Zine Disfunção

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Este zine traz pensamentos sobre processos criativos, design e mercado, questionando o sentido de inovação.

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Meu nome é Christiano Mere, sou estudante de design e estou finalmente colocando a cara a tapa ao desenvolver esse zine. Instigado pelas

questões que me cercam desde o dia que decidi chegar a fundo delas, busquei entender como e por que as necessidade de ser criativo nos leva

a sentir deslocados no mundo.

Por que entender o nosso lugar faz com que este se torne cada vez mais novo? Por que a busca pelo novo sempre vai estar no topo das nossas necessidades? Com todas essas questões vagando pelos corredores e salas das faculdades e mascaradas pela correria do dia-a-dia das agências, fui atrás de respostas. e, hoje, percebo que encontrei muito mais questões que resoluções. Mas passo a

acreditar que dividí-las fará cada um de nós que sonha em fazer de nosso meio de vida ideal mais rico nos aproximarmos das respecivas metas.

Esse motivo me levou a dissertar sobre disfunção e processos criativos, que hoje acredito ser a base das novas ideias. O entendimento do que é lidar com memória e significado se mostra muito eficaz no que diz respeito a inovador e criativo. O zine Disfunção é um manifesto sobre essas questões, levando ao raciocínio e se apropriando de pensamentos e experiências de diversos designers e suas experiências e expectativas.

Espero que esse material traga a você o mesmo click que ainda perdura ecoando nas minhas ideias, me forçando a desbravar o lado mais criativo dos meus processos.

Boa viagem!

CMere

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ABRUPTO

V. RODRIGUES / SíLVIA HELENA

DISFUNÇÃO

TITO SENNA

LUCIANO CIAN

GABRIELLA VERAS

CLARISSE NERI

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Conteúdo:

Entrevistas com Tito Senna, Luciano Cian; dicas com Valério Rodrigues; percepção de mercado e formação com Sílvia Helena e Gustavo Abrupto; sobre carreira com Clarisse Neri e Gabriella Veras. Ensaio sobre disfunção com Christiano Mere.

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Resumo:

Gustavo Abrupta O cara à frente do escritório de comunicação Abrupta, Gustavo abre o verbo para falar de seus projetos e como sua formação como arquiteto e sua experiências fazem a diferença na hora de concebê-los.

Sílvia Helena Semióloga, Sílvia volta a atenção para montar e apresentar sua opinião em relação ao aprendizado e como o design está sofrendo intervenções de outras áreas.

Valério Rodrigues Um dos mais renomados professores de design carioca, Valério aponta as mudanças que estamos sofrendo em questões plásticas e projetuais em relação a design, mercado e academia.

Disfunção Christiano Mere apresenta suas investigações sobre o uso consciente da memória para manipular a comunicação no manifesto da disfunção.

Tito Senna Abre todos os livros e cadernos que compõem sua vida. O designer/artista sem papas na língua apresenta sua trajetória.

Luciano Cian Reúne toda sua experiência para mostrar que é possivel ser um bom designer corporativo sem ser careta.

Gabreilla Veras Gabi, como é chamada pelos amigos, fala como é estudar design para atender um mercado onde não se pode perder tempo.

Clarisse Neri Com sua maneira tipográfica de ver e seu estudo das formas, explica como fez para construir sua linguagem.

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Expediente

O projeto é uma iniciativa de Christiano Mere. Para informações acesse www.disfuncao.com.br

Iniciativa:

Revista Disfunção #01

Setembro de 2011

Apoio: Os outros

Patrocínio: Eu mesmo

Editor: Christiano Mere

Revisão: Fernanda Paixão

Projeto Gráfico: Christiano Mere

Títulos: Clarisse Neri

Colunista: Christiano Mere

Agradecimentos Gostaríamos de agradecer a todos os apoiadores e colaboradores de texto e fotos e que enviaram material para resenha; Clarisse Neri, Diogo Camillo, Cesar Neto, Tito Senna, Valério Rodrigues, Silvia Helena, Gustavo Abrupto, Luciano Cian, Gabriella Veras. O meu muito obrigado.

Agradecimentos especiais a todos que direta ou indiretamente colaboraram para que o zine se tornasse realidade e nos apoiam desde o início.

