astroPT magazine
Janeiro 2012 Volume 2 Edição 1
O ano de 2012 marca o quinqua-gésimo aniversário do Observa-tório Europeu do Sul (ESO), a mais importante organização intergovernamental para a inves-
tigação em astronomia do mun-do.
A astroPT deseja muitos mais anos de investigação da ESO.
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Janeiro 2012 ESPECIAL
PARABÉNS ESOPARABÉNS ESO
O Professor Stephen Hawking, que hoje faz 70 anos, foi o terceiro convidado das palestras dos 50 anos da NASA. Palestras sobre a importância da exploração espacial, descoberta científica e desenvolvimento da aeronáutica na economia, saúde, educação e ambiente.
O seu discurso pode ler-se aqui. Destaco estas palavras como as mais importantes: “Porque deveríamos ir para o espaço? Qual é a justificação para realizar todo esse esforço e gas-tar esse dinheiro na obtenção de alguns pedaços de rocha lunar? Não existem causas melhores aqui na Terra? De certa forma, a situação foi assim na Europa antes de 1492. As pessoas podem muito bem ter argumentado que era um desperdício de dinheiro enviar Colombo num navio para mares desconhecidos. No entanto, a descoberta do novo mundo fez uma profunda diferença para o velho. [...] No espaço o efeito será ainda maior. Irá mudar completamente o futuro da raça humana [...]. Poderá não resolver nenhum dos nossos proble-mas imediatos na Terra, mas nos dará uma nova perspectiva sobre eles [...]. Esperamos que este desafio possa unir-nos para enfrentar um desafio comum. Esta seria uma estratégia de longo prazo[...]. Poderíamos ter uma base na Lua dentro de 30 anos ou chegar a Marte em 50 anos e explorar as luas dos planetas exteriores em 200 anos. Por “chegar”, quero dizer com o homem ou, devo dizer, vôo espacial com pessoas. [...] Ir para o espaço não será barato, mas consu-mirá apenas uma pequena proporção dos recur-sos mundiais. O orçamento da NASA tem-se man-tido mais ou menos constante em termos reais desde o tempo das Apollo, mas diminuiu de 0,3 por cento do PIB dos Estados Unidos em 1970,
para 0,12 por cento neste momento. Mesmo se tivéssemos que aumentar o orçamen-to internacional 20 vezes para fazer um esforço sério para ir para o espaço, seria apenas uma pequena fração do PIB mundial. Haverá aqueles que argumentam que seria melhor gastar o nosso dinheiro resolvendo os problemas deste planeta, mudanças climáticas e poluição, ao invés de desperdiçá-lo em uma bus-ca infrutífera por, possivelmente, um novo plane-ta. Não estou negando a importância do combate às alterações climáticas e o aquecimento global, mas podemos fazer isso com apenas 0,25% do PIB mundial para o espaço. O nosso futuro não valerá essa pequena contribuição?[...]“ Vale a pena ler o resto da palestra, que é sobre o surgimento da vida na Terra, a vida em outros planetas, OVNIs, etc. José Gonçalves
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Volume 2 Edição 1 ESPECIAL
Palestra do Prof. Stephen Hawking Palestra do Prof. Stephen Hawking
Numa rara passagem por Portugal por parte de
um astronauta (apesar de ser a segunda vez em
menos de um ano que teve a oportunidade de
conviver com alguém que já treinou ou participou
num voo espacial), Richard Linnehan falou das
odisseias espaciais de um astronauta numa pales-
tra intitulada “Space Odysseys” realizada no Cam-
pus de Gualtar da Universidade do Minho, Braga.
A palestra foi organizada pela Escola de Ciências
da Universidade do Minho em colaboração com a
Embaixada dos Estados Unidos da América. A
palestra inseriu-se num programa de visita à uni-
versidade minhota de uma delegação da embai-
xada norte-americana e da Texas A&M University,
da qual faz parte Richard Linnehan. A sua visita a
Portugal enquadrou-se na vinda de uma delega-
ção da Texas A&M University ao Colégio Pierre de
Coubertain, em Santa Maria da Feira, na perspec-
tiva de uma possível parceria entre estas institui-
ções no âmbito do programa STEM (Science,
Technology, Engeneering & Mathematics).
A palestra iniciou-se com uma breve apresenta-
ção por parte do reitor da Universidade do
Minho, António M. Cunha, seguida de uma breve
apresentação do orador por parte da Presidente
da Escola de Ciências da Universidade do Minho,
Estelita Rodrigues Vaz. Richard Linnehan, vetera-
no de quatro missões a bordo do vaivém espacial,
falou-nos em especial da sua última missão a bor-
do da estação espacial internacional (STS-123 em
Março de 2008) e dos trabalhos de reparação e
manutenção do telescópio espacial Hubble na
missão STS-109, em Março de 2002.
Percorrendo várias fotografias, Linnehan tirou
partido da sua formação como veterinário e
ambientalista para descrever com sensibilidade as
suas emoções em relação ao voo espacial e ao
nosso futuro como espécie exploradora. As foto-
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Janeiro 2012 ESPECIAL
As odisseias espaciais de Richard Linnehan As odisseias espaciais de Richard Linnehan
na Universidade do Minho na Universidade do Minho
Fotos: à Direita—Richard Linnehan. Crédito Wikipedia . À esquerda: Palestra na Universidade do Minho. Crédito Rui Barbosa.
grafias escolhidas mostravam vários aspectos do
seu treino espacial como das missões nas quais
participou, passando em revista algumas fotogra-
fias obtidas pelo telescópio espacial Hubble como
base de partida para explicar a necessidade de
uma excelência na educação científica e tecnoló-
gica.
A palestra teve como objectivo atrair os jovens
para a Ciência, tornando-os cidadãos interventi-
vos e que possam construir um futuro melhor.
Após a apresentação, Linnehan respondeu a
várias questões que versaram temas espaciais e
em especial a forma como os astronautas respi-
ram em microgravidade, a sua opinião sobre a
existência de vida no Universo para lá do nosso
planeta, as sensações que sentiu na sua primeira
missão espacial e a forma como se preparam os
astronautas para as actividades extraveículares.
Em termos pessoais foi para mim uma oportuni-
dade de conhecer de perto um astronauta norte-
americano e fiquei bastante surpreendido com a
abertura e disponibilidade de Richard Linnehan
em responder às perguntas colocadas. No final
todos tiveram a oportunidade de obter um autó-
grafo de Linnehan e de tirar uma fotografia pes-
soal com o astronauta que respondendo a uma
pergunta feita pelo Boletim Em Órbita e pelo
astroPT, referiu que gostava de voltar ao espaço
apesar de esta não ser uma decisão sua.
Para finalizar gostava de referir que para um anti-
go aluno da Universidade do Minho foi com muito
orgulho que vi a minha alma mater receber um
viajante cósmico e que pelo aspecto composto do
auditório onde decorreu a palestra, seria um tipo
de iniciativa a repetir no futuro.
O Médico Veterinário Richard M. Linnehan nas-
ceu a 9 de Setembro de 1957, em Lowell, Massa-
chusetts. Frequentou o ensino secundário em
Pelhan, New Hampshire, e recebeu o seu Bacha-
relato em Zoologia em 1980 pela Universidade do
New Hampshire. Posteriormente completou o seu
Doutoramento em Medicina Veterinária em 1985
pela Universidade Estadual do Ohio. Após com-
pletar o seu doutoramento, Linneham ingressou
na carreira veterinária e de seguida recebeu uma
bolsa de investigação por dois anos em medicina
animal e patologia comparativa no Jardim Zooló-
gico de Baltimore e na Universidade de John Hop-
kins.
Em 1989 ingressou no Exército dos Estados Uni-
dos, sendo comissionado para o Centro Naval de
Sistemas Oceânicos em San Diego, Califórnia, ten-
do aí executado as funções de veterinário clínico
no Projecto dos Mamíferos Marinhos.
Foi seleccionado para astronauta em Março de
1992 e em Agosto do ano seguinte completava o
treino e o curso que o qualificou como especialis-
ta de voo do vaivém espacial. A sua primeira fun-
ção como astronauta foi no Laboratório de Inte-
gração de Aviónicos do Vaivém Espacial.
Participou em quatro missões espaciais: STS-78 a
bordo do vaivém espacial OV-102 Columbia, uma
missão para estudar as ciências da vida e a micro-
gravidade; STS-90 (Columbia), uma missão para
estudar os efeitos da microgravidade no cérebro
e no sistema nervoso; STS-109 (Columbia), a quar-
ta missão de reparação e manutenção do telescó-
pio espacial Hubble; e STS-123 (OV-105 Edea-
vour), uma missão que transportou parte do labo-
ratório espacial japonês Kibo para a estação espa-
cial internacional.
Richard Linnehan passou mais de 59 dias em órbi-
ta e acumulou 42 horas e 11 minutos de experiên-
cias em seis actividades extraveículares.
Rui Barbosa
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Volume 2 Edição 1 ESPECIAL
Em Dezembro passado e a convite da Associação
Ambiental Amigos dos Açores, tive a oportunidade
de ministrar um Workshop sobre Astrofotografia e Paisagem Nocturna na ilha de São Miguel, nos Aço-
res. No final da noite e apesar das nuvens, juntei-
me ao Nuno Santos, organizador do evento e fomos até ao topo da cratera vulcânica onde tive a oportu-
nidade de fotografar numa longa exposição, a gran-
diosidade e esplendor da Lagoa das 7 Cidades.
É essa mesma imagem que partilho aqui com os lei-
tores, distinguida hoje como EPOD Earth Science
Picture of the Day na NASA.
Podem ver e aceder hoje 19-01-2012 directamente ao link do EPOD através de: http://epod.usra.edu/blog/
Posteriormente o link permanente da imagem será este: http://epod.usra.edu/blog/2012/01/lake-of-the-seven-cities.html
Em baixo partilho a imagem original publicada no
meu site.
Esta e outras imagens podem ser vistas no local do
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Janeiro 2012 ASTROFOTOGRAFIA
Lagoa das 7 Cidades fotografada por
Miguel Claro, é hoje Earth Science Picture
of the Day na NASA.
costume em: http://astrosurf.com/astroarte/skyscapes.htm
Miguel Claro
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Volume 2 Edição 1 ASTROFOTOGRAFIA
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Janeiro 2012 ASTROFOTOGRAFIA
AURORAS
Fotografia tirada por Antti Pietikäinen, na Finlândia.
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Volume 2 Edição 1 ASTROFOTOGRAFIA
Fotografia tirada por Antti Pietikäinen, na Finlândia.
Em 1º lugar gostaria de dizer que dos 4 canais generalistas em Portugal, e RTP é a que presta
um melhor serviço à população. Os outros
canais têm constantemente programas degra-dantes e diariamente vigaristas na televisão. A
RTP já teve também vigaristas diariamente con-
vidados, mas não sei se agora tem. Sei que tem programas bons. (por vigaristas, entenda-se
pessoas que mentem objetivamente à luz do
conhecimento, com vista a tirarem proveitos pessoais disso, como por exemplo a sua própria
auto-promoção na televisão).
No entanto, estava a fazer zapping há minutos atrás e vi o Júlio Isidro a entrevistar um suposto
astrólogo (não confirmei se o era, mas disseram
-me que sim – também não sei o nome da pes-soa) que só dizia asneiras. Fiquei irritadíssimo
com isso. Como é que, conscientemente, se
enganam milhões de pessoas que possam estar a ver o programa? É esse o objetivo da RTP?
Será isso a definição de serviço público?
Como fiquei piúrso, enviei imediatamente um e-mail ao Provedor do Telespectador.
