ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DO
TRABALHADOR SOBRE OS RISCOS NO
AMBIENTE DE TRABALHO: ESTUDO
DE CASO EM UNIDADE DE OPERAÇÃO
DE EMPRESA DE ENERGIA
BRASILEIRA
Bernardete Ferreira da Silva
(UFF)
Sergio Luiz Braga França
(UFF)
Resumo Compreender se o trabalhador percebe os riscos do ambiente em que
trabalha se torna cada vez mais relevante para a empresa que busca
aprimorar a sua Gestão de Segurança e Saúde e reforçar a sua
imagem pública no mercado competitivo atual, oonde as empresas
comprometidas com a responsabilidade socioambiental tendem a obter
maior vantagem competitiva perante a sociedade e os investidores.
Investigar e analisar a Percepção de Riscos do trabalhador como um
componente das causas dos acidentes do trabalho, possibilita a adoção
de medidas administrativas específicas para esta causa, com
repercussão na redução da ocorrência dos acidentes. Neste sentido,
esta pesquisa tem como objetivo geral analisar a percepção do
trabalhador sobre riscos de seu ambiente de trabalho. Para o
desenvolvimento da pesquisa foi selecionada uma das Unidades de
Operação de Armazenamento e Transporte de Petróleo e Derivados de
Empresa de Energia Brasileira identificada como a de maior
incidência de acidentes do trabalho no período de 2008-2010. Numa
análise detalhada do quantitativo de acidentes ocorridos nesta unidade
no período mencionado compreendendo: atividade, tipo de serviço e
cargo dos acidentados, foi apontada, como mais crítico, o Serviço de
Pintura Industrial sob gestão da Atividade de Manutenção, cujos
Relatórios de Investigação de Acidentes identificaram a falha ou falta
de Percepção de Riscos como causa de acidente. Como principal
ferramenta para a pesquisa de campo, foi aplicado um Questionário
estruturado, dividido em duas partes: Parte I - Dados do Colaborador
e Parte II - Percepção de Riscos. A Parte II do Questionário foi
baseada nos dados, do Banco de Dados de Aspectos, Impactos, Perigos
e Conseqüências da Unidade de Operação objeto da pesquisa,
12 e 13 de agosto de 2011
ISSN 1984-9354
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relacionados ao Serviço de Pintura Industrial. Os resultados da
pesquisa apontaram que somente uma minoria dos trabalhadores
percebe todos os riscos do seu ambiente de trabalho e que os
Programas de Comunicação de Riscos implantados na unidade são
insuficientes para preparar o trabalhador a perceber estes riscos e
desenvolver atitudes seguras.
Palavras-chaves: Acidente do Trabalho. Gestão de Segurança.
Percepção de Riscos.
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1 Introdução
A preocupação com a incidência de acidentes e problemas de saúde provenientes do
trabalho e a procura por mecanismos capazes de preveni-los é mundial. O acidente do
trabalho traz consigo um impacto negativo a vida do trabalhador e soma-se a este fato, o custo
envolvido na ocorrência que afeta consideravelmente a economia.
Estimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam que cerca de
6.000 trabalhadores morrem por dia no mundo devido a acidentes do trabalho e doenças
ocupacionais. Além disso, a cada ano estima-se que ocorrem 270 milhões de acidentes não-
fatais com pelo menos três dias de afastamento do trabalho e 160 milhões de novos casos de
doenças relacionadas ao trabalho. O custo total estimado dessas ocorrências pela OIT equivale
a 4% do Produto Interno Bruto global, ou mais de 20 vezes o montante global da ajuda
pública ao desenvolvimento (OIT, 2008).
No Brasil, dados do Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho 2009 do Ministério
do Trabalho e Emprego (MTE) e Ministério da Previdência Social, registraram a incidência
de 723.452 acidentes sendo que 528.279 possuíam Comunicação de Acidente do Trabalho
(CAT). Do total de acidentes com CAT, 79,7% corresponderam a acidentes típicos1
(421.141). A grande parte dos benefícios acidentários é de responsabilidade do Ministério da
Previdência Social, por meio do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). No ano de
2009, a Previdência Social concedeu 4,5 milhões de benefícios, dos quais 83,9% eram
previdenciários, 7,9% acidentários e 8,1% assistenciais perfazendo R$ 3,18 bilhões, o que
representou um acréscimo de 8,3% em relação ao ano anterior, com os benefícios urbanos
crescendo 7,0% e os benefícios rurais 15,8%.
Diante deste quadro alarmante, é relevante para a situação econômica das empresas, a
tomada de ações capazes de prevenir os acidentes do trabalho. Se junta a este fato a
obrigatoriedade de atendimento a Constituição Federal Brasileira (1988) que em seu Capítulo
II, artigo7, inciso XXII assegura a todos os trabalhadores urbanos e rurais o direito a redução
dos riscos inerentes ao trabalho, por meio da aplicação de normas de saúde, higiene e
segurança. Além disto, no mercado competitivo atual a empresa visivelmente comprometida
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com a responsabilidade socioambiental tende a obter maior vantagem competitiva perante a
sociedade e os investidores. Dentro do contexto de responsabilidade socioambiental inclui-se
o desempenho em segurança da empresa.
