1. Revista de Filosofia Ano lectivo Ano VIII - N. 1 2013/ 2014
Amor Sabedoria Escola Bsica e Secundria Padre Manuel lvares
14-03-2013 Isabel Marques
2. Ficha Tcnica Organizao: Grupo 410 - Filosofia Colaborao de
Turmas: 5. D-E; 7. F; 8. G-H; 10. B-D-C; 11. E; 12. C; EFA ST
5&6. Colaboradores: Ana Carolina; Alexandra Faria; Carina;
Carlos Abreu; Diogo; rica; Fti- ma Sousa, Graa Faria; Graa
Magalhes; Ins Almeida; Isa Faria; Jssica Abreu; Joa- na; Laura;
Leandro; Leandro Batista; Leontina Santos; Lus; Lus Freitas; Maria
Luzia; Maria Zita Abreu; Mariana; Martinho Macedo; Miguel;
Milagros; Nuno; Srgio; Sofia; Trindade Camarata, Vtor e Virginie.
Capa: Isabel Marques Reviso: Martinho Macedo e Lus Freitas Revista
de Filosofia Ano: VI Nmero: 1 Sumrio Pgina Editorial ......03
Alegoria da Caverna ......04 Reflexo sobre a relao entre a Cincia e
o Homem .. 06 Preconceitos, Esteretipos e Representaes Sociais
......12 Opinio Pblica e Reflexo Crtica ........13 Liberdade
.......15 O que ser tico-moral? ......17 Aborto .....21 A Vida Que
Podemos Salvar ......23 Como contribuir para um mundo melhor?
....25 A inveja, um mal dos tempos de crise ...27 Quem se importa
.....30 Despertar para o nosso patrimnio natural ....38 Identidades
e Patrimnios Culturais ......41 40. Aniversrio da Escola Bsica e
Secundria Padre Manuel lvares ....39 Entrevista com a Leontina
Santos ....53 Memrias de uma ex-aluna -Trindade Camarata ....64
Beno das capas ... ....72 Projeto As .....75 Ilustraes ....80
Desafios Lgicos ......89 Sugestes culturais ......91
3. Pgina 3 Amor Sabedoria Editorial Em primeiro lugar, quero
agradecer em nome do Grupo de Filosofia o espe- cial empenho de
todos os colaboradores que possibilitou o Amor Sabedoria. O ncleo
temtico desta edio contempla Filosofia, tica, Patrimnio, Ani-
versrio da Escola, Ilustraes e Passatempos. Desde a Antiguidade
Clssica a metfora da caverna tem desempenhado um papel propedutico
muito fecundo na redescoberta das dimenses da nature- za humana
associada emergncia do pensar autnomo e radical. Na ao humana
vislumbra-se a relao entre teoria e prtica e a responsa- bilidade
dos agentes na rbitra dos direitos e deveres, daqui as vrias
teorias filo- sficas sobre o livre arbtrio. O texto, O Anel de
Giges, um ponto de partida para este horizonte temtico. Ampliando a
interrogao a revista posiciona-nos diante da vida embrionria e
convivncia social, sem descurar a necessidade de repensar o
conceito de vida antropocntrico, dadas as alarmantes implicaes
ecolgicas. O alerta anterior encaminha-nos para as questes do
patrimnio e da memria, realidades que permanecem no presente
estabelecendo uma ponte entre a fluidez do presente
inacessibilidade do passado. So breves viagens representadas nos
beirais, telhados, chamins, portas e janelas das habitaes
construdas e nas memrias da Nossa Escola, que comemora quarenta
anos de existncia, a partir das experincias de uma professora e de
uma ex-aluna. Esta retrospectiva pode reavivar determinados valores
e energias para transformar os problemas de indisciplina em
oportunidades de desenvolvimento: A forma como ensinarmos as nossas
crianas a resolverem os seus conflitos, definir, em parte, o sonho
e o bem estar da sociedade futura. Mais importante que o incio, s o
percurso. Martinho Macedo
4. Pgina 4 Alegoria da Caverna - educao da alma A Alegoria da
Caverna fala sobre a educao da alma humana. Plato defende a
possibilidade de cada ser humano descobrir o Bem verdadeiro. Ao
escrever a Alegoria da Caverna, Plato narra-nos a forma de viver
habitual do ser humano: os homens esto presos arrogncia, pensando
que so os donos da verdade, mas afinal h um deles que descobre a
prpria ignorn- cia. Para ter vontade de sair da caverna necessrio
que cada ser humano pense por si prprio e descubra as prprias
dvidas acerca do mundo, acerca do que realmente sabe, acerca de si
prprio. A sada da ignorncia um trabalho individual, a partir da
vontade de conhe- cer a verdade e de ser uma pessoa correta,
verdadeira. H situaes que so exemplos desta forma de viver fechada
na igno- rncia, como por exemplo, a corrupo, os assassinatos, os
sequestros e assaltos, o trfico de seres humanos. As pessoas
corruptas desviam o dinhei- ro das empresas ou de algum para terem
mais poder ou para se vingarem de algo que consideraram uma
injustia. Os assassinatos, sequestros e trfico de seres humanos
envolvem, tambm, questes relacionadas ao poder, neces- sidade de se
sentirem acima dos outros homens. No trfico seja de quem for e como
for mulheres crianas ou outros indefesos sempre o desrespeito ao
outro como ser humano, o uso do outro como se fosse um objeto
manipu- lvel em funo dos prprios interesses. Todas estas e tantas
outras situa- es so o resultado da crena em valores ilusrios pois
em nada dignificam na verdade os que os praticam como Homens. Plato
mostra-nos claramente que se algum soltasse um deles e o for- asse
a endireitar-se de repente, a voltar o pescoo, a andar e a
voltar-se para a luz, sentiria dor e o deslumbramento impedi-lo-ia
de fixar os objetos cujas sombras via outrora. Isto significa que
os seres humanos vivem com o pensamento preso em hbitos que no
questionam e quando a vida os leva a procurar respostas que esto
fora dos seus hbitos, a dor instala-se porque h a
5. Pgina 5 Amor Sabedoria tentativa de manter as coisas como
sempre foram, embora tal j no seja possvel. Inicia-se assim um novo
percurso em direo liberdade. A tomada de conscincia da ineficcia do
antigo caminho por si alimenta a dor, mas ao mesmo tempo alimenta a
coragem de mudar de comportamento. Assim, mesmo os criminosos,
porque so seres inteligentes podem acordar e perceber que h outras
formas de viver mais felizes. Claro que essa mudana dif- cil porque
os hbitos esto enraizados na sua mente. Plato defende que, a pouco
e pouco, os prisioneiros de ideias erradas podem sair da antiga
maneira de pensar e modificarem as suas vidas. Ricardo Davide Sousa
Silva, n 10596, 10 B - ano letivo 2013/14 Alegoria da Caverna -
realidade ou iluso? A Alegoria da Caverna levanta um problema que
hoje se mantm atual: ser que o que vemos ou percebemos da realidade
aquilo que realmente ou ser que a perspetiva que alimentamos acerca
da realidade no passa de uma iluso? O ser humano d a ideia, muitas
vezes, que prefere viver na sua prpria iluso, porque mais fcil
viver no mundo da mentira do que aceitar a verdade. Escolher o mais
fcil, como esperar uma boa nota, sem trabalhar, uma destas iluses.
Muitas vezes, o ser humano resiste verdade e fixa-se em ideias do
senso-comum, sem proceder a uma anlise racional e crtica acerca do
que acontece, acerca do que faz, acerca do que pensa. Assim,
deixa-se guiar pela rotina, crenas e tradies que acredita serem
intocveis. O preconceito, o orgulho, o medo, a vergonha e o cime,
na maioria das vezes, no deixam ver as coisas como realmente so e
iludem - a quem se deixa iludir - com ideias incorretas acerca da
vida. A filosofia tem o papel de ajudar-nos a re-orientar o nosso
olhar em direo verdade e a libertarmo-nos do pseudo-saber, da
mediocridade. Pensar por ns pr- prios, procurar orientao para a
existncia, construir um projeto de vida, construir a nossa
identidade atravs do saber, conjugando conhecimentos com uma
exigncia tica racional o dever de cada ser humano na sua caminhada
no tempo. Alexandra Maria Faria Serro 10.B - ano letivo 2013/
14
6. Pgina 6 Reflexo sobre a relao entre a Cincia e o Homem Mas o
homem branco no presta ateno. Como poderia o esprito da Terra
gostar do homem branco? Onde quer que lhe toque, nela h-de deixar
uma chaga. Tuiavii chefe da Tribo de Tiava O Homem, prepotente e
arrogante, o primata do xito absoluto. o conquistador por
excelncia, julgando, por isso, ser o soberano administrador da
Criao. Porm, interpreta tudo como mero objeto, obsequiado domina- o
do olhar. Para este ser, que se cr civilizado, a Natureza vista
atravs de um olhar mecnico e determinista, sendo, simplesmente,
matria bruta a aguardar para ser manipulada. Tudo o que encara
instrumento e meio para, descurando-se todos os outros impulsos que
completam a vida humana. Esta viso, simplista e reduto- ra da
realidade, na qual s o uso critrio de avaliao, conduziu impercept-
vel e infalivelmente, o Homem encruzilhada em que se encontra
extraviado. O Homem ocidental, privilegiando o quantificvel e o
mensurvel, encontra-se condicionado pela cincia e pela tcnica que o
envolve, a qual determina o seu modo de pensar e de interagir. Para
este Homem, uma exigncia, do esprito humano (ocidental), ter uma
representao do mundo unificada e coerente (Franois Jacob), outor-
gada pelo saber verificvel, atravs do qual luta para se libertar
das amarras com que a Natureza aprisiona os outros animais. Por
conseguinte, a cincia investiga sem descanso os mistrios da
Natureza e, a partir de uma conceo redutora da realidade, uma vez
que a submete a um esquema terico univer- sal que reduz a sua
riqueza e diversidade melanclica aplicao de leis gerais, invariveis
e constantes, permite ao Homem compreender, explicar e prever o
desenrolar de fenmenos, o que lhe confere poder, porm ao preo de
reduzir o mundo a meras equaes. A cincia, todavia, um bem intrnse-
co. A aplicao prtica dos conhecimentos cientficos que est a
facultar ao (continua)
7. Pgina 7 Amor Sabedoria Homem um controlo crescente das foras
da Natureza e da mente humana, a fim de nela produzir as
transformaes que julga necessrias, escapando ao determinismo das
leis naturais que sentenciaram a morte de outras civilizaes. O que
move o homem de cincia, animal para o qual s o suprfluo necess-
rio, a exemplo do tcnico, a sede de uma vontade de poder disfarada
em apetite de saber. (Ilya Prigogine e Isabelle Stengers). E,
assim, em funo de desejos capri- chosos, impregna a sociedade de
mquinas e de tcnica fazendo com que se repro- duza num crescente
conjunto de coisas e relaes, que inclui a utilizao tcnica do Homem,
o qual caminha, portanto, de olhos abertos para a escravido. O
avano da tecnocincia, omnipresente no quotidiano, gerou sociedades
forte- mente industrializadas em que o modelo da racionalidade
cientfica se impe s pr- prias relaes humanas, originando novos
formatos do universo cultural, novos valo- res e cdigos jurdicos.
