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Viabilidade dos centros culturais no estado de Pernambuco – o caso Caixa
Cultural1
Ricardo Antonio Rocha BRANDÃO2
Alexandre Figueirôa 3
Universidade Católica de Pernambuco, Recife/PE
RESUMO
Este artigo retrata a pertinência e relevância da atuação dos centros culturais no estado
de Pernambuco, utilizando como estudo de caso o centro denominado Caixa Cultural,
inaugurado na cidade do Recife em maio de 2012, e que se tornou o primeiro ‘centro
cultural’ híbrido em atividade no estado. O artigo é fruto da monografia homônima
apresentada como trabalho de conclusão do curso de pós-graduação como requisito
parcial para obtenção do título de Especialista em Jornalismo Cultural. Trata-se de um
estudo de caso que reflete os aspectos inerentes à implementação desse modelo de
equipamento cultural nos centro urbanos e sua relevância, além da relação com os
mecanismos de difusão das artes, política cultural, economia da cultura, financiamento
da cultura e marketing cultural.
PALAVRAS-CHAVE: jornalismo cultural; centros culturais; política cultural;
economia da cultura; marketing cultural.
INTRODUÇÃO
Os centros culturais simbolizam, por assim dizer, casas das artes ou templos
para difusão das artes. Por meio de visitações públicas, essas edificações
disponibilizam acesso às obras artísticas em formatos diversos, sejam artes plásticas,
fotografia, audiovisual, literatura, música, teatro, cinema, dança, interações
hipermidiáticas e intervenções performáticas. Eles são híbridos no sentido de que
permitem a coexistência de variadas manifestações artísticas em um único espaço
internamente dividido. Estão presentes, desde a década de 1980, em cidades como Rio
de Janeiro, São Paulo e Brasília, quando surgem os primeiros centros culturais no país.
Somente após três décadas do aparecimento desses espaços no Brasil é que o
modelo chegou a Pernambuco. Ante a ausência, anterior a 2012, dos centros culturais
1 Trabalho apresentado no DT 8 – Jornalismo do XV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste
realizado de 12 a 14 de junho de 2013. 2 Graduado em Comunicação Social com habilitação em Radialismo e TV, pela Universidade Federal de Pernambuco. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, pela Universidade
Federal de Pernambuco. Especialista em Jornalismo Cultural, pela Universidade Católica de Pernambuco,
e-mail: [email protected]. 3 Orientador do trabalho de conclusão do curso de Especialização em Jornalismo Cultural. Doutor em
Estudos Cinematográficos e Audiovisuais pela Universidade de Sorbonne- Paris; mestre em Artes pela
USP e professor de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco, e-mail: [email protected].
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com estrutura híbrida no estado de Pernambuco, constatou-se a viabilidade da
implantação desses espaços na região. A unidade da Caixa Cultural localiza-se no
centro histórico do Recife e foi concebida em uma edificação tombada pelo patrimônio
histórico, cultural e arquitetônico que foi restaurada para abrigar bens artísticos e
culturais. Até então, havia no estado uma carência por equipamentos culturais que
permitissem a apreciação de obras artísticas de maneira simultânea em ambientes
distintos, mas presentes no mesmo espaço. A chegada de um centro cultural híbrido
configurou-se como um impacto nas atividades desenvolvidas por artistas e produtores
culturais locais e possibilitou a convivência e fruição da população com um número
maior de manifestações e produções culturais diversas, subsidiando o circuito das artes
local quanto à produção e ao consumo de bens culturais e realizações artísticas.
O tema centros culturais até hoje tem sido alvo de poucos estudos, o que limitou
esta pesquisa, de forma moderada, às fontes secundárias. Não obstante ter se
identificado autores que eventualmente transitam pela temática centros culturais, casos
de José Teixeira Coelho e Ana Carla Fonseca Reis, a ausência de obras estritamente
dedicadas à apresentação e análise desse tipo de equipamento urbano nos obrigou a
aprimorar a busca por fontes primárias. Nesse quesito, os dados acerca da estruturação,
projeto e gestão dos centros culturais vinculados à Caixa Econômica foram encontrados
nos documentos oficiais e manuais normativos (gentilmente cedidos pelos setores de
comunicação e marketing da CEF) criados para padronizar a administração dos centros
onde a instituição mantém esse modelo de equipamento cultural em funcionamento.
