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PROFESSORAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA E BOLSISTAS DO PIBID: O
APRENDIZADO DA DOCÊNCIA POR MEIO DA TROCA DE SABERES
RESUMO
Este trabalho se originou de duas pesquisas de conclusão do curso de Pedagogia, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), realizadas em 2011 por duas bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). Essas pesquisas foram: (01) “Trocas de saberes proporcionadas pelo Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação à Docência: contribuições para a formação das bolsistas”; (02) “O Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência e a sua contribuição para uma escola pública: análise do desenvolvimento profissional e da aprendizagem docente”. Para o
presente trabalho, foi realizado um recorte das pesquisas a fim de apresentar e analisar a aprendizagem da docência adquirida por meio da troca de saberes entre as professoras da educação básica e as bolsistas do programa. O PIBID é um programa do Ministério da Educação que visa incentivar a formação de professores para a educação básica, estreitar a relação universidade-escola pública e valorizar este espaço como campo de experiência para a construção do conhecimento na formação de professores, entre outras questões. O estudo foi desenvolvido à luz de uma abordagem qualitativa de pesquisa, compreendendo pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo com análise dos fenômenos considerados relevantes. Os autores utilizados para embasar o trabalho foram: Minayo (1993), Mizukami (1996), Mizukami et al. (2002), Tardif (2002), Carvalho (2007) Pimenta (2007), Pimenta e Lima (2008), Hernández (s.d). O acesso aos dados ocorreu por meio de questionários contendo questões abertas e fechadas e entrevistas semiestruturadas. De acordo com as respostas evidenciadas pelas participantes das pesquisas, o PIBID oportunizou as bolsistas e as professoras atuantes na educação básica que se relacionassem, observassem as práticas realizadas e trocassem experiências umas com as outras, o que propiciou aprendizagens recíprocas para ambas, principalmente no que tange aos modos de lidar com os conteúdos e o relacionamento com os alunos.
Palavras-chave: PIBID; Aprendizagem Docente; Troca de saberes; Professoras da Educação Básica e bolsistas do PIBID.
PROFESSORAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA E BOLSISTAS DO PIBID: O
APRENDIZADO DA DOCÊNCIA POR MEIO DA TROCA DE SABERES
Este trabalho apresenta e analisa a aprendizagem da docência adquirida por
meio da troca de saberes entre as professoras da educação básica e as bolsistas do
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). Para sua
realização, as autoras, que também foram bolsistas do referido programa, utilizaram
os resultados de suas pesquisas de conclusão do curso de Pedagogia da Universidade
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Edilaine Do Rosário Neves Vanessa Lopes Eufrásio
Heloísa Raimunda Herneck
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Federal de Viçosa (UFV). No entanto, cabe ressaltar que para este trabalho foi
realizado um recorte das duas pesquisas, considerando os pontos em comum de
ambas.
A pesquisa (01) intitulada “Trocas de saberes proporcionadas pelo Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência: contribuições para a formação das
bolsistas” abordou as aprendizagens da docência possibilitadas pela rede de
relações estabelecidas entre bolsistas e professoras regentes na ótica das bolsistas; já
a pesquisa (02) “O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência e a sua
contribuição para uma escola pública: análise do desenvolvimento profissional e da
aprendizagem docente” evidenciou a mesma temática na ótica das professoras
regentes.
Ambos os trabalhos foram realizados no ano de 2011 a partir de uma
abordagem qualitativa de pesquisa, compreendendo pesquisa bibliográfica e pesquisa
de campo com análise de fenômenos considerados relevantes. A pesquisa (01) teve
como instrumento de coleta de dados questionários contendo questões abertas e
fechadas, aplicados a onze estudantes dos cursos de licenciatura da UFV, que foram
participantes do PIBID de 2009 e possíveis formandas de janeiro de 2012.
Entretanto, para o presente trabalho, utilizamos apenas as respostas dos
questionários de quatro bolsistas do PIBID/Pedagogia, visto a pesquisa (02) ter sido
realizada com entrevista semiestruturada com duas professoras, (P1) e (P2), que eram
regentes nas classes em que essas bolsistas atuaram, e com a supervisora do
PIBID/Pedagogia, que também é professora da escola. Ressalva-se que os sujeitos
delimitados para o presente trabalho acompanharam o desenvolvimento do
PIBID/Pedagogia no ano de 2010 e 2011.
