297
3.6 ARRANJOS PRODUTIVOS DE TRANSFORMADOS PLÁSTICOS DAS REGIÕES NORDESTE E SUL
Silvio A. F. Cario*
Janaina Scheffer**
Rogério A. Enderle**
Carla C. R. de Almeida***
No Brasil, registros apontam a existência de 8.213 empresas voltadas à transformação
de produtos plásticos, participação no PIB de 1,9% e faturamento da ordem de R$ 28,7
bilhões em 2003. Dentre os principais estados produtores destaca-se Santa Catarina
considerado o terceiro maior em números de estabelecimento e de empregados, antecedido
por São Paulo e Rio Grande do Sul, e segundo maior produtor de matérias plásticas do país,
superado apenas por São Paulo. A participação no valor de transformação industrial do Estado
situa-se em 5,24%, em 2002, e de 0,6% na pauta de exportação estadual, em 2004, incluso o
sub-segmento de borracha.
Em Santa Catarina há dois arranjos produtivos locais (APLs) de transformadores
plásticos, situados na região Nordeste voltados à produção de plástico industrial e na região
Sul destinado à produção de plástico descartável, conforme Figura 3.6.1. Ambos os arranjos
produtivos congregam pouco mais de 190 empresas e respondem por 2/3 da produção de
transformadores plásticos estadual. Apesar de participarem da mesma indústria, tais
aglomerações de empresas apresentam dinâmicas produtiva e tecnológica diferenciadas, que
resultam em vantagens e problemas distintos em muitos itens, requerendo, portanto,
proposições de políticas específicas.
* Prof. dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina. ** Mestre em Economia pela Universidade Federal de Santa Catarina. ** Mestre em Economia pela Universidade Federal de Santa Catarina. *** Mestranda do Curso de Pós-Graduação – Mestrado – em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina
298
Joinville
Guaramirin
Jaraguá do Sul
São Ludgero
TubarãoUrussanga
CriciúmaMorro da Fumaça
Fonte: Governo do Estado de Santa Catarina. Figura 3.6.1 - Localização dos APLs de transformados plásticos de Santa Catarina - 2005
No intuito de analisar o segmento de transformados plásticos em Santa Catarina nos
APLs situados nas regiões Nordeste e Sul este artigo está dividido em quatro seções, sendo
que nesta 1a. seção faz-se a introdução; na 2a. seção descrevem-se aspectos da estrutura desta
indústria no Brasil e em Santa Catarina; na 3a. seção analisa-se a dinâmica de funcionamento
do arranjo produtivo de transformados plásticos na região Nordeste; e por fim, na 4a. seção
realiza-se o mesmo procedimento para o arranjo produtivo situado na região Sul catarinense.
3.6.1 A indústria de transformados plásticos no Brasil e em Santa Catarina
A cadeia produtiva do plástico é composta por três elos principais: as centrais
petroquímicas, as empresas produtoras de resinas termoplásticas e as transformadoras. A
primeira geração acontece nas centrais da matéria prima onde ocorre o processo de
craqueamento, responsável por transformar a nafta em produtos intermediários - eteno e o
propeno. A segunda geração transforma tais bens intermediários através da polimeração que
se classifica em dois tipos: termoplásticos (polietileno - PET, policloreto de vinila - PVC e
poliestireno - PV) e termofísicos (plásticos fenólicos, uréicos). A terceira geração transforma
esses dois tipos de polímeros em inúmeros produtos plásticos, através dos processos de
extrusão (chapas, laminados, tubos, etc), sopro (peças ocas como garrafas, frascos, etc),
injeção (confecção de utensílios plásticos em geral: armários, tampas, caixas, etc),
compressão (pratos, xícaras, assentos, etc).
299
As duas primeiras gerações possuem produtos padronizados com especificações bem
definida denominada como commodities, são intensivas em capital, tem baixos graus de
flexibilização produtiva e níveis operacionais elevados. Enquanto na terceira geração situa-se
a indústria de materiais plásticos que possui maior diversificação de produtos, é intensiva em
mão-de-obra e tem processos produtivos mais flexíveis com plantas industriais de tamanhos
ótimos menores. (BRDE, 1997).
Conforme a Figura 3.6.2 pode-se observar que a cadeia produtiva é de alta
complexidade. Diversos setores industriais estão envolvidos devido à intensa substituição de
materiais como madeira, borracha, metal, ferro, etc, pelo plástico. Os materiais plásticos
alcançam os setores agrícola, alimentício, eletrodoméstico, automotivo, construção civil, etc,
tanto na forma de bens intermediários ou finais.
O setor de transformados plásticos no Brasil tem uma estrutura industrial caracterizada
pela heterogeneidade em relação ao porte, às capacidades instalada e utilizada, ao poder de
mercado das firmas, à capacitação tecnológica, aos processos e produtos, à gestão e aos
segmentos de mercado. Em outros aspectos há significativa variedade tais como na origem,
propriedade, tamanho e grau de internacionalização dos capitais (SOUZA, 2002).
Fonte: Scheffer, 2004. Figura 3.6.2 - Cadeia produtiva de transformados plásticos
Existe um número substancial de empresas por segmento de mercado, destacando-se o
de embalagens, sacolas e sacos, intermediários para diversas indústrias, com realce para as
peças injetadas sob encomenda, e produtos para utilidades domésticas, conforme a Figura
Craqueamento Eteno, Propeno...
Polímeros
Ind. Química Ferramentaria Máq. e Euipamentos Nafta e gás natural
1ª Geração Central de Matéria-prima
2ª Geração: Intermediários Unidade de Polimeração
3ª Geração Unidade de Transformação
Consumo
Intermediário Consumo
Final Agricultura, Automobilístico, Eletroeletrônica, Metalmecânica, química, entre outras
Utensílios domésticos,, Brinquedos, entre outros
300
3.6.3. Tais empresas participam de um mercado concorrencial com tendência à diversificação,
ainda que exista uma lógica à concentração.
Fonte: ABIPLAST. Figura 3.6.3 - Produção dos transformados plásticos no Brasil por segmento - 2003
O setor de transformados plásticos é predominantemente dominado pelas pequenas
empresas, muitas apresentando características de: administração familiar, recursos financeiros
reduzidos, fabricação de produtos de baixo conteúdo tecnológico e ocupando espaços
deixados por empresas de grande porte. As grandes empresas, em número resumido, são as
líderes em seus segmentos produtivos e ditam o ritmo da dinâmica interna setorial, sendo que
algumas figuram como players mundiais.
Observando a participação dos segmentos no mercado interno, nota-se a hegemonia da
produção de embalagens, caracterizando-se como o segmento mais importante da indústria de
transformação de plástico, sendo responsável pelo consumo de quase a metade, 47%, do total
de resinas termoplásticas fabricadas no país. Trata-se de um segmento que possui determinada
complexidade em decorrência das relações à jusante e a montante na cadeia produtiva serem
mais densas e dinâmicas.
Esse segmento ainda apresenta substanciais possibilidades de entrada de novas
empresas – pequenas e grandes firmas internacionais - e avanço em esforços em capacitação
tecnológica de produtos e processos. Porém, as empresas que demonstram maior potencial e
esforços no sentido de modernização tecnológica são as grandes, e as pequenas ficam
excluídas desse processo, caracterizando a defasagem tecnológica existente no setor.
Embalagens - 40%
Construção Civil – 14%
Descartáveis – 12%
Componentes Técnicos - 8%
Agrícola – 8%
Utilidades Domésticas – 5%
Calçados – 3%
Laminados – 1%
Brinquedos – 1% Outros – 9%
301
Com o acirramento concorrencial em decorrência da abertura e desregulamentação
econômica, o segmento passa a deparar-se com a queda de rentabilidade econômica e
direcionamento de empresas para segmentos e embalagens mais simples com menores
margens de lucros. Além da perda de competitividade em relação aos produtos importados,
cresce a informalidade no setor e aumenta a pressão exercida pelos grandes compradores
varejistas e pelas firmas fabricantes de produtos finais pressionando preços a baixo valor
(SOUZA, 2002; PICCININI, 1997).
Essa mudança das empresas para produção de embalagens mais simples segue no
mesmo sentido do aumento da informalidade no segmento, corroborando para a queda nos
preços e na rentabilidade do segmento. A indústria de transformação de material plástico
contempla um universo de 7.900 empresas, em 2003, de acordo com os dados da Associação
Brasileira da Indústria do Plástico (ABIPLAST). Segundo dados da RAIS/MTE (2003) o
número de empresas foi de 6.879, em 2000, 7.438, em 2001, 7.898, em 2002 e 8.213, em
2003. Essa indústria participou no total do PIB, em 2003, com 1,9%, com um faturamento de
R$ 28,7 bilhões. Esse faturamento teve um aumento substancial em comparação a 1999,
representando um crescimento de 98%.
0
10
20
30
40
50
%
SP RS SC PR MG RJ
2003 2000
Fonte: RAIS/MTE, 2000 e 2003. Figura 3.6.4 - Número de estabelecimentos na indústria de transformados plásticos no Brasil por Estado – 2000, 2003
O estado de São Paulo se destaca por concentrar o maior número de empresas e
empregados, abrangendo respectivamente, em 2000, 47,4% e 47,1%, e em 2003, 47,8% e
47,6%. Em segundo lugar, destaca-se o Rio Grande do Sul em número de estabelecimentos,
com 12,0% e 11,9% para os anos de 2000 e 2003, respectivamente, em relação ao total do
302
país. Quanto ao número de empregados houve uma inversão de posições entre Rio Grande do
Sul e Santa Catarina. Em 2000 o primeiro detinha 10,0% e o segundo 8,9%, enquanto em
2003 o segundo foi responsável por 10,6% e o primeiro por 10,2% do número total de
empregados na indústria de transformados plásticos no Brasil.
Em termos comparativos dos valores gerados pela indústria de transformados plásticos
em relação à indústria de transformação global constata-se participação de 0,4% em valor
adicionado em relação ao valor gerado pelo conjunto da indústria de transformação, conforme
a Tabela 3.6.1. Assim como, aproxima-se com percentual do existente de capacidade instalada
da indústria de transformação, em torno de 82%. Enquanto, o pessoal ocupado, em torno de
223.000 em seu ultimo registro, 2003, representa 2,63 % da existente na indústria de
transformação nacional.
Tabela 3.6.1 – Comparação de indicadores econômicos entre a indústria de transformados plásticos e a indústria de transformação do Brasil – 1995-2004
CLASSES E ATIVIDADES 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Indústria (1) 36,7 34,7 35,2 34,6 35,6 37,5 37,7 38,3 38,8 ... Indústria de Transf. de Material Plástico 0,6 0,6 0,6 0,5 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 ...
Utilização Média da Capacidade Instalada da Indústria de Transformação (2)
... ... ... ... 80,2 82,7 81,7 79,5 80,5 83,5
Utilização Média da Capac. Instalada da Ind. de Transf. de Mat. Plástico (2)
... ... ... ... 79,2 82,2 81,2 83,0 79,7 85,5
Pessoal Ocupado na Ind. de Transformação (3)
... ... 7.805 7.629 7.726 8.662 8.456 8.541 8.491 ...
Pessoal Ocupado na Ind. de Transf. de Mat. Plástico (3)
... ... 183 185 200 216 214 208 223 ...
Valor Anual da Produtividade do Trabalho na Ind. de Transformação
... ... ... ... -2,7 -3,8 -4,5 2,6 1,7 ...
Valor Anual da Produtividade do Trabalho na Ind. de Transf. De Mat. Plásticos
... ... ... ... -19,6 -14,3 -1,5 1,9 -13,8 ...
Fonte: FIBGE Nota: Sinal convencional utilizado: ... Dado numérico não disponível. (1) Participação percentual no valor adicionado total. (2) Valores em percentual. (3) Valores em 1.000 trabalhadores.
O estado de Santa Catarina ocupava, em 2003, o terceiro lugar no país em termos de
número de estabelecimentos e empregados, e o segundo lugar em produção indústria
303
transformadora de materiais plásticos, próximo de 15%, segundo o Sindicato da Indústria de
Materiais Plásticos de Santa Catarina (SIMPESC). Em 2003, essa indústria atingiu um
faturamento médio mensal no valor de R$ 39.490,92 mil e arrecadação de ICMS no valor de
R$ 70.316.055,00, equivalente a 1,5% do montante arrecadado em ICMS no Estado, como
pode ser verificado na Tabela 3.6.2. O salário líquido médio ao mês do empregado da
indústria de plásticos transformados de Santa Catarina foi cerca de R$ 1.376,05 mil, em 2003,
sendo que esse setor tem um custo com pessoal de aproximadamente 20% do seu faturamento,
superior à média da indústria de transformação do país, que é equivalente a 14%,
evidenciando que esse setor é intensivo em mão-de-obra.
Tabela 3.6.2 - Faturamento, custos com pessoal, salário e arrecadação de ICMS da indústria
de transformados plásticos do estado de Santa Catarina – 2002 e 2003
FATURAMENTO MÉDIO MENSAL (1)
CUSTOS COM PESSOAL (2)
SALÁRIO LÍQ. MÉDIO (3)
ARRECADAÇÃO ICMS (4)
PARTIC. NA ARRECADAÇÃO
ICMS (5)
2002 40.182,41 20 1.102,97 76.197.112 ... 2003 39.490,92 20 1.376,05 70.316.055 1,49 Ind. Transform. Média / 2003
1.586.661,59 14 851,88 nd nd
Fonte: FIESC – Santa Catarina em Dados 2004. (1) Faturamento médio mensal em R$ mil correntes por mês. (2) Custos com pessoal sobre o faturamento percentual. (3) Salário líquido médio em R$ mil correntes por mês. (4) Arrecadação de ICMS em R$ mil correntes por mês. (5) Participação na arrecadação de ICMS sobre o percentual arrecadado no estado de Santa Catarina. Nota: Sinal convencional utilizado: ... Dado numérico não disponível.
