I SIMPSIO BRASILEIRO DE CONSTELAO SISTMICA
Setembro de 2012
Constelao Familiar com Crianas
Ana Lucia de A. Braga
Introduo
Este texto se prope a contar um pouco de minha experincia com
constelao sistmica com crianas.
Trabalho com crianas desde minha adolescncia. Fui professora em
todos os nveis de ensino, tendo iniciado minha vida profissional como
professora de educao infantil, numa escola popular experimental em
uma favela do Rio de Janeiro, em 1978.
Meu trabalho como psicopedagoga clnica ajudou muito nessa nova
interao entre constelao familiar e crianas. Antes mesmo de
conhecer o trabalho de Bert Hellinger, j tinha o olhar voltado s
questes familiares, relacionando-as s dificuldades de aprendizagem e
s inmeras dificuldades emocionais que apareciam em meu consultrio.
Os primeiros adultos com quem trabalhei em terapia foram os pais de
meus clientes, inclusive em grupos de pais.
Atender grupos de crianas no fcil. O constelador que se prope a
essa tarefa deve preencher alguns pr-requisitos, como, por exemplo,
ser paciente e tolerante, conseguir focar independentemente do nvel de
rudo no ambiente, alm de ter que lidar com a enorme possibilidade de
disperso dos clientes. Deve tambm conseguir conectar a leitura do
campo - daquilo que acontece dentro da constelao - com informaes
mais simblicas, mais caractersticas da linguagem infantil.
O constelador no deve julgar ou sentir d. Como diz Bert Hellinger,
fazem parte da postura bsica do terapeuta sistmico: sem medo, sem
julgamento, sem inteno, sem pena. Deve ter coragem para mostrar o
que o campo realmente pede que seja mostrado. Gunthard Weber nos
aponta: Esse o melhor sentido do nosso trabalho - a constelao
consiste sempre num acontecimento coletivo e criador, e numa
constante entrega a um processo que no pode ser determinado de
antemo. O constelador infantil no deve ter pressa, mas tambm no
pode fazer uma sesso muito longa. As crianas no aguentam muito
tempo. Por exemplo, se uma constelao de adultos tem a durao
mdia de 60 a 90 minutos, a infantil no pode passar de 60 minutos.
Grupos infantis
Realizo constelaes de crianas tanto em meus Workshops como em
grupos semanais, aos quais denomino Grupos de Desenvolvimento
Pessoal e Constelao. Nos Workshops, os pais podem constelar pelos
filhos, quando esses ltimos tm at 14 anos. Os Grupos de
Desenvolvimento ocorrem durante 8 semanas, com sesses de duas
horas, aproximadamente. So 8 crianas com mes e pais, quando
esses ltimos participam. Cada semana destinada constelao de
uma criana. Nesses grupos tambm possvel que os pais constelem
pela criana, mas prefervel que a criana participe.
Inicio o trabalho com a explicao do que constelao familiar,
mostrando o mbile, o sino do vento, dando outros exemplos de
sistema, de conexo, alm do coletivo de estrelas e de famlia, em
linguagem simplificada, mais acessvel compreenso da criana.
Essas, independentemente de sua idade, fazem algumas perguntas,
participam, quando solicitada sua participao e, outras vezes,
entrando nas constelaes mesmo quando no so chamadas; ou
perguntam, antes, se podem entrar (deitar, sentar, etc., no meio dos
outros representantes).
A sesso ocorre do seguinte modo: uma rodada, uma constelao
imaginria e uma constelao a cada semana; em algumas sesses
realizamos, ainda, pequenos movimentos com todos os participantes.
Por exemplo, trabalhamos com desenhos, com l, com pedras, com
colagem. Focamos o medo, entre outros temas, aquilo que o filho
carrega pelos pais.
Participam do grupo crianas a partir de 3 anos e meio, adolescentes e
seus pais. Tive oportunidade de reunir crianas pequenas e adolescentes
de at 18 anos, em um mesmo grupo, de modo harmonioso.
Aps o contrato, geralmente fazemos uma rodada de nomes, idades e
problemas; se quiserem, podem falar alm dos problemas, de algo mais.
Em geral, todos ouvem com ateno e perguntam o que no entendem.
A partir da terceira sesso, o grupo parece j ter entendido como se d
o trabalho, sendo possvel uma maior concentrao por parte das
crianas, e um maior interesse tambm. Querem ouvir histrias, tanto
as que o constelador conta quanto as que os outros participantes
contam: o que sentem dentro do campo, como representantes dos
membros da famlia dos outros, as hipteses da terapeuta em relao
ao que acontece na constelao. E parecem gostar muito da pergunta:
Voc se sente melhor ou pior? Em geral respondem com propriedade e
o mais interessante que muitas das que esto sentadas, fora da
constelao, respondem tambm.
