CURSO DE BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO
LARISSA CARNEIRO RANGEL
A RESTAURAÇÃO DA LIRA DE APOLO E A REVITALIZAÇÃO DO
ESPAÇO URBANO VISANDO A VALORIZAÇÃO DA ARQUITETURA
ECLÉTICA NO CENTRO HISTÓRICO DE CAMPOS DOS
GOYTACAZES
Campos dos Goytacazes/RJ
2011
LARISSA CARNEIRO RANGEL
A RESTAURAÇÃO DA LIRA DE APOLO E A REVITALIZAÇÃO DO
ESPAÇO URBANO VISANDO A VALORIZAÇÃO DA ARQUITETURA
ECLÉTICA NO CENTRO HISTÓRICO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES
Projeto de Trabalho Final de Graduação
apresentado ao Instituto Federal de Educação
Ciência e Tecnologia Fluminense campus
Campos Centro como requisito parcial para
conclusão do Curso de Arquitetura e Urbanismo.
Orientadora: Profª. M.Sc. Aline Couto da Costa
Campos dos Goytacazes/RJ
2011
RESUMO
Campos dos Goytacazes possui um rico patrimônio arquitetônico, sendo considerada a
segunda cidade do Brasil em arquitetura eclética. Porém, a falta de valorização do mesmo
vem crescendo significativamente. Visando registrar parte da história arquitetônica de
Campos, destacando alguns exemplares expressivos, e conscientizar quanto à preservação e
conservação desse patrimônio, a proposta do trabalho consiste em um plano geral de
requalificação do espaço urbano do Centro Histórico, com enfoque em uma das primeiras ruas
do município, através de projeto urbanístico e de um manual com o intuito de orientar os
proprietários das construções a conservar e, consequentemente, não descaracterizar seu
imóvel. Além disso, foi desenvolvido um projeto de revitalização de um dos edifícios
ecléticos ainda existentes: a Lira de Apolo, sede da primeira filarmônica da planície
fluminense fundada em 1870. O prédio, construído em 1912 para abrir a sociedade musical
até então sem sede própria, sofreu um incêndio em 1990, que destruiu seu interior, sua
cobertura e duas torres laterais.
Palavras-chave: Arquitetura Eclética. Revitalização. Lira de Apolo.
ABSTRACT
Campos dos Goytacazes has a rich architectonic patrimony and is considered the second city
of Brazil in eclectic architecture. However, the lack of appreciation of it has grown
significantly. Aiming to record part of the architectural history of Campos, highlighting some
significant examples, and raise awareness of the preservation and conservation of this
patrimony, the proposed work consists in a general plan of requalification of the urban space
of the Historic Center, focusing on one of the first streets of city through urbanistic project
and a manual with the aim of guiding the owners of buildings to maintain and consequently
not discharacterize your property. Moreover was developed a revitalization project of one of
the eclectic buildings still exist: the Lira de Apolo, headquarters of the first philharmonic of
the plain of Rio de Janeiro was founded in 1870. The construction, built in 1912 to shelter the
musical society until then without own headquarters, suffered a fire in 1990 that destroyed its
inside, its roofing and two lateral towers.
Keywords: Eclectic architecture. Revitalization. Lira de Apolo.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01 - Teatro Trianon. .................................................................................................. 12
FIGURA 02 - Antigo edifício do Telégrafo. ............................................................................ 13
FIGURA 03 - Antigo prédio do Banco do Brasil. .................................................................... 13
FIGURA 04 - Residência do Sr. Germano de Castro. .............................................................. 14
FIGURA 05 - Sede da Sociedade Musical Lira de Apolo. ....................................................... 14
FIGURA 06 - Banda Lira de Apolo. ........................................................................................ 15
FIGURA 07 - Mapa esquemático de localização da sede da Sociedade Musical Lira de Apolo.
.................................................................................................................................................. 15
FIGURA 08 - Teatro Municipal do Rio de Janiero................................................................. 19
FIGURA 09 - Teatro Ópera de Paris. ....................................................................................... 19
FIGURA 10 - Construção eclética situada à Rua Alberto Torres. ........................................... 20
FIGURA 11 - Atual Banco Mercantil situado à Rua Governador Teotônio Ferreira de Araujo.
.................................................................................................................................................. 21
FIGURA 12 - Praça São Salvador no Centro Histórico de Campos. ....................................... 22
FIGURA 13 - Hotel Gaspar. ..................................................................................................... 23
FIGURA 14 - Apresentação da banda. ..................................................................................... 24
FIGURA 15 - Sociedade Musical Lira de Apolo no desfile cívico de Sete de Setembro de
1982. ......................................................................................................................................... 24
FIGURA 16 - Músicos tocando trombones. ............................................................................. 25
FIGURA 17 - Prédio da Lira de Apolo. ................................................................................... 25
FIGURA 18 - Os cinco clarinetes considerados na época os melhores do Estado do Rio de
Janeiro. ...................................................................................................................................... 26
FIGURA 19 - Detalhe das colunas internas. ............................................................................ 26
FIGURA 20 - Incêndio no prédio da Lira de Apolo em 1990. ................................................. 27
FIGURA 21 - Bombeiros debelando o incêndio. ..................................................................... 27
FIGURA 22 - Formação da banda em 1903. ............................................................................ 28
FIGURA 23 - Avenida Rio Branco após revitalização. ........................................................... 31
FIGURA 24 - Projeto de revitalização da Avenida Rio Branco............................................... 32
FIGURA 25 - Solar do Jambeiro. ............................................................................................. 33
FIGURA 26 - Rua do Lavradio. ............................................................................................... 34
FIGURA 27 - Fachada do projeto de restauração do sobrado. ................................................. 35
FIGURA 28 - Rua das Flores. .................................................................................................. 36
FIGURA 29 - Elevador Gen2. .................................................................................................. 38
FIGURA 30 - Cabo de aço tradicional..................................................................................... 38
FIGURA 31 - Cinta de aço revestida de poliuretano................................................................ 38
FIGURA 32 - Avenida 13 de Maio. ......................................................................................... 41
FIGURA 33 - Trecho a ser trabalhado. .................................................................................... 41
FIGURA 34 - Lira de Apolo em seu estado atual. ................................................................... 43
FIGURA 35 - Mapa de Áreas de Especial Interesse................................................................ 43
FIGURA 36 - Mapa de Zoneamento Urbano. .......................................................................... 43
FIGURA 37 - Mapa de figura e fundo. .................................................................................... 44
FIGURA 38 - Mapa de gabarito. .............................................................................................. 45
FIGURA 39 - Mapa de uso e ocupação. ................................................................................... 45
FIGURA 40 - Levantamento do mobiliário urbano existente. ................................................. 46
FIGURA 41 - Fotografias do trecho a ser trabalhado. ............................................................. 46
FIGURA 42 - Levantamento das construções ecléticas com fotos de algumas das construções
mapeadas. ................................................................................................................................. 47
FIGURA 43 - Colunas e parede do pavimento superior da Lira. ............................................. 48
FIGURA 44 - Marquises não originais..................................................................................... 49
FIGURA 45 – Vista interna do hall da Lira de Apolo............................................................. 50
FIGURA 46 – Ladrilho hidráulico original. ............................................................................. 50
FIGURA 47 – Piso cerâmico não original da loja de fotos. ..................................................... 51
FIGURA 48 – Azulejo original da padaria.............................................................................. 52
FIGURA 49 – Vista interna da padaria. ................................................................................... 52
FIGURA 50 – Forro PVC degradado. ...................................................................................... 53
FIGURA 51 – Azulejo não original......................................................................................... 53
FIGURA 52 – Vista interna do banheiro da padaria. ............................................................... 53
FIGURA 53 – Letreiro instalado de forma correta................................................................... 55
FIGURA 54 - Fluxograma. ....................................................................................................... 59
FIGURA 55 - Setorização. ....................................................................................................... 59
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................ 5
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 11
1.1 Tema-problema ................................................................................................................ 11
1.2 Justificativa ...................................................................................................................... 16
1.3 Objetivos .......................................................................................................................... 16