Não sei se cairá em “saco roto”, mas gosto de
ser proactivo. Ainda tenho o idealismo de que se fizermos pelas coisas, as coisas até possam
mudar para melhor.
Ficarei à espera de resposta, e dar-vos-ei conhe-
cimento do que for acontecendo.
De qualquer modo, a resposta é-me indiferente. O que eu gostava mesmo é que passassem a
ensinar a população e não andarem a enganá-
las com entrevistas feitas a quem nada percebe do que diz.
Este foi o meu e-mail para o Provedor do Teles-
pectador.
Críticas são bem-vindas se acharem que da pró-xima vez deverei escrever de outra forma.
Se vocês também se queixarem, pode ser que
alguma coisa mude…
———————————
Caro José Carlos Abrantes,
O meu nome é Carlos Oliveira, sou educador
científico, com especialização na área da astro-biologia, e dou aulas na Universidade do Texas
em Austin.
A minha pergunta é simples: a RTP tem por objectivo fazer serviço público?
Se a resposta for positiva, então a minha per-
gunta é: o que entendem por serviço público? Será enganarem as pessoas?
Farto-me de ver darem tempo de antena a pes-soas que só enganam as pessoas, e isso revolta-
me.
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EDUCAÇÃO Janeiro 2012
RTP – serviço público?
Ainda agora acabei de ver um astrólogo no vosso canal, no programa A Festa é Nossa, a ser entre-vistado pelo conhecido Júlio Isidro, e só a dizer barbaridades, como por exemplo a mentira de que vai haver um alinhamento planetário a 21 de dezembro. Isto é comprovadamente mentira.
Serviço público não deveria ser mentir às pessoas. Mesmo que as pessoas que deveriam ser respon-sáveis se escondam atrás de “programa de entre-tenimento”. Os telespectadores assumem a infor-mação veiculada como verdadeira, e no entanto ela é mentira. As pessoas são enganadas, como o são muitas vezes que tenho visto no pouco tempo que estou de férias em Portugal, e como foram enganadas quando na TV deram tempo de antena
aos burlões das pulseiras quanticas (que já assu-miram ser tudo uma vigarice).
Porque não convidam pessoas com conhecimen-to?
Relembro que as televisões só existem, porque
existem cientistas. Nenhum vigarista alguma vez fez algo de positivo pela Humanidade. No entan-
to, pelos vistos, a RTP gosta de lhes dar tempo de
antena para eles enganarem e manipularem a população.
Com os melhores cumprimentos e os votos que a RTP melhore a qualidade dos seus entrevistados,
Carlos Oliveira
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Volume 2 Edição 1 EDUCAÇÃO
As marés
Já publicamos no nosso blog a explicação da exis-tência das marés. Também explicamos que não se trata de um processo divino.
A maré é causada pela atra-cão gravita-cional do Sol e da Lua. A influência da Lua é bastante superior devido a distância à Terra ser menor do
que da Terra ao Sol, apesar da massa da Lua ser muito menor que a da nossa estrela. Matematicamente a maré
é uma soma de sinusoides (ondas constituintes) cuja periodicidade é conhecida e depende exclusi-vamente de fatores astronómicos. A onda formada pelas marés é mais alta na posi-ção onde se encontra a Lua, devido à atração gra-vitacional. Contudo, no lado oposto da Terra, a inércia excede, em módulo, a força devido à Lua, conforme princípio da ação-reação proposto por Newton, causando assim a mesma elevação nas águas nesse lado oposto. Devido à lei de ação e reação da terceira lei de Newton (além da força centrifuga), a maré ira subir do outro lado da ter-ra tanto quando sobe no lado que está próximo a da lua. Para saber mais: curiofisica, hidrografico.pt e APRH.
Deixo-vos este pequeno vídeo com a explicação das marés e o que poderia acontecer se a Lua estivesse mais próxima (clicar em cc para ativar as legendas e escolha português) Ver aqui. José Gonçalves
Crédito: APRH
O website PhDcomics oferece uma série de tiras engraçadas sobre a vida dos estudantes que estão a realizar os respectivos doutora-mentos.
Este último número é uma obra prima para todos aqueles apaixonados pela Física (LOL), “Diagramas de Feynman nas Interações Aca-démicas” (imagem à direita).
Ver também o Quantum Gradna-mic aqui, aqui, e aqui. Também, vale a pena ver as Leis de Newton para a Gradua-ção aqui, aqui, e aqui.
Nota: Esta tira foi lançada no dia 11 de Janei-ro, curiosamente quando o filme esteve em Portugal (Universidade Nova de Lisboa).
Nota2: Curiosamente, o filme vai estar na Universidade do Algarve no dia 15 de Feve-reiro (21h).
Vejam o vídeo do trailer aqui.
José Gonçalves
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EDUCAÇÃO Janeiro 2012
Imagem: Feynman. Crédito Caltech.
Diagramas de Feynman no PHDcomics
(humor)
Cientistas replicaram em laboratório o que se pensa
que podem ter sido os primeiros passos na transi-
ção de um organismo unicelular para multicelular.
Os cientistas realizaram as experiências usando a
comum levedura de cerveja, um organismo unicelu-
lar.
Os resultados obtidos, que estão a entusiasmar os
biólogos em todo o mundo, foram publicados esta semana na revista Proceedings of National Academy
of Sciences (PNAS).
O que está a espantar os cientistas foi a facilidade com que o processo se desencadeou. Aos biólogos
bastou uma experiência realizada durante 60 dias
utilizando células de levedura, meios de cultura e uma centrifugadora. Tudo indica portanto, que a
conclusão a tirar das experiências é que a passagem
de um ser unicelular para um ser multicelular pode ser muito menos complexa do que se julgava. Para realizarem as experiências, os cientistas esco-lheram a comum levedura de cerveja (saccharomyces cerevisiae), que é um organismo eucariota unicelular e que é utilizada em diversas indústrias como a indústria de panificação ou a de produção de bebidas como a cerveja. As células foram inicialmente adicionadas a um meio de cultu-ra rico em nutrientes para que pudessem crescer durante um dia em tubos de ensaio. Depois usando uma centrifugadora, fize-ram a separação de aglomerados de células, que por serem mais pesados desceram mais rapi-damente para o fundo do tubo de ensaio. Os cientistas
removeram então estes aglomerados para um novo meio de nutrientes agi-tando-o e recome-çando novamente o ciclo. Sessenta ciclos depois, os aglomerados cons-tituídos por centenas de células, apresentavam uma estrutura do tipo “floco de neve” com uma forma aproximadamente esférica.
A análise demonstrou que os aglomerados de célu-las não eram apenas um conjunto de células que se
tinham juntado aleatoriamente, mas sim que eram
um grupo de células inter-relacionadas por divisão celular e que em conjunto cooperavam, reprodu-
ziam-se e adaptavam-se ao meio ambiente forman-
do assim um “corpo” multicelular.
Os cientistas estimam que a multicelulariedade terá
evoluído no passado de um modo independente em
25 grupos. Travisano e Ratcliff, dois dos cientistas autores deste estudo, interrogam-se sobre a razão
de serem tão poucos uma vez que o processo pare-
ce ser relati-vamente sim-
ples e duran-
te milhões de anos viveram
na Terra
biliões de organismos
unicelulares. Mais informa-ção poderá ser obti-da aqui. Pedro Seixas
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Volume 2 Edição 1 EDUCAÇÃO
Cientistas replicam possíveis primeiros passos da transição
de um organismo unicelular para multicelular
PUB
AstroPT
alojado por: Grifin
http://www.grifin.pt/
O site Science, Reason and Critica Thinking é um baú de tesourinhos…e não são daqueles depri-mentes! Para além de uma original tabela periódica, da qual já falamos aqui, podemos encontrar tam-bém este fantástico mapa da história da Ciência Moderna, criado “para celebrar os feitos do méto-do científico ao longo da idade da razão, do ilumi-nismo e da modernidade”:
Notem que, se entrarem na página original do mapa, para além de poderem ver todos as “linhas” em detalhe, poderão também ver infor-mação relativa a cada cientista mencionado. E estão lá todos os grandes nomes dos principais
ramos da Ciência Moderna (pós séc. XVI)! Mas, para mim, o mais interessante são as “conexões” entre as “linhas” pois a Ciência Moderna, apesar do alto grau de especialização individual, vive também da interdisciplinaridade. Apesar de ser hoje raro encontrar “naturalistas” a laséc. XIX, que estudem o mundo natural, desde a geologia, à biologia, passando pela química, (como Charles Darwin), assiste-se também ao renascer da importância da colaboração alargada entre disciplinas e do conhecimento menos estan-que.
Este mapa reflete uma história maravilhosa!
Diana Barbosa
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EDUCAÇÃO Janeiro 2012
A Ciência no mapa do metro
Mapa da história da ciência moderna
Não, não vou falar de futebol, nem especifi-camente do Benfica, do Barcelona, das equi-pas do Mourinho, ou do que seja. Vou falar sim das Conferências Solvay que reuniam uma equipa dos mais consagrados cientistas do mundo.
Quiçá a mais famosa de todas foi a 5ª Confe-rência Solvay, em 1927. 17 dos 29 participantes possuíam ou recebe-riam o Prémio Nobel. Foi um verdadeiro “dream team” da ciência.
Piccard, E. Henriot, P. Ehrenfest, E. Herzen, Th. De Donder, E. Schrödinger, J.E. Verschaf-felt, W. Pauli, W. Heisenberg, R.H. Fowler, L. Brillouin; P. Debye, M. Knudsen, W.L. Bragg, H.A. Kramers, P.A.M. Dirac, A.H. Compton, L. de Broglie, M. Born, N. Bohr; I. Langmuir, M. Planck, M. Skłodowska-Curie, H.A. Lorentz, A. Einstein, P. Langevin, Ch. E. Guye, C.T.R. Wilson, O.W. Richardson.
Esta Conferência Solvay teve a melhor equipa de sempre de mentes brilhantes. Uma equipa de ver-dadeiros génios. A foto mostra a Dream Team da Intelectualidade da altura.
Se existe algum gráfico com o índice de inteligência ao longo dos tempos por todo o mundo, esse gráfico atingiu certamente o seu ponto mais alto nesta confe-rência.
Se viajar no tem-po vier a ser possível, este será certamente um local e tem-
po a visitar. Para quem venera a inteligência, estar nesta confe-rência, na presença de diversas mentes absurda-mente inteligentes, será certamente melhor que marcar um golo (e já dizia Fernando Gomes, famoso ponta de lança do FCP e bi-bota de ouro, que mar-car um golo é como ter um orgasmo). Neste caso, assistir a esta Conferência Solvay em 1927 seria um momento ímpar de prazer intelectual.
Carlos Oliveira
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Volume 2 Edição 1 EDUCAÇÃO
A melhor equipa do Mundo
Já aqui referimos
por várias vezes no
blog a importância da Ciência. Até no
contexto de crise,
ela é extremamen-te importante, por
vários motivos.
Primeiro, ensina-nos a olhar para
este período com
outros olhos para resolver ou contor-
nar os problemas
(criatividade). Segundo, evita que
sejamos engana-
dos por diversos agentes que ope-
ram de diversas
maneiras, para retirar de nós o pouco que já temos. Terceiro, é
nela que devemos depositar a esperança e inves-
timento, pois é na Ciência que surgirá novas tec-nologias, empregos, desenvolvimento, etc.
A meu ver desinvestir na Ciência, é um grave peri-
go para qualquer sociedade. Para além de sermos ultrapassados por outras nações que estejam eco-
nomicamente bem, corre-se o perigo de não ter-
mos como produzir no futuro devido à mão de obra que ficou obsoleta.