Como o trabalho fenomenolgico em essncia, dificilmente planejo
uma sesso. Sinto o campo, sinto o grupo, e s a que resolvo que
tcnica utilizar, que brincadeira usar antes ou aps a constelao.
De onde vem o emaranhamento: l, desenhos, pedras nas mos
Venho utilizando tcnicas variadas para explicar as leis sistmicas, o que
e de onde vem o emaranhamento. Por exemplo, utilizo ls coloridas
para que se diagnostique de que lado da famlia vem o emaranhamento
da questo que se quer trabalhar. Cada criana, aps pensar sua
questo, recebe dois novelos de l, um de cada vez. O primeiro refere-
se famlia do pai, mas no h necessidade de dizer isso, para que no
haja influncias indesejveis. A criana vai desenrolando o novelo at
onde quiser. Quando resolve parar, ela prpria arrebenta a l (ou recebe
ajuda quando no consegue sozinha). Pensando, ainda, na mesma
questo, recebe o outro novelo de l, de outra cor, e desenrola at onde
desejar. Aps arrebentar a l do segundo novelo, mede-se o tamanho
dos dois. O primeiro o do pai, o segundo o da me. O que
impressionante que, muitas vezes, o tamanho das duas ls
praticamente o mesmo. No entanto, muitas vezes, o tamanho fica bem
diferente. A l mais comprida indica o lado do emaranhamento.
Outra tcnica para diagnosticar o lado principal do emaranhamento
estender as duas mos para frente, colocar uma pedra em cada mo,
mais ou menos do mesmo peso (claro) ou almofadas, e deixar abaixar
a mo que pesar mais. A mo direita representa o pai e a mo
esquerda, a me. Esta tcnica foi demonstrada por Sophie Hellinger em
um dos seminrios de Bert Hellinger no Brasil.
O desenho uma tcnica fenomenal em muitos sentidos, utilizado desde
sempre pela humanidade para representar situaes, e tambm pela
psicologia, h incontvel tempo. Utilizo o desenho s vezes em dois
momentos do grupo: para trabalhar a hierarquia e a pertinncia. Aps
uma constelao interna, com o posicionamento dos pais e filhos,
podemos fazer com as crianas e pais a leitura da hierarquia, dos tipos
de famlia presentes. s vezes nos deparamos com famlias do tipo
mosaico ou mistas, ou monoparentais, ou mesmo homo afetivas, alm
daquelas que chamamos tipo nuclear1.
Para a lei da pertinncia, utilizo a anamnese ou questionrio sistmico,
que preenchida como ficha de inscrio no momento que a criana
ingressa no grupo. Fazemos a leitura do questionrio, perguntando
sobre aquilo que se reconhece existir em sua famlia. Depois, falo um
pouco sobre a importncia dos excludos na famlia, aps perguntar
quem sabe desses excludos, quem os reconhece.
Demonstramos, atravs de uma representao, como acontece este
amor s vezes secreto pelos excludos: Em duplas, um representa a si
prprio e o outro, um excludo da famlia. Peo que percebam como se
olha para o representante do excludo, como ele olha o cliente. No final
da experincia, sugiro que se reverencie e se diga: eu amo voc e o seu
destino. Por favor, me olhe com carinho, me olhe com bons olhos.
Depois, peo que se desenhe a criana, a famlia do pai e a famlia da
me, e os excludos de ambas as famlias.
Fazemos sempre a apresentao dos desenhos pelas crianas e a leitura
sistmica dos mesmos.
__________________________________________________________
1. TIPOS DE FAMLIA: MATRIMONIAL aquela onde h um casamento de papel passado, legal. UNIO ESTVEL casais que vivem juntos, sem assinar o papel, provavelmente no pretendem se casar. CONCUBINRIA casais que, provavelmente, pretendem se casar. MONOPARENTAL pai ou me criam o filho sozinho. INTERSEXUAL composta por transexuais. HOMOAFETIVA composta por casais do mesmo sexo. UNILINEAR mulheres que tiveram filhos por inseminao artificial, sem saber, muitas vezes,
quem o pai. MOSAICO ou MISTA composta por casais separados, que vivem juntos com filhos de relacionamentos anteriores. (Excerto de texto de
Ana Lucia Braga, publicado na Revista UNISAUDE, de Ribeiro Preto SP, em dezembro de 2011).
Pular carnia e os pesos que se carrega pela famlia
Outra brincadeira utilizada em meus grupos infantis pula carnia (ou
sela, ou mula), como chamada popularmente, dependendo da
regio do Brasil. Utilizo esta tcnica para mostrar como fcil pagar os
preos, ser leal e fiel a famlia de origem. E tambm para mostrar qual
lado da famlia pesa mais, qual mais fcil de se aguentar.