A busca pela excelência na Gestão em Segurança, Meio Ambiente e
Saúde (SMS), passou a ser uma meta estratégica para as empresas que
pretendem garantir participação em um mercado cada vez mais
competitivo e regido por uma sociedade a cada dia mais exigente
(THEOBALD 2007, p. 50).
De acordo com a OIT (2011) a implantação na última década do Sistema de Gestão de
Segurança e Saúde nas empresas tem se mostrado fundamental para a melhoria das condições
de trabalho e do ambiente de trabalho. Desse modo, cada vez mais empresas têm buscado a
Certificação da sua Gestão Segurança e Saúde por meio da aplicação da norma BS OHSAS
18001. Conforme mencionado anteriormente, prevenir os acidentes do trabalho é primordial
para o desempenho de uma empresa. Para melhorar os resultados em segurança e saúde, cada
vez mais se faz necessário aprofundar a investigação e análise dos acidentes do trabalho a fim
de identificar a(s) causa(s) e propor medidas capazes de evitar a sua recorrência e minimizar o
aumento das suas conseqüências.
De acordo com Hollnagel (1998) entre 80-85% dos acidentes ocorridos em usinas
nucleares na década de 80 e na National Aeronautics and Space Administration (NASA) no
período de 1990-1993 indicaram o erro humano ou ações humanas erradas como causa destes
acidentes. Aprofundando esta análise, uma das variáveis relacionada ao erro humano ou falha
humana identificada na literatura como fator contribuinte de acidentes é a percepção de riscos
do trabalhador. Oliveira (2007) afirma que a relação entre acidente do trabalho, clima de
segurança e comportamento de segurança é influenciada por variáveis como a percepção que
o trabalhador tem sobre um determinado risco por ele identificado no seu contexto laboral ou
pelo seu conhecimento sobre as questões de segurança nesse mesmo contexto.
Compreender se o trabalhador percebe os riscos do ambiente em que trabalha se torna
cada vez mais relevante para a empresa que busca aprimorar a sua Gestão de SST.
Neste sentido, a situação problema que orienta o desenvolvimento desta pesquisa é:
Como a percepção do trabalhador sobre o risco contribui para a melhoria do Sistema de
Gestão de SST?
1 Acidente Típico: é o acidente decorrente da característica da atividade profissional
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O objetivo principal do artigo é analisar a percepção do trabalhador sobre aos riscos a
que está exposto no seu ambiente de trabalho. Para tal, pretende-se mapear a percepção dos
trabalhadores envolvidos com o Serviço de Pintura Industrial de uma Unidade de Operação de
uma Área de Negócio de Empresa de Energia Brasileira, no qual foi constatado o maior
número de acidentes do trabalho no período 2008-2010 sendo que vários de seus Relatórios
de Investigação de Acidentes apontavam como uma das causas destes acidentes, a falta ou
falha da Percepção de Riscos do trabalhador. A partir dos dados levantados busca se
identificar a contribuição da percepção de riscos para o Sistema de Gestão de SST.
Um dos motivos da escolha para pesquisa de uma das Unidades de Operação de uma
Área de Negócio de Empresa de Energia Brasileira, localizada numa cidade da região sudeste
do Brasil se deve ao fato dela pertencer a um ramo de atividade considerado essencial para o
abastecimento de produtos derivados de petróleo no mercado interno. Somam-se a este fato,
os seguintes motivos: o histórico dos acidentes do trabalho ocorridos no período de 2008-
2010 indicando-a como a de maior incidência de acidentes quando comparada com as demais
Unidades de Operação da Área de Negócio acima mencionada; o total de empregados que
compõe a força de trabalho; o porte da Unidade em relação ao quantitativo expressivo de
produtos movimentados; e acessibilidade aos dados da Unidade. Aprofundando a análise dos
acidentes do trabalho ocorridos na Unidade, identificou-se que o Serviço de Pintura Industrial,
coordenado pela Atividade de Manutenção, foi o que apresentou o maior número de acidentes
entre 2008 e 2010 e que, em sua maioria, os respectivos Relatórios de investigação dos
acidentes apontavam a falta ou falha de Percepção de Riscos do trabalhador como uma das
causas da ocorrência destes acidentes.
Por este motivo o público-alvo da pesquisa a ser estudado são os trabalhadores
envolvidos com o Serviço de Pintura Industrial perfazendo um empregado próprio, um
empregado cedido de outra Unidade de Operação da Empresa de Energia Brasileira e os
empregados de empresa contratada. O tema Percepção de Riscos foi definido a partir da
observação da expressiva freqüência em se atribuir a falta ou falha da Percepção de Riscos
dos trabalhadores como causa de acidentes do trabalho nos Relatórios de Investigação de
Acidentes da Unidade de Operação de Empresa de Energia Brasileira objeto da pesquisa. Esta
pesquisa não pretende identificar e examinar os fatores que podem influenciar a percepção
dos trabalhadores quanto aos os riscos do seu ambiente de trabalho. Segundo Mullen (2004,
desempenhada pelo acidentado. (Ministério do Trabalho e Emprego)
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p.276), “poucos pesquisadores tem examinado se os indivíduos estão conscientes dos riscos
associados à sua atividade” [...]. Neste sentido, a pesquisa pretende contribuir para a
ampliação do conhecimento no meio acadêmico sobre o tema Percepção de Riscos dos
trabalhadores tendo em vista a escassez de estudos desenvolvidos no Brasil. Além disto, esta
pesquisa pode contribuir para que as empresas inseridas no mercado competitivo atual que
anseiam compreender a percepção do trabalhador sobre os riscos do seu ambiente de trabalho
visando aplicar medidas eficazes para prepará-lo a perceber os riscos e, em decorrência,
melhorar o seu desempenho em SMS.