Por isso, neste momento negro da nossa nação, um ponto importante: Invistam na vossa forma-
ção, mesmo que economicamente não possam
dispensar algum dinheiro, existe inúmeras manei-ras (principalmente através da leitura) e ações
gratuitas para que aumentem a vossa literacia.
Inclusivé recorram à leitura do material que vós é
deixado aqui no blog ou nas nossas revistas.
É claro que isto só não chega. É necessário garan-
tir a gerações futuras melhores condições dos que
as que existem hoje. Para isso, os nossos gover-nantes devem apostar em áreas científicas.
Assim, teremos técnicos qualificados para futuros
empregos e cientistas que poderão dar o seu con-tributo às empresas para a sua verdadeira moder-
nização e expansão.
Investir na Ciência é uma garantia de completo retorno.
Veja o vídeo, sobre a importância da Ciência, aqui.
José Gonçalves
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EDUCAÇÃO Janeiro 2012
Ciência, ilumina-me!
Apesar de estar designada como
Gama do Touro, esta estrela é
apenas a décima mais brilhante da constelação. É a estrela que marca
o vértice do alinhamento em for-
ma de “V” do Touro. Seu nome, em latim, significa “A primeira das
Hyades”.
As Hyades, assim como as Plêia-des, são aglomerados visíveis a
olho nu. As estrelas das Hyades
fazem parte do aglomerado este-lar aberto mais próximo da Terra,
conhecido desde a pré-história.
As Hyades têm origem na mitolo-gia grega, filhas de Atlas e Etra. Segundo a lenda, depois da morte de seu irmão Hyas, suas irmãs, as Hyades, choraram tanto a sua morte que acabaram morrendo de tanta pena. Zeus, o chefe dos deuses, em reconhecimento a este amor, compadeceu-se das irmãs e transformaram-nas em estrelas, colocando-as na cabeça do Touro, cujo surgimento coinci-dia com o périodo de abundantes chuvas.
Saulo Machado
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Volume 2 Edição 1 EDUCAÇÃO
Hyadum Primus, por que te chamam
assim?
Chegamos à estrela mais brilhante do Touro depois
de Aldebaran, chamada Elnath.
Ela se situa um pouco afastada do alinhamento que corresponde à
face do Touro, o notável “V” que
surge no alto do céu, nas noites após o solstício de dezembro.
Esta estrela faz parte de um aste-
rismo bem conhecido entre os astrônomos, o Pentágono do
Cocheiro, formado por quatro
estrelas principais dessa constela-ção, mais a estrela Elnath, for-
mando assim a tal figura geomé-
trica. De fato, em atlas antigos a estrela Elnath era designada
como Gamma Aurigae (Gama do
Cocheiro). Esta situação é praticamente a mesma da estrela Alfa de Andrômeda
(Alpheratz), que antigamente
era designada como pertencen-te ao Pégaso, já que ela é mais
notável como integrante do
Quadrado de Pégaso.
Fazendo retas partindo de Alde-baran e Epsilon Tauri até Zeta Tauri e Elnath, respectivamente, conseguimos reproduzir os chi-fres da cabeça do Touro. Daí a origem do nome “Elnath” (variante: Alnath), que significa, em árabe, “o que chi-fra” ou “o chifre” do Touro.
Saulo Machado
Elnath, por que te chamam assim?
Um íman de 900 MHz serviu para desvendar
como ocorrem as mutações numa proteina espe-
cífica do vírus da gripe. O estudo concentrou-se na proteína M2, um canal iónico transmembranar
importante para a descapsidação e libertação dos
segmentos genómicos do vírus. Os actuais antivirais gripais, como a Amantadina e a Rimantadina, inibem o fluxo proteico pela M2 e impedem, dessa forma, a descapsidação. Outros antivirais focam-se nourtras proteínas, com outras estratégias.
“Ao longo dos anos, as alterações [mutações] na
forma da M2 permitiram que a proteina conseguisse escor-
regar por entre as tampas e
evitar a erradicação” e por este motivo foi recomendada
a não utilização dos antivirais
focados na M2.
O íman de 40 toneladas for-
nece uma visão interna do vírus. “O campo magnético
gerado pela espectroscopia
de ressonância magnética nuclear (RMN) é capaz de
torcer e girar outros elemen-
tos além do hidrogénio, pos-sibilitando captar a imagem
das proteínas que não vivem
no meio aquoso. Além disso, as amostras podem ser con-
geladas”. Recentemente Timothy A. Cross descobriu que a proteí-na M2 tem de ser activada por um ambiente ácido. Dois
aminoácidos, histidina e triptofano, activam o processo da seguinte forma:
Histidina carrega protões da célula hospedeira para o interior viral. O triptofano funciona como
portão e abre quando os protões, encaminhados
pela histidina, chegam.
“O mecanismo da M2 é único. “Talvez possamos
desenvolver um remédio que atinja especifica-
mente essa novidade química”” (podem ler aqui)
Dário Codinha
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LITERACIA CIENTÍFICA Janeiro 2012
Íman Revela Mutações
Volta e meia, tumba! Lá levo eu com a cena da
“mente aberta”. É preciso ter a mente aberta
dizem.
Mas eu, como sei o que – quase sempre – lá que-
rem atirar para dentro, tenho muito cuidado com
essa coisa da mente aberta.
Assim, para abrir a porta a tudo e mais alguma
coisa, não dá. Isso é o equivalente cognitivo a dei-
xar o carro parado no cais-do-sodré todas as noi-
tes, com as portas abertas e dinheiro no porta-
luvas para a gasolina.
É que “mente aberta” para mim, significa ser
capaz de aceitar as evidências; significa ter sede
de procurar demonstrações sólidas, vontade de
conhecer resultados experimentais, e ser capaz
de os aceitar mesmo que não sejam o que nós
esperávamos. Significa também hierarquizar a
evidência pelo que vale e não pelo que queremos
acreditar.
“Mente aberta” definitivamente não é acreditar
em tudo o que alguém propõe. Não é dar um
bilhete de ida ao espirito crítico e mandar a lógica
e os factos conhecidos verem se chove. Toda a
gente, de um modo ou de outro, escolhe as coisas
em que acredita. A minha proposta é que o crité-
rio, em vez de ser a sensação visceral que uma
ideia nos causou ou o pedido de credulidade do
apresentador, seja a ponderação consciente e
informada sobre a matéria em causa. Que seja a
qualidade da justificação. Que seja a qualidade da
resposta à pergunta: “como sabes isso?” Se a res-
posta é outro apelo à credulidade, ou porque era
bom que assim fosse ou porque há muita coisa
que ainda não se sabe (apelo à ignorancia) que é
a norma nos auto-intitulados abertos de mente
(pelo menos quando o termo vem à baila), esta-
mos mal.
Eu até poderia dizer que se isso é a tal “mente
aberta” não me faz falta uma mente aberta. Mas
é o próprio uso do termo que está errado. Mente
aberta sim, mas com espírito crítico.
Quem diz ter mente aberta com tanta prontidão,
(normalmente para impingir as coisas que diz
requererem mente aberta), está a rejeitar outras
ideias muito mais plausíveis sobre o mesmo
assunto e que se refutam mutuamente. E quem
achar que tudo o que passa pela cabeça de
alguém é verdade e que é verdade tudo ao mes-
mo tempo, bem… Recomendo as melhoras.
João Coutinho
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Volume 2 Edição 1 LITERACIA CIENTÍFICA
A mente aberta!
O meu ultimo “post” foi sobre a
“mente aberta” e como eu vejo a
utilização desse termo, por isso ago-
ra faz sentido “postar” um sobre a
mente fechada. Aqui vem ele:
Tal como na “mente aberta” em que o que se deveria ter em considera-ção quando se usa o termo, não é ser a mente que aceita toda a carga de diferentes ideias – porque aca-bam por formar uma teia inconsis-tente e disfuncional de conceitos – na “mente fechada” também não é a mente que não aceita nunca ideias novas que será pertinente.Isso seria a “mente bafienta” e já é um eufe-mismo. Não conheço casos em que se aplique, felizmente. Mas mentes fechadas, sim. É bastante frequente observa-las fecharem-se mesmo frente às ideias mais bem fundamentadas e assim fica-rem até sabe-se lá quando. Por isso penso que é preciso distinguir entre não aceitar ideias novas, (ou poucas) e aceitar apenas as ideias novas de que gostamos. É o caso da mente fechada de Linaeus. Tem à priori uma expectativa que tem de ser observada e sem investigação especifica sobre o tema em causa, faz uma opinião. Não aceita o que não gosta e fundamenta-se no que quer acre-ditar. Considera que o que lhe parece deve ser e que a sua opinião tem o mesmo valor que um argumento cientifico ou filosófico. Provavelmente vou ser queimado vivo por isto… Mas a verdade é que *opinando* não é uma forma segura de construir conhecimento. É verdade que cada um tem direito a ter a sua opinião, mas mesmo este facto, de que cada um tem direito a ter a sua, devia chamar a atenção para que o conhecimento
opinativo, do senso comum, não tem valor enquanto conhecimento rigoroso. A não ser que cada um tenha direito à sua própria realidade.
Toda a gente tem direito às suas próprias opi-
niões, mas não aos seus próprios factos, leis e
teorias. Ou funcionam ou não funcionam. Ou fun-cionam mal. Mas seja como for, opinar não é a
ultima palavra no mundo do conhecimento. É a
primeira. É a que se tem quando não se sabe melhor que isso. Pode fazer falta, mas quando há
melhor é preciso ter a mente aberta. Durante
milénios não houve melhor. Durante 200.000 anos o homem não teve mais que senso comum e
a sua opinião para o guiar. A escrita tem menos
de 7000 anos e o conhecimento transmitido oral-mente é uma lotaria.
Mas agora tem mais. Tem a filosofia desde a Gré-
cia Antiga e a ciência desde Galileu.
Por isso, penso que o problema está em parte em
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LITERACIA CIENTÍFICA Janeiro 2012
As mentes fechadas
achar que ninguém deve saber melhor que isso, que a opinião própria, sobretudo quando se trata
da nossa opinião. Uma crença que em si deve ter
dado segurança e determinação a milhares de homens durante milhares de anos.
É uma coisa relativamente nova poder dispor de tanto conhecimento que é melhor que o opinati-
vo. Há quem considere que a inteligencia é preci-
samente a capacidade de adaptação a situações novas do ponto de vista evolutivo. Passar a pes-
quisar o que dizem os especialistas, o que está
provado com rigor, como se pode saber o que se sabe, pode muito bem ser em si um sinal (mas
não o unico!) de inteligência nessa perspectiva. Se
não, pelo menos de “mente aberta”.
A “mente fechada” caracteriza-se não só por não
estar aberta a avaliar imparcialmente as evidên-
cias como a não estar sequer aberta à sua pesqui-sa. Prefere fazer julgamentos rápidos menos
informados a lentos e mais informados (dantes
não era uma opção) e não obstante isso insiste que o seu, por ser seu, é o melhor.
A mente fechada recusa-se a ir mais longe que a opinião. Por preguiça, ignorância, teimosia ou
impotência, escolhe defender uma opinião qual-
quer, que pareça simpática, e não está aberta a estudos sistemáticos, argumentos difíceis de per-
ceber (sobretudo se envolverem matemática), ou
que pura e simplesmente requeiram muita apren-dizagem nova.
Frequentemente recorre a raciocínios falaciosos
sem dar conta disso e considera um exotismo gro-tesco que se apontem falácias, não gosta que se
critiquem as suas ideias – considera-as uma coisa
pessoal – e até acha que a ciência ou a filosofia são uma questão de opinião. Aceita testemunho
individual como evidencia forte, confunde caris-
ma com autoridade, e vê facilmente relações de causalidade em coisas que tenham uma sequên-
cia temporal.