Para anunciar ou enviar material para review, entre em contato através do e-mail [email protected]

Publicidade: Christiano Mere

[email protected]

Periodicidade: Semestral

Distribuição gratuita em lojas, restaurantes, galerias de arte, museus, centros culturais, shows, eventos, casas noturnas, faculdades e universidades.

Veja os endereços em: www.disfuncão.com.br/info

Tiragem 1000

Distribuição gratuita

Capa Ilustração tipográfica, Christiano Mere

www.christianomere.com.br

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Gustavo abrupta www.abrupta.com.br

“De alguma forma, a minha formação durante o período acadêmico foi muito peculiar, estagiando e trabalhando em empresas de comunicação enquanto cursava arquitetura. Isso teve muita influência no trabalho que faço hoje, que muitas vezes se resume em traduzir para o desenho de um produto ou fazer uma ambientação baseada no que pretende uma iniciativa de marketing.

A formação em arquitetura exige o domínio de muitas disciplinas, partindo do conhecimento histórico e chegando às técnicas de representação capazes de materializar o que se idealiza. Entregar projetos exequíveis é certamente

um diferencial, e isso, no meu caso, vem da formação em arquitetura e urbanismo.

Não vejo uma disputa entre forma e função. São elementos simbióticos e bons projetos alinham esses dois vetores. Tento evitar que minhas vontades quanto à forma se manifestem até que as questões funcionais estejam definidas, o que não é fácil, mas vale a pena.

Falando em emoção e em como o trabalho é percebido - e é possível que este seja o ponto mais complicado de se observar com clareza - o receptor inicial é o próprio criador. Ele é transportado mentalmente para o lugar da experiência. Contar com a experimentação isenta de um receptor é um recurso prático importante que muitas

vezes revela a distância que existe entre as leituras dos criadores e receptores. A dificuldade está em garantir a isenção total no contato entre o produto (seja ele qual for) e o usuário, muitas vezes “contaminado” por algum grau de envolvimento no processo de criação.

Projetos que tomam tempo e investimento devem utilizar ferramentas capazes de avaliar a experiência do usuário e gerar inputs para o projeto.”

FORMA E FUNÇÃO SÃO

ELEMENTOS SIMBIÓTICOS

E BONS PROJETOS ALINHAM

ESSES DOIS VETORES

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“A mudança na estética tem ocorrido muito mais lentamente do que acontece nos dispositivos eletrônicos. As inovações concedidas pelos dispositivos eletrônicos: software, periféricos etc., às vezes reconduzem a uma estética muito antiga. Isso pode ser positivo se for encarado como um revival, uma recuperação em termos de estética e não a invenção da bicicleta.

A plástica do resultado origina-se das morfologias desenvolvidas durante o processo. As morfologias é que garantem o conceito. Plástica não é macete - e às vezes é puro modismo. Sem compromisso com a inovação e a diferença é invencionice. Isso não é design (conceito, concepção) nem arte. (plástica, visualidade).

“O aprendizado está se refazendo. Estamos em um período em que a velocidade caracteriza a vida e também o ensino.Novas práticas vão aos poucos sendo incorporadas, muito embora, no cenário brasileiro, estejamos ainda vivendo muitas desigualdades em termos de acompanhamento das novas tecnologias.

Para quem trabalha e estuda com imagens, esta reflexão se faz - ou deveria - estar mais presente. A aceleração da vida em termos históricos nunca pareceu tamanha e a ideia de viajar sem sair do lugar reflete um mundo mais reincidente no espaço privado. São muito mais imagens; a variedade parece ser ilusória. Embora rápida, a vida da civilização de imagens parece tender para a homogeneidade - o heterogêneo é a busca dos criativos.

professor valério rodriGues desiGner e artista plástico

ES PERO

QUE ATENDA

NA VELOC IDADE

DO APRE NDIZA

DOsilvia Helena soares . consultora de moda, desiGn e imaGem . www.silviaHeleba.bloGspot.com

A busca é curiosa. Num tempo em que tudo parece já ter sido visto e/ou feito, a inovação pode ser a forma nova de falar das coisas.

Chaves importantes estão surgindo. As relações entre o design e a emoção, por exemplo, inscrevem nosso tempo num cenário em que o produto deixa de ser o que é em favor daquilo que provoca - e as imagens são esta provocação.”

