Campo de OuriqueCampolide
Ourique (Alentejo)
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lenda do milagre: XIV
70E calcula agora quão miseráveis e
quão perdidos andaríamos todos, por climas e mares desconhecidos, e sob céus inclementes, inimigos da natureza humana; já tão quebrantados pelas privações e tempestades, e tão cansados do longo esperar, quanto dispostos a desesperar de todo,
71 vendo já putrefactos e avariados os
mantimentos, tornados nocivos e perniciosos para os nossos enfraquecidos organismos, e não colhendo, além disso, uma alegria que nos alimentasse a esperança, embora iludindo-nos! Cuidas tu que, se este grupo de militares, que me acompanha, não fosse português, porventura persistiria tanto tempo na obediência ao seu rei e ao seu comandante?
72 Cuidas que se não teriam já revoltado
contra o seu capitão, se ele os contrariasse, fazendo-se piratas, levados pelo desespero, pela fome e pela cólera? Grandemente experimentados estão eles já, por certo, visto que nem as grandes fadigas a que têm sido submetidos os fizeram desviar daquela alta virtude portuguesa que consiste na firme lealdade e na obediência.
86Podes agora avaliar, ó rei, se houve
um dia no mundo homens que se atrevessem a semelhante expedição. Supões acaso que tanto Eneias como Ulisses houvessem dilatado a tal ponto as suas viagens? Ousou alguém, por mais versos que a seu respeito se escrevessem, ver, do profundo mar, a oitava parte do que eu tenho visto a poder de valor e de ciência, e do que espero ver ainda?
89deixem-nos fantasiar e inventar ventos soltos dos odres, Calipsos enamoradas, Harpias que lhes conspurquem a comida, e descidas aos ; que, por muito que se aperfeiçoem nessas mentirosas fábulas, tão bem delineadas, as verdades e cruas que eu venho de contar sobrepujam todos esses sublimes poemas».
90Todos os ouvintes, extasiados,
pendiam ainda da boca do eloquente Capitão quando ele pôs termo à extensa narração dos altos, grandes e sublimes feitos dos portugueses. Então, o rei de Melinde elogiou o ânimo nobilíssimo dos reis de Portugal, notabilizados em tantas guerras, e a histórica valentia, a lealdade de coração e a nobreza do povo português.
92Quão doce não é o louvor e a justa
glória dos nossos feitos, quando os vemos proclamados! Todo o homem de nobre sentimentos se esforça por vencer ou igualar em fama os antepassados ilustres. As emulações produzidas pela história dos outros dão lugar, muitas vezes, a gloriosos feitos. A quem se propõe à prática de obras valiosas, muito o incita e estimula o louvor alheio.
93, 1-4Alexandre Magno tinha em menos
apreço os feitos gloriosos de Aquiles na guerra que os maviosos versos do seu cantor. Só a estes encarecia e fazia jus.
94, 1-4Vasco da Gama esforçou-se por
mostrar que essas antigas expedições navais exalçadas por todo mundo não merecem tamanha glória e tão alta fama como a sua, que assombrou o céu e a terra.
95, 1-6A terra portuguesa produz também
Cipiões, Césares, Alexandres e Augustos; mas não lhes concede, a esses heróis, aqueles dotes cuja falta os torna rudes e incultos. Octaviano, entre as mais angustiosas conjunturas, compunha versos eruditos e formosos.
97Enfim, não houve general romano,
grego, ou mesmo bárbaro, que não fosse ao mesmo tempo ilustrado e sabedor; só entre os portugueses não acontece assim. Não o digo sem vergonha; porque o motivo de não serem muitos heróis portugueses cantados em poemas é não serem os versos apreciados por eles, pois que quem desconhece a arte poética não pode amá-la.
99Pode o nosso Gama agradecer às
Musas portuguesas o intenso amor da pátria que as levou a dar aos seus descendentes fama e nomeada, cantando os seus gloriosos e bélicos trabalhos; visto que nem ele, nem quem da sua geração usa o seu nome, usufrui tanto a amizade de Calíope, ou das ninfas do Tejo, que estas se dignassem abandonar as telas de oiro para o glorificarem.
