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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
Curso de Pós Graduação – Strictu Sensu
Arquitetura e Urbanismo
ANTONIO ROGÉRIO CAVALEIRO
Reuso de Aguas Cinzas e Águas Pluviais em Edifícios Residenciais
São Paulo
2014
2
3
ANTONIO ROGÉRIO CAVALEIRO
Reuso de Águas Cinzas e Águas Pluviais em
Edifícios Residenciais
Dissertação apresentada à Universidade São Judas
para Obtenção do Título de Mestre em Arquitetura
e Urbanismo.
ORIENTADOR: Professor Doutor Adílson Costa Macedo
São Paulo
2014
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Agradecimentos
Aos meus pais, Antonio e Eugênia, por me ensinarem a ter uma vida íntegra.
À minha esposa Laurinda, pelo amor, dedicação e amizade.
Aos meus filhos Antonio e Milena, pelos momentos de carinho e felicidade.
Ao meu orientador profº Adílson, pela solidariedade, apoio e bons conselhos.
5
SUMÁRIO
Resumo 11
Abstract 11
Introdução. 12
Capítulo 1 17
1 A Importância da Preservação da Água. 17
1.1 A importância da água nas atividades humanas. 17
1.1.1 A importância sanitária do abastecimento da água. 18
1.1.2 A importância econômica do abastecimento de água. 19
1.2 A disponibilidade de água no mundo. 19
1.3 A disponibilidade de água no Brasil. 20
1.4 Caminhos para a preservação de água. 22
Capítulo 2
2 Conceitos de Reuso de Água. 25
2.1 A água. 25
2.1.1 Aspectos físicos e químicos da água. 25
2.2 Tipos de águas relacionadas ao reuso. 26
2.2.1 Águas cinzas. 27
2.2.2 Águas pluviais. 28
2.2.3 Águas negras. 28
2.2.4 Águas amarelas. 28
2.3 Conceitos de reuso e reciclagem da água. 28
2.3.1 Reuso planejado e não planejado da água. 31
6
2.3.1.1 Reuso planejado da água. 31
2.3.1.2 Reuso indireto planejado da água. 31
2.3.1.3 Reuso indireto não planejado da água. 31
2.3.1.4 Reuso direto planejado da água. 32
2.3.1.5 Reuso potável da água. 32
2.3.1.6 Reuso não potável da água. 32
2.3.1.7 Reciclagem da água. 32
Capítulo 3
3 Águas Cinzas. 33
3.1 Conceito de água cinza. 33
3.2 Fontes de água cinza. 34
3.3 Características físicas da água cinza. 36
3.4 Características químicas da água cinza. 36
3.4.1 Compostos Orgânicos. 37
3.4.2 Compostos nitrogenados e fosforados. 37
3.4.3 Compostos de enxofre. 37
3.4.4 Outros componentes. 38
3.5 Características microbiológicas da água cinza. 38
3.6 Reuso da água cinza. 39
3.7 Tratamento da água cinza. 40
3.7.1 Tratamento Preliminar. 41
3.7.2 Tratamento Primário. 42
3.7.3 Tratamento secundário. 43
3.7.4 Tratamento terciário. 44
3.7.5 Tratamento físico-químico. 44
7
3.7.5.1 Processos para remoção de sólidos dissolvidos. 45
3.7.5.1.1 Osmose reversa. 46
3.7.5.1.2 Eletrodiálise. 47
3.7.5.1.4 Evaporação. 48
3.7.5.1.5 Macrofiltração. 48
3.7.5.1.6 Microfiltração. 49
3.7.5.1.7 Ultrafiltração. 49
3.7.5.1.8 Nanofiltração. 49
3.7.5.1.9 Clarificação. 50
3.7.5.1.10 Ozonização. 50
3.7.5.1.11 Carvão ativado. 50
3.7.5.1.12 Desinfecção. 51
3.8 Qualidade da água cinza após tratamento. 56
3.9 Riscos relacionados com a utilização da água cinza. 58
Capítulo 4
4 Águas Pluviais. 60
4.1 Captação de águas pluviais. 60
4.1.1 Tipos de precipitações atmosféricas. 60
4.1.2 Dados pluviométricos. 62
4.2 Qualidade das águas pluviais. 62
4.3 Captação das águas pluviais. 64
4.4 Armazenamento das águas pluviais. 64
4.5 Filtração, tratamento químico e rearmazenamento das águas pluviais. 64
4.6 Usos para as águas pluviais. 66
4.7 Reuso de águas pluviais e a saúde humana. 66
8
Capítulo 5
5 O Reuso de Águas Cinzas e Pluviais em Edifícios Residenciais. 67
5.1 Sistema de reuso de águas cinzas em edifícios residenciais. 68
5.1.1 Pontos de coleta e pontos de reuso de águas cinzas. 69
5.1.2 Instalações hidráulicas para reuso de águas cinzas. 70
5.1.3 Quantificação das vazões de oferta e das vazões de demanda. 71
5.1.4 Determinação do volume de água cinza a ser armazenado. 73
5.1.5 Unidades de tratamento de água cinza. 74
5.1.5.1 Filtração simples e cloração. 75
5.1.5.2 Tratamentos físicos. 76
5.1.5.3 Tratamentos biológicos. 79
5.1.5.3.1 Biofiltros aeróbios submersos. 79
5.1.5.3.2 Reator anaeróbio de fluxo ascendente (UASB). 80
5.1.5.3.3 Tratamento com reatores UASB associados com biofiltros aeróbios
submersos. 81
5.2 Sistema de reuso de águas pluviais em edifícios residenciais. 82
5.2.1 Componentes de um sistema de aproveitamento de água da chuva. 83
5.2.1.1 Área de captação. 83
5.2.1.2 Calhas e condutores. 85
5.2.1.3 Grades ou telas. 85
5.2.1.4 Dispositivo para descarte da água de lavagem do telhado. 86
5.2.1.5 Unidades de tratamento da água da chuva. 87
5.2.1.6 Reservatório de armazenamento de água da chuva. 87
5.2.2 Projeto do sistema de reuso de águas pluviais. 89
9
5.2.2.1 Determinação da precipitação média local. 90
5.2.2.2 Determinação do coeficiente de escoamento superficial. 91
5.2.2.3 Projeto do reservatório de descarte. 91
5.2.2.4 Projeto do reservatório de armazenamento. 92
5.2.2.5 Identificação dos usos da água. 96
5.2.2.6 Estabelecimento do sistema de tratamento necessário. 96
5.2.3 Manutenção dos reservatórios. 96
5.2.4 Exemplo de sistema de aproveitamento de águas pluviais. 98
5.3 Sistema com separação das águas cinzas das águas pluviais. 101
5.4 Sistema com mistura das águas cinzas e águas pluviais. 101
5.5 Exemplo de sistema de reuso com mistura de águas cinzas e pluviais. 102
5.6 Considerações sobre os sistemas de reuso de água. 111
Capítulo 6
6 Legislação Relacionada à Conservação e Reuso de Água no Brasil. 112
6.1 A política das águas no Brasil. 113
6.2 O reuso de água na legislação brasileira. 114
6.3 Leis e normas relacionadas à água. 116
6.3.1 Código de Águas de 1934. 116
6.3.2 Código Florestal Brasileiro de 1965. 116
6.3.3 Criação da “Política Nacional do Meio Ambiente” (Lei 6.983 de 1981). 117
6.3.4 Constituição Federal de 1988. 117
6.3.5 A “Política Nacional de Recursos Hídricos” (Lei nº 9.433 de 1997). 117
6.3.6 Portaria 717 de 1996 do DAEE. 119
6.3.7 Portaria nº 518 de 2004 do Ministério da Saúde. 119
6.3.8 Resolução nº 54 de 28 de novembro de 2005 do CNRH. 120
10
6.3.9 Resolução nº 357 de 17 de março de 2005 do CONAMA. 121
6.4 Legislação relacionada ao aproveitamento de águas de chuva. 122
6.5 Considerações sobre a legislação brasileira sobre reuso de água. 122
Capítulo 7
7 Selos de Certificação para Construções Sustentáveis. 124
7.1 O certificado LEED, da Green Building Council. 124
7.2 o certificado AQUA. 126
7.3 O selo BREEAM. 127
7.4 O selo Casa Azul, da Caixa Econômica Federal. 129
7.5 Considerações sobre os selos de certificação para construções sustentáveis. 130
Capítulo 8
8 Conclusão. 132
ANEXOS 135
Lista de ilustrações. 148
Lista de tabelas. 153
Referências Bibliográficas. 155
11
RESUMO
A crescente deterioração e poluição dos mananciais que abastecem nossas cidades
torna a necessidade da preservação da água um tema de grande importância nos dias
atuais. Nesse contexto, esta dissertação propõe o reuso de águas cinzas e águas
pluviais em edifícios residenciais como um meio para melhorar a gestão dos recursos
hídricos e fornece conhecimentos essenciais para o entendimento do assunto através
da apresentação de conceitos e definições. Aborda também os diversos sistemas de
implantação de reuso da água, seus custos e avaliação da eficiência, apresenta um
estudo da legislação e normas técnicas aplicáveis ao reuso no Brasil, e analisa as
diversas certificações concedidas por organizações, tanto nacionais como
internacionais, que atestam as condições eco eficientes do edifício, especialmente no
que se relaciona ao tema deste trabalho. Por fim, estuda-se a viabilidade e fatores
relacionados à tomada de decisão quanto à implantação desse sistema de reuso da
água em edificações residenciais.
Palavras-chave: Reuso de água. Águas cinzas. Águas pluviais. Construções sustentáveis.
ABSTRACT
The increasing deterioration and pollution of water sources that supply our cities
makes the need of water conservation a topic of great importance nowadays. In this
context, this work proposes the reuse of greywater and rainwater in residential
buildings as a means to improve water resources management and provides essential
knowledge for the understanding of the subject by presenting concepts and
definitions. Also discusses the various systems of implementing water reuse, and
evaluation of its cost and efficiency, presents a study of legislation and technical
standards on reuse in Brazil, and analyzes the various certifications provided by
organizations, both national and international, that attest to the eco-efficient building
conditions, especially as it relates to the theme of this work. Finally, the practicability
and factors related to decision concerning the implementation of this water reuse
system in residential buildings are studied.
Keywords: Water reuse. Greywater. Rainwater. Green building.
12
INTRODUÇÃO
As primeiras civilizações surgiram às margens de rios, quando o homem deixou de
ser nômade e tornou-se sedentário, obtendo alimentos por meio da agricultura. A
Mesopotâmia foi o berço da primeira civilização, a dos Sumérios, que se desenvolveu
entre os rios Tigre e Eufrates. O antigo Egito prosperou no vale fértil do rio Nilo, e a
civilização chinesa surgiu às margens do rio Huang-Ho, conhecido também por rio
Amarelo. Observa-se que para uma civilização surgir e prosperar, é necessário uma
fonte abundante de água, necessária para irrigação de plantações.
Além da água para irrigação, a população necessita também de água para beber e
para o preparo e cozimento dos alimentos, a qual deve ser de melhor qualidade, mais
pura do que a água usada na agricultura, devendo por isso passar por um sistema de
tratamento. Entre os antigos, o tratamento da água limitava-se à melhoria de seu
aspecto visual e de seu sabor, por meio de processos rudimentares como a filtração e a
sedimentação, os quais separavam apenas as partículas maiores da água. Não havia
conhecimentos sobre a transmissão de doenças pela água¹.
Com o decorrer do tempo o crescimento populacional e o aumento das
necessidades humanas fizeram com que a água fosse exigida em quantidades cada vez
maiores. Para resolver essa questão, os povos antigos desenvolveram diversas técnicas
de condução e armazenamento da água, e ao mesmo tempo procuravam novas fontes
de suprimento, incluindo o aproveitamento de águas subterrâneas por meio da
perfuração de poços.
Essa situação se manteve com poucas alterações por séculos mas após a Revolução
Industrial, ocorrida inicialmente na Inglaterra, no final do século XVIII, e a consequente
explosão demográfica, houve um aumento crescente da necessidade de água. Hoje ela
é vital para a atividade agrícola, é necessária em diversos processos industriais e é
imprescindível para a população, havendo regiões no mundo nas quais a demanda por
água supera a sua oferta, dando origem, em alguns casos, a litígios entre países por
recursos hídricos.
Quando observamos que 71% da superfície da Terra são cobertas por água,
indagamos se é possível haver escassez desse bem. A água é um recurso que é re-
novado por meio do ciclo hidrológico, o qual, por processos contínuos de evaporação
e precipitação, transfere anualmente 40.000.000 m³ de água doce dos oceanos para os
_____________________ ¹ Este fato só foi descoberto em meados do século XIX na Inglaterra pelo médico inglês John Snow,
considerado o pai da epidemiologia moderna. Seus estudos sobre o surto de cólera que assolou Londres
em 1854 determinaram que a causa da disseminação da doença foi a água do sistema de
abastecimento, contaminada por uma fossa mal isolada da qual vazou matéria fecal. Modernamente a
água usada pela população passa por etapas de purificação físicas e químicas, que eliminam partículas e
organismos patógenos, tornando-a segura para o consumo (HEMPEL, 2007).
13
continentes, repondo o suprimento de água mundial em quantidades muitas
vezes superiores à necessária para a população humana (MANCUSO et al., 2003). Mas
o problema da escassez de água está na distribuição desigual das precipitações nas
diversas regiões e no mau uso que se faz da água captada.
O grande crescimento demográfico e o desenvolvimento industrial que
presenciamos nas últimas décadas agravaram a deterioração e a poluição das reservas
de água superficiais e subterrâneas, fontes deste insumo básico presente em quase
todas as atividades humanas.
Ao lado desse desequilíbrio decorrente do aumento da demanda por recursos
hídricos e da crescente deterioração dos mananciais, que diminui a oferta de água, há
fatores de origem histórica e geográfica. Ao contrário daquelas primeiras civilizações,
importantes centros populacionais de épocas mais recentes nem sempre se
desenvolvem perto das grandes bacias hidrográficas e, nesses casos, a procura por
novos mananciais faz com que a água tenha que percorrer distâncias cada vez maiores,
aumentando seu custo. Situação que pode ficar mais complexa quando aliada a outros
fatores como, por exemplo, a distribuição demográfica da população, rarefeita em
uma região e altamente concentrada em outras.
No Brasil, parte significativa da população reside em cidades próximas ao litoral,
enquanto que na área da maior bacia hidrográfica do mundo, a Bacia Amazônica, que
concentra 70% da água, vivem apenas 5% da população brasileira. Do restante de água
doce do Brasil, 15% encontram-se na região Centro-Oeste, 6% estão no Sul, 6% no
Sudeste e ínfimos 3% no Nordeste (ANA – A água e sua distribuição espacial). Isso
explica a escassez de água regional, enquanto o país como um todo é rico em recursos
hídricos, possuindo 12% da água doce superficial do planeta.
Como exemplos dessas dificuldades originadas pela distribuição desigual das águas,
podem ser citados os Estados do Nordeste brasileiro, situados no polígono das secas².
Uma das soluções propostas em tempos mais recentes para aumentar a
disponibilidade hídrica é a transposição do rio São Francisco, embora essa carência,
consequência da geografia natural, seja antiga e crônica.
Outro importante caso de escassez regional de água no Brasil é a região da Bacia do
Alto Tietê, no Estado de São Paulo, que abriga mais de 15 milhões de habitantes e é
sede de um grande parque industrial. Essa bacia hidrográfica, por sua condição de
manancial de cabeceira, não possui vazão suficiente para suprir a grande São Paulo e
municípios próximos, levando o governo estadual a buscar novos mananciais em
bacias vizinhas, situação que implica em problemas políticos e legais, além de
aumentar o custo da água.
_____________________
² O polígono das secas compreende 1.348 municípios situados nos Estados de Alagoas, Bahia,
Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. Foi criado por
lei em 1936 e teve seu traçado complementado pelo Decreto-Lei 9.857/1946. Caracteriza-se
por precipitação média anual inferior a 800 mm (REDE ACQUA, 2011).
14
Assim, verificamos que a escassez de água e o consequente aumento de seu custo
tornou-se um fator limitador do desenvolvimento econômico e social, não só no Brasil
como em outras regiões do mundo, principalmente as regiões áridas ou semiáridas,
fazendo com que os governos e os seus órgãos gestores dos recursos hídricos
procurem novas fontes para acompanhar a demanda por água.
Um caminho para se atingir esses objetivos, preservando os mananciais que
abastecem as grandes cidades, é usar a água de melhor qualidade para fins mais
nobres, como o abastecimento doméstico, e as águas de qualidade inferior, como as
águas de chuvas, águas cinzas de origem doméstica e águas de drenagem agrícola,
para atividades menos restritivas. Este conceito chama-se “substituição das fontes”, e
para ser efetivado necessita de tecnologias apropriadas para o desenvolvimento
dessas fontes alternativas, de modo que possam ajudar a suprir a crescente demanda
por água.
O reuso da água é uma técnica de grande importância para a substituição de fontes,
pois ao aproveitar águas previamente utilizadas para suprir as necessidades de outros
usos, inclusive o original, reduz a demanda por água dos mananciais. Várias
tecnologias podem ser utilizadas, dependendo do padrão de qualidade requerido pelo
uso ao qual que se destinará o efluente a ser tratado, e nesse sentido, os padrões
brasileiros estão definidos na Resolução CONAMA nº 20 de 1986 e pela NBR 9896/87.
Para cada classe de qualidade da água requerida é necessária uma tecnologia de
reuso apropriada, cuja complexidade varia em função do nível de contaminação do
efluente a ser tratado e do grau de pureza da água a ser atingido. O caso que exige
tecnologia mais avançada é o tratamento de esgoto para obtenção de água potável,
como ocorre, por exemplo, na cidade de Búzios, no Rio de Janeiro, que inaugurou em
2013 uma Estação de Tratamento de Água de Reuso – ETAR com capacidade de
produzir mais de dois milhões de litros de água de reuso por mês que são aproveitadas
em diversos usos, com exceção do consumo humano, proibido pela legislação
brasileira. Já o reuso que exige processos e operações mais simples é o
aproveitamento de águas pluviais para limpeza e descarga em vasos sanitários.
Como é possível apreender do exposto, as possibilidades de tratamento e de melhor
e mais racional utilização da água podem envolver todos os setores da atividade
humana: agricultura, indústria, áreas urbanas, com benefícios econômicos e
ambientais capazes de representar saldo positivo em termos sociais, ambientais e
econômicos.
Hoje, a produção agrícola no mundo não pode ser aumentada apenas pela
expansão da terra cultivada. Como solução, utiliza-se a irrigação intensiva como
elemento principal para manter o nível de produtividade. Cerca de 70% da água
consumida no Brasil é utilizada pela agricultura irrigada e como atender a essa
demanda é a questão que se antepõe aos órgãos gestores dos recursos hídricos
(MANCUSO et al., 2003).
15
Nas indústrias, o reuso procura atender a duas necessidades: tratamento de
efluentes a serem lançados no meio ambiente e redução do custo da água. Alguns
processos industriais, como desengorduramento, fosfatização, decapagem, etc,
poluem as águas em níveis tais que impedem o seu lançamento diretamente na rede
de esgoto ou em cursos d’água, devendo passar antes por tratamento. Esta prática
tende a aumentar frente a legislações que visam a preservação ambiental. Em relação
à redução do custo da água, o reuso pode facilitar a viabilização de empreendimentos
que tenham elevada demanda por água.
Para o uso urbano, a água destinada ao consumo pela população deve ser de
qualidade elevada. Para obter-se água com essa qualidade caso o sistema escolhido é
o de reuso, são necessários métodos de tratamento e de controle avançados, os quais
elevam os custos e em alguns casos pode inviabilizar a implantação dessa tecnologia. A
Organização Mundial da Saúde - OMS recomenta o reuso indireto para abastecimento
das cidades, o que implica na descarga dos efluentes de uma estação de tratamento de
esgotos em um corpo hídrico não poluído para que haja a diluição, reduzindo assim a
carga poluidora. Ainda sobre o reuso urbano, pode-se também falar-se de reuso de
água feito no âmbito das unidades residenciais, que é o foco deste trabalho.
A população, em suas residências, produzem efluentes os quais são descarregados
na rede pública de esgotos, e que são constituídos por “águas negras”³ e “águas
cinzas”⁴. Para o reuso interno em condomínios residenciais, são utilizadas as águas
cinzas, visto que as águas negras são de difícil tratamento. Estas águas cinzas, que
representam de 50 a 80% da águas servidas (HAFNER, 2007), não devem ser
misturadas com as águas negras, devendo ser conduzidas para o sistema de reuso, no
qual serão tratadas e utilizadas para descarga em bacias sanitárias, limpeza de pisos,
irrigação e abastecimento de sistema de incêndio, mas nunca para consumo humano.
Podemos adicionar a esse sistema as águas pluviais captadas pelo telhado do edifício,
as quais também devem passar por filtragem, desinfecção e armazenamento. A
instalação deve ser prática e econômica, para que este método seja usado em larga
escala pela população.
Ao se tratar sobre um tema tão complexo como o reuso da água, surgem algumas
questões, às quais este trabalho procura dar respostas:
- O reuso da água cinza e pluvial em condomínios residenciais é útil à preservação dos
recursos hídricos?
_____________________ ³ Águas Negras são águas residuais que contém matéria fecal e urina. Possui organismos patógenos que
devem ser decompostos antes de serem descarregadas no meio ambiente (TELLES e COSTA, 2010).