1.4 Metodologia ...................................................................................................................... 17
2 O ECLETISMO .............................................................................................................. 18
2.1 Ecletismo: surgimento do estilo e manifestações no Brasil ......................................... 18
2.2 Ecletismo no contexto de Campos dos Goytacazes ...................................................... 19
2.3 O ecletismo no Centro Histórico de Campos dos Goytacazes ..................................... 21
2.4 A Lira de Apolo ............................................................................................................... 23
3 PRECEDENTES URBANÍSTICOS E ARQUITETÔNICOS ..................................... 30
3.1 Funcionais ........................................................................................................................ 30
3.1.1 Rio Cidade: Avenida Rio Branco / Cinelândia ................................................... 30
3.1.2 Solar do Jambeiro ................................................................................................. 32
3.2 Tipológicos ....................................................................................................................... 33
3.2.1 Corredor Cultural ................................................................................................. 33
3.2.2 Casarão da Marieta ............................................................................................... 35
3.3 Plásticos ............................................................................................................................ 36
3.3.1 Rua das Flores ....................................................................................................... 36
3.4 Tecnológicos ..................................................................................................................... 37
3.4.1 Elevador sem casa de máquinas ........................................................................... 37
4 PRINCÍPIOS URBANÍSTICOS E ARQUITETÔNICOS ........................................... 40
4.1 Área de implantação ....................................................................................................... 40
4.2 Contexto jurídico-institucional ...................................................................................... 42
4.3 Contexto urbanístico ....................................................................................................... 44
4.3.1 Espaço Urbano ...................................................................................................... 44
4.4 Contexto arquitetônico .................................................................................................... 47
4.4.1 A Lira de Apolo ..................................................................................................... 47
5 PROPOSTA ....................................................................................................................... 54
5.1 Proposta Urbanística ....................................................................................................... 54
5.1.1 Plano geral de revitalização .................................................................................. 54
5.2 Proposta Arquitetônica ................................................................................................... 57
5.2.1 Conceito .................................................................................................................. 57
5.2.2 Programa ................................................................................................................ 58
5.2.3 Fluxograma ............................................................................................................ 58
5.2.4 Setorização ............................................................................................................. 59
6 MEMORIAL DESCRITIVO .......................................................................................... 60
6.1 Descrição do projeto ........................................................................................................ 60
6.1.1 Urbanístico ............................................................................................................. 60
6.1.2 Arquitetônico ......................................................................................................... 61
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 63
REFERÊNCIAS .....................................................................................................................64
APÊNDICES ........................................................................................................................ 68
APÊNDICE A: Projeto Urbanístico ............................................................................. 69
APÊNDICE B: Projeto Arquitetônico .......................................................................... 70
1 INTRODUÇÃO
1.1 Tema-problema
A cidade de Campos dos Goytacazes, localizada na região norte do estado do Rio de
Janeiro, a aproximadamente 273 km da capital, e com a maior extensão territorial do
município (LYRA, 2006), possui um rico patrimônio arquitetônico, que demonstra sua
evolução histórica.
Embora o município tenha originado no séc. XVII, o seu desenvolvimento econômico
se deu nos fins do século XVIII, com o início da produção do açúcar. Os engenhos
inicialmente eram movidos por tração animal; depois de 1830, a vapor; e a partir de 1880,
através da eletricidade, iniciando o período das grandes usinas (PEIXOTO FARIA, 1992).
No final do século XX, após grave crise de estagnação econômica no setor
sucroalcooleiro, foi descoberto o petróleo na região, inaugurando um novo ciclo econômico.
A Bacia de Campos tornou-se a mais importante região produtora do país, sendo responsável
por 84% da produção nacional, gerando crescimento econômico, atraindo investimentos e
empresas (SILVA; BOZELLI; SANTOS; LOPES, 2008).
Segundo Pereira (2008, p.2):
O povoamento da cidade teve início em meados do século XVII, momento
que foi fundada a Vila de Campos. Em 1835 a vila é elevada a categoria de
cidade. A indústria açucareira é a principal atividade econômica da região ao
longo de todo século XX, e ao final deste a descoberta de petróleo no litoral
fluminense, torna o município o maior recebedor de royalties provenientes
daquela exploração.
Entretanto, parece que os investimentos recebidos não provocaram uma mudança
significativa, principalmente por parte dos governos, no modo de pensar e agir sobre
determinados segmentos da administração pública, dentre eles os relacionados ao meio
ambiente e à cultura, por exemplo.
Campos foi considerada uma cidade com um museu a céu aberto, devido ao grande
número de construções históricas (GAMA, 2004). Entretanto, o abandono deste patrimônio
12
vem crescendo significativamente. Esse descaso pode-se dever à falta de interesse do poder
público em conservar a história e a memória da cidade.
Dentre os estilos arquitetônicos marcantes identificados na cidade, o mais evidente é o
Eclético. Esse estilo reflete uma época em que Campos passa por um processo de constante
evolução por visar a equiparação às grandes cidades como o Rio de Janeiro. Nesse sentido,
Czajkowski (2000, p. 8) afirma que “o Rio de Janeiro funcionou como porta de entrada do
Brasil para todas essas manifestações originadas na Europa, mas a República foi eficaz na
rápida interiorização do ecletismo.”
Para Lago (2002, p. 291):
O ecletismo foi o estilo escolhido para exprimir o gosto de uma classe
burguesa que priorizava o bem-estar, amava o progresso e as novidades. A
escola eclética inventariava e traduzia para o espírito da época as inúmeras
formas até então criadas pela humanidade.
Em Campos dos Goytacazes, um dos edifícios ecléticos que evidenciou o espírito da
sociedade dessa época foi o teatro Trianon (Figura 01), que fora construído em 1921, com
capacidade para aproximadamente três mil pessoas (PEIXOTO FARIA, 1992).
Figura 01 - Teatro Trianon.
Fonte: Autor desconhecido, s/d.
13
Entretanto, esse exemplar arquitetônico não existe mais, assim como algumas outras
construções desse estilo, dentre elas: o antigo edifício do Telégrafo (Figura 02), o antigo
prédio do Banco do Brasil (Figura 03) e a residência do Sr. Germano de Castro (Figura 04).
Isso demonstra, em parte, a falta de valorização e a perda do patrimônio histórico da cidade.
Figura 02 - Antigo edifício do Telégrafo.
Fonte: Arquivo de Leonardo Vasconcellos, s/d.
Figura 03 - Antigo prédio do Banco do Brasil.
Fonte: Arquivo de Leonardo Vasconcellos, s/d.
14
Figura 04 - Residência do Sr. Germano de Castro.
Fonte: Arquivo de Leonardo Vasconcellos, s/d.
Contudo, um dos exemplares do Ecletismo de maior riqueza arquitetônica ainda
existente, apesar de seu estado de abandono, é o prédio da Sociedade Musical Lira de Apolo
(Figura 05), que abriga a mais antiga banda de música de Campos (Figura 06) (INEPAC,
2004), localizado nas proximidades da Praça São Salvador (Figura 07), na região central da
cidade.
Esse edifício é um dos objetos de estudo do trabalho de prática projetual desenvolvido
a partir da pesquisa que envolve a temática da Arquitetura Eclética no município de Campos
dos Goytacazes.
Figura 05 - Sede da Sociedade Musical Lira de Apolo.
Fonte: GAMA, 2004, p.6
15
Figura 06 - Banda Lira de Apolo.
Fonte: Monitor Campista, 2005.
Figura 07 - Mapa esquemático de localização da sede da Sociedade Musical Lira de Apolo.
Fonte: Autoria própria sobre mapa do Google Earth, 2010.
Analisando o entorno dessa construção, nota-se, também, a necessidade de um estudo
de requalificação da área central da cidade, que hoje se encontra muito degradada e poluída
visualmente, o que dificulta a admiração de seus edifícios históricos, além de tornar o local
ermo fora do horário comercial.
16
1.2 Justificativa
Em função das perdas sofridas pelo município no que diz respeito a seu patrimônio
histórico, a justificativa deste trabalho está na conscientização da sociedade quanto à
importância da preservação e conservação das riquezas arquitetônicas ainda existentes na
cidade.
Além disso, por se tratar de um registro de parte da história arquitetônica da cidade de
Campos, pretende-se contribuir com o estudo e o conhecimento daqueles que se interessam e
se preocupam com a história artística da cidade.
A revitalização do prédio da Lira de Apolo possibilita não só o resgate cultural de uma
sociedade que no passado possuía várias bandas musicais em forma de associações
organizadas, mas o torna atrativo à visitação pública, garantindo incentivo à arte e à cultura.