Contudo, os controlos tecnolgicos parecem ser a prpria personificao
da Razo. O Homem vive dominado e configurado pela cincia, a qual,
com efeito, supre e cumpre nas sociedades modernas o papel
normativo e integrador que fora, outrora, desempenhado pela
religio. A cincia , hoje, ao mesmo tempo produtora e produto da
sociedade. A atualidade subsiste alimentada de factos cientficos e
tcnicos que ritmam a vida industrial, econmica, social e poltica
das naes. Todavia, a tecnocincia tem sido objeto de reflexes e
controvrsias. Uns realam que dela jorra todo o progresso da
humanidade; a libertao do peso da tradio e do trabalho; os meios
necessrios formao e emancipao do Homem, ocupando, deste modo, um
lugar mtico no imaginrio dos indivduos, semelhana de um deus que
age de forma misteriosa. Outros apedrejam-na, vendo nela a origem
donde emanam todos os males. A produtividade e a eficcia,
apresentando-se inerentes tecnocincia; a capa- cidade para
disseminar comodidades, para transformar a destruio em construo,
reduziram a ameaa de alguns dos mais velhos flagelos do Homem,
pondo ao seu alcance a explorao do espao interplanetrio e a
multiplicao da riqueza e dos (continua)
8. Pgina 8 recursos disponveis. A tecnocincia revolucionou a
agricultura, duplicando a produo mun- dial de gro entre 1959 e
1971. Mas pode ela continuar a alimentar a crescen- te populao
mundial, sem causar danos inaceitveis ao ambiente? Por outro lado,
de vez em quando, olhamos com nostalgia para um passado sem agita-
o, sem rudo, sem contaminao, mas esquecemos o risco seriamente
maior de morte precoce que pairava sobre os nossos antepassados.
Agora, o laser assiste o cirurgio e bactrias reprogramadas pelo
gnio gentico fabricam substncias que lutam contra o cancro; as
conquistas da investigao biomdica possibilitam dominar a
fecundidade e conjeturar defi- cincias. A cincia poder ser um
espelho da Natureza, mas no um espelho pla- no; pelo contrrio,
curvo e distorcido pela viso do mundo daqueles que a dominam. Hoje,
como ontem, o bem-estar, to prometido pela cincia e a tc- nica, no
foi mais que uma mera miragem, tendo sido acentuadas nos cora- es a
ganncia, a ansiedade e a frustrao. A excessiva industrializao, a
transformao das pessoas em mquinas ou em nmeros proporcionam um
poder crescente aos Estados e, por seu turno, proliferao do
trabalho escravo. Muitas vezes, s imagens pblicas da tecnocincia
liga-se o desempre- go, no o divertimento; a poluio, no a sade; o
aumento do controlo sobre a vida, e no uma extenso da liberdade. O
operrio obrigado a harmonizar- se ao ritmo da sua mquina e a
servi-la num ciclo que quebra o seu equilbrio fisiolgico. A durao
do trabalho no diminuiu. Os insetos tornam-se imunes aos pesticidas
e contaminam os seres vivos; os micrbios criam resistncias. As
florestas recuam e os bosques transformados em parques de
estaciona- mento. As tecnologias so usadas pelo poder poltico e
econmico para institu- cionalizarem formas subtis de explorao dos
indivduos e dos povos. Por detrs da abundncia e do apelo ao
consumo, esconde-se a intole- rncia face diferena, o medo e o
conformismo, como contraponto necess- rio produtividade.
(continua)
9. Pgina 9 Amor Sabedoria Hoje, vivemos, igualmente, uma nova
ameaa. Face manipulao gentica, como no ver a tentao eugnica a
perfilar-se no horizonte, a identidade da huma- nidade a vacilar, o
respeito vida sacrificado s experincias e s manipulaes ili-
mitadas? Para alguns, o princpio da cincia realizar tudo o que
possvel (Francis Bacon) contudo h cada vez mais cientistas e
filsofos a afirmarem que H [] coi- sas que era melhor no fazer
(Einstein). So raros os domnios em que no se colo- cam questes que
pem em causa os valores morais. Nem tudo aquilo que tecnicamente
possvel moralmente admissvel. Quanto mais sabemos tanto menos desse
saber deve ser por ns aplica- do. (Manfred Eigen) necessrio
reclamar uma srie de paragens. Paragem na possibilidade de
conhecimento pela interminvel dissecao de animais; paragem desta
inquieta e frequente irracional vontade de experimentao,
particularmente na rea da manipu- lao gentica. Porque o
conhecimento dos mecanismos que presidem o desenvolvimento dos
seres vivos pode conduzir tentao de se criar raas puras,
exterminando-se os menos aptos ou de se produzir indivduos-mquinas,
arruinando a capacidade de opo e liberdade, caracterstica da pessoa
humana. Porm, a oposio e a crtica so desencorajadas, e at banidas
pelo sistema, de forma dissimulada e subtil, que submetendo tudo e
todos a critrios economicis- tas, controla e domestica os
indivduos, reduzindo-os condio de objetos e seres annimos sem alma.
, portanto, urgente e necessrio restaurar o primado da tica que no
deve ser assunto apenas para os filsofos ou telogos. O mundo da
cincia e da poltica deve participar numa reflexo coletiva sobre os
limites dos poderes do Homem sobre o Homem, sobre essa zona da
pessoa onde deveria ser interdito entrar. No entanto, no cabe
apenas aos cientistas ou aos polticos estabelecer as normas
orientadoras da prtica cientfica. Cabe a todos ns cidados apelar
res- ponsabilidade das pessoas envolvidas na tomada dessas decises.
A cincia e a tcnica devem contribuir para a construo de uma
sociedade mais justa em que a igualdade e a fraternidade bem como a
liberdade sejam mais do (continua)
10. Pgina 10 que meras palavras; de uma sociedade sem classes,
na qual todos os seres humanos, elevados categoria de
co-proprietrios dos meios de produo, possam trabalhar em conjunto
para garantir o bem-estar, a riqueza e a liber- dade para todos os
homens. S assim, podemos perspetivar novos progres- sos para o
Homem e para a sociedade; metas socialmente aceites, que apon- tem
e promovam a responsabilidade do cientista, que encorajem o
esclareci- mento e a participao pblica dos cidados no sentido do
respeito pelos direitos humanos, que afirmem e promovam a autonomia
da cincia face a instituies e movimentos totalitrios que pretendam
usar o poder para cir- cunscrever a capacidade de interveno cvica
dos seres humanos, limitando- os condio de instrumentos ao servio
de interesses particulares. Porque, a responsabilidade do Homem
estende-se ao futuro e s outras espcies: a sua responsabilidade
csmica. Existem problemas [que] se referem ao conhecimento que [a
cincia] produz, ao que determina, s sociedades que transforma. Esta
cincia libertadora traz ao mesmo tempo possibilidades terrveis de
subjuga- o (Edgar Morin). A cincia, hoje, aparece como um corpo
estranho no interior da cultura, cujo crescimento canceroso
prenuncia destruir a vida. A corrupo da cincia, controlada pelo
poder poltico e econmico, submete todos os valores aos seus
interesses e desgnios, e continuar enquanto existirem dirigentes
que dediquem a vida morte, o saber igno- rncia, que ponham a
cultura aos ps de quem a destri e prostitui, dispostos a lamber as
botas ou a adorar o bezerro de ouro, para obterem trinta moedas e
comprarem aparelhos e homens. No nos iludamos: A cincia no
detentora da verdade absoluta, como ela se julga. Por- tanto,
chegou a altura de exigir que ela se submeta a uma escolha
democrti- ca dos cidados, pois nada to perigoso como a certeza de
se ter razo, nada causa tanta destruio como a obsesso duma verdade
considerada absoluta. (Franois Jacob) (continua)
11. Pgina 11 Amor Sabedoria A satisfao da necessidade de paz,
de justia, de felicidade, releva de esco- lhas ticas e no do
conhecimento cientfico. necessrio que a cada passo reflitamos sobre
o que fazemos. Vivemos atual- mente numa era em que, como nunca at
hoje, tantas ameaas convergiram sobre o planeta, mas o inimigo no
outro seno ns prprios. Devamos exigir e trabalhar para que a cincia
esteja ao servio da paz e da distribuio justa dos seus benef- cios.
Mas no No compreendo E por isso pergunto-me: At onde poder ir o
Homem na sua nsia de alargar o conhecimento? Quando existem coisas
que no foram criadas para serem conhecidas, mas sim contempladas.
Hoje continuo, portanto, a [crer] nos sonhos, pois neles est
escondida a porta da eternidade [Khalil Gibran]; hoje continuo,
particularmente, a crer no sonho de um mundo onde sejamos
socialmente iguais, humanamente diferen- tes e totalmente livres.
[Rosa Luxemburgo] Milagros
12. Pgina 12 Preconceitos, Esteretipos e Representaes Sociais
Os preconceitos esto presentes no nosso dia a dia, acho que todos
ns temos preconceito de algo, por mais que digamos que no, existe e
est presente, penso que s nos damos conta que somos preconceituosos
quando lidamos com algum assunto. Por exemplo, h dias apareceu-me
um tipo porta a pedir dinheiro para uma criana que dizia ser sua
filha e estava cancerosa. O indivduo era de nacio- nalidade romena,
achei-o muito suspeito. Resumindo, no o ajudei, porque no sei se
verdade ou no a histria dele. O que ouo, normalmente, que existem
mui- tas burlas, pessoas que se fazem passar por familiares de
doentes com cancro ou outro tipo de doenas, com o objetivo de
extorquir dinheiro s pessoas. Nisto ouve- se falar frequentemente e
os cidados romenos so os que mais o fazem, aquelas mafias de leste.
Por isso por uns pagam todos, o preconceito est presente nesta
situao. E se ouvimos dizer que determinada pessoa consome drogas,
traficante e at mesmo chega a ser ladro, a nossa atitude pr esta
pessoa de lado e nem olhar para ela. Aqui est presente a
discriminao, o esteretipo. Alis o filsofo Scrates mencionou isso,
quando disse que o punham de parte por saber que nada sabia, quando
defendia a sua opinio, pensamento. O poder da discrimina- o existe
muito no nosso dia-a-dia. As diferentes representaes sociais tambm
esto presentes e existem tambm preconceitos e esteretipos em relao
a elas. Quantas vezes olhamos para um indivduo de outra religio ou
crena e achamo-lo esquisito, isto porque tem um tom de pele
diferente, uma maneira de vestir diferente ou at mesmo por ter
outra religio. Outro assunto que est na atualidade a
homossexualidade, antes era um tabu e hoje deixou de o ser, mas o
preconceito e o esteretipo est presente na maior parte das nossas
opinies, por mais que digamos no ter nada contra, aceito-os perante
a sociedade, mas quando na realidade existe um carinho em pblico o
preconceito fala mais alto e as nossas mentalidades no esto ainda
preparadas para tal ato. Tal como nos mostrado no filme Fahrenheit
451, tambm pode-se mudar as mentalidades, pode-se ver as coisas de
outro modo, o facto de Montag ser bom- beiro e tinha por objetivo
destruir todos os livros, acaba por se apaixonar pelos mesmos,
porque Clarisse o fez perceber que a mentalidade e a opinio sobre
os livros no era como pensavam. Este filme uma pequena amostra de
muitas men- talidades fechadas que s tm olhos e foram educados para
um determinado obje- tivo e tudo o que possa ser alternativo que
possa mudar ou fazer a diferena tem que ser eliminado. Assim
aconteceu com Scrates. Ele foi um potencial revolucio- nrio das
mentalidades e foi um alvo rpido a abater para que isso no
aconteces- se. Resumindo, somos um povo preconceituoso, com uma
mentalidade fechada que, dificilmente, deixar de o ser enquanto no
existir educao para tal. Isa Faria, EFA ST 5&6 7 de janeiro de
2013 Escola Bsica e Secundria Padre Manuel lvares
13. Amor Sabedoria Pgina 13 Opinio Pblica e Reflexo Crtica Hoje
podemos assistir a uma exagerada e forada influncia televisiva,
pois atravs desta que muitos formam a sua opinio e adotam estilos.