⁴ Águas Cinzas são as águas servidas geradas por atividades domésticas, como as provenientes de
lavanderia, banho e lavatórios. Seu nome provém de sua aparência acizentada. Está situada entre a água
potável e as águas negras. São enviadas juntamente com as águas negras para o sistema de coleta de
esgotos, mas em edifícios eco eficientes são separadas para reuso não potável (TELLES e COSTA, 2010).
16
- A implantação de tal sistema de reuso é viável economicamente para o usuário desse
sistema?
- O reuso da água cinza e pluvial em condomínios residenciais é útil à preservação dos
recursos hídricos?
Com o objetivo de responder satisfatoriamente às questões acima mencionadas, o
desenvolvimento desta dissertação, que é exploratória e descritiva, consiste na busca
de informações conceituais e empíricas.
O quadro conceitual consiste em:
- pesquisas bibliográficas em livros de referência, revistas especializadas e trabalhos
acadêmicos, salientando a contribuição de Pedro C. S. Mancuso, Hilton Felício dos
Santos e Ivanildo Hespanhol nos conceitos reuso e reciclagem da água;
- artigos disponíveis na internet onde, pela própria agilidade do veículo, é possível
encontrar muitas vezes a produção científica mais atualizada sobre vários aspectos do
tema;
- estudo das legislações e normas técnicas aplicáveis ao reuso no Brasil, informações
necessárias para o conhecimento do estado da arte sobre a questão, em termos
oficiais, os quais integram o conjunto de anexos da dissertação.
O quadro empírico consiste em:
- visitas a empresas, especialmente a “Aquabrasilis” por sua experiência nesse tema, as
quais fornecem tecnologias e projetos de implantação relacionados ao reuso de águas
cinzas e águas pluviais;
- levantamento de produtos à venda no mercado voltados a esse tema, com o intuito
de servir de guia para quem quiser implantar esse sistema;
O conteúdo básico de cada capítulo é:
- Capítulo 1: São feitas considerações sobre a necessidade da preservação da água;
- Capítulo 2: São discutidos aspectos conceituais e definições relacionados ao reuso da
água;
- Capítulo 3: Trata sobre as águas cinzas;
- Capítulo 4: Versa sobre as águas pluviais;
- Capítulo 5: Descreve e avalia os diversos sistemas de implantação do reuso de águas
cinzas e pluviais em edifícios residenciais;
- Capítulo 6: Indica e analisa a legislação do Brasil relativa ao tema em estudo.
- Capítulo 7: Apresenta as principais certificações concedidas por organizações, tanto
nacionais como internacionais, que atestam as condições de obra e de projeto que
viabilizam o funcionamento eco eficiente do edifício;
- Capítulo 8: São apresentados o s resultados e conclusões desta pesquisa.
Assim, o presente trabalho pretende contribuir para a tomada de decisão quanto a
escolha dos métodos, técnicas e instrumentos a serem adotados para a implantação
de sistema de reuso de água em condomínios residenciais.
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CAPÍTULO 1
1. A Importância da Preservação da Água.
A água é um recurso insubstituível e também um poderoso instrumento econômico
e geopolítico. A contaminação e desperdício desse bem precioso causa desequilíbrio
ecológico, fazendo com que sua oferta não acompanhe a demanda crescente,
provocando sua escassez em diversos lugares do planeta.
Esta situação levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a elaborar a Declaração
Universal dos Direitos da Água, na qual transparece a preocupação em se preservar o
que é considerado um “patrimônio do planeta”.
Segundo este documento, “os recursos naturais de transformação da água em água
potável são lentos, frágeis e muito limitados devendo a água ser manipulada com
racionalidade, precaução e parcimônia”. Além disso, a preservação da água é
“responsabilidade de cada continente, cada povo, cada nação, cada região, cada
cidade e cada cidadão”.
Mas não é bem isso o que tem acontecido. De acordo com relatório da Agência
Nacional de Águas, 40% da água captada da natureza no Brasil é desperdiçada em
razão de encanamentos furados e de práticas como a lavagem de calçadas, banhos
longos ou descargas desnecessárias.
No entanto, essa situação pode ser revertida. Se cuidarmos dos mananciais e das
redes de distribuição que levam água a nossas cidades, além de utilizarmos novas
tecnologias, como o reuso de água residuária, é possível reduzir o consumo de água
sem prejudicar a produção ou a população.
1.1. A Importância da Água nas Atividades Humanas.
O homem sempre se utilizou dos recursos naturais para satisfazer suas
necessidades, e até recentemente não se preocupou com a capacidade de
regeneração desses recursos ou com a possibilidade de haver o esgotamento de suas
reservas.
Toda matéria e energia presentes na biosfera, e que podem ser aproveitados pelo
homem, são chamadas de recursos naturais, os quais podem ser transformados em
bens e serviços, gerando conforto e permitindo a nossa sobrevivência. Alguns desses
recursos podem ser renovados, outros não. Os recursos naturais não renováveis são
aqueles que necessitam de um intervalo de tempo muito longo (tempo geológico) para
serem formados, como, por exemplo, os minerais, o petróleo, o carvão mineral e o gás
natural. Já os recursos renováveis são aqueles que não se esgotam, podendo ser
reciclados ou reproduzidos em um ritmo constante, voltando a ficar disponíveis. O ar,
os ventos, a luz do sol, a flora, a fauna e a água são recursos naturais renováveis.
Dissemos que os recursos naturais renováveis, após a reciclagem, voltam a ficar
disponíveis, mas isto só ocorre quando estes são bem cuidados, o que implica usá-los
18
de forma econômica e racional, para que não se deteriorem ou se esgotem.
Atualmente, com o planeta sucumbindo diante de sua exploração intensa, colocamos
nossas esperanças na utilização de tecnologias que proporcionam o consumo
responsável, promovendo a preservação do meio ambiente para que a sociedade
possa continuar a desfrutar da qualidade de vida que a utilização adequada dos
recursos naturais pode oferecer.
Entre os diversos fatores relacionados à degradação ambiental, um dos mais
importantes é a questão da poluição e conservação da água.
O ser humano necessita de água para quase todas suas atividades, em quantidade
suficiente e qualidade conveniente para o consumo. Assim, o abastecimento da água
deve levar em conta os aspectos sanitário e econômico, e que, para ser efetivo, deve
possuir as seguintes características:
- captar a água em mananciais e transportá-la até o usuário em quantidade suficiente,
tanto para as necessidades básicas da população como para permitir o
desenvolvimento econômico, por ser a água matéria prima em muitas indústrias.
- fornecer água que possua aspectos sanitários que protejam a saúde do usuário.
Os efeitos benéficos que a implantação ou melhoria dos sistemas de abastecimento
de água trazem, como, por exemplo, uma diminuição sensível na incidência de
doenças relacionadas à água, ou a universalização do acesso à água pela população, se
acentuam com a implantação conjunta de um sistema de coleta e tratamento de
esgoto.
1.1.1. A Importância Sanitária do Abastecimento da Água.
O sistema de abastecimento de água de uma comunidade consiste na captação da
água em um manancial, adução, tratamento, recalque, armazenamento e distribuição.
Deve ser bem projetado, construído e operado, para que a água não se torne veículo
de transmissão de diversas doenças (também chamadas de doenças hídricas).
Existem doenças nas quais a água atua como veículo do agente infeccioso, como
ocorre na febre tifoide e na disenteria bacilar, e há doenças decorrentes de
contaminantes tóxicos contidos na água em teor inadequado, como o saturnismo,
bócio, fluorose, etc. Conforme Oliveira, “A implantação ou melhoria dos sistemas de
abastecimento de água traz como consequência uma diminuição sensível na incidência
de doenças relacionadas à água. Estes efeitos benéficos se acentuam bastante com a
implantação e melhoria dos sistemas de esgotos sanitários” (OLIVEIRA, 1976).
No Brasil cerca de 60% das internações hospitalares estão relacionadas às
deficiências do saneamento básico, gerando um impacto negativo na qualidade e na
expectativa de vida da população, e há estudos que indicam que 90% dessas doenças
se devem à ausência de água em quantidade satisfatória ou à sua qualidade imprópria
para o consumo. Em muitas localidades brasileiras, a distribuição de água não atende
ao padrão de potabilidade vigente, e, além de problemas operacionais, a tecnologia
19
adotada no projeto da estação de tratamento de água é inadequada, acarretando
prejuízos à qualidade da água produzida (DI BERNARDO, 2005).
1.1.2. A Importância Econômica do Abastecimento de Água.
A implantação de um sistema de abastecimento de água aumenta a expectativa de
vida da população servida e reduz a mortalidade infantil, além de reduzir o número de
horas de trabalho perdidas com as diversas doenças transmitidas pela água, refletindo-
se em um aumento de produção na indústria, comércio e serviços.
A influência do fornecimento de água se faz sentir mais diretamente no
desenvolvimento industrial por esta ser matéria prima em muitas indústrias, como as
de bebidas, de produção de alimentos, de gelo e de produtos farmacêuticos, ou como
insumo no processo de produção, como a água para caldeiras, líquido refrigerante
para o controle de temperatura, selos hidráulicos, ou para limpeza, (OLIVEIRA, 1976).
1.2. A Disponibilidade da Água no Mundo.
A cada dia morrem aproximadamente 25 mil pessoas no mundo, na maioria
crianças, em consequência de doenças causadas pela ingestão de água sem a
qualidade necessária. Em muitas regiões, os recursos hídricos disponíveis não são
suficientes para suprir a demanda. 884 milhões de pessoas não tem acesso à água
potável e metade enfrenta problemas com o abastecimento de água. Existem 26
países que abrigam 262 milhões de pessoas que estão na categoria de “área com
escassez de água” (UNICEF, 2014).
Começam surgir litígios entre países por controle sobre recursos hídricos, como, por
exemplo, Índia e Bangladesh por causa do rio Ganges, México e Estados Unidos por
causa do rio Colorado, e Eslováquia e Hungria pelo rio Danúbio.
Outros países também enfrentam dificuldades com a limitação dos recursos hídricos.
No Oriente Médio, a precipitação pluviométrica média anual oscila entre 100 e 200
mm, e o abastecimento de água depende de pequenos rios e da água subterrânea,
obrigando os países a construírem usinas de dessalinização para a obtenção
de água potável, e, devido à impossibilidade de se manter uma agricultura irrigada,
mais de 50% dos alimentos são importados. Além disso, a retirada excessiva do
aquífero subterrâneo provoca a intrusão da salinidade do oceano, que contamina a
água do subsolo (MANCUSO et al., 2003).
No Brasil temos a disputa entre os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro pelas águas
do rio Paraíba do Sul para evitar o aumento do racionamento de água, que já existe em
diversas cidades paulistas. Este rio nasce em São Paulo, corta Minas Gerais e o Rio de
Janeiro ao longo de seus 1.137 Km de extensão e é muito importante para os 11
milhões de cariocas. Ganhou importância para São Paulo diante dos índices cada vez
mais baixos do Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento da Grande São
Paulo. Haveria um suprimento de água vindo do Paraíba do Sul através de uma
20
interligação deste sistema com a represa Jaguari por um túnel de 15 Km, cujo projeto
está orçado em R$ 500 milhões.
Assim, diante desse quadro, a preocupação com a preservação dos recursos
ambientais está levando vários países a participarem de vários acordos voltados a esse
objetivo. Entre estes acordos destacam-se, por exemplo, o Protocolo de Quioto⁵ de
2005 e a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas⁶ de 2009.
Em 1992 a ONU redigiu a “Declaração dos Direitos da Água”, que trata sobre a
importância da água para o ser humano, a necessidade de sua preservação e
distribuição igualitária (CETESB, 2014).
Além da escassez da água, outro importante fator que ameaça os mananciais no
mundo é o desenvolvimento das cidades, que compromete a captação e o
abastecimento da água. A falta de consciência ecológica, ausência de políticas,
legislação e fiscalização para proteger áreas de proteção e preservação ambiental,
aterros para lixo, os quais contaminam o lençol freático, a impermeabilização do solo,
a devastação de matas ciliares, os esgotos domiciliares e resíduos industriais
contribuem para a poluição e esgotamento das reservas aquíferas (MACÊDO, 2001).
Presenciamos hoje nos países a falência de ecossistemas, com o comprometimento
de rios, lagos e mares pela poluição, tornando-se urgente a substituição dessas fontes.
Até recentemente, o sistema indireto de reuso da água foi satisfatório, mas com o
crescimento populacional, foi necessário desenvolver a técnica do reuso direto da
água, apesar de o sistema indireto ainda continuar em uso em muitas cidades, onde
efluentes são lançados em rios, lagos e mares sem tratamento adequado.
O reuso direto da água consiste na utilização planejada e deliberada de esgotos
tratados para certas finalidades, como irrigação, uso industrial, recarga de aquífero e
obtenção de água potável.
Até o final dos anos noventa, o reuso direto da água foi direcionado basicamente
para o desenvolvimento agrícola em zonas áridas, como, por exemplo, em Israel,
regiões dos Estados Unidos e Índia. Atualmente, com a necessidade de se reduzir a
poluição nos mananciais de água, e com os altos custos do tratamento dos efluentes,
tornou-se vantajoso reutilizar a água tratada, em vez de lançá-la de volta aos rios.
1.3. A Disponibilidade da Água no Brasil.
O Brasil está em uma posição privilegiada, com uma relativa abundância quanto ao
____________________
⁵ O Protocolo de Quioto é um acordo internacional para redução de emissões de seis dos principais
gases causadores do efeito estufa: dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso
(N2O), hexafluoreto de enxofre (SF6), hidrofluorcarbonos (HFCs) e perfluorcarbonos (PFCs), a
serem alcançadas pelos países desenvolvidos que o ratificassem (IPAM, 2014).
⁶ A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2009 foi realizada em
Copenhague, Dinamarca e organizada pelas Nações Unidas. Reuniu os líderes mundiais para
discutir como reagir ao aquecimento global. Foi a 15ª conferência realizada pela UNCCC
(Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) (IPAM, 2014).
21
estoque de água doce: possuímos 14% da água doce do planeta e 53% do continente
sul americano, mas o crescimento das regiões metropolitanas, o desmatamento, a
poluição e o desenvolvimento industrial apontam para um cenário de escassez hídrica.
A falta de tratamento de esgoto e a poluição proveniente da indústria e da
agricultura são os principais fatores de poluição das águas no Brasil. A situação é mais
preocupante no bioma da Mata Atlântica, especialmente nas áreas urbanizadas.
Segundo levantamento realizado pela SOS Mata Atlântica⁷, a qualidade da água foi
considerada ruim ou péssima em 40% dos rios e dos lagos, avaliados em sete Estados
brasileiros, situados nas regiões Sul e Sudeste. Somente 11% foram classificados como
bons, todos situados em áreas de proteção ambiental. Em 49% a água foi classificada
como regular (SOS MATA ATLÂNTICA, 2014).
Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), somente 17 dos 27 Estados brasileiros
fazem o monitoramento da água, fato este que, junto à falta de padronização no
processo de coleta de dados, dificulta o diagnóstico da qualidade dos recursos hídricos
no Brasil. Para contornar esta falta de informação, foi criada a “Rede Nacional de
Monitoramento de Qualidade das Águas”, que deverá padronizar os processos de
coleta e classificação das águas, o que ajudará a definir políticas e gestão dos recursos
hídricos.
Já para o país considerado como um todo, 76% dos mananciais apresentam
qualidade boa, 6% são de qualidade ruim e 1% como péssima. Considerando apenas
áreas urbanas, os que apresentam qualidade boa são apenas 24% dos mananciais, as
águas de qualidade ruim são 32% e de qualidade péssima são 32%. Isto mostra que
mesmo tendo maior infraestrutura de saneamento básico, as metrópoles são os
grandes centros de poluição do sistema hídrico (ANA, 2005).
Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento⁸, apenas 37,5% do
esgoto produzido no Brasil é tratado. Levando em conta que o maior problema da
qualidade de água é a falta de tratamento do esgoto, a prioridade do governo deve ser
a construção de estações de tratamento de esgoto, expandindo o serviço à medida
que a população cresce (REVISTA ECOLÓGICA, 2014).
Pesquisa realizada pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento
Sustentável⁹ em 2014 mostra que o Brasil é o 112º colocado no mundo (de um total de
____________________
⁷ A Fundação SOS Mata Atlântica é uma ONG criada em 1986 para defender os últimos remanescentes
da Mata Atlântica do país, através da mobilização permanente e da aposta no conhecimento, na
educação, na tecnologia, nas políticas públicas e na articulação em rede para consolidação do
movimento socioambiental brasileiro (SOS Mata Atlântica, 2014).
⁸ O Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento foi criado em 1996 pelo Governo Federal e é o
mais importante banco de dados do setor saneamento brasileiro, servindo a múltiplos propósitos nos
níveis federal, estadual e municipal (SNIS, 2014).
⁹ O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável é um conselho de empresas
que reúne mais de 70 grupos corporativo. Lidera os esforços do setor na implementação do
desenvolvimento sustentável no Brasil além de oferecer uma plataforma segura para que as empresas
possam dialogar, trocar conhecimentos e experiências, (CEBDS, 2014).
22
191 países) em termos de evolução e disponibilização de saneamento básico (AGÊNCIA
BRASIL, 2014).
Todas estas questões são de âmbito nacional, e requerem ações do governo no
sentido de minimizá-las ou solucioná-las.
Procurando garantir o abastecimento de água na quantidade e qualidade
necessárias, estabelecem-se políticas federais, estaduais e municipais referentes ao
gerenciamento de recursos hídricos.
Neste sentido, o governo federal criou alguns órgãos para gerir o uso da água, como
a Agência Nacional de Águas - ANA, autarquia de regime especial, criada em 2000 e
vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, que é responsável pela implementação e
execução da Política Nacional de Recursos Hídricos e da Lei das Águas (lei 9.433 de
1997), e o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos - SINGREH, orgão
criado pela lei 9.433/1997, que, através do Conselho Nacional de Recursos Hídricos -
CNRH, promove a articulação dos planejamentos de recursos hídricos nas áreas
federal, estadual, regional e da iniciativa privada, estabelece critérios para a outorga
do direito de uso dos recursos hídricos e decide sobre as grandes questões do setor.
Na esfera estadual também se busca preservar os recursos hídricos, através de leis e
órgãos executivos. No Estado de São Paulo, por exemplo, foi promulgada a Lei 9.866
de 1997, conhecida por “Lei Estadual de proteção de mananciais”, que trata da
proteção e recuperação de condições ambientais específicas para garantir o
abastecimento de água. Exemplo de órgão, também em São Paulo, é a Companhia
Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), criada em 1968. Esta agência é
responsável pelo controle, fiscalização, monitoramento e licenciamento de atividades
geradoras de poluição, com a preocupação fundamental de preservar e recuperar a
qualidade das águas, do ar e do solo (CETESB, 2014).
Além disto, cada Estado também possui o seu Conselho Estadual de Recursos
Hídricos - CRH, órgão colegiado superior, deliberativo e consultivo do “Sistema de
Gerenciamento de Recursos Hídricos”.
1.4. Caminhos para a Preservação da Água.
Além da proteção aos mananciais, pode-se preservar a água através da diminuição
de seu consumo por meio da reciclagem e do reuso da água, reduzindo o seu
desperdício. Nas residências e na indústria, na maioria dos casos, a água após ser
utilizada é descartada. Os efluentes oriundos da indústria são compostos
predominantemente de poluentes de natureza química, como metais pesados,
substâncias orgânicas, etc., demandando um tratamento mais complexo. Os efluentes
produzidos pelas residências contém predominantemente matéria orgânica, que serve
de alimento para micro-organismos decompositores (bactérias, protozoários e micro
metazoários) (RICHTER, 1991).
Por meio de um tratamento adequado, essa água descartada pode ser uma fonte
para novos usos. Por exemplo, as águas cinzas (água residual gerada pelas residências
23
saneadas, exceto a proveniente dos vasos sanitários, que são as águas negras) pode
ser usada para usos não potáveis, como irrigação de jardins, lavagem de pisos,
descargas em bacias sanitárias ou para abastecimento de sistemas contra incêndio. É
possível adicionar-se a esse sistema a água pluvial captada pelo telhado da edificação,
que pode ser utilizada após tratamento e armazenamento (MANCUSO et al., 2003).
A reciclagem e o reuso não são conceitos novos. Há bilhões de anos, a natureza já
recicla e reutiliza a água através do ciclo hidrológico (Fig. 1.1), fenômeno essencial para
a manutenção dos ecossistemas da Terra¹⁰. Na história da humanidade já se faz o
reuso de água de forma indireta e não planejada há séculos. Populações a jusante de
um rio captam águas que receberam efluentes de usuários a montante. Durante o
percurso a água é purificada por biodegradação dos poluentes. Ainda hoje milhões de
pessoas se utilizam dessa forma de reuso indireto da água (MANCUSO et al., 2003).
Fig. 1.1 – Ciclo Hidrológico.
Apesar de o reuso de águas cinzas e pluviais contribuir para a conservação das
reservas hídricas, não é o consumidor final o maior responsável pelo seu desperdício, e
sim as operadoras do sistema de distribuição. A maior perda ocorre antes mesmo que
a água tratada alcance as residências, comércios ou indústrias. Segundo a Sabesp, por
exemplo, um quarto da água captada na Grande São Paulo foi perdido no trajeto entre
a represa e as caixas d’águas dos consumidores em 2013. 60% dessa taxa são devidos a
vazamentos na rede e os 40% restantes são frutos de roubos de água (SABESP, 2014).
