIRO,
1979).
Em 1988, a nova Constituição Brasileira concedeu aos povos indígenas uma importante
vitória referente aos seus direitos, com a inclusão de dispositivos legais que lhes asseguram
fundamentos básicos para a vida, conforme seus hábitos e costumes (CF, 1988).
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG1
A população indígena brasileira, no início do século XVI, era estimada em cerca de cinco
milhões de pessoas, comparável à da Europa nessa mesma época. Atualmente, não somam
mais que 350 mil indivíduos (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2000). A história do
povo Xakriabá não foi diferente dos seus co-irmãos que, tendo sido alienados e
descaracterizados pelas civilizações não índias, sofreram transformações étnicas, culturais e
sócio-econômicas pela interferência cada vez mais acentuada de culturas invasivas
(MARCATO, 1978; MARIZ, 1982; PARAISO, 1987).
A Terra Indígena Xakriabá, inserida no município de São João das Missões – MG, tem limites
com os Municípios de Manga, Miravânia e Itacarambi, e dista da Capital do Estado em 720
Km. O clima tropical quente é verificado na região, apresentando chuvas pelo período de 4 a
5 meses. A estiagem, considerada prolongada, se dá no período compreendido entre abril a
outubro, apresentando, para os meses de novembro e dezembro, fevereiro e março elevação
do volume pluviométrico, geralmente com estiagem durante todo o mês de janeiro
(SCHETTINO et al., 1999).
Schettino et al. (1999:92) constata que “geomorfologicamente, a área caracteriza-se pela
existência de níveis de terraços a partir da calha do rio São Francisco. Localmente, esses
terraços mostram uma superfície plana, coberta por coluviões e aluviões, conformando uma
ampla depressão (Depressão Sanfranciscana), limitada por escarpas rochosas. As áreas mais
elevadas correspondem às superfícies tabulares, localmente denominadas “chapadas”
(Planalto do São Francisco), recobertas por solos arenosos.”
A vegetação observada na Terra Indígena Xakriabá apresenta-se com características de
transição entre o Cerrado e a Caatinga.
Os cursos d’água existentes na terra indígena tem fluxo intermitente, na sua grande maioria,
entretanto existem dois rios de cursos perenes e porte regional expressivos, os rios Peruaçu e
Itacarambi. Existe um barramento, construído em terra, pela Companhia de Desenvolvimento
do Vale do São Francisco – CODEVASF, na década de 1980, no rio Itacarambi e a lagoa de
Rancharia, “um furado de grandes dimensões, hoje completamente assoreado, circundado de
cultivos e pastagens, configurando-se como um brejo na época das chuvas.” (SCHETTINO et
al., 1999:99).
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG2
Na Terra Indígena Xakriabá há 52 localidades subdivididas em 27 aldeias e 25 sub-aldeias,
com 1.224 casas ocupadas, abrigando 6442 pessoas, distribuídas em uma área de 53.075 ha
(SCHETTINO et al., 1999).
Os Xakriabá encontram-se “descaracterizados” quanto a hábitos e costumes gerais, e
fragilizados na sua identidade, que há muito vem sendo degradada pelos caminhos do tempo,
impondo-lhes condições nunca antes experimentadas, mesmo assim, merecendo acolhida à
chegada de novos rumos.
A atual área ocupada não resultou do avanço natural sobre as terras circunvizinhas em busca
de ambiente propício para a sua sobrevivência, mas decorreu de conflitos fundiários com
posseiros poderosos, que os expulsaram para terras inóspitas e inférteis - as mais indesejáveis
da região - conduzindo-os a toda sorte de acontecimentos dificultando significativamente a
vida desse povo, dada a precariedade e rigidez das condições oferecidas pelo meio-ambiente
(MARIZ et al., 1982).
Atualmente, a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), é a responsável pelas ações de saúde
e saneamento em áreas indígenas. Entretanto, observa-se que os avanços ainda são tímidos e
distantes da necessidade, quando se pensa na cultura, hábitos e costumes do povo indígena.
Segundo a FUNASA (2000), os dados consolidados dos relatórios de 1998, de 22 das 47
administrações regionais da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), sobre uma população de
cerca de 60 mil indivíduos, registram 466 óbitos, quase 50% deles entre menores de cinco
anos de idade, tendo como causas mais freqüentes as doenças transmissíveis, especialmente as
infecções das vias respiratórias e as parasitoses intestinais, a malária e a desnutrição. As
causas externas, especialmente a violência e o suicídio, são a terceira causa de mortalidade
conhecida entre a população indígena no Brasil, afetando, sobretudo regiões como Mato
Grosso do Sul e Roraima. (...) A tuberculose é um dos agravos que acometem com maior
freqüência e severidade as comunidades indígenas.
A existência de um grande projeto integrado de pesquisa do Departamento de Engenharia
Sanitária e Ambiental da UFMG, coordenado pelo prof. Léo Heller e tendo como objeto a
“Avaliação de risco à saúde de populações excluídas das políticas formais de saneamento”
visa a abranger o tema da relação entre saneamento e saúde, a partir da sua avaliação em
populações pauperizadas, habitando áreas de urbanização precárias, e portanto excluídas das
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG3
intervenções ditadas pelas políticas formais ou oficiais do setor de saneamento. No projeto, a
compreensão da referida relação procura dar seqüência a um esforço investigativo acumulado,
desenvolvido no âmbito da linha de pesquisa “Impacto das condições do ambiente sobre a
saúde”, registrada no Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e
Recursos Hídricos da UFMG e no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq.
A expectativa geral do projeto é a de se ampliar o conhecimento sobre a questão, sob as
perspectivas das práticas sanitárias das populações objeto das investigações e dos riscos (ou
proteção) à saúde, determinados pelas referidas práticas. Entende-se que o acúmulo teórico,
metodológico e prático proporcionado, em combinação com aquele já obtido com as
pesquisas desenvolvidas pela UFMG, poderá resultar em importantes conclusões aplicadas ao
avanço global do conhecimento na área e ao redirecionamento das políticas públicas
específicas.
Em decorrência da realidade existente, desde 1997, na terra indígena Xakriabá, relativa à
cobertura insuficiente de saneamento, e, ainda, pelo trabalho ali desenvolvido de
acompanhamento da implementação de ações governamentais para a área, impôs-se a
motivação de avaliar o impacto das condições disponibilizadas de saneamento naquela
população, com ênfase para os casos de diarréias em crianças com idade compreendida entre
4 meses e 4 anos e 11 meses, por se tratar de grupo de indivíduos cujas respostas às condições
insuficientes ou inadequadas são mais rápidas e perceptíveis.
A criança até 5 anos de idade está naturalmente sujeita a diversos riscos patológicos
decorrentes da sua fragilidade orgânica, uma vez que se encontra em processo de crescimento
e adaptação ao meio em que vive, sendo as doenças diarréicas um dos principais problemas de
saúde pública dessa faixa etária (CORREIA e McAULIFFE, 1999).
As evidências apresentadas mostram que condições ambientais inadequadas, com falta de
saneamento, podem propiciar condições para consumo de água e alimentos contaminados que
determinam não somente episódios de diarréia aguda, como também anormalidades perenes
na função intestinal, que podem comprometer a condição de saúde deste grande contingente
da população mundial acometida pela enteropatia ambiental (FAGUNDES NETO e OLIVA,
1996).
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG4
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Estudar a associação de indicador de saúde (diarréia), particularmente sobre crianças de 4
meses a 4 anos e 11 meses de idade, com hábitos de higiene e condições de saneamento na
Reserva Indígena Xakriabá.
2.2 Objetivos específicos
Identificar o estado de saúde, por meio da diarréia como indicador, em crianças com idade
entre 4 meses a 4 anos e 11 meses;
Avaliar as condições de cobertura e operacionalidade dos sistemas de saneamento básico
implantados – abastecimento de água e esgotamento sanitário;
Oferecer subsídios para análise e definição de procedimentos técnicos necessários à
melhoria das condições gerais de infra-estrutura de saneamento básico na terra indígena
Xakriabá;
Subsidiar as diversas instituições envolvidas com o povo Xakriabá, quanto aos aspectos de
higiene pessoal e coletiva, com o fim de estudar e implementar medidas necessárias a uma
melhor condição sanitária geral, capaz de contribuir para a melhoria das condições de
saúde da população.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG5
3 REVISÃO DA LITERATURA
3.1 Saneamento inadequado e impacto na Saúde
Briscoe (1987) aponta a disposição final inadequada dos esgotos sanitários como importante
na agressividade antrópica ao meio ambiente, estendendo seus efeitos indesejados à saúde
humana.
O sistema de abastecimento de água e esgotamento sanitário inadequado é responsável pela
maioria das enfermidades incluídas nas denominações "feco-oral, transmissão hídrica ou
relacionada com a higiene", denominada como a categoria "A" da classificação ambiental das
doenças infecciosas (MARA e FEACHEM, 1999), e tem como fonte comum de
contaminação, as fezes humanas em água, em alimentos, nas mãos e, freqüentemente, em
utensílios domésticos e no ambiente peridomiciliar (WOLMAN, 1975).
Indicadores de saúde, em geral, apresentam incidência variada em função da idade. Para a
criança, os principais problemas de saúde pública decorrem de sua defesa imunológica ainda
em formação, que vai se desenvolvendo com o seu crescimento, e ainda em função do
ambiente onde se dá (CORREIA et al., 1999).
Teixeira (2003) comenta que as crianças na faixa etária compreendida entre 29 dias a 5 anos
desconhecem hábitos higiênicos adequados, como lavar as mãos depois de defecar e lavar as
mãos antes das refeições.
Considerando que a mãe Xakriabá pratica o aleitamento materno sistemático e ainda faz jus
ao auxílio maternidade pelo período de quatro meses, o que cria condições para tal
procedimento é que se definiu como grupo etário para o estudo aquele cujas crianças se
encontram com idade entre quatro meses e cinco anos incompletos, residentes na Terra
Indígena.
Heller (1995) aponta para um risco relativo 2,74 vezes maior de crianças menores que 5 anos
contraírem diarréia, se expostas a esgoto a céu aberto, em relação ao estado de não exposição.
Correia e McAuliffe (1999) relatam que, dentre outras doenças como a coqueluche, tétano e
tuberculose, as diarréias são responsáveis pelos principais problemas de saúde pública
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG6
Muito se fez nos países em desenvolvimento, a partir de 1987, quanto a saneamento básico,
embora não se tenha imprimido às ações implementadas, o ritmo compatível ao crescimento
populacional (AZEVEDO, 2003).
Cairncross e Feachem (1990) constatam que as melhorias em saneamento não atingiram a
uma grande parcela da população mundial, que ainda permanece sob condições sócio-
sanitárias deploráveis e distante desses benefícios.
Caso não houvesse mais qualquer deficiência nos sistemas de saneamento básico, pode-se
estimar que aproximadamente 2 milhões de crianças deixariam de morrer anualmente no
planeta (FRIEDMAN-HUFFMAN e ROSE, 1998).
Os investimentos em saneamento são capazes, segundo Briscoe, Feachem e Rahaman (1986)
de reduzir a diarréia infantil.
Azevedo (2003) comenta, de maneira realista, que num futuro próximo, não há que se esperar
pela universalização dos serviços de saneamento, visto que, percebe-se tanto o aumento pela
demanda de água quanto a destinação inadequada dos efluentes gerados. Tal perspectiva deve
ser considerada para a formulação de políticas públicas para o setor saneamento.
A degradação ambiental observada pelo aspecto sanitário, verifica-se a partir do
comportamento do homem quanto à disposição de todo o rejeito por ele produzido ainda no
ambiente domiciliar, quer seja dos efluentes domésticos, quer dos resíduos sólidos. O
domicílio, à vista do seu habitante, parece ser um invólucro ambiental perfeito, onde o
balanço de entrada e saída é desprezado, o que compromete sobremaneira o meio ambiente
externo.
3.2 Panorama sanitário mundial do saneamento
Segundo a WHO (2000), 1 bilhão de pessoas não dispõem de água potável no mundo;
1,8 bilhão não têm acesso a qualquer tipo de sistema de esgotamento sanitário.
oito milhões de crianças morrem anualmente em decorrência de enfermidades relacionadas à
falta de saneamento, o que significa 913 crianças por hora, 15 por minuto ou 1 a cada quatro
segundos.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG7
Daniel et al. (1996) chamam a atenção para a relação nítida entre as condições de vida das
populações de países em desenvolvimento com a infra-estrutura de saneamento
disponibilizada, podendo ser observada alta prevalência de doenças infecciosas, indicando
assim grande evidência da ineficácia dos “sistemas” existentes. A perspectiva futura de
melhoria da situação sanitária mundial atual não deve ser animadora, vez que o crescimento
populacional do planeta nos próximos 25 anos deverá ser da ordem de 160 % para os países
em desenvolvimento, o que leva a vislumbrar um contingente populacional cada vez maior,
desassistido das condições sanitárias desejáveis (WORLD BANK, 1992).
Em pesquisa de condições sanitárias rurais semelhantes às do presente estudo, encontra-se
registro de que muitas crianças em Moçambique estão privadas do seu direito básico à
sobrevivência e à saúde. A cada ano, cerca de 170.000 crianças menores de cinco anos de
idade morrem, sobretudo porque crescem num ambiente precário. Só a diarréia, causada
muitas vezes por fontes de água desprotegidas, eliminação imprópria dos excretas e práticas
precárias de higiene pessoal e ambiental, é responsável por 13% de todos os casos de
mortalidade infantil (UNICEF, 2003).
3.3 Dados sócio-sanitários brasileiros
Quanto aos indicadores de saneamento, em 2000 o Brasil registrou uma cobertura nacional de
abastecimento de água de 90% dos domicílios da área urbana, embora ainda apresente
grandes disparidades regionais, sendo a pior situação na Região Norte (63%). Na área rural é
baixa a proporção de domicílios (18,1%) que dispõem desse serviço. Apenas 45,7% dos
municípios do país têm água fluoretada, com cobertura de 70% dos municípios nas Regiões
Sul e Sudeste, enquanto este índice é de 7,8% e 16,6% nas Regiões Norte e Nordeste,
respectivamente (IBGE, 2001).
O acesso à rede de abastecimento de água não garante a qualidade da água recebida. A
intermitência no abastecimento e a ausência de tratamento adequado, principalmente nas áreas
rurais, obriga a população a recorrer a formas alternativas de armazenamento que geram
potenciais riscos para a saúde.
Mais de 10 milhões (24,8%) dos 41,8 milhões de domicílios existentes no Brasil no ano de
1998 não eram atendidos por rede de abastecimento d’água; Os domicílios atendidos por
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG8
redes de abastecimento d’água e desprovidos de sistemas de coleta do esgoto sanitário
produzido pela utilização dessa água, representam 12,8 milhões (IBGE, 2000).
O esgotamento sanitário advindo da rede geral e/ou fossa séptica ainda é um serviço
incompleto. Sua cobertura atingiu 72% dos domicílios urbanos do país, com melhor nível no
Sudeste (88%) e com situação precária nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde
menos da metade da população tem acesso a sistemas de esgotamento sanitário. Nos
domicílios rurais, essa situação é ainda mais grave, atendendo apenas a 12,9% (IBGE, 2003).
O sistema de coleta de esgoto sanitário não é disponibilizado para 23,2 milhões de domicílios
(55,5% do total). Especificamente em relação à zona urbana, 11,4% não dispõem de água
tratada e 48,9% não são atendidos por redes coletoras de esgoto sanitário. São 88 milhões de
brasileiros vivendo em domicílios desprovidos de sistemas de coleta do esgoto sanitário
(IBGE, 1998).
A elevada proporção de domicílios rurais sem qualquer tipo de instalação sanitária ou
banheiro corresponde a 2.632.440 residências (35,7%). Na área urbana, 8,3% dos domicílios,
ou seja, 3.700.000 moradias não têm banheiro. É importante salientar a baixa proporção de
municípios com estação de tratamento de esgoto no Brasil (20% do total). Mesmo na Região
Sudeste, que é a mais desenvolvida do país, esse serviço cobre apenas 33% dos municípios, o
que aumenta os riscos de contaminação ambiental, especialmente para a saúde das crianças
(IBGE, 2000).
Em relação à coleta de lixo, enquanto práticamente todos os domicílios urbanos têm esse
serviço - apenas 13% dos domicílios rurais o têm, nos quais prevalece a prática de queimar,
enterrar ou de lançar o lixo em terrenos baldios, logradouros, rios, lagos ou mar (IBGE,
2001).
Em 1997, morreram 50 pessoas por dia no Brasil vitimadas por enfermidades relacionadas à
falta de saneamento. Destas, 40% eram crianças de 0 a 5 anos de idade; ou seja, o Brasil
registra a morte de 20 crianças de 0 a 5 anos por dia, em decorrência da falta de saneamento
básico, principalmente de esgoto sanitário (MS.; BASE DATASUS, 1998).
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG9
3.4 Quadro sanitário das populações indígenas – Aspectos gerais
Dados de um cruzamento feito a partir de informações da Fundação Nacional de Saúde e da
Pastoral da Criança (2003) indicam que a mortalidade infantil entre os índios brasileiros é
115,5% maior do que entre os não índios. Essa taxa entre a população branca é de 29 óbitos a
cada mil nascidos vivos. Entre os índios é de 62,5 a cada mil. Entre as causas da mortalidade
estão diarréias e falta de saneamento, que são um "subproduto" da miséria evidenciada nas
comunidades indígenas. Para completar, a mortalidade entre as crianças índias aumentou 9%
entre 2001 e 2002 (CNBB e FUNASA, 2003).
Segundo a FUNASA, de acordo com o relatório de morbi-mortalidade referente ao ano de
2002, as equipes multidisciplinares dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas notificaram
614.822 agravos à saúde. As diarréias contribuíram com 28,8%, representando, em conjunto
com as verminoses, 71,5% de todos os atendimentos por Doenças Infecto-Parasitárias (DIP).
A literatura é farta em associar as doenças infecciosas e parasitárias às populações de classes
sociais brasileiras menos favorecidas, não excluindo as sociedades indígenas (HELLER,
1995; VASCONCELOS, 1997; AZEVEDO, 2003; FUNASA, 2003; TEIXEIRA, 2003;
VIEIRA, 2003).
A partir de agosto de 1999, o Ministério da Saúde assumiu a responsabilidade de estruturar o
Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, articulado com o Sistema Único de Saúde (SUS). A
assistência à saúde da população indígena brasileira, estimada em mais de 380 mil indivíduos,
pertencentes a cerca de 210 povos, falantes de 170 línguas, está organizada em 34 Distritos
Sanitários Especiais Indígenas (FUNASA, 2002).
A Fundação Nacional de Saúde – FUNASA, implantou uma base de dados eletrônica sobre o
saneamento em áreas indígenas. Trata-se do Sistema de Informação de Saneamento em Áreas
Indígenas (SISABI), um instrumento de acompanhamento e avaliação dos impactos das ações
de saneamento, e que integra uma rede maior, que é o Sistema de Informação de Atenção à
Saúde Indígena (SIASI).
O módulo “censo sanitário” reúne dados sobre as fontes de água utilizadas pelas comunidades
indígenas, hábitos de higiene, destino do lixo, sistemas de transportes e comunicação e
atividades econômicas nas aldeias indígenas. Os responsáveis pela aplicação do questionário
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG10
do "censo sanitário" são os Agentes Indígenas de Saneamento (AISAN’s) e os integrantes das
equipes multiprofissionais de saúde.
A atuação dos agentes é feita em conjunto com as equipes multiprofissionais de saúde.
Atualmente, existem 1000 agentes indígenas de saneamento no país. Mil e trezentas aldeias
das mais de 3.600 existentes já implantaram o módulo, beneficiando cerca de 130 mil índios.
A FUNASA implantou o Sistema de Informação de Água para Consumo Humano
(SISAGUA) e um programa de implementação de melhorias sanitárias domiciliares em áreas
indígenas, desde o ano de 2002.