Com isto o que quero dizer que, por exemplo, a malta mais jovem era
viciada numa srie de televiso Morangos com Acar. Na minha
perspetiva esta srie tinha tudo menos de um programa educativo,
abordavam temas onde demonstravam como faziam as cenas. A juventude
comeou a adotar os ensinamentos que esta srie transmitia. Outro
exemplo da televiso que faz com que as pessoas adotem estilos a
casa dos segredos. A forma como eles se vestem, o estilo do bon,
dos bluses, dos culos etc Comecei a ver a canalha toda com este
estilo, at a minha sobrinha falava comigo para eu ver se encontrava
determinado artigo para ela usar. Como no sabia o nome daquilo que
para mim so culos, bons e bluses, para ela tinha um nome
estrangeiro face ao qual eu ficava s aranhas. Com isto o que quero
dizer que a malta nova procura usar um estilo que viu numa figura
pblica, pois atravs destas figuras que as marcas de roupa vendem,
porque elas adotam estilos para transmitir aos outros. At pode ser
o estilo mais horroroso, mas como fulano tal usou, diz-se que moda
e fica giro. Outro ponto que antigamente era feio e gozado era o
aparelho nos den- tes, quando comeou a aparecer na televiso
figurinhas com os aparelhos s cores, toda a malta tambm quis
colocar um na dentua independentemente da idade. Por isso existe
muita influncia por parte da televiso, internet, revis- tas etc.
Eis o peso da comunicao sobre a influncia e estilo das pessoas.
Quando o Tuiavii, o chefe dos povos dos Mares do Sul, diz que homem
branco ganancioso, porque s v dinheiro frente, ele tem toda a razo,
porque por detrs de uma srie de coisas est um enorme interesse
econmi- co. Hoje em dia nada verdadeiro e original, tudo um estilo
plagiado de outros, at a mulher j no gosta do seu corpo necessita
de plsticas para o embelezar, vivemos numa sociedade onde o nosso
prprio estilo no conta para nada, mas sim o estilo e a opinio dos
outros so sem dvida a forma a adotar. Abaixo demonstro exemplos
disso. (continua) Escola Bsica e Secundria Padre Manuel lvares
14. Pgina 14 Na imagem seguinte a fulana teve a necessidade de
aumentar o peito e rabo o que, na realidade, o seu exagero ficou
ridculo. Imagem extrada do site http://www.novagente.pt/b8183b1/
mod_artigos_obj_moda.aspx?sid=f47f9ddd-ba79-4667-
a14b-7a81d0334b88&cntx=FoNyR% 2FZKavifnlZR0XI1KpAnF9Y-
LIQ8SG4dFYByZ1MmJwS8sH9eLdVN2IuSj3j36 Imagem extrada do site
http:// www.aceshowbiz.com/ events/Cali%20Swag%
20District/cali-swag-district- 11th-annual-bet-awards-
press-room-01.html Este estilo muito adotado atualmente, casaco
basebol e bon estilo americano, os culos. Esta uma linha adotado no
s pela juventude como tambm pelas figuras pblicas. Isa Faria, EFA
ST 5&6 7 de janeiro de 2013
15. Amor Sabedoria Pgina 15 LiberdadeLiberdadeLiberdade Ser o
Homem realmente livre no seu querer e agir? Haver mesmo liberdade
ou ser a liberdade da vontade uma ilu- so? Como se pode provar a
existncia da liberdade? Na tentativa de encontrar respostas para
estas perguntas surgiram trs teorias filosficas: o deter- minismo
radical, o libertarismo e o determinismo moderado. As duas
primeiras so incompatibilitas pois no admitem a possibilidade de
con- ciliao entre a sermos livres e sermos constrangidos ou
determinados a sermos como somos. Pelo contrrio a ltima
compatibilista pois afirma que possvel conci- liar a liberdade de
escolha com a existncia de determinismos fsicos que por exem- plo
operam sobre o nosso corpo, assim como todos os corpos do universo:
somos livres se agirmos sem constrangimentos internos e/ou externos
que nos impeam de fazer o que queremos. Defendemos que nascemos e
vivemos livres: somos donos da vontade e quem no o , deveria s-lo.
Na verdade, nada nos prende. Somos capazes de fazer as nossas
escolhas gra- as nossa capacidade de raciocinar e de deliberar e
como tal no existem causas do nosso passado que determinem as
nossas aes. Nas mltiplas situaes da Vida temos possibilidade de
escolha, alternativas que podemos descobrir pelo exerccio da razo.
Deliberamos racionalmente e assumimos a responsabilidade sobre
aquilo que escolhemos fazer, em detrimento de outras
possibilidades. Se no tivssemos alternativas, como poderamos
atribuir responsabilidade a algum? Como que poderia haver mrito ou
culpa? Se decidimos estudar em vez de ir s compras, ser que no
temos mrito? (continua)
16. Pgina 16 claro que sim. Independentemente dos
acontecimentos do passado, fomos ns, como seres autnomos, que
decidimos ir estudar e, por isso, tomamos uma deciso responsvel.
Como podemos condenar criminosos se a estes no for atribuda
responsabilidade? Se no houvesse responsabilidade a atribuir, no
faria sentido a existncia de tribunais. Sendo assim, podemos
afirmar que quem defende a teoria que recusa a responsa- bilidade
moral (determinismo radical) considera a existncia de tribunais
completamente desnecessria. Uma objeo que se coloca defesa da
existncia da liberdade da vontade baseia-se numa anlise de carter
cientfico, argumentando que tal como evidencia a cincia ao analisar
os fenmenos naturais, tudo o que acontece desencadeado por
acontecimen- tos anteriores. Para dar resposta a esta objeo podemos
afirmar que os seres humanos pos- suem alma e esta transcende as
leis da Natureza, dado que no de natureza material. Como tal
defendemos que os seres humanos no esto sujeitos s Leis da
Natureza, como os outros sistemas fsicos esto. Defender a liberdade
defender a dignidade humana pois somos seres pensan- tes, racionais
e conscientes e por isso temos a possibilidade de escolher o que
verda- deiramente bom. Mesmo coagidos pela eminncia de consequncias
extremas como a morte, ainda a temos a possibilidade de escolha e
podemos no ceder presso exer- cida sobre ns. Somos livres e seres
responsveis. Maria Zita Abreu e Ins Almeida, 10B, ano letivo 2012/
13 Fotografias de Gerard Castello Lopes
17. Amor Sabedoria Pgina 17 Pensa na possibilidade de possures
um anel que te torna invisvel O que um ser tico - moral? O Anel de
Giges Plato Falar a favor da justia, como sendo superior injustia,
ainda no o ouvi a nin- gum, como meu desejo pois desejava ouvir
elogi-la em si e por si. Contigo, sobretudo, espero aprender esse
elogio. Por isso, vou fazer todos os esforos por exaltar a vida
injusta; depois mostrar-te-ei de que maneira quero, por minha vez,
ouvir- te censurar a injustia, e louvar a justia. Mas v se te apraz
a minha proposta. Mais do que tudo respondi . Pois de que outro
assunto ter mais prazer em falar ou ouvir falar mais vezes uma
pessoa sensata? Falas maravilha disse ele . Escuta ento o que eu
disse que iria tratar pri- meiro: qual a essncia e a origem da
justia. Dizem que uma injustia , por natureza um bem, e sofr-Ia, um
mal, mas que ser vti- ma de injustia um mal maior do que o bem que
h em comet-Ia. De maneira que, quando as pessoas praticam ou sofrem
injustias umas das outras, e provam de ambas, lhes parece
vantajoso, quando no podem evitar uma coisa ou alcanar a outra,
chegar a um acordo mtuo, para no cometerem injustias nem serem
vtimas delas. Da se originou o estabelecimento de leis e convenes
entre elas e a designa- o de legal e justo para as prescries da
lei. Tal seria a gnese e essncia da justi- a, que se situa a meio
caminho entre o maior bem no pagar a pena das injustias e o maior
mal ser incapaz de se vingar de uma injustia. (continua)
18. Pgina 18Pgina 18 Estando a justia colocada entre estes dois
extremos, deve, no preitear-se como um bem, mas honrar-se devido
impossibilidade de praticar a injustia. Uma vez que o que pudesse
comet-Ia e fosse verdadeiramente um homem nunca aceita- ria a
conveno de no praticar nem sofrer injustias, pois seria loucura.
Aqui tens, Scrates, qual a natureza da justia, e qual a sua origem,
segundo voz corrente. Sentiremos melhor como os que observam a
justia o fazem contra vonta- de, por impossibilidade de cometerem
injustias, se imaginarmos o caso seguin- te. Dmos o poder de fazer
o que quiser a ambos, ao homem justo e ao injusto; depois, vamos
atrs deles, para vermos onde a paixo leva cada um. Pois bem!
Apanh-lo-emos, ao justo, a caminhar para a mesma meta que o
injusto, devido ambio, coisa que toda a criatura est por natureza
disposta a procurar alcanar como um bem; mas, por conveno, forada a
respeitar a igualdade. E o poder a que me refiro seria mais ou
menos como o seguinte: terem a faculdade que se diz ter sido
concedida ao antepassado do Ldio [Giges]. Era ele um pastor que
servia em casa do que era ento soberano da Ldia. Devido a uma
grande tem- pestade e tremor de terra, rasgou-se o solo e abriu-se
uma fenda no local onde ele apascentava o rebanho. Admirado ao ver
tal coisa, desceu por l e contem- plou, entre outras maravilhas que
para a fantasiam, um cavalo de bronze, oco, com umas aberturas,
espreitando atravs das quais viu l dentro um cadver, aparentemente
maior do que um homem, e que no tinha mais nada seno um anel de
ouro na mo. Arrancou-lho e saiu. Ora, como os pastores se tivessem
reunido, da maneira habitual, a fim de comunicarem ao rei, todos os
meses, o que dizia respeito aos rebanhos, Giges foi l tambm, com o
seu anel. Estando ele, pois, sentado no meio dos outros, deu por
acaso uma volta ao engaste do anel para dentro, em direco parte
interna da mo, e, ao fazer isso, tornou-se invisvel para os que
estavam ao lado, os quais falavam dele como se se tivesse ido
embora. Admirado, passou de novo a mo pelo anel e virou para fora o
engaste. Assim que o fez, tornou-se visvel. Tendo observado estes
factos, expe- rimentou, a ver se o anel tinha aquele poder, e
verificou que, se voltasse o engas- te para dentro, se tornava
invisvel; se o voltasse para fora, ficava visvel. Assim senhor de
si, logo tratou de ser um dos delegados que iam junto
(continua)
19. Pgina 19Amor Sabedoria do rei. Uma vez l chegado, seduziu a
mulher do soberano, e com o auxlio dela, atacou-o e matou-o, e
assim se assenhoreou do poder. Se, portanto, houvesse dois anis
como este, e o homem justo pusesse um, e o injusto outro, no
haveria ningum, ao que parece, to inabalvel que permane- cesse no
caminho da justia, e que fosse capaz de se abster dos bens alheios
e de no lhes tocar, sendo-lhe dado tirar vontade o que quisesse do
mercado, entrar nas casas e unir-se a quem lhe apetecesse, matar ou
libertar das algemas a quem lhe aprouvesse, e fazer tudo o mais
entre os homens, como se fosse igual aos deu- ses. Comportando-se
desta maneira, os seus actos em nada difeririam dos do outro, mas
ambos levariam o mesmo caminho. E disto se poder afirmar que uma
gran- de prova de que ningum justo por sua vontade, mas
constrangido, por entender que a justia no um bem para si,
individualmente, uma vez que, quando cada um julga que lhe possvel
cometer injustias, comete-as. Efectivamente, todos os homens
acreditam que lhes muito mais vantajosa, individualmente, a
injustia do que a justia. E pensam a verdade, como dir o defensor
desta argumentao. Uma vez que, se algum que se assenhoreasse de tal
poder no quisesse jamais come- ter injustias, nem apropriar-se dos
bens alheios, pareceria aos que disso soubes- sem muito desgraado e
insensato. Contudo, haviam de elogi-lo em presena uns dos outros,
enganando-se reciprocamente, com receio de serem vtimas de alguma
injustia. Assim so, pois, estes factos. Quanto escolha, em si,
entre as vidas de que estamos a falar, se conside- rarmos
separadamente o homem mais justo e o mais injusto, seremos capazes
de julgar correctamente. Caso contrrio, no. Qual ento essa separao?
a seguinte: nada tiremos, nem ao injusto em injustia, nem ao justo
em justia, mas suponhamos que cada um deles perfeito na sua maneira
de viver. Em primeiro lugar, que o injusto faa como os artistas
qualificados como um piloto de primeira ordem, ou um mdico, repara
no que impossvel e no que possvel fazer com a sua arte, e mete
ombros a esta tarefa, mas abandona aquela. E ainda, se vacilar
nalgum ponto, capaz de o corrigir. Assim tambm o homem injusto deve
meter ombros aos seus injustos empreendimentos com correco,
passando despercebi- do, se quer ser perfeitamente injusto. Em
pouca conta dever ter-se quem for apa- nhado. Pois o supra-sumo da
injustia parecer justo sem o ser. Dmos, portanto, (continua)
20. Pgina 20 ao homem perfeitamente injusto mais completa
injustia; no lhe tiremos nada, mas deixemos que, ao cometer as
maiores injustias, granjeie para si mesmo a mais excelsa fama de
justo, e, se acaso vacilar nalguma coisa, seja capaz de a reparar,
por ser suficientemente hbil a falar, para persuadir; e, se for
denunciado algum dos seus crimes, que exera a violncia, nos casos
em que ela for precisa, por meio da sua coragem e fora, ou pelos
amigos e riquezas que tenha granjeado. Depois de imaginarmos uma
pessoa destas, coloquemos agora mentalmente junto dele um homem
justo, simples e generoso, que, segundo as palavras de squilo, no
quer parecer bom, mas s-lo. Tiremos-lhe, pois, essa aparncia.