Entre 1999 e 2003, a produção catarinense apresentou uma tendência decrescente,
sendo que em 2003 a produção sofreu uma queda de 18,04% em relação ao ano anterior,
como apresentado na Tabela 3.6.3.
Tabela 3.6.3 - Evolução da produção física e utilização da capacidade instalada da indústria de transformados plásticos no Brasil e no estado de Santa Catarina – 1994-2003
BRASIL SANTA CATARINA
ANO UTILIZAÇÃO CAPACIDADE
INSTALADA (1)
PRODUÇÃO FÍSICA (2)
VARIAÇÃO PRODUÇÃO (1)
UTILIZAÇÃO CAPACIDADE
INSTALADA (1)
PRODUÇÃO FÍSICA (2)
VARIAÇÃO PRODUÇÃO (1)
1994 72,50 100,00 4,07 76,57 100 18,87 1995 78,25 110,34 10,34 74,98 131,92 31,92 1996 81,75 122,69 11,19 75,87 142,37 7,92 1997 82,75 127,12 3,61 75,92 144,36 1,4 1998 79,00 124,03 -2,43 79,13 151,19 4,73 1999 78,50 116,39 -6,16 79,54 146,97 -2,79 2000 81,95 113,36 -2,6 75,83 144,94 -1,38 2001 81,18 107,68 -5,01 68,81 136,65 -5,72 2002 82,85 106,17 -1,4 65,02 126,25 -7,61 2003 79,55 94,70 -10,81 65,06 103,48 -18,04
Fonte: FIESC. (1) Dados em percentual. (2) Ano base 1994 = 100.
304
Contudo, não há sinais de uma diminuição expressiva da capacidade produtiva
(fechamento de fábricas), pois a utilização da capacidade instalada também diminuiu
acompanhando a produção. Do mesmo modo, em nível nacional observou-se queda tanto da
produção quanto da utilização da capacidade instalada, evidenciando fechamentos de
empresas e conseqüentemente diminuição da capacidade produtiva.
Apesar do comportamento da produção dos últimos anos, o consumo de resinas pela
indústria de plásticos catarinense mantém-se relevante em nível nacional. Em 1999, o
consumo de resinas de resinas e reciclados em geral somou 466,4 mil toneladas, que foi
equivalente a 12,2% do total consumido no país, conforme Tabela 3.6.4. Considerando-se as
resinas termoplásticas, as mais consumidas foram a PVC (24,3%), seguido da PS (15,4%),
PEBD (14,8%), PELBD (13,3%), PP (11,1%), PEAD (6,6%) e PET (3,4%). É importante
destacar que o consumo relativo de PVC em Santa Catarina é superior ao existente no país,
devido à atividade produtiva no segmento de tubos e conexões de PVC, expressiva em nível
nacional, que está concentrada na região Nordeste do Estado.
Tabela 3.6.4 - Consumo de matérias-primas da indústria de transformados plásticos no estado de Santa Catarina - 1999
RESINAS TERMOPLÁSTICAS PRODUÇÂO (A) (1) A/B (2) A/C (2) PARTICIPAÇÃO NO BRASIL (2)
PVC 113.333 26,65 24,30 17,1 P S 71.896 16,90 15,42 27,6 PEBD 69.088 16,24 14,81 12,7 PELBD 62.205 14,63 13,34 23 PP 51.643 12,14 11,07 7,3 PEAD 42.651 10,03 9,15 6,6 PET 14.517 3,41 3,11 4,4 Subtotal (B) 425.333 100 91,20 12,2 Reciclado 29.715 .. 6,37 .. Outras 11.315 .. 2,43 .. TOTAL GERAL (C) 466.363 .. 100 .. Fonte: Klug, 2001. Nota: Sinal convencional utilizado: .. Não se aplica dado numérico.
(1) Produção em toneladas. (2) Valores em percentual.
Assim, a especialização produtiva do estado baseia-se na produção de embalagens, de
acessórios para a construção civil e descartáveis. O segmento de embalagens respondeu em
1999 por 32,2% do valor da produção, 34,7% do consumo de matérias primas, 30,1% das
empresas e 29,155 dos empregos do Estado. Posteriormente tem-se o segmento de acessórios
para a construção civil, que foi responsável por 29,2% do valor da produção nesse ano e o
segmento de descartáveis, que atingiu um percentual de 12,1%, conforme Tabela 3.6.5.
305
Tabela 3.6.5 - Índices do valor da produção, emprego e consumo de matérias-primas da
indústria de transformados plásticos no estado de Santa Catarina, por segmento produtivo – 1999
VALOR DA PRODUÇÃO MATÉRIAS PRIMAS EMPREGOS EMPRESAS SEGMENTO
Espécie (1) Part. (2) Produção (3) Part. (2) Quant. (4) Part. (2) Quant. (4) Part. (2)
Embalagens 551.941 32,28 157.072 34,74 5.734 30,19 58 29,15 Construção Civil 498.735 29,17 127.806 28,27 4.360 22,95 44 22,11 Descartáveis 206.047 12,05 61.984 13,71 2.655 13,98 11 5,53 Sacos e sacolas 75.293 4,40 25.940 5,74 970 5,11 18 9,05 Componentes técnicos 182.010 10,65 23.044 5,10 2.554 13,45 27 13,57
UD e brinquedos 80.177 4,69 16.542 3,66 713 3,75 13 6,53 Móveis 31.389 1,84 6.320 1,40 496 2,61 4 2,01 Agricultura 16.324 0,95 5.394 1,19 254 1,34 5 2,51 Semi-acabado 29.301 1,71 14.706 3,25 201 1,06 7 3,52 Outros 38.575 2,26 13.265 2,93 1.060 5,58 12 6,03 TOTAL 1.709.794 100 452.072 100 18.995 100 199 100 Fonte: Klug, 2001. Ano base 1999. (1) Valores em R$ 1.000. (2) Participação em percentual. (3) Valores em toneladas. (4) Valores em números absolutos.
Quanto ao destino das vendas da indústria catarinense, a participação das vendas para
o país apresentou crescimento entre 1994 (80,15%) e 1997 (87,4%), sendo que nesse período
a participação das vendas para o exterior foi insignificante. Segundo a Tabela 3.6.6, as vendas
para o exterior passaram de 1,8% das vendas totais do Estado em 1998 para 7,1% em 2003.
Por sua vez, as vendas para o próprio Estado mantiveram um comportamento menos
padronizado e tiveram uma participação relativa de 16,2% em 2003.
Tabela 3.6.6 - Destino das vendas da indústria de transformados plásticos do estado de Santa Catarina – 1994-2003
ANO PARA DEMAIS ESTADOS PARA SANTA CATARINA PARA O EXTERIOR
1994 80,15 17,26 2,59 1995 83,60 15,14 1,26 1996 84,90 13,78 1,32 1997 87,40 11,47 1,13 1998 85,10 13,15 1,75 1999 83,74 12,67 3,58 2000 83,40 13,03 3,57 2001 78,48 16,54 4,97 2002 75,99 18,09 5,92 2003 76,76 16,20 7,05
Fonte: FIESC. Nota: Média anual em variação percentual.
Quanto ao número de empresas catarinenses produtoras e exportadoras de produtos
transformados plásticos, segundo relatório da FIESC – Santa Catarina em Dados, esse número
reduziu-se de 46 em 2001 para 38 empresas em 2002, sendo que o item plásticos e suas obras
encontra-se como um dos principais produtos importados do Estado. Dessa forma, em termos
306
de valores monetários o comércio exterior dessa indústria ainda é muito deficitário. Como
apresentado na Tabela 3.6.7, as importações de plásticos e suas obras atingiram um valor de
aproximadamente US$ 195,28 milhões em 2003, 17% superior em relação ao ano anterior e
representando 19,65% do valor total das importações realizadas pelo Estado. As exportações
para o MERCOSUL foram de US$ 7,7 milhões nesse ano, correspondendo a um valor 32,7%
superior que o verificado em 2002 e representando 3,01% das vendas externas para esse bloco
econômico.
É importante destacar que diversos insumos dessa indústria encontram-se entre os dez
produtos mais importados do Estado, conforme relatório da FIESC sobre o balanço do
comércio exterior catarinense, entre janeiro e maio de 2005. Nesse sentido, constavam-se no
relatório as resinas: polietilenos em cargas; polímeros de etileno; policloreto de vinila e
poliestileno linear. Tendo em vista que as importações desses produtos nos primeiros cinco
meses desse ano foram substancialmente superiores àquelas verificadas no mesmo período em
2004, pode-se esperar que a produção de produtos transformados de plásticos esteja entrando
numa fase de maior aquecimento no Estado.
Tabela 3.6.7 – Importações e exportações para o MERCOSUL de plásticos e suas obras do estado de Santa Catarina – 2002-2003
ATIVIDADE 2002 2003 2003/2002 (1) PARTICIPAÇÃO SOBRE O TOTAL 2003 (1)
Importações 165.545.964 195.289.626 17,97 19,65
Exportações 5.832.321 7.739.678 32,7 3,01
Fonte: FIESC / Santa Catarina em Dados, 2004. Nota: Valores em US$ FOB. (1) Valores em percentual.
3.6.2 APL DE TRANSFORMADOS PLÁSTICOS DA REGIÃO NORDESTE
3.6.2.1 Configuração e trajetória de constituição do APL
A formação do arranjo produtivo de transformadores de plásticos da microrregião de
Joinville tem suas raízes nos aspectos que influenciaram a formação de um pólo industrial na
região, especialmente no município de Joinville. Tendo em vista a etapa de industrialização
espontânea, entre 1831 e 1930, os primeiros empreendimentos partiram de investimentos de
capitais locais nos setores têxtil, metal-mecânico e alimentar - e foram estimulados pela
existência de terras não adequadas à plantação (terrenos pantanosos e morros com densa
307
cobertura florestal) e localização geográfica desfavorável à obtenção de matérias-primas e à
conquista de mercados consumidores. Corroborou para ainda para industrialização, a
colonização alemã existente no local, com imigrantes que eram, em sua maioria, “pequenos
industriais, comerciantes, engenheiros e operários especializados, etc, forçados a abandonar a
Alemanha por ocasião de crises econômicas”. Além deste aspecto, tais imigrantes tinham
conhecimento para realizar trocas comerciais e obter de informações com a Europa
(MAMIGORIAN, 1966 apud NAPOLEÃO, 2005, p.40).
Dessa forma, já no início do século XX, eram produzidos em Joinville artefatos de
celulóide (polímero natural), como fivelas, pentes, botões, entre outros, pela fábrica João
Hahanann. Nos anos 30, iniciou-se a produção de produtos de baquelite, pela Indústria de
Plásticos Ambalit S.A., e de produtos de chifre de boi (resina natural), pela Albano Koeber e
Cia. Esta última, que consiste no embrião da Tigre S.A. Tubos e Conexões - atualmente a
principal empresa da região e do país no setor de tubos e conexões de PVC -, foi comprada
em 1941 por João Hansen Junior, iniciando suas atividades nesse segmento nos anos 50. Nos
anos 60 foram inauguradas a Cipla Materiais de Construção – atuando no segmento de
mangueiras de polietileno e acessórios de plásticos para banheiro - e a Fundição Tupy S.A.,
que passou a atuar no segmento de plásticos, inclusive de tubos e conexões em PVC.
Destacou-se, nos 70, a inauguração da Akros S.A., também, no segmento de tubos e conexões
PVC, além de acessórios sanitários.
Um dos elementos relevantes para a constituição de um pólo industrial em Joinvile a
ser destacado é que a presença de uma aglomeração de indústrias na região acabou
determinando o surgimento de outras indústrias, em vista da infra-estrutura e qualificação da
mão-de-obra que foi se conformando no espaço local. Além disso, é comum, nessa região,
que ex-funcionários de empresas tornarem-se proprietários, o que tem sido verificado tanto
para atuação como fundadores de empresas do mesmo setor, como de setores concorrentes.
Nestes temos, observa-se que a Cipla Materiais de Construção, a Supra Indústria de Plásticos
e a Viqua Indústria de Plásticos Ltda. foram fundadas por ex-funcionários da Tigre S.A.; a
Plasbohn Ind. e Com. Ltda. por um ex-funcionário da Cipla; a Topjet Ind. e Comércio de
Plásticos Ltda., a Soujet Ind. e Com. de Plásticos, a Plasticoville Ind. Com. Prod. Plásticos
Ltda. e a Krona Ind. de Plásticos Ltda. por antigos empregados da Akros S.A.; a Mantac
Tecnologia em Mangueiras Ltda. por ex-funcionários da Cipla e da Perfitech, apenas para
citar alguns exemplos (NAPOLEÃO, 2005).
Concomitantemente a esse processo, a consolidação da indústria de transformação de
materiais plásticos no Brasil e em Santa Catarina foi beneficiada, a partir dos anos 50, pelos
308
esforços do Estado para internalização da Cadeia Produtiva Petroquímica / Plástica (CPPP).
Isto ocorreu em virtude da ampliação da produção de resinas termoplásticas e estímulos à
nacionalização de máquinas e equipamentos para essa cadeia -, bem como a
internacionalização e conglomeração da PETROBRÁS e a instalação de complexos
petroquímicos na Bahia, Rio Grande do Sul e São Paulo, nos anos 70.
