USOS MÚLTIPLOS DE PLANTAS DO CERRADO: UM ESTUDO ... · sas categorias de uso, tais como:...
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Núm. 27, pp. 159-190, ISSN 1405-2768; México, 2009
USOS MÚLTIPLOS DE PLANTAS DO CERRADO: UM ESTUDO ETNOBOTÂNICO NA COMUNIDADE SÍTIO PINDURA, ROSÁRIO OESTE,
MATO GROSSO, BRASIL
Déborah Luíza Moreira*Germano Guarim-Neto
Depto. de Botânica e Ecologia. Instituto de Biociências. Universidade Federal de Mato Grosso. 78 060-900 – Cuiabá - MT.
Correio eletrônico: [email protected]; [email protected]
RESUMO
Em virtude do impacto causado pela agropecuária e pelo acelerado processo de industrialização, a flora do Cerrado vem sendo profundamente alterada, assim como a cultura popular das pessoas que vivem desse bioma, pelo avanço da cultura moderna. Neste contexto, sob o enfoque da etnobotânica, o presente trabalho tem o objetivo de ampliar o conhecimento sobre as espécies e famílias botânicas com potencial de uso no cerrado. A presente pesquisa foi realizada na Comunidade Sítio Pindura, no Município de Rosário Oeste, Mato Grosso, Brasil (lat. 14º 49’ 41” S, e long. 56º 24’ 51” W). Foi utilizada a técnica de “bola de neve” (snow ball), para a escolha dos 35 informantes. Para coleta dos dados foram usadas entrevistas semi-estruturadas, ques-tionários, e percursos em trilhas no cerrado com moradores da Comunidade. No levan-tamento etnobotânico foram catalogadas 142 espécies, pertencentes a 123 gêneros e distribuídas em 60 famílias botânicas. As espécies vegetais foram inclusas em diver-sas categorias de uso, tais como: alimentar,
construção civil, lenha, medicinal, mourões e cercas, entre outras. Foi constatado um grande conhecimento sobre a fl ora do cerra-do, através da intensa utilização de plantas nativas pelos moradores locais. O saber local sobre os recursos vegetais do cerrado tem origem nas adaptações humanas e interações com o ecossistema, conhecimento adquirido através de observações e vivências com o meio ambiente, e que possibilita um saber ecológico que é materializado em suas prá-ticas cotidianas.
Palavras-chave: Flora, Cerrado, Múltiplos usos, Etnobotânica.
RESUMEN
Debido al impacto causado por la agro-pecuaria y por el acelerado proceso de industrialización, la fl ora de las sabanas está siendo profundamente alterada, así como la cultura popular de este bioma por el avance de la cultura moderna. En este contexto el presente trabajo tiene el objetivo de ampliar el conocimiento sobre las especies y fami-lias botánicas con potencial de uso en el
*Bolsista CAPES.
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cerrado dentro del contexto etnobotánico que presupone la relación establecida entre seres humanos y plantas. Este estudio fue realizado en la comunidad “Sítio Pindura”, en el municipio de Rosário Oeste, Mato Grosso, Brasil (lat. 14º 49’ 41” S, e long. 56º 24’ 51” W). Para la colecta de datos fue utilizada la técnica snow ball, donde fueron entrevistados 35 informantes, en entrevistas semiestructuradas, cuestionarios y recorrido de trillas en la región con habitantes de la co-munidad. Fueron catalogadas 142 especies, pertenecientes a 123 géneros y distribuidas en 60 famílias botánicas. Las especies vegetales fueron incluidas en diversas categorías de uso, tales como: medicinal, alimentaria, leña, construcción, vigas y cercas, entre otras. La comunidad reveló un gran conocimiento sobre la fl ora de la sabana, a través de la intensa utilización de plantas nativas en su cotidiano. Así, los datos refl ejan que este saber local sobre los recursos vegetales de las sabana tiene origen en las adaptaciones humanas e interacciones con el ecosistema, conocimiento adquirido a través de observaciones y vivencias con el medio ambiente, posibilitando un saber ecológico que se materializa en sus prácti-cas cotidianas.
