Zueleide Casagrande de Paula · consideramos a perspectiva oriunda das proposições de Kevin Lynch...
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A cidade de Londrina: imagens e representações do construto urbano
Zueleide Casagrande de Paula Professora do Departamento de História da Universidade Estadual de
Londrina/UEL/; Pósdoutoranda do Programa de História Social e Econômica/USP/Bolsista da Fundação Araucária.
Eixo Temático: Imagens urbanas
Nesse trabalho escolhemos apresentar alguns dos marcos que orientam o
usuário na espacialidade da cidade de Londrina, localizada na parte convencionada de
Norte do Estado do Paraná1. Sua configuração e estética urbanas são
caracteristicamente pautadas na verticalização e na condição de metrópole regional.
Propomos apresentar alguns de seus orientadores urbanos. Assim, traremos de
algumas imagens-símbolo e seus usos mais explícitos, como, por exemplo, a do
edifício que abriga o Museu Histórico de Londrina, a Estação Rodoviária — hoje
Museu de Arte, o Cine/Teatro Ouro Verde, a Concha Acústica e seu entorno. Porém,
muitas são as imagens que compõem essas representações da cidade de Londrina.
Nosso objetivo e chamar a atenção para os seus elementos de construção e para seus
usos na sustentação do próprio construto urbano.
A ideia que alvitramos, diz respeito aos marcos urbano como elemento
construtor da paisagem e, portanto, construção/alteração a partir desses pontos de
referência para os habitantes/usuários da cidade de Londrina. Para esse trabalho
consideramos a perspectiva oriunda das proposições de Kevin Lynch em seu livro
Imagem da Cidade (1997) e as propostas apresentadas em Além dos Mapas por
Cristina Freire (1997) no qual aponta a relevância dos monumentos na orientação dos
usuários da cidade. Apropriamos-nos dos referenciais desses dois autores como
metodologia para problematizar a notabilidade de determinadas edificações na
orientação dos usuários urbanos da cidade de Londrina, no reconhecimento cognitivo
dos espaços citadinos e na construção da imagem urbana.
Nossa primeira menção diz respeito ao Museu Histórico Padre Carlos Weiss
(figura 01) cuja edificação, uma das mais antigas da cidade é a que aparece em
comerciais e propagandas na e sobre a cidade de Londrina, pois é amplamente
explorada como imagem de fundo de disseminadores propagandísticos impressos,
televisivos, em outdoor e na internet. Mas, o mais curioso é que são as construtoras e
empresas locais, cuja proposta é firmar a imagem da cidade como elaboradora e
1 Este texto é panorâmico e procura apresentar alguns resultados a respeito da pesquisa realizada no projeto “Questões Urbanas, Questões de Urbanização: História, Imagens, Traçados e Representações”. Mas é preciso dizer que são apenas indicativos dos resultados alcançados.
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veiculadora de produtos de qualidade, as que mais usam tais imagens. Essa
monumentalização, se considerarmos a leitura de Freire, ou esse marco urbano, se
contemplarmos Lynch, chamam a atenção quando pensamos acerca das imagens que
representam a cidade de Londrina. Entretanto, tanto como monumento ou como marco
urbano, esse edifício ocupa um lugar privilegiado na contextura citadina e também na
memória local. A princípio a imagem construída sobre esse edifício define seu lugar e
o coloca em uma condição privilegiada, tanto no espaço como no tempo em relação à
cidade. É sobre esta construção histórica que parece apontar a condição a qual esse
edifício foi alçado no decorrer da história local, cuja representação envolve a
compreensão de marco, de monumento e patrimônio local, para a qual chamamos a
atenção do leitor. Esta construção histórica expressa sua representação na imagem
urbana que a cidade construiu para si e sinaliza para onde e como os orientadores
urbanos construíram a materialidade e plasticidade urbanas ao longo de sua
existência.