O Governo do Estado de Santa Catarina também assumiu papel relevante para o
desenvolvimento dessa indústria, sobretudo em termos de financiamento. Nesse aspecto,
destacaram-se, nos anos 70, os recursos provindos do Fundo de Desenvolvimento do Estado
de Santa Catarina (FUNDESC), dos quais 10,5% de um total de aproximadamente US$ 30
milhões destinaram-se para esse setor, enquanto nos anos 80 e início dos 90, destacou-se o
financiamento do Banco do Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (BADESC)
(3,2%). Finalmente, entre 1988 e 1999, prevaleceram os recursos do Programa de
Desenvolvimento da Empresa Catarinense (PRODEC), equivalente a US$ 30,5 milhões para
esse setor, que corresponderam a 5,2% do total dos recursos disponíveis por esse programa de
financiamento.
Por sua vez, nos anos 90, as empresas passaram por um processo de reestruturação,
com redução nos custos produtivos e administrativos, redução do mix de produtos, inovação e
redimensionamento de linhas de produtos, desverticalização, aumento de produtividade, com
aumento de produção e redução no número de empregados. Nesse período, algumas empresas
encerraram suas atividades produtivas, como a Ind. de Plásticos Ambalit e a Perfiltech,
enquanto outras foram vendidas, entre elas, a Akros S.A., que passou a ser controlada pelo
grupo suíço Amanco e a Fundição Tupy S.A., que vendeu suas unidades atuantes no segmento
de plásticos.
Nestes termos, observa-se que alguns fatores foram cruciais para o desenvolvimento
dessa indústria tanto no Estado e, mais especificamente, em Joinville, apesar da inexistência
de um complexo petroquímico no Estado ou de políticas setoriais específicas. Foram eles: (i)
o desenvolvimento precoce da atividade transformadora de resinas naturais, primeiramente e,
posteriormente, de resinas petroquímicas; (ii) a ligação entre esse município e a Europa, que
facilitou o conhecimento sobre o processo produtivo e a importação de máquinas e
equipamentos; (iii) spillovers relacionados à qualificação da mão-de-obra, que permitiu que
ex-funcionários fundassem empresas próprias, especialmente pequenas empresas, com baixo
investimento inicial; (iv) empreendimentos com recursos de poupança familiar e, em menor
grau, de programas de financiamento estadual, bem como muitas empresas surgiram como
resposta das políticas industriais nacionais da década de 70; (v) facilidade de adquirir, em
309
alguns casos, máquinas e equipamentos no próprio local, em virtude da especialização eletro-
metal-mecânico da região e (vi) comportamento empresarial baseado em estratégias de
constantes investimentos em tecnologia, marketing, além de parcerias, especificamente entre
micro e pequenas empresas, e ativa inserção no mercado nacional, inclusive com instalação de
filiais em outros estados, no caso das grandes empresas.
3.6.2.2 Caracterização sócio-produtiva e perfil da comercialização
A região Nordeste catarinense destaca-se como a maior região produtora de produtos
plásticos transformados do Estado. De acordo com a Tabela 3.6.8, essa região concentra
41,4% dos empregados, 34,2% das empresas, 35,7% do consumo de matérias-primas (resinas)
demandadas e 43,3% do total do valor produzido na indústria de transformados de plásticos
de Santa Catarina. Nesse aspecto, destaca-se a aglomeração produtiva dessa indústria
localizada na microrregião de Joinville, que abrange, além de Joinville, os municípios de
Guaramirim e Jaraguá do Sul.
Tabela 3.6.8 - Número de estabelecimentos conforme atividade e tamanho da empresa no arranjo produtivo de transformados plásticos da região Nordeste do estado de Santa Catarina -
2003 NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS
MICRO PEQUENA MÉDIA GRANDE TOTAL LOCAL / ATIVIDADE
Qt. (1)
Part. (2)
Qt. (1)
Part. (2)
Qt. (1)
Part. (2)
Qt. (1)
Part. (2)
Qt. (1)
Part. (2)
Part. APL (2)
Guaramirim Fabricação de embalagem de plástico 0 0 1 100 0 0 0 0 1 100 0,8 Fabricação de artefatos diversos de plástico 1 50,0 1 50,0 0 0 0 0 2 100 1,5 Subtotal 1 33,3 2 66,7 0 0 0 0 3 100 2,3 Jaraguá do Sul Fabricação de laminados planos e tubulares plástico
1 100 0 0 0 0 0 0 1 100 0,8
Fabricação de embalagem de plástico 8 88,9 0 0 1 11,1 0 0 9 100 6,9 Fabricação de artefatos diversos de plástico 6 75,0 2 25,0 0 0 0 0 8 100 6,1 Subtotal 15 83,3 2 11,1 1 5,6 0 0 18 100 13,7 Joinville Fabricação de laminados planos e tubulares plástico
3 75,0 0 0 1 25,0 0 0 4 100 3,1
Fabricação de embalagem de plástico 10 76,9 1 7,7 2 15,4 0 0 13 100 9,9 Fabricação de artefatos diversos de plástico 56 60,2 24 25,8 9 9,7 4 4,3 93 100 71,0 Subtotal 69 62,7 25 22,7 12 10,9 4 3,6 110 100 84,0 Total APL 0,00 Fabricação de laminados planos e tubulares plástico
4 80,0 0 0 1 20,0 0 0 5 100 3,8
Fabricação de embalagem de plástico 18 78,3 2 8,7 3 13,0 0 0 23 100 17,6 Fabricação de artefatos diversos de plástico 63 61,1 27 26,2 9 8,7 4 3,9 103 100 78,6
TOTAL 85 64,9 29 22,1 13 9,9 4 3,1 131 100 100
Fonte: RAIS/MTE, 2003. (1) Quantidade de empresas em números absolutos. (2) Participação das empresas no total da região.
310
Em 2003 esses municípios totalizam uma população de 607.327 habitantes, com
destaque para Joinville, com 461.578 habitantes, correspondendo por aproximadamente 76%
da população dos municípios que formam o APL, enquanto Jaraguá corresponde por 19,46%
e Guaramirim por 4,5%. Em 2001, conforme dados do IBGE, Joinville obteve o maior PIB
per capita do Estado (R$ 11.440,10), fato vinculado à forte atividade industrial do município,
que abrange não apenas o setor de plásticos transformado, mas diversos setores, tais como
metal-mecânico, têxtil, entre outras atividades.
Conforme o maior nível de desagregação da RAIS/MTE, as atividades desenvolvidas
por 131 empresas da indústria de transformados plásticos na microrregião de Joinville são:
fabricação de laminados planos e tubulares plásticos (3,8% dos estabelecimentos), fabricação
de embalagem de plástico (17,6%) e fabricação de artefatos diversos de plásticos (78,6%). Em
relação aos fornecedores, encontrou-se, na RAIS, registro de apenas uma empresa produtora
de resinas termoplásticas de porte micro em Joinville, sendo que não havia registro, nesse
banco de dados, sobre o número de empregados nessa atividade.
Na região, 84,0% das empresas e 93,9% de um total de 7.063 empregados estão
localizados em Joinville, 13,7% e 4,9% em Jaraguá do Sul e 2,3% e 1,2% em Guaramirim.
Tabela 3.6.9 - Número de empregados conforme atividade e tamanho da empresa no arranjo produtivo de transformados plásticos da região Nordeste do estado de Santa Catarina - 2003
NÚMERO DE EMPREGADOS MICRO PEQUENA MÉDIA GRANDE TOTAL
LOCAL / ATIVIDADE Qt. (1)
Part. (2)
Qt. (1)
Part. (2)
Qt. (1)
Part. (2)
Qt. (1)
Part. (2)
Qt. (1)
Part. (2)
Part. APL (2)
Guaramirim Fabricação de embalagem de plástico 0 0 34 41,5 0 0 0 0 34 41,5 0,5 Fabricação de artefatos diversos de plástico 0 0 48 58,5 0 0 0 0 48 58,5 0,7 Subtotal 0 0 82 100 0 0 0 0 82 100 1,2 Jaraguá do Sul Fabricação de laminados planos e tubulares plástico 5 1,4 0 0 0 0 0 0 5 1,4 0,1 Fabricação de embalagem de plástico 51 14,7 0 0 129 37,1 0 0 180 51,7 2,6 Fabricação de artefatos diversos de plástico 39 11,2 124 35,6 0 0 0 0 163 46,8 2,3 Subtotal 95 27,3 124 35,6 129 37,1 0 0 348 100 4,9 Joinville Fabricação de laminados planos e tubulares plástico 27 0,4 0 0 219 3,3 0 0 246 3,7 3,5 Fabricação de embalagem de plástico 52 0,8 52 0,8 505 7,6 0 0 609 9,2 8,6 Fabricação de artefatos diversos de plástico 244 3,7 1.141 17,2 1.970 29,7 2.423 36,5 5.778 87,1 81,8 Subtotal 323 4,9 1.193 18,0 2.694 40,6 2.423 36,5 6.633 100 93,9 Total APL Fabricação de laminados planos e tubulares plástico 32 0,5 0 0 219 3,1 0 0 251 3,6 3,6 Fabricação de embalagem de plástico 103 1,5 86 1,2 634 8,9 0 0 823 11,7 11,7 Fabricação de artefatos diversos de plástico 283 4,0 1.313 18,6 1970 27,9 2.423 34,3 5.989 84,8 84,8
TOTAL 418 5,9 1.399 19,8 2.823 40,0 2.423 34,3 7.063 100 100
Fonte: RAIS/MTE, 2003. (1) Quantidade de empregados em números absolutos. (2) Participação dos empregados no total da região.
311
Assim como no Brasil, no conjunto do APL as micro e pequenas empresas são
predominantes, sendo que as micro correspondem a 64,9% do total, as pequenas por 22,1%,
as médias por 9,9% e as grandes por 3,1%. Em Jaraguá do Sul e Joinville predominam a
presença de microempresas, representando 83,3% e 62,7%, respectivamente, enquanto em
Guaramirim destacam-se as empresas de pequeno porte, que correspondem a 66,7% do total
de empresas desse município, conforme a Tabela 3.6.9.
Apesar dessa indústria não se caracterizar, no país, pela presença de uma mão-de-obra
altamente qualificada, Joinville destaca-se em relação ao maior grau de instrução dos seus
empregados em comparação aos outros dois municípios do arranjo produtivo em estudo. Em
Joinville, 13,0% dos empregados possuem nível superior completo, contra 4,9% em
Guaramirim e 2,3% em Jaraguá do Sul, segundo a Tabela 3.6.10.
Tabela 3.6.10 - Grau de instrução médio por empregado conforme atividade no arranjo
produtivo de transformados plásticos da região Nordeste do estado de Santa Catarina - 2003 GRAU DE INSTRUÇÃO
LOCAL / ATIVIDADE ANALFA-BETO
1º GR. INCOMP.
1º GR. INCOMP.
2º GR. INCOMP.
2ºGR. COMP.
SUP. INCOMP.
SUP. COMP.
TOTAL
Guaramirim Fabricação de embalagem de plástico 0 14 3 7 7 1 2 34
Fabricação de artefatos diversos de plástico
0 14 9 11 10 2 2 48
Subtotal 0 28 12 18 17 3 4 82 Participação no local (1) 0 34,2 14,6 22,0 20,7 3,7 4,9 100 Jaraguá do Sul Fabricação de laminados planos e tubulares plástico 0 2 1 1 1 0 0 5
Fabricação de embalagem de plástico
0 27 62 35 51 4 1 180
Fabricação de artefatos diversos de plástico 0 8 90 25 31 2 7 163
Subtotal 0 37 153 61 83 6 8 348 Participação no local (1) 0 10,6 44,0 17,5 23,9 1,7 2,3 100 Joinville Fabricação de laminados planos e tubulares plástico
0 21 72 19 124 4 6 246
Fabricação de embalagem de plástico 1 74 183 121 169 14 47 609
Fabricação de artefatos diversos de plástico
6 691 1.456 543 1.993 278 811 5.778
Subtotal 7 786 1.711 683 2.286 296 864 6.633 Participação no local (1) 0,11 11,9 25,8 10,3 34,5 4,5 13,0 100 Total APL Fabricação de laminados planos e tubulares plástico
0 23 73 20 125 4 6 251
Fabricação de embalagem de plástico
1 115 248 163 227 19 50 823
Fabricação de artefatos diversos de plástico 6 713 1.555 579 2.034 282 820 5.989
TOTAL 7 851 1.876 762 2.386 305 876 7.063 PARTICIPAÇÃO NO APL (1) 0,1 12,1 26,6 10,8 33,8 4,3 12,4 100
Fonte: RAIS/MTE, 2003. (1) Valores em percentual.
312
Por sua vez, Guaramirim possui o maior número de trabalhadores com primeiro grau
incompleto, 34,2%, enquanto em Jaraguá do Sul predominam os trabalhadores com primeiro
grau completo, 44,0%, e em Joinville com ensino médio completo, 34,5%. A maior
capacitação da mão-de-obra localizada em Joinville tem relação com o ambiente institucional
do município em termos de instituições de ensino médio e superior, que formam profissionais
que são absorvidos pela própria indústria local.
Essa indústria também é caracterizada pela baixa faixa de remuneração salarial da
grande parte dos trabalhadores, especificidade de setores nos quais predomina uma mão-de-
obra de restrita qualificação. De acordo com dados da RAIS/MTE, para o ano de 2003,
demonstrados na Tabela 3.6.11, no conjunto do APL 47,9% dos empregados recebem numa
faixa de 2 a 4 salários mínimos e 20,6% recebiam de 4 a 7 salários mínimos.