Carnia ou a mula so denominaes populares interessantes para o
repertrio infantil, pois ningum quer ser esse negcio fedido ou uma
mula, que no sentido pejorativo quer dizer burro, sem inteligncia.
Ningum, com a conscincia individual, de fato, quer se manter no
sofrimento, emaranhado. Porm, a conscincia sistmica nos imobiliza,
nos aponta, como uma bssola insistente, para o local do sofrimento,
para a repetio dos padres familiares.
A postura da brincadeira a mesma do pular carnia. A criana que
fica na posio de quatro apoios, no cho o cliente, a carnia. So
escolhidos representantes para o pai (e seus problemas), a me (e seus
problemas) e os problemas da prpria criana. Esses, sem que o cliente
saiba, decidem o que vo representar. Deitam nas costas da carnia,
permanecendo o tempo que for confortvel, suficiente. Depois que todos
se deitam nas costas do cliente, o grupinho compartilha.
A partir da fica bem mais fcil falar sobre emaranhamentos e explicar
sobre as conscincias, segundo Bert Hellinger.
O tapete colorido e as geraes
No espao onde realizo os atendimentos, em Sertozinho cidade
prxima a Ribeiro Preto, trabalhamos sobre um tapete colorido de
E.V.A. Utilizo o tapete de modo a contar quantas geraes precisam ser
representadas, de acordo com os passos que o cliente, bem
concentrado, d para trs, em cada quadrado do tapete. Ele descreve a
sensao e eu, como terapeuta, o acompanho na experincia. Essa
tambm uma forma ldica de trabalhar com as constelaes infantis,
explicando que, muitas vezes, nossos problemas esto conectados a
situaes do passado remoto, chegando a nossos bisavs, qui nossos
tataravs, sem se fazer importante que os tenhamos conhecido ou no.
O genograma
Esta tcnica facilita a compreenso do genograma pelas crianas, que
em um outro momento do grupo, tambm colocamos no papel com uma
colagem, com a ajuda dos pais. Bonequinhos j cortados, coloridos,
(meninos e meninas de um furador especial de papel) so dados s
crianas, que montam sua famlia de origem em pelo menos trs
geraes.
O interessante dessa tcnica que, mesmo tendo sido falado pela
terapeuta e pelas prprias crianas quem parte de sua famlia, muitas
vezes vrias outras pessoas so representadas. Algumas com nomes
conhecidos por elas, outras no. Algumas sequer percebem que colam
outros membros, alm daqueles conhecidos e planejados por elas.
Uma criana de sete anos, em um grupo, aps colar sua famlia: a me,
ele, o pai, duas pessoas presas em uma gaiola entre o cu e a terra, fez
o cu cheio de figuras masculinas. Em sua colagem a nica figura
feminina era a da me. E, ao ser interpelado sobre aquelas outras l em
cima do papel, respondeu que era o cu, com todas as crianas mortas,
com muita naturalidade. Aps a colagem, a me relatou que as bisavs
materna e paterna eram parteiras.
As histrias
Outra tcnica que utilizo com as crianas e tambm com adultos a das
histrias. Algumas vezes, dependendo do que acontece no campo,
especialmente quando percebo o campo muito confuso, carregado, com
eventos diversos, sugiro que trabalhemos com ncoras de cho, papis
posicionados no cho pelo cliente, numerados de 1 a 3, 1 a 4, de acordo
com a necessidade percebida em cada constelao. Aps o
posicionamento, coloco representantes (crianas ou adultos) sobre cada
um dos papis e peo que, com sua mente expandida, se permita entrar
no campo de memria do sistema do cliente e, com sua imaginao, crie
uma cena, uma histria para o lugar onde est posicionado. Em seguida,
a constelao continua, de acordo com as minhas percepes,
realizando o necessrio para restabelecer o fluxo amoroso dentro do
campo trabalhado. A imaginao possibilita a entrada no campo
perceptivo. Segundo Milton Erickson, A mente inconsciente muito
mais sbia do que a mente consciente.
Algumas histrias vm com um tom de realidade bastante forte. E em
muitas situaes os representantes trazem emoes tambm fortes
desses lugares.
Em um grupo de adolescentes, trabalhei desta forma com um
adolescente de 13 anos, onde seis papis foram posicionados por ele de
modo aleatrio pelo cho. Em cada um deles havia uma histria
diferente, com fortes emoes manifestadas pelos representantes dos
lugares. Em um, especialmente, o adolescente representante ficou
sem respirar, teve uma crise de tosse e ficou bem assustado com o
modo como foi tomado pelo campo. A histria era sobre um homem que
havia morrido afogado e no conseguia respirar. O representante dizia
conseguir visualizar o afogamento e depois o barco vazio. Mas tinha a
sensao de que ali, o homem tinha sido empurrado do barco (houvera
um assassinato). A me do cliente, aps a constelao, relatou que este,
quando tinha 6 anos, havia tido alguns episdios de graves doenas
pulmonares, correndo risco de morte. E que ele no aprendera a nadar,
pois tinha pavor de gua.
