8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
1/29
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Jì
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Tradruido
do
origiral
en
frBncés
osrcdon
Revissr*
Aurea
Moraes
Sa[tc
hòdlção,Gráfica:
Orlado
Fcmades
lr
ediçãô:r
983
Dircitos
adquiridos
peta
EDIçÓES
GRAALLTDA.
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Glóris,
Rio
de J,aneirq
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que
se
eserya
o
dheito
dçsta
qadugão.
Aüea{ :mos
elo:Repobotso
ostat'
L992
Iopresso
ao
Brasil
pünted
in
Brozil
CIP.
Brasil.
Catalogação
a
fmte
Sindiçato
Nacioul
drÈ
Editores
deLiuos, RI
Althusseç
ouis,l91&
(Biblioteca
e
ciêruias
ociais;
.
n
25)
Tradução
e:
Poeicion
1. O
Esüado
"Eatado
Teoria
.
Tlhrlo
r. Série
cDD-320.1
320.101
cDU_321
32t.AL
3-6
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LOUIS
ALTHUSSER
)úLV4l,vla
N
cr/ ' , t fc / í /
APARETHOS
2
IDEOLOGICOS
E
ESTADO
NOTA
SOBRE
OS
APARELHOS
IDEOLÓGICOS
DE
ESTAI)O
Introd.uçfu
Crítiea
d,c
J. A. GullHoN ALBUeUBRquE
Tradução
le
Welran
JosÉEvexonLrsrA
Mlnre
Lruu VlvplRos
DE
CAsrno
6s
edição
N.'
CHAM.
-9-?ç..,.).....
AL(
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8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
2/29
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DE0LócrC
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M;
Traduçdo
'de
Menre
Llune
Vrvunos on Cesrno
s"t'rs-gêe+lt9ysÊgJ,?+9,.9r9 .9_õSi
,j:.Jrg*,_**_,
Impõe-se
que
tratemos
de uma
questão
apenas
es-
boçada em nossa
s1Álisg,
quando
falamos da necessi.
dade de renovação dos meios de produção para que a
produção
seJa
possível.
Era
apenàs
uma rápida
indica.
ção.
Conslderá-la-emos
gora
pôr
si
mesma.
i
Como
9
r{lzig
Marx,
até uma
criança sabe
que
uma
fÍormação
social
que
não reproduz
as condlções
de
pro.
f
dução ao
mesmo tempo
que produz,
não sobreviverá
lnem
por
um ano.2
Portanto a, condição últlma
d.e
produção
é a
reprodução dqs condlções
de
produção.
Esta
pode
ser
"sÍmples"
(e
então se
ltmlta
a reprodu.
zlr
as
condições
pré.exlstentes
de
produção)
ou
"am.
püada"
(quando
as amplia).
Deixemos,
por
hora, esta
dlstinção de lado:
O que é entáo a Reprodução das Condições de Pro.dução?
Penetramos aqul
num
domÍnio
ao mesmo
tempo
bastante familiar,
desde o Liwo II
do
Capital,
e singu.
I
O
terto a ser lldo
sê constltul
de dols trechos de
urn estudo
alnda em curso. O autor
Íea
questáo
de
entitulá.los Notas
para
uma
pesqulse.
As
idélas
oçostas devem ser consideradas
omo
uma introduçáo à dlscussão.
2 Carta
a Kugelma nn, l.?.1868
Cartas
sobre
o Capltal,
Ed So
clalea,
p.
229).
\r "
53
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
3/29
larmente
descoúrecido.
As
evidênclas tenazes
(evidêr,
Tentarernos
exarnlnar
as eoisas
com
método,
Para
sÍrnplificar nossa
e:rposiçáo
e
se consideramos
que
toda fopnragão
social é resultado
de
um
modo
de
produgão
do.q{pnnte,
podemos
dizer
que
o
proces-
so
de
produção
aciona
as
forças
produtivas
edstentes
em
e sob relagões
de:prodtrçãgr{gfipirrns.
Segue-seque toda formaçáo social para_e$stg,_ggmesmo tempo que produz, e para poder prodÈïr,.-dõvì
reproduzir
as condições
de
sua
produção.
Ela
-deve,
portanto,
reproduzir:
1
as forças
produtivas
2) as
reÌações
de
produçáo
exlstentes
A
Reprodução
91
ljeieg_Cç_E9{sffu_.
Todo
mundo
recorúece
(mesmo
os
economistas
burgueses
que
cuidam
da contabilidade
nacional
e
os
Qualquer
economista,
qu"
.ri.tã
*"
." ãt"i:rgue
de
qualquer
capitalista,
sabe
que
é
preciso
anuafmente
prever
a
reposiçáo
do.-que
se
esgota_
u_se
utilÍza
na
produção:
matéria.prima,
instalações
fixas
(constnr.
54
ç.ges),
nstnrmentos
de
produção (rnáquinas),
etc.,
.
DÍ.
zemos: qualquer
economista,
qualquõr
capíta[sta,
en-
qyryto.
am-bos
expressam
o
ponto
de
vista
Aa
empiesá,
contenta^ndose
ern
comentar
sirnplesmente
os
tõrmoi
da
prática
ÍÍnancelra
contábÍl
da
eìmpresa.
Porém sabemos,gr-agas o gênio de euesnay _ que
foi
o
prÍmeiro
a
formutal
eSte
problema
que
,,ialta
áos
olhos"
-
g
a9
gênio
de Marx
-
que
o reSolveu
_
qru
não
é
ao
nÍvel
da
empresa gue
a ieprodução
das
coiai
ções
matuÍais
da
produçãe
bode
sei
penËaOa;
ois
nú
e
nesse
lvel
que
ela existe
em
suas
condições
reais.
O
que
acontece
ao
nÍvel
da
gmpnesa
é
um efeito,
que
dá
apenas
a
ldéia
da
necessidede
da reprodução,
mãs
que
não
perrnite
absolutamente
pensar
suas
-
cond.içõej
e
seul
meca;nisrnos.
Basta
reÍletir
um
pouco
para
se
convencer:
o
Sr.
X,
capitaüsta, que.
preg{z
tecidos
de
lã
em
sua
faUrica,
cleve
"reproduzir,'
sua
rnatéria-prlma,
suas
máquinas,
etc.. . Porérn .quemas_prroduz Ãra a óua produçâo iã"
gutros
capitatistas:
o
Si.
y,
um
grande
criador
bJ ovo
Itla^s
da
Ausür.álla;
o
Sr.
Z,
graíde
industrial
metalúr.
glco,
produ3or
de
móquinas-ferra^rnentas,
tc,
etc,
devern
por
sua
v€2,
para
produzir
ess-es
rodutos
que
condi.
gÍon_am
re_produção
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
4/29
nqp_P gçg@_
\
Certamente alguma colsa
terá chamado a atenção
do
leitor. Referimo-nos
à reprodução dos
meios
de
pro
'*
dução, mas não à reprodução
das
forças
produtivas,
Omitimos portanto a reprodução do que distingue as
forças
produtivas
dos meios de
produçáo,
a saber
a
reprodução da força de
trabalho.
Se
a
observaçáodo
que
ocorre na empresa, esps
cialmente
o
exame da
prática
financeira
pontábil
das
previsões
de amortlzação-inversão,
ode
dar-nos uma
idéia aproximada
da existênciado
processo
material da
reprodução, entramos agora num domínio no
qual
a
observação
do
que
ocorre
na empresa
é, senão
total-
mente,
quase
que
totalmente
inútil, e
por
uma boa ra.
zâo'.
a reprodução da força de trabalho se dá,
no_
ssen-
cial, fora da empresa,
Como se assegura.a replsduSip_êglgfçê_de trabs.
lho?
Ela é assegurada ao se dar
à
força de
trabalho
o
meio material de se reproduzir: o salário. O salário
consta na contabilidade
de
cada
empresa, mas como
"capital
mão-de-obra"
?
e de forma
alguma
ço_mc
qndt-
çáo
da reprodução metefiãl-&-.Ìõ-rça de trabalho,--
No entanto
é
assÍm
que
ele
"atua", uma
vez
que
o
salário representa
apenas a
parte
do..
valor_
pr-o_dui4ido
pelo
gasto
da força de trabalho, tndigp_e_pçlyel-
arÊ_Sua
reprodução,
quer
dizer,
tndispensável.para a r_econstf
túçáo da
força
de trabalho-do-assalariado
(para
ti-hã:
bitaçáo,
vestuário
e
alimentação, em
suÌna,
pra que
ele
esteja em condições de
tornar a se
apresentar
nâ
ma.
nhã seguinte - ó todas as santas manfras - ao -g,ti-"ng
da empresa); e
acrescentemos:
ndispensável
para
a cria-
ção
e
educaçãodas
crianças
nas
quais
o
proletariado
se
reproduz
(em
X unÍdades:
podendo
X ser
igual
a
0,1,2,
etc.