Após a coleta dos dados, foram realizadas as análises com base em Minayo
(1993), Mizukami (1996), Mizukami et al. (2002), Tardif (2002), Carvalho (2007)
Pimenta (2007), Pimenta e Lima (2008) e Hernández (s.d). Cabe ressalvar que nas
análises dos dados houve também implicações da ótica das pesquisadoras que
atuaram como bolsistas do PIBID na escola. Segundo Minayo (1993, p.21), “A visão
de mundo do pesquisador e dos atores sociais estão implicadas em todo processo de
conhecimento, desde a concepção do objeto, até o resultado do trabalho.” Nesta
perspectiva, a realidade traz para as análises o subjetivo e o objetivo, os sujeitos e os
próprios sistemas de valores do pesquisador.
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Diante do exposto, o presente trabalho explicita com base nas pesquisas (01) e
(02) a aprendizagem da docência advinda da troca de saberes entre bolsistas e
professoras atuantes na educação básica durante o desenvolvimento do
PIBID/Pedagogia 2009.
O estudo foi estruturado em três partes no intuito de possibilitar a melhor
compreensão do artigo: 1) O PIBID/Pedagogia 2009; 2) Aprendizagens advindas da
troca de saberes entre professoras da educação básica e bolsistas do PIBID; e 3)
Considerações finais.
O PIBID Pedagogia 2009
O PIBID é um programa institucional do Ministério da Educação (MEC),
gerenciado pela CAPES (Fundação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior), possui vários subprojetos (das licenciaturas) a ele vinculados, que têm a
duração prevista para 24 meses, podendo ser renovado.
De acordo com o explicitado no edital 02 - PIBID 2009, os objetivos do
programa são: incentivar a formação de professores para a educação básica; inserir
os licenciandos no cotidiano de escolas da rede pública de educação; promover a
integração entre educação superior e educação básica; proporcionar aos futuros
professores participação em experiências metodológicas, tecnológicas e práticas
docentes de caráter inovador e interdisciplinar que busquem a superação de
problemas identificados no processo de ensino-aprendizagem; e valorizar o espaço
da escola pública como campo de experiência para a construção do conhecimento na
formação de professores para a educação básica, mobilizando seus professores como
co-formadores dos futuros professores.
Neste artigo, descrevemos a pesquisa realizada com participantes do subprojeto
de licenciatura em Pedagogia vinculado ao PIBID/UFV. O PIBID-Pedagogia foi
desenvolvido em 2010 e 2011 em duas escolas municipais da cidade de Viçosa-MG.
Fizeram parte dele uma coordenadora, professora do curso de Pedagogia, vinte
bolsistas licenciandas deste curso e duas supervisoras que são professoras efetivas
nas escolas onde o programa foi desenvolvido. Ressalva-se que em cada escola
atuaram 10 bolsistas e uma professora supervisora.
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A primeira fase do trabalho das bolsistas envolveu a observação dos aspectos:
espaço físico da escola; materiais didáticos; os métodos de ensino da professora
regente; e a ação dos alunos e suas interações com a professora e os colegas de
classe. Posteriormente, com base nos Indicadores de Qualidade na Educação do
MEC, as integrantes do programa elaboraram e aplicaram aos alunos da escola uma
avaliação diagnóstica referente à leitura, escrita e a matemática. Assim, a partir do
conhecimento da realidade da escola, foram traçados planos de trabalho com o
objetivo de atender às demandas das crianças em relação à aprendizagem.
Dentre as ações desenvolvidas, as bolsistas planejaram e realizaram aulas
com metodologias diferenciadas das normalmente usadas pelas professoras regentes,
confeccionaram materiais pedagógicos e acompanharam o desenvolvimento da
aprendizagem de algumas crianças que manifestaram dificuldades para entender o
conteúdo. Ressalva-se que cada bolsista de Iniciação à Docência acompanhou uma
turma e um grupo de crianças com dificuldades de aprendizagem.
No que se refere às atividades desenvolvidas, a maioria tinha o lúdico como
princípio norteador, visto que ao iniciar o trabalho foi observado pelas bolsistas que a
escola não contava com aulas de Educação Física e nem com outros tipos de
atividades corporais e lúdicas. Diante disso, as integrantes do PIBID planejaram e
desenvolveram com os alunos atividades voltadas para o lúdico, algumas vezes o
lúdico foi trabalhado como atividades recreativas e outras articuladas aos conteúdos
de modo a favorecer sua compreensão.