O SISAGUA é um sistema de informação de vigilância da qualidade da água para o consumo
humano, para o país, incluindo também as áreas indígenas, possibilitando controlar os níveis
de cloro, flúor e pH da água nas comunidades indígenas. O SISAGUA também registra os
dados sobre os sistemas de abastecimento de água existentes nas aldeias.
O Departamento de Saúde Indígena (DESAI), da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA)
promoveu a capacitação em “Vigilância Epidemiológica das Doenças de Transmissão
Hídrica” para multiplicadores em monitorização das doenças diarréicas em áreas indígenas.
Enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, de 11 Distritos Sanitários Especiais
Indígenas estão aptos ao desenvolvimento das atividades (FUNASA, 2002).
Um problema a ser superado na implantação do sistema de informação diz respeito à
qualidade dos dados. Os problemas de saúde ocorrem na base, nas aldeias, e é justamente lá
que estão as maiores necessidades de treinamento de pessoal para que haja diagnósticos e
registros corretos, melhorando, assim, a confiabilidade dos dados de morbi-mortalidade das
populações indígenas. Há, portanto, a necessidade de preparação constante e progressiva dos
agentes indígenas de saúde que atuam nas aldeias e das equipes profissionais de saúde que
atuam nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas.
3.5 Infra-estrutura de saneamento na terra indígena Xakriabá
Anteriormente ao ano de 2000, conforme conhecimento do autor, as intervenções em
saneamento na terra indígena Xakriabá limitavam-se à implantação de sistemas de
abastecimento de água precários, sem qualquer avaliação técnica preliminar minimamente
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG11
consistente quanto aos aspectos de engenharia, não havendo procedimentos necessários à
elaboração de projetos dessa natureza, que retratassem estudos de evolução demográfica,
levantamentos topográficos e estudo de mananciais, dentre outros necessários. Apenas onze
aldeias e seis sub-aldeias possuíam sistemas de abastecimento de água antes do início da
intervenção da FUNASA naquela terra indígena.
Souza (2003) relata que novos sistemas de abastecimento de água e melhoramentos nos já
existentes foram executados, exceto em três localidades ainda não contempladas: a aldeia
Rancharia e as Sub-aldeias Boqueirão e Tenda. Os novos sistemas e melhoramentos diversos
foram implantados conforme cronologia abaixo:
Ano de 2000
construção de seis poços tubulares profundos;
implantação de tubos PVC, classe 15 (8.000 m de 50 mm e 3.000 m de 20 mm);
instalação de bomba submersa com grupo gerador de energia elétrica, para o poço tubular
profundo da aldeia Sumaré;
construção de 3.500 metros de adutora, 4.500 metros de rede de distribuição e 2.800
metros de ramais domiciliares nas aldeias: Brejo Mata Fome, Sapé e Caatinguinha;
instalação de três reservatórios metálicos elevados, com capacidade de 10 m3, nas aldeias
Brejo Mata Fome, Sapé e Caatinguinha.
Ano de 2001
realização de inquérito sanitário;
construção de 06 poços tubulares profundos;
aquisição de 48.000 metros de tubos em PVC, com diâmetros diversos;
aquisição de 05 reservatórios elevados metálicos, com capacidade para 10 m3;
aquisição de 02 reservatórios elevados metálicos, com capacidade para 5 m3;
aquisição de 02 reservatórios apoiados metálicos, com capacidade para 10 m3.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG12
Em atendimento à demanda existente, foram ainda adotados os seguintes procedimentos para
melhoria das condições gerais:
extensão e modificação de redes de energia elétrica, com instalação de transformadores e
entrada de serviço, para atender aos poços tubulares profundos das aldeias Brejo Mata
Fome, Caatinguinha, Sumaré III, Terra Preta, Riacho dos Buritis e Santa Cruz;
aquisição de equipamentos de extração de água bruta, para substituição dos equipamentos
existentes nos poços tubulares profundos onde foram eletrificados;
desativação do poço tubular profundo da Aldeia Sumaré II, por improdutividade - a
localidade passou a ser abastecida a partir da aldeia Sumaré III;
distribuição de 150 filtros cerâmicos domiciliares;
distribuição de 50 caixas d'água em polietileno de alta densidade, com capacidade de 500
litros, para receberem água distribuída por caminhão pipa;
distribuição assistida de hipoclorito de sódio em 17 aldeias, com população beneficiada
estimada em 1.000 habitantes;
construção de módulos sanitários, assim distribuídos:
a. Brejo Mata Fome 31 módulos;
b. Sumaré 26 módulos;
c. Veredinha 09 módulos;
d. Pedra Redonda 09 módulos;
e. Riacho do Brejo 06 módulos;
Ano de 2002
construção de três poços tubulares nas aldeias: Olhos D`água, Riachinho e Forges;
aquisição de 71.500 metros de tubos em PVC, com diâmetros diversos;
construção de 14.200 metros de adutoras em tubos de PVC, com diâmetros variados;
construção de 30.500 metros de distribuição em tubos de PVC, com diâmetros variados;
construção de 17.800 m de ramais domiciliares em tubos de PVC, diâmetro de 20 mm;
aquisição de 14 reservatórios em plástico reforçado com fibra de vidro;
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG13
aquisição de grupos geradores e bombas submersas para extração de água bruta;
instalação de nove reservatórios metálicos;
instalação de um tanque pipa, com capacidade de 6,0 m3, em caminhão da FUNASA;
distribuição de 550 caixas d`água domiciliares para receberem água do caminhão pipa;
realização de 160 visitas domiciliares para orientação quanto ao uso adequado das
melhorias sanitárias domiciliares e os cuidados básicos para o uso da água;
construção de módulos sanitários assim distribuídos:
a. Aldeia Brejo Mata Fome 27 módulos;
b. Aldeia Pedra Redonda 01 Modulo;
c. Aldeia Riacho do Brejo 10 módulos;
d. Aldeia Sumaré I 15 módulos;
e. Aldeia Sumaré II 26 módulos;
f. Aldeia Prata 02 módulos (escola).
Ano de 2003
construção de quatro poços tubulares nas aldeias: Barra do Sumaré, Olhos D`água I,
Cabeceira de Pindaíba e Peruaçú;
aquisição de 22.500 metros de tubos em PVC, com diâmetros diversos;
construção de 40.000 metros de adutoras em tubos de PVC, com diâmetros variados;
construção de estações elevatórias de água nas aldeias Brejo Mata Fome, Prata, Morro
Falhado e Custodio;
distribuição de 107 filtros cerâmicos domiciliares de água.
3.6 Delineamento epidemiológico aplicado – Estudo Transversal (Seccional)
Este estudo epidemiológico adota a abordagem transversal e tem a condução a seguir descrita:
O método pode ser compreendido como um tipo de delineamento onde se avaliam no mesmo
momento o estado de saúde individual das pessoas e as condições de saneamento
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG14
disponibilizadas para cada um dos membros da população investigada (crianças com idades
entre 4 meses a 4 anos e 11 meses), levando-se também em conta seus hábitos e costumes de
higiene.
O estudo faz uma verificação momentânea (fotografia) evidenciando as suas características e
possibilitando associações para aquele instante temporal. No estudo transversal ou de
prevalência, a condição de exposição e doença é determinada, simultaneamente, entre os
indivíduos de uma população bem definida. Pode haver uma janela de tempo específica, tal
como um dado ano calendário durante o qual foi realizado um inquérito populacional, ou um
ponto fixo no curso de eventos que variam em tempo real de pessoa para pessoa, tal como um
exame físico admissional, ingresso na escola ou universidade, ou aposentadoria. Assim, um
inquérito fornece informação sobre a freqüência e as características da doença, através de uma
fotografia da experiência de saúde de uma população em um momento especificado.
(ALMEIDA FILHO e ROUQUAYROL, 2002).
Segundo Jekel et al. (1999), uma vez que os estudos transversais precisam considerar dados
de prevalência no lugar de dados de incidência, os dados obtidos irão sempre refletir
determinantes de sobrevida. Em certas circunstâncias, um inquérito pode ser utilizado para
testar hipóteses epidemiológicas. Isso pode ocorrer, por exemplo, quando os valores atuais das
variáveis de exposição permanecem inalterados ao longo do tempo, representando, assim, os
valores presentes por ocasião do início da doença. Um estudo epidemiológico que ofereça
uma boa conformação quanto aos aspectos estudados deve permitir:
comparar uma variável, por exemplo, a prevalência de uma doença, num determinado
momento, entre dois ou mais grupos, ou ainda, entre um grupo, considerando os aspectos
anteriores e posteriores de uma intervenção ou exposição a um fator de risco;
a mensuração da comparação de grupos diferentes com exposições também diferentes,
tanto em termos absolutos quanto em termos relativos;
que o pesquisador possa determinar a temporalidade da ocorrência do fator de risco e da
doença;
a visualização da ocorrência de fatores de confundimento ou tendenciosidades, a fim de
considerá-los na interpretação final.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG15
Quando se computa apenas a presença ou ausência do efeito, são chamados estudos de
prevalência. O pesquisador apenas observa o que ocorre na população estudada. Como a
condição de exposição e de doença é determinada em um único ponto no tempo, em muitos
casos, não é possível determinar se a exposição precedeu a doença, ou é resultante dessa.
Segundo Pereira (1995), o método transversal apresenta aspectos favoráveis, entretanto, se
verificam também inconsistências, que são a seguir expostas:
Aspectos favoráveis:
baixo custo e simplicidade;
agilidade para a coleta dos dados, por serem colhidos num único instante temporal;
amostra representativa da população obtida sem dificuldades;
permite obter dados importantes, mesmo com escassez de recursos e tempo.
Aspectos de inconsistência:
não são contabilizados os casos já inexistentes, seja por reversão do estado clínico, seja por
òbito → Este é o viés da prevalência;
a situação de exposição verificada pode não representar, necessariamente, a exposição
passada → Viés da validade;
a exposição ocorrida anteriormente à coleta dos dados pode ser mal informada, seja por
falha no registro dos fatos, seja por lapso de memória → O viés da memória;
pode não ser possível precisar a relação temporal entre a exposição e a ocorrência da
doença → É a relação temporal indefinida;
Têm-se como aspecto favorável para esse tipo de estudo o menor custo relativo. O estudo
transversal tem capacidade descritiva importante e permite auxiliar o planejamento em curso,
apesar da existência de limitações para testar hipóteses causais, sendo, entretanto, utilizado
para estabelecer associações.
Em Epidemiologia, muitas vezes está-se em busca de associações entre exposição (ou não
exposição) e efeito (ou não efeito), com o objetivo final de tentar estabelecer uma associação
dita “causal”, já que o conhecimento de uma relação causa-efeito (respeitado o conceito de
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG16
multicausalidade dos agravos à saúde) pode facilitar o planejamento e a implementação de
medidas preventivas contra o efeito indesejado.
Doménech-Massons (1999) avalia que o julgamento sobre a causalidade de uma associação
transcende qualquer demonstração de significância estatística e leva em consideração vários
critérios já consagrados para tal fim, não obrigatoriamente nesta ordem, nem necessariamente
todos satisfeitos, como:
1. Consistência;
2. Intensidade;
3. Especificidade;
4. Relação temporal:
5. Gradiente (mais exposição, mais efeito); e
6. Coerência (plausibilidade biológica).
Alguns autores classificam as associações em três tipos:
Por simples coincidência ou por problemas de distorção no delineamento e execução do
estudo epidemiológico, chamado de artificial ou espúria;
Quando há variáveis que se associam tanto à exposição como ao efeito, levando a
confusão na interpretação dos resultados obtidos, identificado como não causal ou
indireta;
Quando satisfeitos os critérios de julgamento acima enumerados: é a associação causal.
3.7 Diarréia infantil associada ao saneamento inadequado
3.7.1 Definição
A diarréia infantil decorre de diversos fatores etiológicos diferentes. Entretanto, pelo seu
significado para a saúde pública, os estudos desta patologia têm sido freqüentes, não somente
quanto aos aspectos do tratamento em si, mas, sobretudo na busca de medidas que visam o
seu controle quanto às alterações ambientais (HELLER, 1997).
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG17
A definição usual para “diarréia”, conforme Lima e Guerrant (2001), é a passagem de três ou
mais movimentos intestinais líquidos, por período de 24 horas e que tomam a forma do
recipiente.
A diarréia é uma síndrome clínica de etiologia diversificada, caracterizada por evacuações
numerosas de fezes pastosas ou aquosas. Com freqüência, é acompanhada de febre e vômitos.
É uma doença que ataca crianças e adultos. Nas comunidades mais pobres, onde não existe
saneamento, as crianças podem ter até 8 episódios de diarréia em um ano. E cada vez que fica
doente, a criança perde o apetite, come menos e acaba perdendo peso.
Muitas vezes a criança nem conseguiu recuperar o peso perdido e adoece novamente. Assim,
acaba ficando desnutrida. As crianças sofrem mais com a diarréia, pois seu corpo ainda não
sabe se defender dos microrganismos patogênicos. A diarréia causa uma grande desidratação,
uma vez que, quando a criança evacua ou vomita, perde água e sais minerais, podendo levá-la
rapidamente à morte, conforme relata Behar (1975) apud Azevedo (2003).
Sinônimos e nomes populares são: gastroenterite aguda, toxinfecção alimentar; dor de barriga,
desarranjo, soltura, churrio, carreirinha, caganeira, cocô mole.
A diarréia infantil, segundo a WHO (2000), leva cerca de 2,2 milhões de crianças menores de
5 anos a òbito, anualmente, no mundo.
3.7.2 Identificação do quadro de diarréia
Na prática, o paciente e o médico pensam em diarréia quando há um maior número de
evacuações, acompanhado de fezes de consistência diminuída, disformes, pastosas ou
líquidas. A diarréia ocorre quando aumenta a proporção de água contida nas fezes, o que
aumenta o peso fecal diário eliminado para mais que 250 g. O normal não ultrapassaria 200 g,
tecnicamente falando. A urgência evacuatória, a incapacidade de segurar as fezes
(incontinência) e múltiplas evacuações poderiam ser referidas erroneamente como diarréia,
mas podem acontecer com consistência fecal normal.
O termo “diarréia aguda” refere-se ao início súbito e à duração menor que três semanas, a
grande maioria limitando-se a menos de três a cinco dias.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG18
A diarréia pode ser definida como um sinal clínico que consiste em alteração do hábito
intestinal caracterizada por aumento do número de evacuações e/ou diminuição da
consistência das fezes devido à presença de maior conteúdo fluido. Seu mecanismo
fisiopatológico é a má-absorção e/ou secreção de água e eletrólitos, havendo ou não, má-
absorção de nutrientes (AZEVEDO, 2003).
Para Correia e McAuliffe (1999) é possível identificar um quadro de diarréia quando a criança
apresenta fezes mais líquidas e evacua mais vezes do que de costume. As fezes podem
também vir acompanhadas de sangue ou catarro. Para saber se a criança está com desidratação
é preciso observar os seguintes sinais:
- moleira afundada;
- olhos fundos e choro sem lágrimas;
- boca e língua secas;
- pouca urina;
- pele murcha, e
- muita sede.
Além da diarréia propriamente dita, é comum o indivíduo sentir:
- desconforto abdominal;
- cólica;
- plenitude (sensação de estufamento);
- excesso de flatos (gases);
- mal-estar generalizado;
- náusea e vômito.
Menos freqüentemente, pode-se observar:
- sangue;
- pús ou muco nas fezes;
- febre.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG19
Ainda segundo Correia e McAuliffe (1999), diarréias com perdas de grandes quantidades de
líquido, em pessoas debilitadas por outras doenças, em idosos ou em crianças, podem evoluir
para desidratação. Nesses casos, pode-se notar:
ressecamento de mucosas;
saliva escassa e espessa;
sede excessiva;
cansaço e sonolência.
Se não forem tratados apropriadamente, esses pacientes podem passar a ter risco de vida.
3.7.3 Agentes causadores de diarréia
A maior parte das diarréias agudas é causada por vírus, bactérias, podendo ainda, terem os
parasitas como agentes etiológicos. Há microrganismos produtores de toxinas que alteram o
funcionamento intestinal. O resultado é a perda excessiva através das fezes, por diarréia.
Alguns microrganismos invadem a mucosa, causando lesões com secreção de sangue, muco
(catarro) e pus. Isso caracteriza o que se chama de disenteria, um tipo particular de diarréia
(FAGUNDES NETO e OLIVA, 1996).
Além dos microrganismos, certas substâncias alteram a absorção e/ou a secreção intestinal,
como vários laxantes ou efeitos adversos de medicamentos, que se traduzem por diarréia. As
fibras de muitos vegetais - microscópicas e não absorvíveis pelo intestino - ligam-se à água,
aumentando a proporção dessa no bolo fecal, tornando-o mais macio, fazendo mais fáceis as
evacuações. Um exagero na ingestão de fibras pode trazer diarréia transitória.
Os microrganismos causadores de diarréia costumam chegar ao ser humano através da boca,
podendo estar contidos na água ou alimentos contaminados, sendo mais freqüentes no Brasil
(FAGUNDES NETO e OLIVA, 1996):
Bactérias → Escherichia coli enteropatogênica clássica, Escherichia coli enterotoxigênica,
Escherichia coli enteroinvasiva, Shigella, Campylobacter jejuni e Salmonella.
Protozoários → Giardia lamblia, Entamoeba hystolítica e Cryptosporidium parvum.
Vírus → Rotavírus e adenovírus.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG20
Segundo Fagundes Neto e Oliva (1996), outros fatores influentes podem ser:
beber ou ficar exposto à água não tratada;
usar encanamentos furados;
usar depósitos mal fechados ou sem limpeza regular;
tomar banho em rio, açude ou piscina contaminada;
não limpar bem as mãos e os utensílios de mesa e fogão;
ser negligente na higiene pessoal.
3.7.4 Medidas de prevenção e profilaxia
Conforme relatado por Heller (1995), em estudo elaborado sobre a associação entre cenários
de saneamento e diarréia em crianças até 5 anos, na cidade de Betim – MG, é importante que
medidas de prevenção sejam adotadas para a interrupção das condições de exposição,
devendo se promover a implantação de reservatório domiciliar, a não utilização de vasilhames
para acondicionamento de água, o consumo de frutas e verduras somente após serem lavadas,
conservação de alimentos em geladeira, não exposição de alimentos a moscas e eliminação de
lançamento de efluentes na rua.
Estima-se que, atualmente, dois milhões de crianças não morreriam a cada ano, se toda a
população mundial recebesse água tratada e tivesse instalações sanitárias adequadas
(FRIEDMAN-HUFFMAN e ROSE, 1998; MARA e FEACHEM, 1999).
"A distribuição da doença diarréica é universal. No entanto, existe uma relação inversa entre
sua incidência e boas condições de saneamento e hábitos de higiene pessoal e alimentar. Tal
relação pode determinar diferentes comportamentos da doença numa mesma área geográfica,
expondo incidências diferenciadas em populações situadas muito proximamente no espaço,
mas beneficiadas por diferentes níveis de melhorias sanitárias ou de serviços promotores de
desenvolvimento social" (FUNASA, 2002).
Para Teixeira (2003), o cenário existente nas áreas de assentamento subnormal nas cidades
brasileiras, não reconhecido pelo poder público, aliado ao desemprego e à miséria, leva os
brasileiros, moradores dessas áreas, em sua maioria com baixa qualificação profissional, e
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG21
habitando moradias em precárias condições gerais, sem urbanização e saneamento, ao
previsível quadro de elevada prevalência de diarréia.
3.7.5 Vigilância Epidemiológica
A diarréia, embora reconhecida como importante causa no quadro da morbi-mortalidade do
país, até o presente, não teve sua inclusão consolidada com sucesso no Sistema de Vigilância
Epidemiológica. As tentativas realizadas têm sido pontuais, decorrendo do interesse de
analisar algumas características ou ocorrências isoladas. As dificuldades em vigiar as doenças
diarréicas decorrem, fundamentalmente, de sua elevada incidência, da inobservância da
obrigatoriedade de notificação de surtos e da aceitação tanto de parte da população leiga,
quanto de parte dos técnicos, de que o problema da diarréia é "normal" no Brasil.