Em outras ocasies, pude vivenciar com as crianas, em um grupo onde
todos os clientes eram do sexo masculino, crianas de 4 a 8 anos,
histrias trazidas em linguagem mais simblica, como por exemplo, uma
disputa entre Corinthians e Palmeiras, e depois do jogo houve muita
briga, porque o Corinthians ganhou e o Palmeiras perdeu e no aceitou
perder. A configurao familiar do cliente, segundo a me, se
caracterizava por perdas em muitas geraes. Perdas materiais e perdas
de filhos homens; muitos meninos morriam em tenra juventude por
brigas e acidentes, entre outros tipos de morte.
Em constelaes como essa, podemos observar o amor secreto da
criana, a partir do que se manifesta trazendo sempre muita aflio,
como afirma Hellinger em muitos de seus textos. Muitas vezes algo
necessrio ao sistema e que recusado por muitos. A criana assume
isso em lugar dos outros. Ela olha com amor para os excludos. Por trs
de todo esse comportamento atua um amor secreto. (Revista
Eletrnica) O constelador precisa olhar para onde a criana olha.
A doena dos pais
Como tenho trabalhado com vrios grupos de crianas e adolescentes,
ao longo dos ltimos 5 anos, pude observar o comportamento de alguns
pais, obtendo, inclusive, o relato oral de alguns, e de outros, por escrito,
com relao a mudanas em seus sistemas familiares, em seus filhos e
neles prprios. Uma situao que considero curiosa a que envolve o
adoecimento dos pais (da me, do pai ou de ambos) logo aps a
constelao do filho.
A partir do momento que iniciei os grupos infantis de 8 semanas, passei
a ter mais contato com os pais, alm de alguns clientes de consultrio
que levaram seus filhos para a constelao, que me traziam seus relatos
nas sesses individuais, semanalmente. Notei, ento, que aps a
constelao, um dos pais adoecia. Eram doenas que vinham do nada,
como uma forte gripe, uma febre sem explicao. E outras, como
coceiras com leses na pele, infeco com fortes dores de ouvido, uma
depresso to forte que ele ficou jogado na cama por uma semana,
como informou uma me; diarreia. Observei que estava diante de uma
regularidade e passei a prestar mais ateno, registrando os casos que
me eram informados.
No caso que relato a seguir, a criana, de 7 anos, constelou h 3 anos
atrs. O tema constelado foi uma dor com encurtamento de uma perna.
A criana sentia dor, mas nenhum mdico descobria a origem.
Os pais so separados e a criana no conhecia a famlia do pai, at a
ocasio. Na constelao, observou-se a preponderncia da famlia
materna sobre a criana e o quanto esta a mantinha sob sua zona de
influncia. Observou-se ainda, o distanciamento do pai e,
especialmente, o quanto aquela criana carregava as dores da av
materna.
Na poca, a av apresentava-se saudvel, mas com grandes conflitos
com o marido (av) alcolatra.
Pouco tempo aps a constelao, foram diagnosticadas depresso e
diabetes da av e posteriores problemas de tero, que levaram
suspeita de cncer e a uma interveno cirrgica.
A criana passou a ter maior contato com o pai e conheceu os avs
paternos. Foi descoberto o motivo do encurtamento (havia uma
quebradura de osso que os exames no detectaram antes nem raio x)
e a criana ficou bem com os novos tratamentos. Curou-se.
Em outro caso, a criana tinha um grave problema de ouvido, desde o
nascimento. Ela constelou a primeira vez h dois anos,
aproximadamente, ocasio em que o pai adoeceu, logo aps a
constelao. Este ano, ao constelar novamente, dois dias aps a
constelao, a me adoeceu com grave dor de ouvido, ficando de cama,
junto com a criana que tambm foi acometida pelas dores e infeco do
ouvido na mesma data, tendo sido ambos, submetidos a tratamento
com antibiticos. A constelao mostrou que a criana estava
emaranhada com a me e que esta olhava apenas para o cho e para os
pais dela. A criana, em uma tentativa v de salvar a me, adoece,
dizendo a ela: antes eu do que voc, querida mame. Neste sentido, a
criana comete um crime sistmico, tentando ajudar, dar aquilo que no
tem. E, pelo amor cego, para, como diz Hellinger, essa outra
conscincia, a conscincia secreta, vale ainda outra lei, que tambm traz
problemas para as crianas. Essa lei exige que os mais antigos na
famlia tenham precedncia sobre aqueles que vieram depois. Existe,
portanto, uma hierarquia entre os membros mais antigos e os mais
novos da famlia. Essa hierarquia precisa ser respeitada. Mas, se
arrogando o direito de assumir algo pelos pais, paga caro esta criana,
vivendo dinmicas que trazem sofrimentos, como Eu fico doente por
voc, Vou morrer em seu lugar.
