As Brumas de Avalon
Avalon: A terra dos
deuses
Avalon também recebe o nome de Ilha
Afortunada, pois suas colheitas são fartas e
abundantes. Diz a lenda que, era governada por Morgana e suas nove irmãs, sacerdotisas
guardiãs do caldeirão do renascimento, símbolo
da Deusa Mãe, capaz de curar todos os males.
Além de evocar as brumas para adentrarem
à ilha encantada.
A ilha sagrada de Avalon não existe nas dimensões de tempo e
espaço conhecidos por nós. Ao longo dos séculos, as pessoas tentam localizá-la, em locais
como: a Irlanda, o País de Gales, a Cornualha, a Bretanha e a Ilha de Man. Enfim, Avalon é conhecida
como a terra das fadas, Caer Siddi, a passagem para o Outro
Mundo ou a Tir na nÓg dos irlandeses.
Avalon está associada a Caer Siddi (Fortaleza das Fadas), o
Outro Mundo ou Annwn, o sídhe (colinas) d’Aqueles Que Vivem Para Sempre... A Ilha feérica, onde apenas o povo
das fadas e os nobres cavalheiros de alma pura
podiam adentrar.
A cidade de Glastonbury, em Somerset, na
Inglaterra, é particularmente associada a Avalon, através dos seus mitos e lendas locais,
relacionando a colina do Tor como sendo a entrada do Annwn (Outro Mundo), a terra dos mortos na tradição galesa, o lar de Gwynn ap
Nudd, o rei das fadas e guardião do submundo.
Na mitologia céltica existem vários contos
sobre as três propriedades inesgotáveis do caldeirão: inspiração, regeneração e
fertilidade. O Grande Dagda possuía um
caldeirão proveniente da cidade de Múrias. Ao provar dele, ninguém passava fome, (Ellis,
1992). Matholwch recebera o caldeirão do
renascimento do Deus Bran e com ele era
possível ressuscitar um morto, mas que perderia a
capacidade de falar. (Mabinogion, 1988)
O caldeirão, mais tarde, deu origem ao mito do Graal, inicialmente nas obras de Chrétien de Troyes. Com a
sua cristianização em fins do século XII, o conteúdo do
cálice passou a ser o sangue de Cristo. Simbolizando o
conhecimento e o alimento da alma. A propósito da temporalidade do Outro
Mundo, representada pela "Insula Pomorum", a Ilha
Paradisíaca, onde a passagem do tempo não é
percebida pelos humanos que para lá vão, como pode ser
visto nos relatos sobre Bran. - Jacques Le Goff, 1993.
A lenda e o mito
Rei Arthur
Os primeiros registros sobre Arthur, conforme o
historiador Christopher Gidlow no livro "O Reinado de Arthur - da História à Lenda", diz que ele viveu entre os séculos V e VI e
liderou os bretões contra o avanço saxão no cerco da Colina de Badon (supõe-se estar localizada além de
Kent e Essex, na Inglaterra). O filme "Rei Arthur" retrata bem este
contexto, tirando Guinevere, que não condiz com a figura da guerreira
picta.
Alguns textos históricos datados após o ano de 400
d.C. e que o descrevem, são:
• "De Excidio Britanniae" (A Destruição da Bretanha), de Gildas, no ano 500 d.C.
• "Historia Brittonum" (Histórias dos Bretões), de Nennius, no ano de 829 d.C.
• "Annales de Cambriae" (Anais de Gales), texto compilado a partir de várias fontes, por volta do ano de 977 d.C.
• Chegando finalmente a "Historia Regum Britanniae" de Godofredo de Monmouth, que escreveu sua historia em 1135 d.C. e elaborou as façanhas do Rei Artur, misturando o histórico ao lendário.
• Ainda há referências, mais antigas sobre Arthur, relatadas no Mabinogion no conto de: Culhwch e Olwen.
Na década de 60, arqueólogos escavaram arredores da cidade de Glastonbury, na planície de Somerset, sudoeste da Inglaterra e 150 quilômetros de sua
capital, Londres. Acredita-se que Arthur teria ali se refugiado.
Foram encontrados vestígios de uma fortificação de madeira, construída no Século V, quando Arthur teria
reinado. Glastonbury foi dominada pelos celtas. Depois, conquistada por romanos, no início da Era Cristã.
Foram Arthur e os 12 cavaleiros da Távola Redonda que, no final do século V, expulsaram os saxões da
região. O sobrenatural de “Ynis Witrin”, como Glastonbury foi
chamada pelos celtas, os primeiros habitantes, era uma atração a mais para os conquistadores, que para lá se dirigiam em busca do ferro (ainda abundante e
na Idade Média mais valioso que ouro).
Hoje, o cenário de “Ynis Witrin” mudou. Mas em todas as épocas, a sua história esteve envolta nas
brumas da magia. É considerada um Santuário e um
dos lugares mais misteriosos do Planeta.