2. Revisão de Literatura
Na literatura antiga sobre análise e investigação de acidentes, o erro humano aparece
como fator preponderante de causa de acidentes em detrimento das possíveis condições que o
levam a acontecer.
2.1 Erro Humano/Falha Humana
O erro humano tem sido diagnosticado desde o início da industrialização oriunda da
Revolução Industrial, pela migração de trabalhadores das atividades agrícolas para exercer
atividades nas fábricas sem a devida qualificação.
Segundo Trepess (2003) pesquisas sobre o erro humano vêm sendo desenvolvidas por
diversas disciplinas, tais como, psicologia, sociologia, medicina, ergonomia, computação e
antropologia sendo que cada uma analisa o erro humano sob um foco ligeiramente diferente.
Voltando à literatura mais antiga, provavelmente, o primeiro registro de reconhecimento da
importância do erro humano na análise de acidentes industriais foi feito por Heinrich (1931)
por meio da Teoria do Dominó da qual surgiram os termos ato inseguro proveniente da ação
humana e condição insegura. O conceito de erro humano vem sofrendo mudanças em
decorrência do avanço tecnológico e crescente interação homem-máquina, porém ainda não
existe uma definição aceita universalmente (SALMON, et al 2010).
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De acordo com Dekker (2002) existem duas visões diferentes sobre o erro humano e a
contribuição humana para o acidente. Na “visão “antiga”, o erro humano era considerado
como causa da falha e na visão “nova” o erro humano é considerado como um sintoma da
falha. Pesquisadores envolvidos em investigação e análise de acidentes são defensores da
nova visão (REASON, 1997, SHAPELL; WIEGMANN, 2000).
Apesar disto, parece que a idéia de ações humanas erradas preconizadas por Heinrich,
no entanto, ainda sobrevivem nas investigações de acidentes associadas ao ato inseguro.
(REASON, 2000; ALMEIDA, 2006; KOROLIJA E LUNDBERG, 2010).
2.2 Teorias, Modelos de Causa e Métodos de Investigação de Acidentes
As teorias e modelos de casualidade de acidentes constituem a base para o processo de
investigação e análise de acidentes, pois possibilitam o aprimoramento das conclusões destes
acidentes e com isto, a melhoria do sistema de segurança das empresas. (BALLARDIN, et al,
2008). De acordo com a literatura, entre os modelos de Erro Humano mais aceitos e utilizados
se destacam as desenvolvidas por Rasmussen (1987), e Simpson, Horberry e Joy, (2009).
Dentre os modelos mais recentes de análise e classificação de erros humanos está o modelo
desenvolvido por segundo Shappell e Wiegmann (2000). Este modelo é baseado no Modelo
de Queijo Suíço de Reason (1990) em que expandiram a categoria de erros em erros de
decisão, erros de habilidade e erros de percepção em virtude da distinção de erro e violação
proposta por Reason (1990) ter se tornado insuficiente para a investigação de acidentes na
aviação. Os erros de decisão referem-se a um comportamento intencional que procede como
pretendido, mas na verdade o plano se mostra inadequado ou inapropriado para a situação. Os
erros de habilidade são aqueles que ocorrem de forma inconsciente, sendo relacionados às
falhas de atenção, de memória ou de técnica.
Já os erros de percepção ocorrem quando aquilo que é percebido por uma pessoa
difere da realidade. Estes erros ocorrem quando a entrada sensorial é degradada ou não usual,
como no caso de ilusão visual, desorientação espacial e erro no julgamento de distância,
altitude e velocidade no caso de acidentes na aviação. A ilusão visual ocorre quando o cérebro
tenta preencher os “buracos” ou “falhas” com aquilo que o mesmo sente como correto em um
ambiente visual empobrecido.
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De acordo com Correa e Junior (2007) o modelo de análise e classificação de erros
humanos proposto por Shappell e Wiegmann (2000) pode ser aplicado na análise de acidentes
industriais vindo a contribuir significativamente para a efetiva eliminação da visão de que os
acidentes ocorrem por obra do acaso e que somente a gestão proativa da função “segurança do
trabalho” será capaz de minorar os custos econômicos e sociais dos acidentes industriais.
2.3 Normas de Gestão de Segurança e Saúde
Os Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho são ferramentas gerenciais
que contribuem para a melhoria do desempenho das empresas em relação às questões de
Segurança e Saúde no Trabalho, hoje uma necessidade fundamental para as empresas,
trabalhadores e sociedade como um todo conforme mencionado anteriormente. Na literatura,
percebe-se que poucas organizações se dedicaram a desenvolver normas sobre sistemas de
gestão de segurança e saúde. Dentre as normas mais utilizadas podemos citar: normas BS
8800, ILO-OHS 2001, BS OHSAS 18001.