Palabras clave: fl ora, sabana, usos múlti-ples, etnobotánica.
INTRODUÇÃO
O bioma cerrado está localizado basicamen-te no planalto central do Brasil e é o segun-do maior bioma do país em área, apenas superado pela fl oresta amazônica (Ribeiro & Walter, 1998). Segundo Mendonça et al. (1998) este bioma possui uma fl ora estimada em sete mil espécies.
Entretanto, o crescimento populacional e a demanda por mais alimentos, associados às condições edafo-climáticas favoráveis do cerrado, transformou essa região em im-portante área para atividades agropecuárias. O ritmo acelerado desta ação antrópica nas últimas décadas tem levado à perda de ma-terial genético vegetal nativo, praticamente desconhecido do ponto de vista científi co (Viera & Martins, 2000).
Ainda há necessidade de estudos voltados para a identifi cação de plantas potencial-mente úteis do cerrado, principalmente quando comparada à diversidade e à área ocupada. O desconhecimento de sua ri-queza e possibilidades são graves lacunas, especialmente quando Ratter et al. (1997) estimam que cerca de 40% do bioma já tenha sido devastado e Kaplan et al. (1994) mostram que o cerrado possui somente 1.5% de sua extensão protegida por lei, sendo atualmente a vegetação em maior risco no Brasil. É preciso considerar que os recursos vegetais encontrados neste bioma, uma vez extintos, estarão indisponíveis às futuras gerações. Entre estes, por exemplo, pode-se considerar o recurso terapêutico oferecido pelas plantas medicinais (Guarim-Neto & Morais, 2003).
Guarim Neto (2001) ressalta que o cerrado no estado do Mato Grosso apresenta-se ainda repleto de possibilidades de aprovei-tamento dos seus recursos vegetais, e os primeiros detentores desse conhecimento botânico são as populações locais que utili-zam desses recursos vegetais.
Em virtude do impacto causado pela agro-pecuária e pelo acelerado processo de in-dustrialização, a fl ora do cerrado vem sendo
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reduzida, assim como a rica cultura popular, pelo próprio avanço da cultura moderna.
Neste contexto este trabalho tem o objetivo de ampliar o conhecimento sobre as espé-cies e famílias botânicas com potencial de uso no cerrado, tornando esta informação disponível a posteriores pesquisas.
MATERIAL E MÉTODOS
Área de estudo
O presente estudo foi realizado em uma zona rural conhecida por Sítio (comunidade) Pindura, distante cerca de 24 km da sede de Rosário Oeste, Mato Grosso, Brasil. O município de Rosário Oeste pertence à mesorregião Centro-Sul Mato-grossense, distante aproximadamente 124 km da Capi-tal, Cuiabá, trafegando pela BR-163. Apre-senta uma área de 8 530.37 km² de superfi cie territtorial, localizando-se geografi camente entre 14º50’10”S de latitude e 56º25’39”W de longitude, a 192 m de altitude.
O número de habitantes está em torno de 18.450 com densidade demografi ca de 2.17 hab/Km2, sendo que 43% da população estão concentrados em zona rural (IBGE, 2000). As principais atividades econômicas do município são baseadas na agropecuária, acentuando-se o cultivo de arroz e milho, havendo, em menor escala, atividades não econômicas como a agricultura de subsis-tência (Ferreira, 2001).
A formação geológica do município ca-racteriza-se por coberturas dobradas do Proterozóico, Grupo Alto Paraguai e Cuia-bá. Os solos predominantes são Podzólico vermelho amarelo (Tb Eutrófi co abrúptico A moderado, textura média/argilosa, relevo
suave ondulado) e Cambissolo (Tb Álico A moderado, textura média, relevo suave ondulado). O relevo é do planalto dos Gui-marães, depressão rio Paraguai, província serrana, calha do rio Cuiabá (Ferreira, 2001).