Antigas citações indicam que era de fato uma ilha. Arqueólogos confirmam que os campos ao
redor da cidade foram pântanos drenados.
“Ynis Vitrin” significa “A Ilha de Vidro”, nome que designa um
outro mundo, onde seres mágicos vivem para o todo e
sempre.
Entre sítios históricos e formações geológicas nos arredores da cidade, existe em meio a planície da região, uma única colina (Tor) em forma de
cone, com quase 300 metros de altura. No cume, ruínas da torre da igreja de Santin Michel se erguem como totem fincado na terra, num apelo aos céus.
Foram escavadas nas encostas, curvas de nível e desenhos.
Vistos de cima, lembram um labirinto ou espiral conduzindo para o alto.
Tor significa em Celta portão, passagem.
Foram versos de monge e trovadores medievais que registraram à frente das
batalhas do povo bretão, a existência do líder guerreiro Arthur.
O bispo e Historiador Geoffrey de Monmouth, no ano de 1137, em “Histórias
dos Reis da Britânia”, popularizou o mito.
Conta que Uther de Pendragon apaixonou-se pela
mulher do Duque de Gorlois, Igraine. Muito doente,
procurou o mago Merlin, sábio personagem que teve
origem na magia dos druidas, bruxos dos celtas.
Queria viver uma noite com Igraine.
Merlin o fez, por poucas horas, à imagem e
semelhança de Gorlois.
A criança gerada, Arthur, segundo o trato, foi criada
por Merlin.
Pendragon morreu uma década e meia depois,
deixando o país sem rei.
Merlin propôs que quem conseguisse possuir Excalibur, espada com poderes mágicos cravada numa rocha, seria o novo rei.
Arthur conseguiu possuí-la.
Depois de revelada sua filiação, mergulhou em batalhas pela unificação do país, com
ajuda dos 12 cavaleiros da Távola Redonda (assim chamada porque eram iguais). Reinou
com filosofia de nobreza espiritual, amor cortês e justiça.
Casou com a princesa Guinevere, com a qual não teve filhos.
Ela apaixonou-se por Lancelot, o melhor e mais fiel cavaleiro de
Arthur, com quem foge quando o rei estava em Roma e Mordred, filho de sua meia-irmã Morgana,
planejava usurpar o trono. Arthur, cuja história está ligada à busca do Santo Graal, retorna e
mata Mordred, mas é mortalmente ferido. Levado para
Avalon, é curado.
Lá edifica um mosteiro, convertido em casa beneditina no século X.
Relatos indicam que em 1190, na Abadia de Glastonbury, a maior de todas da Idade Média, foi encontrado um túmulo com
inscrição de que ali estava Arthur. Meio milênio mais tarde, o rei Henrique VIII,
revoltado contra a Igreja Católica que não aceitava seus divórcios, destruiu a Abadia e
os lendários restos mortais. Uma tradição milenar relata também que está
em Glastonbury o Poço do Cálice Sagrado, onde José de Arimatéia, amigo e protetor de
Cristo, no ano 37 d.C., teria escondido o Santo Graal, o cálice da Santa Ceia,
contendo o sangue de Jesus. O poço fica nas proximidades da colina de Tor.
Astrólogos são seduzidos pela existência de um Zodíaco desenhado na paisagem do lugar, que se estende por um círculo
de 16 km nas terras de Somerset. Kathatarine Maltwood, escultora inglesa,
em 1200, divulgou a descoberta de um grupo de enormes figuras espalhadas
no solo da planície. Limitadas pelos contornos naturais dos
rios, dos caminhos, dos atalhos, da colina, do fosso e das fortificações, as figuras representam os 12 signos do
Zodíaco.
Descobrir seu significado requer paciência e imaginação, já que tudo se baseia em associações de nomes locais
e lendas, mais do que em fatos históricos.
Arthur é Sagitário; Merlin, Capricórnio; Lancelot, Leão; Guinevere, Virgem.
Glastonbury localiza-se em Aquário, que é representado por uma Fênix - a Nova
Idade nascida das cinzas da antiga. O vaso sagrado é o bico do pássaro; o
outeiro, sua cabeça; e, a Abadia, o Castelo do Graal.
As Brumas de Avalon O Filme
Ficção que mostra um intenso conflito existencial por parte dos
personagens, “As Brumas de Avalon” é um filme que narra o avanço do
cristianismo (que estava começando a ganhar terreno) e o início da extinção do paganismo. Nesse
cenário, há um temor, por parte dos que cultuavam a velha tradição, de
que houvesse o desaparecimento do templo sagrado de Avalon - única possibilidade de levar à frente a
linhagem da Deusa.