A localização do Museu Histórico de Londrina está “amarrada” ao Museu de
Arte, outra edificação histórica da cidade e, ao planetário2, e, na junção do conjunto de
edifícios formam um triângulo de edificações. A funcionalidade deles está voltada para
a preservação da história, o exercício da educação, da arte e da cultura.
O Museu Histórico, no entanto, tem como o Museu de Arte, um lugar de
memoração, visto que foi construído com outra finalidade: a de ser a Estação
Ferroviária3 a qual trazia o progresso e a civilização ao sertão, por meio de seus
trilhos. Isto num passado não muito distante e que compõe a história local. A estação
foi construída para receber a civilização, o progresso, a civilidade era esta a sua
representação na época. Tanto foi preparada para tal função que mais tarde seu
prédio passou a abrigar a história dessa entrada triunfal da modernidade no sertão
paranaense e tornou-se o museu histórico da cidade. Mas não foi investido da
condição de marco por essa razão, pelo contrário, sua representação histórica e a
monumentalidade própria da edificação, ungiram-na de tal condição e que permanece
2 O Planetário de Londrina foi construído na gestão do prefeito Belinati em 1992, porém entrou em funcionamento a partir de 2003, quando um projeto de extensão intitulado: Planetário de Londrina e observatório da UEL: Ambientes de Apoio à Educação Informal de Difusão e Ensino-Aprendizagem em Educação Científica, coordenado pela Professora Doutora Rute Helena Trevisan do Departamento de Física da UEL teve inicio. Sobre uma análise mais aprofundada sobre esse tema ver o texto de Lucia Glicério Mendonça, também apresentado nesse evento e integrante do projeto de pesquisa: “Questões Urbanas, Questões de Urbanização: História, Imagens, Traçados e Representações”. 3 Sobre a Estação Ferroviária, hoje Museu Histórico de Londrina Padre Carlos Weiss, ver o texto publicado nesse evento de autoria Priscilla Perrud Silva, FERRO NOS TRILHOS E NA ESTAÇÃO: o caso da antiga Estação Ferroviária de Londrina. integrante do projeto de pesquisa: “Questões Urbanas, Questões de Urbanização: História, Imagens, Traçados e Representações”.
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até nossos dias. Contudo, o edifício apresente uma arquitetura eclética - para a época
de sua construção já era considera de caráter duvidoso – essa condição não o
impediu de tornar-se para o londrinense, uma referência arquitetônica e um marco
urbano. Sua natureza de representante máximo do ecletismo na cidade não diminuiu
em nada seu valor histórico/simbólico perante seus habitantes que expressam seu
orgulho por meio do uso da imagem ao exibir a suntuosidade da edificação como
fundo de imagem para remeter à identificação da cidade de Londrina. O curioso, nesse
caso, é essa representação ter sido também apropriada por construtoras e
imobiliárias, empresas que a princípio, conhecem os estilos arquitetônicos que
conduziram a arquitetura brasileira. Este uso, indiretamente, sinaliza para o
reconhecimento de um estilo que sempre esteve à margem dos estudos a respeito de
estilos arquitetônicos, por ser considerado por arquitetos, um estilo duvidoso desde as
últimas décadas do final do século XIX, quanto seu uso passou a ser empreendido
com certa freqüência por alguns arquitetos brasileiros a pedido de imigrantes que se
fixaram no Brasil4. Mesmo que alguns arquitetos atendessem a essas imposições de
imigrantes ricos, eram criticados com veemência por seus pares, era um estilo negado
na representação da arquitetura brasileira5. Contudo, esse exemplar é uma referência
na representação da identidade de Londrina. Por outro lado, também é um dos
orientadores do uso cognitivo do espaço citadino, portanto, na perspectiva de Lynch, é
um dos marcos londrinense.