Tabela 3.6.11 - Faixa de remuneração média por empregado conforme no arranjo produtivo
de transformados plásticos da região Nordeste do estado de Santa Catarina - 2003 FAIXA DE REMUNERAÇÃO MÉDIA POR EMPREGADO
LOCAL / ATIVIDADE ATÉ 2 2,01 À 4 4,01 À 7 7,01 À 15 15,01 À 20 MAIS DE 20 IGNORADO TOTAL
Guaramirim Fabricação de embalagem de plástico
16 10 8 0 0 0 0 34
Fabricação de artefatos diversos de plástico
19 22 5 1 1 0 0 48
Total 35 32 13 1 1 0 0 82 % no local 42,7 39,0 15,9 1,2 1,2 0 0 100 Jaraguá do Sul Fabricação de laminados planos e tubulares plásticos
5 0 0 0 0 0 0 5
Fabricação de embalagem de plástico
54 92 27 7 0 0 0 180
Fabricação de artefatos diversos de plástico
33 96 24 10 0 0 0 163
Total 92 188 51 17 0 0 0 348 % no local 26,4 54,0 14,7 4,9 0 0 0 100 Joinville Fabricação de laminados planos e tubulares plásticos 59 155 25 5 0 1 1 246
Fabricação de embalagem de plástico
48 258 164 109 8 22 0 609
Fabricação de artefatos diversos de plástico
641 2.749 1.205 768 172 234 9 5.778
Total 748 3.162 1.394 882 180 257 10 6.633 % no local 11,3 47,7 21,0 13,3 2,7 3,9 0,2 100 Total APL Fabricação de laminados planos e tubulares plásticos
64 155 25 5 0 1 1 251
Fabricação de embalagem de plástico
118 360 199 116 8 22 0 823
Fabricação de artefatos diversos de plástico
693 2.867 1.234 779 173 234 9 5.989
TOTAL 875 3.382 1.458 900 181 257 10 7.063
% NO LOCAL 12,4 47,9 20,6 12,7 2,6 3,6 0,1 100
Fonte: RAIS/MTE, 2003.
313
Guaramirim é o município com pior remuneração, pois 42,7% dos empregados
recebiam até 2 salários mínimos, contra 26,4% em Jaraguá do Sul e 11,3% em Joinville. Na
faixa salarial entre 4 a 7 salários mínimos, Guaramirim possui 39,0% dos seus trabalhadores,
enquanto Jaraguá do Sul e Joinville possuíam 54,0% e 47,7%, respectivamente. Apenas em
Joinville encontraram-se registros para empregados que recebiam mais de 20 salários
mínimos em 2003 (3,9%).
Em termos de porte de empresas, nas microempresas 89,2% dos empregados recebem
até 4 salários mínimos, enquanto nas pequenas e médias empresas 62,6% e 56,8% recebem
entre 2 e 4 salários mínimos, respectivamente, conforme a Tabela 3.6.12. Nas empresas de
grande porte, que são encontradas somente em Joinville, 30,3% dos empregados recebem 2 a
7 salários mínimos, 28,4% de 4 a 7 e 21,8% de 21,8% de 7 a 15 salários mínimos,
evidenciando, portanto, que as empresas de médio e grande portes oferecem maiores salários.
Tabela 3.6.12 - Faixa de remuneração média por empregado conforme tamanho da empresa no arranjo produtivo de transformados plásticos da região Nordeste do estado de Santa
Catarina - 2003 MICRO PEQUENA MÉDIA GRANDE TOTAL FAIXA
SALARIAL / TAMANHO DA FIRMA
Empreg. (1)
Part. (2) Empreg. (1)
Part. (2) Empreg. (1)
Part. (2) Empreg. (1)
Part. (2) Empreg. (1)
Part. (2)
Até 2 205 49,0 238 17,0 315 11,2 117 4,8 875 12,4 2,01 até 4 168 40,2 876 62,6 1.604 56,8 734 30,3 3.382 47,9 4,01 até 7 28 6,7 207 14,8 535 19,0 688 28,4 1.458 20,6 7,01 até 15 16 3,8 70 5,0 286 10,1 528 21,8 900 12,7 15,01 até 20 0 0 4 0,3 28 1,0 149 6,2 181 2,6 Mais de 20 1 0,2 4 0,3 51 1,8 201 8,3 257 3,6 Ignorado 0 0 0 0 4 0,1 6 0,3 10 0,1 TOTAL 418 100 1.399 100 2.823 100 2.423 100 7.063 100
Fonte: RAIS/MTE, 2003. (1) Número de empregados em valores absolutos. (2) Participação dos empregados em percentual.
No tocante à remuneração, conforme a atividade, 87,2% dos empregados da classe
fabricação de laminados planos de plásticos, em que predominam as microempresas (80%),
recebiam até 4 salários mínimos em 2003, contra 58,1% na classe fabricação de embalagem
de plástico e 59,4% na fabricação de artefatos diversos de plástico, conforme a Tabela 3.6.13.
314
Tabela 3.6.13 - Faixa de remuneração média por empregado conforme atividade no APL de transformados plásticos da região Nordeste do estado de Santa Catarina - 2003
FAIXA DE REMUNERAÇÃO MÉDIA POR EMPREGADO ATIVIDADE NO APL
ATÉ 2 2,01 À 4 4,01 À 7 7,01 À 15 15,01 À 20
MAIS DE 20
IGNORADO TOTAL
Fabricação de laminados planos e tubulares plásticos
25,5 61,8 10,0 2,0 0 0,4 0,4 100
Fabricação de embalagem de plástico
14,3 43,7 24,2 14,1 1,0 2,7 0 100
Fabricação de artefatos diversos de plástico 11,6 47,9 20,6 13,0 2,9 3,9 0,2 100
Fonte: RAIS/MTE, 2003.
Quanto aos produtos fabricados, na microrregião de Joinville, considerando-se
informações do Sindicato da Indústria de Materiais Plásticos (SIMPESC), órgão
representativo de classe que congrega algumas das empresas produtoras, observa-se que os
principais produtos produzidos são agrupados na classe fabricação de artefatos diversos de
plástico, com destaque para peças, como mangueiras, tubos, entre outros acessórios em geral
para construção civil em PVC, embalagens e utensílios domésticos.
O APL de materiais plásticos da região Nordeste conta com quatro das dez maiores
empresas de transformados plásticos do país, sendo destaques as empresas Tubos e Conexões
Tigre S. A, a Amanco do Brasil S. A., Interfibra Industrial S. A. e a Cipla Materiais de
Construção S. A. Ainda que faltem algumas informações na Tabela 3.6.14, se observa que
dentre estas as duas primeiras fabricam produtos dirigidos ao segmento da construção civil –
tubos e conexões de PVC -, possuem maiores registros de número de trabalhadores e
alcançam maiores volumes de produção e vendas em milhões de dólares.
Tabela 3.6.14 - Principais empresas do arranjo produtivo de transformados plásticos da região
Nordeste do estado de Santa Catarina - 2003
EMPRESA PRODUTOS FABRICADOS (2)
NÚMERO DE EMPREGADOS
VOLUME PRODUÇÃO
(2) VENDAS CRESCI-
MENTO (7)
LUCRO LÍQUIDO
AJUSTADO Tubos e Conexões Tigre S.A.
tubos e conexões de PVC
2.592 (1) ... 587,8 (1) (5) 33,10 (1) 20,3 (1) (8)
Amanco Brasil S.A.
tubos, conexões e acessórios de PVC
1.453 (1) 14.613 (4) 222,4 (1) (5) … ...
Interfibra Industrial S.A.
caixas d´água, conexões, epóxi, tanques, tubos
revestidos com fibra de vidro
134 (3) 72.301 (3) (9)
5,50 (3) (6) ... ...
Cipla Materiais de Construção S.A
Autopeças, outras obras de plásticos, outros artigos de
higiene ou de tocador de plásticos
608 (3) … … … ...
Fonte: (1) Revista Exame – Maiores e Melhores 2004. (2) SIMPESC. (3) FIESC - em Dados 2004. (4) Produção em toneladas. (5) Vendas em US$ milhões. (6) Vendas em R$ milhões. (7) Valores em percentual. (8) Valor em US$ milhões. (9) Produção em peças. Nota: Sinal convencional utilizado:
... Dado numérico não disponível.
315
Na área de logística de transporte, o arranjo encontra-se atendido em suas
expectativas, pois trecho da BR-101 que liga o arranjo ao Sul com o estado do Rio Grande do
Sul, encontra-se duplicado até Florianópolis e de Osório a Porto Alegre, e ao Norte com os
estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro, podendo assim atender aos principais
mercados regionais. Assim como, o acesso aos Portos de São Francisco do Sul e Itajaí não se
constitui em grandes problemas para a exportação de produtos das empresas, pois o trecho
acha-se quase que totalmente duplicado. O maior problema resume-se ao trecho
Florianópolis-Osório, em processo de duplicação, porém em ritmo ainda considerado lento
pelos especialistas na área de transportes.
3.6.2.3 Arcabouço institucional público e privado
O arranjo em estudo conta com várias instituições de apoio estabelecidas nos campos
de representação de interesse empresarial e educacional, conforme Quadro 3.6.1.
INSTITUIÇÃO ANO DE FUNDAÇÃO
ÁREA DE ATUAÇÃO
PRINCIPAIS FUNÇÔES E FILIADOS
ENSINO Escola Fundação Tupy - Local Cursos técnicos em materiais plásticos
Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (UDESC)
1965 Local, Estadual e Nacional
Curso superior em Engenharia Mecânica e Engenharia de Produção
REPRESENTAÇÃO Sindicato da Indústria de Materiais Plásticos (SIIMPESC)
1971 Estadual Representar os interesses das empresas em instâncias decisórias sobre questões voltadas à política econômica, tributária, trabalhista
e sindical
Associação Comercial e Industrial de Joinville (ACIC)
1911 Local
Representar as empresas associadas em demandas econômicas e políticas e prestar assessoria jurídica/
Associação Brasileira da Indústria de Materiais Plásticos (ABIPLAST)
1967 Nacional
Representar interesses nacionais da indústria de materiais plásticos realizando análises conjunturais e diagnósticos; fornecendo parecer
jurídicos, tributários, trabalhistas e comerciais; e orientado à atividade para o comércio exterior, etc.
FINANCEIRA E DE FOMENTO Banco do Brasil S A .(BB)
- Nacional Concessão de crédito
Banco Brasileiro de Descontos S. A .(BRADESCO)
- Nacional Concessão de crédito
Caixa Econômica Federal S A (CEF)
- Nacional Concessão de crédito
Serviço Brasilerio de Apoio a Micro e Pequena Empresas (SEBRAE)
- Nacional Agência de fomento
Fonte: Pesquisa de campo. Quadro 3.6.1 - Caracterização das principais instituições presentes no arranjo produtivo de transformados plásticos da região Nordeste do estado de Santa Catarina - 2005
316
Dentre as instituições representativas de interesse destaca-se o SIMPESC cujas
funções são de representar os interesses das empresas em instâncias decisórias sobre questões
voltadas à política econômica, tributária, trabalhista e sindical. Existe também no local, a
Associação Comercial e Industrial de Joinville (ACIJ), de maior abrangência institucional,
dado que abarca representação de interesses de empresas industriais e comerciais de todas as
empresas industriais e comerciais da região de Joinville, cujas funções são de contribuir para
promover, representar e defender os interesses das empresas associadas na construção de
melhorar as condições competitivas.
No campo educacional, existem no arranjo produtivo de materiais plásticos cursos
técnicos e superiores voltados à formação de profissionais para atuação neste setor produtivo.
Dentre os cursos técnicos existentes destacam-se os oferecidos pela Escola Técnica Tupy.
Conta esta escola com o Centro de Informação em Manufatura Integrado por Computador
para Componentes Plásticos Injetados (CIMJECT) com cursos em CAD/CAE/CAM e
operação de máquinas CNC, importantes para formação profissional de trabalhadores. No
ensino superior, a Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa Cataria
(UDESC) dentre os cursos de Engenharia que oferece, os de Engenharia de Mecânica e
Engenharia de Produção são os mais próximos da atividade econômica desenvolvida, pois não
há curso de Engenharia de Materiais no local.
3.6.2.4 Fornecedores de máquinas e equipamentos e insumos
O setor de transformados plásticos é receptor de tecnologia, portanto, dependente da
indústria de bens de capital fornecedora de máquinas e equipamentos. As máquinas e
equipamentos que compõem a planta industrial são coextrusoras de matrizes planas,
termoformadoras de altas tiragens, dosadores gravimétriscos, sopradoras elétricas, injetoras
para CD, etc. Os fornecedores são nacionais, para máquinas e equipamentos de menor
conteúdo tecnológico, e importados para os mais sofisticados. Porém, empresas nacionais têm
realizado alianças tecnológicas para produzir no país, máquinas com maior sofisticação
tecnológica. Cita-se o exemplo da fabricação de máquinas extrusosas e de moldagem, onde
empresas nacionais fazem alianças tecnológicas e comerciais com empresas estrangeiras.
Todavia, segundo Souza (2002), 90% das máquinas utilizadas neste segmento
produtivo são produzidas no Brasil. A indústria brasileira de bens de capital produtora de
317
máquinas e equipamentos reestruturou e procurou reduzir a distância do padrão produtivo
internacional, oferecendo produtos e serviços que levam o segmento de transformados
plástico a garantir elevada demanda pelos seus produtos. Como conseqüência, seus preços são
considerados mais competitivos do que os importados e os serviços pós-venda oferecidos são
considerados, por muitos empresários, como um dos principais motivos pela preferência dos
equipamentos nacionais.
Considerando-se o significativo número de empresas produtoras de transformados
plásticos no país e diante das expectativas de crescimento do mercado consumidor, empresas
produtoras de máquinas e equipamentos têm buscado e facilitado alianças tecnológicas com
empresas de bens de capital no país. Este movimento está gerando respostas positivas de
outras empresas em melhorar as condições competitivas existentes no intuito de não perder
participação no mercado fornecedor de máquinas e equipamentos.