.
) como
força do trabaÌho.
I-embremos
que
esta
quantidade
de valor
(o
salá-
rio)
necessário
para
a reprodução da
Íorça
de trabalho
3 Marx elaborou
concglto
lentÍllcodestenoçÁo:capltal
va.
riável.
não está
apenasdeterminada
pelas
necessÍdades e um
SM.I.G.
"biológico",
mas também
por
um
mÍnjmo
histórico
(Mam
assinalava:
os operários
ingleses
preci-
sam de cerveja
e os operários
franceses
de vlnÌto) e,
portanto, historicamente variável.
Lembremos também
que
esse
mÍnimo é duplamente
histórico enquanto
não
está definido
pelas
necessidades
históricas
da
classe
operária recorüecidas
pela
classe
capitalista,
mas
por
necessidadeshistóricas
impostas
pela
luta da classeoperária
(dupla
luta de classes:
con.
tra o aurÍrento
da
Jorirada
de trabalho
e
contra
a
dimi-
nuiçáo
dos
salários).
Entretanto
não
basta assegurar
à
força de trabalho
as condições
materiais de sua
reprodução
para
que
se
reprodrrza
como força
de
trabalho. Dissemos
que
â
Íorça de trabalho
disporúvel deve ser
"competente",
isto
é, apta a ser utilizad"Bno sistema complexo do processo
de
produção.
O
desenvolvimento das
forças
produtivas
e
o tlpo
de tmidade
historicamente constitutivo
das
forças
produtivas
num
dado momento determinam
que
a
força
de trabalho
deve ser
(diversamente)
qualificada
e entÉo
reproduzida
como tal.
Diversamente:
conforme
às
êÌigências
da divisão
social-técnica
do
trabalho,
nos
sêug
dlfgjgntes
t'cargos"
e
"empregos".
Ora,
vejamos,
como se dá
esta repro{tçio
da
qua-
ltficação-(diversificada)
da força de
trabalho
no regime
6-itaiista?
Ao
contrário
do
qne
ocorria
nas formaçôes
soclais escravÍstas e
servis,
esta reprodução
da
qualifi'
cação da
força
de trabalho tende
(trata'se
de
uma
lei
tendencial) a dar-se náo mais no "local de trabaÌho" (a
aprendizagem
na
própria
produçáo)
porém,
cada vez
mais, fora da
proflução,
através do sistema
escolar
capi'
talistg e-de
outras
instâncias e instituições.
Ora,
o
que
se
aprende
na
escola?É
possível
chegar-
se a um
ponto
mais
ou
menos avançado
nos estudos,
porém
de
qualquer
rnaneira aprendese
a ler, escrever,
e
contar,
ou seja,
algumas
técnicas, e
outras
coisas
tam-
bém,
lnclusive elementos
(que
podem
ser
mdimentares
ou
ao
contfário
aprofundados) de
"cultura
cientÍfica"
ou
"literária"
diretamente
utiüzáveis
nos diferentes
pos'
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
5/29
I
I
i
f3.:^iryf
gl:l?s,
a
escota
mas
ambém
urras
i*lr$sj:jgj:lt"r lo4õ
t
Ts;Ëj,
e
ouros
apars,
Hg:_"T: -o Bcércto qgg1
-o
[:ËJ],lhüi";":ï;ï
li*"iï:l"i*{?-g:-suain-reúã;.ïôããïã?*"gËüï'
a
produção,
dB
explqrqõão
ã
d;;
ume
:?y^::i:^_"ll:",,9s-tir{=176püA_ìJ'.ülriiãhffi
f,f ,
d;:'ili*1-,,9:lr::Tiósariiãnúe,;=;-ffi
,r,:,,1.",*^:ï*g:i13r- g:
peráriosii
t;
;
d,
,ffiáil:
lores
cap*atisras
,
seja
a'de-aúit;ãín;
ïiOrâïffi
19s
gggdlqs),
seJa
a
de.grandes
acerdores
a
ideologia
dominante
seus,,funciõnários',)
etc
de
trabalho
evidencia,
como
ão
somente
a
reproduçao
ae
nnbém
a
reprodúção
áe
sua
inante, ou da ,,pr-ática,,desú
somenre
as
amìcérn:,
J,?
?&Hl,i#
H"ï"Jil
gção
dq
força
de_trabaÍho
,"
,rã"gura
em
e
sob
as
formas
de
submissão
ideotógica.
--
-.9o?
o
que
recorüecemos
a
presença
de
uma
nova
realidade:
a
ideologia
Faremos
aqul
duas
obsenaçóes:
A
primeira
servirá
para
completar
nossa
aná-
lÍse
ds
reprodução.
Acabamos
de_
estudar
rapidamente
as
formas
da
eprodução rìns Íorgas produiiv;;-;
3íif#üã"-e"r^'u';'r"ãoã-cüïó'ËiË3tï;"ï?h#ï
.^jl ""mgs
pgrqnto
desra
quesrão.
Mas
para
ob-
crrnos
os
rneios
de
fazêlo,
temós
qr."
nou.*ente
dar
ma grande
volta.
A
_segunda
bservação
que
para
dar
esta
volta so.os obrigadosa recolocarnóssa- elha qu"rt"oi o ú-,
uma
sociedade?
lnÍraostrutura
e
Supercstrutura
Já
tfuemos
a
,
oport'nidade.
de
insistir
sobre
o
aÉter
revotucionóriô
Oa
cãncãpçaJ-^roi*t"
do
,,todo
{
Em
Pozr
Merz
e
Ltre
le
Coptlarlt,
Maspero,
t965.
58
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
6/29
social",
naquilo
em
que
ela se
distingue
a
,,totalidade"
produção
), a à
sup-e1es ryJufg,.,.que_..compreende
dgis
"níve,is"ou'.'i_ns-tâncias"._g.
l$Ëco.p_olÍlige_Lq_qi_rcüg__e
Além
de
seu nteresse
eórico-pedagógico
que
apon.
ta a diferença
entre
Mam
e Hegel),
esta représentãção
oferece
a seguinte
vantagem
eórica
undamental:
ela
per.
.mite
inscrever
no
quadro
teórico
de seus
conceitos
es.
senciais
o
que
denominamos
seu índiee
de elico,cin
es.
pectiuo.
O
que
se
entende
por
isto?
Qualquer um pode facilmente perceber que
a
re.
presentação
da estrutura
de
toda
a sociedade
omo
um
edifÍcio
composto
por
Ìrma
base
(infra-estrutura)
sobre
a
qual
erguem-se
os dois
"andares',
da
superestruhrra
constitui
uma metáfora,
mais
precisamente,
uma metá.
fora
espacial:
um tópico.o
Como toda
metáfora,
esta
sugere,
az ver
alguma
coisa.
O
que?
Justamente
sto:
que
os andares
superlores
não
poderlam
,.sustentar.se"
(no
ar)
por
si
sós se
não se
apoiassem
sobre
sua
base.
A
metáfora
do
edifÍcio
tem
então
como
objetivo
primeiro
representar
a "determinação
em
úItima ins-
lância"
pela
base econômica.
Esta
metáfora
espacial
tem então como resultado dotar a base de um Índicede eficácia conhecido
nos
oélebres
ermos:
determina.
çáo
em
última instância
do
que
ocorre nos
"andares"
da superestrutura
pelo
que
ocorre
na
base econômica.
A
partir
desbe
nüce de
eficácia
"em
útima
instân.
cia",
os
"andares"
da superestrutura
encontram-se
vi.
5
Tópico, do
grego
lopos:
local.
Um tóptco
represente,
num
espaço deÍinido,
os
locais
respectivos
ocupados
poi
este
ou Bque.
la
realidade:
desta manelra
o
econômico
está
embalxo
(a
búe)
c a superestnrtura
em
clrns.
ó0
dentemente
afetados
por
rliferentes
índices
de
eficácia.
Que
tipo
de Índices?
Seu lndice
de
eficácia
(ou
de determinaçáo),
en.
quanto
determinado
pela
determinação
em última
ins-
tância
da base,
é
pensado
peÌa
tradição
marxista
sob
dtres
formas:
t
)
a existêncla
de
uma
,,autonomia
rela-
tiva" da
superestrutura
em reÌaçáo
à base;
2) a
exis-
tência
de
uma
"ação
de
retorno"
dâ superestrutura
so-
bre a
base.
Podemos
então
afirmar
que
a
grande
vantagem
teórlco do tipó de eficácia "derivada" próprio à superes.
fÍcio
(base
e superestmtura)
consistè
em
mostrãr
ao
mesrno
tempo
que
as
questões
de determinação
(ou
de
Írdice
de eficácia)
são fundamentais;
e
que
é a
base
que
determina
em última
Ínstância
todo o
edifÍcio;
como
consequêncla
somos
obrigados
a
colocar
o
problema
teórlco
do tipo
de eficácia
"derivada"
próprio
à
superes-
trutura,
isto é,
somos
obrigados
a
pensar
no
que
a tra-
dição
marrlsta designa
petos
termos
conjuntos
de
auto.
nomia
relatlva
da
superestrutura
e de
"ação
de retor-
no"
da sup€restrutura
sobre
a base.