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A disfunção para a criatividade é a maneira como percebemos a necessidade do sujeito de ser inovador e criativo. Como a própria definição da palavra afirma, disfunção não é a falta de função, mas sim a que ocorre de forma anômala. A anomalia na função é o deslocamento dos sentidos das coisas em busca de novos, se apropriando de sua memória e percepção. A mistura destes fatores gera associações onde o conceito é explicado pelo próprio objeto, tornado-se assim um “meta-imagem” ou um “meta-conceito” imagéticos. Os valores do que está sendo apropriado ou deslocado para um novo ambiente gera um novo entendimento, onde a interpretação percebida dessas memórias/valores dão forma a um novo objeto. O sentido dele resulta da explicação dos seus significados a partir dos contextos percebidos. Ou seja, um novo contexto conceitual auto-explicativo.

Esse deslocamento conta com os fatores perceptivos, memória e valores dos objetos, onde o reconhecimento de sua origem/história está associado a um novo ambiente perceptivo. Isso gera interesse e interpretações onde o discurso linear está sendo explorado visualmente de forma

a unir o que está expresso, através da interpretação das imagens como sendo um novo objeto, mas sem perder suas memórias e sua origem adquire assim um novo contexto; “inovador”.

A curiosidade sobre o novo vem associada às interpretações provocadas por esse deslocamento de significância. Podemos notar isso muito claramente em objetos que remetem aos fatos marcantes em nossas vidas, como uma música que te faz lembrar o seu primeiro romance ou até mesmo o carro onde curtiu aquela garota dos seus sonhos. Toda vez que um carro parecido é visto, esse estímulo é ativado por nossas memórias e percepções, gerando curiosidade. Quando essa memória é deslocada para outros objetos, podemos fantasiar uma nova situação onde esta está carregada de significância, tornando-se assim um novo e inesperado momento curioso.

O deslocamento pela ótica do “sujeito criativo” torna-se a ferramenta motriz para suas inovações particulares, que sofrem forte pressão por parte da sociedade que cobra produtos interessantes todos os dias, dentro da liberdade de suas memórias.

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Pode-se analisar como fator de cobrança o mercado “criativo” (design, marketing, arquitetura etc.), que necessita de novidades, conscientes ou não, para continuar a sempre se mover em direção ao inovador e inesperado. A disfunção é uma instância do pensamento criativo, que se revela inevitável perante o cenário contemporâneo. Em contrapartida, nesse momento dito contemporâneo, pode-se notar que nos primórdios da comunicação, o deslocamento de memórias e percepções se fazem fundamentais para

a evolução do diálogo. A grande diferença com a nossa história é perceber que, nos tempos atuais, essa cobrança se tornou cada vez mais marcante e veloz. Pode-se dizer que na velocidade que vivemos hoje, é natural não haver início, meio e muito menos fim. Configura-se assim um presente expandido (onde passado, presente e futuro ocorrem ao mesmo tempo) e essa premissa do caos torna o pensamento criativo de input e output em informações dialéticas e imagéticas de todos os tipos de discursos

Grafismo Gerado a partir de ruídos de um ambiente: memória subjetiva do espaço traduzidas pelo proGrama processinG (Generativo) junto com os recursos do illustrator e pHotosHop. um trabalHo desenvolvido com base subjetiva conceitual traz a percepção visceral para a reflexiva, tornado a interação do interpretante mais rica

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lineares e planos. Porém, após esse processo intitulado criativo, nos deparamos com a necessidade de organização “pós-criativa” desse caos, onde traduzir esses pensamentos através de uma linguagem inteligível faz parte do processo para que o deslocamento tenha aí o seu sucesso como novos objetos interpretativos. Essas ações realizadas subjetivamente são impostas pela forma como lidamos com o caos externo.

Absorver e processar são faculdades naturais. Extrair novos sentidos é efetivamente a capacidade criativa de lidar com os códigos culturais; é experimentar em coletivo o que se configura no não natural - ser criativo é não ser natural. Ser disfuncional é perceber isso e lidar de forma consciente com os códigos, já que “a colher não existe”. O design torna-se a aproximação daquele lugar em que arte é técnica, e o conceito, essência invisível do processo projetual em busca de novos caminhos de comunicação e outros níveis de complexidade.