No tocante ao fornecimento das principais matérias-primas, observa-se que se
encontra consolidado e com capacidade de atendimento de demanda regional. A segunda
geração petroquímica garante a oferta de resinas tais como polipropileno, PVC e outras, sem
que haja possibilidades de ocorrência de problema de abastecimento. Além desta condição,
considera-se como handcap favorável a localização do arranjo em estudo situar-se entre os
dois principais pólos petroquímicos do país: São Paulo e Rio Grande do Sul. Corrobora,
também, a presença de representantes comerciais, distribuidores e atacadistas no local que se
encarregam de fornecer os insumos: PET, PVC, PV e outros, no intuito de atender as
necessidades das empresas transformadoras de plástico.
3.6.2.5 Incentivos públicos
Empresas do arranjo de transformados plásticos utilizam-se de incentivos públicos
oferecidos pelo Governo estadual para realizarem processos de modernização e expansão da
planta industrial. O financiamento oferecido pelo Programa de Desenvolvimento da Empresa
Catarinense (PRODEC) possibilita as empresas utilizarem parte valor do tributo (ICMS) que
deveria ser recolhido aos cofres públicos para que seja destinado a investimentos em compra
de máquinas e equipamentos, aumento do tamanho da planta industrial, adoção de novas
técnicas produtivas, etc, com o compromisso de recolhimento futuro.
318
Tabela 3.6.15 - Principais empresas do arranjo produtivo de transformados plásticos da região Nordeste do estado de Santa Catarina beneficiadas pelo financiamento PRODEC – 1998-2004 ATIVIDADE NOME MUNICÍPIO EMPREGOS A
SEREM GERADOS MONTANTE DO
FINANCIAMENTO (1) Cryovac Embalagens Ltda. Jaraguá do Sul 100 8.877.592,00 Tecnoperfil Plásticos Ltda. Joinville 150 2.135.000,00
Amanco Brasil Ltda. Joinville 205 32.225.000,00 Ilpea do Brasil Ltda. Joinville 200 7.687.500,00
Tecnofibras S.A. Unidade 2 Joinville 90 2.676.000,00 Tecnofibras S.A. Unidade 1 Joinville 80 2.737.800,00
AB Plast Manufaturados Plásticos Ltda. Joinville 94 3.064.000,00 Socem do Brasil Ltda. Joinville 12 835.416,36
Krona Indústria de Plásticos Ltda. Joinville 44 9.452.655,79 Sistemas de Identificação Animal Ltda. Joinville 120 9.994.238,00
APL da Região de Joinville
Ilpea do Brasil Ltda. Joinville 160 11.530.900,00
Fonte: Secretaria de Planejamento do Estado de Santa Catarina / PRODEC. (1) Em R$.
Neste sentido, constata-se que no período de 1998-2004, diversas empresas recorreram
a este benefício gerando, em contrapartida, empregos na região em estudo, conforme a Tabela
3.6.15. Grandes e médias empresas como a Amanco e a Tecno fibras, entre outras,
demandaram recursos que no total do período alcançam a cifra em torno de R$ 70.000.000,00
e geração próxima de 1.000 empregos.
3.3.2.6 Nível e capacitação tecnológica
O nível tecnológico das empresas de transformados plásticos mostra-se distinto por
porte empresarial, sendo que as grandes e médias, e parte das pequenas empresas, se
encontram capacitadas a atender às especificações técnicas e padrões de qualidades exigidos.
Enquanto parte significativa de MPEs ainda se encontra defasada em temos de tecnologia,
processos, práticas organizacionais. Considera-se neste aspecto o mercado atingido pelas
empresas, pois empresas de maiores portes atuam em mercados específicos cujos produtos
requerem maior conteúdo tecnológico, enquanto as micro e pequenas empresas alcançam
mercado plástico abrangente.
Por sua vez, o setor vem passando por transformações tecnológicas em face do
aumento das exigências tecnológicas feitas pelas fornecedoras das grandes empresas no
mercado. Esta exigência na cadeia produtiva tem conduzido à realização de esforços voltados
em aumentar a capacitação tecnológica. No mesmo sentido, o ingresso de empresas
multinacionais no setor a partir do estabelecimento de plantas industriais no país na produção
de plásticos a partir de extrusão rígida de PVC e de injeção em moldes tem exigido respostas
319
empresariais, sobretudo das de grandes e médios portes, levando-as ao aprimoramento
tecnológico e a alianças tecnológicas.
Contudo, de uma forma geral, como um setor receptor de tecnologia, há influência
sobre o nível tecnológico exigido à montante e à jusante. À montante do setor, a indústria de
máquinas e equipamentos e em particular a de molde de fabricação impulsiona a dinâmica
tecnológica com produtos que aumentam a qualidade e a quantidade dos plásticos fabricados,
bem como reduzem as perdas, tempo de produção e custos industriais. À jusante recebe dos
clientes impulso a partir de design para fabricação de peças dedicadas, proporcionando
incentivo para mudança técnica que atenda às necessidades e interesses dos consumidores.
Por sua vez, a área de desenvolvimento e design é considerada limitada em face de
razões estruturais que conformam muitos setores industriais. Fatores limitadores presentes em
segmentos como móveis, têxtil-confecções, calçados, entre outros, se verificam no segmento
de transformados plásticos no tocante à utilização do design como fator competitivo. Dentre
os fatores citados, destacam-se: precária formação técnica de designer, baixos investimentos
destinados a criar condições próprias para desenvolvimento em design, comodismo
empresarial em face da visão de que a prática interna da empresa forma o designer e etc.
Ainda que haja espaços para serem melhorados, sobretudo na capacitação tecnológica
para atender segmentos à jusante – clientes – a indústria atende um mercado cuja estrutura de
demanda apresenta um parque industrial relativamente completo e integrado e com padrão de
consumo que não se distancia muito dos países desenvolvidos (SOUZA, 2002). Entretanto, o
nível e capacidade tecnológica das empresas estão proporcionando mudança na estrutura
industrial em face do aprofundamento da assimetria tecnológica entre empresas. Está-se
firmando uma divisão clara no segmento, onde a produção de plásticos de maior valor
agregado está ficando concentrada em poder das empresas estrangeiras e algumas nacionais
de grande porte, enquanto a maioria das empresas nacionais está sendo deslocada para a
produção de artefatos menos complexos e de margens menores.
Por sua vez, os esforços de capacitação tecnológica existentes ocorrem através de
mecanismos formais e informais de aprendizagem tecnológica. Grandes empresas, como a
Tigre, Amanco e Interfibra, do arranjo em estudo dedicam percentual para infra-estrutura
interna existente, com gastos anuais para P&D, onde o aprendizado na sua forma learning by
searching resulta em inovações incrementais importantes em produtos destinados à indústria
da construção civil. Contudo, micro e pequenas empresas não possuem infra-estrutura
tecnológica formalmente constituída, cujos processos inovativos decorrem em grande monta
por mecanismos informais, em particular nos processos produtivos realizados no interior da
320
planta industrial através do aprender por fazer – learning by doing – estimulado pelo
conhecimento e experiência de trabalhadores em sua atividade produtiva.
Por ser uma indústria cujos segmentos à montante e à jusante exercem influência no
desenvolvimento tecnológico das empresas atuantes no setor de transformados plásticos,
fornecedores e clientes são atores importantes em estimular processos inovativos. Neste
contexto, os mecanismos de aprendizagem por interação e por uso – learning by interacting e
learning by using – promovem mudanças técnicas tanto de processo como de produto. No
âmbito dos fornecedores de equipamentos e insumos, ocorrência de trocas de informações
tecnológicas, manutenção de visitas periódicas, assistência técnica-tecnológicas e etc; e no
campo dos clientes, pesquisa de mercado sobre tendências, solução de problemas tecnológicos
apontados, entre outros aspectos, geram fortes estímulos em favor do processo inovativo de
característica incremental, fortemente estimulado pela capacidade de diferenciação de produto
que esta indústria possui no campo dos fornecedores de equipamentos e insumos.
3.6.2.7 Cooperação e governança
No arranjo em estudo, observa-se a liderança das grandes empresas produtoras de
transformados plásticos voltados à construção civil, Tigre e Akros, que através de processos
de terceirização comandam uma rede de cooperação em diferentes tipos de prestação de
serviços e oferta de produtos. Tais empresas ditam o ritmo da atividade local, impulsionando
e restringindo a dinâmica produtiva, justiçada pela magnitude das demandas perante outras
empresas.
Por outro lado, em segmento de transformados plásticos de menor valor agregado,
existe grande rivalidade entre empresas atuantes, dificultando ações que geram benefícios
coletivos. A rivalidade de preços sem a busca de redução de custos conduz em muitos casos à
guerra de preços estimulando ações individuais e inviabilizando ações coletivas, como forma
de sobrevivência empresarial.
Contudo, a despeito da rivalidade colocada no âmbito do mercado consumidor
observa-se no interior do processo produtivo, sobretudo em produtos com características
específicas definidas, a ocorrência de relações cooperativas entre empresas transformadoras
de plástico e empresas produtoras de moldes para plásticos. Em face da natureza da forma que
o produto vai assumir, interagem trabalhadores e técnicos especializados na definição do
321
design, em testes de protótipo e etc., enraizando relações técnico-produtivas importantes no
processo produtivo que se desenvolve no local.
A principal associação representativa de classe é o SIMPESC que exerce liderança
junto às empresas, em particular sobre as empresas de pequeno porte cujas ações citadas são
pautadas mais pela individualidade do que formas cooperativas. Como representante
institucional do setor constituí seu interlocutor junto a outras instituições tais como a
Associação Brasileira da Indústria de Material Plástico (ABIPLAST), Federação das
Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC), Governo do Estado de Santa Catarina, entre
outros.
Duas importantes ações recentes marcam a gestão do SIMPESC no arranjo em estudo.
A primeira, relacionada à realização de feiras e eventos no arranjo, como a promoção da 2a.
Feira Nacional de Integração da Tecnologia do Plástico, neste ano de 2005, em parcerias com
outras instituições como a ABIPLAST, FIESC e Associação Brasileira da Indústria de
Máquinas (ABIMAQ) e o Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequenas Empresas
(SEBRAE), cujo número de participantes ultrapassou representantes de 250 empresas. E, a
segunda, relacionada à convocação de empresas a participarem do programa “APL da
Indústria de Plástico” desenvolvido em parceria com o SEBRAE voltado à realização de
estudos sobre gestão das empresas, apoiando seminários de capacitação, consultoria de
mercado, entre outros.
3.6.2.8 Vantagens, dificuldades e políticas de desenvolvimento
3.6.2.8.1 Vantagens
O arranjo produtivo de transformados plásticos apresenta uma estrutura produtiva que
contribui de forma significativa para Santa Catarina figurar como segundo maior produto de
plástico do país, em torno de 15% da produção nacional, considerando que praticamente 60%
da produção estadual provém deste espaço produtivo. Contribui de forma significativa para
tanto a presença de grandes empresas no local, 4 das 10 maiores do país. Da mesma forma,
registra-se a contribuição de médias e parte de pequenas empresas com estruturas produtivas
que acompanham tendências tecnológicas ditadas pelo setor, cujo reflexo ocorre em termos de
maior quantidade e melhor qualidade dos produtos, bem como em menores custos e perdas
em processos produtivos.
322
Corroboram neste sentido os canais de atendimento do mercado consumidor, num
primeiro plano estabelecido pelas grandes e médias empresas que possuem fortes relações
comerciais com atacadistas e distribuidores no país, sobretudo a Tigre e a Akros. Existe uma
competência conquistada por estas empresas, onde a publicidade, o marketing de
relacionamento, o merchandising e as fortes relações com distribuidores – varejistas exploram
o conceito marca/empresa que garantem elevada participação de vendas no mercado nacional.
Constitui, também, um handcap competitivo favorável no setor que são os gastos em
P&D, num primeiro plano, pelas grandes empresas que possuem infra-estrutura tecnológica
que permite explorar as oportunidades que se abrem a partir da base tecnológica existente,
diferenciando produtos dentro do escopo de suas especialidades produtivas. Porém médias e
parte de pequenas empresas realizam esforços de capacitação tecnológica explorando as
possibilidades que se abrem nos mecanismos informais de aprendizagem, beneficiando-se das
qualidades do produto que permitem inovações de produtos em maior dimensão do que outros
no mercado.
Assim como, aponta-se como um elemento importante na criação de vantagens
competitivas na indústria local de transformados plásticos, a existência de um número
significativo de empresas do segmento da metal-mecânica, que dentre suas atividades produz
moldes para a indústria de plástico. Estudos apontam a existência de pouco mais de 50
empresas formais ligadas à produção de molde, porém relatos de pesquisa de campo registram
quase 3 centenas de empresa de molde, em sua grande maioria exercendo atividade informal,
dado que é característica desta atividade possuir até 10 empregados (RESENDE e GOMES,
2003). As relações que se formam entre empresas de transformados plásticos com empresas
fabricantes de molde desenvolve uma rede de cooperação gerando externalidades positivas
com efeitos de ganhos competitivos.
3.6.2.8.2 Obstáculos
Enquanto as empresas de maiores portes procuram se atualizar tecnologicamente em
face da dinâmica concorrencial, sobretudo por pressões dos produtos importados e de
empresas multinacionais que adentram o espaço produtivo doméstico, as de pequeno porte
deparam com dificuldades que limitam o processo de crescimento. Dentre os obstáculos
citados destacam-se as dificuldades de atender aos requisitos para a implantação da ISO 9000,
323
elevados impostos para importação de equipamentos sem similar nacional e inexistência de
financiamento para aquisição de tecnologia de ponta externa.