2.4 Percepção de Riscos
O tema Percepção de Riscos surgiu na década de 1960 em função da opinião pública
ter sido contra a implantação da tecnologia nuclear que era considerada pelos cientistas como
energia limpa. As comunidades científicas e governamentais não entendiam porque a
percepção do público foi contra o uso da energia nuclear quando todos os cientistas
declararam o quão seguro era a nova tecnologia. O primeiro estudo sobre Percepção de Riscos
foi desenvolvido em 1969 por Chauncey Starr intitulado “Social benefit versus technological
risk” que investigou detalhadamente os riscos e identificou que a sociedade parecia aceitar
riscos na medida em que eles estavam associados com os benefícios.
Slovic (1987) em Perception of risk, um dos artigos mais citados e antigos na
literatura, declara que enquanto analistas empregam técnicas sofisticadas para avaliar riscos, a
maioria dos cidadãos tem julgamento intuitivo sobre o risco normalmente chamado de
“Percepção de Riscos”. Segundo Bley (2007, p.113) “a Percepção de Riscos diz respeito à
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capacidade da pessoa de identificar os perigos e reconhecer os riscos, atribuindo-lhe
significado, seja no trabalho, no trânsito, no ar” [...]. A capacidade de Percepção de Riscos
das pessoas é influenciada pelo estado de saúde, da atenção, do estado emocional. O
mapeamento da Percepção de Riscos dos trabalhadores permite de certa maneira avaliar a
importância que estes dão ao processo de gestão de SST na empresa. Muitas vezes o
trabalhador comete comportamentos inseguros por não conhecer de fato os riscos aos quais
está exposto em seu ambiente de trabalho. Segundo a ABNT/ISO/IEC Guia 73 (2005, p.3)
Percepção de Riscos é definida como “a maneira como a parte envolvida percebe o risco com
base em um conjunto de valores ou interesses.”
Para Masini (2009, p.16) “o paradigma psicométrico representa uma abordagem em que
o risco é particularmente definido e percebido por indivíduos que são influenciados por vários
fatores psicológicos, sociais, institucionais e culturais”. Slovic (2000) afirma que estes
questionários sistematizam e predizem a Percepção de Riscos, identificando similaridades e
diferenças entre grupos, demonstrando que diferentes pessoas concebem e percebem os riscos
de maneiras diferentes.
De acordo com Oliveira
A Percepção de Riscos tem a ver com a interpretação que o
trabalhador faz de um determinado fator que considera como risco, no
entanto, este fator pode realmente representar um risco ou, pelo
contrário, não apresentar uma ameaça, contudo é visto pelo
trabalhador como algo que o coloca em risco. (OLIVEIRA, 2007,
p.16)
Para Gordon (2006) a literatura não dispõe com riqueza de informações sobre como o
risco é percebido pelo indivíduo bem como tais percepções são influenciadas. Apesar de o
risco ser considerado uma combinação da probabilidade x severidade, é geralmente
reconhecido que não é passível de medição física. Como não tem unidade, qualquer tentativa
em amarrar um significado preciso da palavra pode rapidamente mostrar o quão intangível
uma idéia de risco é. Por não poder ser medido, sentimentos, experiências, fatores sócio-
culturais, antecedentes pessoais, tais como origem social, estilo de vida e cultura
inevitavelmente podem influenciar no processo de avaliação de risco (mesmo no caso dos
especialistas em segurança) a maneira como o risco é percebido. Segundo o referido autor, o
estudo mostra que medidas de segurança permanentes instituídas pelos gestores do processo
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de gestão de segurança do setor estudado (por exemplo, o uso de cintos de segurança e
capacete) não foram tomadas em função do risco percebido.
2.5 Comunicação de Risco
Um dos mecanismos mais relevantes para o desenvolvimento da percepção de risco do
trabalhador é a comunicação de risco - etapa do processo de gerenciamento de risco, a qual
contribui para gerar e receber as informações necessárias para que as partes interessadas não
somente compreendam as iniciativas, processos de decisão tomados pelas organizações para
gerenciar seus riscos, sejam eles ocupacionais ou ambientais, mas também, para promover e
desenvolver a percepção que essas partes interessadas têm a respeito dos perigos e riscos
existentes decorrentes da natureza da atividade desenvolvida. (RINALDI, 2007, p.15, grifo do
autor). De acordo com Meneguetti (2010) em função do programa de comunicação de risco
denominado Auditoria Comportamental buscar a sensibilização e aprendizagem do
trabalhador, existe a tendência de mudança na cultura de segurança deste trabalhador, seja
pela melhoria da Percepção de Riscos, da motivação ou até mesmo pela troca de experiência
entre o auditor e o auditado.
3. Estudo de Caso
No Brasil, a Empresa de Energia Brasileira a qual pertence à Unidade de Operação de
objeto da pesquisa do ramo de abastecimento de petróleo e derivados no mercado interno tem
investido cada vez mais no gerenciamento adequado dos riscos em todas as suas Unidades de
Operação por meio da adoção de vários mecanismos, tais como, adoção de alta tecnologia nos
processos, certificação do seu Sistema de Gestão de Segurança, Meio Ambiente e Saúde,
implantação de Diretrizes específicas de Segurança, Meio Ambiente e Saúde (SMS) visando
atingir a excelência em SMS. Com isto, evidenciou-se no decorrer dos anos, uma melhora
significativa do desempenho em SMS, porém os acidentes do trabalho ainda acontecem.