Porquanto, se ele parecer justo, ter honrarias e presentes, por
aparentar ter essas qualidades. E assim no ser evidente se por
causa da justia, se pelas ddivas e honrarias, que ele des- se modo.
Deve pois despojar-se de tudo, excepto a justia, e deve imaginar-se
como situado ao invs do anterior. Que, sem cometer falta alguma,
tenha a reputao da mxima injustia, a fim de ser provado com a pedra
de toque em relao justia, pela sua recusa a vergar-se ao peso da m
fama e suas consequncias. Que cami- nhe inaltervel at morte,
parecendo injusto toda a sua vida, mas sendo justo, a fim de que,
depois de terem atingido ambos o extremo limite, um da justia,
outro da injustia, se julgue qual deles foi o mais feliz. Cus! Meu
caro Glucon! exclamei . Com que vigor te empenhas em limpar e
avivar, como se fosse uma esttua, cada um dos dois homens, a fim de
os subme- ter a julgamento! Plato Traduo de Maria Helena da Rocha
Pereira. Adaptao de Vtor Joo Oliveira. Reti- rado de Repblica.
Lisboa: Gulbenkian, 4 ed., 1983, pp. 55-60.
21. Pgina 21Amor Sabedoria ABORTO Este texto tem como objectivo
dar a conhecer a minha opinio perante este tema e convencer os
leitores que o aborto algo absurdo. O aborto ou interrupo da
gravidez a remoo ou expulso prematura de um embrio ou feto do tero,
resultando na sua morte ou sendo por esta causada. Isto pode
ocorrer de forma espontnea ou induzida, provocando-se o fim da
gestao, e consequentemente o fim da actividade biolgica do embrio
ou feto, mediante uso de medicamentos ou realizao de cirurgias. A
discusso deste assunto importante, pois a vida humana que est em
jogo. o aborto moral? H duas respostas possveis para este problema:
o aborto moral pois o feto parte do organismo materno e a mulher
tem livre disposio de seu corpo e o aborto no uma prtica moral
porque todos os seres humanos tm o mesmo direito vida. Eu defendo
que o aborto no moral porque todos os seres humanos tm o mesmo
direito vida e os fetos so seres humanos. Matar deliberadamente
quem tem direito vida errado e o aborto consiste em matar fetos
deliberadamente. Est provado cientificamente que aos 40 dias j
possvel detetar atividade cerebral atra- vs de um EEG; s 12 semanas
o feto demonstra j ter adquiridos aspetos reflexos de comportamento
como a suco; por volta das 17 semanas reage a sons fortes, bem como
reage voz da me; s 24 semanas as papilas gustativas parecem j es-
(continua)
22. Pgina 22 tar aptas a funcionar; s 28 semanas consegue abrir
e fechar os olhos de forma reflexa (piscar); s 30 semanas distingue
a luz da escurido e capaz de seguir um foco de luz apontado barriga
da me; j capaz de agarrar o cordo umbili- cal e outras partes do
corpo intencionalmente e fechar a palma da mo volta delas. Uma
pessoa que defende que o aborto uma prtica moral defender que a me
deve poder decidir que rumo dar situao, como em casa de violaes,
casos de deteco de doenas graves no feto, ou se a gravidez
prejudicar a sade da me, isto , se houver risco de vida para a me
no parto. Responderei a esta objeo defendendo que os seres humanos,
seres racionais que so, tm de assumir as responsabilidades e arcar
com as consequncias, sejam elas quais forem, sob pena de colocarem
em risco a dignidade humana. Racionalmente, no posso aceitar o
assassnio de um ser humano. Ftima Catarina Ferreira de Sousa, 10 D,
ano letivo 2012 / 13 Imagem de:
http://api.ning.com/fles/5Y36hMbSNo*ko6p4jdd7aRvm0M9dZ5BKnoz
ZYirlmdgjn6*fWw*vnIq55Io7HSNiL26P3y1BYnYqjD5LA
2PZBprD*UKt702a/aborto.jpg
23. Amor Sabedoria Pgina 23 A propsito do livro: A Vida Que
Podemos Salvar, de Peter Singer (Traduo de Vtor Guerreiro), Lisboa:
Gradiva, 2011, 252 pp. Ser que temos a obrigao tica de ajudar quem
vive na pobreza absoluta? Antes de mais, considero que ajudar -
seja, na pobreza ou na riqueza - um dever do cidado civil. O cidado
no s tem direitos como tem deveres e um deles a entreajuda ao
outro. Esta questo faz-me pensar no quanto, por vezes, somos
egostas, mes- mo sendo solidrios. Com isto quero dizer que, tal
como no texto que li, posso estar a usufruir de bens que podia
perfeitamente dispensar para ajudar algum. Por exemplo, quando
compro uma tablete de chocolate ou at um sumo, no pen- so que com
aquele mesmo valor poderia matar a fome de algumas pessoas/ crianas
dos pases pouco desenvolvidos (pobres). No penso que com a quanti-
dade de acar ingerida por mim numa tablete de chocolate pudesse
fazer as del- cias de muitas pessoas. No me posso considerar mau
cidado por isso, mas pos- so comear a ter mais conscincia dos meus
atos e tornar-me um cidado cada vez melhor. Alis, quando falamos em
obrigao tica para com os outros penso que no se deve referir s ao
facto de sermos corretos em algumas situaes, como man-
(continua)
24. Pgina 24Pgina 24 dar alguns donativos de ajuda ou at mesmo
quando somos voluntrios em recolhas de alimentos ou de outros tipos
de mantimentos. O que no podemos esquecer que, hoje, mesmo estando
na situao em que estamos (crise econmica), somos considerados
ricos. Digo isto pelo seguinte: ns estudantes do 10G, tivemos pelo
menos 10 anos de escolaridade em que sem- pre tivemos formao de
forma gratuita, tivemos livros, cadernos, acompanhantes nos
estudos, etc, de forma abundante; enquanto noutros pases nem sequer
conse- guem ter educao escolar; muitos nem sabem o que so lnguas
nem fazem ideia que existem disciplinas. Ns somos egostas no
sentido em que temos tudo e no damos o valor quando recusamos por
exemplo ir a um apoio de determinada mat- ria. Se todos ns
envissemos os nossos materiais usados para os pases pobres, tais
como roupas ou calados estvamos a contribuir para uma vida um pouco
melhor e acolhedora dos que l vivem. Por outro lado, sabemos que,
muitas vezes, no h s falta de alimentos e de formao escolar, como
tambm no possvel sequer a higiene pessoal: ns temos o privilgio de
ter gua potvel e conseguimos mantermo-nos limpos e hidra- tados,
mas existem lugares em que nem possvel sequer beber gua, quanto
mais tomar banho. Assim, com a falta de higiene e de boa alimentao
comeam a apa- recer algumas doenas associadas tais como a malria, o
sarampo e a varola e problemas na pele. Para alm disso, precisamos
de nos lembrarmos que, em muitos lugares, os acessos aos hospitais
ou postos de socorro/sade no podem ser per- corridos. Considero que
temos a obrigao tica de ajudar nestes sectores para comba- ter a
pobreza absoluta. Como seres racionais que somos, devemos
considerar importante este tema pois faz parte do nosso Mundo: do
Mundo Humano, mesmo distante fisicamente. Temos a obrigao de ajudar
a melhorar a qualidade de vida, at para a nossa prpria paz de
esprito. Costuma-se dizer que quando praticamos o bem recebe-se o
bem. Os textos de Peter Singer conseguiram pr-me a refletir na
questo inicialmen- te apresentada: Ser que temos a obrigao tica de
ajudar quem vive na pobreza absoluta? (continua)
25. Pgina 25Amor Sabedoria O seu objetivo foi cumprido ao
sensibilizar-me e fazer-me pensar nas minhas esco- lhas, de modo a
dar mais de mim para ajudar a reduzir a pobreza extrema que o nosso
mundo enfrenta hoje. No posso esquecer que ns somos o futuro: eu
sou o futuro e posso ajudar a melhorar o mundo. Eu sou voluntrio e
continuarei a s-lo! Daniel Freitas, 10G, ano letivo 2012/ 13 Como
contribuir para criar um mundo melhor ? Sou uma cidad e, como tal,
tenho conscincia dos meus direitos e deveres. Sou muito jovem:
tenho apenas 18 anos, mas, assim como todos, sonho com uma
sociedade mais justa, onde eu possa viver com a certeza de um
futuro melhor. Para contribuir para um mundo melhor, no preciso
grandes mudanas. Qualquer pessoa pode fazer a sua parte edificando
a sua vida em hbitos saudveis. Econo- mizar gua e energia, reduzir
o lixo e usar menos o carro so algumas maneiras eficazes para
diminuir a poluio, a sujidade e o gasto de energia. (continua)
26. Pgina 26 A cidadania constri-se diariamente nas pequenas
aes, gestos que faze- mos no quotidiano, para com os outros, com a
natureza ou em favor do bem comum. Se importante e fundamental o
respeito Natureza, no menos impor- tante o respeito do Homem pelo
Homem: cumprimentar as pessoas, saber ouvir, respeitar a opinio dos
outros, so atitudes que demonstram a nossa cidadania na prtica.
Ainda vivemos num mundo com muitas coisas erradas: ouvimos e vemos
ati- tudes de desrespeito vida humana todos os dias, principalmente
na televiso sobre a violncia, seja fsica, seja verbal, seja
psicolgica. Muitas vezes, o desrespeito pela prpria vida
assustador. A fuga pelas dro- gas, pelo lcool, pelo uso de
comprimidos para dormir, revelam a nsia pela anes- tesia, para no
se ver o que urgente mudar. Respeitar e dignificar a vida humana
urgente! Ter em conta as opinies e ideias de cada um, pois todos ns
temos virtudes e defeitos: unindo-nos, consegui- remos melhorar a
sociedade. Como cidad exero um dever que me compete, pois cumpro
com meu papel de estudante. Todas as pessoas de pases e culturas
diferentes podem entender-se, se a sua preocupao com o que se passa
no mundo for expressa em aes concretas. A msica um meio possvel de
unio. Vimos um vdeo na aula de rea de Inte- grao que mostrava como
o uso da msica pode unir o mundo volta de causas internacionais.