Mas apenas quando no olhamos para as crianas, mas sim, com elas,
para onde elas so atradas e para o que elas querem fazer em lugar
dos adultos. Ento as crianas ficam aliviadas. Quem precisa mudar so
os pais e os outros envolvidos. Eles precisam encarar aquilo que no
encararam. Com isso comea uma evoluo, um processo de
crescimento, primeiramente nos pais. S ento as crianas ficam livres
(Bert Hellinger).
O que dizem algumas mes
Seguem alguns depoimentos de mes, aps a constelao de crianas:
Me de criana de 7 anos que participou de 2 grupos de constelaes
para crianas e adolescentes em 2009 e final de 2011:
A questo da doena de meu filho melhorou de 80 a 90%. Eu fiquei
mais tranquila, no tenho mais tanto medo de perder meu filho e
consigo deix-lo mais livre. Hoje o vejo muito mais feliz e saudvel.
Meu filho ficou tranquilo, acabou toda agitao e ansiedade em que se
encontrava, comeou a aceitar as regras, limites. Hoje sinto que meu
filho muito mais feliz e agora ele consegue tambm se expressar, se
colocar sem agressividade. Ele carinhoso e calmo. Quanto a mim, hoje
consigo ver meu filho, enxerg-lo como ele , e respeit-lo.
Esta me refere que ocorreram mudanas relacionadas s questes
trabalhadas na constelao, a sentimentos, a pensamentos e a
comportamentos e atitudes da criana. Tambm refere mudanas
relacionadas a comportamentos e atitudes de outras pessoas
relacionadas criana, como na escola e em sua famlia de origem.
Refere-se, ainda, a mudanas ocorridas com os pais, especialmente ao
modo como hoje olham para a criana, sua tranquilidade com relao
a ela.
Outra me:
B., 7 anos, constelou h mais ou menos 1 ano.
A me refere que o que a levou a procurar a abordagem Constelao
Sistmica foram alguns comportamentos da criana que no a
permitiam sair sozinha para eventos, esportes e trabalho. A criana
chorava muito quando estava longe da me, tinha dificuldades em ficar
sozinha com o pai. No dormia na casa dos avs, tios e muito menos
amigos.
A me diz que percebia na criana grandes sofrimentos (ele tinha
vontade de dormir, mas no conseguia), mesmo em casa para dormir
era somente com ela.
B. constelou o medo de ficar sozinho, dormir sozinho, ficar longe de me
e pai. E diz que a criana mudou muito aps a constelao. Que no
incio, logo depois da constelao ficou muito insegura quando ele se
sentiu livre.
Hoje brinco: Ele est to seguro de si e confiante, que tenho vontade
de desconstelar o B. Depois acrescenta: Atualmente estou muito feliz
e quero que ele continue assim: sem sofrimentos por causa do medo. J
na primeira semana (4 dias aps a constelao) ele foi viajar com a
madrinha e seus primos para um stio e ele estava muito feliz. Hoje ele
dorme nos amiguinhos, nos avs e sozinho.
Uma sesso de grupo infantil
Relato uma sesso e uma constelao em um grupo infantil, do qual
participaram 8 clientes:
1. Fe. sexo feminino, 16 anos
2. Fl. sexo masculino, 17 anos
3. M., sexo feminino, 19 anos
4. M.V., sexo feminino 6 anos
5. M.C., sexo feminino, 11 anos
6. F., sexo masculino, 7 anos
7. J., sexo masculino, 10 anos
8. JG, sexo masculino, 10 anos
As mes que participaram durante os dois meses de atendimento foram:
R., C., Ca., Cl., V. e MC. Duas mes tinham dois filhos no grupo e uma
adolescente no permitiu a presena dos pais. Dois pais frequentaram o
grupo, porm de modo espordico.
No primeiro encontro, todos falaram seus nomes e disseram alguns dos
motivos que os levaram l, como por exemplo, agressividade, doenas,
problemas de concentrao na escola, ansiedade e medo excessivo em
relao s provas escolares. Na vez de M.V., ela se encolheu, enrolou
um pouquinho e acabou falando seu nome e sua idade. O pequeno de 7
anos falou que tem problemas com os amigos na escola, e com a
agressividade. Os outros no falaram sobre isso. O filho de R., de 10
anos, J.G., disse que a me havia falado muito sobre constelao, ento
ele queria conhecer para tambm se beneficiar, e acreditava no que a
me dissera. O de 16 disse que j havia assistido uma constelao e
achara interessante. O de 10, filho de C., concordava com o que a me
achava, e ela dissera que era bom, por isso ele estava ali. M. no disse
nada, s seu nome e sua idade.