O
maior
inconveniente
desta
representâção
da
es.
trutura de toda a sociedade pela metáfora eipacial dosílirfsig está evidentementeno
fato de
ser
elã
metafó.
rica:
lsto
é, de
permanecer
descritiva,
Parece-nos
desejável
e
possível
representar
as
coi-
sas
de outra maneira.
Que
sejamos
bem
entendidos:
não
recusamos
em
absoluto
a
metáfora
clássica,
já
que
ela mesma
nos
obrlga
a superá.la.
E não
a superaremos
afastando.a
como
caduca.
Pretendemos
simplesmente
pensar
o
que
ela
nos
dá
sob a forma
de uma
descriçáo.
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
7/29
. .Pensamos_gue
a
partir
da
reprodução
que
é
pos.
sÍvel
e necessário
peru;ar
o
que
caiacterúa
o'essericial
da
existènsia
e naturez,a
dz
superestruhrra.
Basta
colo.
car'se
no
ponto
de
vista
da reprodução para
que
se
es-
c$p.am
mútas
questões
que
a
metáfora
espacial
do
edifÍcio indicava a existênciasem dar.thes respostacon.
ceitual.
Sustentamos
como
tese
Íundamental
que
somente
é
possÍvel
levantar
estas
questões
(e
portanto
respon.
dêlas)
a
prtir
do
ponto
de tsista
dn
reprodução.
Analisaremos
brevemente
o Direito,
o
Estado
e
a
ideologia
a
pa,rtir
deste
ponto
de
vista.
E
mostraremos
ao
mesrïo
tempo
o
que
ocorTe
a
partir
do
ponto
de
vista
da
prática
e da
produgáo
por
um
lado,
e
-da
repro.
dugão
por
outro.
rb,
gurar
a sua
dorninação
sobre
a
classe
operária,
para
submet$la
âo
processo
de
e4loqSão
da
mais:vellg'tãuer
d,iaeÌ,
à
e:çlonação
capitaüsta).]
pagou
com
seu
sangue
esta
ocperiência)
quando
s
po
lÍcia
e
sew
órgãos
au:dlirares
são
,,ultrapassados
p"io,
lcontecimentos";
e,
acima
deste
conjunto,
o
Chefe
de
Eslggo,
o
Governo
e a
Adminisirãfao.
_
Apresenüada
esta
forma,
a
,,teoria
marxista-lenj_
nista" do Estado toca o e
neúrum
momento
de
duvid
Da
Teoria
Descritiva
à
Teoria
propriamente
Dita
.,^.tio 9.ntanto,
como
o assinalamos
na
metáfora
do
edifÍcio
(Ínfra'estrutura
e
r.rpérãJ*tura)
também
esta
apresentação
da natureza Ao pstaAõ permanece descri_tiva em parte.
Como
usaremos
constantemente
ste
acljetivo
(des-
critivo)
torna,se
necessária
m"
à*iricagãõìú;';d;;
qualquer
eqúvoco.
^
Quando,
ao
Íalarmoq
da
metáfora
do
ed.ifÍcio
ou
da
eoria
marxista
do
Estado
dir;;;s-ìue
são
concepcões
;ivas
de
seu-objeto,
íao
ã-"ãã;r]
,
inrenção
crÍrióa.
beló-
"ónt-ü-
carar
esta
etapa
como
tran.
uolvinlento
da
teoria.
e
,rór_
.itiva,'
aponta
este
careter
conjunção
dos
termos
em.
ta
espécie
de
,,contradição,,.
toca.se
em
parte
com
o
ad.
rmpanha.
sso
signlfica
exa.
Btsa,ocomeço'.,ï1Ïl9rï'#i:ï;,Í:ï'#.,iïfri:
a
forma
"descriüva"
rn
aú;;.;p;;"r"
a
reoria
exige,
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
8/29
I
pelo
efeito mesmo desta
"contrâdlção",
um desenvolvl-
mento da teoria
que
superea forma da
"descrição",
Precisemos nosso
pensamento
voltando âo
nosso
objeto presente: o Estado.
Quando
dizemos
que
a "teoria" marxlsta do Estado
que
utilizamos é
parcialmente
"descritiva",
isto significa
em
primeiro
lugar e antes de mais nada
que
esta
"teo-
ria"
descritiva é, sem dúvida
alguma, o irúcio da teorla
mancista do
Estado,
e
que
tal irúclo nos
fornece
o
es-
sencial
sto
é,
o
princÍpio
decisivo de
todo
desenvolvi-
mento
posterior
da
teoria.
Diremos, com efeito,
que
â teoria descritiva
do Es.
tado
é
ju.sta
uma vez
que
a
definição dada
por
èÌa de
seu
objeto
pode perfeitarnente
corresponder à imensa
maiora
dos fatos observáveis
no domínio
que
lhe
con.
cerne. Assim, a deffuriçãode Estado como Estado de
classe,
existente
no
aparelho repressivo
de Estado, elu.
cida de maneira
fulgurante todos os fatos
observáveis
nos
dlferentes niveis
da
repressão,
qualquer que
seJa
o
seu
domÍnio: desde
os rnassecres
de
jurúo
de 1848e
da
Comuna
de Paris,
do domingo sangronto de
maio
de
1905
em Petrogrado,da Resistência, e
Charonne,etc..,
até as mais simples
(e
relativamente anódinas)
inter.
venções de
uma "censura"
que proÍbe
a Religioso de
Diderot
ou uma obra
de
Gatti sobre
Franco;
eluclda
todas
as
formas
diretas ou
lndiretas
de
exploração e
extermínio das massas
populares
(as
guerras
lmperia-
listas);
elucida a
sútil
domlnagão cotidiana aonde se
evidencia
(nas
formas de democraciapolítica, por exem-plo) o que Iénin chamou depois de Marx de ditadura
da burguesia.
Entretanto,
a teoria descritiva do Estado
represen-
ta uma etapa
da
constituição
da
teorla,
que
exige ela
mesma a
"superação"
desta etapa.
Poftanto
está claro
que
se a
definição
ern
questÍio
nos fornece
os
meios
para
identificar
e
reconhecer
os
fatos opressivos e arti.
culá-los com
o
Estado concebido como
aparelho
repres.
sivo
de
Estado, esta
"articulação"
dá lugar
a
um tipo
de evidência
muito
especial, a
que
teremos oportuni.
darie de
nos
referir
mais adia.nte: "Sim, é
asslm, eqtá
O
essencial
a
teoria
marxista
do
Estado
Mesmo
depois
de
uma
revolução
soeial
como a de
l9l?,
grande
parte
do aparelho
de
Estado
permanecia
6
Ver
mals
adlante:
Acerca
da
rdeologra,
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
9/29
da
"Ceoriamarxista
do
Es-
l
l)
o
srvo
do
Estado;
2)
deve-se
istinguir
o
póder
Oe
esiaào
do aparelho
de
Esr-a_do;
)
o oujeliy,s_dd-.tura
e
cfaúõs
O
que
deve
ser
acrescentado
à
,,teoria
marxista"
do
Eçtado
é,
entáo,
outra
coisa.
Devemos
avançar
com
prudência
num
catnpo
em
que
os
clássicos
do
ma,Snqmõ
nos
precedeiarntíïi"iìãl
mas
sem
ter
sistematizado
sob
urina
íorma
teOrica
ôi
avÍurços
decisivos
que
suas
àxperiências
e
procedimen.
66
6i
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
10/29
a
repressão
adÍninistratiïa, pgr
exemp]o,
pode
revrstlr.
se
de formas
não
fÍsicas
^
-
AIE religiosos
(o
sistema
das
diferentes
lgrejas)
AIE
escolar
(o
sistema
das
diferenües
,escolas"
pú.
blicas
e
privadas)
AIE
familiar
6
AIE
JurÍdico
Y
AIE
polÍtico
(o
sistema
polÍtico,
os
dlferentes
par.
tidos)
AIE
slndical
AIE
de irúormação
(a
imprensa,
o rÉdio,
a
televl.
sâo,
etc
)
- -
AIE cultural ([etras, Belas Artes, esportes,etc. , , )
Nós
afirmamos:
os AIE
não
se confundem
com o
Aparelho
(repressivo)
de
Esüado,
Em
que
conãiìGã
diferença?
tj
_A
Íamilia
desempenhâ
claramente
outres
,,ftrnções,'
que
a de
AIE,
Elá
intervém
na reprodução
da
força
de tiabalnô,
nÍa
ã
clependendo
dos
modos
de
produção,
unidaãe
ae
p59ãúfaã
t
õu
t
irnidade
de
consumo.