Todos cantavam e tocavam instrumentos, e ningum criava juzos de
valor acerca das diferenas: se aquele era branco, preto, se era
judeu, budista, chins, rabe. Todos estavam unidos e a colaborar
juntos. Podiam ser baixinhos, gordinhos, altos, magros. Naquele
vdeo, cada um revelava-se com o que tinha de melhor para dar: no
havia uma pessoa melhor do que outra. Conseguiremos fazer um mundo
melhor! Conseguiremos ultrapassar guerras, injustias,
desigualdades, se o quisermos. Para isso: cada um precisa de fazer
a sua parte! Virginie, 10C, ano letivo 2013 / 14
27. Pgina 27Amor Sabedoria A inveja, mal dos tempos de crise O
trigo e o joio H um trao comum a muitas formas de mal-estar que
afligem a nossa sociedade e poderiam ser evitadas: a necessidade
urgente de reeducar as nos- sas paixes e sentimentos. Uma paixo que
precisa especialmente de ser ree- ducada a inveja, uma das mais
negativas e devastadoras em todas as cultu- ras, muito perigosa em
tempos de crise. Diferentemente da nossa, as culturas do passado
conheciam os desastrosos danos produzidos pela inveja no cuida- da
e mal gerida e tinham por isso desenvolvido uma tica capaz de a
orientar para o bem ou, pelo menos, de cont-la. A regra de ouro faz
aos outros o que gostarias que fosse feito a ti pode tambm ser lida
como eficaz tratamento preventivo da inveja. No por acaso posta na
Bblia no centro da primeira fra- ternidade-fratricdio de Caim. A
nossa civilizao, no entanto, tem muita dificuldade em compreender a
inveja. Confunde-a, por exemplo, com uma ideia errada de competio
(ser melhor do que os outros), que chega a ser apresentada como
nico caminho para orientar para o bem comum a natureza invejosa da
pessoa. A inveja escon- de-se frequentemente por detrs das
crescentes invocaes da meritocracia ou seja do nosso mrito e do
demrito (ou m sorte) dos outros. No a reconhece- mos em denncias ou
querelas e assim no definimos regras para a bloquear nascena e
gerir de modo diferente demasiados processos evidentemente
invejosos, que absorvem imensas energias morais e econmicas de
cidados e tribunais. No a vemos por detrs da corrida ao consumo
posicional, que con- duz a endividamentos para chegar ao nvel de
consumo de colegas e vizinhos, uma inveja social que a publicidade
tende a amplificar e o mercado a aproveitar para vender as suas
mercadorias e produzir infelicidade, mesmo se aumentam o PIB
eliminar a componente do PIB produzida pela inveja seria um passo
essencial rumo quantificao do bem-estar real de um pas.
(continua)
28. Pgina 28 E no entanto a inveja muito simples de
identificar: sofrer com o bem do outro e alegrar-se com o seu mal e
depois agir para criar esse mal ou reduzir esse bem. Em alemo h uma
palavra (schadenfreude) que exprime exatamente esse sentimento
negativo que pode nas- cer quando algum nos comunica uma m notcia
que lhe diz respeito. Para que porm se caia no vcio e
frequentemente do vcio se passe ao dano e at ao crime, necessrio
que a paixo gere aes. No o simples desejo das coisas alheias a
violar o nono mandamen- to. o que nos sugere tambm o significado do
verbo hebraico hamad: no Declogo traduzi- mo-lo com desejar, mas a
sua semntica indica a atitude de quem delibera agir para obter o
que deseja (o mal). Na realidade, sabemo-lo muito bem, se um
sentimento ou um mau pensamento no combatido nascena, mais tarde ou
mais cedo traduz-se tambm em obras, palavras, omisses. Na inveja h
depois um fundamental mecanismo de reciprocidade negativa. Porque
sei, tendo-o experimentado em mim mesmo em circunstncias
semelhantes, que tu ests a experimentar inveja pelo meu sucesso,
encontro uma alegria suplementar em contar-te as minhas vitrias (e,
analogamente, em silenciar as minhas desventuras). Geram-se assim
tris- tes males relacionais em espiral, de que todos os dias somos
protagonistas e espetadores, crculos viciosos que s podero ser
invertidos pela presena de pessoas magnnimas. As pessoas magnnimas,
ou seja anti-invejosas, so um dom de valor imenso para uma comu-
nidade porque, diferentemente dos invejosos, em vez de atenuar
alegrias e amplificar sofri- mentos, multiplicam alegrias e reduzem
sofrimentos. Mas no possvel ser anti-invejoso e magnnimo sem uma
profunda vida espiritual e, para tal, um constante exerccio do gape
quer o eros quer a philia podem produzir inveja; s o gape
naturalmente anti-invejoso. A famlia , ou deveria ser, o principal
lugar onde se desenrola o jogo de espelhos virtuoso da anti-inveja.
Uma das maiores formas de pobreza do nosso tempo a de tanta gente
que no tem pessoas anti-invejosas com quem partilhar as grandes
desventuras e as grandes ale- grias da existncia. Alm disso, como j
recordava Aristteles, a inveja no se desenvolve em relao a todos,
mas apenas para com os nossos pares. Entre estudantes no se
invejoso dos pro- fessores, mas dos colegas. No se invejava o
imperador, nem o patro. Para com os superiores surgem outros
sentimentos: raiva, admirao, imitao e a esperana de ser um dia como
eles. O ciclista ainda amador no inveja o grande campeo, mas sim
aquele que fica sua frente numa corrida. No se invejam os pais, mas
os irmos. Um sinal inequvoco de inveja a sndrome do mesmo se , isto
aquela nota negativa com a qual o invejoso termina todas as
apreciaes de um colega ou amigo ( uma excelente pessoa, mesmo se ).
As sociedades de castas (desde as civilizaes antigas s grandes
empresas capitalis- tas) so tambm uma tentativa de limitar a
expanso da inveja. (continua)
29. Pgina 29Amor Sabedoria Alis, o ideal de toda a sociedade
hierrquica perfeita a construo de organizaes sociais nas quais os
pares existam o menos possvel, de modo que cada um tenha apenas
superiores e inferiores, com passagens de status bem disciplinadas.
Os seres humanos tm dificuldade no tanto em comandar ou obedecer,
mas em relacionarem-se positivamente com os seus pares. Mas na
realidade, quando nos confrontamos com os nossos pares que sentimos
melhores do que ns, juntamente com a possvel inveja surge tambm
frequente- mente a estima e o desejo de cooperao. No seria difcil
encontrar uma base biolgica e evolutiva para ambos os sentimentos.
Quando um meu par alcana uma melhoria e estamos num contexto
esttico, onde o bolo fixo e um s, aquela sua vantagem pode
facilmente traduzir-se numa minha desvantagem, num jogo de soma
zero (no qual os ganhos so iguais s perdas). E aqui desencadeiam-se
o sentimento e muitas vezes as aes da inveja. Mas na realidade as
relaes sociais que so objetivamente um jogo de soma zero so apenas
uma pequena minoria. A vida em comum, quando funciona, na verdade
uma gran- de fbrica cooperativa, um conjunto de relaes de vantagem
mtua para crescer em con- junto. A inveja cultivada faz-nos ento
perder muitas ocasies de vantagem recproca, por- que nos leva a ler
subjetivamente o mundo como um contnuo confronto destrutivo e em
riva- lidade com os outros, e no como um conjunto de oportunidades
de reciprocidade. por isso que muito frequentemente o
desenvolvimento da inveja um mau atalho perante um relacionamento
no qual no fomos capazes de ver e encontrar uma boa reciprocidade.
A inveja por vezes uma estima que no amadureceu por falta de
magnanimidade e trabalho sobre ns mesmos para chegar quela
excelncia e auto-estima que se pode oferecer como dom ao outro. Nos
tempos de crise, infelizmente, acentua-se a tendncia para ler os
relacionamentos com os outros em termos de rivalidade e inveja,
como jogos de soma zero. As crises alimen- tam invejas, e so por
elas alimentadas, porque a incerteza e o pessimismo impelem a olhar
com rivalidade quem est ao lado. pois em tempos de crise que a
educao anti- inveja, magnanimidade, estima dos nossos pares
particularmente preciosa, como sempre a comear pela famlia e pela
escola para chegar s instituies (desde o sistema fiscal at aos
esquemas de incentivo nas empresas), que podem alimentar o joio da
inveja ou gerar o trigo da cooperao. Luigino Bruni, Avvenire
30.06.2013
http://www.avvenire.it/Commenti/Pagine/ilgranoeilloglio.aspx
30. Pgina 30 Quem se importa, de Mara Mouro Mais que um
documentrio, um movimento que inspira os indivduos a serem
transfor- madores. No nos resignemos. O caminho a excelncia Porque
em ns reside a coragem e a esperana relativamente a Portugal; em ns
resi- de a fora da mudana. Tenhamos a capacidade de trabalhar em
rede No nos fechemos em ns mesmos Reflexo Um filme para quem
acredita que pode mudar o mundo O documentrio inicia com cenrios de
guerra, doena, excesso populacional, polui- o, lixo e pobreza
extremas. A indiferena, a apatia e a ignorncia constituem os atuais
piores inimigos do Homem e ningum parece importar-se A maioria dos
seres humanos vive apenas tentando sobreviver e a remanescente par-
cela vive perdida por entre distraes, bombardeada por informaes,
desconectada de sen- tido. O Homem vive acreditando que os
problemas so impossveis de resoluo. Mas ser que ainda somos capazes
de nos importar? No estamos aqui para aproveitar, simplesmente, a
vida, como se algum tivesse con- cebido o mundo e fssemos apenas
convidados. Ns no somos convidados, somos criado- res. O ser humano
criador da sua prpria vida, do seu prprio mundo. O Homem faz e cria
a histria. No entanto, antes de criar o seu mundo, o Homem deveria
de imaginar que tipo de mundo quer, porque a conscincia precede os
factos e antes de mais temos que ima- ginar e saber e s depois ir
mais alm do que achamos ser possvel. O mundo transpe agora um
perodo difcil. O preo dos alimentos e do petrleo cres-
(continua)
31. Pgina 31Amor Sabedoria ce exponencialmente; decorrem
guerras e conflitos. Talvez por uma perda de f nas lideran- as e na
respetiva integridade Assim, pensemos no que h de bom: energias
limpas; formas de conexo. E atravs de uma conscincia crescente, o
Homem querer ver um mundo melhor e aprender que os conflitos, o
apego ao passado e a muitos confortos no so to relevantes e podem
ser dei- xados de lado. uma questo elementar de estilo de vida.
Como vivemos neste planeta? Que respon- sabilidade impomos a ns
mesmos? Se respondermos a estas questes, criaremos a conscincia de
que se vivermos e agirmos de certo modo, estaremos lesando algum,
quando no deveria atingir a vida do prximo. Todos ns podemos,
contudo, trazer mudanas positivas para algum confim do plane- ta.
Todos podem mudar o mundo Basta dizer basta e no ficar acomodado
Basta dizer basta e fazer; e fundar No importa o nmero de
beneficiados, mas o sentimento que se esconde Qualquer pessoa pode
ser um empreendedor social, no nenhuma bno divina. Simplesmente
necessrio que o Homem se consciencialize do seu poder de transfor-
mao. A partir de qualquer sector, qualquer confim do planeta,
possvel que surjam iniciati- vas que possam mudar o rumo da
Histria. , apenas, necessrio que o Homem reconhea que o
conhecimento de um ndio ou de uma mulher de uma comunidade
tradicional to fundamental como o criado por um grande cientista
num grande laboratrio. Um empreendedor social aquele que v esperana
onde outros no a vem; que v possibilidades onde no existem; que v
espaos entre uma coisa e outra. Um empreendedor social um
visionrio: tem imaginao, esperana; infinitamente prtico e
detalhista. Ser empreendedor no ter a capacidade de gerenciar, nem
a aptido de fazer acontecer ou de liderar; ser empreendedor saber
quais os rumos que a sociedade deve tomar e fazer tal acontecer.