Mas o aspecto fundamental em torno do qual orbita a questão do surgimento dos
centros culturais trata-se dos investimentos destinados pelas corporações e pelo Estado
na concepção dos espaços destinados a oferecer atrativos culturais e bens artísticos à
população. Nesse sentido, o marketing cultural passa a ser o ponto chave que
impulsiona as empresas públicas e privadas a investirem nos referidos centros tendo
como fundamento a economia da cultura. De fato, do ponto de vista da instituição
investidora, observou-se durante esta pesquisa que a associação que se processa entre
uma imagem institucional positiva e o fornecimento de bens e valores culturais
aproxima a instituição dos seus públicos, estabelece uma empatia entre a empresa
investidora e seus colaboradores, atribuída ao endomarketing, e fornece uma
possibilidade de incremento na absorção de marcas, produtos e serviços. Do ponto de
vista do público, os centros culturais representam uma alternativa relevante quanto à
possibilidade de contemplação e fruição de obras artísticas e bens culturais.
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Centros Culturais: origens, definições e abordagens
Caminhando pelos trilhos da história e voltando à Grécia Antiga, período no
qual o cultivo às artes disseminou-se com especial evidência, a filosofia, a poesia, a
música, a matemática e a astronomia eram tidas como artes nobres. Filósofos como
Platão e Aristóteles disseminavam o culto ao pensamento e à difusão de saberes, como
sugere Ana Carla Fonseca Reis:
Inúmeras obras de arte, especialmente esculturas e pinturas, foram concebidas
naquele período histórico. Normalmente comissionados pelos sucessivos
governantes, os grandes monumentos eram erigidos como forma de demonstração de seu poderio, frente às sociedades e as cidades vizinhas. (REIS,
2003, P. 5)
Na sequência histórica, Roma conquistou militarmente a Grécia e herdou, por
conseguinte, praticamente todo o legado artístico grego que passou a fazer parte do
cotidiano da população romana. Os romanos foram seduzidos pelos novos
conhecimentos e ampliaram o cultivo e a apreciação às obras de arte. Os imperadores se
promoviam com esse hábito ao ostentarem uma imagem de domínio do belo e do saber.
Aqueles que pretendiam frequentar as altas classes sociais, ou fazer parte das elites,
deveriam se preocupar em consumir obras de arte. Foi nesse contexto que surgiu a
figura do mecenas. Em sentido figurativo, o mecenas é um “patrocinador generoso,
protetor das letras, ciências e artes, ou dos artistas e sábios” (FERREIRA, 1999, p.
1304). De acordo com Reis (2003) o hábito do mecenato surgiu no período do império
romano.
A expressão mecenato parece ter sido forjada como referência às atividades
desenvolvidas por Gaius Maecenas, amigo pessoal do Imperador Caio Augusto,
que exerceu funções administrativas no império romano, entre 30 a.C. e 10 d.C. Embora sem um título oficial, ele substituía o imperador durante sua ausência, o
que lhe conferia plena autonomia na alocação de recursos. Maecenas foi um
grande articulador das ligações entre o Estado romano e o mundo das artes.
Além de admirar a produção artística e de ele mesmo ser um escritor, Maecenas parece ter percebido que, ao aproximar artistas, filosófos e pensadores do
governo que representava, ele carreava para o Estado a aceitação e o prestígio
de que os artistas gozavam junto à população” (REIS, 2003, p. 6).