Grafismo Gerado a partir de ruídos de um ambiente: memória subjetiva do espaço traduzidas pelo proGrama processinG (Generativo) junto com os recursos do illustrator e pHotosHop. um trabalHo desenvolvido com base subjetiva conceitual traz a percepção visceral para a reflexiva, tornado a interação do interpretante mais rica

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tito senna desiGner, artista

plástico/Grafiteiro

dar o mundo e não crer em um Deus que criou a vida e o universo. Com isso, desde pequeno já aprendia o que era uma gestão de projeto: como a criação do mundo, detalhes de um projeto da construção do Templo, o projeto da Arca de Noé, onde Deus capacitou homens que foram chamados de loucos e executaram um

projeto perfeito - diferente do Titanic onde tinha profissionais sãos onde “nem Deus afundava o barco” e você sabe o que aconteceu... Até em projeto de moda: se for no Museu de História da Moda nos EUA e pedir o primeiro livro de moda, a bibliotecária vai lhe dar o exemplar da Bíblia ilustrada do séc. XIV.

Deus administrou o univer-so em 7 dias que, na verdade, são sete pontos dessa gestão que pode te levado bilhões de anos - como diz o versículo “1 dia pra Deus pode ser mil anos e mil anos um dia”, “tudo está consumado”. Com o livro de Apocalipse, que revela os dias de tribulação da terra, aprendi sobre a relatividade do tempo antes de conhecer quem era Einstein. Comecei a saber o que era gestão de risco com o livro de Êxodo, Jó e Jonas; a diferença de valor e preço, - o preço pago pela minha

vida e o valor disso nos ensinamentos de Jesus. Soube o que é empreendedorismo com José, que foi vendido como escravo pelos irmãos para uma terra estrangeira e virou primeiro ministro do Egito. E soube o que é viral e prospecção de uma verdade nos evangelhos de Paulo.

Tantos “cases”, mais insucessos do que êxitos, a Bíblia é completa. Como absorver isso com 6, 7 anos? Talvez seja isso que me faça ser que sou hoje e vou passar todos os dias da minha vida ruminando esse livro, que é novo todo dia. Quando crio algo, sinto que estou usando a mesma essência que Deus usou para criar e mover o universo. Ter uma ideia é usar sua essência. Amo Deus, sou designer e isso me faz ser mais íntimo D’Ele. Sempre digo: nós não temos muitos projetos em mente. Na verdade, nós somos projetos de Deus, em que Ele confiou em nós mesmos o sucesso desse projeto. O que eu penso

e crio é só um reflexo de quem me criou.Quais foram

Como você definiria seu estilo?Uma outra vez me perguntaram como eu definiria o meu estilo. É o reflexo do que vivo, vejo, convivo, almejo. Como absorvo as notícias e acontecimentos que me circundam; acho que isso acaba sendo uma dialética da vida - o resíduo desse diálogo é o estilo.

Quais as suas maiores referências?Por ser multidisciplinar poderia dar referências de pessoas que mexeram comigo dentro de onde atuo como no graffiti, Eco, Akuma, Ema, Smael, 123Klan, Dare, Daim e que me atraíram pro campo da arte, Jesús Soto, Esher, Duchamp, Lygia Pape, Lygia Clark, Hélio Oiticica, Cildo Meireles, Tunga, José Resende e o próprio Ronald Duarte, mas nenhum deles supera a minha origem. Vim de lar evangélico, sou crente e acho que nenhum deles chega perto de Deus. Vou explicar por que - isso resume a minha vida.

Desde criança leio a Bíblia e até hoje nunca encontrei algo tão complexo e intrigante como Ela. Desde o livro de Gênesis, você percebe que tudo foi criado através de uma ideia e Deus a pôs em ação através de uma palavra. O livro de João, quando se refere a Jesus, há a essência da práxis: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós ” (Jo.1:1-14). Acho engraçado um designer ou artista não ler esse Livro, acreditar que é capaz de ser criativo e mu-