A bacia hidrográfi ca relaciona-se as grandes bacias do Amazonas como a bacia do Prata Miranda & Amorim (2000). O município abriga as cabeceiras mais altas do impor-tante rio Cuiabá. O clima é tropical quente e sub-úmido, com período de 5 meses de seca, a temperatura média anual é em torno dos 24º C e a precipitação anual em torno de 2000 mm. Pela classifi cação climática de Köppen pode-se caracterizar o clima local em Tropical de Savana (Aw).
Entre as fi sionomias componentes do cerra-do do município de Rosário Oeste estão o cerrado (stricto sensu), o cerrado de encosta, o cerradão, o campo-limpo, o campo-sujo, a mata ciliar (de cursos d’água no cerrado, temporários; das margens do rio Cuiabá, com feição fl orestal), a vereda/buritizal, o campo úmido, o campo de murundus (Gua-rim Neto et al., 2007).
Métodos de coleta de dados
Foram utilizadas técnicas etnográfi cas co-rrentes, sendo priorizado uma abordagem qualitativa na coleta de dados. Usando questionários estruturados, entrevistas semi-estruturadas e percursos em trilhas no cerrado, realizada com os moradores, diário de campo e gravação.
As categorias de uso amostradas na Tabela 1 e a aplicabilidade terapêutica das espécies medicinais tratada na Tabela 2 seguiram a classifi cação êmica.
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“Valor de uso de cada espécie” (VUsp) representa a importância cultural das es-pécies.
Para calcular o “valor de uso” empregou-se:
a. O “valor de uso de cada espécie” (sp) por cada informante (i), dado como:
∑ Uspi Nspi
Onde, Uspi é o número de usos mencionados por informante i por espécie sp em cada evento, e nspi é o número de eventos com o informante i por espécie sp.
b. O “valor de uso global de cada espécie” (VUsp), dado como:
∑ VUspi ns
Onde, ns é o numero de informantes entre-vistado por cada espécie.
O valor de uso global das espécies foi cal-culado somente para planta citada por mais de um ator social.
O material botânico não identifi cado em campo foi identifi cado por meio de consul-ta a especialista, por meio de bibliografi as especializadas e através da comparação com excicatas do Herbário da Universida-de Federal de Mato Grosso. A grafi a dos taxa e dos autores foi conferida por meio da consulta à base de dados do Missouri Botanical Garden.
VUspi =
VUsp =
No protocolo de campo, inicialmente foi feita uma visita para o reconhecimento da área de estudo, com o intuito de contatar moradores da comunidade para o desenvol-vimento do estudo.
Foram entrevistados 35 informantes, incluí-dos na amostra através da técnica de bola de neve (snow ball) (Thiollent, 1994, Becker, 1993). Foram priorizados atores sociais como raizeiros, benzedeiras, antigas par-teiras, pessoas idosas e antigos moradores, com base nos pressupostos etnobotânicos de Martin (1995) e Alexiades (1996), que esta-belecem critérios e formas dessa obtenção.
As visitas aos domicílios ocorreram nos períodos matutino e vespertino, e as entre-vistas foram feitas de forma individual, na residência dos informantes.
Ao utilizar os recursos vegetais o ser huma-no estabelece uma relação com o ambiente, elaborando um conceito próprio de seus elementos, defi nindo as relações etnoecoló-gicas locais entre ele e o ecossistema, através da valoração que dá as plantas. A relativa importância de cada uso para as plantas que conhece e que maneja são expressas por informações que apontam o grau de consenso entre os informantes para deter-minada espécie vegetal, ou seja, o valor de uso, refl etindo as preferências das espécies mencionadas para os diversos usos particu-lares. Informações consensuais de valor de uso refl etem a importância de cada uso ou espécie por informante, visto que, em um maior número de situações, é razoável as-sumir que o aumento de evidencia sobre um dado uso ou planta refl etirá, provavelmente, na menção destes (Phillips, 1996).