9
O
"Dileito"
pertence.
ao
mesmo
rcmpo
ao Aparelho
trepressi.
vo)
rlo
Estado
e ao
sistemR
dos
AIE.
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
11/29
e a
99asjão
de
expressar,se
eles,
utilizando
as
contra.
l0-Em
um texto
patético,
datado
de
tg3?,
Kmpskaia
reÌata
os
esforços
desesperados
de lénin,
e
o
que
ela i,ia
como
ã-rãu
fracasso
("Le
chemln
preounü.
-- t
i,
1\
I
I
1
I
I
ì
1l
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
12/29
diçõesexistentes
u conquistândo
ela
uta
posÍções
e.
combate
l0
blt.
Concluamos nossasr
observagões.
Se a tese que propÌrsarros tem Íundamento, volta-
mos,
precisando-a
quanto
a
umÂ
questÍio,
à
teoria mar.
xista
clássica do Estado.
Diremos
que por
um lado é
preciso
distinguir
o
poder
do Estado
(bua
detenção
por.
.
.
) e
por
outro
o Aparelho de tstado. Mas acres-
centamos
que
o
Aparelho
de Estado
compreende--dois
corpos:
o corpo das
lnstituiçõés
que
constituem_o_qpa.
relho
represFiyg
do Estado, e o
oorpo
de
-instituiçÕ_eé
que
representam
o
corpo dos
Aparelhos
ldeolónç_qs
o.
Estado.
Mas,
se
é assim, não
podemos
deixar
de
colocar a
seguÍnte
questão,
mesmo
no estado
bastante sumário
de
nossas
indicações:
qual
é exatamente
o
papel
dos
{parelhos
ldeoló,gico--s_g,o
Eg.ta g?
qual é o fundamento
d_e.
ua importância?
Em
-óútras
palavras:
a
que
çor-
responde
a
"firnçiol'-destes Aparelhos
ldeológicos
3o_
l0 bis
O
que,
em breves
palavras,
se dia aqul ar,etes
de luts
de
classes
nos AIE não
pretende
evidentemente esgotar a
questão
de luta de
classes.
Para tratar desta
questãrr,
devese ter
presente
dois
prln.
cÍpios.
O
primeirb
princÍpio
foi
Íormulado
por
MaDC no
preÍáclo
da Contribuiçôo:
"Quando
corulderamos
tels
abalos
(ums
revo
lução social), é necessárlo
dtstinguir
entre o abalo materisl
-
que
pode
ser constatado
de
mEnelra
clentlÍlcamente rigorosa
- das condições de produção econômicas, e as Íormas Jurldlcas,
polÍticas,
religiosas,
artÍsticas
ou íüosóÍlces etravés das
quals
os
homens tomem
consclêncla deste
corúito e o
levam
ató o
fim" A luta
de classes se expressa e se
ererce
portsnto
nas
Íormas
ideológicas,
e
poÉànto
se exerce também nas formas
ideológrcas
dos AIE. Mas a luts de
classes ultrapassa emplr.
mente
estes íormas,
e
é
porque
ele as ultrspaEsa
que
a lute
das classes exploradas
pode
se exercer
nos AIE,
voltaÍrdo
I
arma
da
ldeologla
contra
as class€s no
poder.
Isto
em
ÍunçÁo
do segundo
prlncÍplo:
e luta das classes
ultrapassa os AIE
porque
ela não
üem
stras raÍaes
ns ideologla,
mas na InÍraestrutura,
nas relaçóes de
produçóo,
que
são te
laçôes
de expÌoreção,
e
que
constltuem a bss€ dss releções de
classe.
\
Est-ado,
ue.
não
funcionam
através da
repressão,
mas
da-irÌeologia?
G
ll Sobre reproduçãoas elações e produção
I
P-odemos ntão
responder'à
nossa:
questeo
central,
mantida em
suspenso
por
tanto, tempo:
como
é asse.
gurada
a repfpdução das
relaçÕes de
produção?
Na
llnguagemmetafórica do tópico
(
nfra-estrutura,
Superestrutura)
diremos: efa é,
pm
grahde
partet',
assegurqda
ela
superestrütüia
jurídiao-política
e
ideo'
t949a.
Porém, uma
vez
que
julgamos
indispensável
ultra'
passar
ests Unguaggm
ainrla
descritiva,
diremos:
ela é,
ern-erdããtpâitérr.
assezurada
pelo
exercício
do
poder
dô-Ëítãdõ-nos aparethós de Estado, o'Apaielhb
(re-
pí,essivo)do Estado, por um Ìadg, e os Aparelhos deo'
lógicos do
Estado
por
outro.
4
*
Reunimos
o
que
foi dito
anterÍormente'nos
três
pontos
segúntes:
1. Todos os
aparelhosdo Estado
funcionam
ora
através
da
repressão,
ora
através da
ideologia,
com
a
dlÍerença,
de
que
o
Aparelho
(repressivo)
do
Estado
fi:nciona
prÍncipalrnente
através da
repressão enquanto
que
os
Aparelhos
Ideológicos do
Estado
funcionam
prtncipalmente
através da ideôlogia,
2. Ao
passo que
o Aparelho
(repressivo)
do.
Es-
tado constitui um todo organ,izado ujos diversos com'
ponentes
estão centralizados
por
uma unidade
de dire-
çáo,
a da
polÍttca
da luta de classes
aplicada
pelos
fepresentantes
polÍticos
dâs
classes domlnantes,
que
detëirã-õ-boder o
Estado,
-
os
Aparelhos
ldeológicos
do Estado
são
múlttplos, distintos e
relativamente
au'
ll
Em
grande
pert€.
Pots
as
releçÕes
de
produçôo
sào entes
de
mels nada
reproduzidas
pela
materialidade
do
processo
de
pro'
dução
e do
processo
de circulaçáo'
Mas
não devemos
esquecer
que
ss relações
ldeológicas
estóo
presentes
nesies mesmos
.pro'
oeBsos.
\
t. )
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
13/29
tônomos,
susceptÍveis
e
oferecer
um
campo
obJetÍvo
às
contradições
que
expressarn,
e
formas'õrtliúta.
das,
ora
mais
amplas,
bs
efeitos
dos
choquói-;ï;-;
Iuta
das
classes
capitaüsta
e
proretária,
ass-imlõi.ã-oã
suas
formas
subordinadas.
.
3
Enquanto que a rrnidadedo Aparelho (repres-sivo) do Estado está assegurada
por
sua
organJzaçáo
centratizada,
unificada
sob-
a
aireçìao
aol rep-rãõntãn-
tes
das
classes
no
poder,
executántes
aa
pãiiu;-
d;
luta
de
classes
das
c[asses'rro
oáér--
a
unidade
entre
os
diÍerentes
Aparelhos
Ideoiógicos
do
Eúão
ã;;
19seg'urada,
eralmente
de
mane-ira
contraOtOriÀ,
Ëi;
deologia
dominante,
a
da
çtasss
dominante
Tendo
em
conta
estas
caracteristicas,
podemos
nos
representar
a
reprodução
das
relações
dd
proCucaõlã
ca
segurnte
maneira,
segundo
uma
espécie
ãe
,,diïisão_
do
trabalho":
O.papel
do
aparelho
repressÍvo
do
Estado
consiste
essencialmente, omo ap_areUroepressivo,
"_
ã;*ti;
eÌa
força
(fÍsica
ou
náo)
as,cóndiçõ""
póiitïõ.
-ãã
reprodução
das
relações
de
produção,
que
lao
em-útti
ma
instância
relações
de
-
explordçáo,
Não
ãpËii""--ã
aparelho
de
Estado_contribui
para
sua
prOpriã-iõro,
duçáo
(exisrem
no
Esrago
capitatista
as
aiiáiìi"sïõ.
lÍticas,
as
dinastias
mititares,
"ió.i
m""
também,
e
sobretudo
o Aparetho
de
Estado
assegura era
repiãiiaò
(da_
orça
fÍsica
mais
brutd
es
simËt",
ôrd"üï;iãi
bições
administrativas,
à
censura
"$ricita
."
i-pri"iã",
gt:.).
?s.
eondições
potÍticas
do
exerËÍcio
dos
Âp;-;h;
Ideológicos
do
Estado.
Com
efeito,
são
estes
12
No
que
diz
resoeito
LRarte
da
reproduçáo
asseguradapelo
Aparetho
epressivo
o
nôtaao
ã-oi-ip",iïu,os
ldeológÍcos
o
s[ado.
1^
Toga"
(por
vezes
ensa)
entre
o aparelho
repressivo
do
Estado
e os Aparefios
Ideológicos
do
Estado
e
entre
os
diferentes
Aparelhos
Ideotógicos
dq
Estado
é asse.
gurada.