Figura 01 – fotografia do acervo pessoal da
autora, março de 2010
Esta imagem apresenta a localização
deste edifício na disposição que ocupa do
contexto do triângulo histórico, ou seja, de
um conjunto de marcos urbano para a
cidade de Londrina. A imagem retratada
na figura 01 foi fotografada a partir do
Museu de Arte em direção ao Museu
Histórico. Objetivamos com isso mostrar a
praça que deveria ser o elo entre estes
dois museus, mas esta é cortada por uma
rua e o trânsito impede a integração do
espaço entre as edificações.
4 . Esta obra apresenta um panorama da expansão da construção civil na cidade de São Paulo no início do século XX. PAULA, Z. C. de A Cidade e os Jardins: Jardim América, de projeto urbano a monumento patrimonial, (1915-1986. 5 A obra de Reis Filho, Quadro da Arquitetura Eclética no Brasil, possibilita se ter uma ideia do que vinha a ser a arquitetura eclética para a época em que foi construída essa edificação em Londrina, mas especificamente o último capítulo.
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Porém, nesta imagem, a rua não é perceptível, a praça está em primeiro e ao
fundo o prédio que abriga o museu histórico. A praça fica num declive e a edificação
do museu está localizada na parte baixa, em seguida há uma rua que margeia a
praça, esta não tem o mesmo nível do terreno do museu. Para se ter acesso ao pátio
do museu a partir desta rua há uma declinação de aproximadamente três a quatro
metros de altura. Durante a semana a referida rua é um lugar movimentado em razão
de sua localização cortar o que chamamos de triângulo histórico e de ser um dos
acessos ao terminal central de ônibus urbanos, mas aos finais de semana, torna-se
uma ‘rua cega’.6 Não tem movimento, pois o fluxo de ônibus diminui
consideravelmente e é evitada por transeuntes em razão do isolamento que marca
este lado da cidade. Em finais de semana a inexistência de movimentação no
comércio, o fato de o Museu de Arte atender aos sábados no horário comercial e não
ser aberto aos domingos7 e em finais de semana e o de o Museu Histórico, assim
como o Planetário, fecharem as 17h00minh, faz com que haja pouca visitação.
Do ponto de vista técnico, a arquitetura eclética que marca a plasticidade do
edifício do Museu Histórico se aproveitou dos avanços da engenharia do século XIX,
como a que possibilitou construções com estruturas de ferro forjado que marcaram a
época do estensivo uso do ferro no Brasil. Este resultado explicitado por Danielle
Couto Moreira8 em relação a São João Del-rei e Juiz de Fora, se confirma no caso da
estação ferroviária de Londrina que embora tenha tido uma construção com materiais
de primeira linha, para a épcoca, e portanto, o uso do ferro poderia se justificar por
essa razão, não excluiu a opção do estilo eclético, pois manifestava a empregabilidade
de inumeros indicativos oriundos de multiplicidades de estilos. Ora, cabe-nos
apresentar o rigor que marcou o registro da documentação a respeito dessa
construção por seu porte incomum. A manifiestação de sua importância está marcada
na volumetria da obra, na qualidade do emprego de seus materiais registrados em seu
inventário, cujo documento, descreve minuciosamente o tipo de materiais e as marcas
usadas como forma de garantir a qualidade, mas manifesta-se ao mesmo tempo, no
próprio desenho que pode ser verificado nas imagens das figuras 01 e 02.