Com o objetivo de oferecer subsídios para a ação das bolsistas e estimular a
reflexão sobre as situações que ocorriam nas salas de aula, foram organizados os
ciclos de estudos do PIBID. Neste espaço, ocorreram discussões sobre várias
temáticas e situações inusitadas ocorridas no cotidiano escolar, as quais requeriam
discussão e tratamento.
Assim, a vivência na escola, aliada aos estudos e discussões realizadas nos
ciclos de estudos e nas aulas do curso de Pedagogia, nos proporcionou reflexões
referentes às aprendizagens docentes por meio da participação no programa.
Aprendemos na escola com as demais profissionais, trocamos experiência sobre
determinadas situações, principalmente no que se refere à condução das aulas e ao
relacionamento com os alunos, entre outras questões. Esta experiência nos instigou a
pesquisar as aprendizagens adquiridas pelas bolsistas do programa e as
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aprendizagens proporcionadas aos profissionais da escola.
Aprendizagens advindas da troca de saberes entre professoras da
educação básica e bolsistas do PIBID
Fundamentando nas análises dos dados das pesquisas (01) “Trocas de saberes
proporcionadas pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência:
contribuições para a formação das bolsistas” e (02) “O Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação à Docência e a sua contribuição para uma escola pública: análise
do desenvolvimento profissional e da aprendizagem docente”, tomamos como
referência os pontos em comum no que tange à aprendizagem docente advinda da
troca de saberes entre professoras regentes e bolsistas do PIBID, evidenciadas em
ambas as pesquisas.
O número total de participantes da pesquisa (01) foram quatro bolsistas do
PIBID/Pedagogia, todas do sexo feminino: (B1) com 22 anos de idade, (B2) com 24,
(B3) com 27 e (B4) com 45 anos. Todas elas participaram do PIBID desde março de
2010, tendo um ano e sete meses de participação até a data em que responderam ao
questionário.
Na pesquisa (02) foram entrevistadas duas professoras (P1) e (P2) e a
supervisora do PIBID/Pedagogia, que também é professora na escola. A idade das
entrevistadas variava de 40 a 50 anos até a data da entrevista, sendo que (P1) tinha 50
anos, (P2) tinha 40 e a supervisora do PIBID tinha 43. O tempo em que as
entrevistadas atuavam como docente variava de 16 a 21 anos. Em relação à
formação, duas têm curso superior em Pedagogia, sendo que (P2) tem especialização
em supervisão escolar e à supervisora tem normal superior.
Referente à pesquisa (01), as bolsistas foram indagadas sobre quais situações
consideravam mais desafiadoras no que se refere à participação no PIBID; onde
buscaram suporte para enfrentá-las; se solicitavam o apoio do professor regente e em
quais momentos; quais aprendizagens da docência o PIBID possibilitou; se houve
troca de experiências entre as bolsistas e os professores regentes; e se o contato com
o contexto de prática, especificamente com o professor regente, lhe permitiu
examinar os conhecimentos adquiridos na graduação.
Em relação à pesquisa (02), as participantes foram questionadas sobre: como
foi o desenvolvimento do PIBID na escola; como foi desenvolver o trabalho
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pedagógico em uma turma em interação com o trabalho da bolsista; se esta vivência
alterou de algum modo a sua prática e/ou a forma de compreender o ensino-
aprendizagem; e se consideravam ter aprendido e/ou ensinado as bolsistas.
Voltando à pesquisa (01), as bolsistas foram indagadas sobre quais situações
consideravam mais desafiadoras no que se referia à sua participação no PIBID, sendo
que poderiam marcar até duas opções, dentre as estas: número de alunos por sala;
problemas com indisciplina dos alunos; diversidade na sala de aula; ensinar crianças
com níveis de aprendizagem diferentes; condições de trabalho; baixos salários dos
professores; dominar os conteúdos; material didático inadequado; e insegurança;
medo. Nas respostas, as bolsistas evidenciaram como questões mais desafiadoras:
(B3) e (B1) citaram problemas com indisciplina dos alunos; (B1) e (B2), ensinar
crianças com níveis de aprendizagem diferentes; (B4), o número de alunos por sala; e
(B3) citou as condições de trabalho.