Todos temos responsabilidade e, por um mundo melhor, temos que
participar. No imaginam a ausncia de dignidade que a pobreza pode
criar Temos que ver se, (continua)
32. Pgina 32 como seres humanos, temos uso para algum. Temos
que querer fazer mais impossvel pensar num problema global cuja
soluo no seja, pelo menos, parcial- mente global. Pela primeira vez
na histria da Humanidade, sente-se a ameaa. E no temos mais tempo O
consumo, a produo de lixo e de desperdcio j esto exagerados. O
aqueci- mento global j facto Se o Homem no mudar, o planeta o
varrer O planeta , hoje, um carro a alta velocidade rumo ao abismo.
Precisamos desacelerar e mudar completamente. Se todas as
comunidades no reaprenderem a tica de cuidado caminharemos
eminentemente para a autodestruio Podemos recuperar areas
totalmente degradadas Cada pequeno problema comunitrio resultado de
todos os factores que envolvem a comunidade. Assim, para
desenvolver preciso mover tudo do mnimo preciso o contacto, estar
com a comunidade Todos temos coisas a colaborar. Contrapartidas e
obrigaes mtuas. Precisamos de uma realidade de parceria. Todos
podemos ser transformadores. Basta envolver a comunidade em todos
os trabalhos de modo a que tome as rdeas do poder e possa conduzir
o seu prprio desenvolvimento. Basta considerar os pobres como
cidados capazes e fornecer os instrumentos para que se desenvolvam,
encarando-os como irmos. Basta que o Governo e os empreendedores se
unam, com viso estratgica de escala. O crescimento do Sector Cidado
uma nova esperana para a sociedade, para a Humanidade e para o
mundo. Mas s se no se isolar em si mesmo O ponto crtico para o
crescimento dos criadores de mudana e do Sector Cidado o
consequente alistamento com outros sectores. As mudanas no
funcionam quando isoladas do governo ou quando isoladas do mun- do
corporativo. Existe esperana no mundo se criarmos uma gerao de
transformadores que vem o que existe de bom em todos os lugares da
sociedade; que investem, ordenam e mobilizam, como uma fora de
mudana. (continua)
33. Pgina 33Amor Sabedoria necessrio pensar fora da caixa. Os
desafios de hoje so diferentes dos de ontem. Assim como no sero
iguais aos de amanh. necessria a habilidade de fazer os indiv- duos
se envolverem. Um Homem no pode decidir por outro; nem pode ajudar
se no conhece os problemas do prximo. necessrio angariar dinheiro,
mas com vista a melhorar a sociedade do outro e aten- dendo ao
facto de que quando a felicidade se direciona s para um lado se
torna explorao. necessrio compreender que o prazer de um Homem o de
outro, que quando um Homem ganha, o seu irmo tambm. O problema ,
por conseguinte, a herana de um mundo compartimentado, sectoriza-
do. O Homem precisa de procurar uma convergncia, um novo modelo de
gesto de empre- sas, que nasa socialmente responsvel, porque os
governos atuais no privilegiam a felici- dade, a fora voluntria de
um corpo. Quando se observa os indicadores de desenvolvimento de um
pas o principal indica- dor de como um cidado contribui ao
bem-estar atravs da PEA populao economica- mente ativa, a qual
reconhece o povo entre os 15-64 anos de idade. No existe um
indicador que afirme a um menino de 4, 8 ou 12 anos que o que faz
contribui para o bem-estar do pas. Por conseguinte, foi criado um
novo indicador populao ambientalmente ativa, que reconhece o todo.
O consumo originou um estado de alerta para o sustento da vida
humana. E a causa a incoerncia, a incapacidade de pensar, de
sentir, de dizer e de fazer de modo alinhado e no tempo. O Homem
vive pensando, dizendo e fazendo coisas completamente diferentes. E
sem coerncia social alimenta-se a indiferena, a mentira e a
violncia. necessrio guiar as comunidades locais no sentido de que
resolvam os problemas humanitrios, independentemente da ajuda
estrangeira. Mas o maior problema a falta de f, de imaginao e de
esperana. No se acredita ser possvel. Mas como intervir? Qual a
forma mais eficiente? necessrio conhecer. No somos um
no-alguma-coisa. Cidadania importar-se, organizar, fazer. Sem uma
sociedade civil pulsante, a Humanidade encontra-se extraviada numa
encru- zilhada sem sada. (continua)
34. Pgina 34 Quando o ser humano pensa em mudana surge logo a
ideia de grandes milagres, grandes somas de recursos. No precisamos
de grandes tecnologias. Com o que j se sabe, com o que j est
disposio, o mundo passvel de transfor- mao. Uma transformao que
termine com a falta de saber, a ignorncia, a falta de oportu-
nidade e de acesso. Ideias so coisas que devemos libertar. Se quer
fazer mudana, deve abrir mo de qualquer direito autoral porque o
objetivo embutir as ideias nas estruturas dos sistemas. O
importante , pois, descontaminar o mundo dos processos antinaturais
de privatiza- o do pensamento, das ideias de soluo. Porque, afinal,
somos o canal para que se insta- lem no mundo. De algo mnimo pode
despontar um proceder totalmente novo; aes pequenas podem somar
muito mais rapidamente do que se pensa; os Homens podem realmente
transformar um sistema. Qualquer territrio portador de
desenvolvimento. A pobreza no uma sentena inexorvel de Deus. A
pobreza pode ser eliminada do mundo uma vez que no faz parte da
sociedade humana; esta artificialmente imposta. E algo artificial
sempre pode ser arrancado. A crise atual verifica-se no devido
falta de recursos, mas inadequada distribuio dos mesmos. Os Homens
trabalham exclusivamente para si mesmos. Quando necessrio dar as
mos e colaborar; terminar com o individualismo, os abusos e a
explorao; olhar do ponto de vista ambientalista; fazer mais com
menos; incrementar a partilha e a cooperao, por uma sociedade
proativa. A crise, no sentido salutfero, ento til para a diminuio
do consumismo, da polui- o, do materialismo, do egosmo e do
altivismo. No nada com a semente, o problema que se no d a base
para que possa cres- cer. Muito do que somos e do que temos
consequncia das condies onde nascemos. Reconhecer, respeitar e
meditar sobre esse facto torna natural o pensar sobre o outro que
nasceu sob circunstncias que no propiciaram que fosse to bem
sucedido quanto muitos de ns conseguimos ser. (continua)
35. Pgina 35Amor Sabedoria Os pobres querem ser tratados como
parceiros de negcio. Querem que ns sejamos os seus investidores,
numa relao de dignidade mtua. E, na verdade, so os pequenos passos
que se somam e fazem o mundo girar numa direo. Busquemos, ento,
esse sentido e faamos disso o nosso trabalho de todo o dia. O
manifestar de amor e respeito, de forma majestosa, o maior dom que
pode ter. Se uma criana tem todos os brinquedos e nenhum vestgio de
amor, no funciona. A mesma coisa para os adultos Os bens materiais
so medidas indiretas de sucesso na vida; so as sombras da caverna.
Tornamo-nos aquisitivos ou materialistas porque nunca estimularam
as nossas mentes a nvel inteletual, emocional e espiritual.
Pensamos, assim, uma criana como tola se no v beleza numa montanha
ou numa estrela, e como normal se no v beleza nas leis e cone- xes
invisveis da Natureza Estamos a bloquear parte dos nossos crebros
Existe uma fonte infinita de alegria e entretenimento,
absolutamente gratuita. Existe um descomunal potencial nas crianas
que no estamos nutrindo. A verdadeira raiz da pobreza material a
inteletual. Aprendamos, de uma vez por todas, que nem tudo o que
conta pode ser contado e, ainda, que nem tudo o que pode ser
contado conta [Einstein]. Direitos por si s no conferem uma vida
interessante e significativa. preciso que nos sintamos
participantes e com amor; que nos sintamos contribuidores. Ter um
olhar livre de dogmasTodos tm capacidades necessrio libertar o
potencial humano em seres vistos como incapazes, deficientes ou
irrecuperveis. Fazer parte da soluo e no do problema. Aprender a
cuidar do outro, a entender a sua experincia. Ter a habilidade de
imaginar como o outro se sente. S assim resolveremos conflitos,
pelo altrusmo, atravs da tica de cuidado; pela humanidade que ainda
existe em ns. No temos o direito de desistir de uma criana
necessrio reciprocidade, preocupaes compartilhadas, um futuro
compartilhado. No preciso muito para inspirar uma pessoa a ser o
que realmente . Faa da mudana um caminho a ser seguido.
(continua)
36. Pgina 36 No pea permisso. Simplesmente faa! possvel acabar
com os maiores problemas da Humanidade. O mundo dos transformadores
ser verdadeiramente igual, tico e respeitoso. O que importa no o
resultado, mas quem nos tornamos durante a jornada. Sintamo-nos
teis e vlidos. Sejamos uma Humanidade criativa, inventiva,
inovadora, ativa, empreendedora, tenaz, verdadeira cidad.
Lembremo-nos das nossas maiores aspiraes e tragamos as nossas
ddivas de amor para o altar da Humanidade. No somos seres isolados,
mas seres permanentemente conectados, em mistrio e encanto, com
este Universo, com a comunidade e com o outro. Milagros Existem
dois tipos de pessoas. As que falam e as que agem. Procuro estar no
segundo grupo, dado que no primeiro h j muita concorrncia. (Indira
Gandhi) O mundo ser melhor quando eu for melhor No fiquemos espera
necessrio instigar a ao individual e coletiva; apontar novos
caminhos e formar agentes ativos na construo de um mundo melhor que
detenha um olhar tico. necessrio encarar os grandes problemas do
mundo como oportunidades e no como obstculos intransponveis.
necessrio ter vontade de metamorfosear o mundo, numa ao social e
transforma- dora que melhore contextos sociais, ambientais,
econmicos, polticos e humanos. Tenhamos a alegria de usufruir uma
misso de vida, vises e solues de futuro, para um mundo sustentvel e
justo. necessrio pensar as necessidades da sociedade; abandonar a
apatia e o imobilis- mo para agir; criar respostas inovadoras
capazes no s de mudar a sociedade em redor, mas tambm de causar um
impacto social para que possam transformar-se em polticas pblicas
pelo mundo; necessrio revolucionar o processo criativo-destrutivo
do capitalis- mo, pelo desenvolver de novas tecnologias ou do
aperfeioamento de uma antiga o real papel da inovao; necessrio
alcanar o bem-estar coletivo e transformar a realidade em todo o
mundo. Milagros
37. Pgina 37Amor Sabedoria Tanto Mar Sei que ests em festa, p
Fico contente E enquanto estou ausente Guarda um cravo para mim Eu
queria estar na festa, p Com a tua gente E colher pessoalmente Uma
flor do teu jardim Sei que h lguas a nos separar Tanto mar, tanto
mar Sei tambm quanto preciso, p Navegar, navegar L faz primavera, p
C estou doente Manda urgentemente Algum cheirinho de alecrim Chico
Buarque * Letra original, vetada pela censura; gravao editada
apenas em Portugal, em 1975. As Gaivotas As gaivotas voam no ar os
alunos na sala a trabalhar at o toque soar ningum vai parar. Voar
aprender a estudar, a ler, a escrever, a multiplicar, para podermos
crescer. O pai e a me a trabalhar para nos sustentar nosso dever
ajudar para com eles partilhar. As gaivotas pairam no ar a danar
sem cansar e o meu poema a rimar com palavras de encantar. Miguel
ngelo Faria Silva, Turma: 5E,N:17
38. Pgina 38 Despertar para o nosso patrimnio natural Vivemos
numa Ilha povoada de plantas e com extensas zonas verdes. Temos uma
floresta considerada pela UNESCO reserva da biosfera, floresta essa
designada pela Laurissilva. Eu jamais imaginaria que dentro desta
floresta existiria milhares de plantas medicinais e plantas
existentes a nvel mundial. Quando olha- va para essas mesmas
plantas, considerava-as como monda, destinada apenas ao consumo
animal. Mas depois da caminhada que realizmos na Faj da Nogueira,
na freguesia do Faial, percebi e foi-nos apresentada cada planta e
qual a sua fun- o em termos medicinais. A partir desse momento a
minha mentalidade mudou. Com base neste trabalho fiquei a conhecer
melhor as plantas e para que fins medi- cinais se destinam. Com a
recolha de dados fotogrficos e apontamentos, elabormos uma ati-
vidade onde inclua tambm essas mesmas plantas observadas na
caminhada, mas tambm outras plantas que pesquismos atravs da
internet com o objetivo de localizarmos plantas existentes e no
existentes na regio e a sua origem, se fazem ou no parte da
Macaronsia (Aores, Madeira e Canrias). Com esta atividade, aprendi
algo mais sobre plantas, e o que podemos fazer com elas, nem
imaginaria que existem milhes de espcies que so benficas para a
sade e algumas delas tm origem nos confins do mundo. Abaixo
apresento o registo fotogrfico da nossa atividade integradora.