Já a concepção de museu, “do grego mouseîon, ‘templo das musas’, pelo latim
museu” (FERREIRA, 1999, p. 1384) como espaço para a coleção de interesse artístico,
histórico e técnico, antecede a concepção de museu de arte, que por sua vez é antecessor
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dos atuais centros culturais. Proposta defendida por Ana Castro (2007) registra uma
ocorrência que presumidamente poderia identificar um primeiro modelo semelhante ao
dos atuais centros culturais híbridos ainda no período da Antiguidade Clássica.
Guardadas as devidas proporções, denotadas pelo hiato temporal, o fato é que o modelo
contemplava a intersecção entre arte e conhecimento, arte-educação e ciência, e
dispunha de espaços para convivência e para contemplação. Tudo em um só lugar.
Para dar segurança e perenidade a sua história, artes e ciência, os egípcios da
disnatia dos Ptolomeus, no século II a.C. erguem em Alexandria seu grande
mouseîon com a finalidade de acolher, preservar e dominar o saber enciclopédico, qual seja discutir e ensinar tudo sobre religião, mitologia,
filosofia, medicina, zoologia, geografia, dentre as áreas de conhecimento da
época. Além de coletar e exibir obras de arte, peles de animais raros e pedras preciosas, fragmentos de minérios, o prédio dispunha de biblioteca, anfiteatro,
jardim botânico, observatório e refeitório. O mouseîon alexandrino mantinha
constante produção de trabalhos acadêmicos, como um dicionário de mitos, um sumário do pensamento filosófico e um detalhado levantamento sobre todo o
conhecimento geográfico da região” (SUANO, 1986, apud CASTRO, 2007, p.
15).
Ana Reis (2003) enfatiza que a relação entre Estado e cultura manteve-se ainda
intricada à linha do tempo, passando por um período de relações ‘mornas’ durante a
Idade média, quando o cultivo de terras passou a ocupar prioritariamente os anseios dos
nobres e senhores feudais e o metal passou a compor a matéria-prima para a confecção
de artefatos. Depois veio o período do Renascimento, cenário de movimentos de
valorização das artes. Nesse período membros da aristocracia e do clero incentivavam
produções artísticas grandiosas. O clero, aliás, também incrementou com ênfase o
mecenato, a exemplo do Papa Nicolau V, que formou a biblioteca do Vaticano e
subsidiou Michelangelo e Rafael na produção de obras de arte.
Em seguida, com a chegada do Iluminismo, a igreja católica perdeu a hegemonia
quanto ao incentivo e controle da produção artística que passaram a ser divididos com a
nobreza e a burguesia. Na passagem para os séculos XIX e XX, os Estados unidos e os
países da Europa consolidam-se como potências econômicas mundiais. Uma distinção
clara ocorre em relação às políticas culturais colocadas em tela por essas potências. De
um lado os EUA, com base no liberalismo, deixa a cargo da iniciativa privada os
investimentos com as artes. De outro lado, países como a França consolidam-se cada
vez mais como fomentadores das ações culturais. Enquanto na América do Norte torna-
se recorrente a aparição de mecenas oriundos das classes milionárias ofertando
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generosas doações destinadas às produções artísticas, na França, em um período
subsequente a sua Revolução, o Estado é que supre os meios de produção das artes.
A simbologia que emerge da presença dos centros culturais possui ainda um
viés institucional e ideológico. O modelo institucionalizado de centro de cultura faz
parte do suporte que o Estado fornece por meio de entidades públicas de incentivo às
atividades e produções artísticas, ou da iniciativa privada, interessadas no retorno obtido
pelo marketing cultural. Mas em ambos os casos já se manifestam interesses em ações
de responsabilidade social. As instituições aproximam-se do meio cultural fornecendo
equipamentos utilizados para o agrupamento, conservação e exposição dos acervos. São
os museus de arte e os centros culturais que simbolizam estruturas concentradoras, e ao
mesmo tempo, paradoxalmente, difusoras de bens culturais. Ainda quanto às
imbricações entre cultura e Estado, Guilherme Galliano (1986) faz algumas
observações.