Principalmente durante a noite, quando o centro da cidade encontra-se deserto, a
sociedade musical, através de eventos e apresentações, poderá motivar os comerciantes do
entorno a também funcionarem para atender à demanda, colaborando com a valorização do
centro histórico da cidade.
Com a requalificação do espaço urbano, essa área central terá sua arquitetura histórica
destacada e preservada, não permitindo que parte da história da cidade se perca.
1.3 Objetivos
Ao elucidar questões referentes ao Ecletismo em Campos, registrando os exemplares
mais expressivos e analisando as características do estilo, pretende-se resgatar parte da
memória arquitetônica da cidade.
Quanto ao aspecto prático, a meta do trabalho é um projeto de recuperação da sede da
Sociedade Musical Lira de Apolo, com o objetivo de restabelecer o seu uso, resgatando a
função de sede da banda, além de garantir um espaço de incentivo à arte e à cultura através de
um espaço pró-memória.
Além disso, pretende-se gerar um projeto de requalificação do centro histórico da
cidade, visando a valorização do estilo eclético, a partir de um manual com o intuito de
orientar os proprietários das construções a conservar e, consequentemente, não descaracterizar
seu imóvel.
17
1.4 Metodologia
Visando atingir os objetivos do trabalho, inicialmente foi feita uma pesquisa
bibliográfica sobre o tema Ecletismo, buscando embasamento teórico.
Além disso, foi realizado um levantamento das construções mais relevantes em estilo
eclético em Campos.
Para a proposta de revitalização do prédio da Lira de Apolo, o estudo e a coleta de
dados históricos e projetuais mostraram-se fundamentais, através da análise do material
existente na Biblioteca Wellington Paes, de pesquisa junto ao Instituto Estadual do
Patrimônio Cultural, assim como com entrevistas com o atual maestro da sociedade musical,
Sr. Ricardo de Azevedo.
Já para tratar o espaço urbano, foi feito um diagnóstico contemplando o levantamento
do mobiliário urbano existente nos trechos a serem trabalhados, assim como o gabarito, o uso
e a ocupação do solo e o aspecto de conservação das construções localizadas nesse trajeto,
destacando as de arquitetura eclética.
2 O ECLETISMO
2.1 Ecletismo: surgimento do estilo e manifestações no Brasil
O estilo eclético, surgido na Europa em meados do século XIX, é aquele que resgata
estilos anteriores, combinando suas características e introduzindo novas técnicas e novos
materiais, como o ferro e o vidro. César Denis Daly, principal teórico do ecletismo
arquitetônico, entende-o como o uso livre do passado (ITAÚ CULTURAL, 2007).
Devido às referências ao passado, o Ecletismo foi muito questionado e comparado a
outros estilos, conforme Lago (2002, p. 291) apresenta:
Alguns historiadores da metade final do século XX não viam grande
diferença entre o eclético e o neoclássico, no sentido de que ambos seriam
estilos formados na academia, com vistas à repetição de arquiteturas
passadas. Há, entretanto, certo exagero nessa afirmação. O ecletismo
filtrava, de modo exuberante, elementos de todos as épocas, celebrando
o triunfo da tecnologia e da era presente. O retorno ao passado era, de
certo modo, para dominá-lo e afirmar o século XIX. O neoclássico
apelava à sobriedade decorativa em relação aos “excessos” do barroco e do
rococó nos séculos anteriores, buscando implantar o domínio atemporal do
pensamento racional clássico contra as tradições mais emocionais e recentes.
[grifo meu]
Quanto à influência das inovações tecnológicas e do sistema construtivo em um estilo
arquitetônico ainda voltado ao passado, Goulart (1987, p. 183), em “Quadro da Arquitetura no
Brasil”, acrescenta em relação ao país:
As condições de desenvolvimento das correntes ecléticas no Brasil são
peculiares. A revolução industrial em andamento na Europa apenas
repercutia – e de modo indireto – sobre a economia do País. A adoção de
elementos construtivos produzidos industrialmente e de padrões formais
capazes de assimilá-los, dentro das soluções tradicionais, significava, nessas
condições, ao mesmo tempo um avanço da tecnologia e o reforço de laços de
tipo colonial.
19
O ecletismo chega ao Brasil no período de transição para o século XX, mostrando-se
dominante na arquitetura e nos planos de reurbanização das grandes cidades, como realizado
por Pereira Passos no Rio de Janeiro. Como maior símbolo do ecletismo no Brasil, pode-se
citar o Teatro Municipal do Rio de Janeiro (Figura 08), que foi inspirado no Teatro Ópera de
Paris (Figura 09) (ITAÚ CULTURAL, 2007).
Figura 08 - Teatro Municipal do Rio de Janiero. Figura 09 - Teatro Ópera de Paris.
Fonte: BOSBOOM, 2009. Fonte: FERREIRA, 2006.
2.2 Ecletismo no contexto de Campos dos Goytacazes
A arquitetura eclética, que foi produzida em Campos dos Goytacazes a partir do século
XX, permitia a expressão da arte com maior independência e liberdade, acolhendo todos os
estilos, sem que houvesse desprezo por nenhum deles. A respeito do Ecletismo, Czajkowski
(2000, p. 7) diz que “a atitude eclética, como se viu, corresponde à acomodação de várias
referências no tempo. Variando ou mesmo mesclando tempos históricos diferentes,
procurava-se produzir uma arquitetura fora do tempo”.
Para além desses questionamentos, o estilo foi bastante utilizado nas construções em
Campos dos Goytacazes (Figura 10), tornando-se grande referência num determinado
momento da história, principalmente para as construções situadas no que hoje se considera
como Centro Histórico da cidade. Segundo a COSEAC (2009) “Campos é considerada a
segunda cidade do Brasil em arquitetura eclética, tendo a frente o Rio de Janeiro.”
20
Figura 10 - Construção eclética situada à Rua Alberto Torres.
Fonte: Arquivo Pessoal, 2010.
Ainda a respeito do estilo na cidade de Campos, Alves (2008, p.21) apresenta:
O Município de Campos dos Goytacazes se destaca entre as cidades
brasileiras pelo seu conjunto arquitetônico eclético. Este estilo arquitetônico,
caracteristicamente urbano, foi intensamente usado ao longo do século XIX,
quando a população, à raiz do boom econômico da cana-de-açúcar, abandona
as rústicas casas da baixada e vem habitar a área central da cidade.
As construções do centro de Campos apresentavam um traçado colonial; porém, com
as novas tecnologias e materiais desenvolvidos na época, os edifícios sofreram um processo
de modernização para seguir o novo estilo que vigorava, conforme explica Peixoto Faria
(1992, p.70):
A arquitetura desses primeiros anos do século XX é marcada pelo esforço
para incorporar os últimos benefícios da sociedade industrial às construções
ainda ligadas aos esquemas rígidos do período colonial, e o ecletismo é, no
plano formal, a solução utilizada para o atendimento desse objetivo.
21
Nessa época, a sociedade se viu motivada com a possibilidade de se transformar em
capital da Província do Rio de Janeiro e passou a investir em intervenções tanto no meio
urbano como em novas construções (Figura 11), muitas delas inspiradas nos grandes centros
urbanos, como o Rio de Janeiro.
Figura 11 - Atual Banco Mercantil situado à Rua Governador Teotônio Ferreira de Araujo.
Fonte: Arquivo Pessoal, 2010.
2.3 O ecletismo no Centro Histórico de Campos dos Goytacazes
Primeiramente, torna-se importante esclarecer a noção de centro histórico, que está
relacionado com o surgimento da cidade, como aponta Vargas e Castilho(2009, p.2):
Observa-se, no decorrer da história, que os centros das cidades têm recebido
diversas adjetivações: centro histórico, centro de negócios, centro
tradicional, centro de mercado, centro principal ou, simplesmente, centro.
[...] Já o conceito de Centro Histórico está associado à origem do núcleo
urbano, reforçando a valorização do passado. [grifo meu]
22
Também, através de Meneguello, pode-se perceber que:
...centro não dizia mais respeito à idéia espacial de centralidade. Com o
crescimento das cidades, diluiu-se a localização do centro como coordenada
espacial, vigorando a idéia de centro cívico, comercial e, especialmente, de
repositório e expressão física de experiências coletivas.