6 Para aprofundamento deste conceito ver: JACOBS, J. Morte e Vida de Grandes Cidades. Tra. Carlos S. M. Rosa. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 7 O Museu de Arte tem falta de funcionário e de segurança para que possa ser aberto inteiramente em finais de semana. Este museu é de responsabilidade da prefeitura municipal que tenta, com parcos recursos, conciliar o festival de teatro, de música e a cultura em geral na cidade. Neste universo se encontra o Museu de Arte. 8 Sobre o Ecletismo, principalmente no Brasil é importante a leitura do trabalho de Danielle Couto Moreira defendido na USP na área de Arquitetura e Urbanismo, intitulada: Arquitetura Ferroviária e Industrial: o Caso das cidades de São João Del Rei e de Juiz d Fora [1875-1930], principalmente o capítulo: Cidade, Indústria e Ecletismo:
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Figura 02 – Fotografia de Jorge Romanello, outubro
de 2009
Um dos elementos que mais
chama a atenção é sua janela
de canto, uma das remetências
ao estilo modernista que
também irá mostrar seus sinais
na cidade Londrina. Seu mais
importante exemplar, o Museu
de Arte, está do outro lado da
praça que é apresentada na
figura 01, planejado e construído
sob a batuta do mestre João
Batista Vilanova Artigas.
Já o edifício do atual Museu Histórico, não tem ainda certo seu planejador. A
Estação Rodoviária foi resignificada e transformada em Museu de Arte (Figura 03).
Esta edificação é considerada a principal obra de Vilanova Artigas na cidade, mas há
outras, como veremos. Este arquiteto era um defensor, no Brasil, das ideias e projetos
de Frank Lloyd Wright, de tal modo que Yves Bruand (1981) denominou a primeira
fase da obra de Artigas (a compreendida entre 1938 e 1944) de fase wrightiana. Mais
tarde, deu-se seu diálogo estreito com as obras de Le Corbusier, segundo João Masao
Kamita (2000), por o Francês apresentar uma visão apolínea, de civilização
maquinista, eficiente e ascética. Para Artigas (1986), no entanto, por trás da boa
vontade de construir para a coletividade defendida por Le Corbusier, estaria sua
tentativa de legitimar o status quo.
Figura 03, fotografia 01, entrada principal do edifício, fotografia 02 panorâmica da parte frontal e fotografia 03 a patê de acesso a Gare, parte de entrada dos ônibus. Fotografias do arquivo particular da autora, outubro de 2009.
O primeiro edifício de Artigas em Londrina que veio a tornar-se marco urbano,
como já destacamos, refere-se a Estação Rodoviária — hoje Museu de Arte (figura
03). Sua arte impactante de concreto armado, o conjunto de brise-soleil (ou “quebra
sol”) projetado para a Rodoviária e, conforme Suzuki (2003), composto de lâminas de
fibrocimento curvo, horizontais, divididas em várias faixas, era algo totalmente novo
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para uma cidade no meio da floresta. A localização do lado externo e a mobilidade
gerada por meio de manivelas era o que havia de mais moderno para a paisagem
urbana do lugar (Figura 04, fotografia 01).
Figura 04 – fotografia 01, 02 e 03, do arquivo particular da autora, outubro de 2009.
A fachada sul, onde há um grande painel de vidro, não apresentava
sombreamento; o prédio foi projetado e construído para que várias aberturas,
denominada pelos arquitetos de: tipo máximo-ar, permitissem a ventilação cruzada,
uma vez que esse ambiente era único, com aberturas para ambos os lados (PISANI &
CORRÊA, 2007) . O uso de pastilhado, uma inovação para a época no meio do sertão,
levou o poder público, bem como alguns nomes de elite local, a convidar o arquiteto,
várias outras vezes, para a construção de edificações que trouxessem sua assinatura
(Figura 04 fotografias 02 e 03).
O Cine/Teatro Ouro Verde (hoje Teatro Outro Verde) e o edifício Autolon
compuseram também marcos urbanos durante muitos anos na cidade de Londrina
(Figura 05). Ambos construídos, um ao lado do outro, ligados por uma edificação que
se estendia do Edifício Autolon em direção ao prédio do cinema, no qual foi instalado
um restaurante. Foram construídos na Rua Paraná, hoje o Calçadão. Este era o ponto
de encontro em final de tarde para os empresários, profissionais liberais e políticos
locais e funcionava como restaurante freqüentado pelos moradores da cidade em
almoços e jantares antes e depois das cessões de cinema, como as cessões da noite
e as matines freqüentadas por todos aqueles que não se intimidavam diante da
grandeza da composição do restaurante e do cinema. Entre o edifício do teatro e do
Autolon, hoje funciona uma pequena loja de ponta de estoque, como é possível
constar pela imagem da figura 03.