Somos
evados
a formular
a
hipótese
seguinte,
em
função mesmoda diversidadedos aparelhosúeológicos
do
Estado
em seu
papel
único,
pois
que
comum,
dã re.
produção
das
relagões
de
produçáo,
I
Enumeramos,
nas
formações
sociais
capitalistas
contemporâneas
m número
relativamente
elèvado
de
aparelhos
deológicos
do
Estado:
o
aparelho
escolâr,
o
qpÊrelho-religlasg,.
_apa_Ielbo_ÍamÍiiàr, aparelho
polÍ-
tigA--oiparelho
sindical,
o aparelho
de
iúormeçãõ,
o
apare-lh.o
gltjrral
etc.
, ,
,i
75
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
14/29
mâs
também
a sua
hegemonia
deológica,
ndlspensá.
vel
à reprodução
das
relações
de
produção
capÍtaiistas.
tade
4qs
classes
dorninantesl).
Ne
Alernanha
as
coisas
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
15/29
antes
de
,,atravessar,'
a
Repúbüca
de
lVeimar
e
de
en.
tregar.se
ao
nazismo,
-
_P9r.qug
o'aparelho
escolar
é
o aparelho
deológico
de
Estado
dominante
nas
formaçoes
iociaiJ
úpit4Ë ;
e
como
funciona?
No
momento
é
suficiente
esponder:
I
-
Todos
os
aparelhos
ideológtcos
de
Estado,
Syaisquel
qu-e
ejam,
concorrem para
o
mesmo
Íim:
a
reprodução
das reìaçõ9: g.".prodüção, sto è,
-Aai'jëUl
ções de exploraçãocapitatistâs, '='
7Í Ì
-ì
?( l
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
16/29
da ideologia
(saber-lratar
as
consciênclas
om
o..r€s:.
peito,
ou seja,
o
desprezo,a
chantageln,a
demagogia
que
convêm,
com as.ênfases
a Moral, na
Virtude,
na
"Transcendência",
na
Nação,
no
papel
da França
no
Mundo,etc.).
Certamente
muitas
destas
Virtudes
(modéstia,
esig,
nação,
submlssão
de
uma
parte,
cinismo_rj_espfgzo,_se-
gurança,
altivez,
grandeza,
o
falar
bem, habilidade) se
aprendem
ambém
nas FamÍlias, na
lgreja, no Exército,
nos
Belos Livros, nos
filmeS,
e
mesmó-nos
estádios.
Porém nenhum
aparelho
ideológico do
Estado dispõe
durante
tantos
anos da audiência obrigatória
(e
por
menos
que
isso
signifique,
gratuita.,,),
5 a
6 dias num
total
de
?, numa
média de I horas
por
dia, da
totali.
dade das
crianças
da
formação social capitalista.
É
pela
aprendizagemde
alguns
saberescontidos
na
inculcaçâomaciça Oalaeologiaãa classedominanteqüè,em grande parte, sáo
_.reproduzidas
s relaçõesde pro-
dução
de uma Íormaçâo social capitalista, ou seja, as
relações
entre exploradorese elçlorados,
e entre explo-
rados a
exploradores. Os
meeanismos
que
prodüzerrr
esse
esultado vital
para
o regime capitalista sáo
natu-
ralmente
encobertos
e
dissimulados
por
uma
ideologia
da
Escola universalmenteaceita,
que
é
uma
das formas
essenciais
da
ideologia
burguesa dqm-ingnte:uma
_ideo.
logia
que
repreSentãa
nscõla como
neutra,
dèsprõi,iáa
de ideologia
(uma
vez
que
é leiga), aonde
os
pr-qfp_s:
sores,
respeitosos
da
"consciência"
e
da
"liberdadel'
das
crianças
que
lhes
são confiadas
(com
toda
ço-nfian.
ça)
pelos
"pais"
(que
por
sua vez
sáo
também livres,
isto é, proprietários de seus filhos), conduzëìfr-na's"à
ìiberdade,
à moralidade, à responsabilidade
duÌta
pèlb
seu
exemplo,conhecimentos,
iteratura e
virtudeS. liber.
tárias",
Peço
desculpas
os
professores ue,
em
condições
assustadoras,
entam voltar
contra a
ideologia,
contra
o sistema
e contra as
práticas-
_@,
as
poucas
armâs
que podem
encontrar na histó_ria. nQ
saber
que
"ensihamr'. 'São
ma
espéôlé--iG-1iõiois,
as
eles são raros,
e
mútos
(a
malorla).náo
têm-nem
um
princípio
de
susp91 a.do
trabalh-q'l-Ere
o sisterna-fqdg
, \
Rô
os
UDtapassa.-e-esmaga)
s obrigaa-
a,zer,
u,
o
que
é
p oi, põem
todo.
seu
empenhoe engenhosidade
m
faaê-lo de acordo com a
última orientaçáo
(os
famosos
De fato,
a
lgreJa
foi substttuída
pela
Escola
em
dial
ile
claSses.
Acerca
da
ldeologia
Quando
apresentamos
conceito
de
Aparelhos
deo'
lóglcos do Estado,
quando
dissemos
que
os
AÏE
funcio-
naiarn
"através
da
ideologia",
invocamos
uma
reaÌi'
dade acerca da qual é necessáriodizer algumas pala'
vras:
a ideologia,
Sabe-se
ue
a expressão:
deologia,
foi
forjada
por
Cabanis,
Destutt
de Tracy e
seus amigos,
e
que
desig'
nava
por
objeto
a teoria
(genérica)
das
idéias,
Quando,
50
anos
mais tarde,
Mârx
retoma
o
termo,
ele lhe
con'
Íere,
desde&s
suas
Obras
da Juventude,
um
sentido
total'
mente
dtstürto.
A tdeologla
é, aÍ, um sistema
de idéias,
de
represèntaçóes
ue
domlna
o espÍrl to de um
homem
ou de um
$upo
soolal.
A luta
politico-ideológica
ondu'
zida
por
Marx
desde seus artigos
na
Gazeta
Rpnana
ria
{| l
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
17/29
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
18/29
Na
ldeologia
alem.õ,
tese
de
que
a ldeologia
não tem
história
é
portanto
uma
tese
prrramenüe
negativa
que
significa
ao
mesmo
tempo
que;
l.
- a
ideologia,
não
é
nada
mais
do
que puro
sonho (fabricadanão se sabepor que poder a não ser
pela
alienaçáo
da divisão
do
trabalho,
porém
esta
deter.
minaçáo
também
é
uma
determinaçâo
negatiaa),
2,
-
a ideologia
não tem
história,
o
que
não
quler
dizer
que
ela
não
tenha
uma
história
(pelo
contráriò,.
urna vez
que
ela
não
é mais do
que
o
pátido
reflexo
va.\
zio
invertido
da história
real
mas
que
ela náo tem
uma
t
*
história
szra.
 lese
que gostaria
de defender,
etomando
onnal-
mente
os termos
da ldeologia
alemõ.
"a
ideologia
não
tem
hisfória")'é
radicalmente
diferenteda tese
posibi.
vista-historicísta
da
ldeologia
alemõ..
Porque,por um lado, acreditopoder sustentarque
ns
ideologias
êm
uma história
sua
(embora
seja
ela,
em
última
instância,
determinada
ela
luta
de classes);
e
por
outro lado,
acredito
poder
sustentarao
mesmo
tempo
que
a ideologia
em
geral
não
tem historu,
nào
em
um sentido negativo
(
o
de
que
sua hÍstória
está ora
dela),
mas num
sentido totalmente
positivo.
Este
sentido é
positÍvo
se consideramos
que
a ideo-
logia
tem
uma estrutura
e um funcionamento
ais
que
f.azem
dela
uma
realidade
não-histórica,
sto
é, omni.
histórica,
no
sentido
em
què
esta estrutura
e este up.
cionamento
se apresentam
na mesma forma imutável
errr
oda
história,
no
sentido
em
que
o Manllesto
defÍne
a histórÍa como história da luta de classes, u seja, his.
tória
das sociedades
e classe.
Eu diria,
fornecendo uma
referência
teórica reto-
mando
o exemplo
do
corüo,
desta
vez
ns,concepção
reu.
diana,
que
nossa
proposição:
a
ideologia não
tem tús.
tória
pode
e deve
(e
de
uma forma
que
nada
tem
de
arbitrária,
mas
que
é
pelo
contrário
teoricamente
neces-
sária,
pois
há um
vÍnculo
orgÈÍrico
entre ss duas
pro-
posições)
ser diretamente
relacionadâ à
proposição
de
Freud de
que
o
intonsc'tente
ë etenn isto é, rÉo
tom
história.
F:is
porque
me
considero
autorizado,
ao lrlenos
pre.
sunüivamente,
propor
uma
teoria
da ideologia
em
ge.
ral,
no
mesmo
sentido
em
que
Freud
aprese-trtou
'.,,ár,
teoria
do
inconsciente
em
geral,
classes"
e à sua
históiia.