No entanto se lhes perguntarem, às mentes
fechadas, se a realidade é uma questão de opi-
nião, a maioria dirá que não. Mas isto não os fará enveredar por uma sede de investigação, procura
de conhecimento ou coisa do género. Como se o
conhecimento fosse a coisa mais bem distribuida deste mundo, e algo que nunca falta, estão sem-
pre satisfeitas com o que têm e com a qualidade
dos seus argumentos. Argumentos esses que lhes parecem bons desde que sejam a defender a ideia
que já tinham antes. Coisa que devia era ser ao
contrário – ter uma ideia porque é suportada por bons argumentos.
Mesmo quando proferem o seu mais potente argumento: “Porque eu acredito” ou “porque eu
sei”, não se dão conta da inversão lógica. E este é
o sinal patognomónico da “mente fechada”. É o considerar a sua opinião um argumento em si.
Que acreditar é o ponto de partida para formar
conhecimento – numa confusão desastrosa entre mapa e território. Está errado. Depois é envere-
dar numa odisseia de confirmation bias” e temos
a mente fechada feita de ideias… Fechadas? Sim, é o termo correcto. Fechadas a serem testadas.
As coisas não são como são só porque nós gostá-
vamos que fosse assim, fosse bom que fosse assim, acreditamos que é assim ou até que devia
ser assim.
Dá trabalho, e às vezes não está ao nosso alcance
perceber tudo. Mas sinceramente. Vale a pena.
Agora uma nota importante: A “mente fechada”
de Linaeus, como digo a brincar, caracterizada por
todos estes pontos o tempo todo, é uma abstrac-
ção. Não corresponde a ninguém. É um exagero
para tentar caricaturizar um estereótipo de com-
portamento e um estado mental, não tanto de
carácter - felizmente a mente fechada é algo que
não ocorre o tempo todo mesmo nas mentes
mais susceptíveis. Pelo menos que eu tenha pre-
senciado.
João Coutinho
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Volume 2 Edição 1 LITERACIA CIENTÍFICA
O Experimento Belle (que realiza colisões entre electrões e positrões) pertercente ao High Energy Accelerator Research Organization (KEK), Japão, descobriu dois novos hadrões, conten-do quarks botton. Estas novas partícu-las têm carga elétrica e pensa-se que sejam hadrões “exóticos” (não-padrão), contendo pelo menos quatro quarks (por exemplo, o protão é constituído por três quarks). Anteriormente, uma série de novos e inesperados hadrões “exóticos” contendo quarks charm e an-ticharm
foram observados. Esta última descoberta demonstra a existência de hadrões exóticos contendo pelo menos qua-tro quarks, num sistema de partículas, incluin-do quarks bottom.
O Experimento Belle descobriu inesperadamente
estas duas novas partículas. Estas partículas,
denominadas Zb, contêm um quark bottom (o
segundo quark mais pesado entre
Página 22
FÍSICA Janeiro 2012
Os novos e pesados Hadrões exóticos
Figure 1. Existing standard hadrons and exotic hadrons. At the B Factory experiment, a series of new exotic mesons containing
charm quarks (c) have been discovered. Unlike these exotic mesons, the newly discovered Zb particles contain bottom quarks (b)
and have an electric charge. If only one bottom quark and one anti-bottom quark ( b ) are contained, the resulting particle is elec-
trically neutral. Thus, the Zb must also contain at least two more quarks (e.g., one up quark (u) and one anti-down quark ( d )).
Credit: PhysOrg
Vida baseada no arsénio?
os conhecidos seis tipos de quarks) e um quark
anti-bottom. Além disso, apresentam carga elétri-
ca e, portanto, pensa-se que tenham mais
dois quarks adicionais (para além dos quark bot-
tom e anti-bottom), ligados entre si, perfazendo
um total de quatro quarks.
Uma grande quantidade de dados foi obtida nas colisões entre o electrão e o positrão, que teve o
valor mais elevado de luminosidade conseguido
até ao momento.
Podem ler mais sobre assunto no PhysOrg.
José Gonçalves
Página 23
Volume 2 Edição 1 FÍSICA / VIDA
Figure 2. Production of Zb in an electron-positron collision. Immediately after being produced, the Zb decays into a bottomo-
nium ( Υ or hb) and a charged pi meson (π±). The bottomonium then decays into a pair of muons (μ±), which are subsequently
measured with a detector.
Lembram-se da notícia revolucionária da desco-berta de vida baseada no arsénio? Relem-brem, aqui. E lembram-se de todas as críticas que se segui-ram? Relembrem, aqui. Um novo estudo, liderado pela conhecida Rosie Redfield, falhou na sua confirmação da experiên-cia anterior da Felisa Wolfe-Simon. A Redfield conclui da sua experiência que: “Their most striking claim was that arsenic had been incorporated into the backbone of DNA, and what we can say is that there is no arsenic in the DNA at all”. Mas a Wolfe-Simon ripostou dizendo que quer ver essas experiências publicadas, após peer-
review, já que o blog da Redfield é insuficiente para retirar conclusões. Entretanto, há algumas diferenças nas expe-riências, que poderão fazer com que a conclusão da Redfield ainda não acabe com todo o debate. Leiam os detalhes na Scientific American. Isto é ciência em movimento. Carlos Oliveira
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FÍSICA
Mais um passo para a Fusão Nuclear Usando um sistema de aquecimento, os físi-
cos conseguiram pela primeira vez prevenir o
desenvolvimento de instabilidades no plasma, de
uma forma alternativa e eficiente, para o reator de
fusão nuclear do futuro. É um passo importante no
esforço para a construção do reactor ITER.
in PhysOrg
A fusão nuclear é uma tentativa de produzir energia
como acontece no Sol, num reator aqui na Terra. O
gás é aquecido a uma temperatura extremamente
elevada e cria um plasma. Por vezes no plasma, apa-
recem instabilidades e cresce o suficiente para per-
turbar o plasma. O desafio foi reduzir essas instabili-
dades no interior do plasma de modo a que estas
não aumentassem, permitindo ao mesmo tempo o
normal funcionamento do reator .
Os cientistas recorreram à utilização de antenas,
como parte do sistema para aquecer o plasma. As
simulações e os testes demonstraram que esse
aquecimento e supressão de instabilidades é possí-
vel, apontando a radiação ligeramente desviada do
centro do plasma.
Estas melhorias poderão ser implementadas no rea-
tor de fusão nuclear ITER.
Seguir o link para saber mais sobre fusão.
Ver o vídeo aqui.
José Gonçalves
Janeiro 2012
Uma equipa de astrónomos, maioritariamente do Centro de Astrofísica da Universidade do Por-to (CAUP) detetou uma zona com um grande aglomerado de jatos, que indicam um local de intensa formação estelar. O local observado fica na direção da constelação do Cisne, próximo da estrela Deneb.
As estrelas nascem em grandes aglomerados de
gás e poeira, também conhecidos por nebulosas
moleculares. Quando o gás se começa a contrair por efeito da gravidade, nasce uma nova estrela.
No entanto, pouco depois de se acenderem, estas
estrelas jovens (ou protoestrelas) estão ainda escondidas pelo gás e poeira da nebulosa que
lhes deu origem.
Mas as protoestrelas continuam ainda a atrair
material do disco que sobrou em sua volta. Ao
interagir com os fortes campos magnéticos da estrela, a matéria do disco pode ser acelerada até
velocidades supersónicas, e acaba por ser ejetada
pelos polos.
As violentas ondas de choque destes jatos bipola-
res (são emitidos a partir de ambos os polos) com
o meio interestelar acabam por comprimir o gás que o compõe, formando moléculas de hidrogé-
nio, que brilham intensamente na banda do infra-
vermelho. Estes jatos bipolares são por isso autênticos faróis que assinalam a presença de
estrelas recém-nascidas. Na banda do infravermelho, é possível ainda observar “através” das zonas escuras, para ver as estrelas recém-formadas. E com observações levadas a cabo pelo telescópio espa-cial Spitzer (NASA) e pelo telescópio Zeiss de 3,5 metros (Calar Alto), os astrónomos do CAUP dete-taram um imenso aglomerado de jatos e respeti-
vas protoestrelas.
Jorge Grave, um dos investigadores do CAUP envolvidos nesta investigação, comentou: “O que torna esta imagem especial é o facto de nela ver-mos uma concentração de dezenas de jatos numa região relativamente reduzida. Como os jatos são característicos de uma etapa do processo de for-mação estelar, podemos inferir que todas as estrelas responsáveis pela libertação desses jatos estão no mesmo estágio de evolução e provavel-mente ter-se-ão formado simultaneamente.”
Para obter esta imagem foi necessário capturar
toda a enorme nebulosa, o que resultou em
várias centenas de imagens. Estas foram depois analisadas individualmente pela equipa, até final-
mente chegarem a uma imagem de pormenor,
onde os jatos aparecem a verde, enquanto as pro-toestrelas aparecem a vermelho.
Esta imagem é uma composição de 3 filtros, obti-
dos na banda K (Azul) e H2 (verde) pelo telescópio Zeiss de 3,5 metros do observatório de Calar Alto,
e em 8 microns (vermelho) pelo telescópio espa-
cial Spitzer (NASA). Na imagem vêem-se os jatos (a verde) e protoestrelas (a vermelho), na nebulo-
sa molecular na direção da constelação do Cisne. Este texto é uma reprodução do comunicado de imprensa do CAUP. CAUP
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Volume 2 Edição 1 COSMOLOGIA
Intensa formação estelar na constelação
do Cisne
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COSMOLOGIA Janeiro 2012
A nova imagem da Nebulosa Ómega,
obtida pelo Very Large Telescope do
ESO (VLT) é uma das imagens mais
nítidas deste objeto, captada a partir
do solo.
A imagem mostra as regiões centrais
cor de rosa e brumosas desta famosa
maternidade de estrelas e revela com
um detalhe extraordinário a paisagem
cósmica composta por nuvens de gás,
poeira e estrelas recém-nascidas.
O gás colorido e a poeira escura da
Nebulosa Ómega servem de matéria
prima na criação da próxima geração
de estrelas. Nesta região particular da
nebulosa, as estrelas mais jovens –
brilhando de forma ofuscante em tons
branco-azulados – iluminam todo o
conjunto. As zonas de poeira da nebu-
losa, semelhantes a brumas, contrastam visivel-
mente com o gás brilhante. As cores vermelhas
dominantes têm origem no hidrogénio, que brilha
sob a influência da intensa radiação ultravioleta
emitida pelas estrelas quentes jovens.
A Nebulosa Ómega tem muitos nomes, depen-
dentes de quem a observou, quando e do que jul-
gou ter visto. Entre esses nomes inclui-se: Nebu-
losa Cisne, Nebulosa Cabeça de Cavalo e ainda
Nebulosa Lagosta. Este objeto foi também catalo-
gado como Messier 17 (M17) e NGC 6618. A
nebulosa situa-se a cerca de 6500 anos-luz de dis-
tância na direção da constelação de Sagitário. Um
alvo bastante popular entre os astrónomos, este
campo de poeira e gás brilhante é uma das mais
jovens e mais ativas maternidades estelares na
Via Láctea, onde nascem estrelas de grande mas-
sa.
Leiam todo o artigo, na página do ESO.
Para ver o vídeo ir aqui.
Carlos Oliveira
O núcleo brumoso e cor de rosa da
Nebulosa Ómega
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Volume 2 Edição 1 COSMOLOGIA
A Grande Nuvem de Magalhães é uma das galáxias satélites da Via Lác-tea.