Um dos instrumentos empregados nestas empresas que apóiam a prevenção de
acidentes é o processo de Investigação e Análise do acidente. No decorrer dos últimos anos,
verificou-se que os Relatórios de Investigação de Acidentes apresentavam uma freqüência
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significativa em se atribuir a falta ou falha da Percepção de Riscos dos trabalhadores como
causa de acidentes do trabalho. A Unidade de Operação objeto da pesquisa é composta por
quatro áreas: Operação, Manutenção, SMS Operacional e Conformidade e é certificada nas
normas ISO 14001:2004, ISO 9.001:2008 e BS OHSAS: 18001:2007.
Para analisar se os trabalhadores percebem os riscos a que estão expostos no ambiente
de trabalho, foi realizada a pesquisa de campo com os trabalhadores diretamente envolvidos
com os Serviços de Pintura Industrial na qual houve a maior ocorrência de acidentes de
trabalho no período de 2008-2010 evidenciado pelos resultados das Estatísticas Anuais de
Acidentes de Trabalho no período acima mencionado além de que, em sua maioria, os seus
Relatórios de Investigação de Acidentes apontavam a falta/falha de percepção de risco como
uma das causas destes acidentes. Como instrumento de pesquisa foi utilizado um Questionário
dividido em duas partes, sendo a Parte I intitulada Dados do Colaborador, direcionada ao
conhecimento das características dos trabalhadores necessárias à pesquisa, tais como, sexo,
idade, experiência de trabalho, vínculo empregatício com a Unidade de Operação objeto da
pesquisa, escolaridade, função na empresa, cargo que ocupa e acidentalidade na Unidade. As
questões são de múltipla escolha, exceto uma do tipo dicotômica. Na Parte I do Questionário,
também estão descritas as instruções para o seu preenchimento. Os dados preenchidos
propiciam uma posterior correlação com os dados obtidos no Questionário Parte II -
Percepção de Riscos formado por questões que visam identificar, no momento da pesquisa, a
Percepção de Riscos dos trabalhadores diante dos perigos existentes no seu ambiente e se os
programas de comunicação de riscos (Diálogo Diário de Segurança, Meio Ambiente e Saúde -
DDSMS, Auditoria Comportamental, Análise Preliminar de Riscos, Palestra de Integração,
Procedimento de Serviços de Pintura e/ou Permissão para Trabalho) utilizados na Unidade de
Operação objeto da pesquisa ajudam a perceber os riscos (identificar os perigos e reconhecer
os riscos) do seu ambiente de trabalho. Participaram da pesquisa vinte e quatro (24)
trabalhadores envolvidos com o Serviço de Pintura Industrial sendo que 23 eram
terceirizados, aos quais foi solicitado o preenchimento dos Questionários Parte I (Dados do
Colaborador) e Parte II (Percepção de Riscos).
4. Análise dos Resultado
4.1 Questionário Parte I – Dados dos Colaboradores
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Apresentam-se abaixo os dados dos colaboradores:
Sexo: O sexo masculino é predominante no Serviço de Pintura Industrial sendo identificada
apenas uma mulher que exerce a função de técnica de segurança, com idade entre 22 e 32
anos. Em função da quantidade ínfima de mulheres, não foi possível traçar um comparativo
entre a Percepção de Riscos de Homens e Mulheres. Faixa etária: O Gráf. 01 mostra que
existe equilíbrio (29%) entre as faixas etárias de 22 a 32 anos e de 44 a 54 anos o que
configura uma equipe adulta com idade média de 38 anos. Cabe lembrar que apenas a idade
média não é suficiente para caracterizar a maturidade da equipe, existem outros fatores que
devem ser considerados. Tempo de Trabalho na Unidade de Operação objeto da pesquisa
– Registra-se uma ligeira predominância de trabalhadores na faixa de 11 a 15 anos de trabalho
na Unidade de Operação objeto da pesquisa. Embora a predominância do tempo de empresa
dos trabalhadores esteja na faixa de 11 a 15 anos, de acordo com os dados estatísticos de
acidentes ocorridos Unidade de Operação objeto da pesquisa no período 2008-20010,
demonstram que 62,3% dos acidentes ocorreram com trabalhadores com tempo de empresa de
até 6 anos. A interpretação deste dado impulsiona a elaboração e implantação de medidas
voltadas a educação dos trabalhadores na busca da melhoria da Percepção de Riscos e
desenvolvimento de atitudes seguras. Vínculo empregatício com a Unidade Objeto da
pesquisa - Dos vinte e quatro (24) trabalhadores envolvidos com o Serviço de Pintura
Industrial que participaram da pesquisa, vinte e três (23) são de empresa contratada (95,8%) e
um (1) empregado cedido de outra unidade da Empresa Brasileira de Energia. Este dado é
preocupante em função da alta rotatividade dos empregados terceirizados e impulsiona a
empresa a aumentar os investimentos em capacitação a fim de que os trabalhadores sejam
capazes de identificar e reconhecer os riscos do seu ambiente de trabalho. Grau de
escolaridade: Cinqüenta e nove (59) % dos trabalhadores do Serviço de Pintura Industrial
que participaram da pesquisa possuem até o 1º grau completo. Não há nenhum funcionário
pesquisado com curso superior. Este é mais um dado preocupante que enfatiza a necessidade
premente de capacitação dos trabalhadores e que pode estar influenciando a percepção dos
riscos e do entendimento da importância dos programas de comunicação de riscos. Área de
Atuação - Dos trabalhadores envolvidos com o Serviço de Pintura Industrial, os pintores
(58%) foram os que mais se acidentaram no período 2008-2010. Acidentalidade - Dos vinte
e quatro (24) trabalhadores que participaram da pesquisa, dezenove (19) responderam que
nunca se acidentaram enquanto quatro (4) responderam que já se acidentaram e um deixou de
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responder. Os acidentes informados ocorreram em 1980, 2008 e 2010, sendo que um dos
trabalhadores não informou o ano do acidente. Cabe informar que somente 2 acidentados
faziam parte da estatística, atualmente continuam trabalhando na empresa contratada que
executa o Serviço de Pintura Industrial. Procedeu-se em seguida a análise dos dados
respondidos por cada trabalhador no Questionário Parte II - Percepção de Riscos.