No que se refere às condições de trabalho docente, levantamos a hipótese de que
a escolha de (B3) por esta resposta esteja relacionada com as precárias condições de
trabalho existentes na escola onde as bolsistas atuam. O espaço físico desta escola é
limitado, levando-se em conta o número de alunos matriculados, as salas de aula são
pequenas e com pouca ventilação. Além disso, não há quadra de esporte, biblioteca,
laboratório de informática e espaço adequado para os professores planejarem e
discutirem questões pedagógicas etc. O mobiliário da escola está em bom estado de
conservação, porém faltam equipamentos e materiais pedagógicos que tornariam mais
ágeis e organizadas as atividades pedagógicas desenvolvidas. Neste contexto, ainda que
a inserção das licenciandas na escola contribua para a qualidade da sua formação
acadêmica, pode também desmotivá-las.
Segundo Gatti e Barreto (2009), as condições reais de profissionalização
docente afetam a atratividade das novas gerações pela profissão. Segundo as autoras,
políticas na direção de qualificar melhor a educação básica passam também pela
renovação constante da motivação para o trabalho do ensino, pela satisfação com a
remuneração e a carreira.
Observa-se ainda, pelas respostas evidenciadas, que ensinar crianças com
níveis de aprendizagem diferentes foi uma das respostas mais escolhidas pelas
bolsistas. Inclusive, quando foram questionadas se solicitavam o apoio do professor
regente e em quais momentos, (B4) mencionou fazer solicitações para “sugerir as
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atividades a serem trabalhadas com a turma e avaliar os alunos que carecem mais
de sua presença e acompanhamento”.
Assim como as bolsistas ressaltaram solicitar o apoio das professoras regentes,
estas também salientaram necessitar do apoio das bolsistas, principalmente, para
acompanhar as crianças com maiores dificuldades de aprendizagem em detrimento
das demais crianças da turma em que estavam inseridas. As professoras ao
ressaltarem a importância deste acompanhamento, argumentaram que as condições
em que o seu trabalho é realizado não favorece o atendimento às demandas dessas
crianças.
Os problemas com a indisciplina dos alunos foi também uma das respostas
mais explicitadas pelas bolsistas como questão desafiadora. Neste sentido, (B1) e
(B3) evidenciaram solicitar apoio das professoras “para ajudar na disciplina dos
alunos”. A questão da indisciplina foi também mencionada pelas professoras durante
as entrevistas, quando elas relembraram momentos de instabilidade e dificuldade que
as bolsistas tiveram no início do trabalho ao se depararem principalmente com a
indisciplina dos alunos. Elas ressaltaram que nestas situações o apoio delas às
bolsistas foi imprescindível para que não desistissem de continuar o trabalho.
Neste sentido, as quatro bolsistas responderam, ao longo do questionário, ser
nas trocas de experiências com as professoras da educação básica que buscavam
meios para enfrentar as situações problema encontradas/vivenciadas na sala de aula
com os alunos.
A este respeito, Pimenta e Lima (2008, p. 115), ao abordarem o estágio,
afirmam considerar “[...] a importância da participação dos professores das escolas
que recebem os estagiários nesse processo formativo, no qual esses assumem
também a função de ´supervisores` (ou orientadores) do estágio.”
Neste sentido, podemos refletir sobre o PIBID como um espaço que pode
propiciar às licenciandas adquirir aprendizagens na relação com profissionais
experientes. Nesta direção, Pimenta (2007) ressalta que o retorno autêntico da
Pedagogia ocorrerá se as ciências da educação começarem a tomar a prática dos
formados como ponto de partida e de chegada.
Fundamentando na análise dos conteúdos, é possível constatar que as bolsistas
e as professoras regentes aprenderam com as trocas de experiências. Nesta direção,
Mizukami et al. (2002, p.72) explicitam que para que os professores aprendam
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novas formas de ensinar, eles precisam, dentre outras coisas “[...] trabalhar com os
pares - dentro e fora da escola -, de forma a aprender com os sucessos, os fracassos,
os erros e as falhas e a partilhar idéias e conhecimentos.” Neste sentido, (B4), ao
explicitar considerar os professores da educação básica como formadores de
professores, salienta que:
[...] há práticas de sala de aula que são bem relevantes e devem ser
consideradas como referências para a nossa formação: a pontualidade da
professora e as manifestações de carinhos em determinados momentos;
outras que são referências para analisarmos e não repetirmos: gritos o
tempo todo; exposição e desmotivação dos alunos, castigos repetidos no
momento do recreio, manter as carteiras enfileiradas, não cantar, não
trabalhar poesias, poemas, e, não ter o hábito de pesquisar com intuito de
avaliar sua prática.