Os dados disponíveis permitem a afirmativa de que a diarréia é responsável por uma elevada
proporção de óbitos em menores de 5 anos, e que sua maior prevalência se registra nas áreas
carentes de saneamento e onde há maior concentração de populações de reduzida condição
sócio-econômica. É premente a necessidade de se organizar um sistema capaz de colher,
registrar e analisar com suficiente agilidade os dados referentes às doenças diarréicas. Para
que isto se torne viável em futuro próximo, estas ações deverão ser simplificadas e
descentralizadas, atendendo aos interesses atuais de municipalização da Vigilância
Epidemiológica (FUNASA, 2002).
3.7.6 Ocorrência de diarréia em populações indígenas brasileiras
Os agentes etiológicos causadores da diarréia encontram um ambiente adequado para a
proliferação nas aldeias indígenas e em outras comunidades rurais que em geral carecem de
saneamento. Apesar da importância das diarréias nas populações indígenas, poucas
investigações epidemiológicas têm sido conduzidas. Um estudo realizado numa comunidade
da periferia de Manaus verificou a ocorrência de 0,2 a 4,8 episódios de diarréia por pessoa por
ano, sendo as crianças de 0 a 35 meses as mais afetadas (GIUGLIANO et al., 1986).
Entre os Karitiána de Rondônia, Coimbra Jr. et al. (1985) observaram a ocorrência de 3,9
episódios por pessoa ao ano. Os principais agentes etiológicos identificados foram bactérias
(Escherichia coli enterotoxigênica e Shigella sp.) e protozoários (Giardia lamblia e
Entamoeba histolytica).
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG22
Os rotavírus figuram dentre os principais agentes que ocasionam diarréias entre os indígenas
(LINHARES, 1992, 1997, 2000). Dentre os casos melhor documentados, podem ser
mencionadas as investigações epidemiológicas realizadas entre os Suruí e Karitiána de
Rondônia (SANTOS et al. 1991) e de diversas outras comunidades amazônicas (LINHARES,
1992).
Como reportam vários autores, as precárias condições de saneamento nas comunidades
indígenas favorecem a alta incidência de infecções gastrintestinais. A elevada concentração de
indivíduos no intradomicílio, o sedentarismo, a convivência direta com animais domésticos,
aliados à falta de infra-estrutura adequada de abastecimento de água potável e coleta de
dejetos, criam um ambiente propício à propagação de enteropatógenos de veiculação hídrica e
alimentar (LINHARES, 1992; COIMBRA Jr. e MELLO, 1981, SANTOS et al. 1991;
ESCOBAR e COIMBRA Jr. 1998; COIMBRA Jr. e SANTOS, 2001).
O perfil epidemiológico dos povos indígenas no Brasil é pouco conhecido, o que se deve à
exigüidade de investigações, à ausência de censos e de outros inquéritos regulares e à
precariedade dos sistemas de registro de informações sobre morbidade, mortalidade e
cobertura vacinal, entre outros fatores (COIMBRA Jr. e SANTOS, 2001).
Os dados sobre morbi-mortalidade dos povos indígenas no Brasil são precários, em geral não
havendo desagregação por sexo, idade ou etnia, além da ocorrência de descontinuidade e
subnotificação dos registros (ESCOBAR et al., 1998).
Diversos estudos têm demonstrado uma relação estreita entre amamentação e introdução de
novos alimentos, acarretando variações nos graus de proteção e exposição a patógenos
intestinais e, conseqüentemente, na incidência de doenças diarréicas em crianças (MOLBAK,
2000). Nos primeiros meses de vida, crianças indígenas geralmente são mantidas
exclusivamente com amamentação, o que lhes confere maior proteção. Ao iniciar o processo
de desmame e a introdução de novos alimentos, o grau de exposição a patógenos intestinais
aumenta consideravelmente (COIMBRA Jr. et al., 2003).
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG23
3.8 Classificação ambiental de doenças relacionadas à água e ao esgoto
A classificação ambiental das doenças infecciosas (MARA e FEACHEM, 1999) denomina
como categoria "A" aquelas cuja origem se dá pela via "feco-oral, transmissão hídrica ou
relacionada com hábitos e costumes higiênicos", e para a categoria "C", as relacionadas com
geo-helmintos, cuja origem comum de contaminação são as fezes humanas em água,
alimentos, nas mãos e, comumente, em utensílios domésticos e no entorno do domicílio
(MORAES, 1996).
Para Cairncross e Feachem (1990) apud Azevedo (2003), a doença infecciosa pode ser
definida como sendo aquela causada por organismos vivos, como bactérias, vírus ou parasitas,
sendo a doença transmitida de uma pessoa para outra.
A OPAS - Organização Mundial de Saúde (2004) define doença infecciosa como "doença
clinicamente manifesta do homem ou dos animais, resultante de uma infecção".
O controle da presença de um organismo patogênico, de acordo com a engenharia, não se dá
através do estudo da sua natureza biológica nem tampouco do seu comportamento no corpo
do doente, mas no espectro do meio ambiente, onde o controle desses patógenos deverá
ocorrer, com intervenções de saneamento (CAIRNCROSS, 1984).
Entretanto, segundo Teixeira (2003), o tratamento dos doentes é uma medida de fundamental
importância para o controle das doenças mencionadas, uma vez que implica na redução do
número de patogênicos ativos e circulantes no ambiente.
As medidas de prevenção propostas para cada uma das categorias identificadas nas tabelas 3.1
e 3.2 acima, mostram-se consistentes com a classificação proposta, indo desde a melhoria na
quantidade de água disponibilizada à comunidade, a melhoria na qualidade da água fornecida
e o tratamento dos doentes, propostas como medidas de controle para as doenças de
transmissão feco-oral – com transmissão hídrica ou relacionadas com hábitos higiênicos
inadequados, até o controle da população e a redução do contato com águas contaminadas por
urina de ratos, na categoria de doenças transmitidas por roedores (TEIXEIRA, 2003).
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG24
Moraes (1996) pondera que a classificação ambiental das doenças tem duas limitações. A
primeira é a falta de conhecimento sobre a transmissão de várias infecções, particularmente o
número de microrganismos necessários para infectar as pessoas susceptíveis. A segunda, a
excreção de vírus, bactérias e de protozoários difere quantitativamente e não qualitativamente
nas suas características de transmissão, o que torna fácil de agrupá-los em uma categoria
uniforme que contenha a maioria das infecções.
Pode-se ainda, acrescentar uma terceira limitação à classificação ambiental das doenças
infecciosas, a não adoção de um critério único para a divisão das categorias. Observa-se:
1. Nas categorias "Feco-oral (transmissão hídrica ou relacionada com a higiene)" e
"Relacionadas com a higiene", a classificação é realizada de acordo com a via de entrada
do agente infeccioso no organismo susceptível.
2. As categorias "Helmintos do solo" (geo-helmintos) e "Teníases" – classifica em função
da necessidade de ocorrer uma face intermediária de desenvolvimento do bioagente no
ambiente, respectivamente, solo e um hospedeiro intermediário.
3. A categoria "Doenças baseadas na água" inclui as doenças cujo bioagente patogênico
necessita de uma fase do seu ciclo na água.
4. As categorias "Doenças relacionadas com vetores insetos e roedores" contém as doenças
introduzidas no organismo susceptível por ação ou com a contribuição de um vetor
biológico infectado.
Algumas das doenças podem estar incluídas em mais de uma categoria, pelas características
que apresentam, o que pode dificultar a compreensão dos mecanismos de transmissão dessas
doenças e contribuir para subestimar o impacto da adoção de medidas de saneamento. Não
obstante, a classificação ambiental das doenças infecciosas satisfaz a necessidade de se
agruparem as enfermidades privilegiando as medidas de controle baseadas nas intervenções
em saneamento.
Esforços devem ser realizados para se buscar uma classificação que agrupe as categorias por
um único critério, que não cause dúvidas aos mecanismos de transmissão das doenças
infecciosas. Por meio do conhecimento de como ocorre o ciclo de transmissão no meio
ambiente é que serviços de saneamento poderão ser implantados para interrupção da
transmissão dessas doenças (AZEVEDO, 2003).
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG25
Apesar da classificação ambiental das doenças infecciosas estar bem estabelecida, novos
conceitos e uma lógica de classificação que possa se adequar às novas descobertas da
microbiologia as novas possibilidades das ações de saneamento, controlar a transmissão de
agentes etiológicos de doenças crônicas é um esforço a ser instituído, comenta Azevedo,
(2003).
As tabelas 3.1 e 3.2 classificam as doenças relacionadas com água contaminada e ausência de
esgotamento sanitário, definindo-as por grupos, formas de transmissão e formas de prevenção.
Tabela 3.1 - Doenças relacionadas com água contaminadaGrupos de Doenças Formas de
TransmissãoPrincipais Doenças Formas de Prevenção
Transmitidas pela via feco-oral (alimentos contaminados por fezes)
O organismo patogênico (agente causador da doença) é ingerido.
Diarréias e disenterias, como a Cólera e a GiardíaseLeptospiroseAmebíaseHepatite infecciosa
Proteger e tratar as águas de abastecimento e evitar o uso de fontes contaminadas.Fornecer água em quantidade adequada e promover a higiene pessoal, doméstica e dos alimentos.
Controladas pela limpeza com água
A falta de água e a higiene pessoal insuficiente criam condições favoráveis para sua disseminação
Infecções na pele e nos olhos, como o Tracoma e o Tifo relacionado com piolhos, e a Escabiose
Fornecer água em quantidade adequada e promover a higiene pessoal e doméstica
Associadas à água (uma parte do ciclo de vida do agente infeccioso ocorre em um animal aquático)
O patogênico penetra pela pele ou é ingerido
Esquistossomose Adotar medidas adequadas para a disposição de esgotos eevitar o contato de pessoas com águas infectadas.Proteger mananciais.Combater o hospedeiro intermediário
Transmitidas por vetores que se relacionam com a água
As doenças são propagadas por insetos que nascem na água ou picam perto dela
MaláriaFebre amarelaDengueElefantíase
Eliminar condições que possam favorecer criadouros.Combater os insetos transmissores.Evitar o contato com criadouros.Utilizar meios de proteção individual
Fonte: CAIRNCROSS e FEACHEM (1990).
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG26
Tabela 3.2 - Doenças relacionadas com a ausência de rede de esgotos sanitários
Grupos de Doenças
Formas de Transmissão Principais Doenças Formas de Prevenção
Feco-orais (não bacterianas)
Contato de pessoa para pessoa, quando não se tem higiene pessoal e doméstica adequada.
Poliomielite,Hepatite tipo A,Giardíase,Disenteria, amebiana, Diarréia por vírus
Melhorar as moradias e as instalações sanitárias. Implantar sistema de abastecimento de água. Promover a educação sanitária.
Feco-orais (bacterianas)
Contato de pessoa para pessoa. Ingestão e contato com alimentos contaminados. Contato com águas contaminadas pelas fezes.
Febre tifóideFebre paratifóideDiarréias e Disenterias bacterianas, como a Cólera
Implantar Sistema adequado de disposição de esgotos. Melhorar as moradias e as instalações sanitárias.Implantar Sistema de abastecimento de água. Promover a educação sanitária.
Helmintos transmitidos pelo solo
Ingestão de alimentos contaminados e contato da pele com o solo.
Ascaridíase (lombriga)TricuríaseAncilostomíase (amarelão)
Construir e manter limpas as instalações sanitárias. Tratar os esgotos antes da disposição no solo. Evitar contato direto da pele com o solo (usar calçado).
Tênias (solitárias) na carne de boi e de porco
Ingestão de carne mal cozida de animais infectados
TeníaseCisticercose
Construir instalações sanitárias adequadas. Tratar os esgotos antes da disposição no solo. Inspecionar a carne e ter cuidados na sua preparação.
Helmintos associados à água
Contato da pele com água contaminada
Esquistossomose Construir instalações sanitárias adequadas. Tratar os esgotos antes do lançamento em curso d’água.Controlar os caramujos. Evitar o contato com água contaminada.
Insetos vetores relacionados com as fezes
Procriação de insetos em locais contaminados pelas fezes
Filariose (elefantíase) Combater insetos transmissores. Eliminar condições que possam favorecer criadouros. Evitar o contato com criadouros e utilizar meios de proteção individual
Fonte: CAIRNCROSS e FEACHEM (1990).
3.9 Medidas de risco e de significância estatística
3.9.1 Variáveis estatísticas
Variáveis são características controladas ou manipuladas em uma pesquisa, podendo diferir
em muitos aspectos, principalmente no papel que a elas é dado e na forma como podem ser
medidas (HELSEL e HIRSCH, 1992). Estes autores chamam a atenção que a maioria das
pesquisas empíricas pertence claramente a uma dessas duas categorias gerais:
1. Em uma pesquisa observacional (levantamento) o pesquisador não influencia (ou tenta
não influenciar) nenhuma variável, mas apenas as mede e procura por relações
(correlações) entre elas.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG27
2. Em uma pesquisa experimental (experimento) o pesquisador manipula algumas variáveis,
e então, mede os efeitos desta manipulação em outras variáveis. A análise dos dados em
uma pesquisa experimental também calcula "correlações" entre variáveis, especificamente
entre aquelas manipuladas e as que foram afetadas pela manipulação.
Entretanto, os dados experimentais podem demonstrar conclusivamente relações causais
(causa e efeito) entre variáveis. Por exemplo, se o pesquisador descobrir que sempre que
muda a variável A então a variável B também muda, então ele poderá concluir que A
"influencia" B. Dados de uma pesquisa correlacional podem ser apenas "interpretados" em
termos causais com base em outras teorias (não estatísticas) que o pesquisador conheça, mas
não podem conclusivamente provar causalidade (HELSEL e HIRSCH, 1992).
3.9.2 Variáveis dependentes e variáveis independentes
As variáveis independentes são aquelas manipuladas enquanto que as variáveis dependentes
são apenas medidas ou registradas. Os termos variável “dependente” e “independente”
aplicam-se principalmente à pesquisa experimental, embora também à observacional, onde
algumas variáveis são manipuladas, e, neste sentido, são "independentes" dos padrões de
reação inicial, intenções e características dos sujeitos da pesquisa (unidades experimentais).
Espera-se que outras variáveis sejam "dependentes" da manipulação ou das condições
experimentais. Ou seja, elas dependem "do que os sujeitos farão" em resposta. Contrariando
um pouco a natureza da distinção, esses termos também são usados em estudos em que não se
manipulam variáveis independentes, literalmente falando, mas apenas se designam sujeitos a
"grupos experimentais" baseados em propriedades pré-existentes dos próprios sujeitos
(MORETTIN e TOLOI, 1986).
Snedecor e Cochran (1989) recomendam ser útil dividir as variáveis, segundo as hipóteses de
estudo, em:
variáveis explicativas ou de exposição, independentes ou preditoras;
variáveis resposta, resultado de efeito ou dependentes;
variáveis intervenientes.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG28
A Figura abaixo clarifica a relação destas variáveis.
Figura 3.1 – Relação de variáveis estatísticas. Fonte: JEKEL et al. (1999)
3.9.3 Relações entre variáveis
Duas ou mais variáveis quaisquer estão relacionadas se, em uma amostra de observações, os
valores dessas variáveis são distribuídos de forma consistente. Em outras palavras, as
variáveis estão relacionadas, se seus valores correspondem, sistematicamente, uns aos outros
para aquela amostra de observações. Por exemplo: sexo e altura seriam relacionados se a
maioria dos homens tivesse alta estatura e a maioria das mulheres baixa estatura, ou vice-
versa; altura é relacionada ao peso porque, tipicamente, indivíduos altos são mais pesados do
que indivíduos baixos; Q.I. está relacionado ao número de erros em um teste, se pessoas com
Q.I.'s mais altos cometem menos erros (FAGUNDES, 1994).
Geralmente, o objetivo principal de toda pesquisa ou análise científica é encontrar relações
entre variáveis. A filosofia da ciência ensina que não há outro meio de representar
"significado", exceto, em termos de relações entre quantidades ou qualidades, e ambos os
casos envolvem relações entre variáveis. Assim, o avanço da ciência sempre tem que envolver
a descoberta de novas relações entre variáveis. Em pesquisas correlacionais, a medida destas
relações é feita de forma bastante direta, bem como nas pesquisas experimentais. Por
exemplo: o procedimento já mencionado de comparar altura em homens e mulheres pode ser
descrito como procura de uma correlação entre 2 variáveis: sexo e altura. A estatística nada
mais faz do que auxiliar na avaliação de relações entre variáveis (FAGUNDES, 1994).
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Variávelexposição
Variávelresultado
Variáveis intervenientes
29
3.9.4 Aspectos básicos da relação entre variáveis
Para Priestley (1981), as duas propriedades formais mais elementares de qualquer relação
entre variáveis são a magnitude ("tamanho") e a confiabilidade da relação.
a) Magnitude → É muito mais fácil de entender e medir do que a confiabilidade. Por
exemplo, se cada homem de uma amostra tem uma altura maior do que a de qualquer mulher,
poder-se-ia dizer que a magnitude da relação entre as duas variáveis (sexo e altura) é muito
alta em nossa amostra. Em outras palavras, poder-se-ia prever uma baseada na outra (ao
menos na amostra em questão).
b) Confiabilidade → É um conceito muito menos intuitivo, mas extremamente importante.
Relaciona-se à "representatividade" do resultado encontrado em uma amostra específica de
toda a população. Em outras palavras, diz quão provável será encontrar uma relação similar se
o experimento fosse feito com outras amostras retiradas da mesma população, lembrando que
o maior interesse está na população. O interesse na amostra reside na informação que ela pode
prover sobre a população. Se o estudo atender certos critérios específicos, então a
confiabilidade de uma relação observada entre variáveis na amostra pode ser estimada
quantitativamente e representada usando uma medida padrão (chamada técnicamente de
nível-p ou nível de significância estatística).
O teste de significância estatística é fundamental para qualquer associação estudada, porque
diversos fatores, tais como, tamanho da amostra, variáveis de confusão e padrão de
distribuição de casos, podem influenciar o aparecimento de associações que, na verdade, são
inexistentes (ALMEIDA FILHO e ROUQUAYROL, 2002). O grau de certeza de que uma
dada associação verificada corresponde à realidade equivale ao valor de p, que tem sido
convencionalmente adotado como p < 0,05 (p menor do que 5%, ou seja, espera-se menos que
5% de probabilidade que tal achado seja devido ao acaso), para dizer que uma associação é
estatisticamente significativa (JEKEL, ELMORE e KATZ, 1999).
A significância estatística de um resultado é uma medida estimada do grau em que este
resultado é "verdadeiro" no sentido de que seja realmente o que ocorre na população, ou seja
no sentido de "representatividade da população". O valor do nível-p representa um índice
decrescente da confiabilidade de um resultado. Quanto mais alto o nível-p, menos se pode
acreditar que a relação observada entre as variáveis na amostra é um indicador confiável da
relação entre as respectivas variáveis na população.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG30
A seleção de um nível de significância acima do qual os resultados serão rejeitados como
inválidos é arbitrária. Na prática, a decisão final depende usualmente de: se o resultado foi
previsto a “priori” ou apenas a “posteriori” no curso de muitas análises e comparações
efetuadas no conjunto de dados; no total de evidências consistentes do conjunto de dados; e
nas "tradições" existentes na área particular de pesquisa. Tipicamente, em muitas ciências,
resultados que atingem nível-p 0,05 são considerados estatisticamente significantes, mas
este nível ainda envolve uma probabilidade de erro razoável (5%). Resultados com um nível-p
0,01 são comumente considerados estatisticamente significantes, e com nível-p 0,005 ou
nível-p 0,001 são freqüentemente chamados "altamente" significantes. Estas classificações,
porém, são convenções arbitrárias e apenas informalmente baseadas em experiência geral de
pesquisa. Uma conseqüência óbvia é que um resultado considerado significante a 0,05, por
exemplo, pode não sê-lo a 0,01, (EMERSON e COLDITZ, 1983).