Esse conjunto arquitetônico foi pensado e proposto por um grupo de
empresários locais: Celso Garcia Cid, proprietário da empresa de transporte rodoviário
Viação Garcia, mas na época uma empresa regional; Ângelo Pesarini e Jordão
Santoro, também sócios proprietários da Sociedade Auto Comercial de Londrina –
Autolon, cujo produto consistia nos veículos da marca Chevrolet.
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Figura 05 – fotografia 01 Cine Teatro Ouro Verde – Fotografia 02 intervalo entre o teatro e o edifício Autolon, antigo espaço de localização do restaurante. Fotografias do arquivo particular da autora, dezembro de 2010.
O Cine Ouro Verde foi construído para ter uma plasticidade eloquente, pois a
ideia, segundo Suzuki (2003), era de que fosse o maior e o mais luxuoso cinema do
interior do Brasil. Desde sua proposição em 1948, tornara-se orgulho para a cidade,
em razão de sua grandeza, o que de certa forma também despertou a expectativa
sobre sua inauguração, a qual foi amplamente noticiada pelo jornal A Folha de
Londrina no ano de 1952. O jornal apresentou uma extensa e elogiosa reportagem
sobre a inauguração e destacou a classificação do empreendimento, que nada
deixaria a desejar aos cinemas dos grandes centros, “pois foi ele construído sob os
mais modernos e extraordinários quesitos contemporâneos, admitida engenharia
arquitetônica [sic] que foi sua classificação entre os maiores da América Latina ─ o
Cine Marrocos, em São Paulo, e o São Luiz no Rio de Janeiro” (Folha de Londrina,
20 dez. 1952, Apud, Kamita, 2003).
O jornal ainda defende a construção do edifício contra as críticas, que
assinalavam a suposta inutilidade de um cinema daquelas proporções para uma
cidade como Londrina, “plantada” no que chamavam de “boca do sertão”. Essa defesa
sinaliza para o contraste da edificação com o universo citadino local, ou seja, para a
existência de um estranhamento: a convivência sertão/arquitetura sofisticada. São
essas impressões e sinais que se manifestaram à época e que sustentam a ideia de
que esse conjunto de edifícios foi um dos mais destacados marcos urbanos para a
cidade, pois até hoje o teatro ainda é referência no Calçadão de Londrina, onde está
localizado.
Na Praça Primeiro de Maio (Figura 06), conhecida pelos usuários urbanos de
Londrina como praça da Concha Acústica, também se encontra o Memorial dos
Pioneiros e à uma das margens da praça, a Casa da Criança, hoje Secretaria da
Cultura, outro dos marcos urbanos de Londrina.
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Nesta praça em cujo local são promovidos pela Secretaria da Cultura eventos
destinados a população de toda a cidade, embora seus principais freqüentadores
sejam os moradores do centro e trabalhadores em final de expediente, os eventos são
oferecidos a toda população. Abriga também
Figura 06, fotografia 01 Praça Primeiro de Maio em destaque: Concha Acústica. Figura 06, fotografia 02 parte superior: Casa da Criança em processo de demolição do primeiro andar. Fotos da autora, novembro de 2010.
Figura 07 – as fotografias 01, 02, 03 são imagens de diferentes ângulos da Praça Primeiro de Maio, conhecida como praça da Concha Acústica. Fotografias do arquivo particular da autora de novembro de 2010.