4.2 Questionário Parte II - Percepção de Riscos
Para análise da Percepção de Riscos verifica-se, por meio dos dados obtidos na Parte
II do Questionário, se os trabalhadores conseguiram identificar os perigos relacionados ao
ambiente de trabalho do Serviço de Pintura Industrial e comparado o “Nível de Riscos
definido para cada perigo identificado pela Unidade de Operação objeto da pesquisa” com o
“Risco percebido” pelos trabalhadores. O Questionário Parte II – Percepção de Riscos
apresentava um total de 29 perigos sendo que somente 23 são relacionados ao Serviço de
Pintura Industrial. Quantidade de perigos percebidos por trabalhador - O Gráf.01 indica
que dos 24 trabalhadores que participaram da pesquisa, somente 5 ou 21% identificaram todos
os 23 perigos do ambiente do Serviço de Pintura Industrial citados no Banco de Dados de
AIPC da Unidade de Operação objeto da pesquisa. Os demais identificaram menos que 23
perigos, sendo que 9 ou 38% destes trabalhadores identificaram menos que 20 perigos. Este
resultado indica que 79 % dos trabalhadores não identificaram todos os perigos do ambiente
do Serviço de Pintura Industrial.
QUANTIDADE DE RISCOS PERCEBIDOS POR TRABALHADOR
Trabalhadores do Serviço de Pintura Industrial
1
4
21 1
4
24 5
14 15 16 18 19 20 21 22 23
Riscos
Trab
alha
dor
Gráfico 01 - Quantidade de perigos identificados por trabalhador do Serviço de da Pintura
Industrial da Unidade de Operação objeto da pesquisa.
Fonte: Questionário Parte II - Percepção de Riscos elaborado pela autora - 2011.
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Perigos identificados não relacionados ao Serviço de Pintura Industrial - O Quadro 01
descreve os 6 perigos de outras tarefas que foram colocados no Questionário - Parte II, mas
que não estão relacionados ao Serviço de Pintura Industrial conforme definido no Banco de
Dados de AIPC. Com isto, era esperado que nenhum dos trabalhadores os identificasse.
Código
Perigo
Tarefa
PR 3 Estar exposto ao contato com material
cortante/perfurante
Serviço administrativo
PR 9 Estar exposto a desconforto visual Inspeção de Segurança, Meio
Ambiente e Saúde
PR 11 Estar exposto à iluminação
inadequada/insuficiente
Inspeção de Segurança, Meio
Ambiente e Saúde
PR 16 Estar exposto à contaminação por
microrganismos, bactérias, vírus e fungos
Inspeção e manutenção de
rede de esgotos sanitários e
águas
PR 19 Estar exposto à condição atmosférica adversa
(ex: ventos fortes, chuvas, vendaval,
inundação, etc.)
Manutenção de equipamentos
elétricos industriais
PR 25 Estar exposto aos riscos de contato com partes
rotativas de máquinas
Manutenção de máquinas de
carga
Quadro 01 - Riscos não relacionados aos Serviços de Pintura Industrial
Fonte: Banco de Dados de AIPC da Unidade de Operação objeto da pesquisa (2009)
Os dados obtidos indicaram que em média, 77% dos trabalhadores percebem os 6
riscos do Quadro 01 como sendo relacionados ao Serviço de Pintura Industrial. Neste sentido,
estes dados apontam a necessidade de a Atividade de Manutenção da Unidade de Operação
objeto da pesquisa reavaliar os dados inseridos no Banco de dados de AIPC relacionados ao
Serviço de Pintura Industrial junto com os trabalhadores e promover a revisão do referido
Banco de Dados e retreinamento dos trabalhadores, caso identificada esta necessidade.
Níveis de Riscos percebidos pelos trabalhadores do Serviço de Pintura Industrial -. Com
base nas respostas do Questionário referente a (Severidade + Probabilidade) de cada evento
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perigoso foi identificado o nível de risco percebido pelos trabalhadores e o percentual das
respostas em que o nível de risco foi considerado alto pelos trabalhadores.