Desnecessário dizer que, quanto mais análises sejam realizadas em um conjunto de dados,
mais os resultados atingirão "por acaso" o nível de significância convencionado. Por exemplo,
ao calcular correlações entre dez variáveis (45 diferentes coeficientes de correlação), seria
razoável esperar encontrar, por acaso, que cerca de dois (um em cada 20) coeficientes de
correlação são significantes ao nível-p 0,05, mesmo que os valores das variáveis sejam
totalmente aleatórios, e aquelas variáveis não se correlacionem na população. Alguns métodos
estatísticos que envolvem muitas comparações e, portanto, uma boa chance para tais erros,
inclui alguma "correção" ou ajuste para o número total de comparações. Entretanto, muitos
métodos estatísticos (especialmente análises exploratórias simples de dados) não oferecem
nenhuma solução direta para este problema. Cabe, então, ao pesquisador avaliar
cuidadosamente a confiabilidade de descobertas não esperadas (JEKEL et al., 1999).
Quanto menor a relação entre as variáveis maior o tamanho de amostra necessário para prová-
la significante. Quando a magnitude do efeito aproxima-se de zero, o tamanho de amostra
necessário para prová-lo aproxima-se do infinito. Isso quer dizer que, se quase não há relação
entre duas variáveis o tamanho da amostra precisa quase ser igual ao tamanho da população,
que teoricamente é considerado infinitamente grande. A significância estatística representa a
probabilidade de que um resultado similar seja obtido se toda a população fosse testada.
Assim, qualquer coisa que fosse encontrada após testar toda a população seria, por definição,
significante ao mais alto nível possível, e isso também inclui todos os resultados de "relação
inexistente", (ALMEIDA FILHO e ROUQUAYROL, 2002).
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG31
4 METODOLOGIA
4.1 Área de Estudo
Esta pesquisa foi estruturada para quantificar os fatores de risco para o desenvolvimento, no
universo populacional de crianças com idade compreendida entre 4 meses a 4 anos e 11 meses
da terra indígena Xakriabá, do agravo à saúde – diarréia - através da comparação de grupos
residentes em aldeias e sub-aldeias destituídas e providas de saneamento e ainda de hábitos
higiênicos. Foram pesquisados 1224 domicílios habitados, em 27 aldeias e 25 sub-aldeias,
cobrindo uma população de 6442 habitantes – todo o universo populacional da terra indígena
Xakriabá.
A terra indígena Xakriabá foi escolhida por reunir condições singulares de trabalho para o
autor, uma vez que, o mesmo ali desenvolveu o acompanhamento de atividades de
saneamento, por período determinado, como servidor da Fundação Nacional de Saúde. A
FUNASA mantém naquela área indígena uma estrutura de apoio logístico que permitiu o
desenvolvimento satisfatório dos trabalhos.
Considerando que a pesquisa abrangeu toda a área estudada com informações de toda a
população ali residente em 1224 domicílios, foi possível identificar a existência de 994
crianças na faixa etária compreendida entre 4 meses a 4 anos e 11 meses, que habitam 614
domicílios.
Diversos autores (PEREIRA, 1995; UNICEF, 1998; CORREIA e McAULIFFE, 1999),
afirmam ser o grupo de crianças com idade compreendida entre 4 meses a 4 anos e 11 meses,
o mais susceptível às condições ambientais desfavoráveis.
Para Correia et al. (1999), os determinantes de morbidade mostram variação de incidência em
função da idade. Em relação à criança, os principais problemas de saúde pública
freqüentemente surgem de sua vulnerabilidade, resultante de elementos do seu processo de
formação natural das defesas imunológicas que vão se desenvolvendo com o seu crescimento,
e do ambiente em que esse processo ocorre.
Informa ainda, Correia et al. (1999), que os períodos pós-neonatal (crianças com 29 dias e
menos de um ano) e pré-escolar (crianças com um ano e menos de cinco anos) são aqueles
onde se predominam as doenças advindas do contato entre a criança e seu meio ambiente,
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG32
sendo a diarréia, as infecções respiratórias agudas e as parasitoses intestinais, alguns dos
principais agravos à saúde infantil no Brasil.
Aliado a isso, as crianças neste grupo etário desconhecem hábitos higiênicos adequados,
como o hábito de lavar as mãos depois de defecar, o hábito de lavar as mãos antes das
refeições, a necessidade do uso de calçados e, de mais a mais, costumam levar objetos à boca
(TEIXEIRA, 2003).
Diante do exposto e também levando em consideração as normas promovidas pela
Organização Mundial de Saúde - OMS que sugerem o aleitamento materno, excluindo-se até
mesmo água e outros líquidos, até a criança completar no mínimo quatro meses de idade
(CORREIA et al., 1999) foi definido como grupo etário de interesse aquele que envolve
crianças com idade entre quatro meses a cinco anos incompletos residentes na terra indígena
Xakriabá.
A Tabela 4.1 apresenta o número de domicílios e crianças estudadas, sua distribuição por
aldeia e sub-aldeia.
Tabela 4.1 – Aldeias e sub-aldeias com crianças de 4 meses a 4 anos e 11 meses, e número de domicílios.
Aldeias Número de Domicílios Crianças (N)Aldeia Brejo Mata Fome 31 53Aldeia Riacho Comprido 11 16Aldeia Riachinho 24 39Aldeia Imbaúba II 17 30Aldeia Pedra Redonda 5 10Aldeia Riachão 11 18Aldeia Riacho do Brejo I 47 82Aldeia Sumaré 17 25Aldeia Sumaré II 14 23Aldeia Sumaré III 9 15Aldeia Forges 3 3Aldeia Vargem I 8 15Aldeia Itacarambizinho 3 4Aldeia Cabeceira da Pindaíba 7 12Aldeia São Domingos 11 13Aldeia Santa Cruz 22 32Aldeia Morro Falhado 15 28Aldeia Sapé 10 16Aldeia Barra do Sumaré 14 19Aldeia Itapicuru 24 45Aldeia Caatinguinha 13 21Aldeia Barreiro Preto 18 27Aldeia Olhos D'Água I 9 13Aldeia Riacho dos Buritis 2 3Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG33
Tabela 4.1 – Aldeias e sub-aldeias de crianças de 4 meses a 4 anos e 11 meses,
e número de domicílios (continuação)
Aldeias Número de Domicílios Crianças (N) Aldeia Peruaçu 9 17 Aldeia Prata 26 40 Aldeia Rancharia 57 95 Sub-aldeia Olhos D'Água Grande 6 10 Sub-aldeia Imbaúba I 23 35 Sub-aldeia Olhos D'Água Grande I 12 22 Sub-aldeia Riacho do Brejo 7 13 Sub-aldeia Novo Mundo 9 15 Sub-aldeia Sumaré I 11 18 Sub-aldeia Cabeceira do Sumaré I 4 6 Sub-aldeia Cabeceira do Sumaré 4 7 Sub-aldeia Pindaíba 3 4 Sub-aldeia Vargem 13 19 Sub-aldeia Celeiro 3 6 Sub-aldeia Barra da Grota de Pedra 5 9 Sub-aldeia Itapicuru I 7 14 Sub-aldeia Caatinguinha I 6 8 Sub-aldeia Custódio 2 2 Sub-aldeia Pingo 9 14 Sub-aldeia Olhos D'Água 22 33 Sub-aldeia Veredinha 9 10 Sub-aldeia Brejinho 2 2 Sub-aldeia Poções 5 8 Sub-aldeia Riacho dos Buritis I 4 9 Sub-aldeia Pedrinhas 5 7 Sub-aldeia Dizimeiro 3 5 Sub-aldeia Boqueirão 2 3 Sub-aldeia Tenda 1 1 Total 614 994 Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
4.2 Definição dos estados "doentes" e "não-doentes"
As seguintes definições foram adotadas para a compreensão dos estudos desenvolvidos:
a) Estado de doente Criança selecionada, com idade entre 4 meses a 4 anos e 11
meses, residente na terra indígena Xakriabá, que tenha apresentado diarréia no período
de até 3 dias que antecederam a realização da entrevista.
b) Estado de não-doente Criança selecionada, com idade entre 4 meses a 4 anos e 11
meses, residente na terra indígena Xakriabá, que não tenha apresentado diarréia no
período de até 3 dias que antecederam a realização da entrevista.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG34
4.3 Definição dos estados de "exposição" e de "não-exposição"
O abastecimento de água, esgotamento sanitário, hábitos higiênicos e resíduos sólidos dos
domicílios definiram os estados de "exposição" e de "não exposição", a saber:
a) Estados de “não exposição” ou de “proteção”
Com abastecimento de água tratada (de poço tubular profundo);
Esgotamento sanitário (existência de banheiro na casa);
Oferta contínua de água tratada;
Lavar as frutas antes de comer;
Mãos lavadas antes das refeições;
Sem contato com água de rio, riacho, mina, barragem, brejo, lago ou açude;
Sem contato com água suja;
Banho diário;
Troca de roupa diária;
Armazenamento adequado da água de beber;
Recipiente de guardar água de beber tampado;
Recipiente de guardar a água de beber lavado freqüentemente;
Existência de caixa d'água;
Local adequado para fazer cocô;
Lavar as mãos depois de fazer cocô;
Não fazer uso terapêutico da urina;
Lavar as mãos antes de pegar a água para beber;
Destino adequado da água do tanque de lavar roupas;
Destino adequado da água usada no vaso sanitário;
Destino adequado da água usada no banho;
Destino adequado da água usada no lavatório de mãos;
Lixo da casa acondicionado adequadamente;
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG35
a) Estados de “não exposição” ou de “proteção” (continuação)
Destinação correta para o lixo da casa;
Local apropriado para as criações domésticas.
b) Estados de “exposição” ou de “não-proteção”
Sem abastecimento de água encanada (de poço tubular profundo);
Sem esgotamento sanitário (inexistência de banheiro na casa);
Oferta descontínua de água tratada;
Não lavar as frutas antes de comer;
Não lavar as mãos antes das refeições;
Contato com água de rio, riacho, mina, barragem, brejo, lago ou açude;
Contato com água suja;
Sem hábito de banho diário;
Sem hábito de troca de roupa diária;
Armazenamento inadequado da água de beber;
Recipiente de guardar água de beber sem tampa;
Recipiente de guardar a água de beber não é lavado freqüentemente;
Inexistência de caixa d'água;
Local inadequado para fazer cocô;
Não lavar as mãos depois de fazer cocô;
Fazer uso terapêutico da urina;
Não lavar as mãos antes de pegar a água para beber;
Destino inadequado da água do tanque de lavar roupas;
Destino inadequado da água usada no vaso sanitário;
Destino inadequado da água usada no banho;
Destino inadequado da água usada no lavatório de mãos;
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG36
b) Estados de “exposição” ou de “não-proteção” (continuação)
Lixo da casa acondicionado inadequadamente;
Destinação incorreta para o lixo da casa;
Local inapropriado para as criações domésticas.
4.4 Protocolo de entrevista
A escolha da entrevista (inquérito), como forma de colher as informações individualizadas, se
deu com o intuito de obter do entrevistado, com a maior fidelidade possível, respostas que
refletissem próximamente a realidade a ser conhecida, e teve a colaboração prestimosa dos
agentes indígenas de saúde (AIS’s), de fundamental importância para o sucesso dos trabalhos,
uma vez que são indivíduos nativos e integrados às comunidades, além de ali desenvolverem
o seu trabalho cotidiano.
A estrutura do questionário aplicado foi desenvolvida por Heller (1995) e adaptada pelo autor
e Pena (2004). Durante a fase de apresentação dos tópicos à equipe de aplicadores, todas as
questões foram discutidas e debatidas quanto aos aspectos de adaptabilidade dos quesitos à
linguagem e entendimento do público a ser inquirido. Na oportunidade, surgiram inúmeras
contribuições, tendo sido desenvolvido um processo “construtivista” para a formatação do
protocolo final, com o envolvimento de todos e manifestação espontânea de cada participante.
O modelo final foi aquele que refletiu o consenso geral e que mais se aproximou do ideal,
respeitando–se as condições e peculiaridades do povo Xakriabá.
Importa ressaltar que todo o trabalho teve a coordenação, orientação e supervisão realizadas
pelo autor e pelo então aluno do mestrado em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos
Hídricos da UFMG, João Luiz Pena, cuja dissertação foi concluída em 2004.
O questionário aplicado versou sobre os tópicos básicos a seguir relacionados, dentre outros, e
está apresentado no ANEXO A:
Termo de consentimento, Livre e Esclarecido, conforme Resolução 196⁄96 do Conselho
Nacional de Saúde;
Número de moradores;
Atividade laboral;
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG37
Renda familiar;
Procedência da água;
Hábitos e costumes higiênicos;
Destinação dos efluentes domésticos;
Destinação dos resíduos sólidos.
4.5 Treinamento da equipe de campo
Para o desenvolvimento do estudo proposto, como estratégia preliminar para obtenção dos
dados foi adotada a aplicação de inquérito domiciliar com pesquisa individualizada, sendo tal
estudo subsidiado por dados primários coletados em terra indígena, território controlado pelo
governo federal, tornou-se necessária uma articulação própria para os trabalhos e ações
desenvolvidos, culminando com o estabelecimento de logística adequada, que visou implantar
regras gerais que facilitassem a obtenção das informações, tais como:
1. Participação livre e espontânea dos agentes indígenas de saúde (AIS’s), como
entrevistadores, com remuneração de R$ 2,00 por questionário aplicado;
2. Alimentação em campo;
3. Deslocamento diário da residência até o local de trabalho e retorno;
4. Definição de roteiros de aplicação dos inquéritos, segundo a familiaridade e convívio dos
agentes indígenas de saúde (AIS’s) com as populações das aldeias e sub-aldeias;
5. Programação semanal de viaturas e monitores/supervisores;
6. Pessoal de apoio eventual,
7. Priorização de roteiros visando à cobertura mais racional.
Os quesitos necessários ao estudo foram transcritos para um inquérito em que a participação
da totalidade dos entrevistados foi espontânea. Os momentos iniciais foram de
esclarecimentos sobre a pesquisa aos órgãos públicos responsáveis pela área a ser estudada, e
solicitação de licenças para transitar na terra indígena, condição “sine qua non” para a
realização deste trabalho.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG38
Na primeira semana, foi apresentada ao grupo uma versão preliminar do inquérito, a fim de
que todos compreendessem a razão da sua aplicação e também tomassem conhecimento do
conteúdo proposto. Notou-se grande necessidade de adaptação dos quesitos, originalmente
apresentados, à compreensão do grupo de agentes.
A versão final do questionário foi, se não a melhor, a que mais se aproximou da compreensão
dos aplicadores, que em última instância, são personagens representativos daquela sociedade.
Na análise revisora dos inquéritos, as situações que demandassem intervenção imediata, como
os casos identificados de diarréia com persistência de mais de três dias nas crianças estudadas,
eram imediatamente encaminhados ao Posto de Saúde local para as providências cabíveis.
O trabalho de aplicação dos questionários teve o envolvimento direto e permanente de:
13 agentes indígenas de saúde (AIS’s);
08 agentes indígenas de saneamento (AISAN’s);
03 (três) viaturas para apoio logístico;
02 (dois) acompanhantes/supervisores de campo para as equipes de AIS’s.
O período de aplicação dos questionários transcorreu entre o dia 11 de junho de 2003 ao dia
31 de julho de 2003.
4.6 Treinamento da equipe de revisão e codificação
As informações obtidas através do inquérito domiciliar demandaram um tratamento
específico, a fim de que se tornassem apropriadas ao uso estatístico, necessitando dos
seguintes procedimentos:
Revisão individualizada das questões, num total de 137 itens por questionário, totalizando
1224 domicílios, portanto, 167.688 questões verificadas.
Codificação, para melhor funcionalidade do banco de dados.
Revisão coletiva “expedita” para confirmação da revisão individualizada.
As tarefas acima demandaram dois meses de trabalhos e envolveram oito pessoas, sendo dois
supervisores/revisores e seis revisores/codificadores.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG39
4.7 Coleta dos dados
Os agentes envolvidos no trabalho de pesquisa foram distribuídos conforme área de atuação
dos trabalhos de rotina ali já realizados, para facilitar o contato e aceitação do entrevistado.
Todas as lideranças da Terra Indígena Xakriabá foram visitadas e informadas da finalidade da
pesquisa.
A entrevista era precedida de leitura, em voz alta, do termo de consentimento, que
apresentava o seguinte conteúdo:
"Estas perguntas da Universidade Federal de Minas Gerais e da FUNASA querem saber
como está a saúde, a água, o banheiro, o lixo e os hábitos de higiene da população Xakriabá.
Estas perguntas vão ser feitas em todas as casas das aldeias. A sua participação é importante
para que as respostas possam ajudar a melhorar a vida de vocês. As perguntas serão sobre a
sua casa, as pessoas que moram nela e sobre o que você acha do trabalho da FUNAI e
FUNASA. Você aceita responder estas perguntas? Qualquer coisa que você não entender
pode procurar a liderança de sua aldeia, as pessoas citadas abaixo ou o Comitê de Ética em
Pesquisa da UFMG. Você pode responder estas perguntas? Então, por favor assine este
termo de consentimento."
Data: ....... / ....... / ........
___________________________________________________Assinatura da pessoa que está sendo entrevistada
____________________________________________Assinatura do Agente Indígena de Saúde
Telefones para contato:
Pesquisadores: Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG - COEP
Armando Macedo Chaves: (38)3213-5509 (31) 3248-9364
João Luiz Pena: (31) 3238-1889 (31) 3248-9380
Léo Heller: (31) 3238-1958
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG40
Sendo o entrevistado favorável à aplicação do questionário, o entrevistador colhia sua
assinatura, datava e assinava em duas vias. Caso o entrevistado não soubesse assinar, era
colocada a sua impressão digital, também em duas vias. Uma via era entregue ao entrevistado
e a outra mantida junto ao questionário.
Após as medidas preliminares, necessárias ao cumprimento das formalidades éticas, o
entrevistador passava a aplicar o questionário, que continha 137 questões abordando as
condições gerais de saneamento, hábitos e costumes higiênicos daquele grupo familiar, no
contexto do seu domicílio.
Em não se encontrando nenhum adulto presente naquele momento na moradia, fazia-se uma
observação no croqui, indicando que a casa deveria ser visitada novamente.
Na fase inicial de aplicação do questionário, o inquérito sofreu ajustes e adequações, na
medida em que se verificava a necessidade de retratar, com a fidelidade desejada e possível, a
realidade existente.
Ao final de cada dia de trabalho, o grupo de aplicadores se reunia com os supervisores,
momento em que eram discutidos os casos que suscitaram dúvidas, buscando, ali mesmo,
soluções de acordo com o entendimento consensual do grupo, sendo imediatamente
providenciada a sua retificação para o dia seguinte. Os questionários aplicados sofriam, ainda
no campo, revisão geral para verificação da coerência dos dados, sendo novamente
encaminhados ao mesmo aplicador, caso fosse verificada inconsistência.
Depois de verificadas todas as inconsistências passíveis de correção em campo, os
questionários eram enviados para codificação e digitação dos dados em software próprio,
passando pelas seguintes fases:
Revisão e codificação apropriada para alimentar o banco de dados específico;
Alimentação do banco de dados – programa desenvolvido para registro dos dados obtidos;
Desenvolvimento de bancos de dados variados para as diversas fases da análise estatística;
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG41
4.8 Análise dos dados
Os dados obtidos foram avaliados, segundo um critério de evolução estatística, partindo da
análise descritiva, passando pela análise univariada, até se chegar ao modelo multivariado
mais adequado, após experimentar diversos modelos multivariados.