Encontra-se a cerca de 160.000 anos-luz de distân-cia. Em luz visível, ela é vis-ta assim (imagem em cima). Em infraverme-lho, ela é vis-ta assim: (imagem à esquerda). Carlos Oliveira
Grande
Nuvem de
Magalhães
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COSMOLOGIA
Já falamos da Nebulosa da Águia, neste post.
Agora trago a mesma Nebulosa, mas vista em
infravermelho (pelo telescópio Herschel) e em
raios-X (pelo telescópio XMM-Newton).
Carlos Oliveira
Nebulosa da Águia
Janeiro 2012
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Volume 2 Edição 1 COSMOLOGIA
E a mesma imagem, em vários comprimen-
tos de onda (imagem à direita).
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SISTEMA SOLAR Janeiro 2012
Ontem, três gigantescas colu-
nas de plasma elevaram-se vio-
lentamente da superfície do
Sol a uma altitude superior a
200 mil quilómetros! O fenó-
meno teve origem numa erup-
ção classe C2 ocorrida na
região activa 1384, agora loca-
lizada além do extremo oeste
do disco solar. O Solar Dyna-
mics Observatory registou toda
a acção numa espectacular
sequência de imagens. Vejam:
o vídeo aqui
A erupção gerou uma ejecção
de massa coronal numa direc-
ção perpendicular à da Terra,
pelo que não deverá provocar
quaisquer efeitos no campo
magnético terrestre.
Sérgio Paulino.
SDO observa três gigantescas proeminências solares
Três grandes proeminências solares no extremo oeste do disco solar. Imagem obtida a 02 de Janeiro de 2012 pelo instrumento
Atmospheric Imaging Assembly (AIA) do Solar Dynamics Observatory, através do canal de 304 Å (He II). Foi incluída no lado
direito da imagem uma representação da Terra à escala para comparação de dimensões.
Crédito: SDO (NASA)/AIA consortium/NASA (imagem da Terra)/montagem de Sérgio Paulino.
PU
BP
UB
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Volume 2 Edição 1 SISTEMA SOLAR
A sonda Cassini iniciou o ano de 2012 com várias sessões de observação dedicadas à atmos-fera superior de Saturno, com o objectivo principal de estudar a sua opacidade a comprimen-tos de onda particulares na banda do infravermelho próxi-mo. Deixo-vos aqui uma das mais recentes imagens de uma dessas sessões. Imagem: Saturno em cores fal-sas, visto pela sonda Cassini no passado dia 07 de Janeiro de 2012. Foram combinadas neste retrato do planeta três ima-gens obtidas na banda do infra-vermelho próximo, através de filtros sensíveis a diferentes graus de absorção do metano (727 nm, 752 nm e 890 nm). As cores vermelha e laranja cor-respondem a nuvens localiza-das em camadas profundas da atmosfera. As nuvens das camadas intermédias surgem coloridas de amarelo e verde, enquanto que as nuvens mais altas e as camadas de neblina da atmosfera superior surgem
tingidas de azul e branco. Os anéis aparecem coloridos de azul porque se encontram fora da atmosfera (o seu brilho não é afectado pela absorção de luz pelo metano atmosférico).
Crédito: NASA/JPL/Space Scien-ce Institute/composição a cores de Sérgio Paulino. Sérgio Paulino
Saturno em infravermelho
Em 2030, pode ser que veja-mos o AVIATR (Aerial Vehicle for In-situ and Airborne Titan Reconnaissance) a voar pela lua Titã…
Carlos Olivei-ra
AVIATR
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Adeus Lovejoy !
SISTEMA SOLAR
Conforme foi noticiado aqui pelo Sérgio Paulino, o cometa Lovejoy (designado oficialmente de C/2011 W3) foi descoberto fotograficamente pelo astrónomo amador australiano Terry Lovejoy no dia 27 de Novembro de 2011. Na altura o cometa tinha apenas magnitude 13 e não era de anteci-par o espectáculo que viria a proporcionar um mês depois.
Observações subsequentes, ao longo dos dias
seguintes, permitiram calcular a sua órbita com
precisão cada vez maior e foi com grande surpre-sa que os astrónomos verificaram que se tratava
de um cometa da chamada Família de Kreutz, o
primeiro a ser descoberto a partir da Terra em 40 anos. A Família de Kreutz é constituída por um
conjunto de cometas com órbitas muito seme-lhantes e caracterizadas por terem
distâncias ao Sol no periélio extrema-
mente pequenas. Kreutz, um astró-nomo alemão, notou pela primeira
vez a semelhança entre as órbitas de
vários cometas e propôs que a dita poderia ser explicada se todos esses
cometas fossem fragmentos de um
cometa muito maior cujo núcleo se teria desintegrado numa passagem
pelo periélio, na antiguidade.
Desde o aparecimento do cometa
Ikeya-Seki, em 1965, o mais brilhante do século
XX e talvez o membro mais famoso desta família, foram descobertos vários cometas da família mas
a maioria nem sequer sobreviveu à passagem
pelo periélio. Havia portanto alguma espectativa relativamente ao desempenho do Lovejoy. Foi
assim com natural excitação que a comunidade
astronómica verificou que o cometa sobreviveu à passagem pelo periélio, que teve lugar exacta-
mente no dia 16 de Dezembro de 2011 às 00:17
UTC. Na altura o Lovejoy passou apenas 140 mil quilómetros acima da fotosfera solar. O cometa
foi observado nesta parte da sua órbita por uma
frota sem precedentes de satélites de observação solar: o SDO (Solar Dynamics Observatory), o STE-
Janeiro 2012
O astrónomo amador australiano Terry Lovejoy. Crédito:
Amy e Sarah Lovejoy
20 de Dezembro de 2011, Vello Tabur, Austrália
(21 de Dezembro de 2011, Colin Legg, Austrália
REO (Solar TErrestrial RElations Observatory) e o SOHO (Solar and Heliospheric Observatory). Após a passagem pelo perihélio o cometa passou a ser visível no céu de madrugada, por volta do dia 20 de Dezembro, primeiro a sua cauda projec-tada do horizonte e poucos dias depois também o falso núcleo e a cabeleira. Como é habitual com estes cometas, o espectáculo foi efémero e no final do ano o Lovejoy era já uma sombra do que tinha mostrado apenas uma semana antes, resul-tado do seu rápido afastamento do Sol (e da Ter-ra) a caminho do Sistema Solar exterior. Deixo-vos aqui com algumas imagens deste cometa que para os nosso amigos do hemisfério sul constituiu uma inesperada prenda de Natal. Luís Lopes
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Volume 2 Edição 1 SISTEMA SOLAR
22 de Dezembro de 2011, astronauta Dan Burbank, Estação
Espacial Internacional
23 de Dezembro de 2011, Guillaume Blanchard, Chile
25 de Dezembro de 2011, Dave Liu, Austrália.
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Regolito sobre basalto
SISTEMA SOLAR
A Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO) locali-zou este curioso grupo de crateras na base da antiga cratera Tsiolkovskiy, nos limites dos depósitos basálticos que preenchem o seu interior. Tsiolkovskiy é uma das mais espectaculares crateras de impacto do lado mais distante da Lua. Formada há cerca de 3,5 mil milhões de anos, teve tempo para acumular uma camada significativa de regolito, uma fina poeira resul-tante da meteorização das rochas lunares. Algumas das pequenas crateras que compõem o grupo observado pela LRO apresentam uma estrutura anómala. Ao contrário da forma típi-ca de taça, estas crateras possuem uma base abruptamente plana. Porquê? Estas são provavelmente crateras secundárias formadas por material projectado de um impacto primário próximo. Os impactos secun-
dários ocorrem geralmente a velocida-des muito menores, pelo que dispõem de menos energia para escavar uma cratera. No caso dos exemplares aqui mostrados, os impactos responsáveis pela sua formação não tiveram energia suficiente para pulverizar a camada mais profunda de rocha sólida. A base plana destas crateras representa assim a fronteira entre a camada de basalto intacto e o regolito superficial. Ao medirem a profundidade destas crate-ras, os cientistas conseguem estimar com segurança a profundidade do regolito acumulado em Tsiolkovskiy. Explorem esta e outras regiões vizi-nhas aqui. Sérgio Paulino
Janeiro 2012
Conjunto de pequenas crateras (possivelmente secundárias) localiza-
das no interior da cratera Tsiolkovskiy. Imagem obtida pela sonda
Lunar Reconnaissance Orbiter a 31 de Maio de 2011 (resolução: 61
cm/pixel).
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.
A cratera Tsiolkovskiy vista de uma das janelas do módulo de comando
Endeavour da missão Apollo 15. Tsiolkovskiy tem cerca de 180 km de diâ-
metro e é uma das poucas crateras do lado mais distante da Lua inundadas
por grandes volumes de basalto negro.
Crédito: NASA.
Ontem ao final da tarde, a região activa 1402 pro-
duziu uma fulguração classe-M de longa duração.
A explosão enviou uma ejecção de massa coronal
na direcção da Terra, a uma velocidade de cerca
de 1.100 km.s-1.
De acordo com os analistas do Goddard Space
Weather Laboratory, a densa nuvem de plasma
deverá atingir a magnetosfera terrestre com força
suficiente para produzir uma forte tempestade
geomagnética. O impacto deveráocorrer amanhã,
pelas 22:30 ± 7 horas (hora de Lisboa).
Apesar de improvável, não é de excluir a ocorrên-
cia de auroras a latitudes médias. Por isso, ama-
nhã à noite estejam atentos ao céu, de preferên-
cia num local com pouca ou nenhuma poluição
luminosa.
Ver vídeo aqui.
Sérgio Paulino
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Volume 2 Edição 1 SISTEMA SOLAR
Alerta! Nuvem de plasma a caminho
da Terra!
Ejecção de massa coronal registada ontem pelo coronógrafo LASCO do observatório solar SOHO.
Crédito: LASCO/SOHO Consortium/NRL/ESA/NASA/anotações de Sérgio Paulino.
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Marte visto pela Rosetta
SISTEMA SOLAR
A ESA disponibilizou (finalmente!) no Planetary Data System todas as ima-gens obtidas nos primeiros quatro anos da missão Rosetta, incluindo tesouros há muito aguardados, recolhidos durante a única assistência gravitacio-nal realizada pela sonda em Marte. Os membros do
fórum UnmannedSpaceflight.com apressaram-se logo a mergulhar na abundância de dados para trazerem a público belíssimos retratos do planeta
nunca antes vistos. Apreciem estas três imagens processadas pelo croata Gordan Ugarkovic. Sérgio Paulino
Janeiro 2012
Marte em cores naturais, fotografado pela sonda Rosetta a 24 de
Fevereiro de 2007, a uma distância de 240.800 km. É possível
ver próximo do centro da imagem a cratera Gale, o futuro local
de amartagem do robot Curiosity.
Crédito: ESA/equipa OSIRIS/MPS/UPD/LAM/IAA/RSSD/
INTA/UPM/DASP/IDA/Gordan Ugarkovic.
Fobos em trânsito sobre Marte. Nesta imagem, a pequena lua
paira sobre Syrtis Major Planum, um vasto planalto basáltico
localizado no hemisfério norte de Marte. Imagem obtida pela
sonda Rosetta a 24 de Fevereiro de 2007, a uma distância de
149.700 km.
Crédito: ESA/equipa OSIRIS/MPS/UPD/LAM/IAA/RSSD/
INTA/UPM/DASP/IDA/Gordan Ugarkovic.
Outra imagem mostrando Fobos em trânsito sobre Marte, desta vez acompanhada da sua
sombra projectada a oeste sobre Elysium Plani-
tia. Reparem também nas abundantes nuvens
de gelo visíveis em perfil a leste.