_______________________ ¹⁰ A água em seu movimento contínuo na hidrosfera transfere-se entre diversas regiões (calotas polares,
geleiras, águas superficiais e subterrâneas, oceanos e atmosfera) por processos físicos, como, por
exemplo, evaporação, precipitação, infiltração, escoamento, etc. A fase evaporativa do ciclo purifica a
água e reabastece continuamente a terra com água doce, transportando minerais e modificando as
características geológicas por meio de processos como erosão e sedimentação, tornando a água um
recurso renovável e móvel (TELLES e COSTA), 2010).
24
Segundo a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária, em cidades do Japão e
Alemanha, as perdas são próximas de 11%, e nos Estados Unidos, em torno de 16%
(ABES, 2014).
Assim, vê-se a urgência da mudança de paradigmas no uso da água. Os sinais
mostrados pela mudança climática e pelo esgotamento dos mananciais produzem
mudanças no comportamento da população, aumentando a consciência ecológica e a
demanda por tecnologias eco eficientes. Isso se reflete também na indústria da
construção civil, fazendo com que esta procure certificações por organizações que
atestem a sustentabilidade do empreendimento imobiliário, satisfazendo o
consumidor que se mostra cada vez mais voltado a essas questões.
Tendo em vista as considerações feitas, verifica-se a importância da substituição das
fontes para o abastecimento de água, e a prática do reuso de água no âmbito
residencial, cujo consumo de água representa 15% aproximadamente do consumo
total no Brasil (MANCUSO et al., 2003), pode contribuir significativamente para esse
esforço, produzindo benefícios ambientais para a população em geral, e também
econômicos para os usuários dessa tecnologia.
25
CAPÍTULO 2
2. Conceitos Básicos de Reuso de Água.
O reuso ou reciclagem da água subentende uma técnica, que se desenvolve em
maior ou menor complexidade, dependendo dos fins a que se destinará a água, ou do
modo que foi utilizada anteriormente.
A palavram “técnica” vem do grego téchne, que significa “arte” ou “ciência”
(CUNHA, 2010). Técnica, portanto, é um conjunto de procedimentos que objetiva
atingir um determinado resultado. A técnica supõe que para situações semelhantes, o
mesmo procedimento produzirá o mesmo efeito. O procedimento é o ordenamento
do conjunto de ações, ou seja, da forma de atuar, e utiliza-se de ferramentas e
conhecimentos variados. O conhecimento inclui descrições, teorias, princípios,
hipóteses e conceitos. Em razão disto, discorreremos neste capítulo sobre a
conceituação de termos e temas relacionados ao reuso da água, objeto da pesquisa
desta dissertação.
2.1. A Água.
A água é a substância (óxido de dihidrogênio) que forma a parte líquida do globo
terrestre. É transparente, incolor e é um dos principais constituintes dos seres vivos
(FERREIRA, 1986).
Segundo Di Bernardo, as águas naturais contém grande parte das substâncias e
elementos necessários ao ser humano, constituindo fonte importante para o seu
desenvolvimento. O organismo humano necessita de várias substâncias e elementos
químicos indispensáveis à manutenção da vida, como o oxigênio, hidrogênio,
nitrogênio, cálcio, fósforo, potássio, enxofre, cloro, magnésio, etc., que participam de
processos metabólicos vitais. Outros elementos que o organismo necessita em
quantidades muito pequenas, como o cobalto, cromo, cobre, estanho ferro, iodo,
manganês, molibdênio, selênio, zinco e flúor são denominados elementos traços. Por
outro lado, as águas naturais podem conter organismos, substâncias e elementos
prejudiciais à saúde, devendo ter suas concentrações reduzidas ou eliminadas para o
abastecimento público (DI BERNARDO, 2005).
2.1.1. Aspectos Físicos e Químicos da Água.
Segundo Di Bernardo, a água é uma substância composta de dois átomos de
hidrogênio e um de oxigênio (H2O), conectados por ligações covalentes. Sua molécula
não é linear: seus átomos formam um ângulo de 109°, com o átomo de oxigênio no
vértice e os átomos de hidrogênio nas extremidades. Como o átomo de oxigênio tem
maior eletronegatividade do que o átomo de hidrogênio, ele possui uma carga
levemente negativa, e o hidrogênio uma leve carga positiva, resultando em uma
molécula polar, que, junto às quatro pontes de hidrogênio intermoleculares, produzem
poderosas forças de atração entre as moléculas de água, dando origem à tensão
superficial e à força capilar.
26
Fig. 2.1 – Estrutura de uma molécula de água.
No estado líquido não possui odor ou cheiro, e é quase incolor. À pressão de uma
atmosfera, congela a 0°C e evapora a 100°C. Outra característica da água é a sua
“dilatação anômala”. Com a diminuição da temperatura ela se contrai, mas, a partir de
4°C, ela começa a se expandir, voltando a se contrair após a sua solidificação. Isto
explica porque a água congela primeiramente na superfície.
Muitas substâncias podem ser dissolvidas na água, o que a torna conhecida como
“solvente universal”, fato atribuído a sua grande constante dielétrica e à tendência de
suas moléculas se combinarem a íons, formando íons hidratados. Apesar disso,
algumas substâncias não se misturam bem com a água. Algumas, dentre elas os óleos,
podem ser classificadas como insolúveis, e outras como hidrofóbicas.
A água pura tem densidade de 1000,0 Kg/m³ a 5°C e tensão superficial de 0,07275
N/m a 25°C.
A água é a substância química mais comum na superfície da Terra, cobrindo 71% do
planeta, e é a única substância natural encontrada no meio ambiente nas três fases
comuns da matéria: sólida, líquida e gasosa.
A fase sólida pode ocorrer na forma de gelo, presente nas calotas polares, ou na
forma de cristais granulares, como a neve.
A fase líquida (a mais comum) ocorre na superfície da terra, subsolo e na atmosfera.
A fase gasosa (vapor) está presente na atmosfera. Note que as nuvens são
constituídas por minúsculas gotículas de água em suspensão no ar, e não por vapor
(DI BERNARDO, 2005).
2.2. Tipos de Águas Relacionadas ao Reuso.
As fontes alternativas de água são aquelas que não estão sob concessão de órgãos
públicos, ou as que não sofrem cobrança pelo uso ou que fornecem água com
composição química diferente da água potável de concessionárias.
Deve-se observar o impacto provocado ao meio ambiente e o grau de
responsabilidade social quando da utilização de fontes alternativas.
A utilização destas fontes requer autorização do poder público, ficando os usuários
sujeitos às sanções pelo uso inadequado, ou pela falta de licenças cabíveis.
27
Nesse sentido, recomenda-se que a decisão de usar fontes alternativas de água no
meio urbano passe pelo critério de menor impacto ao meio ambiente, procurando-se a
água que está disponível naturalmente, sem intervenção direta nos mananciais ou que
é oferecida de forma responsável pelos órgãos públicos.
A figura 2.2 mostra os diversos tipos de água presentes em uma residência.
Fig. 2.2 – Os tipos de água presentes em uma residência.
Apresentamos a seguir as fontes de água que podem ser aproveitadas para o reuso
nos empreendimentos de construção civil (SINDUSCON, 2005).
2.2.1. Águas Cinzas.
Segundo Mancuso, a água cinza é a água residual, não industrial, originada de
atividades domésticas como a lavagem de roupas, o uso de lavatórios e banhos, com
exceção da água proveniente de descargas em vasos sanitários, a qual é chamada de
“água negra”.
O nome “água cinza” deve-se à sua aparência turva, causada pela presença de
resíduos de alimentos e concentrações de produtos químicos tóxicos usados para
limpeza doméstica. Não deve conter matéria fecal e urina.
Normalmente as águas cinzas são misturadas às águas negras e eliminadas na rede
de esgoto. O esgoto doméstico contém de 50 a 80% de águas cinzas, e estas, como são
mais fáceis de serem tratadas e recicladas do que as águas negras, podem ser usadas,
após tratamento e armazenamento, para irrigação, lavagem de pisos, descarga em
bacias sanitárias e fornecimento de água para sistemas contra incêndios. Este tipo de
água reciclada nunca deve ser utilizada como água potável (MANCUSO et al., 2003).
28
2.2.2. Águas Pluviais.
Para Peters, os deflúvios decorrentes de chuvas podem representar fonte alternativa
de água para consumo. Volumes expressivos de água podem ser captados pelo telhado
de edificações e, dependendo de sua utilização, recebem algum tipo de tratamento.
Após a acumulação em reservatórios, essas águas são utilizadas tanto no período de
estiagem quanto no período chuvoso, constituindo uma alternativa de uso em relação
à água oferecida pela rede pública (PETERS, 2006).
2.2.3. Águas Negras.
Água negra é o efluente proveniente dos vasos sanitários, contendo basicamente
fezes e urina. Apresentam elevada carga orgânica e presença de sólidos em suspensão
e em grande parte sedimentáveis (GONÇALVES, 2006). Não é usada para reuso no
âmbito residencial por ser de difícil tratamento.
2.2.4. Águas Amarelas.
Águas amarelas são os efluentes que contém predominantemente urina. São
originárias de mictórios e vasos sanitários equipados com separador de fezes e urina.
Não é utilizada no reuso em edifícios residenciais pelos mesmos motivos da água
negra.
2.3. Conceitos de Reuso e Reciclagem da Água.
Segundo a Agência Nacional de Águas – ANA, “fontes alternativas de água são todas
aquelas que não estão sob concessão de órgãos públicos ou que não sofrem cobrança
pelo seu uso” (ANA, 2005).
Outras denominações encontradas sobre esse tema são: “fontes alternativas de
abastecimento”, “substituição de fontes” e “águas não convencionais” (FINEP –
Manejo de Águas Pluviais Urbanas).
A busca por fontes alternativas de água para diminuição do consumo tem se
tornado uma prática necessária para a preservação da disponibilidade hídrica. Neste
sentido, o reuso de água é uma das principais alternativas para essa substituição das
fontes.
O termo “reuso da água” pode ser conceituado de forma bastante intuitiva como o
reaproveitamento de águas já utilizadas. Porém, considerações sobre quem será o
usuário do novo aproveitamento, se a água será lançada ou não no meio ambiente
antes de ser reutilizada, qualidade da água tratada, se o reuso é planejado ou não
planejado, levou a uma produção bastante rica de uma literatura e terminologia,
existindo por vezes discrepâncias entre os autores.
O modo de reuso mais primitivo, e o primeiro a ser utilizado pelo ser humano é o já
mencionado método de lançar esgoto não tratado às margens de um rio, o qual mais
adiante abastecerá outros usuários. Processos tais como sedimentação, diluição e bio-
degradação, que ocorrem durante o percurso da água, possibilitam o seu
29
reaproveitamento. Mas, nesses casos, quando há o reuso da água? Para responder a
essa questão devemos levar em consideração as variáveis relacionadas a este
processo, como a quantidade de esgoto que é lançada no rio, distância que deve ser
percorrida pelos efluentes para uso seguro da água e condições bioquímicas da água
do rio. Não se pode falar em reuso quando a quantidade de esgoto não tratado
lançado for ínfima em comparação com o volume originário de água do rio,
produzindo grande diluição. Já no caso de uma grande metrópole despejando milhões
de litros de esgoto por dia no rio que abastecerá outra cidade situada a vários
quilómetros de distância, é correto referir-se a reuso. Este é o caso das cidades do Vale
do rio Paraíba, que despejam esgotos e captam água no mesmo corpo hídrico,
sucessivamente uma às outras, para uso residencial, industrial e pela agricultura.
Montgomery distingue “reciclagem” de “reuso de água”. Para ele, a “reciclagem” é
definida como o reaproveitamento pelo mesmo usuário da água servida para o seu uso
original, antes de sua descarga em um sistema de tratamento ou outro ponto de
disposição, enquanto o termo “reuso” é utilizado para efluentes que, após tratamento,
são aproveitados por outros usuários diferentes do original (MONTGOMERY, 1985).
Lavrador Filho define o reuso da água como o “aproveitamento de águas
previamente utilizadas, uma ou mais vezes, em alguma atividade humana, para suprir
as necessidades de outros usos benéficos, inclusive o original. Pode ser direto ou
indireto, bem como decorrer de ações planejadas ou não planejadas”. Segundo este
autor, a reciclagem de água seria um caso especial de reuso de água, em que a água
tratada é utilizada pelo usuário original gerador do efluente (LAVRADOR FILHO, 1987).
Nesta definição vemos outros termos relacionados ao tema em estudo: reuso
direto, indireto, reuso planejado e não planejado, os quais serão conceituados adiante.
Reuso Direto e Indireto
A prática adotada no mundo inteiro pelas cidades é a descarga de esgotos, tratados
ou não, em corpos de águas superficiais. Como é de se esperar, a grande maioria dos
casos refere-se à descarga de esgotos não tratados. Pesquisa feita pela Comissão
Mundial de Águas, entidade ligada à ONU, mostra que entre os 500 maiores rios do
mundo, mais da metade enfrenta sérios problemas de poluição. A degradação
ambiental que esta técnica provoca levou muitas cidades a elaborarem projetos de
despoluição de seus mananciais. Eis alguns exemplos:
Na Coreia do Sul, a revitalização do rio Han é um exemplo de sucesso. É a única
fonte de abastecimento de água dos 10,3 milhões de habitantes da cidade de Seul, e
está despoluído desde 2003. O governo impôs pesadas multas para indústrias que
usavam ligações clandestinas para jogar resíduos químicos no Han, e também
desenvolveu grandes estações de tratamento de esgotos.
O rio Reno que banha a Alemanha, Suíça e França, já foi considerado um dos mais
poluídos da Europa. Os seus 1,3 mil quilômetros de extensão foram alvos dos dejetos
das inúmeras zonas industriais, e, após um projeto de recuperação com custo de mais
30
de US$ 15 bilhões, usados na construção de estações de tratamento de água e de
monitoramento, a vida voltou às suas águas.
O rio Tâmisa, que banha a cidade de Londres, teve suas águas poluídas por séculos
com efluentes de indústrias e esgoto doméstico. Durante o século 20 sua poluição
passou a ser combatida por meio da construção de sistemas de tratamento de água ao
longo de seu curso.
O rio Cuyahoga, que corta Cleveland, no Estado de Ohio, Estados Unidos, ficou
famoso em 1969, quando os resíduos químicos presentes em suas águas incendiaram-
se. As imagens de um rio em chamas chocaram os norte-americanos. Seguiu-se então
um período de intensa despoluição, e hoje o rio Cuyahoga encontra-se totalmente
recuperado (REVISTA CYAN, 2012).
Segundo Ratier, no Brasil ainda não temos um caso de recuperação de um grande
rio. Se os rios que cortam as grandes metrópoles brasileiras fossem despoluídos,
poderiam servir como importante manancial de água para abastecimento.
O rio Tietê, por exemplo, quando passa pela região metropolitana de São Paulo,
recebe quase 400 toneladas de esgoto por dia, principalmente esgoto doméstico,
proveniente de 5 milhões de pessoas. Hoje é considerado um rio morto, contendo
apenas bactérias anaeróbicas e fungos em seu leito, e, para recuperá-lo, é necessário
aumentar a quantidade de esgoto tratado, que hoje está em 64% na região
metropolitana de São Paulo.
Outra dificuldade encontrada para a recuperação dos rios brasileiros é o sistema de
encanamentos adotado no Brasil, que é o de separação absoluta, na qual a água
pluvial é recolhida pelos bueiros e vai para a galeria pluvial, enquanto que o esgoto
percorre sua própria rede.
Somente o esgoto passa por tratamento, e a galeria pluvial, que deveria levar
apenas água da chuva, na maioria dos casos possui várias ligações clandestinas de
esgoto ao longo de sua extensão, o que provoca a descarga água contaminada nos rios
(RATIER, 2014).
Voltando às nossas definições, o reuso da água pode ocorrer de forma direta ou
indireta.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o reuso indireto ocorre
quando a água utilizada por residências ou indústrias, uma ou mais vezes, é
descarregada em águas superficiais ou subterrâneas, sem tratamento, e usada
novamente a jusante, de forma diluída.
O reuso direto, ao contrário, é o uso planejado de efluentes tratados para certas
finalidades como irrigação, uso industrial, recarga de aquíferos e água potável.
Segundo essa mesma organização, a reciclagem interna de água é o reuso de água
internamente às instalações industriais, objetivando a economia de água e o controle
da poluição (OMS, 1973).
31
2.3.1. Reuso Planejado e Reuso Não Planejado da Água.
Lavrador Filho refere-se ainda ao reuso planejado e reuso não planejado da água, os
quais podem ocorrer na forma direta e indireta.
2.3.1.1. Reuso Planejado da Água.
O reuso planejado, também denominado “reuso intencional da água”, ocorre
quando é resultado de uma ação humana consciente, que capta o efluente adiante do
seu ponto de descarga e o submete a um sistema de tratamento que atenda aos
padrões de qualidade requeridos pelo novo uso que se fará da água.
Fig. 2.3 - Estação de tratamento de Esgoto - ETE Alegria, no Rio de Janeiro.
2.3.1.2. Reuso Indireto Planejado da Água.
O reuso indireto planejado de água ocorre quando os efluentes, de origem
residencial ou industrial, são tratados até atingir uma qualidade suficiente para não
poluir o meio ambiente antes de serem lançados em corpos de água superficiais ou
subterrâneos, para posterior captação, de maneira controlada, para algum uso
benéfico por outros usuários. Para este tipo de reuso, não basta haver controle de
qualidade apenas no momento da descarga e no momento da captação da água. É
necessário também um controle de eventuais descargas de esgotos durante o
percurso para que se atenda aos requisitos de qualidade da água para o reuso
pretendido (CETESB, 1978).
2.3.1.3. Reuso indireto não planejado da Água.
O reuso indireto não planejado de água verifica-se quando a água utilizada uma ou
mais vezes em alguma atividade humana, é descarregada em águas superficiais ou
subterrâneas de maneira não controlada, sem tratamento, e captada a jusante para
posterior reuso por outros usuários.
O efluente não tratado, após sua descarga no meio ambiente, passará por processos
naturais de depuração, como a diluição, biodegradação e sedimentação, dentre
outros, durante seu percurso até a nova captação.
32
Aqui o reuso da água a jusante é um subproduto não intencional da descarga à
montante (MANCUSO et al., 2003).
2.3.1.4. Reuso Direto Planejado de Água.
Chamamos de reuso direto planejado de água quando os efluentes são captados
diretamente do seu ponto de descarga, tratados convenientemente e encaminhados
diretamente até o ponto de reuso, sem descarga no meio ambiente. Pode haver
tratamentos adicionais ou armazenamentos no percurso até o usuário final. Esta
modalidade de reuso é usada principalmente em locais com escassez de água
(LAVRADOR FILHO, 1987).
2.3.1.5. Reuso Potável da Água.
O reuso potável da água ocorre quando o esgoto é recuperado por meio de
tratamento avançado, produzindo água potável. Pode ser “direto” ou “indireto”.
É considerado direto quando a água resultante do tratamento é utilizada no sistema
de água potável, e é indireto quando disposta na coleção de águas superficiais ou
subterrâneas, para diluição, purificação natural e subsequente captação, tratamento e
finalmente utilizado como água potável (MANCUSO et al., 2003).
2.3.1.6. Reuso não Potável da Água.
O reuso não potável da água ocorre quando o efluente é tratado em um sistema
menos avançado, que não retira completamente as impurezas. A água produzida é
utilizada para usos menos exigentes, como rega de jardins, descarga em vasos
sanitários e lavagem de pisos, no caso de reuso para fins domésticos.
Como no caso do reuso potável, é considerado direto quando a água tratada é
utilizada no sistema de reuso não potável, e é indireto quando disposta em águas
superficiais ou subterrâneas, para subsequente captação e tratamento (TELLES e
COSTA, 2010).
2.3.1.7. Reciclagem da Água.
É o reuso interno da água. A água utilizada é tratada antes de sua descarga em um
sistema geral de tratamento ou outro local de disposição, para servir como fonte
suplementar de água para abastecimento do uso original, É um caso particular de
reuso direto (MANCUSO et al., 2003).
33
CAPÍTULO 3
3. As Águas Cinzas.
Ao falarmos de reuso de água, estamos nos referindo às fontes alternativas de água,
que são fontes opcionais àquelas normalmente disponibilizadas às habitações. Dentre
as fontes alternativas, destacamos aqui a água cinza, fazendo-se necessário
caracterizá-la adequadamente.
3.1 Conceito de Água Cinza.
Inicialmente, apontamos as definições de água cinza de alguns autores, que
explicam a sua origem:
“Água cinza” é o termo geral usado para designar a água servida, doméstica, que
não contém contaminação de esgoto ou fecal (TELLES e COSTA, 2010).
Fig. 3.1- Água cinza.
“Água cinza” é a água servida proveniente de lavatórios, chuveiros, pias de cozinha,
banheiras, máquinas de lavar roupas e tanques, sem a contribuição de efluentes de
vasos sanitários (chamados de “águas negras”), e ocorre, além de residências, também
em edifícios públicos, escolas e escritórios (JEFFERSON et al., 1999).
“Água cinza” é o efluente que não possui contribuição da bacia sanitária, ou seja, o
esgoto gerado pelo uso de banheiras, chuveiros, lavatórios, máquinas de lavar roupas
e pias de cozinha em residências, escritórios comerciais, escolas etc. Na cultura
brasileira é comum a utilização das pias de cozinha como local de despejo de restos de
alimentos, provocando no efluente grande concentração de matéria orgânica. Por este
34
motivo, o efluente da pia de cozinha não é considerado como água cinza para água de
reuso (SINDUSCON, 2005).
“Águas cinzas” são resíduos líquidos, não tratados, originados de edificações
residenciais, sem contato com resíduos originados do vaso sanitário (CALIFORNIA
GREYWATER STANDARTS, 1994).