O Centro Histórico de Campos (Figura 12), marcado por sua diversidade arquitetônica
com predomínio da arquitetura eclética, retrata o desenvolvimento da cidade, iniciada nesse
mesmo local. Dentre as construções mais representativas está o Hotel Gaspar (Figura 13), na
Praça São Salvador.
Figura 12 - Praça São Salvador no Centro Histórico de Campos.
Fonte: Arquivo de Leonardo Vasconcellos, s/d.
23
Figura 13 - Hotel Gaspar.
Fonte: Arquivo Pessoal, 2010.
2.4 A Lira de Apolo
Conforme apresentado anteriormente, nas proximidades da Praça São Salvador, no
calçadão Boulevard Francisco de Paula, está situada a sede da Sociedade Musical Lira de
Apolo, que consiste em uma das obras mais representativas da arquitetura eclética da cidade,
construída para a primeira filarmônica da planície e quarta mais antiga do estado.
A Sociedade Musical (Figuras 14 e 15) surgiu em um período em que a cidade passava
por uma fase de ascensão econômica, como explica Gomes (2008):
Hoje a cidade possui cinco bandas centenárias que surgiram exatamente
nesta fase de ascensão econômica de Campos: o período das inovações
técnicas, o período áureo dos engenhos compreendido entre 1872 e 1885, a
etapa das 29 usinas de cana-de-açúcar a partir de 1880, a época em que
nobres da corte do Rio de Janeiro se reuniam nos solares dos barões de
Campos para bailes, saraus e festas, período em que a classe artística local
atuava constantemente na sociedade campista.
24
Figura 14 - Apresentação da banda.
Fonte: Antônio Cruz, 1987.
Figura 15 - Sociedade Musical Lira de Apolo no desfile cívico de Sete de Setembro de 1982.
Fonte: GAMA, 2004, p.6.
A Lira de Apolo (Figura 16) esteve presente em várias ocasiões marcantes para a
cidade, dentre elas: na visita de Getúlio Vargas em 1950 e na vinda de D. Pedro II para
inaugurar a luz elétrica na cidade, em 1883, saudando-o sob a regência de Lourenço Antônio
Soares.
25
Figura 16 - Músicos tocando trombones.
Fonte: Edgar Medina, 1947.
A sociedade, cujo nome faz referência ao Deus da Música na mitologia grega, Apolo
(SIQUEIRA, 1998), foi fundada em 19 de maio de 1870 por Manoel Baptista P. de Castro,
seu primeiro maestro, que a dirigiu até 1882.
A Lira de Apolo teve seu primeiro lugar de funcionamento na Rua da Constituição,
número 37, atual Avenida Alberto Torres, iniciando o trabalho com apenas 16 membros.
Em 1912, ainda sem sede própria, o grupo musical começou a construir um prédio
considerado como um dos melhores exemplos da arquitetura eclética da cidade (Figura 17),
com uma fachada rica em ornamentos (RIBEIRO, 2003). O edifício foi construído entre 1912
e 1914, com donativos da sociedade e com a ajuda dos próprios músicos (Figura 18).
Figura 17 - Prédio da Lira de Apolo.
Fonte: Arquivo de Leonardo Vasconcellos, s/d.
26
Figura 18 - Os cinco clarinetes considerados na época os melhores do Estado do Rio de Janeiro.
Fonte: Edgar Medina, 1947.
Em 1990, um grande incêndio destruiu seu interior (Figura 19), a cobertura e as duas
torres laterais (Figura 20), tendo os bombeiros bastante dificuldade em conte-lo (Figura 21),
conforme descreve Machado e Neto (1990):
O prédio da centenária Lira de Apolo localizado na Praça São Salvador, 63,
foi parcialmente destruído pelo fogo, na manhã de ontem. O incêndio,
iniciado às 10h40m, teria sido causado por curto-circuito ocorrido nas velhas
instalações elétricas do prédio construído em 1912.
Figura 19 - Detalhe das colunas internas.
Fonte: Hugo Prates, 2004.
27
Figura 20 - Incêndio no prédio da Lira de Apolo em 1990.
Fonte: GAMA, 2004, p.6
Figura 21 - Bombeiros debelando o incêndio.
Fonte: Roberto Menezes, 1990.
28
Após esse ocorrido, a Sociedade Musical (Figura 22) aguarda por sua restauração. Por
ser de iniciativa privada, a prefeitura precisa de autorização da justiça para fazer
investimentos no prédio. Ademais, o projeto de restauração deve ser aprovado pelo Instituto
Estadual do Patrimônio Cultural, já que a construção é tombada pelo órgão desde 1987.
Figura 22 - Formação da banda em 1903.
Fonte: Monitor Campista, 2004.
Atualmente, com aproximadamente 30 integrantes, a Lira de Apolo acumula vários
prêmios e vitórias em concursos. Como exemplo, em 1976, foi vencedora do II Encontro
Estadual de Bandas; em 1982, venceu o Encontro em Cabo Frio; e em 1996, foi campeã no
XXI Encontro em São Fidélis (AZEVEDO).
Deve-se ressaltar que, além da Lira de Apolo, outras sociedades musicais se formaram
na cidade, tais como: a Sociedade Musical Euterpe Sebastianense, a Sociedade Musical Nossa
Senhora das Dores, a Sociedade Musical Operários Campistas, a Sociedade Musical Lira São
José, a Sociedade Musical Lira Santo Amaro, a Lira Guarany e a Lira Conspiradora.
Entretanto, a situação atual que as bandas vêm enfrentando com a falta de incentivo
para com as mesmas, tem se mostrado muito diferente da época vivida anteriormente,
conforme Barreto (2005) apresenta:
29
Depois de viverem a época de ouro até a segunda metade do século passado,
quando as famílias deixavam as suas casas aos domingos para prestigiar a
Música Popular Brasileira nas praças, as bandas estão enfrentando a era da
dificuldade e a falta de incentivo.
Gomes (2008) ainda atenta para o aspecto da preservação do bem imaterial:
Outro fato relevante é que o edifício da Lira de Apolo, o bem material, foi
tombado pelo INEPAC, enquanto que a própria banda, o bem imaterial, tem
sido desprezada pelas autoridades e desprovida de qualquer tipo de apoio ou
política de preservação por parte dos governos municipal, estadual e federal.
Deve-se preocupar em preservar não só o patrimônio material, mas também o
imaterial, como as bandas, que fazem parte da história da cidade. Nesse sentido, Gomes
(2004) ainda aponta que:
A memória das bandas centenárias é também a memória social das
comunidades. Elas representam o Patrimônio Cultural das cidades e do país.
São consideradas como bem intangível, portanto, patrimônio imaterial, por
retratarem a cultura e a música brasileira.
3 PRECEDENTES URBANÍSTICOS E ARQUITETÔNICOS
Neste capítulo, serão apresentados os referenciais projetuais considerando os aspectos
funcionais, tipológicos, plásticos e tecnológicos. No sentido funcional, foram analisados os
casos da revitalização da Avenida Rio Branco e a restauração do Solar do Jambeiro. No
tipológico, considerou-se o projeto do Corredor Cultural e a restauração do Casarão da
Marieta. No aspecto plástico, foi analisado o caso da Rua das Flores, enquanto no
tecnológico, foi apresentado um modelo de elevador que dispensa casa de máquinas.
3.1 Funcionais
3.1.1 Rio Cidade: Avenida Rio Branco / Cinelândia
Um dos grandes eixos da cidade do Rio de Janeiro é a Avenida Rio Branco (Figura
23), que passou por mudanças no final do século XX, como afirma Lima (2007):
No caso do Rio de Janeiro, a crise econômica dos anos 1980 e uma certa
estabilização do crescimento da população urbana, que já atingira a faixa de
80% da população total do município, aliada à retomada da democratização
foram fatores que estancaram o desenvolvimento da indústria imobiliária que
substituiu em menos de um século no mínimo três vezes as edificações dos
bairros cujos terrenos muito se valorizaram. Este foi o caso da avenida Rio
Branco, onde restam apenas três ou quatro imóveis edificados nas primeiras
décadas do século XX e onde alguns terrenos abrigam a quinta geração de
prédios desde 1905, quando de sua inauguração, numa feroz reconquista do
valor de mercadoria adquirido pelos terrenos ao longo do tempo.
31
Figura 23 - Avenida Rio Branco após revitalização.
Fonte: DOURADO, 1997, p.30.