Crédito: ESA/equipa OSIRIS/MPS/UPD/
LAM/IAA/RSSD/INTA/UPM/DASP/IDA/
Gordan Ugarkovic.
A Roscosmos (Rússia) está em conversações com
a NASA (Estados Unidos) e a ESA (União Europeia)
para futuramente estabelecer uma base lunar
permanente.
“Não queremos que o homem apenas pise a
Lua,” disse Vladimir Popovkin numa entrevista à
estação de rádio Vesti FM.
“Hoje, sabemos o suficiente sobre ela, sabemos
que existe água nas regiões polares” disse, acres-
centando que “estamos a discutir como começar
a exploração [da Lua] com a NASA e a Agên-
cia Espacial Europeia.”
Referiu ainda que existem duas opções: “criar
uma base na Lua ou lançar uma estação que fica-
rá em órbita ao redor desta.”
Fontes: RIA Novosti, via Fox e The New York
Times | space-com | dvice
José Gonçalves
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Volume 2 Edição 1 SISTEMA SOLAR
Troika espacial quer estabelecer-se
na Lua
Crédito: Kagaya
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Água nos pólos de Vesta?
SISTEMA SOLAR
No interior da Cintura de Aste-róides, região onde Vesta resi-de, a radiação solar é suficien-temente forte para rapidamen-te volatilizar quaisquer depósi-tos superficiais de água ou de outros compostos voláteis. Ao contrário de Mercúrio e da Lua, o gigantesco asteróide também não tem crateras permanente-mente sombrias para suportar a sobrevivência desses com-postos por longos períodos de tempo. O seu eixo de rotação está inclinado cerca de 27,2º (para comparação, o eixo de rotação da Lua tem uma incli-nação de apenas 1,5º), pelo que virtualmente todos os pon-tos da sua superfície recebem
luz solar em algum momento do ano vestiano. Por estes motivos, durante muito tempo, os cientistas consideraram Ves-ta uma das superfícies mais secas do Sistema Solar. Um novo estudo vem agora, no entanto, revelar uma nova e interessante possibilidade. Baseados em imagens recolhi-das pelo telescópio espa-cial Hubble em 1994 e em 1996, os investigadores Timothy Stubbs e Yongli Wang criaram novos modelos para as distribuições globais da irradia-ção e das temperaturas em Vesta. As previsões produzidas pelos modelos mostram que, apesar dos pólos vestianos pas-
sarem por estações (tal como os pólos terrestres), a sua tem-peratura média anual fica abai-xo dos 145 K (equivalente a -128º C), o limiar térmico da sobrevivência do gelo de água nos primeiros metros abaixo da superfície do asteróide. Mais ainda, estas condições esten-dem-se até à latitude de 27º, linha a partir do qual as médias se tornam demasiado elevadas. Os resultados do modelo de Stubbs e Wang terão o seu escrutínio definitivo quando forem analisados os dados recolhidos pela sonda Dawn, no final da sua missão na órbi-ta de Vesta. Serão particular-mente determinantes as obser-
Janeiro 2012
O pólo sul de Vesta fotografado pela sonda Dawn em Setembro de 2011. A região é dominada pela gigantesca bacia de impacto
Rheasilvia.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA.
vações realizadas pelo espectrómetro GRaND, o único equipamento com capacidade para detectar água no regoli-to vestiano. Podem encontrar este trabalho aqui. Sérgio Paulino
Mapa das temperaturas
médias da região do pólo sul
de Vesta (em K) previstas
pelo modelo de Stubbs e
Wang.
Crédito: NASA/GSFC/
UMBC.
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Volume 2 Edição 1 SISTEMA SOLAR
Mapa das temperaturas médias de Vesta (em K) previstas pelo modelo de Stubbs e Wang. A linha cinzenta delimita a estreita
banda em redor do equador em que se torna impossível a presença de gelo de água junto à superfície.
Crédito: NASA/GSFC/UMBC.
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Terra atingida pela maior tempestade de radiação
solar desde 2005
SISTEMA SOLAR
Está neste momento em activi-dade uma forte tempestade de radiação solar classe S3, a maior desde Maio de 2005. O fenómeno teve origem numa fulguração de longa duração classe M9, com um pico de intensidade por volta das 04:00 (hora de Lisboa). A explosão
produziu ainda uma ejecção de massa coronal que viaja agora no espaço interplanetário a uma velocidade de 2.200 km.s-
1! Segundo os analistas da NOAA, a Terra deverá ser atingida por um dos flancos da nuvem de plasma amanhã, por volta das
14:00 (hora de Lisboa), com intensidade suficiente para produzir uma forte tempestade geomagnética (vermodelo). Esperam-se mais uma vez intensas auroras nos próximos dias.
Sérgio Paulino
Janeiro 2012
Fluxo de protões detectado na órbita da Terra pelo satélite GOES-13.
Crédito: NOAA.
Página 41
Volume 2 Edição 1 SISTEMA SOLAR
Cientista Russo encontra Vida em Vénus ?
Vénus, como toda a gen-te sabe, é um inferno. No entanto, recente-mente Leonid Ksanfoma-liti, após ter analisado fotografias tiradas pela sonda Venera 13 na superfície de Vénus, publicou um estudo em que está convencido que encontrou um «disco», uma «mancha preta», e um «escorpião». Como diz Ksanfomaliti: “Pondo de parte os con-ceitos atuais de que não pode existir vida nas condições de Vénus, vamos audaciosamente sugerir que as caracterís-ticas morfológicas des-ses objetos nos permi-tem dizer que estão vivos”. Podem ler a notícia, em inglês e português.
Ou seja, evidências extraordinárias não existem. O que existe sim é alguém que se lembrou de olhar para umas fotos de fraca qualidade tira-das por uma sonda em 1982, viu umas manchas nas ima-gens, e imaginou que essas manchas são a prova de seres extraterrestres em Vénus. Além disso, a vida em Vénus parece ser semelhante à ter-restre, ou pelo menos é assim
que o cientista Russo a imagi-na. Sinceramente, nem sei que dizer, de tão ridícula que a especulação é. Convido-vos a ler este excelente texto sobre esta notícia.
Termino com o que é a evidên-cia maior do ridículo destas especulações. Esta é uma imagem tirada pela
sonda na superfície de Vénus. A fotografia foi ampliada. Para o cientista Russo, o que se vê na foto é um escorpião em Vénus. Mais palavras para quê? Carlos Oliveira
Página 42
Erupção vulcânica no arquipélago de Al-
Zubair chega ao fim
TERRA
Terminou a erupção vulcânica que em
Dezembro passado fez emergir uma
nova ilha no Mar Vermelho, nas
proximidades da costa do Iémen. Uma
imagem captada este fim-de-semana
pelo satélite Earth Observing-1 mostra
um novo pedaço de terra firme com
cerca de 760 metros de comprimento
por 480 metros de largura, sem
quaisquer indícios de actividade
vulcânica em curso.
Sérgio Paulino
Janeiro 2012
O nascimento de uma ilha no arquipélago de Al-Zubair, no Mar Vermelho. Depois de quatro semanas de
intensa actividade, o novo vulcão parece estar agora adormecido.
Crédito: NASA (montagem de Sérgio Paulino).
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Página 43
Volume 2 Edição 1 TERRA
Navio naufragado Costa Concordia visto do
espaço
O naufrágio do navio Costa Concordia encontra-se já entre os piores desastres marítimos da História. Na passada sexta-feira, o luxuoso navio de cruzeiro italiano colidiu com um banco rochoso ao largo da ilha Giglio, provocando pelo menos 11 mortos. Neste momento, as autoridades locais concentram os seus esforços na busca de 23 pessoas ainda desaparecidas, e na instalação de barreiras flutuantes para
contenção de eventuais fugas de combustível dos depósitos do navio. O local do acidente foi fotografado na passada terça-feira por um dos satélites da empresa americana DigitalGlobe. Aimagem mostra o gigantesco navio inclinado sobre as águas do Mediterrâneo, a cerca de 150 metros da costa de Giglio. Sérgio Paulino
O navio Costa Concordia visto por um dos satélites da DigitalGlobe, quatro dias após o seu naufrá-gio a escassos metros da ilha Giglio, Itália.
Crédito: DigitalGlobe.
Página 44
A propósito de animais estranhos…
TERRA
A propósito deste post e das espécies novas que se vão descobrindo em terras mais ou menos distantes e inacessíveis para a maioria de nós, deixem que vos apresente uma estranha criaturinha que existe bem ao virar da esquina: o urso-de-água!
Não são ursos, mas é certo que vivem na água (ou em locais muito húmidos).
Como podem ver na fotografia, estes estranhos e
crípticos seres que, quando observados numa lupa ou microscópio, têm, como o urso, um corpo
arredondado e roliço. Mas, o verdadeiro motivo
para o nome é a sua forma de locomoção, que se assemelha à do urso, com as devidas diferenças
de escala. Cientificamente são chamados de tardígrados, nome que deriva das palavras em latim tardus (lento) e gradus(passo). Estes minúsculos seres, com cerca de 1 mm, têm o corpo em forma de barril, quatro pares de patas, “pés” com 4 a 8 garras e alimentam-se maioritariamente de matéria vegetal. Têm diferentes estratégias reprodutivas e os seus ovos podem ter belas ornamentações.
Não são insetos (como as moscas, abelhas ou escaravelhos), nem crustáceos (como os camarões, caranguejos e lagostas), nem aracnídeos (como as aranhas e escorpiões)! São mesmo um filo completamente independente de invertebrados!
Existem mais de 1000 espécies ursos-de-água e são considerados dos animais mais resistentes da Terra, tendo sido encontrados desde os Himalaias até às profundezas do mar. Quando em condições adversas, podem entrar num estado de desidratação e dormência extremos e, deste modo, resistir a temperaturas extremamente baixas ou altas (de -200ºC a 150ºC), 1000 vezes mais radiação que outro animal e sobreviver quase uma década sem água!
Os leitores mais astronómicos deste blog possivelmente já ouviram alguma referência a
estes seres, já que eles podem até resistir ao vácuo do espaço e, em Maio de 2011, foram passageiros na última viajem do vai-vem espacialEndeavour, como parte do projeto BIOKIS patrocinando pela Agência Espacial Italiana.
Quem sabe que surpresas ainda nos hão-de revelar estas criaturinhas?
Diana Barbosa
Janeiro 2012
Ursos-de-água (Tardígrados)
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Volume 2 Edição 1 TERRA
A NASA celebrou o Dia da Lembrança, que é uma ocasião para homenagear os 17 astronautas que morreram na exploração espacial.
Os astronautas da Apollo 1 (Virgil I. “Gus” Grissom, Edward H. White II,
Roger B. Chaffee) morreram a 27 de Janeiro de 1967. (em cima) Os astronautas do Challenger (Ellison Onizuka, Michael Smith, Christa McAuliffe, Dick Scobee, Gregory Jar-vis, Judith Resnick, Ronald McNair)
morreram a 28 de Janeiro de 1986. (em cima) Os astronautas do Columbia (David Brown, Rick Husband, Laurel Clark, Kalpana Chawla, Michael Anderson, William McCool, Ilan Ramon) morre-ram a 1 de Fevereiro de 2003. (em baixo) Carlos Oliveira
Dia da Lembrança
Durante o 219º Encontro da American Astronomi-
cal Society (AAS), a decorrer de 8 a 12 de Janeiro
em Austin no Texas, foram apresentadas mais descobertas notáveis com base em dados da mis-
são Kepler. A primeira novidade importante consiste na des-coberta de mais dois planetas circumbinários, isto é, planetas que orbitam um sistema formado por duas estrelas. O Kepler tinha já descoberto um sistema com estas características, oKepler-16, cujo planeta foi afectuosamente apelidado de “Tatooine” pela equipa da missão. A descoberta, publicada no número da revista Nature de hoje, mostra que este tipo de sistemas é afinal comum na nossa galáxia e demonstra que os sistemas binários, outrora considerados um ambiente hos-til para a formação de planetas, constituem afinal um território fértil para a exploração planetária.