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Quais foram seus últimos projetos?Talvez o meu último projeto seja minha vida por completo (riso). Os projetos que estou realizando mostram um pouco dessa raiz multidisciplinar. Eu e meu sócio Raphael Medeiros estamos engajados no projeto da marca de roupas FOR, que tem consumido a maior parte do meu tempo e da minha saúde mental, pois além de fazer toda parte que um designer tem que fazer ainda tem área de marketing, administração empresarial além da logística. Estamos com escritório investindo nesse projeto há mais de 1 ano e meio e, agora, com a mudança do escritório, estamos realizando outro projeto paralelo com um outro sócio fazendo um produtora de vídeos. Tenho escrito regularmente para o blog Blendup, na área que envolve design e toda natureza de sreet art até skate. Já estou no segundo ano alimentando esse blog com notícias. Eu e Daniel Caceiro desenvolvemos a estratégia e o marketing digital do blog, e temos obtido grandes resultados. Estou participando do Concurso Itaú Cultural e Rollernews+Rollerblade Design Contest 2011, cujo resultado deve sair esse mês. Eu e meu irmão, o artista Téo Senna, estamos organizando a nossa primeira exposição: “Graffiti Contemporâneo”, o que tem me animado. E estou escrevendo mais quatro projetos. Um deles é para a FUNARTE Arte Visuais, onde ganhei um concurso no ano passado com o grupo Apocalipse Graffiti. Fizemos o projeto Gigante do Rio, a 6ª Edição de Inovação da Suvinil, que ainda estou no brainstorm. Estou também participando do concurso para realizar a programação visual da 30ª Bienal de Artes Visuais de São Paulo. Estou correndo contra o tempo. Além disso, tenho um projeto pessoal grande da Graffitoteca Nacional, que já fiz muita coisa, mas, quando entro a fundo no assunto, mais ele cresce. Parei na parte de infra estrutura da Graffitoteca e aquisição de apoio pelo ministério da cultura, pois é algo que tenho que estudar. Este é um objetivo que faço como algo a realmente contribuir para a minha comunidade. Além de estar voltando aos poucos a produzir no meu atelier, que tenho desde 2007 na Lapa. Tenho tirado meus estudos do papel e isso tem aliviado a minha aflição diante de projetos como o da FOR. Voltei a estruturar o projeto

de um programa de tv com extensão na internet sobre design e lifestyle criativo, que, talvez, até o final do ano, o programa piloto esteja pronto para começar a negociar a exibição na tv. Tudo isso ao mesmo tempo... Fora alguns trabalhos que estão parados e não me deixam dormir, pois são como filhos meus. Por exemplo, projeto do meu livro-tese sobre a História do Graffiti do Rio; o grupo Apocalipse Graffiti; escrever pra Zupi; participar mais do tal projeto de um amigo “Disfunção”, e simplesmente limpar meu atelier.

Sendo artista plástico e designer, como você percebe as influências que um campo traz para o outro (o design às artes plásticas e vice versa)? Praticando ambas as áreas em conjunto, você acaba sendo um pouco artista quando faz um trabalho de design e um pouco designer quando faz um trabalho artístico. Tendo essa influência mútua, como definiria as fronterias do seu trabalho artístico com o trabalho de design?

Acabo gastando o mesmo esforço; não tem como definir. Com quase todos os projetos que realizei, acabo me conflitando com que linha de pensamento devo levar ao projeto, qual lado do meu cérebro deve agir: design ou arte. Na maioria das vezes, essa parte do cérebro é selecionada pela própria natureza do projeto: de onde ele veio e pra onde ele vai; que tipo de pessoa pediu ou quem vai aprovar esse projeto... Antes de pensar na função ou na solução, penso no “remetente” e no “destinatário”. Todo projeto lida com pessoas. Um trabalho não passa de um envio de uma mensagem e nós somos apenas “carteiros visuais”. No campo do design, o carteiro não aparece tanto - no campo da arte, o carteiro faz questão de “entregar em mãos”. É essa passagem de mãos que pode interferir crucialmente em um trabalho. Por isso, pensar na consequência do trabalho me facilita a administração da causa. Chega um

momento que não dá para separar, é inevitável, transparece essa relação arte/ design. Mas acredito que isso é o que me torna um designer mais autoral e um artista mais funcional.