Em 1995, essa mesma avenida sofreu um processo de revitalização do espaço urbano
(Figura 24), em que houve um ordenamento do mobiliário urbano, adequação à acessibilidade
e iluminação, dando destaque para as construções históricas do entorno, tais como o Teatro
Municipal, a Biblioteca Nacional e o Museu de Belas Artes.
Conforme descreve o arquiteto Cláudio Taulois (1997, p.30):
O projeto prevê a liberação do espaço para circulação desse intenso fluxo de
pessoas, eliminando os canteiros de flores de manutenção problemática e
ordenando o mobiliário urbano, valorizando a arborização e os desenhos de
piso, locando os bancos como se para assistir ao desfile contínuo de
passantes. Elementos de conforto e segurança contemplam o estudo, entre
esses, rampas diante das faixas de pedestres e passagens niveladas sobre as
vias de serviço; faixa contínua de orientação para portadores de deficiência
visual; iluminação intensa sobre as calçadas e prédios históricos.
32
Figura 24 - Projeto de revitalização da Avenida Rio Branco.
Fonte: DOURADO, 1997, p.31.
A partir da análise desse projeto de revitalização, verifica-se a necessidade de os
espaços urbanos serem trabalhados objetivando a valorização das construções de seu entorno,
bem como o atendimento às variações antropométricas e sensoriais da população.
3.1.2 Solar do Jambeiro
Há diversos exemplos de restaurações bem sucedidas no Brasil, dentre elas: a
Pinacoteca em São Paulo; o Solar do Jambeiro em Niterói; o Teatro Cine Paramount em São
Paulo; o Mercado Municipal Paulistano; o Santander Cultural em Porto Alegre; e a Vila
Maria em Campos dos Goytacazes.
Um dos exemplos supracitados tido como referência para o projeto que será realizado
é o Solar do Jambeiro (Figura 25), localizado à Rua Presidente Domiciano, nº 195, Ingá,
Niterói, no Estado do Rio de Janeiro.
Construído em 1872, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional - IPHAN, em 25 de abril de 1974. Sofreu restauração realizada por técnicos
especializados em diferentes áreas, com o acompanhamento do IPHAN (SOLAR, 2010).
Solar (2010) explica sucintamente a metodologia utilizada:
A metodologia adotada baseou-se na preservação de remanescentes estéticos
e históricos originais do prédio, bem como na conservação de algumas
alterações posteriores, consideradas harmoniosas no conjunto. Detalhada
prospecção do prédio associada a minucioso levantamento documental e
iconográfico estabeleceram as referências históricas para o partido adotado
na concepção do projeto.
33
Figura 25 - Solar do Jambeiro.
Fonte: Arquivo Pessoal, 2007.
A única intervenção foi a substituição de uma escada de serviço por um elevador,
visando a acessibilidade. Como o uso inicial do solar era residencial, os sistemas elétrico,
hidráulico e sanitário estavam rudimentares, gerando a necessidade de atualização dos
mesmos (SOLAR, 2010).
Percebe-se, com isso, a necessidade de adequação dos edifícios históricos às demandas
e perspectivas atuais, procurando preservar as características originais da construção.
3.2 Tipológicos
3.2.1 Corredor Cultural
O Corredor Cultural é um projeto realizado para auxiliar no trabalho de recuperação
dos sobrados de arquitetura eclética que resistiram às várias transformações pelas quais a
cidade do Rio de Janeiro passou. Através de um manual com objetivo de explicar, esclarecer e
orientar os usuários e donos dos imóveis, visou-se garantir a preservação paisagística e
ambiental da Zona Especial do Centro Histórico do Rio de Janeiro, além da recuperação desse
patrimônio histórico.
34
De acordo com Lima (2007, p.83):
A área denominada Corredor Cultural apresenta uma população usuária de
cerca de dois milhões de transeuntes pertencentes a diferentes camadas
sociais que circulam nas avenidas ruas, praças e becos onde edifícios de
diferentes períodos abrigam usos comerciais e institucionais diversos. A
proposta legislativa do Corredor Cultural alterou alguns tipos de uso das
edificações, proibindo alguns usos, como a construção de vagas para
veículos nos prédios preservados e limitando outros mais, como o número de
pavimentos garagem nas áreas renováveis.
Esse projeto de preservação, renovação e revitalização pretende que o registro deixado
pelas diferentes épocas, através dos estilos arquitetônicos que as caracterizam, permaneça
conservado (PINHEIRO, 1995).
Uma das ruas que integram o Corredor Cultural é a Rua do Lavradio (Figura 26), a
primeira rua residencial da cidade, onde ocorrem mensalmente feiras de antiguidades (LIMA,
2007).
Figura 26 - Rua do Lavradio.
Fonte: Rick Ipanema, 2011.
35
Semelhante à idéia do Corredor Cultural, o projeto de requalificação do espaço no
entorno da Lira de Apolo prevê espaços de vivência da cultura, destacando as construções
históricas e tornando a rua um museu a céu aberto.
Observa-se a importância desse trabalho no que tange à preservação do patrimônio,
pela tentativa de resgatar a história dessa área através da instrução fornecida aos usuários do
local.
3.2.2 Casarão da Marieta
Marieta Teixeira de Carvalho herdou de seu pai o palacete construído em 1878 e que
hoje pertence ao Mosteiro de São Bento. Muito representativo para a história da cidade, sendo
um dos primeiros casarões construídos com tijolos em São Paulo, em 1981 o imóvel foi
tombado pelo CONDEPHAAT - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico,
Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (MELENDEZ, 2006).
A construção passa por processo de restauração, cujo projeto (Figura 27) é do
arquiteto Affonso Risi e prevê um museu que contará a história do sobrado, além de espaço
para pequenos recitais, concertos e exposições.
Figura 27 - Fachada do projeto de restauração do sobrado.
Fonte: MELENDEZ, 2006.
36
Portanto, além de a construção apresentar caráter tipológico que se assemelha à Lira
de Apolo, isto é, um sobrado sem afastamento frontal, o projeto de restauração da sede da
sociedade musical pretende conter um espaço destinado ao resgate da história da mesma,
através de um museu.
3.3 Plásticos
3.3.1 Rua das Flores
A Rua XV de Novembro, também conhecida como Rua das Flores (Figura 28), no
centro da cidade de Curitiba, foi a primeira grande via pública exclusiva para pedestres do
Brasil, inaugurada em 1972 (KRUGER; MINELLA; RASIA, 2011).
Figura 28 - Rua das Flores.
Fonte: CIPRIANO, 2010.
37
De acordo com Kruger; Minella; Rasia (2011) ainda a respeito dessa mesma via:
Todo o calçadão, somadas as duas praças situadas nas extremidades (Praça
Santos Andrade e Praça General Osório), é considerado patrimônio histórico.
As construções ao longo da Rua XV de Novembro representam várias
décadas: sobrados construídos em final do século XIX e começo do século
XX, prédios art-déco de cinco e seis pavimentos das décadas de 1940 e
1950, arranha-céus modernistas dos anos 1960-1970.
Importante ressaltar a iniciativa da prefeitura de preservar o patrimônio cultural
urbano, tanto através do tombamento das fachadas de todas as construções dessa rua, como
pelo tratamento dado ao mobiliário urbano e vegetação, visando resgatar parte da história da
cidade.
No que diz respeito ao caráter plástico, o projeto arquitetônico desenvolvido se
assemelha à rua citada, tanto em relação ao mobiliário urbano, quanto na utilização da pedra
portuguesa associada ao piso tátil.
3.4 Tecnológicos
3.4.1 Elevador sem casa de máquinas
O elevador Gen2 desenvolvido pela Otis (Figura 29) apresenta um diferencial por
dispensar a casa de máquinas, garantindo assim economia de espaço. Além dessa vantagem,
outras também são oferecidas, tais como menor consumo de energia, segurança e proteção
ambiental.
38
Figura 29 - Elevador Gen2.
Fonte: OTIS, 2011.
Nesse sistema, os cabos de aço tradicionais (Figura 30) foram substituídos por cintas
de aço revestidas de poliuretano (Figura 31), mais fortes, silenciosas e que não requerem
lubrificação, durando até três vezes mais do que os cabos convencionais (OTIS, 2011).
Figura 30 - Cabo de aço tradicional. Figura 31 - Cinta de aço revestida de poliuretano.