O relato acima explicitado corrobora com a reflexão de (B1), que mencionou
também considerar os professores da educação básica como formadores de
professores. Segundo ela “[...] aprendemos nas conversas com os professores
regentes e vendo sua forma de ensinar, de agir e como resolvem os problemas. A
partir da ação do outro, podemos refletir sobre nossa forma de ser professor.”
Observa-se, nestas respostas, que as bolsistas manifestaram repensar suas posturas ao
observarem os comportamentos das professoras, ou seja, elas fazem uma reflexão
sobre o ser professor. (B4), inclusive, explicita de uma forma mais detalhada,
abordando, por meio de exemplos, o que considera ou não como comportamentos
adequados a um professor.
Ancoradas em Carvalho (2007), vemos sob esta perspectiva que o experienciar
comportamentos e estratégias de ensino possibilitou às futuras professoras pensar nas
próprias posturas e nas atitudes que irão tomar frente a situações reais. Assim como
as bolsistas explicitaram aprender com as professoras regentes, estas apontaram nas
entrevistas para as ações das bolsistas do PIBID como uma oportunidade para a
reflexão sobre o seu próprio trabalho. As professoras colocam a experiência de
trabalhar junto com uma bolsista como oportunidade para a troca de saberes,
explicitando a importância que atribuem às relações humanas no contexto escolar.
Neste sentido, Tardif (2002) explana a importância da troca de saberes entre
os pares, explicitando que os saberes a serem ensinados e o saber-ensinar são
construções sociais, culturais e históricas, sendo construídos e (re)construídos nas
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relações cotidianas do trabalho pedagógico. Portanto, sofrem mudanças e, em um
contexto de socialização profissional, são incorporados, modificados e adaptados em
função dos momentos e fases de uma carreira. Ainda de acordo com tal autor:
[...] o saber não é uma coisa que flutua no espaço: o saber dos professores é o saber deles e está relacionado com a pessoa e a identidade deles, com sua experiência de vida e com sua história profissional, com suas relações com os alunos em sala de aula e com os outros atores escolares na escola etc. Por isso, é necessário estudá-lo, relacionando-os com esses elementos constitutivos do trabalho docente. (TARDIF, 2002, p. 11)
Tendo em vista o exposto acima sobre a troca de saberes, ressaltamos que ao
longo das entrevistas as participantes citaram ter aprendido novas maneiras de
ensinar a partir da ação das bolsistas do PIBID. Elas salientaram a questão do
trabalho das bolsistas com metodologias diferenciadas das usadas pelas professoras
regentes, destacaram principalmente o trabalho com o lúdico: arte, jogos e
brincadeiras. A este respeito, (P1) salientou “[...] agora, aprender, eu aprendi assim,
que elas trouxeram muitas coisas que a gente não tem esse costume. A gente tira um
dia para trabalhar o lúdico. E o trabalho delas era sempre voltados para o lúdico.”
Tal ponderação remete ao processo de aprendizagem do professor, neste
sentido, Mizukami et al. (2002) nos ajudam a refletir que as aprendizagens docente
vão além de habilidades técnicas, requerem o repensar velhas ideias, os objetivos de
aprendizagem e a autoavaliação reflexiva. Nesta direção, em estudo sobre a
aprendizagem docente, Hernández esclarece o significado de aprendizagem:
[...] alguém aprende quando está em condições de transferir a uma nova situação (por exemplo, á prática docente) o que conheceu em uma situação de formação, seja de maneira institucionalizada, nas trocas com os colegas, em situações não formais e em experiências da vida diária. (HERNÁNDEZ, s.d, p. 1)
Nesse sentido, têm-se elementos para analisar que as professoras regentes,
observando o trabalho das bolsistas, tiveram a oportunidade de refletir sobre a
própria prática. Segundo a supervisora do PIBID, foi possível constatar que dá certo
trabalhar de outras maneiras, e não somente com base no livro didático. “[...] Nesses
dois anos, houve muitas mudanças boas: no comportamento das crianças; na
aprendizagem e em muitos casos em despertar no menino ter mais interesse; e, além
disso, em despertar em nós as professoras trabalhar de maneira diferenciada feito
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vocês.” (Supervisora do PIBID, 2011) Nesta direção, a mesma professora explicita o
interesse em mudar a sua prática pedagógica:
[...] vocês me fizeram ver muito mais coisas que, às vezes, a gente deixa
esquecido, não desenvolve. Aí, vendo o trabalho de vocês, isso dá certo, eu
vou fazer isso com minha turma, como, por exemplo, trabalhar mais com o
lúdico, fazer mais assim pesquisa, tentar entender o aluno porque não
aprende, porque a indisciplina; nesse sentido assim, tentar investigar mais
o aluno. (Supervisora do PIBID, 2011)
A fala da supervisora do PIBID aponta que ela pretende buscar compreender
a forma de aprender das crianças e os aspectos que afligem a escola. Ela demonstra
ter incorporado a premissa do PIBID, que parte da tendência investigativa sobre
formação de professores que valoriza o denominado professor reflexivo. O PIBID
apoia-se na concepção do professor pesquisador, que busca compreender a própria
prática.