A
ldeologh
ó
uma
"reprêsentação"
a relação
maginária
dos
Indlvlduos
om
suas
condições
eals,
de exlJtência
Para
abordar
a
üese
central
sobre a estrutura
e o
Tese
1: A
Ídeologla
representa
a relação
imaginá-
rla
dos
lndivÍduos
com suas
condições
reais
de exis-
tência.
Dlz-se
comumente
que
a tdeoÌogla
religiosa,
a ideo,
logta
moral,
a
ldeologla
JurÍdica,
a ideologla
polÍtica,
etc,
são
"concepções
e rnundol'.
Contrapomos,â
menos
que
se
vlva uma dessas
deologias
como a verdade
(se,
por
exemplo,
e
"crê"
em Deus, no Dever, na Jus tiça etc.),
que
esta tdeotogta
de
que
falamos
a
partir
de um
ponto
1y
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
19/29
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
20/29
Em
linguagem
marxista,
se é verdade
que
a reprê
sentação
das
condições
de existência
reais
dos
indivÍduos
Sendo
assim,
a
questão
da
"causa"
da deforn
ção
imaginária
rlas
relações
eais
na ideologia
desaparece,
deveser substituÍda por uma outra quèstão:põr que a
representação
os indivÍduos
de sua relação
(individual)
mos
porque
no
prossegulmento
de nossa
e:çoslção,
por
hora,
náo
iremos
mals
longe.
Tese
II:
A ideologia
tem
uma
e:dstência
materlal
13
Emprego
propositalmente
este lermo
bastante
moderno.
p\ls
mesmo
nos
melos
comunistas,
a
,,expÌicaçóo,'
de tal
desvio
pc.
l i l . ico
tofiort,unlsmo
dc tl l reltn
ou
de
osquerdo) poto
açãã
?1 ,
rrma "clique"
é lnÍelizmenle
írequente.
\. .
lÌ Ì
8( )
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
21/29
que
esta relação imaginária
é
em
sl mestna
dotada
de
uma
existência
material
Constatramos..oegurnte:
\dJm
ind.ivÍduocrê
em Deus,
ou no Dever,
ou na Jus.
fiça,
etc. Esta crença
provém
(para
todo mundo, sto é,
para
todos
gue
vivem
na
representação
deológica
da
ideologia,que reduz a ideologia,por definiçáo,às idéias
dotadas
de existência
espiritual) das tdéias
do
dito tn.
divÍduo
enquanto
sujeito
possuidor
de
uma consciência
na
qual
estáo
as
idéias
de
sua
crença. A
partir
disso,
isto
é, a
partir
do
dispositivo
"conceitual"
perfeitamen-
te
ideológieo ssim estabelecido,
um
suJeitodotado de
uma
consciência
aonde
ivremente ele formula
as idéias
em
que
crê), o
comportamento material
do dito indi.
vÍduo
decorrenaturalmente.
O indivÍduo
em
questão
se conduz de
tal ou
qual
maneira,
adota
tal ou
qual
comportAmento
prático,
e,
o
que
é mais,
participa
de certas
práticas
regulamenta.
das
que
são as do aparelho ideológico
do
qual
"depen-dem" as idéias que ele livremente escolheu com plena
consciência,
enguanto
sujeito.
Se eÌe
crê
em
Deus,
ele
vai
à
lgreja
assistir
à Missa,
ele se ajoelha,
reza,
se
con-
fessa,
az
penitênoia
(outrora
ela
era rnaterial
no
sen.
tido
corrente do
termo), e naturalmente
se
arrepende,
e continua, etc.
Se
ele
crê no
Dever, ele
terá
compor.
tamentos
correspondentes,
nscritos
nas
práticss
rltuaÍs,
"segundo
os
bons
costumes".
Se
ele crê na
Justlga,
ele
se
submeterá
sem
dÍscussáoàs regras
do DÍrelto,
e
po.
derá mesmo
protestar
quando
elas
são violadas,
assünar
petições,
omar
parte
em uma manifestação,
tc.
Em todo
esse
esquefna,constatamos
portanto
que
a representaçáo
deológica
da ideologia
é,
ela mesma,
forçada a reconhecerque todo "suJeito" dotado de uma
"consciência"
e crendo nas
"idélas"
que
sua
"censclên.
cia" Ìhe
inspira,
aceitando.as ivremente,
deve
"aglr
sc
gundo
suas
déias",
mprimindo
nos
atos de
sua
prática
maferial
as suas
próprias
idéias enquanto sujeito
li.
vre.
Se ele náo
o
taz,
"algo
vai m&1",
Na verdade
se ele nâo
taz
o
que,
em função de
sÌrâs
crenças,deveria
.az,et,
porque
faz algo diferente,
90
o
que,
sempre
em função
do
mesmo
esquema
dealista,
deixa
perceber
que
ele
tem
em
mente
iáéias
d.iferentes
das
que proclama,
e
que
ele
age
segundo
outras
idéias,
seja
como
um
homem
',inconseqúente"
(,,ninguém
é
voluntariamente
m&u"),
ou cínico,
ou
perverso.
pqye3s.os)
que
ele
realiza.
Esta ideologia
fala
de atos:
nós
falaremos
de
atos
inscritos
em
piáticas,
E
obser-
AUás,
devemos
à
"dialética,'
defensiva
de
pascal
a
.
-.llremos
portanto,
considerando
um
sujeito
(tal
indivÍduo), que
a
existência
das
idéias
de
sua
crença
é
'
N.T.
no
original
em inglês.
Ì
9l
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
22/29
material,
pois
suas idéias são
seus
atos materiais
inse-
ridos
em
prálÍcas
materiais, reguladas
por
rituais ma.
teriais,
eles mesmos
definidos
pelo
aparelho
deológico
material
de onde
provêm
as ideiasdo dito
sujeito,
Na-
turalmente,os quatro adjetivos"materiais" referem-sea cliferentesmodalidades:a materialidâdede um deslo-
r:amentopara
a missa, de uma
genuflexão,
de um sinatt
da
cruz ou de um
mea
culpa,
de uma frase,
de
uma
ora-
'
ão,
de uma contriçáo,
de
uma
penitência,
e um oÌhar,
,
*
de um aperto de
mâo, de
um discurso
verbal interno
(a
consciência) ou
de
um
discurso
verbal externo náo
são uma mesma e
única
materialidade, Deixamos
em
suspensoa teoria
da
diferença
das modalidades
da ma-
terialidade.
Resta
que
nessa
apresentaçáo nvertida
das cotsas,
náo nosdeparamos
xatamente om
uma
"inversão"
uma
vez
que
constatamos
que
certas
noções
pura
e simples.
mente desapareceram m nossaapresentação nquanto
que
outras
permanecem
e
que
novos termos
aparecem.
Desaparece:
termo
idêias.
Permanecem:os
termos suJelto, consciência,
ren.
ça,
atos.
Aparecem: os
ierÍnos
prátlcas,
rituais,
aparelho
ideológlco.
NÉo
se
trete
portânto
de uma
lnversão, mas
de um
remanejamento bastante
estranho
dedo o
resultado
que
obtemos.
As idéias desaparecem nquanto
üals
(enquanto
do'
tadas de uma eústência ldeal, espirltual), na medida
mesma
em
gue
se
evidenciava
que
sua existência
estava
inscrita nos atos das
práticas
reguladas
por
rituais
de'
finidos
em
última
instância
por
um
aparelho
ideoló
glco.
O
sujeito
portanto
atua enquanto
agente do
se'
guinte
sistema
(enunciado
em.
sua ordem
de determlna
Ção
real): a ideologia
existente
ern um
aparelho
tdecr
lógico
material,
que prescreve
práticas
materiais
regu'
ladas
por
um
rituaÌ material,
práticas
estas
que
existem
nos atos materiais
de um
suJelto,
que
age consciente
mente
segundo
suâ
crença,
92
Nesta ormulação conservamos s seguintesnoções:
sujeito,
consciência, rença,
atos. Desta
sequência
extrai-
remos
o
termo
central decisivo,
do
qual
depende
odo
o
demais:
a
noção de
suJeito.
E enunciamos duas teses simultâneas:
,'
1.
-
só há
prática
através de
e
sob uma ideologia
2.
-
só há ideologia
pelo
sujeito e
para
o
sqjeito
Podemosagora abordar a nossa tese
central,
A ldeologianterpela
os
individuos nquanto
uieitos
Esbp ese vem simpÌesmentee:çlicitar a nossa últi-
ma
formulação: só há
ideoiogia
pelo
sujeito e
para
os
sujeitos.
ou
seja, a ideologia
existe
para
sujeitos
con-
cretos,e esta destinaçãoda ideologia só é possÍvel pelo
sujeito:
isto é,
pela
categoria
de
sujeito
e de seu funcio-
namento.