Pedi que fechassem os olhos para eliminarmos os estmulos externos, e
que faramos um exerccio de imaginao. Como um tanto difcil para
a criana pequena permanecer de olhos fechados, sugeri tambm, que
olhassem para o teto, fixando um ponto l em cima. Pedi que se
imaginassem diante de seus pais, que percebessem qual o lado que o
pai estava em relao me, se eles se sentiam grandes, pequenos ou
do mesmo tamanho quando olhavam para eles. Depois, que
imaginassem os pais do pai atrs dele e os pais da me atrs dela. Que
sentissem como era olhar para eles, como eles os olhavam, e que
pensassem em seu problema, enquanto olhavam para os pais e avs; e
que, finalmente, abrissem os olhos.
Fiz nova rodada, para saber das informaes sobre a constelao
imaginria. A maioria disse que viu a me do lado direito do pai e que se
sentia pequeno em relao a eles. Trs crianas disseram que viam o
pai comeando a constelao.
No final, perguntei quem gostaria de constelar. F. levantou muito
modestamente o dedo, e M.V. levantou de verdade. Perguntei
novamente quem gostaria, e ela disse que ela gostaria. pergunta qual
a sua questo, o seu maior sofrimento, o seu problema, ela
respondeu que brigava muito com os pais, principalmente com a me.
Pedi que colocasse suas duas mos estendidas, com os olhos fechados,
e que percebesse qual a mo mais pesada. Ela o fez e, aps um
tempinho, a mo que mais pesou foi a esquerda. Ela abriu os olhos e
concordou quando eu disse que parecia que a mo da mame pesava
mais.
Expliquei a lei da hierarquia para todos, mostrando, no sentido horrio,
que a famlia comea com o pai e contanto em nmeros, um, dois,
primeiro e segundo, para que eles pudessem acompanhar a explicao.
Pedi que M.V. escolhesse pessoas para representar seu pai, sua me e
ela. Ela escolheu M. para representar sua me, J.G. para seu pai e a
uma me, C., para represent-la. Posicionou da seguinte forma: a me,
o pai e ela antes da me. Perguntei por quem comeava sua constelao
familiar, ela tentou negar, dizendo o tempo todo que era pela me, mas
pedi aps algumas tentativas de mostrar que no era pela me - que
ela contasse, e visse quem realmente era o primeiro ali. Ela, meio
contrariada, acabou concordando que a constelao comeava com ela.
A me olhava para o cho. O pai ficou profundamente emocionado,
chorou bastante e disse ficar triste por ser o ltimo, e porque elas duas
no olhavam para ele.
A me tambm chorou, disse estar muito triste.
Pedi que os pais se olhassem. Eles olharam-se com um distanciamento,
sem respeito e com tristeza. Logo desviaram os olhos um do outro e
olharam para o vazio.
A menina tambm se mostrava triste, e ficou de olhos fechados durante
muito tempo.
Pedi que F. entrasse onde quisesse, ele entrou atrs da menina, e
permaneceu l at o final da constelao, mesmo quando em alguns
momentos mudava a configurao, ele dava um jeitinho de ir atrs dela.
Coloquei a famlia do pai, que foi direto atrs dele, e depois a famlia da
me, que se colocou mais ou menos do mesmo modo, atrs dela. Eram
crianas que nunca haviam visto constelao, nunca antes haviam
participado.
O procedimento foi o mesmo que utilizo com os adultos, sem dizer onde
eles - como representantes - deveriam ir, mas sentir o campo e seguir
seu corao. surpreendente como os representantes, sendo pequenos
ou grandes em idade, tendo ou no uma experincia anterior com o
trabalho, posicionam-se onde realmente necessrio para cada
constelao. E interessante, tambm, de ver que em muitas famlias, a
representao da hierarquia com equilbrio a mesma: primeiro os
avs, depois os pais, depois os filhos.
Tanto os representantes da famlia da me quanto da do pai disseram
sentir tristeza. E o da famlia do pai, ao olhar para a representante de
M.V., chorava e dizia que era muito pesado... o representante do pai
tambm, alm de dizer que doa o corao (apontando o peito), e
algumas vezes que doa a barriga. Pedi que F. deitasse, como o excludo
da famlia do pai, sem dizer que era uma criana abortada. Ele disse
sentir tristeza neste local. O representante da famlia do pai olhou e
chorou um pouco mais; mas no fez nenhum movimento diferente. Pedi
que se aproximasse, ele no o fez. No insisti. O pai ficou mais triste
ainda; e quando pedi que F. deitasse bem nos ps do pai, este disse ter
passado a tristeza.