A esfera das instituições culturais trata da provisão das condições que facilitem
a criação e a conservação de bens culturais (religiosos, científicos, artísticos) e de sua distribuição diferencial entre os vários grupos da sociedade. As
instituições estão muito próximas, mas não são idênticas aos grupos que se
organizam em função de objetivos especiais ou funções sociais. Assim, os princípios de regulação política não somente são eficazes com respeito aos
grupos cuja função primordial é algum tipo de atividade política, mas também
regulam diversos aspectos de grupos cuja finalidade ou função predominantemente é econômica, cultural ou educativa (GALLIANO, 1986, p.
293).
Centros Culturais: uma ferramenta de marketing cultural
Passando o foco para uma análise orientada em função das características atuais
das relações de produção no meio cultural, cabe aqui um adendo específico respaldado
pela confluência de ideais corporativos cujas origens encontram-se alicerçadas nos
preceitos da responsabilidade social. Tais preceitos associam-se à imagem corporativa e
encontram apoio nas sociedades contemporâneas, pois são baseados nas satisfações de
desejos e aspirações conjuntas quanto a um mundo socialmente e ambientalmente mais
saudável. Desse modo, a responsabilidade social corresponde ao preenchimento das
necessidades da comunidade, da qual obviamente a corporação também é parte
integrante. Ações de responsabilidade social são benéficas para todos os setores da
cadeia cultural. Os objetos culturais, e mais além, os símbolos culturais, possuem
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significativo valor social e as instituições públicas e privadas encontram-se atentas a
essa realidade.
Ana Reis (2003) afirma que para balizar as justificativas e ações quanto aos
programas de responsabilidade social, desenvolvidos por instituições públicas e
privadas, uma área de estudos relativamente recente criou as condições para que se
identificasse os centros culturais como equipamentos motivados por concepções pós-
modernas de variedade, liberdade, acessibilidade e respeito universais. Ou seja, trata-se
dos setores responsáveis nas grandes empresas e demais instituições de grande porte,
pelo posicionamento satisfatório da imagem corporativa. O marketing surgiu no
contexto de arrumação dos setores industriais, quanto ao escoamento da produção, no
período imediatamente após a Revolução Industrial. Algumas das suas subdivisões,
como o marketing cultural e o marketing institucional, tiveram suas finalidades mais
bem definidas somente após sua consolidação como ferramenta eficiente na
intermediação das relações de consumo.
Hoje os estudos e pesquisas relacionados ao marketing amadureceram. Seus
conceitos conferem credibilidade às ações e algumas das suas ferramentas auxiliam na
implantação de programas de responsabilidade social colocados em tela pelas
corporações após a consolidação da globalização, como forma de estabelecer relações
positivas com seus stakeholders. Atualmente os métodos de avaliação indicam os
resultados quando o assunto é o ganho proporcionado pelo marketing cultural, não
apenas para as empresas e instituições investidoras, mas também para os seus públicos e
para a sociedade de modo geral por extensão. Defendida por Reis (2003, p. XV) como
“uma das melhores ilustrações do que significa uma parceria ganha-ganha”, o marketing
cultural aponta para um novo paradigma quanto aos investimentos das empresas em
cultura.
Ao selecionarem projetos culturais e ao terem seus nomes associados ao
incentivo cultural, as empresas ganham não apenas no quesito merchandising, na
fixação da marca, no reforço à identidade visual e no fortalecimento da imagem
corporativa. Elas enxergaram no marketing cultural uma maneira de ampliar a
visibilidade e de promover uma imagem positiva para a corporação não apenas junto
aos seus stakeholders, como também ao satisfazerem setores da sociedade que são
formadores de opinião e que se beneficiam com as ações. Portanto, o marketing cultural
representa uma campo profícuo quanto ao estabelecimento de novos relacionamentos
entre as corporações e seus diversos públicos.