A arte nos dias de hoje está se tornando cada vez mais conceitual e complexa, e assim mais abstrata. Sendo assim, é permitida qualquer manifestação do sujeito “artístico” ser chamada de arte. Percebo que esta está se tornando invisível, pois suas definções já não são mais claras e passam a falsa sensação de tudo ser arte. Como você entende o que está acontecendo?Justamente esses fatores só evidenciam o que o mundo passa atualmente: crise. As artes visuais, não só no Brasil, mas num contexto mundial, vêm sofrendo essa crise há anos. Podemos dizer que isso acontece desde a confusão de Duchamp, passando pelo “bode expiatório” de Basquiat e foi despejado nos artistas pop nipônicos. A arte conceitual hoje não passa de uma crise existencial da própria arte. Talvez, nesse período onde o mercado econômico está em crise, a arte volte a aquecer monetariamente - e isso sempre resulta em uma reação. Houve uma volta de investimento na arte devido à instabilidade de investimento em ações. Há poucas semanas, foi vendido um Basquiat por £6 milhões pela Sotheby’s. E acho que isso também ajuda a confundir mais esse momento, pois existe a arte e o mercado de arte. Essa talvez seja a maldição que a arte tenha que carregar para resto da sua história. Não o fato de ganhar dinheiro com algo que você fez, mas a especulação que foi feita para tranformá-la num mercado “rentável”. E, se tratando do Brasil, é uma mentira, porque as galerias não conseguem se sustentar: todas fecham no vermelho, e se não fecham, tem alguém perdendo. No caso, o artista. Em toda crise surge uma evolução. O homem faz até onde seu limite chega; Deus não tem limite. Talvez nesse Apocalipse possa surgir a orelha de Van Gogh que ainda não apareceu. Vamos esperar...

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Luciano Cian nasceu em Lorena, São Paulo, em 1973. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.

“A comunicação é viva, orgânica. Não existe outra maneira de comunicar alguma coisa sem falar a língua que está sendo dita na rua. Ou seja, como podemos comunicar alguma coisa se não usarmos uma linguagem contemporânea? Muitas vezes esbarramos na dificuldade que as pessoas têm em aceitar o novo. E esse “novo” nem é tão novo assim. Não estamos falando de ficção científica, estamos falando do que está acontecendo. Os meios tradicionais perdem força a cada dia, na medida em que o mundo é oxigenado por novas formas e ideias. E é nesse gap que gostamos e sabemos atuar. Dessa forma, direcionamos o trabalho para pensamentos não lineares. A caretice não nos interessa pura e simplesmente por não sermos caretas. Mesmo o mundo corporativo já sabe que não basta lançar mão de uma comunicação linear e óbvia, mas ainda existe uma barreira em aceitar as linguagens que estão sendo faladas. É o famoso medo do desconhecido que desacelera o pensamento contemporâneo. Estamos aqui para remar para frente e não para os lados.”

“Essas experimentações vêm naturalmente.

A CA RET ICE NÃO NOS INTER ESSA

A manipulação das memórias dos objetos

busca novos discursos a fim de chegar ao

inusitado

desiGner interativo, Gráfico e diretor de arte, luciano cian lucianocian.com.br

E não existe nada mais gratificante que fazer algo pensando no novo, no inédito. A mensagem é a mesma: os meios são diversos. Experimentações não se traduzem, necessariamente, na invenção de um software ou máquina, mas sim em usar um mix de coisas que estão à disposição para chegar numa composição diferente.”

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“Acredito que tudo influencia, não só o que aprendo na faculdade, estágio, vida ou o que leio e busco. Somos compostos do passado e do agora. Comportamos elementos construídos em outros tempos. Ler, questionar, buscar e adquirir referencial é fundamental. Ajuda na hora de criar e aplicar em projetos. Tento sair do lugar comum para gerar memória. Componho o novo absorvido no fluxo do que já é conhecido. Tudo é recriado!

Quanto mais conhecimento eu tenho, mais elementos de vida se conectam a mim. Mais preenchida de ideias eu fico e mais reflito sobre elas.

Estamos num período onde tudo voa. É muita informação e se você não correr junto, BEIJOS, TCHAU!; você está obsoleto. Comecei há pouquíssimo tempo a lidar com o mercado. No estúdio gráfico no qual estagio é tudo para ontem. PRAZO! Acompanha a velocidade do tempo. Os resultados precisam

A manipulação das memórias dos objetos

busca novos discursos a fim de chegar ao

inusitado

Gabriella veras estudante de desiGn pela unesawww.carGocollective.com/Gabriellaveras

ser mais rápidos e os desafios são constantes.