De acordo com os dados pode-se afirmar que 48% dos trabalhadores percebem em
média o nível de risco Baixo para as questões do questionário, enquanto que 52% percebem
um nível de risco em média Moderado. Um dado importante é que, em média, nenhum dos
níveis de risco foi considerado Alto pelos trabalhadores, todavia, vale salientar que algumas
das questões, vinte e oito (28%) sobre Percepção de Riscos, foram consideradas com nível de
risco "Alto" por (20% ou mais) dos trabalhadores, sendo elas: estar exposto ao risco de
contato com mangueira em movimento / jato de equipamento em despressurização; estar
exposto ao risco decorrente de postura inadequada; estar exposto ao risco de explosão; estar
exposto ao risco de contato e/ou inalação de gases e vapores; estar exposto ao risco de
inalação de aerodispersóides (poeira); estar exposto ao risco de contato com produtos
químicos; estar exposto ao risco de contato com níveis alto de ruído. (acima de 85 decibéis) e
estar exposto aos riscos decorrentes do incêndio.
Outro ponto a ser ressaltado é que nenhuma das perguntas sobre Percepção de Riscos
que não constavam do Banco de Dados de AIPC, apesar da grande incidência de respostas
(em média 77%), não apresentaram uma freqüência acentuada de respostas de nível de risco
"Alto". E, ainda, apenas uma delas (estar exposto ao risco de contaminação por
microrganismos, bactérias, vírus e fungos) apresentou uma média o nível de risco
"Moderado", enquanto que as demais o nível de risco foi "Baixo". Pode-se inferir neste caso,
mas sem uma evidência conclusiva, que estas 6 questões realmente não seriam necessárias ao
questionário, ou seja, pelo fato de os trabalhadores apesar de terem respondido que percebiam
estes riscos os mesmos foram considerados, em média, de Baixo nível de risco.
Trabalhador versus Unidade de Operação objeto da pesquisa – níveis de riscos
percebidos O resultado do nível de risco percebido pelos trabalhadores para cada perigo
assinalado no Questionário Parte II – Percepção de Riscos foi comparado com o nível de risco
definido para cada perigo no Banco de Dados de AIPC da Unidade de Operação objeto da
pesquisa para o Serviço de Pintura Industrial. O Gráf.16 indica que apenas 4 níveis de riscos
dos 23 apontados no Banco de Dados de AIPC para o Serviço de Pintura Industrial foram
percebidos pelos trabalhadores no mesmo nível que os definidos pela unidade no Banco de
dados de AIPC. Ademais 4 níveis de riscos não foram percebidos.
O que mais chamou a atenção é que 10 níveis de riscos foram percebidos pelos
trabalhadores com maior pontuação que a definida pela Unidade de Operação objeto da
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pesquisa. E, ainda, em 5 deles a pontuação ficou abaixo dos níveis de risco definidos pela
unidade, o que é bastante preocupante, pois alguns trabalhadores denotam a falta de noção das
conseqüências reais dos perigos a que estão expostos.
NÍVEL DE RISCO PERCEBIDO PELOS TRABALHADORES
VERSUS NÍVEL DE RISCO DEFINIDO
PELA UNIDADE DE OPERAÇÃO OBJETO DA PESQUISA Serviço de Pintura Industrial
4; 18%
10; 44%5; 23%
4; 15%Mesmo nível de percepção
Maior nível de percepção
Menor nível de percepção
Não percebeu nível de risco
Gráfico 03 - Nível de risco percebido pelos trabalhadores versos Nível de risco definido pela
Unidade de Operação objeto da pesquisa - Serviço de Pintura Industrial
Fonte: Questionário Parte II - Percepção de Riscos - elaborado pela autora (2011)
Visando aprofundar a análise sobre os
riscos percebidos versus riscos definidos
pela Unidade objeto da pesquisa os dados
obtidos citados abaixo mostram a
distribuição das respostas no questionário
relativo ao mesmo nível de risco, maior e
menor nível de risco e quando o funcionário
pesquisado não percebeu o risco.
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Total de trabalhadores versus mesmo nível
de risco definido que a Unidade de Operação
para o Serviço de Pintura Industrial:
Analisando os dados obtidos pode-se
concluir que o trabalhador que mais teve o
nível de percepção idêntica ao que a
Unidade de Operação objeto da pesquisa
considera como adequada, obteve 11 níveis
de percepção de riscos idênticos. Em
seguida, tiveram dois trabalhadores com 9
repostas idênticas.
Total de trabalhadores versus nível de risco maior do que o definido pela
Unidade de Operação objeto da pesquisa para o Serviço de Pintura Industrial: com os
dados obtidos fica claro que os funcionários, em geral, tiveram níveis de percepção de riscos
maiores do que a Unidade de Operação objeto da pesquisa considera como real. Um deste
respondeu o questionário com 19 níveis de percepção de riscos acima do considerado
adequado pela Unidade e outro com 17.
Total de trabalhadores versus nível de risco menor do que o definido pela
Unidade de Operação objeto da pesquisa para o Serviço de Pintura Industrial: com os
dados obtidos indicam que já para os níveis de risco menor que o definido pela Unidade de
Operação objeto da pesquisa, houve um trabalhador que definiu 12 níveis de riscos abaixo do
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definido como real pela unidade, 4 respondentes com 10 níveis de risco abaixo do definido
como real pela unidade.
Estes dados são muito preocupantes,
pois demonstram que alguns funcionários
estão percebendo os riscos abaixo do que é
considerado pela unidade o que pode levá-lo
uma maior exposição ao risco pelo
desconhecimento da real conseqüência do
risco.