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Moreira & Guarim: Usos múltiplos de plantas do cerrado: um estudo etnobotânico na comunidade sítio pindura, Brasil.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No levantamento etnobotânico foram catalo-gadas 142 espécies do cerrado, pertencentes a 123 gêneros e distribuídas em 60 famílias. A família botânica com maior número de espécies foi Fabaceae (19 espécies), seguida de Bignoniaceae (7 espécies) e Apocynaceae e Vochysiaceae com seis espécies cada (tabela 1).
As espécies vegetais catalogadas foram inclusas em diversas categorias de uso, tais como: medicinal, alimentar, lenha, cons-trução, mourões/cercas, moveis e utensílio (Fig. 1). As categorias nas quais as plantas foram agrupadas correspondem às catego-rias éticas, nomeadas pelos pesquisadores.
A categoria de uso mais representativa foi a medicinal (122 espécies), como Camarea ericoides A. St.-Hil.(arnica), Palicourea xanthophylla M. Arg. (douradinha), Simaba ferruginea A. St.-Hil. (calunga), seguin-
do-se as espécies com uso alimentar (21 espécies), como Hancornia speciosa B.A. Gomes (mangaba), Eugenia dysenterica DC. (orvalho), Ecclinusa ramifl ora Mart. (fruta-banana) e para lenha (21 espécies), como Anadenanthera falcata (Benth.) Speg. (angico), Byrsonima coccolobifolia Kunth (semaneira), Dipteryx alata Vogel (cumba-ru). Sendo que 45 espécies pertencem a mais de uma categoria de uso.
As espécies usadas com fi nalidades me-dicinais muitas vezes pertencem também a outras categorias. Entre estas podemos citar Dipteryx alata Vogel (cumbaru), Ana-denanthera falcata (Benth.) Speg. (angico), Hancornia speciosa B.A. Gomes (manga-ba), mostrando assim uma multiplicidade de usos e maximização do recurso. A categoria medicinal é representativa em trabalhos realizados no estado de Mato Grosso, como apontam van den Berg (1980), Guarim Neto (1984; 1987; 1996), Duarte (2001), Morais (2003) e Xavier (2005).
Fig. 1. Categorias de usos das espécies catalogadas no levantamento etnobotânico na Comunidade Sítio Pindura, Mato Grosso, Brasil.
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167
Moreira & Guarim: Usos múltiplos de plantas do cerrado: um estudo etnobotânico na comunidade sítio pindura, Brasil.
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Abril 2009Núm. 27: 159-190
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Moreira & Guarim: Usos múltiplos de plantas do cerrado: um estudo etnobotânico na comunidade sítio pindura, Brasil.
Guarim Neto (1985) ressalta o potencial da fl ora do cerrado do Estado de Mato Grosso, considerando o uso das espécies vegetais com diferentes fi nalidades, tais como, uti-lização da madeira, o valor medicinal e as com frutos comestíveis.
A Comunidade utiliza as espécies do ce-rrado com diversas finalidades, fazendo desde a extração de remédios como quina (Strychnos pseudoquina A. St.-Hil.), arnica (Camarea ericoides A. St.-Hil.), mangava-brava (Lafoensia pacari A. St.-Hil.), a coleta de frutos tais como o orvalho (Eugenia dysenterica DC.), a mangaba (Hancornia speciosa B.A. Gomes) o piqui (Caryocar brasiliense Cambess.), o uso de lenha, como a semaneira (Byrsonima coccolobifolia Kunth, Byrsonima verbascifolia (L.) Rich. ex Juss.), o angico (Anadenanthera falcata (Benth.) Speg.), e a fabricação de utensílios domésticos como peneiras e vassouras, uti-lizando o buriti (Mauritia fl exuosa L.) e a bocaiúva (Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart.) como matérias primas.
Vale salientar a importância das espécies arbustivas e arbóreas como fonte de com-bustão (lenha), para preparar os alimentos. A busca da lenha no cerrado em geral é uma atividade feminina. As mulheres cole-tam ramos caídos no solo, confeccionando feixes desse material, que são amarrados e carregados até a moradia sob os braços ou na cabeça, esta protegida por pequena rodilha de tecido, para não machucar.