Fonte: OTIS, 2011. Fonte: OTIS, 2011.
39
Otis (2011) ainda afirma que:
O Gen2 Comfort permite maior flexibilidade de projeto aos arquitetos e
beneficia os construtores com um processo de instalação mais rápido, seguro
e controlado, com o mínimo de interferência na construção do edifício. Os
construtores e proprietários podem gerenciar o prédio de forma mais
econômica e, além disso, beneficiar-se do aumento de espaço rentável
disponível.
Pretende-se adotar esse modelo de elevador no projeto de restauração, já que se trata
de um imóvel tombado, em que deve haver o mínimo de intervenções possíveis. Por dispensar
casa de máquinas, o elevador garante economia de espaço e pouca interferência na
construção.
4 PRINCÍPIOS URBANÍSTICOS E ARQUITETÔNICOS
4.1 Área de implantação
A área a ser trabalhada está localizada na cidade de Campos dos Goytacazes, na região
norte do estado do Rio de Janeiro.
Por a cidade apresentar um número significativo de exemplares do Ecletismo, que não
poderia ser totalmente contemplado nesse trabalho, optou-se por delimitar a área projetual a
partir da principal rua do início da formação da cidade, a atual Avenida 13 de Maio (Figura
32), onde está localizada a primeira igreja de Campos, a Igreja de São Francisco, seguindo
então até a praça central, São Salvador, com enfoque nas intermediações do edifício da Lira
de Apolo.
Sobre a história dessa rua, Feydit (1979) relata:
Em 1795, fez a Câmara o primeiro calçamento da rua dos Mercadores,
Direita, que em ato de vereação de 16 de novembro de 1882 passou a
denominar-se Primeiro de Março; e em 15 de maio de 1888, por proposta do
vereador Ezequiel Sampaio passou a denominar-se 13 de Maio, para
comemorar a data da libertação dos escravos no Brasil.
Peixoto Faria (1992) ainda acrescenta sobre essa mesma avenida:
A rua Direita, chamada inicialmente de rua dos Mercadores, o que indica sua
posição de antigo centro comercial, gozava de posição topográfica
privilegiada e de preferência da população. Nela se localiza a igreja da
irmandade terceira de N. Sra. do Carmo, belo exemplo, na sua decoração
interior, das igrejas barrocas de fins do setecentos, as principais lojas e
algumas residências.
41
Figura 32 - Avenida 13 de Maio.
Fonte: Autoria própria sobre mapa do Google Earth, 2010.
Com isso, foram selecionados dois trechos (Figura 33) para o detalhamento do projeto,
um com trânsito de veículos e outro apenas de pedestres, o do calçadão, que servirá de
modelo para implantação nas outras ruas do centro histórico.
Figura 33 - Trecho a ser trabalhado.
Fonte: Autoria própria sobre mapa Urbano Geral fornecido pela Prefeitura de Campos, 2011.
42
4.2 Contexto jurídico-institucional
O Patrimônio está diretamente ligado à memória e à história do local. E como afirma
Le Goff (1997, p. 138), “a identidade cultural de um país, estado, cidade ou comunidade se
faz com memória individual e coletiva”.
Esse autor ainda explica que:
...é a memória dos habitantes que faz com que eles percebam, na fisionomia
da cidade, sua própria história de vida, suas experiências sociais e lutas
cotidianas. A memória é, pois, imprescindível na medida em que esclarece
sobre o vínculo entre a sucessão de gerações e o tempo histórico que as
acompanha. Sem isso, a população urbana não tem condições de
compreender a história de sua cidade, como seu espaço urbano foi produzido
pelos homens através dos tempos, nem a origem do processo que a
caracterizou. Enfim, sem a memória não se pode situar na própria cidade,
pois perde-se o elo afetivo que propicia a relação habitante-cidade,
impossibilitando ao morador de se reconhecer enquanto cidadão de direitos e
deveres e sujeito da história. (LE GOFF, 1997, p. 139)
Por patrimônio histórico pode-se entender:
Artigo 1º - Constitui o patrimônio Histórico nacional o conjunto de bens
móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse
público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil,
quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou
artístico. (BRASIL. Decreto-lei n.º 25/37.)
A Lira de Apolo (Figura 34) consiste em um patrimônio histórico de Campos,
tombado pelo INEPAC desde 1987, pelo processo de número E-18/300.595/85, apresentando-
se com estado de conservação arruinado (INEPAC, 2004).
43
Figura 34 - Lira de Apolo em seu estado atual.
Fonte: Arquivo Pessoal, 2010.
Segundo a Lei 7.972, que consiste no Plano Diretor de Campos dos Goytacazes, a área
é de Especial Interesse Cultural (Figura 35). De acordo com a Lei 7.974, de Uso e Ocupação
do Solo de Campos dos Goytacazes, a construção se encontra na Zona Comercial Histórica
(Figura 36), apresentando uso residencial, comercial e de serviços (CAMPOS DOS
GOYTACAZES, 2008).
Figura 35 - Mapa de Áreas de Especial Interesse. Figura 36 - Mapa de Zoneamento Urbano.
Fonte: Plano Diretor de Campos, 2008. Fonte: Lei de Uso e Ocupação do Solo de Campos, 2008.
44
4.3 Contexto urbanístico
Foi realizado um trabalho de diagnóstico da área a ser trabalhada, através de mapas de
figura e fundo, gabarito, uso e ocupação do solo, levantamento do mobiliário urbano existente
e das construções ecléticas, assim como registro fotográfico.
4.3.1 Espaço Urbano
Percebeu-se pelo mapa de figura e fundo (Figura 37) que a área é densamente
ocupada, apresentando poucos vazios urbanos. Escolheu-se, portanto, trabalhar com o próprio
espaço público urbano, através dos passeios.
Figura 37 - Mapa de figura e fundo.
Fonte: Autoria própria sobre mapa Urbano Geral fornecido pela Prefeitura de Campos, 2011.
Já pelo mapa de gabarito (Figura 38), constatou-se que a maior parte das construções
tem dois pavimentos e que, por apresentarem pé direito elevado, podem atingir uma altura de
aproximadamente 9m.
45
Figura 38 - Mapa de gabarito.
Fonte: Autoria própria sobre mapa Urbano Geral fornecido pela Prefeitura de Campos, 2011.
Observando o mapa de uso e ocupação (Figura 39), constata-se que o uso mais
presente atualmente é o comercial, apesar de algumas construções terem caráter de uso misto.
Figura 39 - Mapa de uso e ocupação.
Fonte: Autoria própria sobre mapa Urbano Geral fornecido pela Prefeitura de Campos, 2011.
Além desses diagnósticos, tornou-se necessário o levantamento do mobiliário urbano
existente (Figura 40) para a realização da proposta de requalificação do espaço urbano.
46
Figura 40 - Levantamento do mobiliário urbano existente.
Fonte: Autoria própria sobre mapa Urbano Geral fornecido pela Prefeitura de Campos, 2011.
Através de fotografias da área (Figura 41), observou-se que o espaço urbano se
encontra bastante degradado e poluído visualmente, além de não valorizar as construções
históricas ainda existentes.
Figura 41 - Fotografias do trecho a ser trabalhado.
Fonte: Autoria própria, 2011.
O levantamento das construções ecléticas (Figura 42) foi realizado no trecho da Rua
Saldanha Marinho até a Praça São Salvador, onde está localizada a Lira de Apolo, outro
objeto de estudo desse trabalho.
47
Figura 42 - Levantamento das construções ecléticas com fotos de algumas das construções mapeadas.
Fonte: Autoria própria sobre mapa Urbano Geral fornecido pela Prefeitura de Campos, 2011.
4.4 Contexto arquitetônico
Além do espaço urbano, foi feito um diagnóstico da situação atual da Lira de Apolo.
4.4.1 A Lira de Apolo
Localizado num terreno de aproximadamente 325m², o prédio escolhido para a
intervenção apresenta, no pavimento superior, a sede da Sociedade Musical Lira de Apolo e,
no térreo, duas casas comerciais, conforme descreve o INEPAC (2004, p.17):
48
A sociedade ocupa o 1º andar, chegando-se a ela por um lance de escada
situado no hall de sua entrada principal. A parte térrea é ocupada por duas
casas comerciais, cujas portas ladeiam a entrada principal da Lira, à esquerda
casa de material fotográfico, à direita padaria. Desde a construção do prédio,
que a parte térrea foi destinada a ser ocupada por casas comerciais, assim
aumentando a renda econômica da sociedade, que sempre foi uma entidade
eminentemente popular.