Como estudante de design gráfico e nova no mercado, vejo que ele é diverso e crescente. Já ouvi muito na faculdade colegas dizendo que ser designer é ser pobre para o resto da vida. Sempre achei um pensamento pequeno e limitado. É essencial ter um diferencial, inovar, senão você passa despercebido e - aí sim - será pobre. Financeiramente e espiritualmente, para o resto da vida!

E mais: é preciso ir além, estar sempre antenado, estudando, questionando e agindo. A faculdade só indica o caminho. O resto é com você!

A pesar do design ser uma profissão nova, me parece que as empresas estão começando a perceber que ter design é um diferencial bastante competitivo e que nós somos

um elemento indissociável, o que é bastante animador.

Já quis desistir do design várias vezes. Tem que ter uma cabeça forte para seguir esse caminho. Já começa uma pressão na faculdade, com mil trabalhos a serem feitos. No mercado então... Ainda tenho muito o que aprender, mas sugo tudo que percebo e que me é construtivo, não deixo passar uma oportunidade. Estou plantando, cuidando e vou colher logo!

Estamos em um

período onde tudo

voa

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“Durante os últimos três anos do ensino médio, eu tinha certeza de que queria entrar para o curso de Psicologia. E por conta de uma única conversa com uma professora, mudei totalmente de ideia e fiquei sem rumo. Acabei entrando para o curso de Desenho Industrial, por achar que se enquadrava mais nas minhas escolhas daquele momento. Nessa época, estava aprendendo a usar o Photoshop e criava templates de blogs para mim e meus amigos. Então, percebi que iria trabalhar com algo diferente. A princípio, achei que iria desenhar bastante; como não sabia, pelo menos iria aprender. Na verdade, estava arriscando.

Com o tempo, percebi que o curso era muito mais complexo do que eu imaginava. Apesar de concluir sempre muito bem meus trabalhos acadêmicos, sempre tive muita dificuldade em executá-los por não saber desenhar. Por isso, tive de recorrer ao computador, que mesmo assim não era tão fácil, pois teria que criar meus layouts da mesma maneira nos programas. Senti num certo momento a necessidade de me encontrar na profissão que eu estava escolhendo. Consegui me entender no início dessa procura, com editorial. Fiz minha primeira revista na faculdade e gostei muito, consegui finaliza-lá melhor do que esperava. Comecei então a me interessar bastante por essa área. Passei a estudar e a entender melhor como funcionava, fiz algumas revistas experimentais, analizando as de meu interesse, apontando melhorias e propondo sua diagramação mais interessante.

No final do curso, como já era esperado, resolvi fazer um livro como projeto de conclusão. Porém, desta vez, quis criar algo bem diferente do que eu jamais tinha feito. Desenvolvi um livro com uma diagramação mais livre, apesar de ter um grid. O livro seria todo ilustrado, partindo para o estilo de colagens e voltado para o “vintage”, onde o texto entraria compondo as páginas junto com todo o resto. Isso me deu muito trabalho, porém o resultado foi bastante gratificante: aprendi e cresci muito com esse projeto.

clarisse neri desiGner Gráfica da bold desiGn

www.beHance.com.br/clarisseneri.com

Terminei a faculdade com um certo discurso e experiência editorial. Porém, não aprendi a desenhar como achava que iria quando entrei para o curso. Mas entendi como dar saída para o meu processo criativo, como me entender com as minhas ferramentas e com o meu design. Percebi que precisava resolver essa questão sozinha.

Comecei a praticar e fazer alguns desenhos, que no final acabaram sendo todos um desastre. Não adiantava, não conseguia desenhar. Nesse processo de querer melhorar minha plástica, comecei a explorar a tipografia e percebi então que tinha formas prontas na mão que eu poderia brincar. Comecei a criar composições com as formas das fontes, sobrepondo, recortando, desconstruindo, criando outras formas a partir destas. Consegui então definir meu estilo.

Utilizo esse estilo nos meus trabalhos pessoais e profissionais. Com o tempo e experiência, passei a não usar somente as formas das fontes, mas a forma de tudo que me é possível - de uma marca em que estou trabalhando, por exemplo. Tanto da tipografia quanto de um símbolo. Hoje, procuro ser o mais versátil possível, porque nem em todos os trabalhos esse método será aplicável:o que me faz querer sempre explorar novas formas de fazer o meu design.”

PROCURO SER O MAIS

VERSÁTIL POSSÍVEL

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www.cHristianomere.com.br

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