Morgana, protagonista e narradora da história, vive
um forte drama que, muitas vezes, se confunde com sua
própria vontade: ora percebe-se em um universo fantástico
de magia do qual a sua essência faz parte, ora sua mente é composta pelos costumes cristãos que
começam a imperar. Nesse contexto, surge Arthur como
um grande guerreiro pois, segundo as palavras de
Morgana, “se um grande líder não unisse cristãos e os seguidores da Deusa, a
Bretanha estaria condenada ao barbarismo e Avalon iria
desaparecer”.
Arthur e Morgana foram levados de sua mãe ainda
crianças: ele seria treinado, por Merlin, para ser um grande guerreiro e ela,
(treinada por Viviane) para ser a substituta da Grande-Sacerdotisa de Avalon. Os
dois cresceram e se encontraram no ritual de Beltame. Ali, tiveram uma
relação sexual sem saber que eram irmãos (pois os dois estavam mascarados para esconder a sua verdadeira
identidade). Isso os tornariam iniciados na tradição. Como resultado dessa copulação,
nasce Mordred.
Mordred, filho de Morgana e de seu meio irmão Arthur, poderia resgatar a paz do sul da Grã-Bretanha e unir as tradições
religiosas. Esse era o propósito de Viviane, quando decidiu que Morgana
deveria dar à luz um filho de Arthur, que teria a mesma linhagem da Grande
Deusa, pela forte união do sangue de dois grandes guardiões. Mas Mordred, influenciado por Morgause, se rebela
contra o próprio pai – o rei Arthur. Infelizmente, a trama termina em tragédia: o filho (Mordred) mata o pai
(Arthur) e vice-versa.
Quando Morgana levou Arthur, ferido, até Avalon, para que ele sobrevivesse,
percebeu que aquele templo já havia desaparecido; entretanto, sempre esteve
presente em seu coração, mesmo naquele momento em que ele se
fechava para ela: “Embora Avalon tivesse me rejeitado, senti seu poder quando o
rei e eu chegamos às margens sagradas. Comecei a duvidar que chegaria a Avalon. Talvez, pela desobediência, ficaríamos perdidos nas brumas. Ou talvez, com a morte de Viviane, ele
tivesse desaparecido”.
Com a morte de Arthur e o avanço do Cristianismo, a antiga religião da Deusa foi substituída e, como consequência, os fieis
cristãos adaptaram a figura da Deusa pagã à figura da Virgem Maria, mãe de Jesus Cristo. Segundo Morgana, “Avalon desapareceu do mundo dos homens e apenas Glastonbury
(templo cristão) marca o local onde ele esteve. Os saxões se espalharam pela Bretanha e a tornaram sua e a Deusa foi esquecida. Ou
assim pensei por muitos anos. Até perceber que a Deusa havia sobrevivido. Ela não foi
destruída, apenas adotou outra encarnação. E talvez um dia as gerações futuras poderão
fazer com que volte a ser como a conhecíamos na glória de Avalon”.
Um dos aspectos mais chamativos em “A Brumas de Avalon” é o Culto da Grande
Deusa. Segundo pesquisadores, esse culto teve seu início nos primórdios da
humanidade, quando os primeiros homens cultuavam a Deusa Gaia, que era
representada pela natureza.Durante o período Neolítico, a mulher tinha
um papel de prestígio - ela era a “representação” da Deusa Gaia, pois possuía
o poder de gerar vida.O culto da Terra Mãe evoluiu para o culto da
Deusa Mãe por volta de 4000 a.C, tendo a Deusa Mãe continuado a ser vista como símbolo de fecundidade, de fertilidade.
Um dos aspectos mais chamativos em “A Brumas de Avalon” é o Culto da Grande
Deusa. Segundo pesquisadores, esse culto teve seu início nos primórdios da
humanidade, quando os primeiros homens cultuavam a Deusa Gaia, que era
representada pela natureza.Durante o período Neolítico, a mulher tinha
um papel de prestígio - ela era a “representação” da Deusa Gaia, pois possuía
o poder de gerar vida.O culto da Terra Mãe evoluiu para o culto da
Deusa Mãe por volta de 4000 a.C, tendo a Deusa Mãe continuado a ser vista como símbolo de fecundidade, de fertilidade.
O enredo do filme em análise
apresenta, também, vasta simbologia. Exemplifiquemos
com:
1. As brumas: que representam um período de incerteza bem
perceptível na metáfora alegorizada do título, onde há a
sugestão de um período de transição do paganismo para o
Cristianismo; do fim de uma cultura matriarcal e o
surgimento do patriarcalismo.
2. A Festa de Beltame: ritual pagão em
comemoração ao fim do inverno. Ocorria no 1º dia de verão, mas agraciava, também, a chegada da
primavera. Era conhecido como “Ritual de
Fertilidade”.
3. A lua: símbolo do feminino. Sua fase
minguante representa o poder da mulher.
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