Queremos
dizer
com
isso,
mesmo
que
esta categoria
(o
sujeito)
não apareça assim
denominada,
que
com o
surgimento
da ideologia
burguesa, e sobretudo com o
dâ
ideologia
jurídica
ta
a categoria
de
sujeito
(que
pode
aparecer sob
outras
denominações:
como em
Pla-
táo
por
exemplo,
a
alma, Deus, etc.)
é
a categoriacons-
tltutlva
de toda
ideologia,
seja
qual
for a determinaçáo
(regional
ou
de
olasse) e seja
qual
for o momento
his-
tórico,
-
uma'vez
que
â
ideologia
não
tem
história.
Dlzemos: a categoria de suJeito é constituti va detoda ideologia, mas, ao mesmo tempo, e imediatamen-
te,
-
acrescentamos
gue
a categoria
d,e
sujeito
nã,o
é
constitutioa de
todn
ideol,ogia, umn
Dez
que
toda tdeo-
logia
tent
por
fwqã,o
(é
o
que
a
deline)
"corutltuit''
in-
dío[cl,uos ornretos ern sujeitos. É
neste
jogo
de
dupla
constttulção
que
se localiza
o
funcionamento de toda
ideologÍa, não
sendo
a
ideologia
mais do
que
o
seu
fun-
14
Que
laz da categoria
jurÍdica
de
"sujeito
de
direiüo"
uma
nocâo ldeológlca:
o homem
é naturalmente
um
suJeito'
93
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
23/29
clonamento
nas
formas
materiais
de
existência
deste
mesmo
funcionamento.
Para
compreender
o
que
daÍ
decorre,
é
preciso
es-
anirnal
ideológico".
O
fato do
autor,
enquanto
autor
de
um
d.iscurso
que
se
pretende
cientÍfico,
estar
completamente
aÌrsen-
te,
como
"sujeito",
de
"seu"
discurso
cientÍfico
(todo
o
discurso
cientÍfico
é
por
definição
um discurso
sem
sujeito,
só
existeum
"Sujeito
da ciência,'
numa
ideolo.
gla
da ciència),
é um
outro
problema
que,
pelo
momen.
to,
deixaremos
e lado,
Ídeologia
-
impor
(sem
parecer
fazâlo,
urna
vez
que
se
tratam
de
"evidências,') as eúdências como evÍdên.cias, que não podemos deixar de reconheeer
e
d.iante
das
quais,
inevitável
e
natualmente,
exclamamos
(em
l5
Os
_
Ínguistas
todos
agueles
ue
recorrem
à lÍngrÍstÍca
com
diferentes
ins,
tropeçam
reqüentemente
m dlticüdades
que
decorrem
o
desconhecimento
do
Jogo
dos
eÍeitos
deoió
cicosem
todos
os
discursos
inclusiye
g
dls(,lrnôroÍentÍÍlcos.
94
voz
alba,
ou no
"silêncio
da
consciência"):
,,é
evidente
é
exatamênte
i,ssol
é
verdadet,,.
.
É
nesta
19açao
que
se
exerce
a
função
de recorohe.
cimmto
ideológico, que
é
uma
das
duas
íunções
Aa
aãã.
logia.
enquanto
tal
(sendo
o d,esconhecimenío
"
,ú
l*.
ção
inversa).
tQ
Fg.t"-duplo
,neste
rhomento"
é mais
uma
prova
da
,,eterni_
gldul'.
da-
deotogia,
unê
vez
que
o
tntervato
ae
tõmpã
;üï;,
-eprra-
Éo
é
levado
em
contâ,
escrõvò-àstas
iniras-ã--ï
i."
abril
de 69,
vocês
as
lerÉo
"ao'mpãra
qìrl*ao.
ì
I
i
\
q. 5
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
24/29
Numa primeira formulaçáo
direi:
tod.o
d.eologia
n-
terpela
os ind,ivíduo,s
connretos
enqlulnto
sujeàtoi
con.
cretos,
através
do
funcionamento
da
categoiia
de
su-
jetto.
_
Esta
formulação
implica,
pelo
momento,
na distin.
ção
entre
os indivíduos
concretos
por
um
lad.o,
e sujei.
tos
concretos
por
outro,
embora
o
sujeito
concreto-só
exista
neste
nível
num
fundamentadò
indivtduo
eon.
creÌ,o.
l? A interpelação, prátinl
cotidiana,
submetida
a um
rltual
pre
ctso,
toma
uma
forma
bastante
especlal
na
práticâ
pollciaf
de
"interpelação",
quando
se
trats
de- nterpelar
,,suspeitos,'.
96
Naturalmente,
para
a
comodidade
e
clareza
de
ex.
(90ozo
as vezes
o interpelado)
se
volta,
acreditando-sue
peitando.sabendo
ue
se
trata
dele,
reconhecendo
por-
tanto
que
"certamente
é ele"
quem
está sendo
chamádo,
Porém
na
ralidade
as
coisas
ocorrem
sem
sucessão
al-
guma.
A existência
da
ideologia
e a
interpelação
dos
indivÍduos
enquanto
sujeitos
sáo
uma
únióa
e mesma
coisa,
que
se seJa
verdadeiramente
spinozista
ou
marxista,
o
que,
qu8,nto
a
este
aspecto,
vem a
dar
exalamente
no
97
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
25/29
Ínesmo),
O
que
nos
faz
dizer
que
a ideologia
não
possui
um etterior
(para
si
mesma)
mas
que
ao
mesmo
empo
ela
é eúerioridade
(para
a
ciência
e
para
a
realidade),
Spinoza
explicou
isto
perfeitarnente
duzentos
anos
antes
de Marx,
que
o
praticou,
sem
explicá-lo
detalha-
damente,
Mas
abandonemos
esta
questão,
ica
de
con.
seqüências
n_ão
penas
eóricas,
mas direüamentepolí-
ticas,da qual dependepor exemplo oda a teoria da crí-
tica
e autocrÍtica,
regra
de
ouro
da
prátÍca
da luta
de
cìasses
narxista-leninista.
Fortanto
a ideologia
nterpela
os
indivíduos
enouan.
to
sujeÍtos.
Sendo
a ideologia
eterna,
d,evemos
gorã
s,r-
primir
a
temporalidade
eÌn
que
apresentamos
o
Íun.
cionamento
da
ideorogia
e dizer:
a
ìdeologia
sempre/
á.
rnterpelou
os
ind,ivÍduos
como
sujeitos,
o
que
qúer
cii.
zer-
qu€
os
indivÍduos
foram
sempre/já
interpelados
pela
-
Ídeologia
como
sujeitos,
o
qüe
necessari-arnente
'nos
leva
a
uma
últirna
formulação:
os indiuiauos
saò
semprelja
sujeitos.
Os individu-os
sáo
port"r,to
,."úJ.
tratos'
em
relação
aos
sujeÍtos que
ex.istèm
desde
sem.
pre. Rsta formulaçáo pode parecerurn paradoxo.
Que
um
indivÍduo
seja
sempreljá
sujeito,
antes
mesmo
de
nascer,
é
no,entanto
a maÍõ
stnltes
iealiaa.
cle, acessÍv_el
qualquer
urn,
sem
nenhum
paradoxo.
Que
os indivÍduos
sejam
sempre
,.abstratos"
em
rela.
ção
aos
sujeitos
que_são
esdè
sempre,
Freud
iá
oãã.
monstrou,
assinalando
simplesmenté
o ritual
ideológ:.
co
que
envolve
a espera
de um
,,nascimenüo",
este
,,íe.
liz.acontecirnento".
odos
sabemos
omo
e
guanto
é
es.
perada
a
criança
a
nascer.
Deixando
de
tadô
os
;.sóntl.
mentos"
Ísto,,prosaicarnente,
uer
dizer
que
as
formas
de ideotogia
farniliqr/paternãt/maternatTcon:ugãifirã.
ternal, que
constituem
a
espera
do
nascimento'dã
"rian.a, lhe conferemantecipadamente ma série Ae caraótã.
rÍsticas:
ela
ferá o
nome
do
seu
pai,
terá
portanto
úâ
identidade,
e
será nsubstituÍvel.
Àntós
ae
nascei
a
cí"n
ça
é
portanto
sujeito,
determinada
a
sê-lo
através
de
e
na
cg$ieuraçio
ideológica
familiar
especÍfica
na
qual
ele
é
"esperado"
após
ter
sido
concebiao.
nritil
dG;
que
esta
corúiguraçáo
deológica
amiliar
é, em
sua
uni.
cidade,
ortemente
estnrturada
e
que
é neste
estnrtúa
98
implacável,
mais
ou
menos
,,patológlca"
(supondo-se
que
este
terrno
tenha
um
sentido
determinável)
que
o
já.presente
uturo.sujeito,,encontrará"
o,,seu"
lugar,
quer d{zer
"tornando,se"
o
sujeito
sexual
(menino-ou
menina)
que
ele
Já
é,
C-ompreende,se
ue
esta
pressão
e
predeterminaçáo
ideológica, todos os rituais dõ crescimento, da educação
Íamiliar
têm
atguma
relação
com
as
,,etapas
pregenitãis
e
genÍtais
da sexualidade",
tal
como estudadas
Dor
teld,
na
"apreensão"
do
que
ele
designou,
po,
sèus
efeÍtos,
como
o inconsciente.