O tratamento estatístico para o estudo epidemiológico dos dados foi desenvolvido por meio do
software SPSS (Statistical Package for Social Science) - versão 12.0, que possibilitou o
estudo da análise descritiva, análises univariada e multivariada.
Na análise descritiva dos dados, foram verificados parâmetros estatísticos importantes para
uma primeira compreensão do estado de infra-estrutura de saneamento existente, hábitos e
costumes higiênicos, sendo observadas as seguintes informações:
1. Freqüência;
2. Média;
3. Mediana;
4. Moda;
5. Desvio-padrão.
Para se proceder às análises univariada e multivariada dos dados, inicialmente foi preciso
estabelecer condições matemáticas para uso do software estatístico, com a dicotomização das
variáveis pré-definidas.
Na análise univariada, buscaram verificar associações das variáveis independentes com a
variável dependente, eliminando-se aquelas sem significância estatística ao nível esperado
de 0,25% ou menor (p 0,25).
A Tabela 4.2 apresenta a codificação das variáveis utilizadas na análise univariada, com os
respectivos nomes, siglas, códigos e seus significados, com a finalidade de melhor
compreensão.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG42
Tabela 4.2 - Codificação das categorias utilizadas na análise univariada
Variável Sigla Códigos SignificadoOrigem do abastecimento de água da casa ORIGAGU
01
PoçoOutros
Existe banheiro na casa EXISTBAN 01
Banheiro dentro ou foraSem banheiro
Freqüência do uso da água da FUNASA (Poço) FREFUNA2 0
1Sim, o tempo todoNão
Número de refeições diárias COMERDIA 01
Duas ou mais refeiçõesUma refeição
Frutas lavadas FRUTASLA 01
SimNão
Mãos limpas antes de comer MÃOSLICO 01
SimNão
Origem da água de beber das crianças ORIGABEB 0
1Poço (somente)Outros
Renda familiar RENDAFA2 01
> 1 s.m< = 1 s.m
A água de beber das crianças é tratada AGUABETR 0
1Sim (Hipoclorito e/ou fervida)Não
Destino das fezes das fraldas das crianças DESTFCRI 0
1privadaOutros
Contato das crianças com água de rio, riacho, mina, barragem, brejo, lago ou açude
CONTAGRI 01
NãoSim
Contato das crianças com água suja BRINCAGS 0
1NãoSim
As crianças tomam banho todo dia BANHDIAR 0
1SimNão
As crianças trocam de roupa todo dia ROUPDIAR 0
1SimNão
As crianças lavam as mãos depois de fazer cocô LAVMACOC 0
1SimNão
As crianças tiveram diarréia nesses 3 dias DOENÇA 0
1NãoSim
Armazenamento da água de beber GUARAGBE 0
1Filtro de velaOutros
A água de beber fica em lugar tampado AGBEBTAM 0
1SimNão
Lavar recipiente de água de beber LAVRECAB 0
1SimNão
Existência de caixa d'água no domicílio RESDOMIC 0
1SimNão
Local de fazer cocô LOCFAZCO 01
PrivadaOutros
Uso da urina USOURINA 01
NãoSim
Lavar as mãos antes de pegar a água de beber LAVMAÕBA 0
1SimNão
Destino da água da pia de cozinha AGPIACOZ 0
1FossaOutros
Destino da água do tanque de lavar roupas AGTLAVRO 0
1FossaOutros
Destino da água do lavatório das mãos AGLAVMÃO 0
1FossaOutros
Destino da água usada no vaso AGUAVASO 01
FossaOutros
Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
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Tabela 4.2 - Codificação das categorias utilizadas na análise univariada (continuação)
Variável Sigla Códigos SignificadoDestino da água usada no banho AGUABANH 0
1FossaOutros
Lixo espalhado no quintal LIXOQUINT 01
NãoSim
Lixo da casa embalado LIXCAEMB 01
SimNão
Destino final do lixo da casa DESTLICA 01
Estrada / EnterradoOutros
Destino final do lixo do banheiro DESTLIXB 0
1Estrada / EnterradoOutros
As criações entram na casa CRIAÇCAS 01
NãoSim
As criações andam no meio do lixo ANDARLIX 0
1NãoSim
Banheiro limpo BANHLIMP 01
SimNão
Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
Para a análise multivariada, foram mantidas as variáveis com resultados univariados
significantes (p 0,25), utilizando-se para tanto a regressão logística binária. O nível de
significância considerado foi igual ou inferior a 0,05 (p 0,05), confirmado pela
estatística de Wald e o teste de verossimilhança. O modelo final foi aquele que apresentou
o maior número de variáveis estatisticamente significativas associadas às condições de
saneamento, hábitos e costumes higiênicos observados no grupo de estudo.
4.9 Pré-requisitos legais para ingresso na terra indígena.
Tendo em vista se tratar de estudo realizado em terra indígena, com abordagem de tema
relativo à saúde, a presente pesquisa seguiu as diretrizes da Instrução Normativa nº. 01/PRES,
de 29/11/95, da Fundação Nacional do Índio – FUNAI, que disciplina o ingresso em terras
indígenas com finalidade de desenvolver pesquisa científica e as determinações da Resolução
nº. 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, que estabelece os parâmetros regulamentadores
para pesquisas envolvendo seres humanos.
Vale esclarecer que, anteriormente à definição do tema por mim trabalhado, o então aluno do
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG,
João Luiz Pena, já havia providenciado todo o encaminhamento dos procedimentos
necessários ao desenvolvimento da pesquisa, esclarecendo que, como pré-requisito para a
obtenção da autorização de ingresso na Terra Indígena Xakriabá, a pesquisa em questão foi
submetida à FUNAI, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico –
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG44
CNPq, ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais – COEP, ao
Comitê Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP e aos representantes dos Conselhos Locais
de Saúde Indígena Xakriabá, segundo a ordem cronológica mostrada na Tabela 4.3.
Tabela 4.3 - Cronologia da pesquisa junto às instituições federais, aos comitês de ética em pesquisa e ao povo Xakriabá
Instituições federais, comitês de ética em pesquisa e representantes indígenas consultados
Data da submissão
Data da aprovação
FUNAI 26/04/2002 05/12/2002CNPq 06/05/2002 12/06/2002COEP 08/07/2002 24/07/2002CONEP 07/08/2002 17/10/2002Representantes dos Conselhos Locais de Saúde Indígena Xakriabá 04/12/2002 04/12/2002
Fonte: Pena, 2002
4.10 Coleta e Análises da qualidade da água consumida
A Fundação Nacional de Saúde – FUNASA, Coordenação Regional de Minas Gerais,
disponibilizou técnicos da Unidade Regional para o Controle da Qualidade da Água –
URCQA, para a coleta e análises bacteriológica e físico-química da água de beber consumida
pelos Xakriabá em seus domicílios, como também do(s) manancial(is) responsável(is) pelo
seu abastecimento.
Foi solicitada à FUNASA, que se procedesse a análise atendendo ao critério de sorteio entre
os domicílios onde morava pelo menos uma criança, e que fosse realizada a coleta e análise da
água em pelo menos dois domicílios, no local onde a água usada para beber estivesse
armazenada.
As análises foram realizadas nos meses de outubro a dezembro de 2003, conforme
metodologias recomendadas pelo Standard Methods, 1998.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG45
5 RESULTADOS
5.1 Características da população estudada e dos fatores de exposição
A terra indígena Xakriabá, conforme observação do autor, não difere de qualquer outra área
rural da região norte do Estado de Minas Gerais, quanto aos aspectos geográficos – relevo,
clima, hidrografia e vegetação. Entretanto, percebe-se uma estratificação sócio-econômica
naquela população, que não é suficiente para promover, na mesma proporção, hábitos e
costumes sanitários igualmente diferenciados.
As aldeias mais populosas não são, necessariamente, as que apresentam melhor infra-estrutura
geral de saneamento. Este panorama de desigualdade social é refletido com clareza nos
ambientes familiares, a começar pela estrutura geral das casas, que se mostram desde
edificações corretamente construídas quanto aos aspectos de engenharia, inclusive com
instalações sanitárias adequadas, até casebres, que são verdadeiras taperas, completamente
inseguras e insalubres.
O universo estudado nesta pesquisa foi o de todas as crianças com idade entre 4 meses a 4
anos e 11 meses, sadias e doentes, residentes em 614 domicílios distribuídos por toda a área
indígena.
A Tabela 5.1 retrata a idade das crianças estudadas, apresentando também dados de renda
familiar. A média observada para a renda é de 1,71 salários mínimos para o grupo familiar ao
qual pertence a criança. Considerando todas as crianças (n = 994), a média de idade foi de
2,12 anos, enquanto que para as crianças com diarréia (doentes) esta média foi de 1,02 anos.
Tabela 5.1 - Idade e renda familiar das crianças estudadas - Terra Indígena Xakriabá
Variável Média Mediana Moda Desvio padrãoIdade da criança (anos) 2,12 2,00 2,00 1,32
Renda familiar (sal. min.) 1,71 1,00 1,00 1,36
Idade da criança com diarréia (anos) 1,02 1,00 0,00 1,11Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
A Tabela 5.2 mostra os hábitos e costumes higiênicos das crianças que manifestam as
atividades de lavar as mãos antes das refeições, tomar banho diário, brincar em água suja,
trocar de roupa diariamente, lavar as frutas e verduras antes de serem ingeridas, entrar em
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG46
contato com água de rio, lavar as mãos depois de fazer cocô, lavar as mãos antes de pegar
água de beber e fazer uso da urina para fins diversos.
Tabela 5.2 - Hábitos e costumes higiênicos das crianças estudadas - Terra Indígena Xakriabá
Variável Crianças sem diarréia
Crianças com diarréia
Total
n % n %Lavar as mãos antes das refeições 650 94,48 38 5,52 688Tomam banho diário 879 94,72 49 5,28 928Brincam em água suja 73 89,02 09 10,98 82Troca de roupa diária 784 94,57 45 5,43 829Frutas e verduras lavadas 898 94,83 49 5,17 947Contato das crianças com água de rio 249 95,04 13 4,96 262Lavar mãos depois de fazer cocô 375 94,70 21 5,30 396Lavar mãos antes de pegar água de beber 574 95,51 27 4,49 601Uso da urina 69 75,82 22 24,18 91Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
O esgotamento sanitário disponibilizado para as crianças estudadas, mostra, através da Tabela
5.3 a situação quanto à existência de banheiro e a origem de sua construção.
Tabela 5.3 - Caracterização do Esgotamento Sanitário para domicílios com crianças - Terra Indígena Xakriabá
Variável Crianças sem diarréia
Crianças com diarréia
Total
n % n % Banheiro padrão FUNASA 109 11,55 14 28 123 Banheiro construído pelo morador 105 11,12 06 12 111 Sem banheiro 730 77,33 30 60 760 Total 944 100 50 100 994Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
Os domicílios das crianças estudadas dispõem de 148 banheiros e apresentam os seguintes
dados: noventa e três (62,84%) são completos, dispõem de vaso sanitário, lavatório e
chuveiro; trinta e nove (26,36%) têm apenas vaso sanitário; quatro (2,70%) contam com vaso
sanitário e chuveiro; duas (1,35%) só tem chuveiro; quatro (2,70%) possuem vaso sanitário e
lavatório; e em outras seis (4,05%) existem apenas o local com proteção lateral (lona de
polietileno preta ou sapé), que é utilizado para se banharem. Dentre os 148 banheiros
existentes, 77 (52,03%) módulos sanitários foram construídos pela FUNASA, e 71 (47,97%)
foram construídos pelo morador. Um banheiro feito pela FUNASA não é usado para banho,
uma vez que está faltando o chuveiro (Figura 5.1).
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG47
Figura 5.1 – Tipos de instalações sanitárias encontradas no ambiente sanitário dos domicílios de crianças – Terra Indígena Xakriabá, 2003
O grupo de crianças estudadas dispõe de 148 banheiros, dos quais 120 são utilizados
plenamente, e 28 não são utilizados para as dejeções conforme apresentado na Tabela 5.4. As
motivações para a não utilização se devem: à falta de água, em 22 banheiros e,
provavelmente, o hábito de usar o terreno próximo à casa para os moradores de seis
domicílios que dispõem de banheiros completos e sem quaisquer defeitos em suas instalações
sanitárias.
Tabela 5.4 – Identificação de motivos para o não uso de vinte e oito banheiros, em domicílios com crianças, por aldeia e sub-aldeia - Terra Indígena Xakriabá
Aldeias e sub-aldeias
Intermitência/Falta de água Hábitos/Costumes higiênicosTotal geral
Construído pela FUNASA
Construídopelo
morador
Total parcial
Implantado pela FUNASA
Construídopelo
Morador
Total parcial
Aldeia Sumaré 01 01 01
Sub-aldeia Sumaré I 02 02 03 03 05
Aldeia Sumaré III 03 03 01 01 04
Aldeia Barreiro Preto
02 02 02
Sub-aldeia Pingo 03 03 03
Sub-aldeia Veredinha 05 05 05
Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG48
Tabela 5.4 – Identificação de motivos para o não uso de vinte e oito banheiros, em domicílios com crianças, por aldeia e sub-aldeia - Terra Indígena Xakriabá (continuação)
Aldeias e sub-aldeias
Intermitência/Falta de água Hábitos/Costumes higiênicosTotal geralConstruído pela
FUNASA
Construídopelo
morador
Total parcial
Implantado pela FUNASA
Construídopelo
Morador
Total parcial
Aldeia Forges 01 01 01Aldeia Pedra redonda 01 01 01
Aldeia Brejo Mata Fome 03 03 03
Aldeia Prata 01 01 01Aldeia Rancharia 01 01 01 01 02
Total 11 11 22 04 02 06 28Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
Na Tabela 5.5 é possível visualizar o local das dejeções, para todos os domicílios com
crianças que dispõe ou não de instalações sanitárias. Os moradores de 120 domicílios
(19,54%), que dispõem de instalações sanitárias, utilizam a privada. Os habitantes de grande
parte das outras moradias (80,46%) fazem uso do terreno próximo às suas casas.
Tabela 5.5 – Local das dejeções, por domicílios com crianças - Terra Indígena Xakriabá
Locais das dejeções no domicílio Freqüência Porcentagem (%)
Terreno próximo a casa 482 78,50Privada 120 19,54No quintal 5 0,81Outro local não especificado 5 0,81Terreno próximo à fonte de água 2 0,34Total 614 100
Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
Foi observado para os domicílios com crianças que apresentaram diarréia, que apenas 20
tinham banheiro, e 13 deles sofrem intermitência no abastecimento de água.
Quanto às águas servidas de banhos, lavatórios, tanques e pias, para os 614 domicílios com
crianças, a Tabela 5.6 retrata que em 102 domicílios (16,61%) a água utilizada no banho
segue para a fossa e em 512 (83,39%) para outros locais (terreno, riacho); a água servida dos
lavatórios de 87 casas (14,17%) segue para a fossa e de outras 527 (85,83%) para locais como
o terreno e riacho; das 75 moradias (12,21%) que dispõem de tanques, a água servida segue
para a fossa, e para o terreno em 539 (87,79%), e por fim, a água usada nas pias de 79
(12,87%) habitações é também encaminhada para a fossa e 535 (87,13%) para o terreno.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG49
Tabela 5.6 – Disposição final das águas servidas por domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá
Águas servidasDestinação final
Para a fossa Para o terreno ou riachoN % N %
Banhos 102 16,61 512 83,39Lavatórios 87 14,17 527 85,83Tanques 75 12,21 539 87,79Pias 79 12,87 535 87,13
Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
O abastecimento de água é demonstrado pela Tabela 5.7 que apresenta para todos os
domicílios com crianças as diversas origens da água utilizada.
Tabela 5.7 - Tipologia do Abastecimento de Água em domicílios com crianças - Terra Indígena Xakriabá
Origem da água Domicílios (N) %- Poço 309 50,33- Poço + caminhão-pipa 04 0,64- Poço + cacimba 09 1,48- Poço + Lagoa 27 4,40- Poço + mina 15 2,45- Poço + cisterna 01 0,16- Poço + rio Itacarambí 01 0,16- Poço + cacimba + riacho 01 0,16- Cacimba 04 0,64- Cacimba + riacho 03 0,48- Cacimba + caminhão-pipa 10 1,64- Cacimba + caminhão-pipa + Mina 03 0,48- Cacimba + riacho + caminhão-pipa 04 0,64- Cacimba + barragem rio Itacarambí 03 0,48- Cacimba + rio Itacarambí 02 0,32- Mina 27 4,42- Mina + riacho 02 0,32- Mina + cacimba 01 0,16- Mina + riacho + caminhão-pipa 01 0,16- Mina + caminhão-pipa 28 4,58- Rio Itacarambí 04 0,64- Rio Itacarambí + riacho 02 0,32- Rio Itacarambí + caminhão-pipa 02 0,32- Barragem rio Itacarambí 13 2,13- Barragem rio Itacarambí + caminhão-pipa 01 0,16- Rio Peruaçú 09 1,48- Rio Peruaçú + cisterna 02 0,32- Cisterna 11 1,79- Cisterna + caminhão-pipa 01 0,16- Riacho 70 11,40- Riacho + caminhão-pipa 22 3,59- Riacho + caminhão-pipa + lagoa 01 0,16- Lagoa 01 0,16- Caminhão-pipa 13 2,13- Caminhão-pipa + lagoa 07 1,14 Total 614 100
Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
Assim, dum total de 614 moradias com crianças na terra indígena Xakriabá, somente 367
(59,77%) utilizam água que, sendo de poço tubular profundo e distribuída pela FUNASA,
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG50
deveria estar de acordo com a Portaria nº 518/2004, do Ministério da Saúde, que estabelece o
padrão de potabilidade da água para consumo humano (Tabela 5.8).
Tabela 5.8 – Uso da água de poço tubular profundo nos domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá
Usos diversos da água de poço tubular profundo N %
Beber, cozinhar, tomar banho, lavar vasilhas e lavar roupas 309 84,20Beber, cozinhar, tomar banho e lavar vasilhas 4 1,09Beber, cozinhar e tomar banho 1 0,27Beber e cozinhar 51 13,90Beber 1 0,27Lavar roupas 1 0,27Total 367 100
Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
A Tabela 5.9 informa que o fato de se utilizar água de forma diferenciada para as diversas
necessidades pode estar associado à intermitência ou não do fornecimento de água
proveniente de poço tubular profundo, ficando evidenciado que somente em 135 domicílios
(36,78%) nunca falta água. Entretanto, por motivos diversos, falta água em 232 habitações
(63,22%).
Tabela 5.9 – Intermitência da água proveniente de poço tubular profundo em domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá
Período que falta água no domicílio N %
Uma ou mais vezes por semana 129 35,15Nunca falta 135 36,78Pelo menos uma vez por dia 67 18,26Problema operacional (quando falta energia elétrica ou óleo ou a bomba estraga) 10 2,73Uma ou mais vezes por mês 26 7,08Total 367 100
Fonte: Inquérito domiciliar - em junho e julho de 2003.
Somente 17 moradias com crianças, situados na aldeia Sumaré, dentre todos os domicílios
abastecidos com água proveniente de poço tubular profundo, recebem água clorada.
Nos domicílios estudados, 243 (39,58%) possuem reservatórios, 234 (38,11%) dispõem de
tambor, balde ou vasilha e 137 (22,31%) não tem qualquer tipo de armazenamento de água.
Para a água de beber, observou-se o uso do pote de barro para 271 (44,14%) domicílios, o
filtro de vela em 160 (26,06%) e filtro de vela e pote de barro concomitantemente em 156
(25,41%), ainda, em 22 (3,58%) domicílios observou-se que a água é guardada em baldes,
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG51
cabaças e garrafas, e cinco (0,81%) domicílios não armazenam a água de beber, sendo que
estes recebem água proveniente de poço tubular profundo, conforme descrito na Tabela 5.10.