Atualmente, um dos grandes problemas das comunidades tradicionais do Centro-Oeste do Brasil, é a ausência de segurança ali-mentar, reforçada pela falta de mecanismos que promovam a geração de renda. Neste contexto o cerrado apresenta uma grande
riqueza de espécies negligenciadas que podem ser consideradas “plantas do futuro” (Agostini-Costa et al., 2006).
Dentre as espécies nativas citadas para uso alimentar destacam-se o piqui (Caryocar brasiliense Cambess), a mangaba (Hancor-nia speciosa B.A. Gomes), o buriti (Mauritia fl exuosa L.), o orvalho (Eugenia dysenterica Dc.), a fruta-banana (Ecclinusa ramifl ora Mart.) muito apreciados pelos moradores, sendo obtidos através do extrativismo. As frutas do cerrado complementam a dieta alimentar do sitiante. Siqueira (1981); Gua-rim Neto (1985); Almeida & Silva (1994); Almeida et al. (1998); Proença et al. (2000) validam o potencial econômico das espécies frutíferas do cerrado para a vida e economia das populações humanas que habitam essas áreas.
Como planta tóxica foi apontada apenas a planta denominada popularmente de pé-de-perdiz (Simarouba versicolor A. St.-Hil.) que de acordo com os entrevistados não tem nenhuma utilidade. . “...Pé-de-perdiz não presta pra nada, esse é veneno, não presta pra remédio nem pra madeira, a lenha dele se a fumaça for no olho cega...” (mulher, 76 anos).
Os recursos vegetais do cerrado têm um papel importante na vida dos membros da comunidade pela diversidade de usos, manifestada na quantidade de espécies po-tencialmente econômicas que inclui as ali-mentícias, artesanal, medicinais, forrageiras, madeireiras, oleíferas, entre outros.
A riqueza de espécies do cerrado tanto da fl ora quanto da fauna é muito expressiva, representando cerca de 30% da biodiversi-dade brasileira (Eiten 1972; Ribeiro & Wal-
172
Abril 2009Núm. 27: 159-190
ter, 1998). O cerrado brasileiro está entre os biomas de maior diversidade fl orística do planeta com 6.249 espécies de plantas vasculares registradas até o momento (Mendonça et al., 1998). Entretanto, em função da facilidade de desmatamento, boas condições de topografi a e tipo de terreno, o cerrado representa a principal região brasi-leira, produtora de grãos e gado de corte. Com a ocupação das terras do cerrado para a produção agrícola mecanizada, as áreas nativas vêm sendo removidas em uma es-cala muito acelerada (Aguiar & Camargo, 2004). Myers et al. (2000) apontam que nada menos do que 80% da área original do cerrado já devem ter sido convertidas para áreas antrópicas, restando apenas 20% de áreas consideradas originais ou pouco perturbadas. Tal situação também pode ser percebida nos remanescentes de cerrado do município e Rosário Oeste, onde a necessidade de implantação de unidades de conservação de uso sustentável é extre-mamente necessária e urgente.
As plantas medicinais - Os entrevistados demonstraram um vasto conhecimento sobre plantas do cerrado com potencial medicinal, manifestado através das dife-rentes experiências práticas do cotidiano. A vegetação é percebida como fonte vital para a Comunidade, sendo um importante componente da paisagem do Sítio Pindura. Pode-se observar que o uso de plantas como medicamentos é antigo, constituindo parte integrante da cultura local, que é mantida e perpetuada entre seus membros.
Nesta categoria de uso, foram catalogadas 122 espécies, distribuídas em 109 gêneros e 59 famílias botânicas (Tab. 2).
Entre as plantas medicinais, a família botâ-nica com maior número de espécies citadas foi Fabaceae (17), seguida de Bignoniaceae (7), Rubiaceae (6) e Vochysiaceae(6).