Mas deixlmos
também
este
ponto.
-Prossigarnos.
eter.nos-emos
gora
na
maneira
pela
qual
os
"atores"
desta
encenaçãõ
da
interpelaçã'o
e
seus
respectiv,os
papéis
estão
refletidos
na
pióprla
es.
truture
de toda
ideologia.
Um
exemplo:
A
ideologla
eligiosa
ristã
Sendo
a
estrutura
formal
de
toda
ideologia
sempre
idêntica,
nos
contentaremos
em
analisar
apãnal
im
exernplo,
acessÍvel
a
todos,
o da ideologia
reüliosa;
esta
mesma
demonstragão
pode
ser reprodúzida
pãra
a'ideo-
logia
rnoral,
JurÍdica,
polÍtica,
estética,
etc.
_
Consideremos.portanto
a
ideologia
religiosa
cristá.
Utillzarçmos
urna
figxrra
de retórÍca
ã a
,,farãmõi
rar"r;,
isto
é recolheremos
num
discurso
fictÍcio
o
ç,ue
áa
"dlz"
nóo
apenas
em
seus
dois
Testamentos,
atràvés
de
seus
teólogos,
em
seus
Sermões,
mas
em suas
prá-
tlces,
seus
rituaÍs,
suas
cerimônias
e seus
sacramentos.
A
ideologta
cristá
diz
aproximadamente
o seguinte.
_
Ela
rlÍz:
Dirijo.me
a
ti, ind.ivíduo
humano
chamado
Pedro
(todo
indivÍduo
é
chamado
por
seu
nome,
no
sentido
passivo,
não
é
nunca
ele
quó
se
dá
um
no*ei
para
dizer
que
Deus
e:dste
e
que
tu
deves
lhe
prestar
contas.
Ela
acresceltat
É
Deus-quem
se
dirige
a'ti
pela
minha
voz
(tendo
a
Escritura
iecolhid.o
a
-palawa
oe
gqo, a-,Tradigão
a'transmitido,
a
fnfdiUiUOad,e
onti-
Ílcra
a Íixad.o
para
s€mpre
qua.rrüo
s
questóes
,,delica.
99
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
26/29
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
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Decifremos,,em
linguagem
beórica
esta
ad.mirável
ne.
cessidade
de
desdobramento
do
Sujeito
em
sujeitos
e
do
Suieito
mesTno
em
suielto-Sujeito.
Resumamos
o
que
vimos
acerca
da
ideologia
em
geral,
A estrutura especular duplicada
da
ideologia ga.
rante
ao
mesmo
tempo:
I )
a interpelação
dos
,,indivÍduos,'
como
sujeitos,
2
O_
ogma
da Trindade
é
a teoria
mesma
do
desdobramento
.do.Suieito_
o
Pai)
em
sujeto
ro úrrõi-ã-ãJiui-iãrãÊ;ËË:
cuìar
o
Espir i to
Sanroì.
r0l
2)
sua
submissão
ao
Sujeito
3
o reconhecimento
mútuo
entre
os sujeitos
e o
Sujeito,
e
entre
os
próprios
sujeitos,
e finalmónte
o
re.
conhecimento
de
cada
sujeito
por
si
rnesmo.2r
4,
a
garantia
absoh.lüa
e
que
tudo
está
bem
as.
sim,
e sob a condiçáo de que sê os sujeitos reconhece-rem o que sãos sg sgp6lrrzirem
e
acordo
tudo
irá
bem:
"assim
seJa".
I
\
1
Ì03
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
28/29
urna
autoridade
superior,
desprovido
de liberdade,
a
não
ser a de
livremente
aceitar
a
sua
submissáo.
Esta
última
conotação
nos
dá
o sentido
desta ambigüidade,
que
reflete
o
efeito
que
a
produz:
o indivÍduo
é
interpe.
Lado
como sujeito
(liure) para
liuremente
submeter-se
as ordens do Sujetto, para acettar, portanto (liuremen.
te)
sua submissã.o,
ara
que
ele
"realize
poÌ
si mesmo"
os
gesfos
e atos
de sua
submissão.
Os
sujeitos
se cozs.
tituem
pela
sua
sujeiçã.o.
or isso
e
que
"caminham
por
si mesmos".
"Assim
seja ". . .
Estas
palavras,
ue
expressam
efeito
a ser obtido,
provam
que
as
coisasnáo
são
"natu-
raìmente"
assim
("naturalmente":
fora desta
oração,
fora
da intervenção
deológica).
Estas
palavras
provam
que
d
prectso
que
assim seja,
para
que
as coisassejam
o
que
devem
ser usemos
a
palavra;
para que
a repro.
dução
das relações
de
produção
seja,
nos
processos
de
produçáo
e de
circulaçáo, assegurada
diariamente, na
"consciência",ou seja, no comportamentodos indiví-
duos-sujeitos,
cupantes os
postosque
a divisáo
social-
técnica
do
trabaÌho hes designana
produçáo,
na
explo-
ração. na repressão, a ideologização,
a
prática
cien.
tífica, etc, Nesle mecanismo
do
reconhecimento
spe.
cular do
Sujeito e
dos
inctividuosnterpelados omo su.
jeitos,
da
garantia
dada
pelo
Sujeito aos sujeitos caso
estes
aceilem
ivremente
sua submissão s
"ordens" do
Sujeito,
como o
que
exatamente
os
defrontamos?Á
realidade
posta
em
questáo
neste
mecanlsmo,
que
ne .
cessariamente desconhecida
elas
ormas mesmas
do
reconhecimento
deologia
=
recoflh€cimento/desconhe.
cimento),
é certamente m última instância,a reprodu.
ção das relações e produçãoe demais elaçoes ue de.
las
derivam.
PS.
- Se
estas eses
esquemáticas
ossibilitam
o
esclarecimento
e alguns
aspectos
o
funcionamento
a
Superestrutura
e de
sua forma
de intervençâo
na In.
fraestrutura,
elas
sáo evidentemente
bstratas
e deixam
necessariamente
m
suspenso
problemas
mportantes,
acercados
quais
é necessário
izer alguma
coisa:
1) O
problema
do
processo
e
conjunto da reali.
zação
da
eprodução
das relações
e
produçáo.
Os
AIE
contrìbueÌn,
como
elementos
d,este
rocesso,
para
esta reprodução.
Mas
o
ponto
de
vista
de
sua
sim.
ples
contrÍbúção permanece
abstrata,
processo
que
se
exerce
o
efeito
das
diferentes
ldeolo.
gias
(sobretudo
da ideologia
urídico.moral).
postosda "divisâo técnica"do trabalho,Na verd.ad.e,
não
ser
na ideologia
da
classe
dominante,
não
exrste
"divisão
técnica"
do
trabalho:
toda divisâo
,,técnica,'.
toda
organização
técnica"
do trabalho
constitui
a for
ma
e
a máscara
de uma
divisáo
e de
uma
organizaçào
sociois
(de
elasse)
do trabalho.
A reprodução
das rèla
ções
de
produção
não
pode
deixar
de ser
o
empreen.
dimento
de uma
classe.
Ela se reallza
ao longo
dé uma
luta
de classes
que
opõe a
classe dominante
à classe
e:çlorada.
O
pro,cesso
e
conJunto
da
reallzação
da reprodução
das
relações
de
produção
perrnanece
abstrato
até
que
nos
situemos
no
ponto
de vista
desta
luta de
classe.
O
ponto de vista da reproduçâo é então, em úÌtimâ ins.
tância,
o
ponto
de
vista
da
luta de
classes.
2)
O
problema
da
natureza
de classe
das ideolo.
gias
e:dstentes
numa
formação
social.
l0 d
l0 s
t
a
8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.
29/29
dentro
de e
conura ais
ALE
os
ultrapassa,
ols
verrr
de
outro
lugar.
a
partÍr
daÍ
que
se
pode
compreender
de
onde
provêm
as
ldeologias que
se realizam
e
se
corúrontam
nõs AIE
Porque
se é
verdade
que
os AIE
representam
a
lormit
pela
qual
a ideologia
da
classe
dornÍnante
deve
necessa.
riamente
se
reallzar,
e a forma
corn
a
qual
a ideologia
da
classe
dominada
deve
necessarÍamente
medtr.se
e
corúronta .se,
as ideolOgias
náo
',nagcem,'
dos AIE
mas
das
classes
sociais
em luta:
de
suas
condtções
d.e
exis-
têncla,
de
suas
práticas,
de
suas
orperiênóias
de luta,
etn.
I
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