Tabela 5.10 – Condição do armazenamento da água consumida nos domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá
Tipo de armazenamento da água consumida N %
Reservatório domiciliar 243 39,58Tambor, balde ou vasilha 234 38,11Não armazena a água 137 22,31Total 614 100Pote de barro 271 44,14Filtro de vela e pote de barro 156 25,41Filtro de vela 160 26,06Outro tipo de recipiente 22 3,58Não armazena a água 5 0,81Total 614 100Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
A FUNASA realizou, durante os meses de outubro a dezembro de 2003, análises
bacteriológica e físico-química da água de mananciais abastecedores de 33 moradias com
crianças. Os resultados das análises de água encontram-se representados na Tabela 5.11, com
informações sobre os parâmetros de cloro residual livre, pH, turbidez, cor aparente,
coliformes totais e Escherichia coli
A Portaria nº 518/2004, do Ministério da Saúde, estabelece para todo o país, os padrões de
potabilidade da água para consumo humano, e define água potável como sendo “água para
consumo humano cujos parâmetros microbiológicos, físicos, químicos e radioativos atendam
ao padrão de potabilidade e que não ofereça riscos à saúde”.
Conforme demonstrado na Tabela 5.11 as amostras individuais coletadas em mananciais de
superfície utilizados para o abastecimento, indicaram a presença de coliformes totais e
Escherichia coli. Os pontos 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 10, 11, 12, 13, 16, 17, 18, 21, 22, 23, 26, 27 e 33
amostrados, apresentaram valores de turbidez superiores a 1,0 UT, não atendendo a
normatização brasileira para o padrão de qualidade da água para consumo humano.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG52
Tabela 5.11 – Resultados bacteriológicos e físico-químicos da água dos mananciais responsáveis pelo abastecimento de 33 moradias com crianças – Terra Indígena Xakriabá
Aldeiaou
subaldeiaManancial
Presença de chuva
CRL(mg/L)
pH Turbidez (UT)
Cor Aparente
(uH)
Colif.totais
Esch coli
Valor permitido pela Portaria nº 1.469/2000 0,5 < 8,0 1,0 15 A APedrinhas (1) Cacimba Sim nc 5,5 22,70 214,0 P PRiachinho (2) Lagoa Não nc 5,5 41,40 267,0 P PPeruaçú (3) Rio Peruaçú Sim nc 7,5 94,50 640,0 P PDizimeiro (4) Cisterna Sim nc 7,5 41,40 436,0 A AVeredinha (5) Cisterna Não nc 7,5 55,80 92,0 A AOlhos D'água grande I (6) Riacho Não nc 7,0 0,81 nd P POlhos D'água (7) * Riacho Não nc 7,5 1,65 23,0 P PBarra do Sumaré (8) Riacho Não nc 8,0 67,30 4,38 P PPindaíba (9) Mina Sim nc 7,0 0,80 1,0 P PPrata (10) * Mina Sim nc 7,0 2,16 27,0 P PBarra do Sumaré (11) * Riacho Não nc 7,0 47,40 10,0 P PSanta Cruz (12) Rio Itacarambí Não nc 8,0 2,86 1,81 P PPeruaçú (13) * Rio Peruaçú Sim nc 8,0 1,45 23,0 P PCustódio (14) Caminhão Pipa Sim 0,2 7,5 0,38 nd A ACaatinguinha I (15) * Poço Profundo Sim nc 8,0 0,52 nd A ARiachinho (16) Poço Profundo Não nc 8,0 1,07 7,0 A ASanta Cruz (17) Poço Profundo Não nc 7,0 9,97 66,0 A AMorro Falhado (18) * Poço Profundo Não nc 7,0 6,47 38,0 A ASapé (19) * Poço Profundo Não 1,0 7,0 0,82 6,0 A AImbaúba II (20) Poço Profundo Não 1,0 7,5 0,93 3,0 A ABoqueirão (21) Poço Profundo Sim nc 7,5 3,97 25,0 A ARancharia (22) * Poço Profundo Sim nc 7,5 1,73 7,0 A AMundo Novo (23) Poço Profundo Não nc 8,5 8,91 34,0 A ABrejo Mata Fome (24) * Poço Profundo Sim nc 9,0 0,23 nd A ASumaré III (25) Poço Profundo Não nc 7,5 0,23 nd A ABarreiro Preto (26) * Poço Profundo Não nc 7,5 2,80 85,0 A AForges (27) Poço Profundo Sim nc 8,0 1,36 2,0 A ARiacho dos Buritis (28) Poço Profundo Sim nc 7,5 0,53 nd A ASumaré I (29) * Poço Profundo Sim nc 8,0 0,23 nd A ACaatinguinha (30) * Poço Profundo Sim nc 7,5 0,23 1,0 A APedra Redonda (31) * Poço Profundo Não nc 8,0 0,51 3,0 A ARiacho Comprido (32) Poço Profundo Não nc 7,0 0,37 9,0 A ARiachinho (33) Poço Profundo Não nc 7,5 1,18 1,0 A A
Fonte: Unidade Regional de Controle da Qualidade da Água da FUNASA - 2003.Notas:
CRL: Cloro Residual Livre.
UT: Unidade de turbidez (unidade de Jackson ou nefelométrica).
uH: Unidade Hazen (mg Pt-Co/L – padrão de platina-cobalto).
nc: não clorado.
P: presente em 100ml.
A: ausente em 100ml.
* : Aldeia / sub-aldeia com criança doente.
Os poços tubulares profundos que têem a água desinfetada, pontos amostrados 19 e 20,
apresentam, respectivamente, turbidez igual a 0,82 UT e 0,93 UT, não ultrapassando assim, ao
valor máximo recomendado pela Portaria nº 518/2004, bem como a cor aparente, para os
pontos amostrados 6, 8, 9, 11, 12, 14, 15, 16, 19, 20, 22, 24, 25, 27, 28, 29, 30, 31, 32 e 33
que atendem ao limite máximo de 15 uH estabelecido como aceitável para consumo humano.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG53
Importante se faz mencionar, que o teor de cloro residual livre amostrado na água fornecida
pelo caminhão-pipa foi detectado em concentração de 0,2 mg/l, não atendendo o teor mínimo
de 0,5 mg/L recomendado pela mesma Portaria.
A Tabela 5.12 mostra os resultados das análises microbiológicas realizadas em água de
torneiras, potes, filtros e baldes de plástico, usados para armazenar água de beber em nove
domicílios de crianças doentes, em Aldeias e sub-aldeias.
Tabela 5.12 – Resultados das análises microbiológicas realizadas nos recipientes usados para armazenar a água de beber de nove moradias com crianças doentes, em Aldeias e
sub-aldeias – Terra Indígena Xakriabá
Aldeia e Sub-aldeia
Coliformes totais e Escherichia coli
Recipientes Presençade ambos os parâmetros
Ausênciade ambos os parâmetros
Somente a presença de coliformes
totais
Pote de barro Cabeceira do Sumaré I 1
Pote de barro Peruaçú 1 1
Balde de plástico Barra do Sumaré 1 1
Filtro de velas Prata 1 1
Pote de barro Cabeceira da Pindaíba 1 1
Pote de barro Caatinguinha 1 1
Filtro de vela Morro Falhado 1
Torneira Sapé 1Torneira Sumaré 1Total 5 2 7Fonte: Unidade Regional de Controle da Qualidade da Água da FUNASA - 2003.
Das nove amostras de água coletadas nos recipientes que armazenam a água de beber,
somente uma acusou a presença de cloro residual livre, o que, provavelmente, indica que a
maioria dos domicílios não o utiliza.
A presença de lixo gerado pela casa e lançado no quintal, ou próximo à casa, é notória,
conforme visualizado na Tabela 5.13. Observa-se que o destino final dos resíduos sólidos em
416 domicílios (67,75%) é a queima em seus quintais e em 112 (18,24%) domicílios o
lançamento se dá no quintal, sem quaisquer procedimentos subseqüentes. Em 10 (1,63%)
moradias, a coleta é realizada pela Prefeitura Municipal de São João das Missões (MG), que
tem como destinação final, local a céu aberto. Apenas em um (0,16%) domicílio pratica-se o
enterramento do lixo, tendo ainda, um (0,16%) domicílio que joga em lote vago. As margens
da estrada são utilizadas para a destinação do lixo de um (0,16%) domicílio, enquanto 71
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG54
(11,56%) moradias tem no mato, o seu local para destinação final, sendo, por fim, dois
(0,33%) domicílios, os que lançam o seu lixo no buraco.
Tabela 5.13 – Disposição final dos resíduos sólidos gerados pela casa com crianças – Terra Indígena Xakriabá
Descrição do destino dado aos resíduos sólidos Domicílios %
Lançado próximo à casa e queimado 416 67,75Lançado no quintal 112 18,25Jogado no mato 71 11,56Coletado pela prefeitura municipal – São João da Missões 10 1,63Lançado em buracos 2 0,33Enterrado 1 0,16Lançado em lote vago 1 0,16Lançado nas margens da estrada 1 0,16Total 614 100
Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
Vale observar, que o lixo gerado em 120 banheiros (usados plenamente) foi analisado
separadamente em relação aos resíduos gerados pela casa, conforme a Tabela 5.14.
Tabela 5.14 – Disposição final dos resíduos sólidos gerados pelo banheiro de domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá
Descrição do destino dado aos resíduos sólidos Domicílios %
Lançado próximo à casa e queimado 107 89,17Lançado no quintal 2 1,67Jogado no mato 1 0,83Coletado pela prefeitura municipal – São João da Missões 8 6,67Lançado em buracos 1 0,83Lançado em lote vago 1 0,83Total 120 100
Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
O lixo espalhado no quintal pôde ser percebido em 487 (79,32%) dos domicílios com
crianças, enquanto noutros 127 (20,68%) não foi notado.
Quanto aos animais domésticos, para todos os domicílios estudados, verificou-se que os
moradores de 588 casas tem criações no seu peridomicílio, com predominância para galinhas,
cachorros, porcos e gatos em relação aos demais. Em 561 (95,41%) casas, as criações se
movimentam no meio do lixo, e em outras 507 (86,22%) a elas adentram, conforme
demonstrado na Figura 5.2.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG55
Figura 5.2 – Criações que se movimentam no lixo e criações que entram na casa – Terra Indígena Xakriabá, 2003.
Em análise mais detida das informações sobre o comportamento das criações no
peridomicílio, observou-se que em 493 domicílios as criações, simultaneamente, andam no
lixo e entram na casa. Esse fluxo se dá em 42 (8,52%) casas de crianças com diarréia e em
451 (91,48%) moradias de crianças sadias.
5.2 Diarréia
Em análise dos domicílios com crianças que apresentaram diarréia (49) foi observado que, em
33 domicílios houve a presença de crianças com e sem diarréia, conforme demonstrado na
tabela 5.15.
Tabela 5.15 – Domicílios em aldeias e sub-aldeias, que apresentaram simultaneamente crianças com e sem diarréia - Terra Indígena Xakriabá
Aldeias e sub-aldeias das Identificação do domicílio
Criança semdiarréia
Criança comdiarréia
Total de crianças no domicílio
Aldeia Sumaré 09 01 01 02Aldeia Sumaré 36 01 01 02Aldeia Sumaré 37 02 01 03Sub-aldeia Sumaré 13 01 01 02Sub-aldeia Sumaré 16 02 01 03Aldeia Sumaré II 10 01 01 02Sub-aldeia Vargem 16 01 01 02Sub-aldeia Caatinguinha 04 01 01 02Sub-aldeia Cabeceira da Vargem
06 01 01 02
Aldeia Barreiro 9C 01 01 02Aldeia Barreiro 10C1 01 01 02Aldeia Pedra Redonda 06 01 01 02Aldeia Cabeceira da Vargem
07 01 01 02
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG56
Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.Tabela 5.15 – Domicílios em aldeias e sub-aldeias, que apresentaram simultaneamente crianças com
e sem diarréia - Terra Indígena Xakriabá (continuação)
Aldeias e sub-aldeias das Identificação do domicílio
Criança semdiarréia
Criança comdiarréia
Total de crianças no domicílio
Aldeia Riachinho 15 02 01 03Aldeia Prata 02 02 01 03Aldeia Prata 05 01 01 02Aldeia Prata 25 01 01 02Sub-aldeia Novo Mundo 17 01 01 02Aldeia Riacho Comprido 30C1 02 01 03Aldeia Itapicurú 34 02 01 03Aldeia Itapicurú 43 01 01 02Aldeia Itapicurú 49 01 01 02Aldeia Barra do Sumaré 02 01 01 02Aldeia Brejo Mata Fome 64 01 01 02Aldeia Brejo Mata Fome 76 02 01 03Aldeia Imbaúba 18 01 01 02Aldeia Sapé 06 01 01 02Aldeia Morro Falhado 19 01 01 02Aldeia Rancharia 100 01 01 02Aldeia Rancharia 146 02 01 03Aldeia Morro Falhado 25 02 01 03Aldeia Peruaçú 07 01 01 02Sub-aldeia Dizimeiro 06 01 01 02Total - 42 33 75
Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
De 994 crianças com idade compreendida entre 4 meses a 4 anos e 11 meses existentes na
terra indígena Xakriabá, 50 crianças apresentaram diarréia nos três últimos dias que
precederam a entrevista, representando 5,03% do universo pesquisado.
A Figura 5.3 retrata o número de crianças com diarréia, nas últimas 72 horas, para áreas de
exposição e de não-exposição, na Terra indígena Xakriabá, durante o período de junho e julho
de 2003.
Figura 5.3 – Crianças com diarréia em áreas expostas e não-expostas
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG57
Terra Indígena Xakriabá, 2003Incidência, é a freqüência de novas ocorrências de doença, isto é, o número de transições de
saudável para doente, na população estudada, durante o período de tempo que está sendo
examinado (JEKEL et al., 1999). Entretanto, para este estudo, a forma como foi concebida a
coleta dos dados, especificamente para as crianças, teve como logística de campo, a aplicação
do inquérito, de forma a percorrer os domicílios seqüencialmente, por um grupo de 12
entrevistadores. Tal procedimento impôs a condição de verificação global descontinuada para
todos os casos, não sendo, portanto, possível verificar, em tempo real, a incidência exata da
diarréia para todo o grupo estudado. Diante de tal impossibilidade técnica, foi necessário
recorrer à "estimativa de incidência média", cujo valor encontrado significou a ocorrência
média de 6,12 novos episódios de diarréia em um ano.
Em estudo realizado por Teixeira (2003) em áreas favelizadas de Juiz de Fora – MG, a
incidência observada foi igual a 21,36.
A Tabela 5.16 apresenta o número de crianças com diarréia e seu percentual, por aldeia e sub-
aldeia, na Terra indígena Xakriabá, de acordo com pesquisa realizada durante os meses de
junho e julho de 2003.
Tabela 5.16 – Aldeias e Sub-aldeias de crianças com diarréia – Terra Indígena Xakriabá
Aldeias e Sub-aldeias de crianças com diarréias N %
Aldeia Brejo Mata Fome 5 10,0Aldeia Riachinho 1 2,0Aldeia Imbaúba II 1 2,0Aldeia Pedra Redonda 2 4,0Aldeia Riacho do Brejo I 3 6,0Aldeia Sumaré 4 8,0Aldeia Sumaré II 1 2,0Aldeia Itacarambizinho 1 2,0Aldeia Cabeceira da Pindaíba 2 4,0Aldeia Morro Falhado 2 4,0Aldeia Sapé 1 2,0Aldeia Barra do Sumaré 1 2,0Aldeia Itapicuru 4 8,0Aldeia Caatinguinha 1 2,0Aldeia Barreiro Preto 2 4,0Aldeia Olhos D'Água I 1 2,0Aldeia Peruaçu 1 2,0Aldeia Prata 3 6,0Aldeia Rancharia 4 8,0Sub-aldeia Mundo Novo 1 2,0Sub-aldeia Sumaré I 2 4,0
Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG58
Tabela 5.16 – Aldeias e Sub-aldeias de crianças com diarréia – Terra Indígena Xakriabá (continuação)
Aldeias e Sub-aldeias de crianças com diarréias N %
Sub-aldeia Cabeceira do Sumaré I 1 2,0Sub-aldeia Vargem 1 2,0Sub-aldeia Caatinguinha I 2 4,0Sub-aldeia Pingo 1 2,0Sub-aldeia Olhos D'Água 1 2,0Sub-aldeia Dizimeiro 1 2,0Total 50 100
Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
Ao aplicar o protocolo de pesquisa, e detectado que a criança ainda estava acometida com
diarréia, o próprio agente indígena de saúde se encarregava de conduzi-la ao posto de saúde.
Foram observadas 26 crianças que ainda estavam com a doença, no dia da pesquisa, e 24
crianças já curadas, embora tivessem apresentado o quadro de diarréia nos dois últimos dias
que antecederam a pesquisa.
Vale ressaltar que, nos domicílios que apresentaram casos de diarréia (49), não houve óbito
no período compreendido entre junho de 2002 a junho de 2003.
5.3 Análise univariada
O estudo univariado apontou para os resultados apresentados na Tabela 5.17.
Tabela 5.17 – Análise univariada - Estimativas de OR, intervalo de confiança a 95% e significância estatística
Variável Categoria OR (IC a 95 %) p valor
Origem do abastecimento de água da casa PoçoOutros 0,683 (0,377-1,235) 0,207*
Existe banheiro na casa Banheiro dentro ou foraSem banheiro 0,425 (0,233-0,776) 0,005*
Freqüência do uso da água da FUNASA (Poço) Sim, o tempo todoNão 0,624 (0,333-1,172) 0,143*
Número de refeições diárias Duas ou mais refeiçõesUma refeição 1,299 (0,380-4,447) 0,676
Frutas lavadas SimNão 0,336 (0,045-2,510) 0,288
Mãos limpas antes de comer SimNão 0,672 (0,342-1,319) 0,248*
Origem da água de beber das crianças Poço (somente)Outros 0,634 (0,341-1,177) 0,149*
Renda familiar > 1 s.m< = 1 s.m 0,713 (0,321-1,584) 0,406
* Significante ao nível de 0,25
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Tabela 5.17 – Análise univariada - Estimativas de OR, intervalo de confiança a 95% e significância estatística (continuação)
Variável Categoria OR (IC a 95 %) p valor
A água de beber das crianças é tratada Sim (Hipoclorito e/ou fervida)Não 1,054 (0,586-1,895) 0,861
Destino das fezes das fraldas das crianças privadaOutros 0,525 (0,263-1,048) 0,068*
Contato das crianças com água de rio, riacho, mina, barragem, brejo, lago ou açude
NãoSim 0,873 (0,444-1,719) 0,695
Contato das crianças com água suja NãoSim 2,479 (1,134-5,421) 0,023*
As crianças tomam banho todo dia SimNão 0,281 (0,038-2,090) 0,215*
As crianças trocam de roupa todo dia SimNão 0,570 (0,220-1,475) 0,247*
As crianças lavam as mãos depois de fazer cocô SimNão 0,813 (0,450-1,468) 0,492
Armazenamento da água de beber Filtro de velaOutros 1,294 (0,645-2,596) 0,468
A água de beber fica em lugar tampado SimNão 0,003 (0,000-1,9E+0,9) 0,676
Lavar recipiente de água de beber SimNão 0,634 (0,083-4,846) 0,660
Existência de caixa d'água no domicílio SimNão 0,373 (0,145-0,959) 0,041*
Local de fazer cocô PrivadaOutros 0,403 (0,217-0,747) 0,004*
Uso da urina NãoSim 3,265 (1,565-6,814) 0,002*
Lavar as mãos antes de pegar a água de beber SimNão 1,337 (0,744-2,401) 0,332
Destino da água da pia de cozinha FossaOutros 0,290 (0,150-0,561) 0,000*
Destino da água do tanque de lavar roupas FossaOutros 0,240 (0,125-0,463) 0,000*
Destino da água do lavatório das mãos FossaOutros 0,331 (0,172-0,638) 0,001*
Destino da água usada no vaso FossaOutros 0,469 (0,254-0,868) 0,016*
Destino da água usada no banho FossaOutros 0,333 (0,177-0,627) 0,001*
Banheiro limpo NãoSim 0,893 (0,276-2,886) 0,850
Lixo espalhado no quintal NãoSim 0,893 (0,443-1,800) 0,751
Lixo da casa embalado SimNão 0,911 (0,441-1,883) 0,802
Destino final do lixo da casa Estrada / EnterradoOutros 0,865 (0,108-6,900) 0,891
Destino final do lixo do banheiro Estrada / EnterradoOutros 1,082 (0,124-9,431) 0,943
As criações entram na casa NãoSim 1,290 (0,563-2,955) 0,547
As criações andam no meio do lixo NãoSim 4,857 (0,658-35,857) 0,121
* Significante ao nível de 0,25
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5.4 Análise multivariada
Para verificação inicial da análise multivariada, foram consideradas todas as variáveis que
apresentaram teste de significância estatística associado a p < 0,25, conforme apresentado no
ANEXO C. As variáveis utilizadas são as apresentadas abaixo:
Origem do abastecimento de água da casa (p < 0,207)
Existe banheiro na casa (p < 0,005)
Freqüência do uso da água da FUNASA – Poço (p < 0,143)
Mãos limpas antes de comer (p < 0,248)
Origem da água de beber das crianças (p < 0,149)
Destino das fezes das fraldas das crianças (p < 0,067)
Contato das crianças com água suja (p < 0,023)
As crianças tomam banho todo dia (p < 0,215)
As crianças trocam de roupa todo dia (p < 0,247)
Existência de caixa d'água no domicílio (p < 0,041)
Local de fazer cocô (p < 0,004)
Uso da urina (p < 0,002)
Destino da água da pia de cozinha (p < 0,000)
Destino da água do tanque de lavar roupas (p < 0,001)
Destino da água do lavatório das mãos (p < 0,001)
Destino da água usada no vaso (p < 0,016)
Destino da água usada no banho (p < 0,001)
As variáveis incluídas no estudo multivariado foram testadas, sendo selecionadas aquelas cuja
significância estatística apontaram para resultados ao nível de 5% (p 0,05). A Tabela 5.18
apresenta, após várias combinações, o modelo final.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG61
Tabela 5.18 – Análise Multivariada - Estimativas de OR e intervalo de confiança a 95%
Variável Categoria OR (IC a 95 %)
As crianças brincam em água suja Sim x Não 2,265 (0,988-5,192)Uso da urina Sim x Não 2,769 (1,283-5,973)Existe banheiro na casa Não x Sim 0,412 (0,222-0,763)
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG62
6 DISCUSSÃO
6.1 Metodologia
Para o estudo desenvolvido, várias foram as exposições sócio-ambientais avaliadas para a
ocorrência da doença (diarréia). Foram considerados, para tanto, aspectos de ausência ou
deficiência da infra-estrutura de saneamento e ainda, hábitos e costumes higiênicos.