Percebe-se que este saber sobre as utilida-des da fl ora é dinâmico, sendo fortemente
Fig. 2. Principais famílias botânicas e respectivo número de espécies usadas na medicina caseira pela Comunidade Sítio Pindura, Rosário Oeste, Mato Grosso, Brasil.
173
Moreira & Guarim: Usos múltiplos de plantas do cerrado: um estudo etnobotânico na comunidade sítio pindura, Brasil.
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Moreira & Guarim: Usos múltiplos de plantas do cerrado: um estudo etnobotânico na comunidade sítio pindura, Brasil.
transmitido através da oralidade, residindo aí também um dos motivos da importância do registro escrito deste conhecimento, necessário para a manutenção de um saber local consolidado no cotidiano das vivências e experiências humanas. Os entrevistados demonstraram grande respeito aos poderes curativos das plantas, como abaixo trans-crito:
“... todas as plantas deve ter alguma ser-ventia, deve servir como remédio pra curar alguma doença, agente que não sabe, se tá aqui é porque é boa e servem pra alguma coisa...” (mulher, 76 anos). Entre os entrevistados, cada espécie possui uma forma de uso, que envolve desde a parte coletada até a forma e período do dia e estação a ser colhida:
“... para tirar a água da embaúba tem que fa-zer pra tirar a água da embaúba tem que fazer
um furo de tardinha na casca, e colocar uma vasilha pra aparar a água, e só tirar cedinho, tem de ser no inicio da seca que é quando tem mais água...” (mulher, 69 anos).
As principais partes das plantas citadas para o preparo de remédios caseiros foram a casca, a folha e a raiz (Fig.3).
Sobre este aspecto, Pasa et al. (2005) tam-bém apontaram a casca, a raiz e a folha como as partes mais usadas pela Comunidade de Conceição-Açu, em Cuiabá, Mato Grosso.
Morais (2003) salienta que o uso de folhas no preparo dos chás é expressivo, desta-cando-se das demais partes das plantas usadas na Comunidade do Sítio Angical, comunidade também do município de Ro-sário Oeste. È sabido que as plantas possuem diferentes concentrações de compostos químicos em
Fig. 3. Partes das plantas usadas na medicina caseira na Comunidade do Sítio Pindura, Rosário Oeste, Mato Grosso, Brasil.
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suas partes. Ao longo do tempo foi desen-volvido um conhecimento que permitiu ao ser humano conhecer quais partes são mais úteis para uma dada fi nalidade. Pode-se concluir que a utilização das folhas como remédio pode ser vista como uma estratégia de manejo, coletando um órgão que não comprometerá o desenvolvimento da planta. Em contrapartida, houve destaque para a utilização de cascas e raízes, partes que se coletadas sem cuidados podem colaborar para o comprometimento das espécies:
“...A arniquinha, só usa a raiz, aí agente põe no álcool, na garrafada ou faz o chá, mas hoje tá mais difícil de encontrar, têm uns lugares que eu sei que tem, mas o povo que mora praquelas banda tira muito...” (mulher, 76 anos).
Foram mencionadas pela população local, várias formas de utilização das plantas, sendo que a mais expressiva foi o chá, com
Fig. 4. Principais formas de uso das plantas usadas na medicina caseira na Comunidade do Sítio Pindura, Rosário Oeste, Mato Grosso, Brasil.
43%, no entanto outras formas também foram citadas (Fig. 4).
Através da bibliografi a analisada para esta pesquisa, podemos apontar que ainda há grande carência de estudos voltados para a identifi cação de espécies com potencial medicinal no cerrado. Portanto, faz-se ne-cessária a realização de pesquisas como esta, para que possibilitem subsidiar posteriores estudos, como por exemplo, das qualidades terapêuticas destas plantas, antes que o con-hecimento e as espécies desapareçam.