As águas cinzas podem ser classificadas em duas categorias: águas cinzas claras, que
são águas residuárias originadas de chuveiros, lavatórios e de máquinas de lavar
roupas; e águas cinzas escuras, que são as originadas de pias de cozinha e de máquinas
de lavar pratos (HENZE e LEDIN, 2001).
De fato, a água servida proveniente de pias de cozinha e lava-louças não é
considerada por alguns autores como sendo água cinza, como visto acima, por
conterem vários compostos orgânicos poluentes. Neste trabalho é proposto o reuso
das águas cinzas claras.
3.2 Fontes da Água Cinza.
Como foi dito acima, a água cinza constitui-se em uma fonte alternativa de água.
Trata-se da água servida proveniente de lavatórios, chuveiros, pias de cozinha,
banheiras, máquinas de lavar roupas e tanques e diferencia-se da água negra por não
conter matéria fecal em quantidade significativa, fato que facilita o seu tratamento em
âmbito residencial para reuso não potável, pois as águas negras exigem técnicas de
tratamento avançadas e de alto custo.
Relativamente aos aspectos quantitativos quanto à produção da água cinza, estes
estão diretamente relacionados com o consumo de água nas residências, que depende
de variáveis comportamentais, climáticas e econômicas.
Alguns exemplos destas variáveis, usadas em procedimentos estatísticos para
cálculo do consumo de água em residências, são: a tarifa cobrada pela concessionária,
renda familiar, precipitação e temperatura médias da região, características das
habitações como, por exemplo, o tamanho e se possui área externa ou não, e a
quantidade de moradores e suas faixas etárias (ARBUÈS, 2003).
Já para Telles, as variáveis usadas no cálculo do consumo de água no sistema de
abastecimento urbano são: o sistema de fornecimento e cobrança, a qualidade da
água fornecida, o custo operacional, a pressão na rede de distribuição, a existência de
rede de esgoto e os tipos de aplicações (TELLES e COSTA, 2010).
Para se estimar a quantidade diária de água cinza produzida em uma residência,
usa-se a vazão específica de cada aparelho sanitário, associada à frequência e duração
de seu uso (SANTOS, 2002).
A tabela 3.1 mostra os percentuais de consumo residencial de água por atividade
(TELLES e COSTA, 2010).
35
Tabela 3.1 – Consumo de água por atividade – Telles e Costa.
Já na tabela 3.2 é mostrado o consumo de água em algumas atividades domésticas
no Brasil por tipo de aparelho sanitário, segundo números da Companhia de
Saneamento Básico de São Paulo- Sabesp (SABESP, 1996).
- Torneira de Pia - abertura 1 volta.
- Ducha - abertura total.
- O regulador de vazão permite o usuário regular de acordo com sua necessidade.
Tabela 3.2 - Consumo de água em algumas atividades domésticas.
36
Analisando os dados, percebe-se que o banheiro é o local da residência onde há o
maior consumo de água, representando mais da metade do consumo de água das
residências. O consumo da bacia sanitária e dos chuveiros possuem valores
semelhantes, favorecendo a prática do reuso da água, pois neste caso há um equilíbrio
entre a água ofertada e sua demanda.
3.3 Características Físicas da Água Cinza.
Segundo Metcalf e Eddy, a característica física da água cinza mais importante é o
conteúdo total de sólidos, o qual é subdividido em: sólidos em suspensão, sólidos
sedimentáveis, sólidos coloidais, sólidos dissolvidos e sólidos voláteis. A quantidade de
cada tipo de sólido presente na água cinza é calculada através da análise de amostras e
servem para avaliação do potencial de reuso dessa água e escolha das operações e
processos de tratamento mais adequados.
Outras características físicas da água cinza importantes são:
- a distribuição das dimensões das partículas: usada para avaliar a eficiência do
processo de tratamento;
-turbidez: parâmetro usado para avaliar a qualidade doa água tratada;
-cor: que pode ser marrom, cinza ou mesmo negra, usada para avaliar as condições da
água (nível de contaminação);
- condutividade e densidade: parâmetros usados para verificar se o efluente tratado
pode ser usado na agricultura.
Para o reuso da água cinza em residências, entretanto, os parâmetros físicos mais
importantes levados em consideração no planejamento do sistema são: a presença de
sólidos em suspensão, a temperatura, a cor e a turbidez (METCALF e EDDY, 2003).
Altas temperaturas, como as que ocorrem em várias regiões do Brasil, favorecem o
crescimento de microrganismos. A quantidade de sólidos suspensos, juntamente com
a medida de turbidez, também fornecem informações sobre as partículas e coloides
que podem produzir entupimento de tubulações, devido ao fato de que esses coloides
combinados com surfactantes, originados de sabões e detergentes, podem se
estabilizar na fase sólida devido à adsorção do surfactante na superfície do coloide
(ERIKSSON, 2002).
3.4 Características Químicas da Água Cinza.
Referem-se às substâncias dissolvidas que podem causar alterações nos seguintes
parâmetros: pH, alcalinidade, acidez, dureza, ferro, manganês, cloretos, nitrogênio,
fósforo, oxigênio dissolvido, matéria orgânica e inorgânica. Estes parâmetros são
determinados por análises químicas e tem consequências diretas sobre o
planejamento do reuso da água cinza.
As características químicas das águas cinzas variam de acordo com o tipo de
composto químico predominante dissolvido. Estes compostos podem ser: compostos
37
orgânicos, compostos nitrogenados e fosforados, compostos de enxofre ou outros
(BAZZARELA, 2005).
3.4.1 Compostos Orgânicos.
A degradação da matéria orgânica presente na água cinza e a consequente deplexão
do oxigênio influencia nos valores de DBO¹¹ (demanda bioquímica de oxigênio) e de
DQO¹² (demanda química de oxigênio).
Grande parte da DQO é derivada dos produtos químicos utilizados para higiene
pessoal e para limpeza do edifício. Os níveis de DQO da água cinza são próximos aos
encontrados no esgoto doméstico convencional.
Já para as concentrações de DBO os níveis encontrados na água cinza são mais
baixos do que os níveis do esgoto convencional (ERIKSSON, 2002).
3.4.2 Compostos Nitrogenados e Fosforados.
As concentrações de nitrogênio na água cinza são mais baixas do que no esgoto
convencional, pois a principal fonte deste nutriente é a urina, que raramente está
presente na água cinza.
Outra fonte deste composto é o efluente de cozinha, que em muitos sistemas de
reuso não é utilizada (ERIKSSON, 2002).
Já em relação ao fósforo, as principais fontes são os detergentes e sabões,
principalmente aqueles que contém fosfatos. Por esse motivo as concentrações de
fósforo na água cinza proveniente de tanques, máquinas de lavar e cozinha são sempre
maiores do que nas amostras de lavatório e chuveiro.
As concentrações de fósforo em águas cinza podem ser semelhantes ou até
superiores àquelas de esgotos sanitários com características médias (PROSAB, 2006).
Em locais onde o fosfato não é permitido, o nível de fósforo na água cinza tende a
ser 70% menor (OTTERPOHL, 1997).
3.4.3 Compostos de Enxofre.
A matéria orgânica presente nas águas negras já passaram pelo sistema digestório
humano, sobrando compostos orgânicos de decomposição pelos microrganismos
mais difícil. Já na água cinza, os compostos orgânicos são de degradação mais fácil para
____________________
¹¹ A Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) é a quantidade de oxigênio dissolvida na água e utilizada
pelos microrganismos na oxidação bioquímica da matéria orgânica. É o parâmetro mais empregado para
medir a poluição. A determinação da DBO é importante para verificar-se a quantidade de oxigênio
necessária para estabilizar a matéria orgânica. Assim, quanto maior o grau de poluição, maior a DBO. Os
esgotos domésticos possuem DBO em torno de 300 mg/L, ou seja, um litro de esgoto consome 300 mg
de oxigênio para estabilizar a matéria orgânica em cinco dias (TELLES e COSTA, 2010).
¹² A Demanda Química de Oxigênio (DQO) mede o consumo de oxigênio ocorrido durante a oxidação
química da matéria orgânica. A oxidação é obtida através de um forte oxidante (dicromato de potásio)
em meio ácido (TELLES e COSTA, 2010).
38
os microrganismos, fazendo com que a taxa de decaimento dos poluentes seja maior,
afetando o grau de oxidação e consequentemente a quantidade de oxigênio ao longo
do tempo (BAZZARELA, 2005).
Em outras palavras, a água cinza se torna anaeróbica mais rapidamente que as
águas negras. O íon sulfato está presente nas água cinza, e, em condições anaeróbicas,
são reduzidos a sulfetos através da ação bacteriológica, e estes, ao se combinarem
com o hidrogênio, formam o sulfeto de hidrogênio ou gás sulfídrico (H2S). Estes,
quando em concentrações acima de 1mg/L, geram maus odores (METCALF e EDDY,
2003).
3.4.4 Outros Componentes.
Apesar do pH da água cinza depender basicamente do pH da água fornecida pela
concessionária, produtos químicos utilizados podem aumentar esse pH. Estes produtos
químicos são provenientes de detergentes, sabões, perfumes, xampus, alvejantes e
outros produtos de limpeza. Já para caracterização da água cinza, os principais
compostos usados são os surfactantes, presentes nos detergentes e produtos de
higiene pessoal.
As concentrações de oxigênio dissolvido (OD) são relativamente altas logo após a
produção da água cinza.
A alcalinidade é um parâmetro muito importante quando se pretende tratar a água
cinza pela via de digestão anaeróbia, visto que uma redução do pH pode afetar os
microrganismos responsáveis pela depuração.
A dureza da água cinza não causa problemas sanitários, mas reduz a formação de
espuma, o que é importante caso a água cinza seja reutilizada para a lavagem de
roupas, devido ao maior consumo de sabão. A dureza pode causar também
incrustações em tubulações de água quente, caldeiras e aquecedores, devido a maior
precipitação em temperaturas elevadas (VON SPERLING, 2005).
As principais fontes de óleo e graxas na água cinza são os óleos e gorduras utilizados
no preparo de alimento, resíduos presentes no corpo e nas roupas, oriundos da
transpiração humana. Dessa forma, as amostras cozinha apresentam maior
concentração desses compostos, seguido pelas amostras de tanque e chuveiro.
Considerando a presença de águas servidas de cozinha na água cinza, observa-se
concentrações de óleos e gorduras similares a de esgoto sanitário médio. Caso não
haja a remoção prévia destes, sua presença em quantidade pode diminuir a eficiência
de tratamentos biológicos subsequentes (PROSAB, 2006).
3.5 Características Microbiológicas da Água Cinza.
Apesar da água cinza não possuir contribuição do vaso sanitário, que é fonte de
organismos patogênicos, atividades como lavagem de roupas, limpeza de mãos após o
uso do toalete e o banho podem contaminá-la com tais organismos.
39
Segundo Simone May, as maiores concentrações de poluentes são encontradas nas
águas provindas do chuveiro, do lavatório e do primeiro ciclo da máquina de lavar
roupas, as quais apresentam quantidades elevadas de matéria orgânica, coliformes
totais e coliformes termotolerantes. Com a mistura dessas águas com as águas do 2° e
do 3° ciclo da máquina de lavar roupas ocorre uma diluição, porém, os resultados da
caracterização mostram a necessidade de tratamento adequado antes do seu uso final
(MAY, 2009).
O risco à saúde humana depende do tipo de patógeno, do tratamento utilizado e da
rota de exposição. A presença de Escherichia Coli ou outros organismos entéricosna
água cinza indica contaminação fecal e possível existência de patógenos intestinais,
como Salmonella ou vírus entéricos (OTTOSON e STENSTRÖM, 2003).
Maiores quantidades de coliformes fecais implicam em maior probabilidade de
contágio pelo ser humano no reuso da água cinza. A quantidade de bactérias aeróbias,
como, por exemplo, os coliformes termotolerantes, aumenta durante as primeiras 48
horas de armazenamento e estabiliza-se nos próximos 12 dias (ROSE, 1991).
Apesar da contaminação fecal na água cinza ser menor do que a encontrada no
esgoto, ela não é desprezível e evidencia a necessidade de uma desinfecção prévia no
caso de reusos mais restritivos (PROSAB, 2006).
3.6 Reuso da Água Cinza.
Como já foi dito anteriormente, o reuso de água é considerado uma opção
importante no mercado mundial, e sua necessidade de aplicação baseia-se no conceito
de sustentabilidade e preservação dos recursos naturais, pois para atender a demanda
de água, já no futuro próximo, busca-se novas fontes e novas tecnologias para
disponibilizar a água de modo a propiciar um desenvolvimento sustentável.
Os critérios de qualidade da água estão ligados diretamente à sua finalidade, e o
mesmo princípio ocorre com a água de reuso: a água de melhor qualidade deve ser
reservada para fins mais nobres, e a de qualidade inferior para aplicações menos
restritivas. Em 1985, o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas criou uma
política de gestão de recursos hídricos em áreas carentes de água, com base no
conceito de “substituição das fontes”: “A não ser que exista grande disponibilidade,
nenhuma água de boa qualidade deve ser utilizada para usos que toleram águas de
qualidade inferior” (UNIÁGUA, 2001).
Aqui no Brasil, a água potável é utilizada em todas as atividades em uma residência,
desde a preparação de alimentos até a descarga em vasos sanitários. Com a técnica do
reuso de águas servidas (neste caso as águas cinzas), estas são reaproveitadas, desde a
simples recirculação de água proveniente de enxágue de máquina de lavar roupas e do
chuveiro, passando por um simples tratamento, para os vasos sanitários, até uma
remoção de poluentes em maior nível, para lavagens de automóveis, regas de jardins,
lavagem de pisos e calçadas ou outras aplicações. Devemos lembrar que o tratamento
40
da água servida deverá atender à legislação (especialmente à Resolução Conama nº
357/2005) que define a qualidade da água em função do uso a que está sujeita.
Ao se aplicar o sistema de reuso de água cinza em residências, este deve ser
planejado de forma segura e funcional, procurando minimizar o custo de implantação
e de operação, para que seja tenha ampla aceitação pela população em geral e cause
um impacto positivo na preservação dos mananciais que abastecem as cidades.
3.7 Tratamento da Água Cinza.
Procura-se no tratamento da água cinza a remoção dos poluentes nela contidos.
Baseia-se em parâmetros normatizados e varia de acordo com o volume a ser tratado,
finalidade, nível de processamento, qualidades originais e pretendidas e local de
reaproveitamento (TELLES e COSTA, 2010).
O tipo de tratamento a ser adotado para as águas cinzas é determinado pela análise
das suas características, juntamente com os requisitos de qualidade requeridos para a
aplicação pretendida. A par disso, devido à grande variabilidade tanto da fonte como
da finalidade a que o reuso se destina, uma gama de sistemas ou sequências de
processos são possíveis de serem concebidos (MANCUSO et al., 2003).
A respeito disto, a ABNT NBR 13.969/1997 (Tanques sépticos, projeto, construção e
operação) em seu item 5.6.4, diz: “O grau de tratamento para uso múltiplo de esgoto
tratado é definido, regra geral, pelo uso mais restringente quanto à qualidade de
esgoto tratado. No entanto, conforme o volume estimado para cada um dos usos,
pode-se prever graus progressivos de tratamento.”
Sabe-se que as águas residuárias são compostas de uma elevada parcela de água
(99,9%) e uma parcela mínima de impurezas (0,1%). Quando se faz o seu tratamento,
procura-se retirar tais impurezas. Resulta assim do tratamento um concentrado de
poluentes com água, denominado “lodo” e no seu acondicionamento, é necessário
outro procedimento chamado de tratamento de sólidos ou da fase sólida, com o
objetivo de reduzir o volume e neutralizar seus efeitos nocivos, de forma a melhor
destinar seu descarte e/ou aproveitamento (TELLES e COSTA, 2010).
Os sistemas variam desde simples, comum em residências, como, por exemplo, o
tratamento simplificado de dois estágios (filtração e desinfecção), até sistemas
avançados, como ocorre em estações de tratamento de esgoto, destinados a reuso em
larga escala (JEFFERSON, 1999).
Geralmente, em uma estação de tratamento de esgoto (ETE), o tratamento de água
residuária inclui um tratamento prévio ou preliminar, no qual são removidos os sólidos
grosseiros. A seguir, esta passa por um tratamento primário, que elimina alguns
sólidos através do processo de sedimentação. Finalmente, no tratamento secundário,
também chamado tratamento biológico, ocorre a remoção dos sólidos finamente
particulados e dissolvidos. Em alguns casos, onde o uso da água é mais exigente, pode
haver o tratamento terciário, ou tratamento avançado, com maior custo.
41
A tabela a seguir mostra uma estimativa de eficiência dos níveis de tratamento em
uma ETE.
Tabela 3.3 – Estimativa de eficiência nos diversos níveis de tratamento em uma ETE.
Assim, a escolha do tratamento a ser utilizado no sistema de reuso deve levar em
consideração os recursos financeiros disponíveis, o volume de água a ser tratada e a
eficiência pretendida no projeto. Para o nosso trabalho interessa principalmente os
sistemas simplificados físico-químicos, mais adequados às residências devido ao menor
custo de implantação e limitações de espaço. Porém falaremos neste capítulo também
sobre sistemas mais avançados de tratamento de águas residuárias.
3.7.1 Tratamento Preliminar.
A natureza decompõe a matéria orgânica presente nos rios, lagos e no mar. No
entanto, no caso dos efluentes, essa matéria está presente em grande quantidade
exigindo um tratamento mais eficaz, feito em uma Estação de Tratamento de Esgoto
(ETE) que, basicamente, reproduz a ação da natureza de maneira mais rápida e
controlada.
Segundo Telles, em uma ETE, o tratamento preliminar, também chamado de
tratamento prévio, é o primeiro processo de separação de sólidos. Este processo
remove detritos minerais, sólidos grosseiros, materiais flutuantes, e, dependendo do
equipamento utilizado, óleos e graxas. Consiste na passagem da água a ser tratada por
grades, caixas de areia e tanques de remoção de óleos e graxas.
- Gradeamento: são grades metálicas, com barras paralelas e igualmente espaçadas
usadas para reter os sólidos grosseiros e corpos flutuantes (figura 3.2). Deste modo
evita o entupimento de tubulações, válvula, registros, bombas e equipamento de
tratamento. É a primeira unidade de um sistema de tratamento.
Fig. 3.2 – Gradeamento para remoção de sólidos grosseiros.
42
- Caixa de areia: consiste em um canal com velocidade de escoamento controlada, ou
tanque com área adequada à sedimentação de partículas, podendo ser ou não
mecanizado. Retém areia e detritos inertes e pesados, protegendo as bombas contra
abrasão. Evita também entupimentos, depósitos de materiais em decantadores e
digestores. Estas partículas, devido às suas maiores dimensões e densidade, vão para o
fundo do tanque, enquanto que os sólidos orgânicos, cuja velocidade de sedimentação
é mais lenta, permanecem em suspensão até serem removidos nas unidades
seguintes.
- Tanque para remoção de óleos e graxas: são os tanque de equalização de vazões.
Pode remover óleos e graxas, porém é comum que esta remoção ocorra no
tratamento primário (TELLES e COSTA, 2010).
3.7.2 Tratamento Primário.
O tratamento primário consiste na passagem do esgoto por uma unidade de
sedimentação, que remove os sólidos sedimentáveis. O tratamento preliminar somado
ao tratamento primário remove cerca de 60 a 70% dos sólidos em suspensão, cerca de
20 a 45% da DBO e de 30 a 40% de coliformes.
O equipamento usado é o tanque de sedimentação primária, ou clarificadores.
Nestes tanques, o efluente escoa lentamente e os sólidos em suspensão vão ao fundo
por ação da gravidade, ou por precipitação química, em que há adição de produtos
químicos coagulantes e de floculação. A massa de sólidos, que posteriormente é
removida, denomina-se “lodo primário bruto”, que pode ser enviada diretamente para
o tratamento da fase sólida (digestão de lodos) ou seguir para os espessadores de
lodo, para diminuir a quantidade de água presente.
Parte significativa dos sólidos em suspensão é composta de matéria orgânica, e sua
remoção evita a formação de depósitos de lodo nos corpos receptores. Neste
equipamento há também a remoção de óleos e graxas (TELLES e COSTA, 2010).
O lodo primário bruto pode ser classificado em:
- lodo fresco: retirado logo após a sedimentação;
- lodo séptico: que está em início de putrefação anaeróbia;
- lodo digerido: lodo que passou por digestores anaeróbios.
Fig. 3.3 – Tratamento primário.
43
3.7.3 Tratamento Secundário.
Também chamado de “tratamento biológico”, refere-se à remoção de matéria
orgânica biodegradável dissolvida e de nutrientes, como nitrogênio e fósforo, através
de processos biológicos aeróbios (oxidação) ou anaeróbios, seguidos de sedimentação
final (secundária). Remove cerca de 60 a 99% da DBO, de 60 a 99% de coliformes e de
10 a 50% de nutrientes.
Esta remoção é feita por reações bioquímicas realizadas por microrganismos
aeróbios (bactérias, protozoários, fungos, etc.) nos tanques de aeração. A matéria
orgânica é utilizada como alimento pelos microrganismos, que a converte em gás
carbônico, água e material celular (chamado lodo secundário).
O decantador secundário retém por sedimentação os sólidos em suspensão
presentes no tanque de aeração, permitindo a saída de um efluente clarificado. O
material retido dá origem ao “lodo ativado”. Parte desse lodo é redirecionada para o
tanque de aeração e outra parte é descartada.