(continua) Escola Bsica e Secundria Padre Manuel lvares
39. Pgina 39Amor Sabedoria Na Caminhada na Faj da
Nogueira-Faial, percurso em busca de plantas medi- cinais. Algumas
espcies encontra- das na caminhada (continua)
40. Pgina 40 Preparao para apresentao da nossa atividade ao
pblico Chegada da nossa convidada Eng. Graa Mateus A minha
apresentao das plantas da caminhada
41. Pgina 41Amor Sabedoria Momento em que a nossa con- vidada
Eng. Graa Mateus ini- ciou a sua palestra Esta foi mais uma das
nossas atividades integradoras em que foi fundamental ver em termos
globais a origem das plantas medicinais. Aprendi muito. Isa Faria,
EFA ST5&6, 2012/2013 5 de maro de 2013 Identidades e Patrimnios
Culturais As casas madeirenses atuais j no so idnticas s casas que
antigamente se construam, isto porque, como podemos analisar mais
frente nas imagens que tirei s casas antigas, estas tinham muita
semelhana em certos traos gerais e pormenores, tais como telhados,
beirais, janelas, portas, chamins, ptios e tam- bm na sua
estrutura, tanto interior como exterior. Foram-se adaptando novos
estilos de casas vindas do exterior, ou seja, tra- zidos por
emigrantes, de tal modo que consegue-se distinguir qual a casa de
um residente madeirense e de um emigrante madeirense. Isto
aplica-se em casas construdas mais ou menos h dez anos ou mais,
porque as atuais j so adapta- das aos novos estilos e qualquer um
que tenha investimento pode obter uma. Abaixo podemos analisar
vrios pormenores semelhantes e tambm pode- mos ver outros aspetos
que embelezavam as residncias. (continua) Escola Bsica e Secundria
Padre Manuel lvares
42. Pgina 42 Telhados, beirais, figuras ilustrativas, portas,
janelas, varandas, chamins etc Figuras Ilustrativas: H quem pense
que estas figuras tm um significado, mas outros dizem que apenas
eram para enfeitar os beirais. Fiz algumas pesquisas junto de
pessoas mais velhas e estas no me souberam responder se tinha ou
no, significado estas figuras. Apenas relataram-me que,
antigamente, era moda o seu uso. (continua)
43. Amor Sabedoria Pgina 43 (continua)
44. Pgina 44Pgina 44 Estas so algumas das figuras que podemos
encontrar nas residncias madeirenses. Podemos ver que existem vrios
tipos de imagens expostas em habitaes espalhadas pela ilha.
Telhados e beirais: Os telhados e os beirais so muito semelhantes,
tambm podemos encontrar telhados diferentes, mais modernos, de
certa forma conseguimos per- ceber quais so os antigos e quais so
os mais modernos. (continua)
45. Pgina 45Amor Sabedoria (continua)
46. Pgina 46Pgina 46 (continua)
47. Amor Sabedoria Pgina 47 Estas imagens so a demonstrao de
vrios tipos de telhados e beirais existentes na ilha da madeira,
muitos so idnticos. Aqui apenas retratamos alguns deles. Portas e
janelas: Outro aspeto nas casas madeirenses a ilustrao de portas e
janelas com vidros coloridos. Um exemplo que encontrei numa rua
onde existiam vrias casas pertencentes mesma famlia mas cada uma
delas tinha um formato diferente, estas procuravam no repetir a
forma das outras casas. (continua)
48. Pgina 48Pgina 48 Outro pormenor que encontramos nas casas
madeirenses so os fingimentos ou molduras que contornam as portas e
as janelas, esquinas e contornos de beirais, uns simples, outros
traba- lhados. E tambm as varandas e portes exteriores.
(continua)
49. Pgina 49Amor Sabedoria (continua)
50. Pgina 50
51. Pgina 51Amor Sabedoria Chamins: As chamins so muito
idnticas mas mesmo assim encontram-se vrios tipos de forma- tos, de
terra para terra podemos ver que nem todas as construes so iguais.
Em particular a Ilha da Madeira possuiu uma arquitetura fascinante
nos seus moldes, o facto que as chami- ns prismticas so bastante
utilizadas se bem que tambm sejam utilizadas formas que tam- bm so
fundamentais. (continua)
52. Pgina 52 Isa Faria, EFA ST5&6
53. Amor Sabedoria Pgina 53 40. Aniversrio da Escola Bsica e
Secundria Padre Manuel lvares Entrevista com Leontina Santos 17 de
fevereiro de 2014 O esprito de Ferno Capelo Gaivota A Escola Bsica
Secundria Padre Manuel lvares celebra 40 anos de exis- tncia. Foi
fundada, formalmente, no ano lectivo de 1973/1974, tendo como
primei- ro director o professor e escultor Francisco Simes. A
propsito do quadragsimo aniversrio da Escola vou entrevistar a
professora Leontina Santos, discpula ativa do esprito precursor da
instituio, inspirado na obra de Richard Bach - Ferno Capelo
Gaivota. Entrevistador: Muito boa tarde, senhora professora. Vamos
iniciar esta entrevista recordando algumas experincias
significativas que foram compondo a sua biogra- fia. Pode ser? H
quanto tempo abraou o esprito de Ferno Capelo Gaivota? Como foi a
descoberta da vocao do ensino? Prof. Leontina: Boa tarde. O meu
nome Leontina Silva Santos e tenho cinquen- ta e quatro anos. As
qualificaes acadmicas foram conquistadas de forma gra- dual e com
muita dedicao. Alcancei o grau de mestre na rea da Filosofia pela
Universidade de Braga, extenso do Funchal. Em 1981, nesta escola,
iniciei a ativi- dade docente, antes de possuir a formao
universitria. O percurso acadmico foi realizado a trabalhar e a
estudar simultaneamente. Quanto s experincias, elas so muitas e
diversificadas. Umas so de ordem privada e familiar, outras de
ordem profissional. Inicialmente, no Ensino Diurno, comecei pelo
Segundo Ciclo, seguido do Terceiro Ciclo onde estive menos tempo e,
claro, a maior parte do tempo foi partilhado com os alunos do nvel
Secundrio. Tambm passei pela experincia dos vrios programas do
Ensino Nocturno nos diferentes nveis, desde o Ensino Recorrente at
aos atuais Cursos de Educao e Formao (CEF) e Cursos de Educao e
Formao de Adultos (EFA). (continua)
54. Pgina 54 Ao longo destes anos desenvolvi vrias atividades e
desempenhei mltiplas funes dentro da escola. Entre aquelas que mais
interessam para este momento, as de ordem profissional, so de
realar: o papel de animadora de diferentes clu- bes, abrangendo o
teatro, a natureza, aos projectos com as crianas, por exemplo, A
Filosofia para Crianas; o acompanhamento nas sadas de Visitas de
Estudo, dentro e fora da Regio Autnoma da Madeira (RAM); a lecionao
enriquecedora nos diferentes nveis escolares; o facto de ter sido
Orientadora de Estgios; o desempenho da funo de Coordenadora dos
Directores de Turma e, em ltima instncia, o momento em que fui
Presidente da Escola durante dois anos. Tem sido um leque de
experincias que me deixa confortvel em relao ao ensino por- que
muita coisa no nova e, ao mesmo tempo, uma atitude crtica em relao
a muitas outras. Entrevistador: Foi uma descoberta exigente mas
recompensadora, assente na dedicao e no esprito de misso. Em
1973/1974 emergiu a Escola Bsica e Secundria Padre Manuel lvares e
o professor escultor Francisco Simes como primeiro Director. A
professora Leontina conheceu esta personalidade? Prof. Leontina:
Evidentemente. Francisco Simes foi uma figura mpar que mar- cou
todos os alunos, especialmente, os primeiros alunos que
frequentaram esta escola, por ter sido o impulsionador e o
motivador para que a escola funcionasse nesse ano, em 1973/1974.
Apesar da instituio no apresentar as melhores condies materiais,
ele achou oportuno comear desde logo as actividades lectivas para
evitar que a esco- la perdesse muitos alunos. Eu seria uma daquelas
que teria ficado sem a escolari- dade, na medida em que no tinha as
condies para dar continuidade aos estu- dos noutro local mais
longnquo. Tendo conscincia da realidade precria das famlias e do
facto de muitas crianas j terem iniciado o primeiro ano ou terem
fei- to a Telescola, logo sem condies para continuarem, Francisco
Simes decidiu abraar este projecto e lanou-o de uma forma indita.
Em 1973/1974, antes de ocorrer a Revoluo do 25 de Abril, podemos
dizer que o concelho de Ribeira Brava foi pioneiro, por desenvolver
uma atitude de liber- dade, respeito, tolerncia e diversidade que,
olhando hoje, parece inconcebvel que se pudesse ter feito isso
antes da Revoluo do 25 de Abril, mas aconteceu. (continua)
55. Amor Sabedoria Pgina 55 Eu tive a felicidade de ter sido
uma dessas alunas e de ter partilhado com Francis- co Simes o
esprito e a viso de Fernando Capelo Gaivota. Nessa poca era cha-
mada de Leontina Gaivota, tal como todas as outras colegas e, desse
modo, foi injectado no esprito dos jovens o gosto, a misso, o
esforo e o trabalho, dentro e fora da escola, por um futuro melhor.
Acho fundamental que se voltasse a renovar e incentivar todos esses
valores nos nossos jovens. Entrevistador: Deduzo das suas palavras
a necessidade de reorientar os jovens no caminho de uma liberdade
mais dinmica e responsvel. Como aluna desta escola, quais so as
memrias dessa passagem? Como era o clima escolar, as aulas, enfim,
quais foram os traos mais salientes dessa poca? Prof. Leontina:
Isso mesmo. Ora, o que eu gostaria de referir, essencialmente, era
o gosto por aprender que animava todos os alunos que frequentavam a
escola. A escolaridade no era obrigatria, por isso os que c estavam
eram aqueles que queriam, aqueles que insistiram com os familiares,
tal como eu que chorei e bradei para voltar para a escola e que,
assim, aproveitavam ao mximo tudo aquilo que a escola tinha para
oferecer. Tambm no havia a concorrncia de outros meios para chegar
determinado tipo de informao. Efectivamente, a escola tinha um
papel privilegiado nessa poca que presentemente no tem. Hoje ela
tem fortes concorrentes, sobretudo do mundo audiovisual. Nesse
tempo vivia-se verdadeiramente um esprito de gosto, de interesse e
de motivao por aprender. Tudo e todos tinham a aprender e a ensinar
e este foi o grande lema de Francisco Simes. Todos os colaboradores
de c de dentro, des- de o senhor Joo, o antigo agricultor que
cuidava da horta, grande mestre e pro- fessor sem escolaridade, foi
professor dos professores e de todos os alunos. Essa motivao fez
com que todos os alunos se empenhassem em manter, em construir e
criar a prpria escola. Comemos por ter quatro salas e cinco turmas.