De acordo com levantamentos do prédio realizados em 1985:
Sua fachada obedece a eixo central de simetria, valorizado, no térreo pelo
pórtico com pequeno frontão sobre a porta de entrada. No pavimento
superior observa-se porta-janela recuada, criando uma área sombreada na
pequena varanda que se forma. E, finalmente, coroando o corpo central
temos uma espécie de medalhão ladeado por pináculos. Em seu pavimento
superior há uma variedade de colunas e meias-colunas que não existem no
térreo. O que torna mais singular ainda a Lira de Apolo é a existência, sobre
os pseudotorreões do instrumento musical que simboliza a sociedade - sua
lira (INEPAC, 2004, p.17).
No entanto, após o incêndio, o prédio ainda não sofreu restauração e encontra-se
bastante deteriorado, principalmente o pavimento superior, onde só restaram um banheiro, a
copa e as paredes dos outros ambientes (Figura 43), já que o assoalho e o telhado, que eram
de madeira, foram queimados.
Figura 43 - Colunas e parede do pavimento superior da Lira.
Fonte: Arquivo pessoal, 2011.
49
As paredes do hall de entrada da sociedade apresentavam duas pinturas, que também
não existem mais devido ao incêndio. Conforme descreve Brandão (2007), “os painéis que
cobriam as paredes laterais, ao lado direito uma alegoria do Deus Apolo em uma biga puxada
por três cavalos e ao lado esquerdo uma alegoria do compositor Carlos Gomes e suas obras, se
tornaram cinzas”.
As lojas se encontram descaracterizadas no que diz respeito aos revestimentos
utilizados originalmente. Na fachada, foram acrescentadas marquises (Figura 44), que
também não fazem parte do projeto original.
Figura 44 - Marquises não originais.
Fonte: Arquivo pessoal, 2011.
Foi realizado um levantamento do estado de conservação dos ambientes, a partir de
visitas ao local, que contribuiu para o desenvolvimento do projeto. Foram analisadas, além do
hall (Figura 45 e 46), a loja de fotos (Figura 47) e a padaria (Figura 48 a 52).
50
Nome Área Pavimento
Hall 41,45m² 1º pavimento
Descrição:
Piso: ladrilho hidráulico original desgastado
Parede: degradada devido ao incêndio
Teto: o fogo queimou o assoalho
Foto atual:
Figura 45 – Vista interna do hall da Lira de Apolo. Figura 46 – Ladrilho hidráulico original.
Fonte: Arquivo pessoal, 2011. Fonte: Arquivo pessoal, 2011.
51
Nome Área Pavimento
Loja 1 (Loja de fotos) 57,19m² 1º pavimento
Descrição:
Piso: piso cerâmico não original
Parede: pintura
Teto: pintura
Foto atual:
Figura 47 – Piso cerâmico não original da loja de fotos.
Fonte: Arquivo pessoal, 2011.
52
Nome Área Pavimento
Loja 2 (Padaria) 54,46m² 1º pavimento
Descrição:
Piso: piso cerâmico não original
Parede: azulejo original coberto por fórmica
Teto: forro de gesso
Foto atual:
Figura 48 – Azulejo original da padaria. Figura 49 – Vista interna da padaria.
Fonte: Arquivo pessoal, 2011. Fonte: Arquivo pessoal, 2011.
53
Nome Área Pavimento
Apoio Loja 2 104,02m² 1º pavimento
Descrição:
Piso: piso cerâmico não original
Parede: azulejo não original
Teto: forro PVC degradado e forro de gesso
Foto atual:
Figura 50 – Forro PVC degradado.
Fonte: Arquivo pessoal, 2011.
Figura 51 – Azulejo não original. Figura 52 – Vista interna do banheiro da padaria.
Fonte: Arquivo pessoal, 2011. Fonte: Arquivo pessoal, 2011.
5 PROPOSTA
Nesse trabalho, desenvolveu-se, no contexto urbanístico, um projeto de revitalização
do centro histórico de Campos e, no aspecto arquitetônico, um projeto de restauração da sede
da Sociedade Musical Lira de Apolo, visando resgatar a memória cultural da cidade.
5.1 Proposta Urbanística
O projeto contempla um plano geral de revitalização, além de uma proposta de
intervenção no espaço urbano (Apêndice A) que possa servir de modelo a ser aplicado nos
demais trechos do centro histórico.
5.1.1 Plano geral de revitalização
O plano geral de revitalização desenvolvido conta com as seguintes medidas, abaixo
relacionadas:
Substituição da fiação aérea pela fiação subterrânea;
Substituição e realocação de postes, após sofrer processo de restauração;
Remodelamento do mobiliário urbano;
Reforma das calçadas e do calçadão;
Adequação do espaço urbano, visando atender às normas de acessibilidade;
Totem informativo com história das edificações mais significativas;
Iluminação cênica dos edifícios históricos, ressaltando os detalhes das obras;
Proibição de marquises quando não existentes no projeto original, sendo substituídas
por toldos para não interferir nas fachadas;
Regras para letreiros e toldos.
55
Letreiros
Proibido anúncio que encubra os elementos morfológicos das fachadas;
Permitidos somente no pavimento térreo;
Paralelos à fachada Perpendiculares à fachada
Como exemplo de letreiros instalados de forma a não comprometer as fachadas, pode-
se citar o utilizado na loja Andarella (Figura 53), na cidade de Campos.
Figura 53 – Letreiro instalado de forma correta.
Fonte: Arquivo pessoal, 2011.
56
Toldos
Permitidos somente no pavimento térreo, sendo recolhíveis;
Sugestões de manutenção e preservação, como pintura e instalações prediais;
Pintura
Sempre que possível, realizar prospecções pictóricas para determinar a cor a ser
utilizada na pintura da construção;
Ornatos e frisos devem ser pintados em tons mais claros do que as paredes;
Porta de enrolar com a mesma cor dos gradis;
Cantaria
Deve-se retirar toda tinta ou verniz para que fique em seu estado natural;
Ar condicionado
Deve ser instalado de forma a interferir o menos possível nos elementos
arquitetônicos e decorativos das fachadas (nos fundos, sob o toldo, atrás dos
gradis, entre as portas);
57
5.2 Proposta Arquitetônica
Para a elaboração do projeto de restauração da Lira de Apolo tornou-se necessário a
definição do conceito, que direcionou as decisões projetuais e o desenvolvimento do
programa, fluxograma e setorização.
5.2.1 Conceito
É preciso saber o porquê de intervir, para que a revitalização não tenha por finalidade
apenas atender aos turistas, mas que seja, também, uma forma de revitalização e de
preservação dessa área degradada.
Segundo Brandi (2004, p. 25), em Teoria da Restauração, “entende-se por restauração
qualquer intervenção voltada a dar novamente eficiência a um produto da atividade humana”.
Conforme descrito na Carta de Burra de 1980, a respeito do termo conservação:
...os cuidados a serem dispensados a um bem, para preservar-lhe as
características que apresentem uma significação cultural. De acordo com as
circunstâncias, a conservação implicará ou não a preservação ou a
restauração, além da manutenção; ela poderá, igualmente, compreender
obras mínimas de reconstrução ou adaptação que atendam às necessidades e
exigências práticas.
Pretende-se, portanto, no projeto, fazer as modificações necessárias para dar vida
novamente ao prédio, mas conservando suas características iniciais, e resgatando as já
perdidas.
Dessa forma, optou-se por transformar as lojas do térreo em café e museu para manter
uma fonte de renda para a sociedade, de acordo como foi proposto no conceito do projeto
original, além de resgatar os espaços do Salão de Honra e do vestiário, perdidos com o
incêndio. A maior modificação é a construção do novo Salão de Ensaio, porém esse não
interfere visualmente na volumetria do prédio e melhor atende à atual realidade da banda.
58
5.2.2 Programa
O programa (Quadro 01) desenvolvido contempla um café e um museu interativo nas
casas comerciais situadas no pavimento térreo, além de seus respectivos apoios.
Já no pavimento superior, é proposto um novo salão de ensaios para atender a
sociedade musical, além do Salão de Honra, foyer, administração, sanitário, copa e vestiário.