O retorno do lodo ativado é necessário para suprir o tanque de aeração com uma
quantidade suficiente de microrganismos capaz de decompor com maior eficiência o
material orgânico.
O lodo descartado é encaminhado para o tratamento da fase sólida, que consiste
em um adensamento, que aumenta o teor de sólidos do lodo através da eliminação de
água. Em seguida este lodo é juntado ao lodo primário e seguem para o digestor.
Quando o tratamento do efluente é feito por sistema anaeróbio normalmente não
existe sedimentação primária e secundária.
Para complementar o tratamento secundário, pode-se fazer a desinfecção do
efluente final com cloro, ozônio, UV, ácido peracético, água oxigenada, compostos de
bromo ou outras substâncias que reduzam o número de organismos patogênicos
presentes no efluente antes do reuso ou lançamento no corpo receptor (TELLES e
COSTA, 2010).
Fig. 3.4 –Esquema de um tratamento secundário.
44
3.7.4. Tratamento Terciário.
O tratamento terciário é utilizado quando é necessário alcançarmos um produto
final adequado a uma utilização mais nobre proposta em projeto.
Busca-se nesta fase a remoção de contaminantes que permaneceram no efluente
após passarem pelos tratamentos anteriores.
Esses contaminantes podem ser agrupados em quatro categorias:
- coloides inorgânicos e sólidos suspensos;
- constituintes orgânicos dissolvidos;
- constituintes inorgânicos dissolvidos e
- constituintes biológicos (TELLES e COSTA, 2010).
Na tabela 3.4 a seguir são listados alguns desses contaminantes e seus efeitos na
saúde humana, químicos e físicos.
Tabela 3.4 – Constituintes encontrados em efluentes de ETE e seus efeitos na qualidade do efluente.
45
A remoção desses contaminantes é feita por processos físico-químicos, que serão
descritos no próximo item.
3.7.5. Tratamento Físico- Químicos.
A qualidade desejada da água, o nível de contaminação do efluente, a eficiência
necessária e o tipo de substância a ser removida determinam qual tratamento será
aplicado à água servida.
A análise dos parâmetros físicos, químicos e biológicos caracteriza as substâncias
presentes na água, fornecendo dados para o projeto do tratamento a ser instalado.
Assim, para obtermos a melhor proposta de tratamento, devemos considerar o
tamanho das partículas a serem removidas, a densidade do meio líquido, a
temperatura, o pH, reações químicas e biológicas, entre outros parâmetros.
O tratamento físico-químico geralmente é constituído por unidades de tratamento
que têm como função a remoção de matéria orgânica e de compostos não
biodegradáveis, de nutrientes, de metais pesados, de sólidos inorgânicos dissolvidos,
de sólidos em suspensão e de patógenos (TELLES e COSTA, 2010).
Segundo Telles, os principais processos de tratamento físico-químicos de água são:
Para remoção de sólidos dissolvidos:
- osmose reversa;
- eletrodiálise;
- evaporação.
Para remoção de sólidos suspensos:
- macrofiltração;
- microfiltração;
- ultrafiltração;
- nanofiltração;
- clarificação.
Para remoção de compostos orgânicos:
- ozonização;
- carvão ativado.
Desinfecção:
- cloração;
- ozonização;
- radiação ultravioleta (TELLES e COSTA, 2010).
46
3.7.5.1. Processos para remoção de Sólidos Dissolvidos.
Segundo Telles, os sólidos dissolvidos na água são classificados em:
- Sólidos totais (ST): resíduo que resta após evaporação em banho-maria e posterior
secagem em estufa a 103-105 °C até peso constante. Também denominado resíduo
total.
- Sólidos em suspensão (SS): são os sólidos totais, com diâmetro maior ou igual a 1,2
µm.
- Sólidos voláteis (SV): é a porção dos sólidos que se perde após a calcinação da
amostra a 550-600 °C, durante uma hora para sólidos totais, ou 15 minutos para
sólidos em suspensão voláteis, em forno mufla. Também denominado resíduo volátil.
- Sólidos fixos (SF): é a porção que resta após a calcinação da amostra a 550-600 °C,
durante uma hora para sólidos totais, ou 15 minutos para sólidos em suspensão
voláteis, em forno mufla. Também denominado resíduo fixo.
- Sólidos sedimentáveis (SSed): é a porção dos sólidos em suspensão que se sedimenta
durante o período de uma hora, em uma amostra de um litro mantida em repouso em
um cone Imhoff.
Resumindo: SV = ST – SF (TELLES e COSTA, 2010).
As principais tecnologias para remoção de sólidos dissolvidos são mostradas nos
itens seguintes.
3.7.5.1.1. Osmose Reversa.
Em uma solução salina separada de água “pura” por uma membrana
semipermeável não porosa, a diferença de potencial químico promove a difusão da
água pura para a solução salina, de modo a igualar as concentrações.
Quando ocorre o equilíbrio, a diferença de nível entre os líquidos nos dois
compartimentos corresponde à pressão osmótica da solução salina.
Inversamente, para produzir água pura a partir da solução salina, é necessário
superar essa pressão osmótica
Para que isso ocorra, na prática são utilizadas pressões de pelo menos duas vezes
essa pressão osmótica (MANCUSO et al., 2003).
Atualmente existem três tipos de membranas: acetato de celulose, aramida e
película composta (a mais utilizada).
Estes materiais são muito sensíveis a certas impurezas. A água bruta a ser tratada
deve estar livre de cloro, coloides, colorações, matérias orgânicas, ferro, nitrogênio,
dureza elevada e bactérias, visando preservar a vida útil e eficiência do sistema.
Para isso é importante o uso de pré-filtros e filtros eficazes para eliminar estes
elementos da água de entrada do sistema (TELLES e COSTA, 2010).
47
Fig. 3.5 – Processo de tratamento por osmose reversa.
3.7.5.1.2. Eletrodiálise.
A eletrodiálise ocorre quando uma corrente elétrica contínua passa por uma
solução salina e em uma sucessão de membranas trocadora de cátions e ânions,
colocadas alternadamente (figura 3.6). Assim, os cátions passam pelas membranas
trocadoras de cátions e os ânions pelas membranas trocadoras de ânions, produzindo
diminuição de salinidade em um compartimento e aumento em outro. A água com
maior salinidade é rejeitada e a com menor salinidade passa por outra unidade. Em
outras palavras, os ânions não atravessam as membranas negativas e os cátions não
atravessam as membranas positivas (MACEDO, 2001).
Fig. 3.6 – Eletrodiálise.
48
Os sistemas de eletrodiálise operam com pressões entre 2,8 e 4,2 Kg/cm² e 90% da
água afluente é aproveitada, enquanto 10% ficam incorporadas no concentrado (LA
GRECA et al, 1994).
3.7.5.1.4. Evaporação.
Consiste na separação de sólidos dissolvidos de uma corrente líquida através da
evaporação do solvente, separando-o dos sólidos na fase líquida.
A evaporação é obtida através da transferência de calor de um meio aquecido,
normalmente vapor d’água, para a corrente de alimentação do evaporador.
Dependendo do efluente a ser tratado, o evaporador recupera de 95 a 99% da água,
com uma pureza superior a 10 ppm de sólidos totais dissolvidos.
A DBO normalmente fica abaixo dos limites de detecção dos métodos analíticos, e a
DQO abaixo de 30 ppm (MUSTAFÁ, 1998 apud TELLES e COSTA, 2010).
Este sistema não requer pré-tratamento, mas possui como desvantagens o alto
investimento inicial e o alto consumo de energia (TELLES e COSTA, 2010).
3.7.5.1.5. Macrofiltração.
A macrofiltração ocorre com a passagem da água em um meio filtrante (areia,
carvão, antracito, etc.).
Pode ser feita através de um único meio filtrante ou de múltiplos meios filtrantes. O
último caso é o processo mais comumente utilizado.
O leito é formado por partículas maiores na camada superior, reduzindo
progressivamente o tamanho até atingir o mínimo na camada inferior.
Os filtros podem ser classificados como gravitacionais ou pressurizados. Estes
últimos geralmente metálicos.
Para sistemas com alto nível de incrustação, deve-se utilizar uma taxa de filtração
inferior a 10 m³/h.m² ou prever um segundo leito filtrante em série (SINGH, 1997).
A limpeza do filtro normalmente é feita com o processo de lavagem em
contracorrente, o que requer cuidados para evitar a perda de material do meio
filtrante, diminuindo a sua vida útil.
É importante salientar que se trata de um processo fundamental para a obtenção
de água de qualidade, antecedendo em muitos sistemas o processo de desinfecção
(MANCUSO et al., 2003).
49
Fig. 3.7 – Filtro lento de areia - Tratamento de esgoto e produção de água de reúso com o emprego de
filtros de areia.
3.7.5.1.6. Microfiltração.
Microfiltração é o processo de separação por membranas cross-flow, que podem ser
consideradas como filtros absolutos, com diâmetro dos poros variando de 0,1 a 0,3
mm. São fabricadas em polímero, metais ou cerâmica e filtra partículas coloidais e em
suspensão com diâmetros de 0,05 a 10 micra, utilizando diferencial de pressão para
promover a separação dos contaminantes entre 0,3 e 1,7 bar(TELLES e COSTA, 2010).
Sua principal aplicação é na remoção de material particulado, ou seja, na clarificação
(MANCUSO et al., 2003).
3.7.5.1.7. Ultrafiltração.
No processo de ultrafiltração, as membranas apresentam poro significativamente
menor que 0,1 mm, com pressão de operação necessária para que se obtenha um
fluxo aceitável entre 0,7 e 6,9 bar, mas normalmente encontram-se sistemas com
pressões acima de 10 bar (TELLES e COSTA, 2010).
A ultrafiltração permite a rejeição de solutos maiores, como macromoléculas, e de
vários tipos de microorganismos, como vírus e bactérias (MANCUSO et al., 2003).
3.7.5.1.8. Nanofiltração.
Também chamada de osmose reversa de baixa pressão, em termos de seletividade
situa-se entre a osmose reversa e a ultrafiltração. Remove íons multivalentes (cálcio e
magnésio) e controla substâncias orgânicas presentes na água (MANCUSO et al, 2003).
As membranas da nanofiltração possuem poros menores do que as da ultrafiltração,
normalmente em torno de 1nm, e opera com pressões maiores do que as utilizadas na
ultrafiltragem. Atua em aplicações como dessalinização, desmineralização e remoção
de cores (TELLES e COSTA, 2010).
50
3.7.5.1.9. Clarificação.
A clarificação é utilizada para remoção de partículas coloidais, responsáveis pela cor
e turbidez da água. Por meio da adição de produtos químicos que oxidam a matéria
orgânica, ocorre a desestabilização (coagulação) e o crescimento (floculação) das
partículas coloidais, facilitando sua separação em um tanque de sedimentação
(CETESB, 1978).
Os produtos químicos normalmente utilizados são sais de alumínio ou de ferro, em
tanques de mistura rápida, formando íons hidratados. Estes coágulos, formados por
íons complexos, são adsorvidos por partículas coloidais em suspensão formando
flocos. O tempo de permanência da água no tanque de sedimentação deve ser
suficiente para que as partículas floculadas se sedimentem e a água resultante atenda
os padrões específicos quanto à cor e turbidez. A eficiência mínima do processo de
clarificação para remoção da cor é de 90% e para a diminuição da turbidez é de 80%
(TELLES e COSTA, 2010).
3.7.5.1.10. Ozonização.
O ozônio é um alótropo triatômico do oxigênio (O3), com coloração variando do
incolor ao azul. É instável nas condições normais de pressão e temperatura. Seu poder
de oxidação é 52% superior ao do cloro, e só é excedido pelo flúor. Em solução aquosa
é relativamente instável, com tempo de vida médio de 165 minutos em água destilada
a 20 °C, com solubilidade treze vezes maior que a do oxigênio.
Existem vários métodos para a produção de ozônio, mas o mais viável é por
descargas elétricas em ar seco ou em oxigênio. Imediatamente após sua produção, é
emulsionado no efluente através de difusores porosos.
O ozônio é altamente eficiente a remoção de vários contaminantes, em razão do
sinergismo deste com o ultrassom e com a luz ultravioleta (MANCUSO et al., 2003).
Os seguintes mecanismos de reação entre o ozônio e os contaminantes podem
ocorrer:
- reação direta com compostos dissolvidos;
- decomposição em oxidantes altamente reativos;
- formação de oxidantes secundários através da reação do ozônio com outros solutos,
e subsequente reação destes oxidantes com contaminantes.
A reatividade do ozônio é bastante forte para degradar compostos orgânicos,
ajudando no processo de purificação da água (TELLES e COSTA, 2010).
3.7.5.1.11. Carvão Ativado.
O carvão ativado é um material poroso que possui grande área superficial (de 500 a
1.500 m²/g). Esta área superficial é produzida durante a ativação, que é um processo
em que a matéria prima é submetida a carbonização conduzida em fornos especiais,
de modo que a em que a umidade e materiais voláteis são removidos. Em seguida
ocorre a ativação, por meio de processos físicos, químicos ou uma combinação de
51
ambos. A ativação consiste na oxidação do carvão, que desenvolve a estrutura de
poros. Esta estrutura altamente porosa tem grande poder de adsorção, cuja eficiência
é função da compatibilidade do tamanho das moléculas a serem adsorvidas e o
tamanho dos poros, daí a importância da seleção do carvão apropriado.
O carvão ativado é empregado para eliminação da cor, turbidez, odor, sabor,
pesticidas e outros poluentes. São utilizados também para decloração da água.
A tabela 3.5 apresenta as eficiências na remoção de alguns compostos orgânicos,
organoclorados e cloro pelo processo de adsorção com carvão ativado:
Tabela 3.5 – Eficiência da adsorção do carvão ativado.
A adsorção com carvão ativado é usada principalmente para a remoção de
compostos orgânicos de difícil tratamento, bem como compostos inorgânicos como
nitrogênio, sulfetos e metais pesados (TELLES e COSTA, 2010).
Pode ser usado em sistemas de tratamento de qualquer porte e em diversas fases
de tratamento, como, por exemplo, após o tratamento biológico, para remoção da
matéria orgânica, ou após a coagulação, floculação, sedimentação e filtração, os quais
removem materiais que poderiam obstruir seus poros. Em contrapartida, seu alto
custo operacional torna-o não competitivo com sistemas de tratamento avançados,
visto a sua necessidade de regeneração (MANCUSO et al., 2003).
3.7.5.1.12. Desinfecção.
A desinfecção é um processo que procura eliminar, através de agentes químicos ou
físicos, microrganismos patogênicos presentes na água, como bactérias, protozoários,
vírus e algas. Estes agentes provocam a destruição da estrutura celular, interferem no
metabolismo, inativam enzimas, bloqueiam a síntese de proteínas, ácidos nucleicos e
coenzimas.
52
A tabela 3.6 contém exemplos de doenças transmitidas pela água.
Tabela 3.6 – Doenças transmitidas pela água.
Existem vários processos de desinfecção de águas cinzas. Estes processos estão
separados de acordo com o método no quadro a seguir (GONÇALVES, 2003):
Fig. 3.8 – Processos de desinfecção de esgotos sanitários.
O primeiro método a ser apresentado é a cloração, que utiliza o cloro na forma de
gás de hipoclorito de sódio ou hipoclorito de cálcio. É o desinfetante mais utilizado no
Brasil para o tratamento de águas residuárias devido ao seu baixo custo facilidade de
aplicação, controle e disponibilidade (DANIEL, 2001).
O cloro e seus derivados apresentam alto poder oxidante e reagem com vários
compostos presentes nas águas cinzas. A quantidade necessária de cloro é calculada
pela diferença entre a dose inicial e o residual de cloro, e é resultado da variedade de
reações nas quais o cloro é consumido pelos vários constituintes da água residuária.
53
De modo simplificado, o cloro reage com a amônia para produzir uma série de
compostos chamados cloraminas e, eventualmente, oxida a amônia em gás nitrogênio
(N2). A monocloramina (NH2Cl) e a dicloramina (NHCl2) têm poder desinfetante,
apesar deste ser inferior ao dos produtos resultantes da dissociação de qualquer forma
de cloro na água, conhecidos como cloro livre (HOCl e OCl–). As reações com outros
compostos inorgânicos como o sulfeto de hidrogênio (H2S) ocorrem imediatamente
após a aplicação do cloro (GONÇALVES, 2003).
Dependendo dos compostos presentes na água cinza, o uso de cloro pode levar à
formação de subprodutos danosos ao ser humano e ao meio ambiente. Se houver, por
exemplo, compostos orgânicos halogenados presentes na água, haverá a formação de
Trihalometanos, ácidos haloacéticos e halocetonas. No caso da água apresentar
compostos orgânicos, os subprodutos serão aldeídos, cetonas, carbono orgânico
assimilável e carbono orgânico biodegradável, associados ao ozônio e ao cloro. Caso
estejam presentes compostos inorgânicos, surgirão cloritos e cloratos, associados ao
dióxido de cloro (DANIEL, 2001).
As vantagens e desvantagens do uso do cloro na desinfecção são vistas na tab. 3.7:
Tabela 3.7 – Vantagens e desvantagens da desinfecção com cloro.
Para desinfecção de águas residuárias, o cloro pode ser encontrado nas formas
gasosa (Cl2), líquida (hipoclorito de sódio) e sólida (hipoclorito de cálcio) (GONÇALVES,
2003).
Cloração através de pastilhas de hipoclorito de cálcio, com 60% de cloro ativo, têm
sido testados, apresentando grande eficiência na desinfecção (DANIEL, 2001).
Outros métodos de desinfecção, como a ozonização, a radiação ultravioleta, o uso
de água oxigenada, ácido paracético ou compostos de bromo podem ser usados no
54
tratamento da água cinza. Na tabela 3.8 são apresentadas as aplicações e
características de cada método:
Tabela 3.8 – Agentes desinfectante com suas aplicações e características.
O ozônio, por seu alto poder oxidante, também é usado na desinfecção, com ação
não seletiva. Porém, é bastante instável, decompondo-se rapidamente pela ação do
calor em razão da fraca ligação entre os átomos de oxigênio em sua molécula. É
bastante efetivo como germicida, destruindo virtualmente 100% dos vírus, bactérias e
outros patógenos presentes na água, dependendo do grau de pré-tratamento, dose e
tempo de contato (MANCUSO et al., 2003).
55
Fig. 3.9 – Gerador de ozônio.
Recentemente passou-se a empregar a radiação ultravioleta nos processos de
desinfecção de águas residuárias, devido à sua ação germicida, e por ser altamente
competitiva com o método da cloração, nos casos que se exige uma etapa adicional de
descloração (GONÇALVES, 2003).
A radiação ultravioleta é um componente invisível da luz solar, situando-se no
espectro eletromagnético entre a luz visível e os raios X, com comprimento de onda
variando de 200 a 280 nm para UV-C, que é a radiação ultravioleta mais nociva aos
seres vivos por causar danos à estrutura do DNA.
A desinfecção é conseguida pela exposição dos microrganismos presentes nos
efluentes à radiação ultravioleta emitida por lâmpadas de vapor de mercúrio de baixa
ou média pressão. Essa exposição à radiação UV é feita em canais ou em dutos,
denominados reatores fotoquímicos, fotorreatores ou simplesmente reatores UV,
através dos quais a água a ser tratada passa sob pressão (GONÇALVES, 2003).
Os reatores podem fundamentar-se em três concepções construtivas: lâmpadas
imersas no líquido, lâmpadas instaladas externamente a tubos transparentes à
radiação ultravioleta e lâmpadas instaladas sobre o efluente (DANIEL e CAMPOS,
1993).
A eficiência da desinfecção por irradiação ultravioleta pode ser afetada por vários
fatores, como a concentração de microrganismos e sólidos suspensos, o
envelhecimento e o revestimento da lâmpada e a turbidez da água.
A turbidez é causada por material suspenso, como pequenas partículas de matéria
orgânica, matéria fecal ou coloides. Essas partículas podem refletir ou absorver
radiação UV, prejudicando a eficiência da desinfecção. Essas partículas, principalmente
os coloides, ainda servem de abrigo para os microrganismos, protegendo-os da ação
da radiação ultravioleta (BURCH, 1998).
56
Fig. 3.10 - Reator ultravioleta.
Para a escolha do método de desinfecção mais eficiente, os fatores mais
importantes a serem considerados são: tempo de contato do agente desinfetante com
a água, tipo e concentração do agente desinfetante, natureza do agente desinfetante
(químico ou físico), temperatura, quantidade e tipo de microrganismos, e a natureza
do efluente (METCALF e EDDY, 2003).
Além desses fatores, é importante considerar as vantagens técnicas e econômicas
de cada processo. Na Tabela 3.9 são comparadas as características técnico-econômicas
dos métodos de desinfecção mais utilizados.
Tabela 3.9 – Características técnico-econômicas dos métodos de desinfecção.
3.8 Qualidade da Água Cinza após Tratamento.
Deve-se prever um tratamento adequado para o reuso de águas cinzas visando
atingir os padrões de qualidade compatíveis ao usos a que se destinam, de modo a ser
aceita pelo usuário e não oferecer risco à sua saúde.