Outra realidade existente neste segmento transformador de materiais plásticos
encontra-se na pouca inserção no mercado externo. A produção destina-se em grande
proporção ao mercado interno, deixando transparente a falta de mentalidade exportadora no
setor. A existência de um mercado interno amplo cuja demanda feita, em grande parte, pelos
segmentos industriais garante de forma satisfatória a capacidade produtiva das empresas.
Além deste aspecto, citam-se outros fatores restritivos: distância entre produtores
exportadores e governo, barreiras não tarifárias – quotas para importação, barreiras técnicas e
falta de articulação entre empresários no compartilhamento de recursos e serviços, e
deficiente estrutura portuária e elevado custo dos fretes marítimos.
Coloca-se como problema estrutural deste setor o baixo desenvolvimento na área de
design, impossibilitando aproveitar as condições estruturais de produção existentes. Carece o
setor no arranjo em estudo de cursos de formação e treinamento em design, cuja formação do
profissional ocorre em grande proporção no exercício cotidiano da função exercida nas
empresas. Empresários, por sua vez, não colocam entre suas preocupações de investimento a
área de designer, com isso, até a formação in house baseada na aquisição de experiência e
habilidade do trabalhador na função fica limitada. Esta limitação, por sua vez, restringe a
ocorrência de ações interativas com o segmento da metal-mecânica fabricador de moldes para
a indústria de materiais plásticos.
Dificuldades de acesso ao crédito constitui um elemento a construção de melhores
condições competitivas, sobretudo para as MPEs. Segundo Souza (2002), as possibilidades
reduzidas de acesso ao financiamento e seus elevados custos acabam inviabilizando salto de
empresa de menores porte em atualização tecnológica de sua planta produtiva. Esta
dificuldade estende-se para o segmento produtor de moldes e acessórios para moldagem de
plásticos, gerando círculo vicioso por limitar o processo de criação de design.
Existem críticas pela inexistência de um centro tecnológico no local. Dada a
importância produtiva deste produto, tanto em nível estadual como local, a falta de uma
instituição de apoio tecnológico voltado à prestação de serviços tecnológicos (testes, ensaios,
cursos, assistência técnica, etc) e ao desenvolvimento de pesquisas (produto e processo) cria
obstáculos para empresas se beneficiarem de externalidades positivas geradas no local.
Outras dificuldades são citadas como obstáculos à obtenção de maior competitividade
e colocam as empresas em posição desfavorável perante os concorrentes externos. Citam os
empresários que a elevada carga tributária situada entre 28% a 32% no custo final do produto
324
elevam o preço final e restringem a demanda no mercado. Assim como, apontam a fraca da
atuação do INMETRO na avaliação dos produtos importados, facilitando, por conseqüência a
entrada no mercado interno (SOUZA, 2002).
3.6.2.8.3 Política de desenvolvimento
Considerando que o desenvolvimento tecnológico constitui um dos itens a serem
continuadamente perseguidos, não somente pela necessidade de empresas atualizarem os
processos produtivos, mas também pela construção de capacidade voltada para explorar as
janelas de oportunidades que abrem na criação de produtos com maior valor agregado. Nestes
termos, sugerem-se as seguintes ações: a) incentivar empresas a criarem infra-estrutura
tecnológica interna; b) estimular a realização de acordos para desenvolvimento tecnológico
entre empresas nacionais e estrangeiras; c) criar linhas de financiamento para aquisição de
máquinas e equipamentos; incentivar; e d) estimular a P&D em universidades e centros de
pesquisas; e d) criar centro tecnológico local com infra-estrutura para desenvolvimento de
pesquisa e ensino.
No campo de capacitação de recursos humanos, o escopo de abrangência da política de
desenvolvimento setorial deve abarcar tanto trabalhadores como empresários, considerando
que a construção de competências empresarial envolve tanto pessoas que desenvolvem
atividades no processo de produção como de outras que tomam decisões estratégicas. Neste
sentido, propõem-se a seguintes ações: a) estimular empresas a criarem programa de incentivo
para formação e capacitação profissional de trabalhadores; b) criar cursos de aperfeiçoamento
gerencial para gerentes, diretores e empresários c) promover maior envolvimento institucional
para realização de ações destinadas à capacitação de pessoas; e d) apoiar a criação de cursos
de formação de mão-de-obra especialista em plástico nos níveis técnico e superior nas áreas
de processamento, design e engenharia de materiais.
Vinculado a setor de transformados plásticos encontra-se o segmento voltado à
produção de moldes, cujas interações são fundamentais para o desenvolvimento dos processos
produtivo e inovativo. Considerando-se que o estágio de desenvolvimento do segmento
produtor de moldura plástica pode tanto promover bem como constituir em barreira à
expansão de transformadores de plástico, sugerem-se as seguintes ações: a) estimular a
atualização tecnológica das empresas através de mecanismos tarifários favoráveis à
importação de bens de capital sem similar nacional; b) incentivar a compra de máquinas e
325
equipamentos de origem nacional; c) criar linha de financiamento para aquisição de máquinas
e equipamentos nos mercados nacionais e externos; d) criar programa especial para
substituição de máquinas e equipamentos obsoletos em termos de estágio tecnológicos; e)
fomentar programas de capacitação de recursos humanos em áreas tecnológicas e gerenciais.
A indústria de transformação de plástico volta sua produção, em grande proporção
para o mercado doméstico, porém possui condições estruturais para contribuir na geração de
divisas externas para país. Neste sentido, sugerem-se as seguintes ações: a) criar programa de
conscientização empresarial acerca da importância de comercializar produtos no mercado
externo; b) realizar estudos acerca das características do mercado consumidor do país
importador; c) promover formas de divulgação dos produtos nacionais no exterior; d) realizar
consórcios de exportação para empresas de pequeno porte; e) criar regimes de incentivos
fiscal e creditício à exportação; e f) orientar as exportações para países com potencial de
mercado consumidor, além dos Estados Unidos e União Européia.
3.6.3 APL DE TRANSFORMADOS PLÁSTICOS DA REGIÃO SUL
3.6.3.1 Configuração e trajetória de constituição do APL
O APL de materiais plásticos da região Sul de Santa Catarina envolve cinco cidades
além de Criciúma, cidade-pólo regional. O arranjo abrange ainda os municípios de Içara,
Orleans, São Ludgero, Urussanga e Siderópolis. Este APL emprega 9,0% da população
formalmente empregada da região, cerca de 5.566 de um total de 61.464 existentes nesta
indústria em nível estadual (RAIS, 2001).
O surgimento deste APL está diretamente relacionado ao processo de diversificação e
ampliação produtiva que a economia regional adentra nos anos 1970, com o início da crise da
atividade carbonífera, que fulmina nos anos 1980 e atinge seu auge nos 1990. Os empresários
dessa atividade passaram a diversificar seus investimentos em outras atividades com os
excedentes do carvão visando ampliar as possibilidades de acumulação. Com esta crise
acelera-se o processo de diversificação produtiva na região, dentre os quais a produção de
vestuário, de cerâmica de revestimento e cerâmica vermelha, de plásticos, de eletro-metal-
mecânica, entre outros.
O setor de transformados plásticos demonstra trajetória de desempenho positivo na
região, uma vez que, em poucos anos assume a liderança na produção do segmento de
326
transformados de plásticos descartáveis no país. Esta trajetória, por sua vez, foi constituída de
forma gradual, sem planejamento prévio e amparada na iniciativa do empresariado local, que
iniciou suas atividades com a produção de plásticos flexíveis. Os fatos apontam que as
primeiras empresas produtoras foram responsáveis pelo surgimento de novas empresas e pela
diversificação da atividade de embalagens flexíveis para a produção de descartáveis, passando
a ser produzida, em paralelo, sem ruptura de segmento produtivo.
A empresa Incoplast marca o surgimento deste setor na região. Foi fundada em 1962
no município de São Ludgero, apresentava estrutura familiar e era especializada na produção
de chinelos e calçados de PVC. Esta empresa adentra no segmento de embalagens em 1970,
período a qual já pertence ao mesmo Grupo de empresas que a Minasplast (da família
Schlickmann), fundada em 1977 na cidade de Urussanga, especializada na produção de
descartáveis plásticos (copos, pratos, bandejas e potes).
Outra empresa que marca o início destas atividades é a Plazom – Zomer Indústria de
Plásticos Ltda. criada em 1967 no município de Orleans e iniciou suas atividades na produção
de embalagens e sacolas plásticas. Nos anos 1970 se estabelece no município de Criciúma a
empresa Canguru Embalagens S.A., pertencente ao Grupo Zanatta, especializada na produção
de embalagens flexíveis plásticas, sendo uma das maiores produtoras deste segmento do país.
A partir desta empresas surgem várias micro e pequenas empresas em torno,
completando a oferta de produtos de materiais plásticos regional. Corrobora fortemente para
esta ocorrência o desempenho positivo das empresas pioneiras, somando-se as baixas
barreiras à entrada na indústria e a crescente demanda pelos produtos no mercado nacional. Se
nos anos 80 ocorre o fortalecimento deste setor produtivo, nos anos 1990 se processa a
expansão desta atividade em face da ampliação do mercado consumidor.
3.6.3.2 Caracterização sócio-produtiva e perfil da comercialização
No APL de materiais plásticos, especializado na produção de descartáveis e
embalagens, estão estabelecidas cerca de 66 empresas, segundo dados da RAIS (2001). Estas
empresas estão fortemente concentradas nas localidades de Criciúma e Orleans, conforme
Tabela 3.6.16.
327
Tabela 3.6.16 - Número de estabelecimentos por município produtor do arranjo produtivo de transformados plásticos da região Sul do estado de Santa Catarina - 2001
NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS CIDADE
Micro Part. (1) Pequena Part. (1) Média Part. (1) Grande Part. (1) Total Part. (1)
Criciúma 12 63.1 5 26,3 1 5,3 1 5,3 19 100 Içara 3 50,0 1 16,7 2 33,3 0 0,0 6 100 Orleans 8 50,0 4 25,0 4 25,0 0 0,0 16 100 São Ludgero 8 57,1 3 21,4 2 14,3 1 7,2 14 100 Siderópolis 1 33,3 2 66,7 0 0 0 0,0 3 100 Urussanga 2 25,0 4 50,0 2 25,0 0 0,0 8 100
TOTAL 34 51,5 19 28,8 11 16,6 2 3,0 66 100
Fonte: RAIS, 2001. (1) Participação em percentual no conjunto das empresas da região.
A pesquisa de campo revela que essas empresas atuam como geradores de emprego e
renda na região. Em termos de escolaridade dos trabalhadores, verifica-se concentração nos
graus de ensino nos itens ensino de até fundamental incompleto e completo, representando
mais de 50,0% para qualquer porte de empresas, sendo muito baixo o número de funcionários
com escolaridade de nível superior completo ou em andamento, como pode ser visto na
Tabela 3.6.17.
Tabela 3.6.17 - Escolaridade do pessoal ocupado nas empresas do arranjo produtivo de transformados plásticos da região Sul do estado de Santa Catarina - 2002
MICRO PEQUENA MÉDIA GRANDE GRAU DE ENSINO
Emp. (1) Part. (2) Emp. (1) Part. (2) Emp. (1) Part. (2) Emp. (1) Part. (2)
Analfabeto 1 1,2 5 0,6 14 0,8 1 0,1 Fundamental. Incompleto 45 26,5 206 26,5 619 34,0 384 27,9 Fundamental Com. 57 33,5 189 24,3 655 35,9 414 30,1 Médio Incompleto. 9 5,3 83 10,7 90 4,9 175 12,7 Médio Completo. 40 23,5 228 29,3 335 18,4 334 24,3 Superior Incompleto. 6 3,5 37 4,8 52 2,9 19 1,4 Superior Completo. 11 6,5 25 3,2 57 3,1 50 3,6 Pós-graduação 0 0,0 4 0,5 0 0,0 0 0,0
TOTAL 170 100,0 777 100,0 1.822 100 1.377 100,0
Fonte: Pesquisa de campo (2003). (1) Número de empregados em valores absolutos. (2) Participação em percentual no total de empregados.
Para o empresariado local, a falta de mão-de-obra de escolaridade superior não
representa obstáculos para o processo produtivo dado que a atividade desenvolvida pelos
mesmos não incorpora muita complexidade e as funções desenvolvidas no processo são de
fácil aprendizado, no entanto eles revelam preocupação em elevar o nível de escolaridade para
os funcionários alocados nas áreas administrativas e financeiras.
No tocante às relações de venda, este APL destina sua produção majoritariamente para
o mercado interno, correspondendo a mãos de 50% do total produzido, como pode ser visto na
Tabela 3.6.18. Este quadro revela que as estratégias comerciais das empresas em geral
voltam-se para o mercado consumidor doméstico, deixando de aproveitar as possibilidades de
expansão que o mercado externo poderia representar. Particularmente para o caso das MPEs,
328
o mercado nacional representa o foco na realização das vendas, superior a 50% da produção,
no entanto em termos de segundo maior mercado, para as micro empresas o mercado regional
se destaca com 27,2% e para as pequenas o mercado estadual, com 28,7%. No caso das
médias e grandes empresas o mercado estadual assume a segunda posição com 14,3% e 3,8%,
respectivamente.
As exportações são nulas ou irrisórias, as grandes empresas são as que destinam
parcela de sua produção para o mercado externo, principalmente para o Mercosul, porém o
mercado externo ainda não é foco das estratégias comerciais no APL, no entanto fazem certo
esforço para colocar os produtos domésticos fora das fronteiras nacionais, mesmo que
incipientes.