No quadro a seguir foram relacionados os ambientes contidos no projeto e suas
respectivas áreas.
PAVIMENTO AMBIENTE ÁREA
1º pavimento
Café 57,19m² (30 pessoas)
Sanitário (café) 6,01m²
Apoio (café) 5,50m²
Hall acesso 2º pav. 41,45m²
Recepção do museu 54,46m²
Museu interativo 55,64m²
Sanitários Fem. (museu) 5,70m²
Sanitários Masc. (museu) 4,20m²
Depósito (museu) 6,72m²
Administração (museu) 13,54m²
2º pavimento
Salão de Honra 84,89m²
Foyer 47,24m²
Administração 13,30m²
Sanitário 6,02m²
Copa 6,69m²
Salão de Ensaio 93,41m² (60 pessoas)
Vestiário 17,44m²
Quadro 01 - Programa.
Fonte: Autoria própria, 2011.
5.2.3 Fluxograma
Através do fluxograma (Figura 54), são observados os três acessos independentes,
mantidos de acordo com o projeto original, e que, a partir da proposta, levam ao café, ao
museu e à sede da sociedade musical.
59
Figura 54 - Fluxograma.
Fonte: Autoria própria, 2011.
5.2.4 Setorização
A partir da setorização (Figura 55), fica definido que o salão de ensaio, que antes
funcionava onde é o foyer e a administração, passa a ocupar a parte de trás do prédio, em
cima da área de apoio da padaria. Isso se torna possível, pois o prédio apresenta dois
pavimentos e as construções do entorno impedem a visibilidade dessa área.
Observa-se também que o café proposto fica situado onde hoje se encontra a loja de
fotos, e o museu, onde está a atual padaria.
Figura 55 - Setorização.
Fonte: Autoria própria, 2011.
Café
Apoio
Hall
Elevador
Museu
Salão de Honra
Foyer / Administração
Vestiário
Salão de Ensaio
Hall Café Recepção
Foyer
Administração Salão de Honra Salão de Ensaio
Banheiro Museu
Banheiros
Vestiário Banheiro Copa
Depósito Administração
6 MEMORIAL DESCRITIVO
6.1 Descrição do projeto
6.1.1 Urbanístico
O projeto urbano visa a valorização das construções históricas e a requalificação do
espaço urbano, contemplando as seguintes intervenções:
Pisos
O piso adotado é a pedra portuguesa por se tratar de um trecho histórico e essa
caracterizar melhor esse período. Visando minimizar os riscos oferecidos às pessoas com
alguma deficiência ou com mobilidade reduzida, as pedras devem ser bem instaladas. Poder
ser retiradas e recolocadas com facilidade, evitando quebras, e facilitando a manutenção e
instalação em áreas curvas são algumas de suas vantagens.
Além disso, o projeto prevê o uso do piso tátil direcional e alerta em todo o trajeto,
assim como rampas, contemplando, dessa forma, as questões que envolvem a acessibilidade,
não só nas calçadas, mas em todos os outros elementos de projeto.
Mobiliário Urbano
As grelhas para drenagem são mantidas nos mesmos locais por estarem fora do fluxo
principal de circulação, porém sendo reinstaladas com vãos com dimensão de 1,5cm, ainda de
acordo com a NBR 9050.
As lixeiras, os bancos e a banca de jornal recebem novo design, conforme
detalhamento em anexo.
No calçadão, todo o mobiliário, além da vegetação, foi implantado de forma a não
interferir no trânsito de veículos de emergência, caso seja necessário.
Iluminação
Para realizar a iluminação cênica, torna-se necessário um estudo para a adequação em
cada fachada.
Os postes menores serão realocados, após sofrerem um processo de restauração.
Haverá a troca das lâmpadas por mais eficientes e econômicas.
61
A iluminação geral segue o estilo dos menores na área do calçadão e nas ruas com
tráfego de veículos são adotados novos modelos, também mais eficientes.
Vegetação
Pretende-se preservar a vegetação existente. As palmeiras de pequeno porte,
atualmente instaladas em vasos, serão replantadas no solo, protegidas por gola e iluminadas
individualmente.
6.1.2 Arquitetônico
Conforme mencionado, o projeto (Apêndice B) contempla um café, um museu e a
sede da Sociedade Musical Lira de Apolo.
Café
No café, painéis de madeira são propostos como revestimento, criando uma segunda
parede, distanciada das originais, já que atualmente apresentam apenas pintura e, dessa forma,
não haveria intervenção na edificação.
Pequenas modificações nas paredes internas são necessárias para a adaptação à
acessibilidade. O mobiliário proposto também atende as normas de acessibilidade.
Museu
Já na recepção do museu interativo, todo mobiliário é colocado de forma a não
interferir nas paredes restauradas.
Um expositor com fotos antigas do prédio e da banda e uma área para venda de
souvenir também ocupam esse mesmo local.
Dentro do museu é contada a história da sociedade musical, através de expositores
interativos de instrumentos antigos e fotos antigas, além de espaço reservado para troféus e
prêmios recebidos pela banda.
Um painel com imagem da banda para que o visitante possa tirar foto como se fosse
um integrante, é mais uma atração que o museu oferece.
Além disso, criou-se um depósito e uma administração, e os banheiros são adaptados
para atender à acessibilidade.
62
Sede da Sociedade Musical Lira de Apolo
Hall de acesso
No hall de acesso ao pavimento superior, propõe-se restauração da escada original em
madeira, do piso em ladrilho hidráulico e dos painéis originais pintados nas paredes laterais.
Um elevador é adaptado embaixo da escada, para garantir a acessibilidade, sendo ele
sem casa de máquinas, o que facilita a instalação sem maiores intervenções na edificação.
Na entrada, a construção apresenta um desnível com dois degraus, que são
solucionados, para atender a acessibilidade, através de uma rampa removível em estrutura
metálica e vidro, não descaracterizando o prédio.
Pavimento Superior
No pavimento superior, o Salão de Honra é mantido no local onde sempre funcionou
para reuniões e eventos da banda, além do vestiário, da copa e do banheiro, que sofreram
apenas adequações à acessibilidade.
O salão de ensaio tem capacidade para 60 pessoas.
Um prisma é criado para tentar amenizar a questão de iluminação, ventilação e
instalação de aparelhos de ar condicionado.
Em relação à cobertura, sua volumetria original é recuperada, através do uso de telha
francesa e da recuperação dos torreões com nova estrutura. Nas novas coberturas são
utilizadas telhas metálicas, sendo que na área do salão de ensaio deve receber tratamento
acústico.
A fachada passa por um processo de restauração realizada por técnicos especializados,
garantindo, assim, a recuperação dos frisos, ornatos e almofadas da fachada. Além disso,
prevê-se a recuperação dos torreões e da lira, utilizando nova estrutura, e a remoção das
marquises, que não são originais do projeto. Quanto à pintura, as cores do prédio são mantidas
as originais, amarelo claro e vermelho encarnado na parede de fundo do balcão central, já que
essas são as cores da banda. E as torres, em prateado como originalmente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A preservação do patrimônio cultural torna-se fundamental para que não se perca a
história da cidade, porém a falta de valorização desse, em Campos, só vem se acentuando. É
necessário que a população se sensibilize no que diz respeito à importância de preservar, para
que a mesma contribua nesse processo.
A administração pública deve oferecer condições para a conservação desse patrimônio,
fiscalizando e oferecendo auxílio na orientação das restaurações e conservações realizadas nas
edificações particulares.
Neste trabalho, procurou-se resgatar parte do patrimônio cultural da cidade,
possibilitando destacar a história de um dos exemplares mais expressivos da Arquitetura
Eclética, sede da mais antiga banda de Campos, a Sociedade Musical Lira de Apolo. Além
disso, através de um projeto de requalificação do espaço urbano, visou-se a valorização do
centro histórico da cidade e das construções históricas, principalmente as ecléticas.
Espera-se que este trabalho contribua com o estudo e o conhecimento dos que se
preocupam com o patrimônio arquitetônico da cidade, estimulando novas pesquisas, já que
não se ambicionou esgotar aqui todas as questões relacionadas ao tema.
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APÊNDICES
APÊNDICE A: Projeto Urbanístico
(Pranchas 1 a 3)
APÊNDICE B: Projeto Arquitetônico
(Pranchas 4 a 10)
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