Estes padrões para água de reuso estão contidos na ABNT NBR 13.969/1997, item
5.6.4. Assim, segundo esta norma, nos casos de reuso menos exigente (por exemplo,
descarga dos vasos sanitários, lavagem de pisos e calçadas, lavagem de carros e
irrigação de jardins) pode-se prever o uso da água de enxágüe das máquinas de lavar,
57
apenas desinfetando, reservando aquelas águas e recirculando ao vaso, em vez de
enviá-las para o sistema de esgoto para posterior tratamento. Em termos gerais,
podem ser definidas as seguintes classificações e respectivos valores de parâmetros
para esgotos, conforme o reuso: - classe 1: Lavagem de carros e outros usos que requerem o contato direto do
usuário com a água, com possível aspiração de aerossóis pelo operador,
incluindo chafarizes: turbidez inferior a cinco, coliforme fecal inferior a 200
NMP/100 mL; sólidos dissolvidos totais inferior a 200 mg/L; pH entre 6,0 e 8,0;
cloro residual entre 0,5 mg/L e 1,5 mg/L. Nesse nível, serão geralmente
necessários tratamento aeróbio (filtro aeróbio submerso ou LAB) seguido por
filtração convencional (areia e carvão ativado) e, finalmente, cloração. Pode-
se substituir a filtração convencional por membrana filtrante;
- classe 2: lavagens de pisos, calçadas e irrigação dos jardins, manutenção dos
lagos e canais para fins paisagísticos, exceto chafarizes: turbidez inferior a
cinco, coliforme fecal inferior a 500 NMP/100 mL, cloro residual superior a 0,5
mg/L. Nesse nível é satisfatório um tratamento biológico aeróbio (filtro
aeróbio submerso ou LAB) seguido de filtração de areia e desinfeção. Pode-se
também substituir a filtração por membranas filtrantes;
- classe 3: reuso nas descargas dos vasos sanitários: turbidez inferior a 10,
coliformes fecais inferiores a 500 NMP/100 mL. Normalmente, as águas de
enxágüe das máquinas de lavar roupas satisfazem a este padrão, sendo
necessário apenas uma cloração. Para casos gerais, um tratamento aeróbio
seguido de filtração e desinfeção satisfaz a este padrão.
Resumidamente:
Tabela 3.10 - Resumo dos usos e parâmetros para esgoto tratado, segundo a NBR 13.969/1997
Já segundo SINDUSCON, os parâmetros de controle de qualidade para o reuso das
águas cinzas são (SINDUSCON, 2005):
Tabela 3.11 - Parâmetros de controle de qualidade para o reuso das águas cinzas, segundo SindusCon.
58
3.9. Riscos Relacionados com a Utilização da Água Cinza.
A despeito de existirem processos de tratamento avançados de água cinza, os riscos
relacionados ao seu reuso, tanto ambientais como para consumo humano, ainda não
foram bem definidos. Como atualmente é possível produzir água de qualquer
qualidade, as questões mais importantes no planejamento de um sistema de reuso
são: Quais constituintes da água cinza devem ser removidos, e em que nível esta
remoção deve ser feita? Estas questões são de grande importância, visto que altos
níveis de tratamento em certos casos são economicamente inviáveis. Para lidar com
estas questões, todo sistema de reuso deve levar em conta um gerenciamento de
riscos, para que o usuário tenha acesso à água com um nível de segurança aceitável.
O gerenciamento de riscos relacionados ao reuso de água envolve o
desenvolvimento de padrões de qualidade e normas para o projeto do sistema, como
visto nos itens anteriores. Os padrões de qualidade levam em consideração os agentes
químicos tóxicos e os agentes infecciosos, presentes na água de reuso, e determinam
os níveis máximos seguros para consumo humano. O planejamento do sistema de
tratamento da água cinza envolve a avaliação das quantidades de constituintes tóxicos
presentes na água a ser tratada e determina qual tecnologia é necessária para reduzi-
las aos níveis considerados seguros pelas normas técnicas.
No caso de reuso de água cinza em residências, os riscos relacionados a agentes
químicos presentes na água de reuso, como os compostos orgânicos e metais pesados,
são baixos, devido ao tipo de atividade que deu origem a essa água. Por esse motivo é
que os contaminantes presentes na água de reuso que recebem maior atenção são os
vírus entéricos, devido à sua facilidade de infecção no ser humano, resistência,
dificuldade de monitoração e a baixa eficácia dos sistemas convencionais de
tratamento em removê-los (METCALF e EDDY, 2003).
Outros organismos patogênicos, como as bactérias, algas e protozoários são
facilmente removidos em estações de desinfecção de água cinza, porém os cistos de
protozoários são mais resistentes, mas por serem grandes e densos a sua remoção
pode ser feita por sedimentação e filtração (BASTOS e BEVILACQUA, 2005).
Quanto aos riscos ambientais relacionados ao reuso de água cinza, podemos citar a
contaminação do solo e da água subterrânea. A utilização das águas de reuso para
irrigação em longo prazo acumula substâncias tóxicas no solo e aumenta a sua
salinidade. Dependendo da profundidade do lençol freático, do tipo de solo e do
período em que é feita a irrigação, a contaminação chega a atingir as águas
subterrâneas, comprometendo a sua qualidade.
Também pode haver a redução da disponibilidade hídrica, pois a vazão de alguns
receptores depende do lançamento de efluentes. A prática do reuso faz com que estes
efluentes passem a abastecer outro usuário, podendo ainda ser lançados em outro
corpo receptor, fazendo com que alguns rios desapareçam.
59
Todos estes riscos podem ser minimizados se a água para reuso tiver um
tratamento adequado e não se misturar com a potável.
60
CAPÍTULO 4
4. Águas Pluviais.
O aproveitamento da água da chuva para reuso não potável (como lavagem de
pisos, lavagem de automóveis, irrigação, descargas em vasos sanitários, lavagem de
roupas e abastecimento de sistemas contra incêndio) destaca-se como uma
importante fonte alternativa deste recurso, tendo em vista o esgotamento dos
mananciais de água que abastecem as cidades. Trata-se de uma solução simples e de
baixo custo, tanto na implantação como de manutenção, trazendo ainda como
benefício adicional a redução do escoamento de água superficial, diminuindo os
problemas com enchentes. Neste capítulo falaremos sobre as águas pluviais, sua
oferta, seu tratamento e armazenamento para reuso, e os seus usos possíveis.
4.1. Captação das Águas Pluviais.
Ao se tratar da água pluvial como fonte alternativa, devemos levar em consideração
a sua oferta, a qual é função da precipitação média do local onde haverá o seu
aproveitamento e da área de captação. A precipitação média do local e a área de
captação são importantes para o dimensionamento do volume dos reservatórios e
para o cálculo da contribuição do sistema para o abastecimento de água.
4.1.1. Tipos de Precipitações Atmosféricas.
Chama-se precipitação atmosférica ao conjunto de águas originadas do vapor de
água presente na atmosfera que precipita sobre a superfície terrestre, em estado
líquido ou sólido. São a chuva, a neve, o nevoeiro, o granizo, a geada e o sereno.
Interessa a esse trabalho as precipitações atmosféricas sob a forma de chuva, a qual
será analisada a seguir.
A formação das chuvas ocorre quando o ar quente e úmido eleva-se por expansão
adiabática e se resfria até atingir o ponto de saturação. Parte desse vapor se condensa
formando gotículas de água, com tamanhos que variam de 0,01 a 0,03 mm de
diâmetro, que dão origem às nuvens, e são mantidas em suspensão pela turbulência
do ar. Essas gotículas, ao atingirem tamanho necessário para vencer a resistência do ar
(entre 0,5 a 2,0 mm de diâmetro), caem em direção ao solo, formando as precipitações
(VILLELA e MATTOS, 1975).
Podemos classificar as chuvas de acordo com as características do movimento das
massas de ar que lhes dão origem.
Dividem-se em orográficas, ciclônicas e convectivas:
- Orográficas: ventos que se deslocam do oceano para o continente ocasionalmente
encontram barreiras naturais, como as montanhas, se elevam e se resfriam, ocorrendo
assim a condensação dos vapores e a precipitação. São chuvas de pequena intensidade
e grande duração (UFRRJ, 2006).
61
Fig. 4.1 – Chuva orográfica.
- Ciclônicas: são causadas por movimento de massas de ar de regiões de alta pressão
para regiões de baixa pressão causadas por um aquecimento desigual da superfície
terrestre. São classificadas como frontais e não frontais. A precipitação ciclônica
frontal ocorre quando na zona de contato existem duas massa de características
diferentes, havendo sobreposição do ar quente sobre o ar frio. Já na precipitação
ciclônica não frontal, há convergência horizontal de massas de ar quentes e úmidas
para regiões com baixa pressão, ocorrendo então elevação, resfriamento e
consequentemente, a precipitação. São precipitações de longa duração e apresentam
intensidades de baixa a moderada, cobrindo grandes áreas (UFRRJ, 2006).
Fig. 4.2 – Frente ciclônica.
- Convectivas: típicas em regiões tropicais e equatoriais. O aquecimento diferenciado
da superfície terrestre provoca aquecimento desigual das camadas atmosféricas,
produzindo estratificação térmica. Qualquer perturbação romperá esse equilíbrio,
ocasionando ascensão brusca de ar quente, atingindo grandes altitudes.
Primeiramente ocorre a formação de nuvens Cumulus, e depois de nuvens Cumulus
Nimbus, que apresentam além das chuvas, descargas atmosféricas. São precipitações
de alta intensidade, curta duração e concentra-se em pequenas áreas (UFRRJ, 2006).
62
Fig. 4.3 – Chuva de convecção.
4.1.2. Dados Pluviométricos.
Para o dimensionamento de instalações prediais de águas pluviais, segundo os
critérios e exigências da ABNT NBR 10.844 de 1989, utiliza-se “fatores meteorológicos”
como intensidade pluviométrica, duração da precipitação e período de retorno. Em
relação à ABNT NBR 15.527 de 2007, que trata do aproveitamento de água de chuva
de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis, utiliza-se dados pluviométricos
como as precipitações médias ou séries históricas anual, mensal ou diária de água de
chuva para o cálculo do volume do reservatório de armazenamento. Todos estes dados
meteorológicos podem ser obtidos em institutos de previsão do tempo da região.
4.2. Qualidade das Águas Pluviais.
Segundo Annecchini, com o crescente interesse no reuso de águas pluviais,
aumenta a preocupação com sua qualidade, a qual é influenciada por vários fatores,
tais como a localização geográfica, a presença de vegetação, o regime de ventos, as
estações do ano, a poluição atmosférica do local, entre outros.
Atividades naturais como a decomposição biológica, as queimadas, o spray marinho
e a erosão eólica do solo e de superfícies rochosas podem gerar poluentes, como o
material particulado, óxidos de nitrogênio e enxofre, hidrocarbonetos e monóxido de
carbono.
Nas regiões próximas ao oceano, a água da chuva contém maior quantidade de
sódio, potássio, magnésio e cloro.
Em regiões com grandes áreas de terra não pavimentadas provavelmente estarão
presentes na água da chuva partículas de sílica, ferro ou alumínio (ANNECCHINI, 2005).
A chuva em regiões de intensa atividade agrícola podem carregar aerossóis de
agrotóxicos ou pesticidas lançados nas plantações (CUNLIFFE, 1998).
Regiões densamente urbanizadas e industrializadas apresentam em sua atmosfera
compostos como monóxido de carbono, hidrocarbonetos, material particulado, cátions
e ânions inorgânicos, entre outros, provenientes da indústria e de automóveis. Estão
63
presentes também NO e SO2, oriundos do processo de combustão, os quais
desempenham importante papel nos processos de acidificação da água da chuva.
Esta acidificação da água da chuva afeta suas características naturais, produzindo o
fenômeno da chuva ácida, causando efeitos indesejáveis, como danos aos rios e lagos,
danos às florestas e vegetações e danos a materiais e estruturas.
Considera-se 5,6 como o valor normal do pH da água de chuva, em função do
equilíbrio com a concentração de CO2 atmosférico.
A chuva ácida ocorre quando o seu pH for inferior a 5,0 (SEINFELD e PANDIS, 1998).
Porém, medições do pH da água da chuva em áreas remotas demonstraram que
nestes locais os valores do pH da água da chuva são extremamente ácidos. Assim,
afirma que pH menor que 5,6 é indicativo de atividade antropogênica pode levar a um
grande erro.
Em relação à dispersão dos poluentes, a chuva cumpre papel de destaque, visto que
ao lavar a atmosfera, sedimenta o material particulado, auxilia na dissolução dos gases
e funciona como agente agregador, capturando as partículas, que agem como núcleos
de condensação, formando as gotas de nuvens que, ao se colidirem, formam gotas
maiores, que precipitam em direção ao solo. Este é o processo de remoção dos
poluentes por carreamento, um eficiente agente de limpeza da atmosfera.
Além dos fatores acima relacionados, o tipo de superfície utilizada para a coleta da
água da chuva também influencia em suas características. Nos períodos de estiagem
ocorre a deposição dos compostos presentes na atmosfera nestas superfícies. Este
fenômeno consiste na sedimentação gravitacional, na interceptação do material
particulado e na absorção de gases por superfícies.
Assim, a qualidade da água da chuva, na maioria das vezes, piora ao passar pela
superfície de captação, a qual pode estar contaminada inclusive por fezes de pássaros
e de pequenos animais, ou por óleo combustível, no caso de superfícies de captação
no solo.
O tipo de material da superfície coletora também interfere na qualidade da água da
chuva. Este material não deve reter sujeira, não deve permitir a instalação de parasitas
e bactérias e não deve se decompor com a chuva.
Deve-se dar preferência aos telhados metálicos, seguidos pelos de plástico e por
último pelos cerâmicos, devido às suas características bacteriológicas (THOMAS et al.,
2001).
A água da chuva apresenta baixa dureza, o que faz com que formem pouca espuma,
fato que implica em maior consumo de sabão, o que pode provocar incrustações nas
tubulações do sistema de reuso.
Assim, as características observadas na água da chuva variam de acordo com a
região em que ocorre a captação, evidenciando a importância de direcionar o reuso da
água da chuva para usos não potáveis. Para que a água da chuva seja aproveitada para
usos potáveis, exige-se processos de desinfecção por cloro ou por radiação
ultravioleta, por exemplo (ANNECCHINI, 2005).
64
Na elaboração do projeto de aproveitamento de águas pluviais, porém, deve-se
atender aos padrões de qualidade para usos menos restritivos não potáveis, previstos
na ABNT NBR 15.527/2007, em seu item 4.5.1, tabela 1.
Outros dispositivos que contém padrões de qualidade para a água tratada destinada
ao consumo humano são: a Portaria nº 518/2004 do Ministério da Saúde, e a
Resolução Nº357/2005 do CONAMA, que estabelece os padrões de qualidade para
corpos d’água.
4.3. Captação das Águas Pluviais.
A água de chuva pode ser captada pela cobertura e/ou piso impermeabilizado da
edificação. Normalmente a água captada pelo telhado é mais pura do que a coletada
de pisos, principalmente se houver descarte da água inicial da chuva, que é usada para
limpeza do telhado. O sistema de coleta através dos pisos é utilizado em edificações
com grandes áreas de piso impermeabilizado.
4.4. Armazenamento das Águas Pluviais.
As águas pluviais captadas são direcionadas pelas calhas e condutores ao
reservatório de armazenamento (os reservatórios devem atender à ABNT NBR
12.217/1994), que geralmente está em nível inferior à área de captação, para serem
preenchidos por gravidade. O sucesso de um sistema de aproveitamento de água
pluvial depende da quantidade de água armazenada pelo sistema. Nem toda a água
captada precisa ser armazenada. A determinação do volume do reservatório deve
levar em conta também a demanda de água de reuso da edificação (NBR 12.217,
1994).
4.5. Filtração, Tratamento Químico e Rearmazenamento das Águas Pluviais.
As águas pluviais também necessitam de tratamento, pois apresentam poluentes
originados da atmosfera e das superfícies coletoras, como visto acima. Mas é a
contaminação por micro-organismos patógenos que apresenta maiores riscos à saúde
humana.
A presença de bactérias, metais pesados e produtos químicos nos telhados e calhas
podem conferir sabor e odor desagradáveis à água, fazendo com que esta água não
atinja os padrões de qualidade de água de chuva para usos não potáveis (NBR 15.527,
2007).
O calor seco existente nas coberturas pode eliminar os organismos patogênicos.
Dentre os tipos de materiais usados nas coberturas, os materiais metálicos geralmente
apresentam níveis microbiológicos mais baixos (YAZIZ, 1989).
Durante a coleta da água da chuva, deve-se evitar a entrada de folhas, gravetos ou
outros materiais grosseiros no interior do reservatório de armazenamento, pois estes
podem se decompor, diminuindo a qualidade da água armazenada.
65
Do reservatório de armazenamento a água é encaminhada para a filtração, que
remove as partículas suspensas, partículas coloidais e os microrganismos, através de
filtros com leito filtrante constituído por carvão ativado e uma ou mais camadas de
areia de diferentes granulometrias. Em geral, a filtração é a principal responsável pela
produção de água com qualidade condizente com os padrões de contidos nas normas
técnicas.
O carvão ativado é um leito filtrante muito utilizado. É um excelente adsorvente e
remove moléculas orgânicas pequenas que conferem à água sabor, odor e cor
desagradáveis ((DI BERNARDO, 2005).
Os filtros lentos são os que apresentam melhor desempenho na redução de
coliformes. Eles conseguem potabilizar águas cujos parâmetros de turbidez e cor sejam
menores que 50uT (Unidade Nefelométrica de Turbidez) (SPERLING, 2005).
A desinfecção pode ser feita, por exemplo, por cloração ou por radiação
ultravioleta.
O cloro é um dos gostos mais percebidos e associados ao tratamento da água. No
caso de suspeita de contaminação da água do reservatório, deve-se adicionar
hipoclorito de sódio a 10% ou água sanitária (TOMAZ, 2003).
O tratamento por radiação ultravioleta atua por meio de ondas UV que atingem
principalmente os ácidos nucleicos dos microrganismos promovendo reações
fotoquímicas que inativam os vírus e bactérias através de uma reação de oxidação.
Neste processo os valores de cor e turbidez interferem na eficácia do tratamento, pois
a penetração da luz é fator determinante para a eliminação dos patógenos (DANIEL,
1993).
De acordo com a NBR 15.527/2007, “Os padrões de qualidade devem ser definidos
pelo projetista de acordo com a utilização prevista. Para usos mais restritivos, deve ser
utilizada a tabela 4.1”.
Esta tabela é mostrada a seguir (NBR 15.527, 2007):
Tabela 4.1 – Padrões de qualidade de água de chuva para usos não potáveis – NBR 15.527/07.
66
4.6. Usos para as Águas Pluviais.
O tratamento utilizado para reuso residencial normalmente consiste em filtração e
desinfecção. A água obtida por esse método deve ser usada para fins não potáveis,
pois para obter-se água potável é necessário um tratamento mais avançado. Os usos
não potáveis que podem ser abastecidos por água pluvial tratada são: lavagem de
pisos e calçadas, lavagem de automóveis, irrigação de jardins, descarga em vasos
sanitários, abastecimento de sistema contra incêndio e lavagem de roupas, por
exemplo.
4.7. Reuso de Águas Pluviais e a Saúde Humana.
Apesar da eficácia dos sistemas de reuso de água, muitos autores consideram o
aproveitamento de água de chuva para fins potáveis como uma alternativa associada a
riscos elevados, pois as águas pluviais possuem concentrações de poluentes que
podem variar, conforme a localização geográfica, a intensidade, duração e tipo de
chuva, regime de ventos, estação do ano e com a quantidade de vegetação no local.
Em locais em que há queima de combustíveis fósseis, por exemplo, há emissão para
a atmosfera de enxofre e nitrogênio, onde são oxidados, transformando-se em ácido
sulfúrico e ácido nítrico, que mais tarde irão retornar ao solo como chuva ácida.
Alguns cuidados podem contribuir para evitar a contaminação da água e assim
minimizar os riscos à saúde humana, como a limpeza e desinfecção dos reservatórios
de coleta e armazenamento de água pelo menos uma vez por ano para remover o lodo
de fundo, prever uma pequena declividade no fundo do reservatório para facilitar a
descarga da lama, manter a tampa de inspeção sempre fechada, evitar a entrada de
luz solar nos reservatórios para impedir o crescimento de algas e instalar uma grade na
saída do extravasor de modo a evitar a entrada de pequenos animais (TOMAZ, 2003).
Mas apesar de todos esses cuidados, ainda há resistência no aproveitamento de
águas pluviais para o consumo direto, fazendo com que a água de chuva seja utilizada
somente para descargas sanitárias, irrigação de jardins e lavagem de pisos e calçadas.
67
CAPÍTULO 5
5. O Reuso de Águas Cinzas e Pluviais em Edifícios Residenciais.
O reuso de águas cinzas e águas pluviais é uma técnica importante, necessária e
ambientalmente correta, pois diminui o consumo de água potável, permite a
conservação dos recursos hídricos e ajuda na prevenção de enchentes, constituindo-se
em uma tendência nos projetos de novas edificações.
A experiência internacional tem mostrado que os sistemas de reuso de água são
viáveis tecnicamente, seguros e podem ser aplicados conforme a necessidade, o custo
e o objetivo a ser atingido. Já a eficiência do sistema está ligada às condições de sua
viabilidade técnica e econômica (TELLES e COSTA, 2010).
A quantidade de água destinada à agricultura no Brasil, em grandes números é de
70% do total consumido atualmente. Os 30% restantes destinam-se a usos domésticos
e industriais, em partes iguais (MANCUSO et al., 2003).
Com base nestes dados, vê-se a importância do reuso em residências, que é o tema
desta dissertação, ainda mais quando se observa que nas grandes cidades a maior
parte da água retirada dos mananciais é destinada ao abastecimento das moradias.