Tabela 3.6.18 - Destino das vendas das empresas do arranjo produtivo de transformados plásticos da região Sul do estado de Santa Catarina – 1990, 1995, 2000, 2002
ANOS DESTINO
1990 1995 2000 2002
1. Micro 1.1. Local 0,0 0,0 22,4 27,4 1.2. Estado 0,0 0,0 19,4 18,7 1.3. Brasil 100,0 100,0 56,9 52,7 1.4. Exportação 0,0 0,0 1,3 1,3 TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 2. Pequena 2.1. Local 40,0 15,0 19,0 12,0 2.2. Estado 30,0 30,0 32,5 28,7 2.3. Brasil 30,0 55,0 47,9 56,4 2.4. Exportação 0,0 0,0 0,6 2,9 TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 3. Média 3.1. Local 2,5 2,0 2,8 5,3 3.2. Estado 2,5 3,5 1,5 3,6 3.3. Brasil 95,0 94,0 94,3 90,7 3.4. Exportação 0,0 0,5 1,5 0,4 TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 4. Grande 4.1. Local 0,0 0,0 1,8 1,3 4.2. Estado 0,0 0,0 3,8 3,8 4.3. Brasil 0,0 0,0 92,0 92,5 4.4. Exportação 0,0 0,0 2,5 2,5 TOTAL 0,0 0,0 100,0 100,0
Fonte: Pesquisa de campo (2003). Nota: Valores em percentual.
No campo da logística de transporte, o trecho da BR 101 que liga o arranjo ao Sul com
o estado do Rio Grande do Sul, e ao norte com os estados da região Sudeste, encontra-se em
precárias condições no trecho sem duplicação Osório-Florianópolis. Ainda que a duplicação
da rodovia tenha sido aprovada pelo Governo Federal, o processo encontra-se extremamente
moroso, dificultando o acesso aos mercados regionais atendidos.
329
3.6.3.3 Arcabouço institucional público e privado
O APL também apresenta um conjunto de instituições públicas e privadas que atuam
nas áreas da educação, de representação dos interesses de classes, de pesquisa científico-
tecnológica e financeiras, como descrito sucintamente no Quadro 3.6.2.
INSTITUIÇÃO ANO DE FUNDAÇÃO
ÁREA DE ATUAÇÃO
PRINCIPAIS FUNÇÔES E FILIADOS
ENSINO
ESUCRI 2001 Local Estadual
Capacitação profissional - 3 cursos superiores
SATC 1959 Loca Estadual
Capacitação profissional – 8 cursos técnicos
FASC 2000 Local Estadual
Capacitação profissional - 1 curso superior e 1 de pós-graduação
UNIVERSITÁRIO 1996 Local Estadual
Capacitação profissional - 3 cursos técnicos
UNESC 1997 Local Estadual
Capacitação profissional – 10 cursos superiores
SENAI 1963 Local Estadual Capacitação profissional – 2 cursos técnicos
TECNOLÓGICA
IPAT 1994 Local
Estadual Nacional
Serviços laboratoriais (análises de influentes e parâmetros físico-químicos de matérias-primas)
CTCMAT 1995 Local
Estadual Nacional
Consultoria, assessoria, pesquisas e prestação de serviços de educação profissional (oferta 10 cursos de capacitação) e
serviços laboratoriais REPRESENTAÇÃO
SINPLAC 1990 Estadual Defender a categoria perante as autoridades administrativas e jurídicas e promover convenções coletivas de trabalho/ 18
filiados
SINDESC 2000 Estadual Representar as empresas de descartáveis plásticos/ 7 filiados
ABRADE 1988 Nacional Representar as empresas de descartáveis plásticos/ 8 filiados
FITIESC 1983 Local Representar os trabalhadores, reivindicar melhores condições de trabalho, oferecer serviços médico,
odontológico e jurídico.
ACIC 1944 Local
Representar as empresas associadas em demandas econômicas e políticas e prestar assessoria jurídica/10
filiados FINANCEIRA E DE FOMENTO BANCO DO BRASIL Nacional Concessão de crédito BRADESCO Nacional Concessão de crédito CEF Nacional Concessão de crédito SEBRAE Nacional Agência de fomento
Fonte: Pesquisa de campo. Quadro 3.6.2 - Caracterização das principais instituições presentes no APL de transformados plásticos da região Sul do estado de Santa Catarina - 2003
Encontram-se no arranjo em estudo, várias instituições que atuam na área da educação,
ofertando cursos diretamente relacionados à atividade em foco. Tem-se o curso de Técnico
em Plásticos, oferecido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) em
parceria com o Serviço de Assistência dos Trabalhadores do Carvão (SATC), o curso de
330
ensino superior em Polímeros ministrado na Universidade do Extremo Sul de Santa Catarina
(UNESC) que oferta em conjunto com o SENAI-CTM, nas dependências da SATC. No
ensino superior há o curso de Engenharia em Materiais oferecido pela UNESC. Com relação à
infra-estrutura indireta, tem-se a presença de várias escolas técnicas de segundo grau,
profissionalizantes e de ensino superior.
Em termos de infra-estrutura tecnológica cita-se o Centro Tecnológico de Cerâmica e
Materiais (CTCMAT), que oferta serviços e informações tecnológicas, cursos de nível técnico
e superior em parceria com professores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
assim como desenvolve atividades de pesquisas e desenvolvimento. Existem também no
arranjo instituições que se voltam para representar os interesses de classes, como é o caso das
Associações e dos Sindicatos Patronais de abrangências nacional, estadual e local. Os
empresários são representados, por exemplo, pela Associação Brasileira de Descartáveis
Plásticos (ABRADE), a Associação Comercial e Industrial de Criciúma (ACIC), o Sindicato
da Indústria Plástica do Sul Catarinense (SINPLASC), e o Sindicato das Indústrias de
Descartáveis Plásticos do Estado de Santa Catarina (SINDESC), exclusiva para o segmento de
descartáveis.
3.6.3.4 Fornecedores de insumos e de máquinas e equipamentos
As empresas produtoras do arranjo produtivo em estudo são dependentes de
fornecedores externos ao arranjo. Os principais fornecedores de máquinas e equipamentos
estão estabelecidos fora do país, destacando-se a Itália, Alemanha e São Paulo, assim como os
fornecedores de resinas (principal matéria-prima) são dos estados do Rio Grande do Sul e de
São Paulo. Os fornecedores locais são responsáveis pelo fornecimento componentes e
insumos complementares.
Estabeleceu-se nesse arranjo, em paralelo às empresas produtoras, empresas
fornecedoras que desenvolvem atividades relacionadas aos elos à montante da cadeia
produtiva de transformados plásticos. Existem empresas fornecedoras de insumos (tintas e
corantes), de peças e componentes (dos segmentos de mecânica, metalúrgica e de material
elétrico).
Existem na região em torno de 47 empresas fornecedoras, distribuídas em quatro
fabricantes de aditivos, dois produtores de resinas termofixas, quatro fabricantes de
331
impermeabilizantes, solventes e outros produtos correlatos, 30 produtores de máquinas e
equipamentos de uso geral e 7 fabricantes de máquinas-ferramenta, conforme Tabela 3.6.19.
Tabela 3.6.19 - Produtores locais do arranjo produtivo de transformados plásticos da região Sul do estado de Santa Catarina - 2002
PRODUTOS EMPRESAS Aditivos 4 Resinas termofixas 2 Impermeabilizantes, solventes e outros produtos correlatos 4 Máquinas e equipamentos de uso geral 30 Máquinas-ferramenta 7 TOTAL 47 Fonte: RAIS, 2002.
Esses estabelecimentos dão suporte ao processo produtivo de materiais plásticos no
fornecimento de insumos básicos e na prestação de assistências técnicas. Esta proximidade
permite maior eficácia nas relações transacionadas entre os agentes.
3.6.3.5 Incentivos públicos
A trajetória de desenvolvimento do arranjo revela algumas ações que se voltam para a
promoção do arranjo, visando o seu crescimento. Destaca-se a criação do CTCMAT, uma das
unidades do SENAI, cuja fundação foi resultado de ações conjuntas institucionais públicas e
privadas e atualmente atende à demanda das empresas prestando serviços tecnológicos e
qualificando mão de obra, a partir de serviços laboratoriais e da oferta de cursos relacionados
ao setor.
As empresas do arranjo de transformados plásticos da região Sul procuram se
beneficiar das condições oferecidas pelo Governo estadual, para promoverem processos
reestruturantes em seus parques produtivos. Deixando de recorrer parte dos tributos no
presente para utilizá-los para compra de máquinas e equipamentos e de expansão da planta
industrial, entre outros motivos, mas com compromisso de pagamento futuro, empresas se
comprometem em aumentar a capacidade produtiva e gerarem novos empregos na região.
Nestes termos, contata-se, segundo a Tabela 3.6.20, a demanda de sete empresas de recursos
do PRODEC no período de 1998-2004, totalizando o montante da ordem de R$ 52 milhões e
a geração de 600 empregos.
332
Tabela 3.6.20 - Principais empresas do arranjo produtivo de transformados plásticos da região Sul do estado de Santa Catarina beneficiadas pelo financiamento PRODEC – 1998-2004
ATIVIDADE NOME MUNICÍPIO EMPREGOS A
SEREM GERADOS
MONTANTE DO FINANCIAMENTO (1)
Copobras Indústria de Plásticos Ltda.
São Ludgero 270 11.475.000,00
Thermovac Embalagens Plásticas Ltd.
Urussanga 30 5.632.740,00
Diplastic Ind. e Com. de Embal. Ltda. Criciúma 45 1.401.850,00
Cristal Indústria e Comércio de Plásticos Ltda.
Morro da Fumaça 58 2.756.410,00
Canguru Embalagens Criciúma Ltda.
Criciúma 62 18.518.925,00
Chromo Ind. e Com. de Embalagens Ltda. Criciúma 72 1.819.690,67
APL da Região de Criciúma
Zumplast Indústria de Plásticos Ltda.
Tubarão 40 7.482.870,00
Fonte: Secretaria de Planejamento do Estado de Santa Catarina / PRODEC. (1) Valores em R$.
3.6.3.6 Nível e capacitação tecnológica e para a inovação
As características das propriedades da tecnologia envolvidas nesse arranjo produtivo
em estudo, possibilitam a descrição do ambiente tecnológico ao qual as empresas produtoras
do arranjo estão inseridas. Pode-se verificar baixas condições de oportunidade tecnológica,
dada a inexistência de grandes incentivos para a inovação em termos de recursos em pesquisa,
a tecnologia caracteriza-se como madura e estável, a aplicabilidade dos novos conhecimentos
limitam-se para poucos produtos e mercados e as fontes das oportunidades tecnológicas estão
diretamente associadas aos mecanismos informais dos processos de aprendizado. Este quadro
envolve também baixas condições de apropriabilidade (falta de sistema eficaz de proteção
para os processos inovativos) e baixo nível de cumulatividade do conhecimento (fácil acesso e
difundido). Estas características limitam o surgimento radical de novos produtos e processos.
As empresas produtoras esforçam-se no desenvolvimento de capacidades voltadas
para a introdução de produtos e processos que resultem em ganhos de eficiência e aumento da
competitividade, no entanto, as próprias características tecnológicas do APL revelam o caráter
incremental nas inovações introduzidas. Este comportamento é verificável em mais de 50,0%
das empresas da amostra do APL, que introduziram produtos e processos novos para a
empresa no ano de 2002. Para ambos os produtos desenvolvidos não são pioneiros para o
mercado, mas no âmbito das inovações em processos algumas empresas introduziram
processos tecnológicos novos para o setor de atuação.
333
As empresas destinam esforços no sentido de melhorarem a qualidade de seus
produtos, efetuaram modificações nos designs e recorreram a transformações organizacionais.
Dentre as mudanças organizacionais implementaram-se novos conceitos e práticas de
comercialização e marketing e novas técnicas de gestão (célula de produção, círculo de
controle de qualidade, controle por unidade de negócios, entre outros). Porém, no tocante aos
novos métodos voltados para o atendimento de normas de certificação, por exemplo as ISO
9000 e 14000, verificou-se pouca preocupação.
As inovações de produtos têm focado as mudanças na apresentação de produtos, que
passaram a ser desenvolvidos com menor espessura e maior resistência. Além disso,
registram-se mudanças nos formatos e na coloração, com acentuação nas formas e cores em
consonância com os designs. No tocante às inovações de processo, em termos de insumos e
matérias-primas, recorre-se à utilização de novas resinas e mudanças na composição dos
produtos, cujo resultado é maior qualidade e resistência, também houve a introdução de novas
máquinas e equipamentos no processo produtivo, utilizando-se máquinas modernas que
permitiram maximizar a utilização das matérias-primas e demais insumos, bem como o
aumento da produtividade.
Verifica-se que as empresas não destinam parte de seu faturamento para pesquisa e
desenvolvimento, estes são ínfimos e sem planejamento, no entanto o mesmo não acontece
para o desenvolvimento das atividades inovativas (desconsiderando os gastos em P&D).
Dentre as principais atividades desenvolvidas registra-se os programas de treinamento para a
introdução de novos produtos e processos. Esses treinamentos normalmente ocorrem através
de cursos nas dependências da própria empresa, ministrados por fornecedores, voltados para
orientações técnicas, bem como por membros da própria empresa produtora para
homogeneizar o conhecimento referente a determinadas etapas do processo produtivo e
características especificas dos novos processos e produtos.
Em termos de atualização tecnológica, as empresas do APL ingressaram nos anos 80 e
90 em processo de modernização, reestruturando o parque fabril. As empresas que procuram
modernizar o chão da fábrica, atualizaram-se através da compra de máquinas e equipamentos
(extrusoras ou injetoras ou impressoras entre outras de modelos novos e mais avançados),
através de aquisição de outras tecnologias como softwares e acordos de transferência de
tecnologias, os programas de gestão da qualidade ou de modernização organizacional como
qualidade total e reengenharia de processos administrativos e novas formas de
comercialização e distribuição para os mercados de produtos novos ou melhorados. Essas
334
atividades inovativas ocorrem tanto de forma rotineira quanto ocasional, revelando
preocupação de atualização do nível tecnológico pelas empresas do APL.