Com base na justificativa de que é preciso homenagear quem chegou primeiro
e construiu a cidade, o Memorial do Pioneiro torna-se uma realidade, mas a referência
espacial predominante é à Concha Acústica. O memorial (Figura 07) é constituído por
17 totens com a inscrição dos nomes dos primeiros que se aproximam em número de
três mil e oitocentos nomes, cuja temporalidade estipulada para a definição de quem
se caracteriza como pioneiro está entre 21/08/1929 a 31/12/1939, data de chegada ao
município.9
9 Neste documento estão arrolados os nomes daqueles que foram considerados pioneiros e tiveram seus nomes cravados no bronze dos totens que se encontram na Praça Primeiro de Maio. http://www.uel.br/museu/pioneiros/mp1.pdf .Também a respeito da leitura crítica desse monumento e para o qual não nos voltamos por não ser este o propósito, ver o texto HISTÓRIA E MEMÓRIA NA CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO HISTÓRICO: UMA INVESTIGAÇÃO EM EDUCAÇÃO HISTÓRICA de autoria de Cainelli, Marlene R. e Tuma, Magda M. P., publicado
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A cidade de Londrina é inicialmente resultado de um projeto de ocupação
iniciado na primeira gestão do governo Getúlio Vargas e que se concretizou ao logo
desse governo. Entretanto, durante suas primeiras décadas de vida, olhava para são
Paulo, como esta olhava para a Europa durante o final do século XIX e começo do XX.
Este “farol” da modernidade e da modernização irá conduzir a vidada da aspirante a
metrópole incrustada no meio da floresta, e que tinha a indesejada condição de “boca
do Sertão”, traduzida para seu nome inicial, “Patrimônio Três Bocas”, em sua projeção
do que deveria ser uma cidade. Seus habitantes abastados e administradores
buscaram rapidamente vencer essa condição com a qual não coadunavam. De
Patrimônio Três Bocas que remetia a entrada do sertão e as saídas para os outros
patrimônios em processo de formação, mudou para Londrina. Tratava-se de uma
alusão à inglesa cidade de Londres, de onde vieram os primeiros (re)colonizadores da
região, pois nela já habitavam índios e posseiros que desaparecem com a chegada
da companhia inglesa e a reocupação em curso.10
Se os engenheiros e arquitetos que aqui viviam não tinham ainda meios de
enfrentar a tosca condição na qual uma recente ocupação no meio da floresta
dispunha, os administradores buscaram na direção do “farol” essa possibilidade.
Desse modo chegam à Londrina, ao final da década de 1940 até o final da década de
1950 os projetos de, Vilanova Artigas, Burle Max, e Prestes Maia.
A vinda desses arquitetos e urbanistas está diretamente ligada ao que
pretendiam aqueles “pioneiros” para Londrina no período inicial da cidade. Estava
claro que todos almejavam a modernização e condições confortáveis de vida para
“todos”. Buscavam o mínimo de urbanidade para a pequena Londrina, e esta
urbanidade é representada pelo trabalho reconhecido de jovens arquitetos,
engenheiros, paisagistas que atendiam a cidade de São Paulo, portanto, se servia
para aquela cidade, servia também para Londrina. Deste modo é este pensamento
modernizador o que moverá a fundação de obras públicas com a assinatura de
Vilanova Artigas e de projetos de modernização da malha urbana assinados por
Prestes Maia. A déia que marcava as políticas dos anos de 1950 e que se estendeu
até o interior do Paraná foi de Progresso e desenvolvimento.
por Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n.34, p.211-222, jun.2009 - ISSN: 1676-2584 211-222. http://www.histedbr.fae.unicamp.br/revista/edicoes/34/index.html 10 Sobre esse processo e o destino dos moradores dessa região antes da chegada da companhia, ver os trabalhos de ADUM, Sonia M.S. Lopes. Imagens do Progresso: Civilização e barbárie em Londrina (1930-1960). Dissertação (mestrado em História). Depto. de História da UNESP, Campus de Assis, 1991; TOMAZI, N. D. Norte do Paraná: historias e fantasmagorias. (Tese). Curitiba: UFPR,1997; PAULA, Z. C. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual Paulista, Julio Mesquita Filho Unesp, campus de Assis. Maringá: coração verde do Brasil?, 1998; ARIAS NETO, José Miguel. O Eldorado: representações da política em Londrina 1930-1975. Londrina: Editora UEL, 1998;.