Os novos planetas, designados de Kepler-34b e Kepler-35b, são ambos gigantes de gás, compará-veis a Saturno, com massas de 70 e 40 vezes a da Terra (Saturno = 95 vezes) e com raios de 8.6 e 8.2 vezes o da Terra (Saturno = 9.4 vezes), respec-tivamente. O primeiro orbita o sistema binário com um período de 289 dias ao passo que as estrelas, no centro do sistema, efectuam uma órbita completa em 28 dias apenas. Os eclipses permitem a medição muito precisa dos raios não só do planeta mas também das duas estrelas. O sistema Kepler-34 (também KOI-2459) situa-se a uma distância estimada de 4900 anos-luz. O Kepler-35b, por sua vez, orbita um sistema biná-rio com um período de 131 dias. As estrelas, com 80% e 89% da massa do Sol, orbitam em torno do seu centro de gravidade comum em apenas 21 dias e também se eclipsam mutuamente. O siste-ma Kepler-35 (também KOI-2937) situa-se a cerca de 5400 anos-luz. A segunda novidade do dia foi a descoberta de
um sistema planetário em miniatura em torno de uma pequena anã vermelha, também no campo do telescópio Kepler mas a uma distância de ape-nas 130 anos-luz. O sistema, designado de KOI-961, é absolutamente incrível, com uma dimen-são semelhante ao sistema formado por Júpiter e as suas luas galileanas. Os planetas têm apenas 78%, 73% e 57% do raio da Terra e os trânsitos, apesar da precisão do Kepler, só foram detecta-dos porque a estrela hospedeira é muito peque-na, apenas 70% maior do que Júpiter. Ainda não foi possível calcular a massa dos planetas mas o seu tamanho sugere que sejam planetas do tipo terrestre. O mais pequeno destes planetas, com 57% do raio da Terra, é sensivelmente do tama-nho de Marte. A descoberta foi feita por uma equipa do Califor-nia Institute of Technology que usou dados dispo-nibilizados ao público pela equipa da missão Kepler complementados com observações realiza-das nos observatórios do Monte Palomar, na Cali-fórnia, e Keck, no Hawaii. Segundo John Johnson, um dos investigadores envolvidos neste estudo: “este é o mais pequeno sistema planetário desco-berto até à data. É mais semelhante a Júpiter e às suas luas [AstroPT:galileanas] em escala do que qualquer outro sistema descoberto e demonstra a diversidade de sistemas planetários existentes na nossa galáxia”.
Representação artística do sistema Kepler-35. Crédi-
to: Lynnette Cook
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Novidades da Missão Kepler Anunciadas em
Conferência da AAS
EXOPLANETAS Janeiro 2012
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Volume 2 Edição 1 EXOPLANETAS
A existência deste sistema tem implicações
importantes pois as anãs vermelhas são de longe o tipo mais comum de estrela na nossa galáxia.
Phil Muirhead, o primeiro autor do estudo, resu-
miu a importância desta descoberta quando afir-mou: “sistemas como este poderão ser ubíquos
no Universo”. Podem ver as duas notícias aqui e aqui. Luís Lopes
(Imagem à direi-ta: A escala do sistema KOI-961 comparada com a do sistema for-mado por Júpi-ter e as suas luas galileanas. Crédito: Caltech)
Representação artística do sistema KOI-961. Os planetas representados são, por ordem crescente da distância à estrela: KOI-
961.02, KOI-961.01 e KOI-961.03. Crédito: NASA/JPL-Caltech
Os tamanhos dos planetas do sistema KOI-961 comparados com os de Marte, da Terra e dos planetas Kepler-20e e Kepler-20f.
Crédito: NASA/JPL-Caltech
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EXOPLANETAS
Conhecemos as cores
do pôr-do-sol na Ter-
ra e em Marte. Mas
já imaginaram um
pôr-do-sol num dos
distantes mundos
recentemente desco-
bertos fora do Siste-
ma Solar?
Embora seja ainda
impossível observar
directamente estes
fenómenos, os cien-
tistas conhecem sufi-
cientemente bem a
composição da
atmosfera de alguns
exoplanetas e o
espectro das respectivas estrelas para os pode-
rem reproduzir com algum rigor. Frédéric Pont,
um astrofísico da Universidade de Exeter, espe-
cialista no estudo de atmosferas exoplanetárias,
usou recentemente os dados científicos disponí-
veis do sistema planetário HD209458 para cons-
truiruma imagem de um pôr-do-sol no gigante
gasoso HD209458b.
A imagem mostra um pôr-do-sol verdadeiramen-
te extraterrestre. Apesar de HD209458 ser uma
estrela semelhante ao Sol, existe sódio neutro
suficiente na atmosfera do seu companheiro pla-
netário para que a luz vermelha seja removida de
forma eficaz. Nas camadas mais profundas da
atmosfera, a luz azul é dispersa da mesma forma
que na Terra, pelo que a estrela adquire uma
estranha coloração esverdeada junto ao horizon-
te. Por fim, como a estrela se encontra a apenas 7
milhões de quilómetros de distância, aparenta um
tamanho muito superior ao do Sol quando obser-
vado a partir do nosso planeta. Como resultado, o
disco estelar de HD209458 não se limita a apenas
uma camada atmosférica (como acontece na Ter-
ra). Em vez de mudar de cor à medida que se
move em direcção ao horizonte, exibe as várias
tonalidades descritas em cima em simultâneo!
HD209458b foi o primeiro exoplaneta a ser desco-
berto pelo método dos trânsitos. Podem ler mais
sobre este curioso mundo aqui.
Sérgio Paulino
Janeiro 2012
Pôr-do-sol num mundo distante
Representação artística de um ocaso visto 10 mil quilómetros acima de HD209458b. Reconstrução fiel ao que seria observado pelo olho humano, realizada a partir de espec-tros de transmissão obtidos pelo espectrómetro STIS do telescópio espacial Hubble.
Crédito: Frédéric Pont.
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Volume 2 Edição 1 ASTRONAÚTICA
A imagem acima, obtida com a Advanced Camera
for Surveys (ACS) do telescópio Hubble, em 2008,
pela equipa de Paul Kalas, tornou-se um
dos ícones da astronomia moderna. O pequeno
ponto assinalado na imagem, em órbita de Foma-
lhaut, a estrela Alfa da constelação do Peixe Aus-
tral, parecia nessa altura ser um exoplaneta, um
dos primeiros a ser fotografados directamente.
Nos meses e anos que se seguiram, no entanto, o
mistério adensou-se. Apesar de ter sido fotogra-
fado de novo pelo Hubble, com a nova Wide Field
Camera (WFC3), a órbita deduzida a partir das
posições observadas nas imagens era difícil de
explicar e incompatível com o bordo bem defini-
do da zona interior do anel de poeiras que circun-
da Fomalhaut, o qual deveria resultar da influên-
cia gravitacional do presumido planeta.
Hoje, uma equipa de astrónomos liderada por
Markus Janson da Universidade de Princeton,
publicou um artigo que lança ainda mais dúvidas
sobre a natureza planetária do objecto fotografa-
do. As imagens originais do Hubble tinham sido
realizadas no visível e no infravermelho próximo,
entre os 600 e 800 nanometros. A equipa deduziu
que, a tratar-se de um planeta gigante ainda em
formação (Fomalhaut é uma estrela muito
jovem), deveria emitir uma quantidade considerá-
vel de radiação no infravermelho e por isso opta-
ram por observar o sistema com o telescópio Spit-
zer, no comprimento de onda de 4.5 micrometros
(4500 nanometros). Para conseguir realizar este
feito difícil a equipa teve de inventar uma nova
técnica de subtracção de imagens que permitiu
aumentar o contraste e a resolução espacial das
imagens obtidas pelo Spitzer. O resultado pode
ser visto na figura que se segue.
À esquerda vê-se a imagem obtida pelo Spitzer,
com a seta 1 marcando o local onde deveria ser
detectado o objecto fotografado com o Hubble. À
direita, à imagem obtida com o Spitzer foi adicio-
nada artificialmente uma fonte pontual (seta 1 de
novo), representando o que deveria ter sido
observado pelo Spitzer caso o planeta gigante
realmente existisse. A seta 2 aponta para uma
fonte de radiação nova, potencialmente interes-
sante, mas cuja natureza não foi possível ainda
determinar.
O artigo apresenta um conjunto de possíveis
explicações para os resultados obtidos mas é cla-
ramente desfavorável à tese de que o objecto
detectado com o Hubble é um planeta gigante.
Segundo os autores, a explicação mais plausível
para as observações consiste na dispersão de luz
da estrela na direcção da Terra por uma nuvem
de poeira semi-transparente, possivelmente tran-
siente.
Luís Lopes
Fomalhaut b Não Existe?
Página 50
EXOPLANETAS
A equipa da missão Kepler acaba de anunciar a
descoberta de 11 novos sistemas planetários,
num total de 26 novos planetas e vários outros
ainda por confirmar. A imagem inicial deste artigo
mostra a “foto de família” destes sistemas, do
Kepler-23 ao -33. Cada sistema novo corresponde
a uma coluna, com os planetas confirmados
representados a verde e com nomes oficiais do
tipo Kepler-#b, -#c, -#d, etc. Os outros possíveis
planetas estão coloridos a violeta e têm ainda
apenas denominações temporárias do tipo KOI-
#.# (KOI = Kepler Object of Interest, os números
referem-se a um catálogo interno da equipa). Os
planetas têm raios entre 1.5 vezes e 14.4 vezes o
da Terra (Júpiter = 11.2 vezes o raio da Terra),
tendo 15 deles raios inferiores a Neptuno. Podem
comparar os tamanhos dos planetas agora desco-
bertos com os planetas do Sistema Solar (a azul) e
os planetas em sistemas múltiplos anteriormente
descobertos pelo Kepler (a vermelho) na imagem
Janeiro 2012
Mais 11 Sistemas Planetários Descobertos pelo Kepler
Os 11 novos sistemas planetários descobertos pelo Kepler. Crédito: NASA Ames/Jason Steffen, Fermilab Center for Particle
Astrophysics
Crédito: NASA Ames/Jason Steffen, Fermilab Center for Particle Astrophysics
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Volume 2 Edição 1 ASTRONAÚTICA
seguinte. (imagem ao fundo pág. anterior)
Os sistemas têm entre 2 a 5 planetas confirmados
cujos períodos orbitais variam entre os 6 e os 143
dias. Estamos portanto a falar de planetas que
orbitam as respectivas estrelas hospedeiras a
uma distância inferior à de Vénus ao Sol. Em siste-
mas com uma configuração tão compacta, a
atracção gravitacional mútua entre os planetas
provoca acelerações e desacelerações nos movi-
mentos orbitais. Como resultado, os planetas dei-
xam de realizar os seus trânsitos pela estrela pon-
tualmente quando vistos a partir da Terra. Umas
vezes chegam atrasados, outras adiantados. Este
efeito é designado de Variação na Periodicidade
dos Trânsitos (Transit Timing Variations ou TTV).