O delineamento epidemiológico adotado para o estudo foi o modelo transversal,
demonstrando que vem sendo adotado freqüentemente na medida em que se presta ao auxílio
de investigação na área de Saúde Pública (ROUQUAYROL e ALMEIDA FILHO, 1999).
Pela facilidade de determinação da prevalência de fatores de risco e de doenças em uma
população, o modelo transversal, embora ofereça boas condições de avaliação
epidemiológica, apresenta-se limitado na determinação temporal entre variáveis (JEKEL, et
al., 1999).
Neste estudo, podem ser discutidos alguns possíveis vieses, pelas condições que a pesquisa
impôs e pelo delineamento adotado.
A amostra definida para o presente estudo foi equivalente à totalidade das crianças existentes
na terra indígena estudada, sendo esta a condição considerada ideal para o desenvolvimento
do delineamento transversal. Entretanto, segundo Pereira (1995), também constatado pelo
autor neste trabalho, o viés da prevalência ocorre, ao não se contabilizarem os casos
inexistentes à época da coleta das informações, seja por não estarem mais sob o estado de
"doente" ou por óbito, embora a duração e a letalidade do indicador estudado – a diarréia –
sejam baixas, o que atenua aquele viés.
Não é prudente para este estudo, que se possa desprezar o viés da validade, uma vez que
explicita a condição de que a situação de exposição verificada pode não representar
necessariamente a exposição passada, o que naturalmente poderá ter ocorrido. Entretanto,
como verificado em trabalhos anteriores (TEIXEIRA, AZEVEDO, 2003), o estado de
exposição a condições de saneamento apresenta caráter mais perene, contribuindo para
minimizar este viés.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG63
Foi observado para grupos de variáveis relativas à descrição de renda familiar, tempo de
moradia, qualidade e freqüência da água do poço, tendência de falha de memória – viés de
memória. Observou-se, entretanto, para as variáveis relacionadas à infra-estrutura do
domicílio e disposição do lixo, tendência de apresentar confiabilidade, uma vez que o
entrevistado expôs de forma clara e verdadeira as condições existentes, na expectativa que a
entrevista pudesse proporcionar melhoria da qualidade de vida para seu grupo familiar. Não
obstante as respostas obtidas para hábitos e costumes higiênicos, foi possível identificar
algumas situações em que o inquirido não informou, em verdade, a sua real condição,
observação esta feita pelo autor.
Por fim, é possível que nesta pesquisa o viés da relação temporal indefinida possa não ter
sido significante, uma vez que nos estudos epidemiológicos relacionados a intervenções em
saneamento, hábitos e costumes higiênicos, é observado o caráter de continuidade da
exposição às condições inadequadas, levando ao entendimento de que uma exposição
verificada no presente tem considerável chance de representar uma exposição passada.
(BRISCOE et al., 1986).
6.2 Análise Estatística
O resultado dos diversos estudos realizados neste trabalho teve como fator importante a
característica da amostra, pelo seu tamanho – todo o universo pesquisado, que pode ser
considerado o mais adequado para o desenvolvimento da análise estatística, quanto aos
aspectos quantitativos, confirmando Jekel, et al. (1999).
Para que o estudo pudesse se revestir de informações fidedignas, que representassem as
verdadeiras características do ambiente e suas influências sobre o estado de saúde da
população infantil com idade compreendida entre 4 meses a 4 anos e 11 meses, 1.224
questionários foram aplicados, cobrindo todos os domicílios habitados da terra indígena
Xakriabá.
A primeira etapa da análise estatística se deu com a avaliação da consistência dos dados,
desenvolvida a partir de estudo das freqüências para as variáveis adotadas, a fim de verificar e
compatibilizar as informações a serem trabalhadas.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG64
A verificação univariada ocorreu com variáveis ligadas ao saneamento, hábitos e costumes
higiênicos, onde se buscou a determinação da associação pontual de fatores de exposição com
o indicador estudado, e ainda, o intervalo de confiança das razões de prevalência.
Os modelos estatísticos multivariados podem apresentar resultados imprevisíveis quanto ao
que se espera das associações dos fatores de exposição ambiental sobre os indicadores de
saúde, uma vez que são adotados procedimentos de inserção e exclusão de variáveis pelo
próprio sistema que gerencia os cálculos estatísticos, aliados, ainda, à decisão do pesquisador
de interferir na escolha das variáveis a serem trabalhadas.
6.3 Abastecimento de água
As variáveis deste grupamento, em primeira análise (univariada), mostraram-se associadas à
variável dependente – diarréia, ao nível de significância 0,25, através de:
Origem do abastecimento de água da casa;
Freqüência do uso da água da FUNASA;
Origem da água de beber das crianças;
Existência de caixa d'água no domicílio.
A origem da água de abastecimento, de fato, faz crer ser importante quanto aos aspectos de
proteção à saúde, esperando-se que a água proveniente de manancial mais protegido (poço
tubular profundo) ofereça melhores condições físico-químicas e bacteriológicas, enquanto
outros tipos de mananciais, como por exemplo: cacimba, cisterna, rio e riacho, não
apresentam o mesmo padrão de qualidade para o consumo humano.
Wagner e Lanoix (1959) chamaram a atenção para a vulnerabilidade da qualidade da água dos
poços rasos, pela contaminação do lençol freático, a partir de sua construção até a sua
operação cotidiana.
Em princípio, os mananciais de superfície oferecem água em condições impróprias para o
consumo humano, dada a presença natural de microrganismos no solo, que terão como destino
os talvegues, quando não são lixiviados para os lençóis freáticos. Esta situação foi confirmada
por análises bacteriológicas elaboradas pela FUNASA, no período de outubro a dezembro de
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG65
2003, na Terra Indígena Xakriabá, especialmente para os 33 domicílios cujas análises foram
realizadas.
Em situação comparativa, Teixeira, (2003) relata que, de acordo com a CESAMA, a maioria
das minas e fontes naturais de água no município de Juiz de Fora – MG, é contaminada.
Pena (2004) informa que, antes do início das atividades da FUNASA na terra indígena,
apenas onze aldeias e seis sub-aldeias possuíam sistemas de abastecimento de água. Este
cenário, com aproximadamente 408 habitações que usufruíam de abastecimento de água, foi
alterado, a partir de 2000, com a implantação de novos sistemas de abastecimento de água e
melhoria dos existentes. Em 2003, o número de moradias atendidas passou para 719, o que
mostra um incremento de 76,23% no número de domicílios atendidos pela FUNASA, no
período de três anos, seja através de água canalizada até o quintal, até o banheiro ou dentro de
casa, bem como por meio de chafarizes, de 76,23%.
Foi observado, durante o período em que os dados foram coletados, que a água proveniente de
poços tubulares profundos era insuficiente para os moradores dos 58 domicílios por eles
atendidos, que faziam uso suplementar da água de córregos, rios, cacimbas1, cisternas,
barragens, lagoas ou açudes.
Pode haver risco à saúde, relacionado à intermitência no abastecimento de água, a partir de
três efeitos principais: primeiro, o consumo de água de fontes alternativas, tais como, água de
mina, cacimba, riacho, rios e água de cisternas; segundo, higiene pessoal, doméstica e dos
alimentos insuficientes; e, por último, pode implicar em contaminação da água de
abastecimento na rede de distribuição, (TEIXEIRA, 2003).
Enfim, vale salientar que não é somente a qualidade, mas também a quantidade de água
utilizada para o consumo doméstico que causa impacto na saúde do ser humano. Esrey e
Habicht (1986) referenciam 65 estudos epidemiológicos com o intuito de quantificar o efeito
do abastecimento de água e do esgotamento sanitário sobre a saúde e indicam ainda, que a
quantidade de água é freqüentemente mais importante do que a qualidade, particularmente em
ambientes fortemente contaminados, para melhorar as condições de saúde.
11 Buraco raso feito no leito seco de rios intermitentes ou em depressões úmidas, com a finalidade de obter água para usos diversos.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG66
Dentre as 108 habitações (8,82% do total de domicílios ocupados na terra indígena)
escolhidas aleatoriamente para ser realizada a análise bacteriológica e físico-química da água
consumida para beber, 77,78% das amostras apresentaram resultado positivo para coliformes
totais e/ou Escherichia coli. Além disso, entre as amostras coletadas nas moradias cuja água é
oriunda de poços profundos, 83,33% delas mostraram que a água era imprópria para o
consumo humano, (PENA, 2004).
Os índices de resultados positivos para coliformes totais e Escherichia coli na água de beber
dos nove domicílios analisados, provavelmente, estão associados aos hábitos e costumes
higiênicos. Verifica-se, que o filtro de vela é usado de forma semelhante ao pote de barro. Via
de regra, ao pegar a água do pote para beber, a mão, que normalmente se encontra suja, entra
em contato com a água do pote. Os parâmetros físicos e químicos das amostras coletadas nas
torneiras de dois domicílios das Aldeias Sapé e Sumaré, respectivamente, apresentaram
resultados negativos para coliformes totais e Escherichia coli.
A importância da existência do reservatório domiciliar coberto, na prevenção da diarréia foi
descrito por Heller (1995) que encontrou um risco relativo de 1,91 para as soluções
alternativas para o armazenamento de água, ou seja, armazenamento em vasilhames e
consumo de água direto da rua, quando comparado com a categoria que possui reservatório
coberto e com limpeza freqüente.
Em que pese a presença de coliformes totais e/ou Escherichia coli, demonstrada através de
análises bacteriológicas da água dos potes e filtros de vela, independentemente da origem da
água e freqüência de abastecimento do domicílio, e por fim, da existência de caixa d'água, o
modelo final de regressão logística (multivariada), para todos os 614 domicílios estudados,
não apresentou associação com o indicador – diarréia. Esse fato, provavelmente, se explica,
pela condição de que, embora haja intermitência no abastecimento de água dessas casas, a
grande maioria dos domicílios com crianças doentes dispõe de reservatório domiciliar, com
tampa, e é lavado freqüentemente.
6.4 Esgotamento Sanitário
Quando do estudo da análise univariada, as seguintes variáveis foram associadas à variável
dependente – diarréia, para o esgotamento sanitário:
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG67
Existe banheiro na casa;
Destino das fezes das fraldas das crianças;
Local de fazer cocô;
Destino da água da pia de cozinha;
Destino da água do tanque de lavar roupas;
Destino da água do lavatório das mãos;
Destino da água usada no vaso;
Destino da água usada no banho.
A localização dos banheiros em 23 (3,75%) domicílios com crianças, é dentro da moradia;
para outros 125 (20,36%), o banheiro é na parte externa da casa, e 466 domicílios (75,89%),
não tem banheiro.
O local usado pelos moradores de 120 (19,54%) domicílios com crianças, para dispor seus
excretas, é o vaso sanitário, cujo destino final é a fossa, enquanto que a maioria, 494 (80,46%)
domicílios não dispõe ou não faz uso do vaso, utilizando assim, área próxima à casa.
Na grande maioria dos domicílios estudados, a água servida do banho, lavatório, tanque de
lavar roupas e pia de cozinha tem como destino final o terreno próximo à casa, tornando
assim, as crianças mais expostas ao seu contato.
Carvalho (1997) relata, que anteriormente ao contato com os não-índios, os povos indígenas,
freqüentemente, se deslocavam sobre o território que habitavam, em busca “de caça, coleta e
pesca ou devido à sazonalidade agrícola, permanecendo dias, semanas ou até meses, fora”. A
alternância das instalações domésticas do grupo indígena, propiciava a interrupção dos ciclos
geohelmintos no lugar, pela ausência humana naquele espaço, o que tornava favorável o
saneamento natural do meio.
Algumas doenças infecciosas e parasitárias apresentavam-se de forma endêmica e sem
impacto negativo significativo, devido à adaptação às condições microbiológicas do ambiente
habitado pelas populações indígenas (PITHAN et al., 1991).
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG68
O não uso das instalações sanitárias por alguns indivíduos tem como justificativas, a
intermitência no abastecimento de água e hábitos higiênicos. E, ainda, conforme relata Pena
(2004) alguns disseram que não o utilizam porque não têm papel higiênico em casa; outros
alegam que “descarregar no mato é mais forgado” e mais alguns fazem críticas ao tamanho e
à ventilação do módulo sanitário.
O modelo final (multivariada) contemplou apenas a variável "Existe banheiro na casa" para o
esgotamento sanitário. Neste caso, a significância encontrada foi de 0,005, sendo que, o fato
de não se ter banheiro representa fator de proteção (0,412), no intervalo de confiança de 0,222
a 0,763. Todos os procedimentos de confirmação foram adotados. Provavelmente, a variável
estudada mostrou-se significativa para a diarréia, pelo fato de que as instalações sanitárias
existentes não merecem dos seus usuários a limpeza devida, dada a freqüente intermitência no
abastecimento de água, que ocorre em 13 dos 20 banheiros dos domicílios com crianças
doentes, proporcionando, assim, um ambiente favorável ao desenvolvimento de
microrganismos causadores da patologia estudada – diarréia.
6.5 Resíduos Sólidos
Catapreta et al. (1999) assinala que os resíduos sólidos são importantes para se traçar o perfil
epidemiológico de uma população, sendo influente, ao lado de outros fatores, por exemplo, a
quantidade e qualidade da água consumida e ainda a disposição inadequada do esgotamento
sanitário, sobre a incidência das doenças.
A análise estatística dos dados sobre resíduos sólidos, confirmada pela observação "in situ" do
autor, revela que a maioria dos domicílios tem lixo espalhado no quintal, como: folhas, cascas
de frutas, sabugo de milho, ossos, papeis, plástico, garrafas plásticas e de vidro, pano e pilha.
Entretanto, uma faixa de terreno que circunda a casa mostra-se sempre limpa, uma vez que o
lixo é varrido para suas extremidades, ficando aglomerado próximo do limite do terreno,
porém ainda no quintal.
O lixo gerado nos banheiros é constituído, básicamente, de papel higiênico, papel comum,
folhas de plantas e sabugo de milho, e tem, como destino final, na sua grande maioria, a
queima.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG69
A maioria dos domicílios das crianças não acometidas pela diarréia tem como panorama
geral, o trânsito de animais domésticos entre o lixo espalhado no quintal e o interior da casa.
Em moradias de crianças com diarréia, comparativamente às casas de crianças sadias, o fluxo
estudado foi significativamente maior.
Embora tenha sido observado, através dos dados coletados, que a destinação inadequada dos
resíduos sólidos, na terra indígena, é corriqueira, nenhuma variável independente, em nível de
significância de p 0,25, foi associada à doença estudada.
6.6 Hábitos e costumes higiênicos
A diarréia é transmitida pela contaminação feco-oral (transmissão hídrica e transmissão
relacionada com a higiene) como por exemplo: ingestão de água contaminada, através de
mãos sujas, pratos e copos sujos e está fortemente associada ao nível da limpeza doméstica
(HELLER, 1995; GOLDMAN et al., 2001).
Os hábitos e costumes higiênicos considerados para o estudo de associação na análise
univariada, foram:
Mãos limpas antes de comer;
Contato das crianças com água suja;
As crianças tomam banho todo dia;
As crianças trocam de roupa todo dia;
Uso da urina.
Conforme visualizado pela Tabela 6.1, a média de indivíduos residentes em 614 domicílios
com crianças, é relativamente elevada comparativamente à média nacional brasileira, que é de
3,6 moradores por domicílio, conforme Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 2002
(IBGE, 2003a).
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG70
Tabela 6.1 – Número médio de pessoas por domicílio, cômodo e dormitório – Terra Indígena Xakriabá
Descrição Freqüência Descrição Média
Número de domicílios 614 Média de pessoas por domicílio 6,4Número de cômodos 3.270 Média de cômodos por domicílio 5,3Número de dormitórios 1.367 Média de pessoas por cômodo 1,2Número de pessoas nos domicílios 3.927 Média de pessoas por dormitórios 2,9
Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
Para a maioria das crianças estudadas (69,2%) foi declarado o hábito de lavar as mãos antes
das refeições. Para a variável "tomar banho diário", 93,36% tomam banho todos os dias,
enquanto que, para "trocar de roupa diariamente" 83,40% tem esse hábito. O hábito de brincar
em água suja apontou para 82 (8,25%) crianças, sendo que, destas, nove crianças (10,98%)
tiveram diarréia e 73 (89,02%) não apresentaram.
Embora a análise univariada tenha apontado as variáveis independentes "Mãos limpas antes
de comer"; "As crianças tomam banho todo dia" e "As crianças trocam de roupa todo dia"
associadas em nível estatístico 0,25, ao estudá-las em associação multivariada, não houve,
para as mesmas, associação com a diarréia.
Analisando o tipo de piso dos domicílios estudados, foi constatado em 424 (69,06%)
residências piso de terra batida. Segundo Heller et al. (1995:59), o piso de terra batida ou de
tijolos dificulta a higiene doméstica, “uma das estratégias preventivas na transmissão de
doenças feco-orais e das controladas pela limpeza com água”.
O costume de usar a urina para fins higiênicos e terapêuticos identificou 91 (9,15%) crianças,
das quais 22 (24,18%) estavam acometidas com diarréia e 69 (75,82%) sem a doença.