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Dentro dessa expansão urbana na cidade de Londrina e da lógica de
modernização, outro marco urbano foi construído, a Casa da Criança (Figura 07). Este
edifício encontra-se em processo de restauração para eliminar um pavilhão inteiro que
havia sido construído como um agregado ao edifício e que descaracterizou a
edificação inicial. A ideia defendida pela Secretaria de Cultura é a de que demolição
desse agregado restituirá ao edifício sua feição primeira e a aparência projetada por
Artigas. Esta obra sofreu outra interferência significativa, trata-se da inserção de um
painel de azulejos exposto na fachada principal do edifício, cujo tema é a força e a
pujança do trabalho dos pioneiros locais. O mencionado painel compreende a
paisagem fragmentada que se constituiu entre 1930 (década que marca o início da
cidade) e 1960, quando foi instalado.11
Este edifício é um dos referenciais urbanos da cidade e durante um longo
período foi um de seus marcos. Podemos afirmar que o edifício, hoje, Secretaria da
Cultura, antiga Casa da Criança, compõe uma parte da praça da Concha como é
conhecida a Praça Primeiro de Maio e seu entorno, espacialidade esta que orienta
todo morador ou visitador do centro da cidade.
Figura – 08 – fotografias 01 e 02, são registros do edifício em processo de demolição do primeiro andar. Fotografias da autora, dezembro de 2010.
Esse espaço é ordenado por uma composição no entorno da Praça Primeiro de
Maio, narrado a partir da direita da Secretaria da Cultura/Casa da Criança em direção
a esquerda onde está localizado na sequencia a Avenida Souza Naves e o edifício
Fugante (uma edificação também em estilo modernista), em seguida na quadra frontal,
na rua Piauí o edifício do Centro Comercial, o prédio da Galeria ao lado e em seguida
o prédio da Folha de Londrina e termina aquela quadra. Vem na sequência a rua Rio
de Janeiro que faz a divisa da quadra e da praça com o bosque Zerinho.12 Do lado
esquerdo da Secretária o edifício da Sociedade Rural e que acabou por sufocar o da
11 A Esse respeito ver o texto: ARRUDA, Gilmar. Monumentos, Semióforos e Natureza nas Fronteiras. In: Natureza, Fronteiras e Territórios. ARRUDA, Gilmar (org.).Londrina: Eduel, 2005. 12 Sobre esse espaço no centro da cidade ver o livro de Sonia Adum e Ana Almeida, Memória e Cotidiano do Bosque.
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antiga Casa da Criança e de certa forma sua condição demarco; em seguida o prédio
em cuja parte térrea está instalada a sede da sociedade Médica, e o prédio do Correio,
termina a quadra na rua Rio de Janeiro.
Enfim, todos estão no entorno da praça da Concha Acústica, servem de
orientadores para qualquer morador ou visitante da cidade, mas cabe enfatizar, não é
a praça que serve de referência, é o conjunto. Estes são alguns dos marcos urbanos
destacados, mas há outros de igual relevância e que servem de orientação para o
usuário apressado cuja preocupação é reduzir trajetos ao logo do dia para facilitar sua
rotina diária. A relação dos usuários com a cidade e a identidade estabelecida ao
longo da história da cidade para ela, foi percebida por meio das menções às
alterações que sofreram essas espacialidades nesse decurso, porém, a ênfase que é
dada a eles como marcos urbano, aparece no cotidiano da cidade e da própria
produção historiográfica sobre ela.
Referência Bibliográfica
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ARIAS NETO, José M. O Eldorado: Representações da Política em Londrina - 1930-1975. Londrina: UEL, 1998.
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