A amplitude do efeito para cada planeta é uma
função complexa das configurações orbitais dos
planetas e, em especial, das suas massas. Por
outras palavras, a observação deste efeito num
sistema múltiplo durante um intervalo de tempo
suficiente permite deduzir as massas individuais
dos planetas, sem recurso a outras técnicas como
a velocidade radial. Esta técnica tem ainda a van-
tagem de permitir a determinação da massa de
planetas semelhantes à Terra ou mesmo menos
maciços, algo impraticável actualmente com
outras técnicas. Esta foi a técnica utilizada para
confirmar os planetas nos 11 sistemas agora des-
cobertos e estimar (até agora pelo menos) um
limite máximo para a sua massa. Vejam este
vídeo que ilustra a técnica melhor do que eu
jamais conseguirei por palavras.
Outra descoberta interessante está relacionada
com a estabilidade gravitacional dos sistemas.
Afinal de contas, ter vários planetas a orbitar uma
estrela a tão pouca distância não parece muito
saudável. Mais tarde ou mais cedo, uma aproxi-
mação menos prudente entre dois planetas pode
provocar a ejecção de um deles do sistema ou
obrigar à reconfiguração radical do mesmo. Ora, a
equipa da missão Kepler descobriu que em vários
destes sistemas existem “configurações ressonan-
tes”. Isto quer dizer que os períodos orbitais dos
planetas estão relacionados entre si pela razão
entre dois números inteiros pequenos. Por exem-
plo, nos sistemas Kepler-25, -27, -30, -31 e -33,
existem pares de planetas nos quais o planeta
interior orbita a estrela duas vezes por cada órbi-
ta completa do planeta mais exterior. Estas resso-
nâncias são do tipo 1:2 (1 órbita do planeta exte-
rior por 2 órbitas do planeta interior). Noutros
quatro sistemas, Kepler-23, -24, -28 e -32, exis-
tem pares de planetas em que o planeta mais
interior realiza 3 órbitas no mesmo tempo que
demora o mais exterior a realizar 2 órbitas. Tra-
tam-se de ressonâncias de tipo 2:3. No nosso sis-
tema solar, é uma ressonância deste último tipo
que estabiliza a interacção entre Neptuno e Plu-
tão, apesar da órbita deste último intersectar a de
Neptuno. A ressonância orbital impede a colisão
dos planetas a longo prazo. Da mesma forma, as
ressonâncias descobertas pela equipa da missão
Kepler têm provavelmente um papel fundamental
na estabilização destes sistemas planetários tão
compactos.
Os quatro artigos descrevendo estas descobertas
foram publicados na reputada revista Astrophysi-
cal Journal. Podem ler a notícia em
inglês aqui e aqui, e ver mais informação sobre os
planetas e respectivas estrelas hospedeiras aqui.
Veja o vídeo aqui.
Luís Lopes
Página 52
EXOPLANETAS
Ao analisarem a estrela 1SWASP J140747.93-394542.6, astrónomos descobriram que ela
deverá ter um objeto de menor massa a orbitá
-la, e esse objecto (anã castanha? planeta?) deverá ter um sistema de anéis ao seu redor.
O professor Eric Mamajek disse: “This marks
the first time astronomers have detected an extrasolar ring system transiting a Sun-like
star, and the first system of discrete, thin, dust
rings detected around a very low-mass object outside of our solar system”.
Leiam em inglês, aqui e aqui.
Carlos Oliveira
Janeiro 2012
Anéis Distantes
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Volume 2 Edição 1 ASTRONAÚTICA
Ano Novo, China…?
Desde que a
China publi-
cou o
seu Livro
Branco das
actividades
espaciais no
passado
dia 29 de
Dezem-
bro, que
no que
diz res-
peito ao espaço as coisas não poderiam estar
mais animadas. Até porque no Livro Branco é
apresentado um plano de 5 anos para o pro-
grama espacial chinês que passará por pôr
um homem na Lua, vai lançar laboratórios
espaciais e fazer preparativos tecnológios
para uma estação espacial.Teremos uma cor-
rida espacial em breve? Ou a Rússia com os desai-
res dos últimos lançamentos e
o problema da dívida america-
na e europeia farão com que a
China brilhe sozinha no Espaço
no século XXI?
O editorial do Washington
Times de 2 de Janeiro aborda
de uma forma interessante
este plano chinês afirmando
que a próxima corrida espacial
será entre os EUA e a China,
sendo que se prevê a China
como vencedor. O empreen-
dorismo espacial chinês contrasta com a falta de
liderança por Barack Obama que ao contrário de
Kennedy em 1961 não conseguiu criar um com-
promisso com a América para que a NASA de fac-
to continuasse na vanguarda da exploração espa-
cial.
Pelo contrário, para o Partido Comunista Chinês,
o programa espacial é visto como sendo um fac-
tor critico no progresso económico e
realização nacional. A China está a auto-
comprometer-se para levar mais longe
os voos tripulados e de fazer grandes
avanços tecnológicos, criando uma fun-
dação para o futuro dos seres humanos
no Espaço!
Enquanto não temos as respostas que
tanto ansiamos, deixo-vos uma sugestão
de leitura: Asia Space Race de James
Clay Moltz da Naval Postgraduate
School.
Vera Gomes
Página 54
ASTRONÁUTICA
Com um calendário de lançamentos que mostra
mais de 20 lançamentos previstos para 2012, a
China levou a cabo o primeiro lançamento orbital
do corrente ano às 0317UTC do dia 9 de Janeiro
colocando em órbita o satélite de observação da
Terra ZY-3 ZiYuan-3. O lançamento foi levado a
cabo por um foguetão Chang Zheng-4B a partir da
Plataforma de Lançamento LC9 do Centro de Lan-
çamento de Satélites de Taiyuan, província de
Shanxi.
O ZiYuan-3 é o primeiro de uma nova série de
satélite civis de detecção remota de alta-
resolução. O novo satélite transporta câmaras
pancromáticas de alta-resolução e um sistema de
observação infravermelhos multiespectral, com
as câmaras a estarem posicionadas na parte fron-
tal, inferior e posterior do satélite.
O ZiYuan-3 orbita a Terra a uma altitude média de
500 km e com uma inclinação de 97,48º. O satéli-
te tem uma massa de 2.630 kg.
Juntamente com o ZiYuan-3 foi lançado o peque-
no satélite luxembusguês VesselSat-2 com uma
massa de 28 kg. O Vesselsat-2 foi construído pela
LuxSpace SARL, uma filial da OHB AG e será inte-
grado na constelação Next Generation (OG2) da
ORBCOMM. A órbita específica dos satélites Ves-
selsat irá permitir uma monitorização e vigiçência
dos navios nas regiões equatoriais com uma fre-
quência de visita muito maior do que com plata-
formas em órbita polar.
Rui Barbosa
Primeiro lançamento orbital de
2012
Janeiro 2012
Progress M-14M a caminho da ISS
Página 55
Volume 2 Edição 1 ASTRONÁUTICA
Marcha para a Lua
O Centro Espacial Johnson da NASA e a School of Earth and Space Exploration, inauguraram a 6 de Janeiro o Project Gemini Online Digital Archi-ve que contém as primeiras cópias a de alta-resolução dos filmes de voo originais das missões
Gemini, que estão agora disponíveis em vários formatos.
Imagem: NASA Rui Barbosa
A agência espacial federal rus-sa levou a cabo o lançamento do veículo de carga Progress M-14M às 2306:40UTC do dia 25 de Janeiro de 2012 a partir da Plataforma de Lançamento PU-5 do Complexo de Lançamento LC1 do Cosmódromo de Baiko-nur, Cazaquistão, utilizando um foguetão Soyuz-U. Esta é a mis-são ISS-46P no âmbito do pro-grama da estação espacial internacional. O Progress M-14M entrou em órbita terrestre pelas 2316UTC, com os painéis solares e as
antenas de comunicação e navegação a abrirem sem problemas. A bordo do veículo segue uma carga com uma massa de 2.669 kg contendo água, ar, oxigénio, alimentos, experiências científicas e equipamento para os mem-bros da tripulação da Expe-dição 30 na ISS. A acoplagem com o módulo Pirs deverá ter lugar pelas 2217UTC do dia 29 de Janei-ro de 2012. Rui Barbosa
PUB
A sua
revista
mensal de
astronáuti-
ca
[clica na
imagem
para saber
mais]
Página 56
ASTRONÁUTICA
Com um segundo lançamento
orbital em menos de uma
semana, a China colocou em órbita o satélite meteorológico
geostacionário FY-2F FengYun-
2F (também designado Feng-Yun-2-07). O lançamento teve
lugar às 0056:04UTC do dia 13
de Janeiro de 2011 e foi levado a cabo pelo foguetão CZ-3A
Chang Zheng-3A (Y22) a partir
da Plataforma de Lançamento LC3 do Centro de Lançamento
de Satélites de Xichang, provín-
cia de Sichuan.
Os satélites FengYun-2 são
desenvolvidos pela Academia
de Tecnologia de Voo Espacial
de Xangai e pela Academia de
Tecnologia Espacial da China.
De forma geral, estes satélites
são estabilizados por rotação
em torno do seu eixo longitudi-
nal, tendo uma forma cilindrica
com uma massa total de 1.369
kg no lançamento e 536 kg em
órbita.
Rui Barbosa
China lança satélite
meteorológico no segundo
lançamento de 2012
Janeiro 2012
Página 57
Volume 2 Edição 1 ASTRONÁUTICA
ISS executa manobra evasiva
A estação espacial internacional levou a
cabo com sucesso uma manobra evasiva
para se afastar de um fragmento do saté-lite de comunicações Iridium-33.
Os serviços balísticos do Centro de Con-
trolo de Korolev, Moscovo, informaram que a manobra teve lugar às 1610UTC e
que os motores do módulo Zvezda foram
accionados por 54 segundos com uma taxa de incremento de velocidade de
0,85 m/s. Em resultado, a altitude orbital
média da ISS aumentou em 1,5 km para os 391,4 km. Anteriormente estava prevista uma correcção de altitude para o dia 18 de Janeiro devido ao atrito com a atmosfera terrestre e consequente perda
de altitude. Com a manobra de hoje, a manobra do dia 18 deixa de ser necessária. Rui Barbosa
Fobos-Grunt reentra a 15 de Janeiro
A agência espacial federal russa Roscosmos actua-
lizou a informação relativa à reentrada da sonda
Fobos-Grunt. A sonda encontra-se numa órbita com um apogeu a 174,2 km de altitude, perigeu a
149,7 km de altitude, inclinação orbital de 51,44º
e período orbital de 87,57 minutos.
A reentrada da sonda poderá ocorrer nos dias 15
ou 16 de Janeiro, sendo mais provável que acon-
teça às 1751UTC do dia 15 de Janeiro sobre a cos-ta do Pacífico da América do Sul. Entretanto, o observador amador Harro Zimmer prevês a reentrada da Fobos-Grunt às 1705UTC (+/- 3 horas) do dia 15 de Janeiro, ocorrendo a 42,80°N – 119,90°E .
Imagem: Roscosmos Rui Barbosa
astroPT
Está disponível no sítio da NASA o Guia de Referência da Estação espacial Internacional (em Inglês).
Destaco a página 21 onde pode-
mos encontrar o Guia das Expe-riências realizadas na ISS.
Para ler e divulgar.
José Gonçalves
Guia de Referência da ISS
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astroPT magazine, revista mensal da astroPT Textos dos autores, Design: José Gonçalves
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O astroPT, até ao dia 30 do mês de janeiro, obteve: mais de 102000 visi-tas.
A APOD de hoje traz-nos a constelação de ORION no céu das
Ilhas Canárias, numa astrofotografia feita pelo conhecido Juan
Carlos Casado.
Carlos Oliveira
APOD
ESTAMOS NA WEB!
http://astropt.org
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