Total de trabalhadores versus nível de risco
não percebido – Serviço de Pintura Industrial:
Por último, pode-se observar como já
mencionado anteriormente, que alguns
níveis riscos que deveriam ser percebidos
pelos funcionários não estão sendo
percebidos. Há um funcionário que não
percebeu 9 níveis de risco e outros 4 que não
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perceberam 8 níveis de risco que deveriam
ter sido percebidos. Este fato chama muita
atenção, pois não perceber alguns níveis de
risco pode aumentar a exposição do
empregado ao risco de acidentes. Pelos
dados, não dar para se chegar a uma
conclusão se o nível de escolaridade pode
influenciar na percepção do risco.
Quanto aos Programas de comunicação de riscos, a Unidade de Operação objeto da
pesquisa possui vários mecanismos de comunicação de riscos junto à força de trabalho e
partes interessadas que são inseridos no seu Sistema de Gestão de Segurança e Saúde. Dentre
estes mecanismos, os mais reconhecidos e utilizados na Unidade de Operação objeto da
pesquisa parar buscar desenvolver a Percepção de Riscos do trabalhador temos o Diálogo
Diário de SMS, Auditoria Comportamental, Análise Preliminar de Riscos, Palestra de
Integração, Permissão para Trabalho e padrões de execução das tarefas. No questionário Parte
II foi inserida uma questão do tipo múltipla escolha para que os trabalhadores identificassem
quais ou quais programas ajudavam a perceber os riscos do ambiente do Serviço de Pintura
Industrial.
A Tab. 01 mostra que 21 dos trabalhadores (88%) percebem o DDSMS como o programa que
melhor ajuda o trabalhador a perceber os riscos do seu ambiente de trabalho
Tabela 01 - Programas de Comunicação de Riscos aplicados na Unidade de Operação objeto
da pesquisa
Programa de Comunicação de Risco Número de Percentual de
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Citações Citações
DDSMS 21 88%
Auditoria Comportamental 8 33%
Palestra de Integração 11 46%
Permissão para trabalho 19 79%
Análise Preliminar de Risco (APR) 16 67%
Procedimento de Serviço de Pintura 6 25%
Fonte: Questionário Parte II - Percepção de
Riscos elaborado pela autora (2011)
5 Conclusões
A análise dos resultados do estudo mostrou que a maioria dos trabalhadores da
amostra-piloto não consegue identificar todos os perigos a que estão expostos em seu
ambiente de trabalho. Outros dados obtidos considerados relevantes são a identificação de que
para alguns perigos os níveis de riscos percebidos pelos trabalhadores são menores do que os
definidos pela unidade ou o que é mais grave nem são percebidos pelos trabalhadores. Com
base nestes dados identifica-se que os Programas de Comunicação de Riscos implantados na
Unidade de Operação objeto da pesquisa não estão sendo capazes de preparar o trabalhador a
perceber os riscos do seu ambiente do trabalho e desenvolver atitudes seguras. Ademais nem
todos os programas são reconhecidos pelos trabalhadores como importantes para a melhoria
da percepção de riscos. Estes dados denotam que estes programas ora incorporados ao
Sistema de Gestão de SST da unidade necessitam de melhorias. Além disso, deve-se pensar e
repensar sobre os mecanismos de comunicação de riscos de forma que as mensagens cheguem
aos trabalhadores e à população de forma confiável e adequada. Para tanto, considera-se
necessário, em primeiro lugar, encontrar maneiras de identificar as diferenças e as
necessidades individuais dos trabalhadores e incluir nas informações as preocupações sentidas
pelo público interno e externo. É fundamental que o trabalhador entenda a mensagem
comunicada.
Quanto ao grau de escolaridade, os dados mostram que os trabalhadores com nível de
instrução mais baixa tendem a sofrer mais acidente. Este dado, dentre outros apresentados nos
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dados obtidos através das Partes I e II do Questionário reforçam a necessidade de
continuidade pela liderança da unidade em investir na capacitação da força de trabalho, mas
também a tomada de ações junto às empresas contratadas para a melhoria da capacitação de
seus empregados, principalmente em relação ao padrão de execução das tarefas. É
fundamental a inclusão nestes padrões dos perigos e conseqüências relacionados aos perigos
da tarefa e treinamento dos trabalhadores nestes padrões utilizando-se de material de
treinamento adequado com a utilização de desenhos, figuras para mellhorar a compreensão
dos trabalhadores sobre a tarefa a ser executada e os riscos envolvidos na execução. As
propostas de melhorias para os programas de comunicação de riscos adotados na unidade
podem contribuir para melhorar a compreensão dos trabalhadores sobre os riscos do seu
ambiente de trabalho e com isto apoiar o processo de melhoria contínua da Gestão de SST da
unidade. A análise da percepção de riscos do trabalhador como um componente das causas
dos acidentes do trabalho, possibilita a adoção de medidas administrativas específicas para
esta causa, com repercussão na redução da ocorrência dos acidentes, e como conseqüência, o
aprimoramento da Gestão de SST da empresa. Neste sentido, a sugestão de inclusão de
Questionário de Percepção de Riscos durante a análise e investigação de acidentes possibilita
ao investigador maior confiabilidade em diagnosticar se a percepção de risco é a causa real do
acidente.
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