A supervisora do PIBID relatou a contribuição da vivência no programa
também para o seu desenvolvimento pessoal. Segundo ela, sempre teve dificuldade
de comunicar-se perante muitas pessoas, e a partir dos ciclos de estudos do PIBID,
desenvolveu esta questão, pois este espaço propiciava momentos em que as bolsistas
e a supervisora expunham suas posições, dialogando sobre diversas temáticas e
questões advindas da prática cotidiana.
Enfim, as análises dos dados das pesquisas apontam que o PIBID promoveu
aprendizagens recíprocas tanto para as professoras regentes quanto para as bolsistas.
As bolsistas buscaram solucionar os problemas vivenciados no cotidiano escolar por
meio do apoio e do diálogo com as professoras, e estas ressaltaram que aprenderam
novas maneiras de ensinar por meio das práticas das bolsistas. A supervisora ainda
demonstrou na entrevista que a experiência no PIBID oportunizou uma postura
investigativa frente aos problemas da escola.
Considerações Finais
Este trabalho teve como objetivo apresentar e analisar a aprendizagem da
docência adquirida por meio da troca de saberes entre as professoras da educação
básica e as bolsistas do PIBID. Para sua realização, as autoras utilizaram os
resultados de suas pesquisas de conclusão do curso de Pedagogia da (UFV).
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Entretanto, como já mencionado, foi realizado um recorte das duas pesquisas,
considerando os pontos em comum de ambas. Estas pesquisas foram: (01) “Trocas de
saberes proporcionadas pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a
Docência: contribuições para a formação das bolsistas” e (02) “O Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência e a sua contribuição para uma escola
pública: análise do desenvolvimento profissional e da aprendizagem docente.”
Os autores estudados para analisar os dados do presente trabalho apontam que
o professor aprende a sua profissão ao longo da vida e, neste contexto, os pares são
evidenciados como sujeitos que exercem influências na aprendizagem docente. Sob
este aspecto, de acordo com as respostas evidenciadas pelas participantes das
pesquisas (01) e (02), o PIBID oportunizou às licenciandas bolsistas e às professoras
atuantes na educação básica que se relacionassem, observassem as práticas realizadas
e que trocassem experiências umas com as outras. Tais oportunidades propiciaram
aprendizagens recíprocas para ambas, principalmente no que tange aos modos de
lidar com os conteúdos e ao relacionamento com os alunos.
Entretanto, a vivência na escola nos permitiu verificar a ausência de
momentos específicos para que os professores e as bolsistas dialogassem, visto que
estes momentos ocorriam, quase que exclusivamente, durante as aulas e no recreio.
Sob este aspecto, levantamos a hipótese de que se houvesse uma organização do
espaço-tempo escolar que favorecesse ainda mais o diálogo entre estes sujeitos, o
aprendizado poderia ser mais significativo para ambas.
Diante disso, é imprescindível que haja espaço e tempo destinados a
favorecer a interlocução entre as professoras regentes e as bolsistas do PIBID no
contexto de trabalho, uma interlocução que gere parceria, troca de saberes e
colaboração, visto que somos todos membros de um grupo que está em formação,
sendo aprendentes e ensinantes.
Referências bibliográficas
CAPES. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Edital do
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID/2009. Disponível em: <http://www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibid> Acesso em 30/11/2011.
CARVALHO, T. R. D. e UTUARI, S. S. (Orgs.). Formação de professores e estágios
supervisionados: algumas veredas - São Paulo: Andross, 2007.
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HERNÁNDEZ, F. A importância de saber como os docentes aprendem. Acesso em 15/08/2011: <http://www.bibvirt.futuro.usp.br/acervo/paradidat/patio4.html.
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