Pedi ao pai que olhasse para sua famlia de origem. Este no olhava com
respeito. Ao final de um tempo, percebendo que o pai no abaixaria
para sua famlia, sugeri que o representante repetisse, de p: pago o
preo, olhando para a famlia. Ele disse que estava timo assim. Ali, em
minha percepo, no havia outra soluo.
Na famlia da me deu-se mais ou menos o mesmo: coloquei o pequeno
de sete anos deitado, como o excludo da famlia da me, sem dizer que
era uma criana abortada. Ele disse que estava igual ao outro jeito, no
p do outro, alis, disse que estava um pouco melhor l com o outro.
Mas no foi nada de especial, ainda que ele tenha se colocado em
postura de deitado na praia, olhando com maior interesse e mais
descontrado ao que ocorria ali. Quando sugeri que deitasse no p da
famlia da me, ele no quis ficar l. Falou que no era bom e se
afastou.
O representante da famlia da me olhou e no demonstrou nenhum
sentimento. No fez tambm nenhum movimento diferente. Pedi me
que se aproximasse, mas para ela tambm aquilo nada representava. O
representante da criana abortada ficou ali at o final da constelao, e
disse no final, que estava bom ali.
A me, em alguns momentos da constelao, disse que se preocupava
com a filha, olhava para ela que seguia o movimento de ir para trs das
duas famlias, disse que no queria que ela sofresse tanto. Mas, ao
mesmo tempo, no conseguia sair dali, de perto da sua prpria famlia e
do marido.
Coloquei a me para olhar para a pessoa l de trs de sua famlia,
representada por F. Este disse que s tinha interesse pela representante
da cliente M.V., e que quando olhava para a me, tinha vontade de rir,
de debochar; mas que tambm no sentia nada de especial pela M.V.;
s queria ficar ali atrs. A me tambm no queria olhar, no
demonstrava respeito por aquela pessoa, nem por sua famlia. Pedi
tambm que repetisse que pagava o preo. Ela repetiu e disse se sentir
melhor.
Pedi que os pais se olhassem. Eles se olharam com carinho,
emocionados. A me disse gostar muito dele; e o pai disse tambm
gostar dela. Ambos disseram que era muito diferente se olhar agora, de
como fora no incio da constelao. Agora ela at gostava de olhar para
ele. Antes ela no conseguia de verdade, segundo a representante.
Sugeri que a representante da cliente voltasse para o incio da
constelao, pois ela estava bem l atrs.
Ela olhou para a me e disse sentir raiva da me. Que nem dava para
olhar para a representante da me. A me, por sua vez, disse que
gostava de olhar para ela, que no sabia por que ela a olhava com tanta
raiva. A me dizia que sentia muita tristeza e dor de cabea. Tambm
sentia a regio do estomago.
Solicitei que as duas se olhassem e que repetissem eu sou a me, a
grande. E para a outra: eu sou a filha, a pequena. Aqui eu sou a
ltima, s a pequena. Ambas repetiram sem dificuldades e olharam-se
com carinho durante um tempo.
Pedi que a me fosse ao lado do pai, ela espontaneamente foi para o
lado esquerdo do marido e ambos olharam para a filha, que se colocava
sentada no cho, pequena. A filha olhou para os pais com carinho e os
abraou. Repetiu SIM para ambos e para a famlia de ambos,
inicialmente com alguma dificuldade, posteriormente sem dificuldades.
Tambm pedi que repetisse para cada um dos pais: voc me deu a
vida, isso tudo. Alm da vida, me d muito mais, OBRIGADA. Ela
tambm o fez sem dificuldades.
Coloquei a representante ajoelhada, com uma almofada nas mos, e a
representada tambm. M.V. foi sem dificuldades. E pedi que
devolvessem aos pais os pesos que estava carregando por eles. Elas o
fizeram sem dificuldades. E os pais imediatamente abaixaram para
pegar esses pesos.
Coloquei M.V. para olhar para sua representante e a tirei do papel,
deixando s a representada.
Coloquei uma me, C., para representar a vida da menina, sem dizer
quem era. Pedi que a cliente se escorasse em seus pais, eles a pegaram
no colo. Ela adorou a brincadeira. Depois que eles a colocaram no cho,
pedi que olhasse para a outra representante (C.). Ela olhou, e disse que
era bonita, grande, legal. A vida tambm se sentia muito bem olhando
para a menina. Elas se olharam e se abraaram. Perguntei ao
representante l de trs da famlia da me como era olhar para esta
cena, ele disse que indiferente. A famlia do pai disse que era bom ver a
menina assim. E a da me disse ser indiferente. Todos os
representantes estavam se sentindo bem.