O fornecimento de águas pluviais para abastecimento depende de fatores
climáticos, o que leva a certa incerteza na sua disponibilidade. Já a quantidade de água
cinza ofertada é função da quantidade de água consumida no local, fato que torna a
sua oferta mais regular que a da água pluvial. Além disso, conforme podemos verificar
na figura 5.1, a quantidade de água cinza produzida em uma residência corresponde a
aproximadamente à demanda de água dos vasos sanitários, fazendo com que o
sistema de reuso tenha um certo equilíbrio entre oferta e demanda de água.
Fig. 5.1 – Distribuição do consumo de água em residências - DECA
O presente trabalho propõe o uso de duas fontes alternativas de água para
complementar o abastecimento de uma residência, que são as águas cinzas e as águas
pluviais. Portanto são possíveis quatro situações de projeto: reuso de somente águas
68
cinzas, reuso exclusivo de águas pluviais, sistema de reuso em que há mistura das
águas cinzas e águas pluviais, e sistema de reuso em que há separação entre as águas
cinzas e águas pluviais. Discorreremos neste capítulo sobre estes quatro sistemas de
reuso.
5.1. Sistema de Reuso de Águas Cinzas em Edifícios Residenciais.
Como visto acima, a produção de águas cinza depende do consumo de água nas
residências, ao contrário da água de chuva, cuja oferta depende de fatores
meteorológicos. Enquanto houver utilização das instalações sanitárias em uma
residência, haverá produção de águas cinzas. Por esse motivo, normalmente não há
risco de falta de água de reuso para atividades que utilizam água não potável nas
edificações.
Segundo o Sinduscon, ao se planejar um sistema de reuso de água cinza, devemos
observar alguns critérios, que são:
- preservação da saúde dos usuários;
- preservação do meio ambiente;
- atendimento às exigências relacionadas às atividades a que se destina;
- quantidade suficiente ao uso a que será submetida (SINDUSCON, 2005).
O sistema de reuso de água cinza para descarga em vasos sanitários deve ser
projetado prevendo instalações hidráulicas prediais independentes, um para água de
reuso e outro para água potável da concessionária. Também haverá diferenças nas
instalações de coleta de esgoto, de modo que as águas negras sejam direcionadas para
a rede pública de coleta de esgoto, e as águas cinzas para o sistema de reuso.
Para a elaboração de um projeto de sistema de reuso de águas cinzas deve-se
considerar os seguintes elementos:
- Determinação dos pontos de coleta de águas cinzas e dos pontos de reuso das águas
cinzas tratadas;
- Determinação das vazões disponíveis;
- Dimensionamento do sistema de coleta e transporte das águas cinza coletadas;
- Determinação do volume de água a ser armazenado;
- Escolha do sistema de tratamento da água cinza em função dos parâmetros de
qualidade requeridos para os usos estabelecidos;
- Dimensionamento do sistema de distribuição da água tratada aos pontos de consumo
(GONÇALVES et al, 2005).
Já nos termos da ABNT NBR 13.969/1997 (Tanques sépticos, projeto, construção e
operação), temos: O reuso local de esgoto deve ser planejado de modo a permitir seu uso seguro
e racional para minimizar o custo de implantação e de operação.
Para tanto, devem ser definidos:
a) os usos previstos para esgoto tratado;
b) volume de esgoto a ser reutilizado;
c) grau de tratamento necessário;
69
d) sistema de reservação e de distribuição;
e) manual de operação e treinamento dos responsáveis.
Trataremos nos itens seguintes desses elementos detalhadamente.
5.1.1. Pontos de Coleta e Pontos de Reuso de Águas Cinzas.
A água cinza é a água servida proveniente de lavatórios, chuveiros, pias de cozinha,
banheiras, máquinas de lavar roupas e tanques, sem a contribuição de efluentes de
vasos sanitários, pois estes contém matéria fecal em quantidade significativa, exigindo
sistemas de tratamento de alto custo, inviabilizando sua instalação em âmbito
residencial.
As águas cinzas podem ser subdivididas em águas cinzas claras e águas cinzas
escuras (HENZE e LEDIN, 2001).
As águas cinzas escuras são as águas servidas provenientes de pias de cozinha e
lava-louças. Não são consideradas adequadas para o reuso por alguns autores, como,
por exemplo, Nolde e Christova-Boal, por conterem vários compostos orgânicos
poluentes (CHRISTOVA-BOAL, 1996).
As águas cinzas claras são as águas oriundas do chuveiro, máquina de lavar roupas,
tanques e lavatórios. A utilização da água cinza clara produz água de reuso de melhor
qualidade com um sistema de tratamento mais simples.
Em relação aos possíveis reusos da água cinza em uma residência ou condomínio,
podemos citar a descarga em bacias sanitárias, lavagem de pisos e calçadas, lavagem
de automóveis, irrigação de jardins, e abastecimento de chafarizes e de sistemas
contra incêndio. O reuso potável não é permitido, pois a qualidade da água obtida com
o tratamento em âmbito doméstico não atinge os padrões de potabilidade das normas
brasileiras. Nos termos da ABNT NBR 13.969/1997 (Tanques sépticos, projeto,
construção e operação), item 5.6, temos: No caso do esgoto de origem essencialmente doméstica ou com
características similares, o esgoto tratado deve ser reutilizado para fins que
exigem qualidade de água não potável, mas sanitariamente segura, tais como
irrigação dos jardins, lavagem dos pisos e dos veículos automotivos, na
descarga dos vasos sanitários, na manutenção paisagística dos lagos e canais
com água, na irrigação dos campos agrícolas e pastagens etc (NBR 13.969,
1997).
As características mínimas que as águas de reuso devem apresentar são mostradas
a seguir, em função das atividades realizadas nas edificações.
Água para irrigação, rega de jardim, lavagem de pisos:
- não deve apresentar mal cheiro;
- não deve conter componentes que agridam as plantas ou que estimulem crescimento
de pragas;
- não deve ser abrasiva;
70
- não deve manchar superfícies;
- não deve propiciar infecções ou a contaminação por vírus ou bactérias prejudiciais à
saúde humana.
Água para descarga em bacias sanitárias:
- não deve apresentar mau-cheiro;
- não deve ser abrasiva;
- não deve manchar superfícies;
- não deve deteriorar os metais sanitários;
- não deve propiciar infecções ou a contaminação por vírus ou bactérias prejudiciais à
saúde humana.
Água para lavagem de veículos:
- não deve apresentar mau-cheiro;
- não deve ser abrasiva;
- não deve manchar superfícies;
- não deve conter sais ou substâncias remanescentes após secagem;
- não deve propiciar infecções ou a contaminação por vírus ou bactérias prejudiciais à
saúde humana.
Água para lavagem de roupa:
- deve ser incolor;
- não deve ser turva;
- não deve apresentar mal cheiro;
- deve ser livre de algas;
- deve ser livre de partículas sólidas;
- deve ser livre de metais;
- não deve deteriorar os metais sanitários e equipamentos;
- não deve propiciar infecções ou a contaminação por vírus ou bactérias prejudiciais à
saúde humana.
Água para uso ornamental:
- deve ser incolor;
- não deve ser turva;
- não deve apresentar mal cheiro;
- não deve deteriorar os metais sanitários e equipamentos;
- não deve propiciar infecções ou a contaminação por vírus ou bactérias prejudiciais à
saúde humana (SINDUSCON, 2005).
5.1.2. Instalações Hidráulicas para Reuso de Águas Cinzas.
71
As instalações de esgoto sanitário para que seja implantado o reuso de águas cinzas
deve ser projetada separando as águas cinzas das águas negras (que contém matéria
fecal), através de tubulações distintas, de modo que as águas negras sejam conduzidas
à rede pública coletora de esgotos e a água cinza ao sistema de reuso.
As instalações de abastecimento de água devem ser projetadas com rede dupla,
uma de água potável, atendendo pias, chuveiros, tanques, máquina de lavar roupas, e
outra de água de reuso, atendendo vasos sanitários, mictórios, torneiras para lavagem
de pisos e automóveis, chafarizes e abastecimento de sistema contra incêndio.
As instalações de coleta de água cinza devem atender às recomendações da ABNT
NBR 8.160/1999 (Sistema prediais de esgoto sanitário), que contém as normas para o
projeto de sistema de esgoto.
As instalações para distribuição da água cinza tratada devem ser dimensionadas nos
termos da ABNT NBR 5.626/1998 (Instalação predial de água fria), que estabelece as
diretrizes para execução e manutenção de instalações de água fria. O anexo A desta
norma traz o procedimento para o dimensionamento das tubulações hidráulicas de
água fria.
O sistema deve prever complementação da água de reuso com água potável
quando houver falta daquela. Não pode haver conexão cruzada entre as instalações.
As válvulas e os registros de cada rede devem possuir abertura e fechamento
diferenciados.
Todo o sistema de reservação e de distribuição da água de reuso deve ser
claramente identificado, através de placas de advertência nos locais estratégicos e nas
torneiras, além do emprego de cores nas tubulações e nos tanques de reservação
distintas das de água potável (NBR 13.969, 1997).
5.1.3. Quantificação das Vazões de Oferta e das Vazões de Demanda.
Em relação à produção e à demanda de água cinza, estes dependem do consumo de
água dentro das residências, que variam conforme a região, o clima e os costumes dos
usuários. Enquanto houver pessoas utilizando os aparelhos hidro sanitários em uma
residência, haverá produção de águas cinzas.
Para se estimar a produção diária de água cinza, consideramos variáveis como vazão
específica dos aparelhos sanitários, a frequência e duração do uso (SANTOS, 2002).
A ABNT NBR 13.969/1997, em seu item 5.6.3, diz: “Os usos definidos para todas as
áreas devem ser quantificados para obtenção do volume total final a ser reusado. Para
tanto, devem ser estimados os volumes para cada tipo de reuso, considerando as
condições locais (clima, freqüência de lavagem e de irrigação, volume de água para
descarga dos vasos sanitários, sazonalidade de reuso etc.)”.
Assim, apresentamos um roteiro de cálculo das vazões de oferta e de demanda das
águas cinzas (PROSAB, 2006):
O cálculo da oferta de água cinza pode ser obtido pela aplicação da seguinte
fórmula:
72
Q = N . q . t . f
Onde:
Q é a vazão ofertada pelo ponto de coleta considerado (lavatório, chuveiro, tanque,
máquina de lavar roupas, etc.) (L/dia);
N é o número total de pessoas que habitam a residência (hab);
q é a vazão específica do ponto de coleta (L/min) (Pode ser encontrada na tabela N);
t é o tempo que o ponto de coleta é utilizado (min); e
f é a frequência que o ponto de coleta é utilizado por dia (nº vezes/dia.hab).
Esta fórmula é aplicada em cada ponto de coleta, fornecendo a vazão parcial
relativa a esse ponto. A produção total de água cinza é a soma das vazões parciais de
todos os pontos de coleta.
O cálculo da demanda de água de reuso em uma residência pode ser obtido pelas
fórmulas:
Para o vaso sanitário: Q = 1,1 (N . q . f)
Onde:
Q é a vazão de demanda do vaso sanitário (L/dia);
1,1 representa o potencial de perda de água de 10% na utilização do vaso sanitário;
N é o número total de pessoas que habitam a residência (hab);
q é a quantidade de litros de água utilizada em cada descarga (L/descarga) (Pode ser
encontrada na tabela N); e
f é a frequência que o vaso sanitário é utilizado por dia por habitante (nº
descargas/dia.hab).
Para a lavagem de pisos: Q = (A . q . u)/30
Onde:
Q é a vazão de demanda da lavagem de pisos (L/dia);
A é a área de piso a ser lavada (m²);
q é a quantidade de água usada para lavar 1 m² de piso (L/m²); e
u é o número de lavagens de pisos por mês.
Calcula-se a vazão parcial em cada ponto de reuso da água cinza. A demanda total é
a soma de todas as demandas parciais.
Na tabela a seguir, temos o consumo de água em algumas atividades domésticas no
Brasil, segundo a Sabesp.
73
Tabela 5.1 – Consumo de água em algumas atividades – Sabesp 2006- apud Telles e Costa.
5.1.4. Determinação do Volume de Água Cinza a ser Armazenado.
Após as água cinzas passarem por um tratamento de desinfecção, é necessário que
haja um reservatório inferior e outro superior, para armazenamento e distribuição da
mesma aos pontos de reuso. Como alternativa, o sistema pode utilizar pressostatos,
que permitem o bombeamento direto por bombas centrífugas, com ou sem tanque
pulmão, pressurizando as tubulações de distribuição.
Como visto acima, o volume de reservatório de armazenamento deverá ser
calculado levando em consideração as características ocupacionais do edifício e as
vazões das peças hidro sanitárias fornecedoras de água cinza (vazão de águas cinzas), e
a demanda de água dos aparelhos que integrarão o sistema de reuso (vazão de reuso).
O cálculo do volume do reservatório é um dos aspectos determinantes do sucesso
de um sistema de reuso das águas cinzas em edificações residenciais.
A ABNT NBR 13.969/1997 no item 5.6.5, a, diz: “a) todo o sistema de reservação
deve ser dimensionado para atender pelo menos 2 h de uso de água no pico da
demanda diária, exceto para uso na irrigação da área agrícola ou pastoril;”, e em 5.6.5,
b, “d) no caso de reuso direto das águas da máquina de lavar para uso na descarga dos
vasos sanitários, deve-se prever a reservação do volume total da água de enxágue;”
(NBR 13.969, 1997).
Portanto é importante para o correto dimensionamento do reservatório levar em
consideração as variações de vazão na escala horária. Esse fato é de particular
importância no Brasil, visto que os hábitos da população do país no que se refere aos
banhos prolongados em horários de pico resultam em uma produção excessiva de
água cinza se o uso principal da água de reuso for as descargas em vasos sanitários.
74
Cerca de 80% de toda a produção de água cinza em uma edificação residencial são
produzidas nos horários de pico (entre 6:00h e 9:00h, 11:00h e 14:00h e 17:00h e
21:00h).
O volume de água cinza gerado e o volume demandado pelas descargas dos vasos
sanitários são bastante semelhantes. Mas este equilíbrio não é tão ideal. A água cinza
é produzida em um tempo ligeiramente deslocado em relação ao momento do
acionamento da descarga dos vasos sanitários e, além disso, ela é gerada em curtos
períodos de tempo, ao passo que a descarga dos vasos sanitários ocorre de maneira
mais distribuída ao longo do dia. Este fato faz com que haja um déficit de água durante
alguns períodos do dia. A utilização de reservatórios com volume que compense este
déficit pode corrigir esse problema, mas aumenta substancialmente o tamanho de
todo o sistema (BAZZARELA, 2005).
A ABNT NBR 13.969/1997 (Tanques sépticos, projeto, construção e operação) no
item 5.6.3, diz:
Os usos definidos para todas as áreas devem ser quantificados para obtenção
do volume total final a ser reusado. Para tanto, devem ser estimados os
volumes para cada tipo de reuso, considerando as condições locais (clima,
frequência de lavagem e de irrigação, volume de água para descarga dos
vasos sanitários, sazonalidade de reuso etc.).
Já no item 5.6.5, a, recomenda: “todo o sistema de reservação deve ser
dimensionado para atender pelo menos 2 h de uso de água no pico da demanda diária,
exceto para uso na irrigação da área agrícola ou pastoril;” (NBR 13.969, 1997).
Portanto, ao se dimensionar o volume de reservação, o projetista deve verificar a
oferta e a demanda de água cinza durante o dia, de hora em hora. A seguir deve
identificar os horários de pico de consumo e determinar o volume necessário para
atendê-lo durante 2 horas. A este volume, deve somar um volume suficiente para
atender o consumo subsequente até que o fornecimento de água cinza encha
novamente o reservatório. É aconselhável adicionar também um volume de segurança,
de modo a minimizar o uso de água potável para complementação. A sazonalidade
também deve ser considerada no dimensionamento do reservatório, pois há variações
na oferta e na demanda de água cinza no decorrer do ano.
5.1.5. Unidades de Tratamento de Água Cinza.
Como visto no Capítulo 3, o tratamento da água cinza pode ser realizado através de
vários métodos, os quais produzem água de reuso de diferentes qualidades. Aqui
analisaremos os métodos adequados ao reuso residencial para fins não potáveis, que
variam desde a simples recirculação de água de enxágue de máquina de lavagem, com
ou sem tratamento, ao vaso sanitário, purificação por membranas filtrantes, até o
tratamento que utiliza reatores aeróbios e anaeróbios, que permite remoção de alto
nível de poluentes.
75
A ABNT NBR 13.969/1997 em seu item 5.6.4 classifica as águas de reuso em 4
classes, indica os respectivos valores de parâmetros e os tratamentos adequados para
atingir esses parâmetros. Vejamos o resumo as seguir:
- classe 1: Lavagem de carros e outros usos que requerem o contato direto do usuário
com a água, com possível aspiração de aerossóis pelo operador, incluindo chafarizes.
É necessário tratamento aeróbio (filtro aeróbio submerso ou LAB) seguido por filtração
convencional (areia e carvão ativado) e, finalmente, cloração. Pode-se substituir a
filtração convencional por membrana filtrante;
- classe 2: lavagens de pisos, calçadas e irrigação dos jardins, manutenção dos lagos e
canais para fins paisagísticos, exceto chafarizes. É satisfatório um tratamento biológico
aeróbio (filtro aeróbio submerso ou LAB) seguido de filtração de areia e desinfeção.
Pode-se também substituir a filtração por membranas filtrantes;
- classe 3: reuso nas descargas dos vasos sanitários. Normalmente, as águas de
enxágue das máquinas de lavar roupas satisfazem a este padrão, sendo necessário
apenas uma cloração. Para casos gerais, um tratamento aeróbio, seguido de filtração e
desinfeção, satisfaz a este padrão;
- classe 4: reuso nos pomares, cereais, forragens, pastagens para gados e outros
cultivos através de escoamento superficial ou por sistema de irrigação pontual. As
aplicações devem ser interrompidas pelo menos 10 dias antes da colheita (NBR 13.969,
1997).
5.1.5.1. Filtração Simples e Cloração.
Este sistema de tratamento de água cinza é normalmente utilizado em residências e
consiste em uma filtração simples seguida de desinfecção. Devido ao fato da água
passar por um mínimo de tratamento, suas propriedades químicas ficam inalteradas.
A filtração consiste na passagem do efluente por um leito de material granular para
remoção de sólidos. O meio filtrante mais utilizado neste sistema é a areia, que pode
possuir várias granulações, separadas em camadas, geralmente as partículas maiores
ficam na camada superior, reduzindo progressivamente o tamanho até atingir o
mínimo na camada inferior. A água passa em uma direção perpendicular ao meio
filtrante, e todo o fluxo atravessa este meio filtrante, criando uma única corrente de
saída, havendo a retenção dos sólidos neste processo. A limpeza do filtro é feita por
lavagens periódicas com água em contracorrente para remoção do material retido
(retro lavagem) (TELLES e COSTA, 2010).
A desinfecção pode ser feita por bromo ou cloro, através de pastilhas que se
dissolvem lentamente na água, ou através de dosadores que os utilizam em forma
líquida (figura 5.2).
76
Figura 5.2 – Bomba dosadora de cloro.
Concentrações de matéria orgânica elevadas limitam a eficiência da desinfecção
química, pois dificultam a difusão do desinfetante, aumentando a sua demanda
(BAZZARELA, 2005). Porém, no caso de não se utilizar água originária da cozinha, este
fato não tem grande importância.
O sistema de filtração utilizado neste tipo de tratamento de águas cinzas não
apresenta grande eficiência, favorecendo o surgimento de alguns problemas, como o
entupimento da tubulação e falha na bomba. Além disso, a desinfecção das águas
cinzas neste caso é de extrema importância para a inativação de quaisquer patógenos
presentes e, principalmente, para a obtenção de cloro residual (MAY, 2004).
Encontra-se no mercado vários equipamentos específicos para o sistema de
tratamento de dois estágios.
Fig 5.3 – Diagrama do sistema de filtração simples e cloração.
5.1.5.2. Tratamentos Físicos.
Os tratamentos físicos normalmente utilizados para o tratamento de água cinza
para reuso em residências são a filtração em leitos de areia, carvão, antracito, etc., ou
processos utilizando membranas semipermeáveis.
77
Deve-se remover de sólidos suspensos na água cinza para que tenha qualidade
aceitável para o reuso. Esta remoção do material suspenso pode ser feita através de
um sistema de filtragem em três estágios: pré-filtração (remoção de sólidos
grosseiros), filtro de peneira (coleta principalmente de cabelo, partículas de sabões,
fibra de tecidos) e filtro fino (retenção dos precipitados e do material sedimentado).
Os resíduos podem ser descartados na rede de esgoto ou em latas de lixo (BAZZARELA,
2005).
Oliveira propõe um sistema simples que utiliza um filtro com leito constituído por
múltiplas camadas através do qual passa o efluente a ser tratado, conforme a Figura
5.4.
Este filtro retém os sólidos sedimentáveis e remove quase totalmente as
concentrações de nitrogênio amoniacal, nitrato, fosfato e coliformes fecais. É
recomendável a desinfecção do efluente após a filtração (OLIVEIRA et al, 2007).
Fig 5.4 - Filtros de múltiplas camadas utilizados para o tratamento de águas
cinza destinadas ao reuso.
Um sistema interessante, viável em locais com grandes áreas não pavimentadas,
são os “solos filtrantes”. Este sistema é formado por uma vala preenchida com
camadas de areia, pedras de diversas granulometrias e um preparo de solo altamente
alcalino. Uma malha de drenos é disposta no fundo da vala e outra na superfície. Neste
solo faz-se uma plantação.