Etnoclassificação: como a comunidade percebe o ambiente circundante - o conhe-cimento sobre a biodiversidade do cerrado estabelece-se pela transmissão cultural processada pela relação cotidiana da Comu-nidade, e a forma como percebe os recursos vegetais a sua volta é manifestado através de suas experiências práticas.
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Moreira & Guarim: Usos múltiplos de plantas do cerrado: um estudo etnobotânico na comunidade sítio pindura, Brasil.
A identificação dos vegetais geralmente se dá pela percepção visual, tátil e olfativa treinada através da observação da fl ora. A tabela 3 resume como são classifi cados e sistematizados aspectos relacionados às plantas, em relação a uma classificação eticista (pela Ciência) e emicista (pela Co-munidade).
Os moradores da Comunidade Sítio Pindura identifi cam as espécies vegetais através de seus nomes populares, usando principalmen-te as partes foliares, os caules e frutos para
esse reconhecimento. O que expressa o valor da planta para a população é a sua utilidade, assim as espécies com maior número de usos são mais valorosas.
Analisando e utilizando os dados referentes à fi sionomia da vegetação local, e partindo da percepção e classifi cação oral da comu-nidade estudada, podemos indicar, com relação às unidades de paisagem do cerrado, seis tipos de fi sionomias: “Cerrado de pe-dra”, “Cerrado de areia”, “Mata”, “Várzea”, “Chapada” e “Campo” (tabela 4).
COMPONENTEÉTICO
COMPONENTE ÊMICO
Súber Casca – “... A mangava-brava agente conhece pela casca, é aquela que tá sempre descascando...”
Tronco Pau – “...O cumbaru é fácil de sabe, é só olha o pau dele que nunca mais esquece quando ver outro...”
Pigmentação Cor – “... Muitas plantas tem cor diferente, igual o barbatimão que tem dois, um é da casca amarela e o outro é do vermelho...”
Folha Forma da folha – “... Essa planta aqui chama mão de anta, sabe por quê? A folha é iguazinha uma mão de anta...” Cheiro – “... a negramina agente sabe qual é só pelo cheiro, vê o tanto que fede...”
Composiçãoquímica
Planta quente – “... as plantas quentes dão calor, quando tá com gripe ou resfriado tem que tomar remédio de planta quente, mas depois que toma não pode sair na friagem e nem tomar banho frio, essas são perigosa, tem que ter dieta se toma...”
Planta fria – “... essas planta fria são fresca, num pode nem pensar em tomar ela se tiver gripado, faz um mal que só vendo, essas planta tira o calor, é bom tomar quem tá com febre...”
Tabela 3. Sistema perceptivo e classifi catório: etnotaxonomia das espécies vegetais.
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Tabela 4. Sistema perceptivo e classifi catório: etnotaxonomia das unidades de paisagem.
TIPOLOGIA TRADICIONAL TIPOLOGIA FOLK Unidades de Paisagens
CERRADO (s.s.) - Formado por espécies subarbustivas e herbáceas, inclinadas, tortuosas, com ramificações retorcidas. As plantas lenhosas são entremeadas por gramíneas.
CERRADO de PEDRA - “... no Cerrado de pedra as plantas são baixas, bem tortas e com bocado de capim, tem bastante lixeira (.....), Capotão (......), semaneira (.......), pau-terra (......) Timatí (....), acoita-cavalo (......) e Magabeira (........)”
CERRADO de AREIA –cerrado de solo arenoso, em geral com poucas plantas lenhosas e com herbáceas aparentes.
CERRADO de AREIA - “... o Cerrado de Areia é aquele que tem muita areia, e as planta que mais tem é babaçu (......) e tucum(......), tem pouca plantas de outras qualidade, mais é esses que dá coquinho...”
CERRDÃO e MATA CILIAR -Formado por arvores mais altas, mais eretas, com espécies de Cerrado (s.s.) e Cerrado (l.s.).
MATA – “... Esse tem as plantas mais altas, a fava-preta (......), o carvão-branco (......), o carvão-vermelho (......), o vinhático (....) e jequitibá (.....) ...”