A variável "uso da urina" confirmou associação com a diarréia na análise multivariada,
levando, provavelmente, à compreensão de que a população estudada pratique hábitos
higiênicos próprios e de há muito arraigados, que possibilitem, segundo a cultura ocidental,
risco de ocorrência de diarréia, como por exemplo: para o quadro de otites e faringites, é
freqüente o uso da urina, podendo tal procedimento agravar o estado clínico, evoluindo para
infecções parenterais e diarréia.
O contato da criança com água suja mostrou-se associado com a diarréia, levando à
compreensão de que, provavelmente, a água servida, disposta no terreno, propicia a presença
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG71
de animais domésticos que vão habitar os arredores do domicílio, onde, inevitavelmente,
mantém contato com excretas ali existentes, e as conduzem, como vetor mecânico, até o peri-
domicílio e em grande parte, até o intra-domicílio, criando, assim, condições favoráveis para a
doença, uma vez que as crianças brincam no chão, conforme observado pelo autor, o que,
certamente as coloca em situação de risco eminente frente à ocorrência da doença estudada.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG72
7 CONCLUSÕES
Pressupôs-se que, para avaliar os impactos das ações de saneamento na saúde do povo
Xakriabá, seria preciso, num primeiro momento, caracterizar o estado de saúde e as condições
de saneamento e higiene da população escolhida. Posteriormente, a associação dessas
caracterizações permitiu avaliar o impacto das intervenções no estado de saúde coletiva do
grupo populacional selecionado.
Os serviços de saneamento existentes na terra indígena Xakriabá, são, ainda, insuficientes
para a melhoria das condições gerais de saúde daquele povo, que, ainda não se apropriou dos
hábitos e práticas de higiene necessários à conduta recomendada pela OMS para uma vida
saudável, quanto aos aspectos sanitários do ambiente em que vive.
Os resultados deste estudo demonstram que as doenças diarréicas constituem importante
problema de saúde na população infantil Xakriabá, perfazendo prevalência expressiva da
morbidade em crianças, uma vez que, no período de até 72 horas que antecederam a pesquisa,
foram constatados 50 casos de crianças com diarréia.
A população da maioria das aldeias e sub-aldeias ainda não favorecidas com sistemas de
abastecimento de água utiliza-se de águas provenientes de córregos, pequenos riachos ou
cacimbas, na sua grande maioria intermitentes.
Embora as variáveis relacionadas com abastecimento de água não tenham apresentado
associação com a diarréia, observou-se, para a época da estiagem, que o abastecimento é
realizado de forma muito precária, através da utilização de água eventualmente ainda
disponível na superfície do solo ou de poços rasos escavados em leitos de mananciais de
superfície (já secos); em todos os casos a quantidade é insuficiente e a qualidade
aparentemente imprópria, conforme demonstrado, para alguns mananciais, através das
análises bacteriológicas e físico-químicas realizadas.
É notado que, apesar da disponibilização de módulos sanitários (banheiros) em muitos
domicílios, os seus moradores continuam com os mesmos hábitos higiênicos anteriores. Há
casos em que os moradores não utilizam o vaso sanitário, pelo fato de não terem
abastecimento de água convencional e contínuo. Verifica-se que alguns moradores não
utilizam o módulo sanitário, pelo fato de ser higienicamente inadequado.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG73
Os estudos estatísticos demonstram, quanto à avaliação dos sistemas de saneamento básico
disponibilizados, hábitos e costumes higiênicos, as situações que possibilitam análises
quantitativas e qualitativas importantes, podendo ser confirmadas pelas seguintes odds ratio
relacionadas à doença em crianças com idade de 4 meses a 4 anos e 11 meses:
As crianças brincam em água suja 2,265
Existe banheiro na casa 0,412
Uso da urina 2,769
Os resultados obtidos no presente estudo levam à indicação de que a infra-estrutura de
saneamento básico existente na terra indígena Xakriabá pode não ser suficiente para erradicar
ou mesmo minimizar os efeitos sobre o indicador de saúde avaliado - diarréia.
Os hábitos higiênicos observados tiveram importância significativa no modelo final, o que
sinaliza para a necessidade de se implantar e conduzir um programa próprio, sustentado e
permanente de educação sanitária para aquela população.
O protocolo de pesquisa, adaptado para as reais condições de costumes do povo Xakriabá,
possibilitou a coleta de informações importantes que poderão subsidiar os órgãos e entidades
que ali trabalham, no sentido de ensejar uma discussão que aborde o enfrentamento das
deficiências constatadas, com o envolvimento direto da população, que deverá
necessariamente ter representação em todos os níveis de decisão e de execução de programas.
Desde 1994, a FUNASA tinha como dever institucional, a promoção de saneamento nas
aldeias indígenas, entretanto, somente a partir da assinatura do Decreto n.º 3.156 de 27 de
agosto de 1999 e da Medida Provisória n.º 1.911-8, de fato, assumiu essas atribuições,
implantando 34 DSEI no Brasil.
Aspecto importante a ser considerado é que, a aceitação das melhorias sanitárias implantadas
pela FUNASA naquela terra indígena deve merecer estudo, para que possa subsidiar ações de
saneamento que sejam adequadas aos costumes e hábitos higiênicos inerentes à população
estudada.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG74
Conforme relatado na introdução deste trabalho, o povo Xakriabá habita uma região inserida
no semi-árido mineiro, com relevo que apresenta variação altimétrica de 486 m (aldeia
Rancharia) a 772 m (aldeia Prata). Esta condição topográfica impõe características diversas,
principalmente para o tipo de solo, hidrografia e vegetação presentes. É fato que a atual
cobertura de sistemas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário convencionais é
ainda incipiente, com equipamentos insuficientes para o atendimento pleno e satisfatório
daquela população.
Importante, ainda, que o atendimento aos requisitos elementares de infra-estrutura sanitária
daquela terra indígena seja prioritário, para que a possibilidade vislumbrada de melhores
perspectivas de vida possa se concretizar através de ações próprias e peculiares às condições
ali existentes.
Por fim, não havendo mais o que esperar, deseja-se que a população Xakriabá mereça, de fato,
a atenção básica necessária à afirmação do seu desenvolvimento sócio-cultural e econômico, o
que, necessariamente, passa pela estruturação do sistema geral de saneamento em todos os
níveis, sendo factível que cada um dos domicílios ali existentes possa ser beneficiado com
ações que certamente irão impactar positivamente sobre a saúde e qualidade geral de vida dos
seus habitantes.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG75
8 RECOMENDAÇÕES
Para minimizar os efeitos do quadro de saneamento encontrado na terra indígena Xakriabá, o
presente estudo indica alguns aspectos que deverão ser observados para a contribuição da
melhoria das condições gerais de saúde, especialmente das crianças, sendo para tanto,
recomendada a implementação das seguintes medidas:
O órgão responsável pelas ações de saneamento – FUNASA, deve estruturar as equipes
que atuam na terra indígena e definir competências e responsabilidades no planejamento,
execução, fiscalização e avaliação dos serviços de saúde disponibilizados à população
Xakriabá.
Para que seja possível vislumbrar melhores condições gerais de operacionalização das
ações, faz-se necessário que a FUNASA estimule a participação harmoniosa e conjunta de
todos os setores envolvidos com as atividades praticadas pelo órgão gestor na terra
indígena, assim como instituições responsáveis por setores do meio ambiente, com a
finalidade de discutir e fomentar ações integradas.
A FUNASA, enquanto órgão vinculado ao Ministério da Saúde, não pode prescindir do
controle da qualidade da água ingerida pela população Xakriabá, devendo adotar medidas
que garantam a aplicação da Portaria n° 518/2004.
Os agentes indígenas de saneamento, responsáveis pela operação e manutenção dos
sistemas de abastecimento de água, manutenção dos módulos sanitários e desenvolvimento
de atividades de educação em saúde, precisam receber treinamento e capacitação
permanentes.
A escola é o local mais adequado para a multiplicação de informações, devendo portanto,
ser contemplada pela FUNASA com todos os equipamentos de saneamento implantados na
terra indígena, a fim de que os professores e alunos possam difundir práticas de higiene
adequadas entre os demais membros da comunidade.
A avaliação dos serviços de saneamento disponibilizados à população Xakriabá poderá
ocorrer, de forma sistemática e contínua, quando o Sistema de Informação de Saneamento
em áreas Indígenas – SISABI, entrar em vigor.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG76
É necessário que a FUNASA promova a articulação institucional com o município de São
João das Missões (MG), onde se situa a terra indígena, através de sua Prefeitura Municipal
a fim de planejar, conjuntamente, a aplicação dos recursos destinados à comunidade
Xakriabá, possibilitando, assim, a implementação das ações necessárias, como a melhoria
das estradas (muitas aldeias e sub-aldeias ficam sem acesso em época de chuvas).
Finalmente, cabe ressaltar, que as Diretrizes da Gestão da Política Nacional de Atenção à
Saúde Indígena estabelece como paradigma que "O processo de estruturação da atenção à
saúde dos povos indígenas deve contar com a participação dos próprios índios, representados
por suas lideranças e organizações nos Conselhos de Saúde locais e distritais", e que na
implantação dessa Política, devem ser respeitados seus valores culturais.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG77
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10 ANEXOS
10.1 ANEXO A
PROTOCOLO DE PESQUISA
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10.2 ANEXO B
ESTATÍSTICA DESCRITIVA
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Caracterização de exposição ambiental das crianças estudadas – expostas e não-expostas.
Figura 10.1 – Crianças em áreas expostas e não-expostas – Terra Indígena Xakriabá, 2003
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG85
Caracterização do tipo de manancial abastecedor de domicílios das crianças estudadas – doentes e não-doentes.
Figura 10.2 – Crianças com diarréia em áreas expostas e não-expostas, por tipo de manancial Terra Indígena Xakriabá, 2003
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG86
Tabela 10.1 – Distribuição espacial das crianças, por aldeia e sub-aldeia - Terra Indígena Xakriabá.
Aldeias e Sub-aldeias de crianças com diarréiasAldeia Nº Crianças Percentual (%)
Aldeia Brejo Mata Fome 5 10,0Aldeia Riachinho 1 2,0Aldeia Imbaúba II 1 2,0Aldeia Pedra Redonda 2 4,0Aldeia Riacho do Brejo I 3 6,0Aldeia Sumaré 4 8,0Aldeia Sumaré II 1 2,0Aldeia Itacarambizinho 1 2,0Aldeia Cabeceira da Pindaíba 2 4,0Aldeia Morro Falhado 2 4,0Aldeia Sapé 1 2,0Aldeia Barra do Sumaré 1 2,0Aldeia Itapicuru 4 8,0Aldeia Caatinguinha 1 2,0Aldeia Barreiro Preto 2 4,0Aldeia Olhos D'Água I 1 2,0Aldeia Peruaçu 1 2,0Aldeia Prata 3 6,0Aldeia Rancharia 4 8,0Sub-aldeia Mundo Novo 1 2,0Sub-aldeia Sumaré I 2 4,0Sub-aldeia Cabeceira do Sumaré I 1 2,0Sub-aldeia Vargem 1 2,0Sub-aldeia Caatinguinha I 2 4,0Sub-aldeia Pingo 1 2,0Sub-aldeia Olhos D'Água 1 2,0Sub-aldeia Dizimeiro 1 2,0Total 50 100,00Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG87
Tabela 10.2 - Abastecimento de Água (614 domicílios e 994 crianças) – Terra Indígena Xakriabá.
Origem da águaDomicílioscrianças
sem diarréia
Crianças sem diarréia
Domicílioscrianças
com diarréia
Crianças com diarréia
- Poço 280 468 29 29- Poço + caminhão-pipa 03 08 01 01- Poço + cacimba 08 17 01 01- Poço + Lagoa 24 41 03 04- Poço + mina 15 24 - -- Poço + cisterna 01 01 - -- Poço + rio Itacarambí 01 02 - -- Poço + cacimba + riacho 01 02 - -- Cacimba 04 08 - -- Cacimba + riacho 03 04 - -- Cacimba + caminhão-pipa 10 18 - -- Cacimba + caminhão-pipa + mina 03 04 - -- Cacimba + riacho + caminhão-pipa 03 05 01 01- Cacimba + barragem rio Itacarambí 02 06 01 01- Cacimba + rio Itacarambí 01 01 01 01- Mina 27 45 - -- Mina + riacho 02 03 - -- Mina + cacimba 01 01 - -- Mina + riacho + caminhão-pipa 01 02 - -- Mina + caminhão-pipa 24 40 04 04- Rio Itacarambí 04 05 - -- Rio Itacarambí + riacho 02 03 - -- Rio Itacarambí + caminhão-pipa 02 03 - -- Barragem rio Itacarambí 11 22 02 02- Barragem rio Itacarambí + caminhão-pipa 01 01 - -- Rio Peruaçú 07 14 02 02- Rio Peruaçú + cisterna 02 04 - -- Cisterna 11 16 - -- Cisterna + caminhão-pipa 01 01 - -- Riacho 67 98 03 03- Riacho + caminhão-pipa 22 39 - -- Riacho + caminhão-pipa + lagoa 01 01 - -- Lagoa 01 02 - -- Caminhão-pipa 13 25 - -- Caminhão-pipa + lagoa 06 10 01 01
Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
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10.3 ANEXO C
ANÁLISE UNIVARIADA
DOENÇA (DIARRÉIA)
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Tabela 10.3 - Razões de prevalências e significâncias para domicílios de crianças doentes e não-doentes - Variáveis qualitativas – análise univariada – Terra indígena Xakriabá
Variável
Domicílios decrianças não-
doentesN %
Domicílios de crianças doentes
N %OR (IC a 95 %) p
Origem do abastecimento de água da casa Poço Outros
280 49,7284 50,3
29 59,220 40,8
0,683 (0,377-1,235) 0,207
Existe banheiro na casa Banheiro dentro ou
fora Sem banheiro
128 22,7
437 77,3
20 40,8
29 59,2
0,425 (0,233-0,776) 0,005
Freqüência do uso da água da FUNASA (Poço) Sim, o tempo todo Não
331 58,6234 41,4
34 69,415 30,6
0,624 (0,333-1,172) 0,143
Número de refeições diárias Duas ou mais
refeições Uma refeição
538 95,2
27 4,8
46 93,9
3 6,1
1,299 (0,380-4,447) 0,676
Frutas lavadas Sim Não
532 94,233 5,8
48 98,01 2,0
0,336 (0,045-2,510) 0,288
Mãos limpas antes de comer Sim Não
381 67,4184 32,6
37 75,512 24,5
0,672 (0,342-1,319) 0,248
Origem da água de beber das crianças Poço (somente) Outros
320 56,6245 43,4
33 67,316 32,7
0,634 (0,341-1,177) 0,149
Renda familiar 1 s.m < = 1 s.m
69 12,2496 87,8
8 16,341 83,7
0,713 (0,321-1,584) 0,406
A água de beber das crianças é tratada Sim (Hipoclorito e/ou
fervida) Não
261 46,2
304 53,8
22 44,9
27 55,1
1,054 (0,586-1,895) 0,861
Destino das fezes das fraldas das crianças privada Outros
82 14,5482 85,5
12 24,537 75,5
0,525 (0,263-1,048) 0,068
Contato das crianças com água de rio, riacho, mina, barragem, brejo, lago ou açude Não Sim
412 72,9153 27,1
37 75,512 24,5
0,873 (0,444-1,719) 0,695
Contato das crianças com água suja Não Sim
518 91,7 47 8,3
40 81,6 9 18,4
2,479 (1,134-5,421) 0,023
Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG90
Tabela 10.3 - Razões de prevalências e significâncias para domicílios de crianças doentes e não-doentes - Variáveis qualitativas – análise univariada (continuação)
VariávelDomicílios de
crianças não-doentesN %
Domicílios de crianças doentes
N %OR (IC a 95 %) p
As crianças tomam banho todo dia Sim Não
526 93,1 39 6,9
48 98,0 1 2,0
0,281 (0,038-2,090) 0,215
As crianças trocam de roupa todo dia Sim Não
471 83,4 94 16,6
44 89,8 5 10,2
0,570 (0,220-1,475) 0,247
As crianças lavam as mãos depois de fazer cocô Sim Não
214 37,9 351 62,1
21 42,9 28 57,1
0,813 (0,450-1,468) 0,492
Armazenamento da água de beber Filtro de vela Outros
154 27,3 411 72,7
11 22,4 38 77,6
1,294 (0,645-2,596) 0,468
A água de beber fica em lugar tampado Sim Não
546 96,6 19 3,4
49 100,0 - -
0,003 (0,000-1,9E+0,9) 0,676
Lavar recipiente de água de beber Sim Não
547 96,8 18 3,2
48 98,0 1 2,0
0,634 (0,083-4,846) 0,660
Existência de caixa d'água no domicílio Sim Não
433 76,6 132 23,4
44 89,8 5 10,2
0,373 (0,145-0,959) 0,041
Local de fazer cocô Privada Outros
107 18,9 458 81,1
18 36,7 31 63,3
0,403 (0,217-0,747) 0,004
Uso da urina Não Sim
519 91,9 46 8,1
38 77,6 11 22,4
3,265 (1,565-6,814) 0,002
Lavar as mãos antes de pegar a água de beber Sim Não
340 60,2 225 39,8
26 53,1 23 46,9
1,337 (0,744-2,401) 0,332
Destino da água da pia de cozinha Fossa Outros
64 11,3 501 88,7
15 30,6 34 69,4
0,290 (0,150-0,561) 0,000
Destino da água do tanque de lavar roupas Fossa Outros
59 10,4 506 89,6
16 32,7 33 67,3
0,240 (0,125-0,463) 0,000
Destino da água do tanque de lavar roupas Fossa Outros
59 10,4 506 89,6
16 32,7 33 67,3
0,240 (0,125-0,463) 0,000
Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG91
Tabela 10.3 - Razões de prevalências e significâncias para domicílios de crianças doentes e não-doentes - Variáveis qualitativas – análise univariada (continuação)
VariávelDomicílios de
crianças não-doentesN %
Domicílios de crianças doentes
N %OR (IC a 95 %) p
Destino da água do lavatório das mãos Fossa Outros
72 12,7 493 87,3
15 30,6 34 69,4
0,331 (0,172-0,638) 0,001
Destino da água usada no vaso Fossa Outros
121 21,4 444 78,6
18 36,7 31 63,3 0,469 (0,254-0,868) 0,016
Destino da água usada no banho Fossa Outros
85 15,0 480 85,0
17 34,7 32 65,3
0,333 (0,177-0,627) 0,001
Banheiro limpo Sim Não
100 78,1 28 21,9
16 80,0 4 20,0
0,893 (0,276-2,886) 0,850
Lixo espalhado no quintal Não Sim
116 20,5 449 79,5
11 22,4 38 77,6
0,893 (0,443-1,800) 0,751
Lixo da casa embalado Sim Não
107 18,9 458 81,1
10 20,4 39 79,6
0,911 (0,441-1,883) 0,802
Destino final do lixo da casa Estrada / Enterrado Outros
10 1,8 555 98,2
1 2,0 48 98,0
0,865 (0,108-6,900) 0,891
Destino final do lixo do banheiro Estrada / Enterrado Outros
7 6,7 97 93,3
1 6,3 15 93,7
1,082 (0,124-9,431) 0,943
As criações entram na casa Não Sim
100 17,7 465 82,3
7 14,3 42 85,7
1,290 (0,563-2,955) 0,547
As criações andam no meio do lixo Não Sim
52 9,2 513 90,8
1 2,0 48 98,0
4,857 (0,658-35,857) 0,121
Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG92
10.4 ANEXO D
ANÁLISE MULTIVARIADA
DOENÇA (DIARRÉIA)
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG93
10.5 ANEXO E
MAPA GEOREFERENCIADO - CRIANÇAS COM DIARRÉIA - TERRA INDÍGENA XAKRIABÁ - MG
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG94
10.6 ANEXO F
FOTOGRAFIAS DA TERRA INDÍGENA XAKRIABÁ - MG
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG95
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