Uma turma ficava sempre ao relento. Havia uma disputa entre as
turmas para ver quem conquistava primei- ramente o espao de cada
sala. Nas primeiras semanas nem cadeiras havia, ape- nas o tecto e
o abrigar do vento porque no havia imobilirio. Foi uma alegria
enor- me os carros chegarem com cadeiras e mesas. Ns ajudamos a
descarregar o material e de seguida montamos as salas. So dias e
memrias inesquecveis. (continua)
56. Pgina 56 Depois, todo o percurso, dentro e fora da escola,
motivado e muito trabalhado pelo professor Francisco Simes,
professor da disciplina de desenho (hoje com a designao de EVT) que
sempre nos ensinou e incentivou a enquadrar o contexto social em
que estvamos inseridos. Lembro-me que uma das primeiras aulas foi
subir at a zona do pico e, a partir do miradouro, tivemos de
desenhar a planta da vila da Ribeira Brava porque ele defendia que
a escola no podia estar desenraiza- da do seu meio. Esta iniciativa
invulgar foi uma experincia nova para essa poca. E neste esprito
nasce o dia da Escola, o dia seis de maio, porque o aniversrio da
fundao do Concelho da Ribeira Brava. Depois destas prticas surgiram
tantos tericos, pedagogos, livros e ensina- mentos que nos vm dizer
que a escola deve estar em sintonia com o contexto social onde est
inserida. Mas ele no dizia, fazia. E por essa razo samos vila
abaixo: decoramos paredes e aconteceram aulas em qualquer espao,
onde fos- sem possveis as aprendizagens, quer sentados na esplanada
do caf ou no adro da igreja, quer pintando as muralhas do mercado
que as pessoas mais conhecedo- ras bem se recordam. Apesar de j ter
sido demolido e restaurado, agora, o merca- do j no apresenta
qualquer vestgio dessas pinturas. Foi assim que tambm se fez da
vila a Escola, pois qualquer meio condio de possibilidade de
aprendiza- gem. Quando Francisco Simes regressou Ribeira Brava,
passados muitos anos, o professor ficou muito chocado ao encontrar
a escola rodeada por uma vedao enorme, o que contraria,
naturalmente, o esprito de escola como continuidade com o meio
social. Claro que as realidades so diferentes, a realidade social
actual ofe- rece outros perigos aos adolescentes e outras motivaes
que levou colocao da cerca, mas, realmente, o esprito que se viveu
na altura qualquer coisa que deixa uma saudade enorme.
Entrevistador: Pois, os agentes educativos que fazem o esprito da
escola ape- sar das adversidades. Neste contexto, a Escola Bsica e
Secundria Padre Manuel lvares celebra, no dia 6 de maio de 2014, o
seu quadragsimo aniversrio, como professora, qual para si o
significado desta data? Pode referir algumas dificulda- des e
desafios da sua carreira profissional? Prof. Leontina: Sou
realmente uma pessoa apaixonada pela histria desta Escola e j o
demonstrei em vrias circunstncias, nomeadamente quando exerci a
funo (continua)
57. Amor Sabedoria Pgina 57 de presidente. Nessa altura tentei
agregar os antigos alunos e, a partir de ento, passmos a fazer do
seis de maio a data do jantar das antigas Gaivotas. Nesse primeiro
encontro marcou presena o Francisco Simes que se dignou vir Madei-
ra. No ano seguinte fazamos vinte e cinco anos da existncia da
Escola e foi decidido assinalar essa data com um pequeno compndio
de algumas memrias, com a colaborao de vrios professores da altura
e antigos alunos. Foi possvel, grande parte com a participao do
professor escultor Francisco Simes, compor um pequeno compndio que
realmente perdura at aos nossos dias e, algumas vezes, utilizado
como objeto para agraciar quem nos visita. Fico um pouco desa-
pontada por no ter havido mais iniciativas para perpetuar a memria
dos melho- res ambientes escolares, os verdadeiros ambientes
escolares. Nos anos posteriores seguiu-se a destruio de muitos
vestgios que marca- vam e assinalavam os documentos vivos da
histria desta Escola. Hoje, entra-se na nossa Escola e ela parece
uma escola igual a todas as outras porque se apaga- ram as pegadas,
os elos e o esprito reinante nas primeiras Gaivotas. Ainda resis-
tem duas frases nas fachadas da entrada devido ao esforo que fiz, h
uns anos (continua)
58. Pgina 58 atrs, para que se mantivessem essas frases de
Ferno Capelo Gaivota1 . Sobrevi- ve alguns pequenos vestgios como o
nome da Rua das Sombras e a Avenida das Gaivotas, mas a grande
maioria das pinturas desapareceram e, infelizmente, o novo prottipo
da Escola at quer apagar o nome Padre Manuel lvares que, mais uma
vez, visa suprimir os vestgios da cultura de uma determinada
realidade. O Padre Manuel lvares, filho ilustre desta terra, uma
grande figura da Ln- gua Portuguesa, comparvel com aos grandes
escritores como Lus de Cames, cuja obra se divulgou mundo alm. E
agora at se pretende ignorar semelhante fei- to, apagando o seu
nome de uma instituio to importante numa comunidade como a Escola.
Para mim, o quadragsimo aniversrio deve ser assinalado com toda a
pompa e circunstncia, no s por respeito memria do passado mas,
sobretudo, para reavivar determinados valores que possam tocar,
sensibilizar e vol- tar a despertar o gosto pela Escola.
Entrevistador: A Escola vive das suas referncias, da sua histria e
identidade pr- prias. No ano passado foi apresentado o projecto de
uma nova escola secundria. Parece que apenas os concelhos de
Ribeira Brava e Porto Santo foram os nicos que no renovaram as
escolas secundrias. Qual a sua opinio sobre esta pro- messa? Prof.
Leontina: Ora, uma escola nova! No sei se ser uma escola nova ou
sero apenas paredes novas. Muitas vezes uma escola nova reporta-se
apenas a salas, mesas e cadeiras novas. Eu sonhava, sempre sonhei
que a Ribeira Brava voltaria a ser pioneira em termos escolares
como j foi h quarenta anos atrs, com uma Escola Nova. Fomos exemplo
para os pedagogos, fomos exemplo para os pro- fessores do ensino
bsico do continente, mais do que para os da Madeira, infeliz-
mente. Fiquei um pouco dececionada por saber que a mudana passar
pela renova- o das paredes. Vamos continuar com a mesma
circunstncia de que existem dis- ciplinas que vo ter de ser
administradas, repetidamente, fora daqui, caso da Edu- 1 - Esto
cegos? No conseguiro ver? No se apercebero da glria que ser quando
aprendermos realmente a voar? No me interessa o que eles pensam.
Mostrar-lhes-ei o que voar. Tu tens a liberdade de ser tu prprio, o
teu verdadeiro eu, aqui e agora; nada se pode interpor no teu
caminho. Essa a lei da Grande Gaivota, a lei que . - Queres dizer
que posso voar? - Quero dizer que s livre?. (Richard Bach, Ferno
Capelo Gaivota) (continua)
59. Amor Sabedoria Pgina 59 cao Fsica, colocando os alunos em
situaes desagradveis como as situaes de chuva e mau tempo, os
perigos rodovirios, entre outros. Alm disso, ainda no conheo o
interior deste projecto, mas se se repetir o que tem vindo a
acontecer com as ltimas construes escolares, esta ser mais um copy
e paste (copiar e colar) igual a tantos outros, sem qualquer
caraterstica que a diferencie. Gostaria que a minha escola tivesse
capacidade para agregar os alunos num s turno, que no houvesse dois
turnos a funcionar porque isso nunca produz bons efeitos. No h
medida alguma que o Ministrio venha a implementar, que v dar o
fruto pretendido nas condies em que ns trabalhamos, numa escola a
trs tur- nos, onde a funcionria tem de controlar os espaos e
esgueirar-se, durante cinco minutos, para poder fazer a limpeza ou
poder arejar uma sala. Este um dos vrios problemas. A questo
essencial que a escola deveria disponibilizar uma oferta
diversificada aos alunos e isso s possvel quando trabalhamos apenas
num turno. Num segundo turno, os alunos escolheriam entre as
diversas atividades extracurriculares aquelas que pretendiam
frequentar sem qualquer tipo de cons- trangimento. O ideal seria
conceber atividades para aqueles que tm mais limitaes no processo
de aprendizagem e outras iniciativas mais exigentes para aqueles
que tm um ritmo de aprendizagem mais avanado. A Escola pode ser uma
fonte de enriquecimento dentro dessa natureza, permitindo,
essencialmente, que a equipa docente tivesse a possibilidade de ter
momentos de trabalho interdisciplinar, pois, s assim se obtm os
verdadeiros frutos no ensino. Este ensino compartimentado, esta
dificuldade dos professores se reunirem e, sempre que o fazem, tem
de ser em horrios ps-laborais, traduz, de facto, a desmotivao e o
prejuzo para a vida profissional de qualquer docente. Um professor
que entre na escola s oito, com aulas na parte da manh e na parte
da tarde, e depois ainda tem uma reunio s dezanove ou s vinte
horas, evidentemente que a sua motivao para trabalhar nula, antes
pelo contrrio, sente-se cansado e revoltado, como bvio. Assim, no
vamos a lugar nenhum. Entrevistador: Muito interessante a sua viso
da nova escola. Antes do imvel urge promover um dilogo alargado
sobre as ideias quem devem orientar a cons- truo, a organizao e a
vida da futura Escola Secundria do concelho. Agora, no
(continua)
60. Pgina 60 papel de presidente da escola, tendo presente a
sua experincia, quais foram os aspetos mais relevantes? Prof.
Leontina: Muito bem, a minha passagem pela direo desta Escola no
foi uma experincia indita, pois j tinha assumido funes no Conselho
Diretivo da Escola Bsica da Ponta do Sol. Mas, no caso concreto
destes dois anos frente desta Escola, o que mais me desagradou foi
realmente o excesso de burocracia. Em muitos casos, o cargo de
direo da escola cinge-se muito mais ao papel de um funcionrio a
executar tarefas burocrticas do que propriamente a assumir a funo
de direo, sobretudo nas circunstncias em que a escola se
encontrava: superlotada, na altura com quase dois mil alunos, com
problemas disciplinares que se avizinhavam, desde ento vividos com
uma certa gravidade. Uma das coisas em que me empenhei, com o apoio
do Conselho Pedaggico e outros meios, foi a implementao de um
Regulamento Interno onde pudesse travar essa escalada de
indisciplina, entretanto, barrado com a questo da legislao em
termos gerais e com o Estatuto do Estudante. Certas coisas no foram
possveis de desenvolver, o que me contrariou um pouco e me
desmotivou para continuar frente da escola. Contribuiu tambm uma
grande razo que foi o meu envolvimento num outro proje- to social,
onde mais direta e facilmente consigo chegar s pessoas, sem tanta
inter- posio burocrtica, como o caso do ensino em Portugal.
Entrevistador: Portanto, a burocracia suga a energia vital das
pessoas e das insti- tuies. Uma escola viva e social exige
disciplina e desburocratizao por parte das direes. Rodando um pouco
o ponteiro indagador, tem alguma ideia sobre o novo modelo de
avaliao da classe docente? Prof. Leontina: Relativamente ao novo
modelo, creio que mais um modelo. Modelos perfeitos de avaliao
julgo que no existem, mas este mais um para preencher papel e
mostrar opinio pblica que existe um modelo de avaliao. No me sinto
confortvel a tecer algumas crticas porque tambm no tenho o modelo
alternativo que me diga: deve ser desta ou daquela maneira com
clareza, com exactido, objectivamente. No entanto, penso que ele
deveria ser sentido mais por dentro, que perpassasse o tecido
escolar, e no devesse ficar merc, exclusi- vamente, de um professor
para tecer a avaliao. (continua)
61. Amor Sabedoria Pgina 61 Nesse processo deveriam constar,
antes de mais, os dados recolhidos em Conselho de Turma, onde mais
claramente se manifesta a dinmica pedaggica que um professor
implementa dentro de uma sala com os seus alunos, do que sim-
plesmente uma avaliao assente num documento escrito, em linguagem
pedag- gica e didctica muito correta, mas de facto pouco ou nada
avalia. E assistir a uma ou duas aulas tambm poder ser igual a
quase nada, comparativamente avalia- o conscie