1.1 (p. 174) = est. 89, v. 8.
1.3 Ambas as estâncias destacam o
carácter heroico das ações dos portugueses, apresentados como os únicos a empreender a difícil missão de conquistar o mar. Mesmo quando comparados com os heróis das epopeias clássicas (Eneias e Ulisses), saem vitoriosos, pois aqueles textos eram «fábulas vãs» (est. 89, v. 6), enquanto a atuação dos nautas lusitanos é «verdade» (est. 89, v. 7) e, por isso, superior a qualquer «escritura» (est. 89, v. 8).
2.1 A desvalorização da poesia e da
cultura pelos portugueses.
2.2
«Dá a terra Lusitana Scipiões, / Césares, Alexandros, e dá Augustos; / Mas não lhe dá, contudo, aqueles dões / Cuja falta os faz duros e robustos» = A (o poeta censura os portugueses que desprezam a poesia)
«Octávio, entre as maiores opressões, / Compunha versos doutos e venustos» = B (ao contrário do que sucedia na antiguidade)
«Em fim, não houve forte Capitão / Que não fosse também douto e ciente, / Da Lácia, Grega ou Bárbara nação» = B
«Sem vergonha o não digo: que a rezão / De algum não ser por versos excelente / É não se ver prezado o verso e rima: / Porque quem não sabe arte, não na estima» = A e C (o poeta afirma que é por falta de cultura que elite portuguesa despreza a arte)
«Que ele, nem quem na estirpe seu se chama, / Calíope não tem por tão amiga / Nem as Filhas do Tejo, que deixassem / As telas de ouro fino e que o cantassem» = A e C.
«Que ele, nem quem na estirpe seu se chama, / Calíope não tem por tão amiga / Nem as Filhas do Tejo, que deixassem / As telas de ouro fino e que o cantassem». = A e C
É um iogurte de coco e de ananás muita bom.genérico
É um iogurte de coco e de ananás muita bom.genérico
Você está andando, Bruno.imperfetivo
É um iogurte de coco e de ananás muita bom.genérico
Você está andando, Bruno.imperfetivo
Ainda ontem estava numa cadeira de rodas e hoje eu te vejo aqui de pé.imperfetivo
Começo a ouvir barulho.incoativo
Começo a ouvir barulho.incoativo
Veio uma luz lá do meio.perfetivo
Começo a ouvir barulho.incoativo
Veio uma luz lá do meio.perfetivo
Ela [Nossa Senhora] conhece-me.genérico
Os três pastorinhos já lerparam.perfetivo
Os três pastorinhos já lerparam.perfetivo
Você é a nova Irmã Lúcia!genérico
1.1. A perífrase usada para designar a
igreja de Belém associa esta ao local de nascimento de Cristo, o que remete para a ideia de que os portugueses estavam predestinados a cumprir a senda de Cristo.
1.2A apóstrofe «ó Rei» (v. 5) destina-se a
captar a atenção do monarca de Melinde para a situação descrita, num momento de grande tensão emocional que poderia ter condicionado o sucesso da viagem. Vasco da Gama empenha-se em fazer sentir ao seu interlocutor que os portugueses não se revelam apenas fortes fisicamente, mas demonstraram grande dureza de ânimo e força de vontade para concretizar a missão incumbida pelo seu rei.
2. «A gente da cidade» acorrera ao local
para ver partir «amigos» e «parentes» (est. 88, v. 2) ou para «ver somente» (est. 88, v. 3) e dar depois um passeio ao Centro Cultural de Belém.
2.1. Os presentes entendiam que, sendo a
viagem um «tão longo caminho e duvidoso» (est. 89, v. 1), estaria desde logo condenada ao fracasso. Sentiam os marinheiros já «perdidos» (est. 89, v. 2) ou, na melhor das hipóteses, sabiam que não os iam «tornar a ver tão cedo» (est. 89, v. 8). As esposas já sonhavam o momento em que ficariam a sós com os seus amantes e as mães pensavam em adotar novas crianças em instituições do estado.
TPC — Prepara a leitura em voz alta das estâncias nas pp. 178-179 (desta vez, todos devem preparar todas as estâncias).
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