Terminei assim a constelao.
A representante da me chorou muito a constelao inteira. Aps a
constelao, quando perguntei se algum queria comentar, compartilhar
ou tirar dvidas, ento a representante da me, M., disse continuar com
muita dor de cabea. Coloquei a cliente na frente e sua me, M.C. atrs
dela e pedi que M. se curvasse diante delas devolvendo aquilo que
estava ainda carregando por elas.
Expliquei sobre as caronas nas constelaes, que muitas vezes
constelamos na constelao do outro, aquilo que tambm acontece em
nossa famlia, mas que naquele momento era necessrio devolver para
elas os papis. Ela o fez e disse que a dor de cabea havia passado.
Concluindo
Como j dito, por conta do grupo continuar, possvel acompanhar
possveis mudanas no comportamento das crianas que constelam,
especialmente das primeiras, assim como na atitude e comportamento
dos pais. Quanto constelao de M.V., nas sesses seguintes, a me
relatou algumas mudanas: a criana passou a dormir melhor, pois a
mesma tinha muita dificuldade para dormir; os medos ficaram mais
controlados, e, especialmente, estava uma seda, as brigas deram uma
trgua. A paz podia reinar entre elas.
Stephan Hausner diz que o terapeuta um catalisador da mudana
curativa do paciente. No ele que cura, mas ele cria condies para
que algum se cure. A constelao converge principalmente para o
paciente e para sua atitude, bem como para as possibilidades de
mudana. O trabalho da constelao com cliente tambm se caracteriza
pela tomada de contato de cada um com suas prprias foras e
possibilidades, assumindo responsabilidade por si mesmo, crescer na
autonomia de um adulto. No caso da criana, no considero desta
forma, pois o amor cego ainda predomina. Na verdade, ela est na fase
do amor cego, infantil, do pensamento mgico, que acredita que pode
salvar os pais, que pode resolver os problemas da famlia.
No entanto, como as mes esto presentes nas constelaes das
crianas, elas tambm recebem a constelao como delas prprias,
tomando contato com suas prprias foras e possibilidades, assumindo
responsabilidades por si mesmas, sendo possvel crescer na autonomia
de um adulto. Quanto s crianas, parece que, alm do prprio
movimento do campo, so autorizadas pelos pais a, com a m
conscincia, quebrarem a lealdade e fidelidade sistmicas, a crescerem
com mais liberdade.
__________________________________________________________
Ana Lucia de A. Braga
Mini curriculum:
Terapeuta de Constelaes Sistmicas
Terapeuta Corporal Neo Reichiana
Psicopedagoga Clnica e Institucional
Constelaes Sistmicas em So Paulo, na primeira turma do mdico e terapeuta
Renato Shaan Bertate, realizando seminrios com os terapeutas alemes: Mimansa
Erica Farny, Mariane Franke e Hady Leitner.
Participou de seminrio com o terapeuta alemo Jacob Schineider em 2001 E dos
seminrios de Bert Hellinger no Brasil, em 2005, 2006 e 2007, Belo Horizonte, Goinia
e Braslia, respectivamente. Participou dos I, II e III Treinamentos Avanados em
Constelaes Familiares, conduzidos por Bert Hellinger e Sophie Hellinger, em guas
de Lindia - SP, em 2008 e 2009 e no Mxico em 2011. Participou das Jornadas
Internacionais de Pedagogia Sistmica com enfoque em Bert Hellinger, promovidas
pelo CUDEC, no Mxico em 2012. membro da Escola de Hellinger: Hellinger Science, na Alemanha.
Terapia Corporal Neo Reichiana pelo Instituto Lmen de Ribeiro Preto.
Psicopedagogia pelo Hospital das Clinicas USP Ribeiro Preto. Mestrado pela Faculdade de Educao da UNICAMP, departamento de Psicologia.
Graduao pela Faculdade de Educao da UFRJ, Universidade Federal do Rio de
Janeiro.
Atuou como docente em todos os nveis de ensino (educao infantil, ensino
fundamental, ensino mdio e ensino superior). Atuou como coordenadora pedaggica
em Educao infantil, no ensino fundamental e em educao especial.
Atua como terapeuta e facilitadora de grupos (teraputicos, de estudos, de pais),
desde 1988, e como consteladora sistmica desde 2004.
Realiza atendimentos individuais e grupais no consultrio desde 1988, como
psicopedagoga e terapeuta de adultos.
CONTATO:
SITE:
www.analuciabragaconstelacao.com.br
BLOG:
www.analuciabragaconstelacao.com.br/blog/
E-MAIL:
Consultrio: Rua Abro Caixe 566, Jd. Iraj Ribeiro Preto SP CEP 14020-630
Telefones: 16-30215490 ou 16-99947224
Top Related