VEREDA – O buriti (.....) é uma espécies emergente nesta unidade e apresenta solo hidromórficos, saturado a maior parte do ano.
VARZEA – “...A várzea é aquele ali do fundo do quintal, que tem os buriti (.....) e fica um alagado, lá tem bastante hortelã-da-várzea...”
CERRADO RUPESTRE – com herbáceas, lenhosas e em altitude, em morrais (elevações).
CHAPADÃO – “... Nesses chapadão tem bastante morro, esse aí da Serra do Marzagão é um chapadão, tem bastante Timatí (....) e pau-terra (.....) ...”
CAMPO – Estrato predominante herbáceo-arbustivo, com baixa estatura, com uma densa camada de gramínea.
CAMPO – “...É no campo que agente deixa o gado porque tem muito capim e pouca arvore, bem ralo que mato lá...”
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Moreira & Guarim: Usos múltiplos de plantas do cerrado: um estudo etnobotânico na comunidade sítio pindura, Brasil.
No estudo sobre caracterização das unidades de paisagens do cerrado foi observado que os membros da comunidade usam a palavra “mato” para designar a vegetação. Então, quando se pergunta: “quais os tipos de mato que tem por aqui?”, eles indicam: “cerrado”, “mata”, “várzea”, “chapadão” e “campo” para distinguir os tipos de vegetação, clas-sifi cando o cerrado em dois tipos: “Cerrado de pedra” e “Cerrado de areia”.
A relação com o meio ambiente está ali-cerçada na subsistência e no uso de diferen-tes tipos de unidades de paisagem e sua in-tegração com a natureza proporciona várias práticas e atividades, de forma a maximizar o uso desses ambientes, como a extração e coleta dos recursos vegetais, pesca, caça, agricultura e pecuária de pequena escala.
CONCLUSÃO
A Comunidade do Sítio Pindura demonstrou um profundo conhecimento do cerrado, experimentado através da convivência, observando-o de perto e explorando suas potencialidades no cotidiano. Desta maneira a vegetação que os cerca desempenha um papel importante na sobrevivência desta Comunidade.
A Comunidade do Sítio Pindura possui um histórico cultural de interações com o ambiente cerrado, sustentada por um saber ecológico local, pois manejam e conser-vam os fragmentos de cerrado que servem como fonte direta de recursos naturais para Comunidade, de onde se obtém remédios, frutos comestíveis, lenhas e madeiras que são úteis e exploram ainda a possibilidade de criação de gado doméstico.
Este saber sobre os recursos vegetais do ce-rrado é fruto de suas adaptações e interações com o ecossistema, conhecimento adquirido por meio de observações e experimentação, que gera um saber ecológico que é materia-lizado em suas práticas cotidianas.
A Comunidade desenvolveu ao longo do tempo uma multi-utilização do ambiente e mais precisamente do cerrado, manipulando a paisagem natural, mas mantendo a hetero-geneidade de habitat e maximizando o uso da variabilidade biológica.
O multiuso que fazem do cerrado propor-ciona adaptações às condições ambientais e às variações sazonais, requerendo um manejo adaptativo ecológico de forma que desenvolveram um profundo conhecimento dos recursos e de seus ciclos ecológicos de renovação.
Assim, podemos caracterizar essa Comu-nidade como tradicional, com base nas condições de tempo de vivência, adaptabi-lidade à região e à manutenção de saberes e fazeres peculiares, demonstrando que o am-biente e mais precisamente a utilização das plantas convergem para a sustentabilidade das atividades tradicionais desenvolvidas pelos seus membros, homens e mulheres, seres humanos perfeitamente ajustados às paisagens regionais.
AGRADECIMENTOS
A primeira autora agradece a CAPES pela Bolsa concedida. Agradecemos ainda ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científi co e Tecnológico-CNPq, pelo apoio fi nanceiro ao Projeto e à comunidade pela
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colaboração na pesquisa. Ainda, à Profa. Dra. Carmen E. Rodriguez Ortiz pelo re-sumen.
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