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Reforço na fixação da marca, oportunidade para fechar novos negócios, aumento
dos lucros e fortalecimento da imagem institucional decorrentes das iniciativas do
marketing cultural. Todos esses benefícios corporativos à parte, o fato é que as ações de
responsabilidade social surgem em virtude das novas expectativas geradas pelo
complexo alinhamento das orientações corporativas com o objetivo de contribuir para o
exercício da cidadania. Fazer parte de uma sociedade da qual os bens sociais e culturais,
essenciais para o pleno exercício da cidadania, podem ser metabolizados por todos,
traduz uma atitude que se codifica com os princípios de respeito, ética, responsabilidade
e compromisso que só agregam valor às empresas.
Mesmo quem não é cliente ou consumidor dos seus produtos, transfere valor às
ações que beneficiam a sociedade de modo geral. As preocupações com a imagem
institucional e com a imagem corporativa passaram a integrar a agenda de
compromissos das empresas que estão se tornando mais atuantes nesse sentido. Em
resumo, os empresários e dirigentes dos setores produtivos, seja na esfera pública ou
privada, perceberam que não adianta investir na produção se a população ao redor da
sua fábrica ou do seu setor produtivo não estiver apta, feliz e estimulada a consumir seu
produto. Que o acesso à cultura e à educação, dois dos pilares que possibilitam o
estabelecimento de condições dignas para o exercício da cidadania podem sensibilizar a
sociedade e contribuir para o fortalecimento da relação entre corporação e público. Esse
é um dos caminhos hoje conhecidos para as empresas que almejam o sucesso nos seus
negócios.
Caixa Cultural Recife: pioneirismo em Pernambuco
Assim como o Centro Cultural São Paulo é considerado, juntamente com o Sesc
Pompéia um marco no surgimento dos centros culturais no Brasil, o mesmo pode se
dizer em relação a Pernambuco quando se faz referência à chegada do centro cultural
denominado Caixa Cultural ao Recife4. A sétima unidade da Caixa Cultural no Brasil
(as demais já funcionavam nas cidade de São Paulo, Rio de janeiro, Curitiba, Porto
Alegre, Salvador e Brasília, e uma outra unidade foi construída em seguida na cidade
4 Não obstante ter se verificado no Recife a presença de instituições chamadas de centros culturais, cujas
atividades tiveram início antes da chegada da Caixa Cultural à cidade, como, por exemplo, o Centro
Cultural Santander e o Centro Cultural Correios, ressalve-se, sem querer desmerecer tais iniciativas, que
esses últimos não possuem estrutura híbrida completa, e sim contemplam salões para exposições que os
assemelham mais aos museus e galerias de arte.
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Fortaleza) fica localizada na área central da capital pernambucana, na região portuária
do Recife, com vista para o oceano. Na zona portuária é comum o atracamento de
navios turísticos. Os cruzeiros trazem visitantes de todas as regiões do mundo que ao
desembarcarem no estado enxergam em primeiro plano o edifício sede da Caixa
Cultural Recife. Os turistas se juntam aos pernambucanos, que desde maio de 2012
contam com o primeiro centro cultural híbrido em funcionamento na região.
Exatamente no Marco Zero da cidade, incrustado entre outras edificações
históricas, lado a lado com o casario que representa parte da memória cultural de
Pernambuco, a Caixa Cultural Recife fica situada na rua Alfredo Lisboa, número 505,
região do centro conhecida como Recife Antigo. O edifício projetado pelo arquiteto
francês Georges Henry Munier foi inaugurado em 1912 quando passou a sediar o Bank
of London & South America Limite, sociedade bancária inglesa. Com estilo eclético
inspirado no Neoclássico, modelo de raízes francesas, o prédio foi vendido em 1977,
adquirido pela Bolsa de Valores de Pernambuco e da Paraíba e funcionou como sua
sede até 2006, quando foi vendido pelo valor de R$ 1,65 milhão de reais. No ano do seu
centenário, o edifício que se encontra inserido na Zona Especial de Preservação do
Patrimônio Histórico Cultural do Recife passou a abrigar obras de arte e tornou-se um
dos principais pontos de difusão artístico-cultural da região.