As empresas do arranjo produtivo em estudo capacitam-se tecnologicamente através
de processos internos que permitem a absorção dos avanços tecnológicos desenvolvidos fora
da empresa ao longo da cadeia produtiva, principalmente pelos setores fornecedores de
máquinas e equipamentos, de insumos e de matéria-prima, bem como as empresas têm
utilizado os conhecimentos adquiridos pelos trabalhadores nas diferentes instâncias do
processo produtivo.
As empresas capacitam-se fundamentalmente através dos mecanismos informais
decorrentes dos processos de aprendizados que ocorrem no âmbito produtivo, nas relações
com fornecedores e em interações com clientes. No âmbito das fontes internas, dentre os
mecanismos utilizados, destaca-se o processo de aprendizado learning by doing, o aprender
por fazer, onde as empresas absorvem as experiências, habilidades e conhecimentos
adquiridos pelos seus trabalhadores no processo de produção e de gestão. Este comportamento
mostra que os trabalhadores tornam-se capazes de compreender as oportunidades decorrentes
no processo produtivo, podendo apontar possíveis melhoras, cujos resultados podem alcançar
reduções de custos, de incidências de problemas e melhorar a qualidade dos produtos.
As empresas de transformados plásticos descartáveis também mantêm relações
externas com fornecedores, clientes e instituições que permitem a absorção de avanços
tecnológicos que resultam em melhoramentos nas esferas produtiva e organizacional. Essas
relações fazem com que as empresas tornem-se capacitadas para incorporar inovações de
caráter incremental, a partir da troca de informações.
Neste sentido as empresas capacitam-se a partir dos processos informais de
aprendizado, learning by using e learning by interacting. As relações com os clientes,
estabelecidos principalmente nas regiões Sul e Sudeste do país, revelam a existência do
aprendizado pela utilização dos produtos, onde os clientes podem perceber e sugerir possíveis
melhoramentos, devido aos feedbacks de dificuldades não percebidas durante a etapa da
produção. As informações envolvidas nesta ralação têm abrangência técnica e organizacional
e também se direcionam para relativas ao design e à performance.
O learning by interacting, por sua vez, decorre das relações entre as empresas
produtoras do APL e seus fornecedores, tanto de máquinas e equipamentos, localizados
principalmente em São Paulo, Itália e na Alemanha, quanto de insumos e matérias primas,
provenientes na maioria dos estados do Rio Grande do Sul e de São Paulo. A partir destas
interações trocam-se informações técnicas sobre os equipamentos e acerca das especificações
335
físico-químicas com reflexos sobre o processo produtivo em termos de aumento da
produtividade, redução de perdas de matérias-prima e demais insumos, produtos mais
resistentes e práticos.
Ainda no âmbito das fontes externas para desenvolvimento de capacidade inovativa, o
arranjo conta com universidades e outros centros de pesquisa, essas relações não acontecem
com muita intensidade e freqüência e quando acontecem são para um pequeno número de
empresas, sendo estas as que se beneficiam das condições de infra-estrutura educacional e
tecnológica. Neste sentido, as relações ocorrem com a UNESC que possui um quadro docente
capacitado de conhecimentos nas áreas de polímeros e de engenharia de materiais, bem como
com o instituto de pesquisa do SENAI-CTMAT que dispõe de laboratórios, equipamentos e
técnicos que desenvolvem ensaios, testes, certificação e pesquisa e desenvolvimento na área
de materiais plásticos.
3.6.3.7 Cooperação e governança
No APL verifica-se a presença de um conjunto de agentes e conduções estruturais para
o desenvolvimento de ações cooperativas, no entanto a prática revela que ainda são
incipientes e que as empresas ainda não estão totalmente conscientes dos benefícios
competitivos que podem auferir cooperando. Ocorrem cooperações em vários itens, tais como
parceria nas transações de venda, na análise dos produtos e a no desenvolvimento de
atividades direcionadas para a área de marketing, participação e realização de feiras, etc.,
porém ainda em nível não desejável.
Em geral, as empresas tomam suas decisões de maneira individual cooperando e
competindo entre si de forma voluntária tendo por base o local. As médias e grandes
empresas, apesar da participação produtiva relevante, não exercem a função de líderes
sistemáticas capazes de assumir a função de coordenação. Esta estrutura de governança está
ancorada na presença de um número representativo de empresas classificadas como uma rede
de empresas informal, que apresentam níveis de especialização independentes, pela dispersão
dos agentes, pelo baixo grau de hierarquização interna e processos de cooperação e
competição dos agentes que ocorre de forma voluntária, entre relações verticais e horizontais
ao longo da cadeia. Assim como, se caracteriza pela implementação de ações coletivas em
montagem de centros prestadores de serviços técnicos especializados e criação de associações
empresariais locais com funções de representação econômica e política.
336
Dentre os atores que exercem governança no local, destaca-se, ACIC cujas ações
voltam-se em criar condições para qualificar os empresários e seus recursos humanos, bem
como de criar um espaço para ocorrência de congregação de interesses entre os empresários
locais. Uma ação importante direcionada ao desenvolvimento da região refere-se à criação do
Centro Empresarial na localidade de Criciúma, consiste em um projeto em parceria com
outras entidades patronais locais, com vistas para a concentração de várias instituições em um
único local no objetivo de favorecer a sinergia entre as entidades, bem como na orientação
para a formulação de objetivos comuns.
3.6.3.8 Vantagens competitivas, obstáculos e políticas de desenvolvimento
3.6.3.8.1 Vantagens
O arranjo produtivo de transformados plásticos localizado na região Sul catarinense
apresenta condições favoráveis de produção, refletindo um padrão em consonância com os
concorrentes nacionais. As empresas de transformados plásticos descartáveis ingressaram
num processo de reestruturação do parque fabril, sobretudo as pequenas empresas,
atualizando seu maquinário (extrusoras, injetoras, impressoras entre outras), introduzindo
células de produção e técnicas mais enxutas assim como passaram a perceber a importância
da implantação de certificados de normas como a ISO 9000. No entanto, ainda existem
empresas que atuam fora da fronteira tecnológica.
As empresas de transformados plásticos descartáveis têm apresentado desempenho
positivo se atualizando tecnologicamente, esforçando-se para responder à dinâmica imposta
pelos fornecedores de tecnologia (de máquinas e equipamentos e matéria-prima). Para tanto,
capacitam-se através dos mecanismos informais de aprendizado, cujos resultados aparecem
sob a forma de inovação incremental nos produtos, processos e formas organizacionais.
Outro fator positivo no arranjo refere-se à presença de algumas externalidades locais,
destacando-se a disponibilidade de mão-de-obra qualificada e a proximidade com os
fornecedores de insumos e de componentes e peças e a infra-estrutura local. As empresas
localizadas no arranjo acabam se beneficiando destas externalidades positivas, aumentando
assim sua capacitação para formular estratégias competitivas. A existência da mão-de-obra
qualificada sinaliza que existe no espaço local a possibilidade reprodução e difusão dos
conhecimentos técnicos e dos profissionais especializados. Esta característica, além de
337
incorporar mudanças nos produtos e nos processos sinaliza que os trabalhadores encontram-se
capacitados para enfrentar as mudanças impostas pelo mercado e pelos fornecedores de
tecnologia, passando a representar preponderante ativo estratégico no ambiente competitivo.
A presença no local de fornecedores de insumos diversos utilizados no processo
produtivo, tais como de tintas, vernizes, solventes, alguns materiais plásticos reciclados entre
outros, bem como em componentes e peças e em serviços diversos, reflete que está se
desenvolvendo no arranjo um conjunto de fornecedores de segunda linha que atendem à
demanda complementar dos requerimentos do processo produtivo. Este movimento tende a
fortalecer os laços cooperativos, resultando em vantagem competitiva dado que com isto
tende à redução de custos de transação e aumento das economias de aglomeração. O fato de as
principais matérias-primas utilizadas pelo setor, assim como as principais máquinas e
equipamentos não estarem presentes no arranjo não representa fator limitante para a
competitividade do arranjo, uma vez que as empresas beneficiam-se da logística de
transportes, rede de atacadistas, revendedores terceirizados e etc.
3.6.3.8.2 Obstáculos
Apesar do processo de reestruturação tecnológico ocorrido no APL ainda existem
empresas que operam com tecnologia defasada, sobretudo as de micro porte, cujo resultado se
traduz em produtos de menor qualidade e maior custo de produção. Estas empresas têm
apresentado dificuldades quanto a posições de mercado (mantimento e ingresso) dado que o
consumidor tem apontado uma postura pautada em produtos de maior qualidade. Neste
sentido as empresas de menor porte têm perdido posições de mercado e acabam se
condicionando a determinadas posições relativas, limitando as possibilidades para alcançarem
posições de destaque.
As empresas do arranjo focam suas estratégias comerciais para o mercado intermo,
sendo pouco representativo o percentual da produção exportada, apenas as grandes empresas
destinam parcela da produção para o exterior, especificamente para o MERCOSUL. Neste
caso, as empresas acabam não aproveitando as possibilidades de crescimento e as demais
vantagens oferecidas pelo mercado externo. Diante disto, registra-se a presença de obstáculos
relacionados à comercialização e à percepção por parte das empresas da necessidade de
investimentos em tecnologia de produção para se estabelecerem no padrão produtivo mundial.
338
Percebe-se também a falta de utilização da infra-estrutura institucional estabelecida no
local, bem como de ações e programas pautados no desenvolvimento do arranjo produtivo.
Tais situações somam-se com dificuldades de definições de estratégias de desenvolvimento e
de carência de coordenação destas atividades.
3.6.3.8.3 Políticas de desenvolvimento
Considerando-se o regime tecnológico maduro, registra-se a importância da
exploração dos mecanismos de aprendizado para que as empresas produtoras capacitem-se
tecnologicamente. Para ampliar os espaços de aprendizagem e os processos inovativos sugere-
se: a) criação de espaços internos para discussão das possibilidades de mudanças técnicas; b)
divulgação dos avanços nos métodos de produção, insumos associados e produtos; c) aumento
das relações de complementaridade produtiva para intensificar as relações de troca e as
especializações existentes; d) conscientização das empresas e das instituições na criação do
path dependence dos processos inovativos; e) estímulo à contratação de profissionais
especializados na área; g) incentivo à inovação dividindo o risco da introdução de novos
produtos e/ou serviços com a criação de fundos governamentais para este fim.
Dado que o APL apresenta possibilidades para se explorarem os mecanismos de
aprendizado informal gerando capacitações para o desenvolvimento de processos inovativos,
recomenda-se a criação de condições para desenvolvimento formal de atividade de P&D pelas
empresas, para tanto sugere-se: a) criação de infra-estrutura tecnológica – laboratórios e
técnicos especializados; b) planejamento de recursos financeiros anuais para P&D; c)
ampliação das atividades internas de P&D para a criação de projetos de desenvolvimento de
produto – concepção, design, protótipo; d) realização de acordos e alianças para o
desenvolvimento de projetos cooperativos tecnológicos com outras empresas - concorrentes e
fornecedores – e com instituições de pesquisa interna e externa ao arranjo; e) implementar um
sistema anual de prêmio para empresas inovadoras.
A partir da presença de um conjunto de instituições de apoio e suporte para as
empresas produtoras que não é aproveitado em grandes proporções pelas empresas sugere-se
o desenvolvimento de ações que articulem interações envolvendo agentes ao longo da cadeia
produtiva principal. Visando promover interação progressiva conjunta dos agentes –
instituições e empresas - sugere: a) desenvolvimento de programas para a aquisição conjunta
de máquinas e equipamentos de tecnologia de ponta; b) criação de programas de qualidade e
339
padronização de produtos; c) estimulo à demanda por consultorias técnicas externas; d)
estimulo à formação de grupos de estudo voltados para identificação de oportunidades
inovativas; e) auxilio para criação de uma marca identificadora da qualidade dos produtos do
arranjo.
Considerando-se a carência de governança e de liderança local bem definida para
explorar as vantagens que a organização industrial constituída na forma de arranjo produtivo
possibilita, segure-se estimular as formas de governança e as ações coletivas. Considerando-se
que no arranjo encontram-se agentes a priori capacitados para desempenhar tais funções
sugere-se: a) identificação dos agentes com perfil para lideranças; b) eleição de uma
instituição responsável pela difusão dos padrões técnicos mais sofisticados; c)
desenvolvimento de diversas formas de cooperação entre as empresas locais, (consórcio de
compras de insumos e máquinas e equipamentos e de promoção de exportação); d) estimulo a
ações voltadas para o fortalecimento da confiança entre os agentes; e) promoção de fóruns
pautados nos mercados externos.
Para estimular o desenvolvimento do APL são necessárias a adoção de um conjunto de
medidas e no APL em foco inclui-se o estímulo a criação de empresas no local. Para tanto,
recomenda-se: a) ampliação e informatização do sistema de informação das instituições; b)
concessão de subsídios e/ou incentivos fiscais as MPEs; c) estímulos para redução da
informalidade no arranjo; d) anúncio das vantagens da localização do arranjo; e) implantação
de programas voltados para estimular a atuação de empresas no desenvolvendo de atividades
similares ou ao longo da cadeia produtiva; f) existência de um núcleo ou centro de
atendimento que forneça informações, aponte diretrizes, faça diagnósticos, preste consultoria
sobre formas adequadas de gestão de negócios.
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