Suas características originais foram, na maior parte, preservadas, como no caso
do piso original mantido pelos arquitetos e engenheiros da Caixa Econômica
responsáveis pelo projeto de restauração do prédio, resguardando o valor histórico-
arquitetônico. A região onde está localizada a Caixa Cultural Recife é repleta de outros
prédios históricos, como por exemplo, o edifício que abriga a primeira sinagoga das
Américas, localizado na rua do Bom Jesus, lateral à Caixa Cultural Recife.
O trabalho de preservação do prédio contou com a participação de arqueólogos e
de especialistas em preservação de patrimônios históricos. Eles catalogaram vestígios e
achados que aos poucos estão sendo classificados e expostos como parte do acervo do
museu que funciona em um dos ambientes da instituição. Após as escavações feitas na
base da edificação, foram mantidos à mostra, protegidos por um piso de vidro de alta
resistência por onde transitam os visitantes, os vestígios referentes à primeira construção
no terreno. Uma forma de manter viva e documentada a memória arquitetônica e as
referências históricas. Os arquitetos promoveram uma fusão entre criacionismo e
patrimonialismo, ao unirem preservação histórica e inovação. Essa, aliás, é mais uma
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característica de ambientes destinados a abrigar centros culturais e que possui franca
imbricação com as sociedades pós-modernas.
A Caixa Cultural Recife possui museu, cine-teatro munido com dois camarins,
foyer, duas galerias para exposições de artes plásticas, sala multimídia, sala de dança,
salas para oficinas e coffe house. Uma surpresa positiva em relação ao projeto da Caixa
Cultural Recife, inicialmente apresentado à imprensa ainda no ano de 2008, foram as
descobertas pós-escavações, que descortinaram alicerces feitos com tijolos
característicos das construções holandesas e o uso de tecnologias primitivas como a
utilização de areias de praia nas construções. Os achados configuraram mais um viés
histórico-cultural da região, principal ponto de concentração dos colonizadores
holandeses que administraram a província de Pernambuco durante 24 anos, entre 1930 e
1954, deixando marcas culturais profundas especialmente quando à arquitetura.
Após a inauguração oficial da Caixa Cultural Recife, no dia 15 de maio de 2012,
evento que contou com as presenças do governador de Pernambuco, Eduardo Campos,
do então prefeito do Recife, João da Costa, e do presidente da Caixa Econômica
Federal, Jorge Hereda, além de artistas locais como Abelardo da hora e Carlos Pragana,
o público pode conferir a exposição de inauguração de autoria do artista plástico goiano
Siron Franco, no espaço inteiramente projetado para a apreciação artística, fruição
estética, arte-educação e convivência. E desde então, exposições, shows musicais, peças
de teatro, oficinas e uma vasta programação artístico-cultural fazem parte do rol de
opções culturais que a população do Recife e do estado de Pernambuco que se encontra
visitando a capital, além dos turistas de todas as regiões, passaram a contar como
alternativa de consumo de bens artísticos e culturais.
Os investimentos na construção da Caixa Cultural Recife mobilizaram recursos,
até o mês da inauguração, da ordem de R$ 16 milhões de reais. Esse montante é
constantemente recuperado e multiplicado em virtude da valorização da imagem
institucional da empresa, que agrega valor atrelado ao reconhecimento da população
advindo da responsabilidade social representada pela iniciativa de disponibilizar bens
artísticos e culturais para a sociedade. Ainda que as expectativas de retorno quanto aos
investimentos na construção de um centro cultural próprio por parte de uma empresa
requeiram sempre projeções ao longo prazo, o espaço ocupado pela instituição na mídia,
apenas pela ocasião da inauguração oficial, já denotou um retorno iminente. Afinal, os
principais veículos de comunicação do estado deram amplo destaque à inauguração,
com matérias de capa e reportagens em emissoras de TV, rádios e na internet.
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