Preliminarmente, efluente a ser tratado passa por uma fossa séptica e por um
decantador. Em seguida vai para a malha dispersora que o distribui sobre a vala
filtrante e por gravidade atravessa todas as camadas da vala até ser coletado pelo
dreno inferior.
A zona de raízes processa quase que completamente a carga poluidora
transformando-a em materiais inofensivos e até mesmo úteis para o desenvolvimento
das plantas. As figuras 5.5 e 5.6 mostram as etapas deste tratamento.
78
Este processo não consome energia elétrica, exceto as bombas de recalque. Tem
ainda como vantagem a absorção de água da chuva que se precipita sobre a vala
filtrante. O seu rendimento é bem elevado, o que possibilita a sua utilização para
sistemas de descarga de bacias sanitárias, irrigação de jardins e lavagem de pisos
(WILSON et al., 2010).
Fig. 5.5 -Pré-tratamento do esgoto no tanque séptico e no tanque de sedimentação.
Fig. 5.6 - Captação do efluente pelos drenos após o tratamento na “zona de raízes”.
O uso de membranas semipermeáveis para tratamento de água cinza é recente. Foi
inspirado na observação de raízes vegetais e de intestinos de animais, que transferem
nutrientes e removem material indesejado.
Uma membrana semipermeável em contato com solução em água deixa passar o
solvente através de seus poros com a aplicação de uma força motriz, separando as
impurezas na forma de um concentrado.
O tipo de membrana utilizada, o método de aplicação dessa força e as
características da água determinam a impureza a ser eliminada e a eficiência do
tratamento (MANCUSO et al., 2003).
As dimensões das partículas a serem eliminadas podem variar de 0,5μm, para
membranas de microfiltração (MF), até dimensões moleculares como ocorre na
osmose reversa. Os sistemas de tratamento por membranas geram efluentes com
baixa turbidez e densidade de coliformes abaixo do limite de detecção, mas
apresentam a desvantagem de consumirem muita energia (JEFFERSON et al., 1999).
Empresas especializadas em reuso de água fabricam estações compactas de
tratamento. São sistemas modulares de fácil instalação, destinados a residências uni
familiares ou a grandes conjuntos residenciais. Uma grande vantagem deste sistema é
a possibilidade de ficar totalmente sob a superfície do solo, desta maneira pode-se
utilizar a área para outros fins, como estacionamento.
79
5.1.5.3. Tratamentos Biológicos.
O tratamento biológico consiste na remoção de matéria orgânica por processos
biológicos aeróbios (oxidação) ou anaeróbios realizados por reações bioquímicas que
ocorrem no contato entre microrganismos (bactérias, protozoários, fungos, etc.) e o
material orgânico presente no efluente.
Por estes processos o material orgânico é convertido em gás carbônico, água e
material celular (lodo secundário).
Existem vários tipos de tratamentos biológicos aplicáveis aos efluentes de esgotos e
água cinza.
A escolha do tipo de tratamento mais adequado deve considerar a vazão necessária,
a carga orgânica do efluente a ser tratado, a qualidade da água desejada, a área
disponível para implantação dos equipamentos, a disponibilidade econômica, etc.
5.1.5.3.1. Biofiltros Aeróbios Submersos.
Um dos métodos de tratamento por processos biológicos consiste na utilização de
biofiltros aeróbios submersos (figura 5.7).
Neste método, a água cinza, após passar por grades, caixas de areia e decantadores
primários, é aplicada por um distribuidor na superfície do meio filtrante contido destro
de um tanque. Em seguida percola através deste meio filtrante e é coletada.
O meio filtrante é constituído de material granular ou estruturado, os quais servem
de suporte para os microrganismos, que formam uma película de biomassa aderida.
Como o meio filtrante fica submerso na água cinza, os microrganismos degradam os
compostos orgânicos solúveis presentes nesta.
Pode haver a injeção de oxigênio por meio de sopradores, com sentido de
escoamento sempre ascendente, passando pelo meio filtrante.
O meio suporte pode ser feito de britas, grãos de argila, carvão granular, pozolana
ou plásticos em geral e, além de fixar os microrganismos em sua superfície, retém
fisicamente os sólidos suspensos presentes na água cinza.
Estes filtros apresentam boa eficiência na remoção da DBO e reduzidas
possibilidades de maus odores. Porém possuem elevados custos de implantação,
relativa dependência da temperatura ambiente, elevada perda de carga e necessidade
de tratamento completo do lodo e da sua disposição final.
80
Fig. 5.7 - Biofiltro aeróbio submerso compartimentado.
5.1.5.3.2. Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente (UASB).
O tratamento anaeróbio através do reator anaeróbio de fluxo ascendente com
manta de lodo (UASB) é um método muito utilizado atualmente. No tanque deste
reator, a biomassa cresce e se dispersa, formando pequenos grânulos. A concentração
de bactérias é elevada formando uma manta de lodo. O efluente entra por baixo do
reator e ascende através deste lodo. No topo há uma estrutura cônica ou piramidal
que possibilita a separação dos gases resultantes do processo anaeróbio (gás
carbônico e metano) da biomassa e do efluente. O efluente sai do compartimento de
sedimentação clarificado (figura 5.8).
Este reator requer pouco espaço para instalação, devido à alta concentração de
bactérias. A produção de lodo é baixa e este já sai estabilizado. Os maus odores são
evitados com um projeto adequado (VON SPERLING, 2005).
Este reator apresenta como vantagens uma satisfatória remoção de DBO, pouca
área para instalação, baixos custos de operação, reduzido consumo de energia, baixa
produção de lodo. As desvantagens são remoção de P e N insatisfatória, depende da
temperatura ambiente e os efluentes necessitam pós-tratamento.
81
Fig. 5.8 – Esquema de um reator UASB.
5.1.5.3.3. Tratamento com Reatores UASB Associados com Biofiltros Aeróbios
Submersos.
Uma alternativa para o tratamento de água cinza é a associação de reatores UASB
com biofiltros aeróbios submersos (figura 5.9).
Fig. 5.9 - Associação de reatores UASB com biofiltros aeróbios submersos - Efeito do retorno de lodo
aeróbio sobre as características da biomassa presente em reatores UASB tratando esgoto sanitário.
Existem no mercado estações de tratamento de efluentes (ETE) compactas, com
remoção de lodo por retro lavagem e com desinfecção por cloro ou radiação
ultravioleta, para uso em condomínios residenciais. Este sistema reduz
satisfatoriamente a DBO, produz efluentes com baixa carga orgânica residual, elimina
sulfetos e diminui a turbidez.
82
A figura 5.10 mostra um exemplo:
Fig 5.10 – Sistema combinado UASB e BS, com flotador, aeração do efluente tratado e desinfectador.
5.2. Sistemas de Reuso de Águas Pluviais em Edifícios Residenciais.
A água pluvial para reuso é a água que provém diretamente da chuva, captada após
o escoamento em áreas de cobertura como telhados ou grandes superfícies
impermeáveis.
Essa água é encaminhada para o reservatório de acumulação, do qual passa
posteriormente para unidades de tratamento para atingir os níveis de qualidade
correspondentes aos usos estabelecidos em cada caso.
Em seguida a água tratada é bombeada para um reservatório elevado e deste é
ligada aos pontos de reuso.
Uma alternativa ao uso de reservatório elevado é a utilização de pressostato, com
ou sem tanque pulmão, o qual mantém as instalações hidráulicas pressurizadas
através do acionamento de bombas de recalque em eventual uso (ACQUABRASILIS,
2014).
Os sistemas para aproveitamento das águas de chuva estão surgindo praticamente
em todas as partes do mundo. A escassez da água provocada pelo excesso de
demanda, pela poluição dos mananciais e por serviços de abastecimento públicos
ineficientes, tem levado à conscientização da população da necessidade da
conservação da água, e o reuso de águas pluviais tem se mostrado uma excelente
fonte alternativa desse bem.
Aliado a esse fato, diferentes setores da sociedade passaram a ver o
aproveitamento das águas pluviais como rentável. Indústrias, estabelecimentos
comerciais e prestadoras de serviços reaproveitam a água de chuva procurando
diminuir o consume de água de concessionária.
83
Um efeito colateral que surge com o reuso de água pluvial é a diminuição do
escoamento superficial nas cidades durante as chuvas, diminuindo o risco de
enchentes, pois parte dessa água é captada e armazenada em reservatórios nas
edificações.
Porém, para que um sistema de reuso de águas pluviais possa gerar esses
benefícios, é preciso que seja projetado para ser eficiente e de fácil manuseio.
5.2.1. Componentes de um Sistema de Aproveitamento de Água da Chuva.
Independentemente de ser o sistema de aproveitamento de águas pluviais de
pequeno porte ou grande porte (figura 5.11), ele normalmente é composto por:
- área de captação;
- calhas e condutores;
- grades ou telas;
- Reservatório de autolimpeza;
- Reservatório de acumulação;
- sistema de tratamento;
- reservatório elevado ou pressostato (PROSAB, 2006).
Fig. 5.11 – Sistema de reuso de águas pluviais.
5.2.1.1. Área de Captação.
A viabilidade de um sistema de aproveitamento de água de chuva depende, em
grande parte, da quantidade de água captável pelo sistema. Essa quantidade depende
vários fatores, como a área de captação, o índice pluviométrico da região e o
coeficiente de escoamento superficial (C).
Assim, quanto maior a área de captação, mais chuva será coletada. O índice
pluviométrico da região mostra a distribuição das chuvas ao longo do ano, e quanto
mais regulares, mais confiável será o sistema.
84
A coleta da água da chuva pode ser feita através das superfícies das coberturas ou
através das superfícies dos pisos. A coleta da água da chuva através dos telhados é
mais simples e normalmente produz uma água de melhor qualidade.
O telhado pode estar inclinado, pouco inclinado ou plano, e devem ser projetados e
construídos segundo as normas técnicas e as especificações do fabricante das telhas
(PROSAB, 2006).
Na figura 5.12 são apresentadas duas formas de coberturas normalmente
encontradas (inclinadas ou planas).
Fig 5.12 - Áreas de captação de água de chuva.
A inclinação do telhado e o material com que este é feito interferem na eficiência da
coleta da água de chuva.
O sistema de coleta através da superfície do solo pode ser empregado em
edificações com grandes áreas de piso pavimentadas. É necessário que as mesmas
apresentem uma pequena inclinação, para o escoamento da água até as grelhas (figura
5.13), de onde as águas serão direcionadas aos reservatórios.
Fig. 5.13 – Grelha.
A água coletada pela superfície do solo geralmente tem qualidade inferior do que a
água coletada em coberturas, podendo conter resíduos de fezes, urina, óleos
85
combustíveis e outros contaminantes, de modo que sua utilização é recomendável
apenas quando há grandes áreas de pisos e um sistema de tratamento de água mais
avançado (ANNECCHINI, 2005).
5.2.1.2. Calhas e Condutores.
Para a utilização da água de chuva, é necessário que as coberturas das edificações
possuam calhas coletoras e condutores verticais para o direcionamento da água da
chuva do telhado para o reservatório de acumulação.
As calhas e os condutores verticais podem ser feitos de PVC ou metal,
dimensionados de acordo com os valores de precipitação de cada região usando como
referência a norma ABNT NBR 10.844/89 (Instalações Prediais de Águas Pluviais).
O dimensionamento adequado das calhas e condutores verticais, bem com uma
instalação executada de modo a não produzir vazamentos, são elementos importantes
para o funcionamento de todo o sistema de forma eficiente.
5.2.1.3. Grades ou Telas.
Outro componente importante do sistema são grades ou telas de 0,2mm a 1,0mm,
que são instaladas nas calhas, no caso de coberturas, ou nos ralos ou grelhas, no caso
de captação em pisos, e cuja função é evitar a entrada de sólidos em suspensão no
reservatório de armazenamento, como, por exemplo, folhas de árvores, pedras,
gravetos e outros materiais grosseiros, impedindo maiores contaminações, pois suas
decomposições prejudicam a qualidade da água (ANNECCHINI, 2005).
A instalação de telas ou grades é uma maneira bastante simples para a remoção
desses tipos de materiais, conforme pode ser visualizado nas Figuras 5.14 e 5.15.
Fig. 5.14 – Grade.
86
Fig. 5.15 – Grade instalada na calha.
5.2.1.4. Dispositivo para Descarte da Água de Lavagem do Telhado.
Um método simples de limpeza da água da chuva é a remoção dos primeiros
milímetros de chuva, através de um dispositivo do sistema de aproveitamento que é o
reservatório de eliminação da primeira chuva (fig. 5.16).
Fig. 5.16 – Reservatório de descarte da primeira chuva.
O princípio de funcionamento deste reservatório é o seguinte: completado o
volume do reservatório de eliminação de primeira chuva, o mesmo extravasa, fazendo
com que a água passe para o reservatório de armazenamento. Após a chuva, abre-se o
registro e procede-se à limpeza, com a retirada de eventual lodo.
O reservatório recebe a parcela inicial da chuva, geralmente entre 2mm a 4 mm,
que carrega grande parte dos poluentes, retendo-a de forma que não entre em
contato com o restante da chuva, menos poluída, que será direcionada ao reservatório
de armazenamento final. A chuva direcionada ao reservatório final é que será
aproveitada no sistema de reuso.
Este procedimento é também denominado de “autolimpeza da água da chuva”, e é
necessário para garantir a segurança dos usuários, já que a primeira água contém
contaminantes, como as concentrações de matéria orgânica e os sólidos dissolvidos,
depositados pelo vento, pássaros e insetos, e os que proliferaram no próprio meio,
como micro-organismos, que podem ser prejudiciais à saúde humana (TOMAZ, 2003).
87
5.2.1.5. Unidades de Tratamento da Água da Chuva.
Mesmo com o descarte da água proveniente dos primeiros minutos de chuva,
alguns poluentes ainda permanecem na água coletada para reuso, fazendo–se
necessário tratá-la para adequação ao uso pretendido. Como em edifício o sistema de
reuso é normalmente para usos não potáveis, os sistemas de tratamento empregados
são compostos por unidades de sedimentação, filtração e desinfecção, que pode ser
feita com cloro, por radiação ultravioleta ou ozonização. Em aplicações onde é
necessário um residual desinfetante, deve ser feita desinfecção por cloração (NBR
15.527/2007). Geralmente o sistema de reuso de águas pluviais utiliza cloração, pois
sempre há o risco de crianças consumirem essa água.
Os reservatórios de armazenamento proporcionam a sedimentação dos sólidos
presentes na água da chuva, funcionando como um decantador, melhorando a
qualidade da água. Após alguns dias de armazenamento, verifica-se uma redução
significativa nos valores de turbidez e sólidos suspensos, cuja concentração após 7 dias
pode chegar a zero. Para os demais parâmetros, como alcalinidade, dureza, acidez,
fósforo, nitrogênio e coliformes totais, não há grandes variações (PROSAB, 2006).
É importante a utilização de “freios d’água” na entrada do reservatório, com o
objetivo de dificultar a ressuspensão dos sólidos e o arraste de materiais flutuantes. A
retirada da água deve ser feita próxima à superfície (em torno de 15 cm desta) (NBR
15.527, 2007).
A figura 5.17 mostra uma estação compacta encontrada no comércio de tratamento
de água pluvial. É constituída por filtro pressurizado, bomba de recalque e dosador de
cloro. Ocupa pouco espaço podendo ser usada em edificações residenciais.
Fig. 5.17 – Estação compacta de tratamento de água pluvial.
5.2.1.6. Reservatório de Armazenamento de Água de Chuva.
Após realizado o processo de tratamento da água da chuva, a mesma é direcionada
ao reservatório de armazenamento, também conhecido como cisterna.
88
Geralmente, o reservatório de armazenamento é o componente mais dispendioso
do sistema de aproveitamento de águas pluviais, devendo ser dimensionado com
bastante critério para tornar viável a instalação dos sistemas de aproveitamento de
águas pluviais (SINDUSCON, 2005).
A eficiência desse método de reuso depende do volume do reservatório de
armazenamento: quanto maior o reservatório mais água de chuva poderá ser
armazenada, e mais confiável se torna o sistema.
A escolha do local de instalação do reservatório, do modelo e do material a ser
utilizado deve levar em consideração as condições do terreno e da disponibilidade de
área.
Os reservatórios de água de chuva podem estar apoiados no solo, enterrados,
semienterrados ou elevados. Podem ser construídos de vários materiais, como
concreto armado, alvenaria, fibra de vidro, aço, polietileno, entre outros, e ter diversas
formas como mostra a Figura 5.18.
Fig. 5.18 - Tipos de Reservatórios ou Cisternas.
Os reservatórios superficiais devem ser instalados em locais que disponham de área
livre, apresentando a vantagem de possibilitar alguns usos sem a necessidade de
bombeamento, como para a lavagem de áreas impermeáveis e a rega de jardins.
Já os reservatórios semienterrados ou enterrados geralmente necessitam de
bombeamento, seja ele manual ou mecânico. Em algumas situações, como no
nordeste do Brasil, muitas vezes a população utiliza baldes para a retirada da água da
cisterna, o que pode levar a contaminação da água em seu interior.
Para evitar possíveis contaminações, o reservatório deverá estar de 10m a 15m da
fonte contaminante (fossa séptica, por exemplo) (TOMAZ, 2003).
89
Também é possível instalar o reservatório logo abaixo do telhado, de maneira a
evitar os gastos com o bombeamento da água.
5.2.2. Projeto do Sistema de Reuso de Águas Pluviais.
O projeto de um sistema de reuso de águas pluviais deve levar em consideração as
características da edificação, como o tipo e a área da superfície de captação e do
espaço disponível para instalação, o uso pretendido, a qualidade desejada para a água,
e o orçamento disponível.
O fluxograma abaixo (fig. 5.19) mostra um sistema de reuso normalmente utilizado
em edifícios residenciais. Aqui a água da chuva coletada é direcionada a um
reservatório primário para acumulação. Deste reservatório é levada por meio de
bombas centrífugas para tratamento (filtração por pressão em filtro com leito filtrante
composto por carvão antracitoso e areia ou somente areia e desinfecção com
hipoclorito de sódio, por exemplo). Em seguida é bombeada para o reservatório
elevado, do qual são derivadas as distribuições da água para consumo
(ACQUABRASILIS, 2014).
Fig 5.19 - Sistema de reuso de águas pluviais com a utilização de reservatório elevado.
Uma variação possível neste sistema é usar bombas centrífugas, controladas por
pressostato, com ou sem tanque pulmão, para pressurizar a instalação hidráulica (fig.
5.20). Esta solução é empregada quando os pontos de utilização da água de reuso se
concentram no piso térreo do edifício (rega de jardim, chafarizes, lavagem de pisos),
fato que não justifica a construção de reservatórios elevados (ACQUABRASILIS., 2014).
90
Fig. 5.20 - Sistema de reuso de águas pluviais com a utilização de pressostato.
Os filtros são limpos por retro lavagem. A bomba de retro lavagem injeta água
(proveniente do reservatório de retro lavagem) em sentido contrário ao da filtração,
removendo os resíduos.
Para o dimensionamento do sistema de reuso, o Sinduscon propõe uma
metodologia básica para o projeto de sistemas de coleta, tratamento e reuso de água
de chuva, que envolve as seguintes etapas:
- determinação da precipitação média local (mm/mês);
- determinação da área de coleta;
- determinação do coeficiente de escoamento superficial;
- caracterização da qualidade da água pluvial,
- projeto do reservatório de descarte;
- projeto do reservatório de armazenamento;
- identificação dos usos da água;
- estabelecimento do sistema de tratamento necessário;
- projeto dos sistemas complementares (grades, filtros, tubulações etc.) (SINDUSCON,
2005).
5.2.2.1. Determinação da Precipitação Média Local.
A quantidade de água acumulada sobre uma superfície plana e impermeável
durante uma chuva é chamada de “altura pluviométrica”. É medida em aparelhos
chamados pluviômetros ou pluviógrafos, e é expressa em milímetros (mm).
Já a intensidade da precipitação é a relação entre a altura pluviométrica e a duração
da precipitação, expressa geralmente em mm/h ou mm/min.
As características principais da chuva, portanto, são a altura pluviométrica, a sua
duração e as distribuições temporal e espacial.
O objetivo de uma estação meteorológica é obter uma série ininterrupta de
precipitação ao longo dos anos, e através de um tratamento estatístico dos dados, é
calculada a séries histórica de chuva numa dada região.
91
Pode-se estabelecer então correlações entre oferta e demanda de água pluvial para
o reuso, permitindo o dimensionamento de reservatórios de acumulação de água.
A ABNT NBR 10.844/1989 (instalações prediais de águas pluviais) traz em seu anexo
a intensidade pluviométrica em mm/h para diversas cidades do Brasil, com período de
retorno de 1, 5 e 25 anos (NBR 10.844, 1989).
5.2.2.2. Determinação do Coeficiente de Escoamento Superficial.
As coberturas podem ser feitas de telhas cerâmicas, de fibrocimento, zinco, aço
galvanizado, alumínio, plástico, acrílico, vidro, concreto armado, ou impermeabilizadas
por mantas asfálticas. Cada um desses materiais tem o seu coeficiente de escoamento
“C” específico.
O coeficiente de escoamento é o quociente entre a quantidade de água que escoa
superficialmente e a quantidade total de água precipitada, pois nem toda água que cai
na cobertura é coletada. Esta perda de água de chuva na captação ocorre devido à
evaporação, vazamentos e infiltrações, entre outras causas. Quanto maior o
coeficiente de escoamento “C” maior quantidade de água será captada.
A Tabela 5.2 mostra os valores encontrados para C de acordo com o material
utilizado na construção da cobertura (PROSAB, 2006):
Tabela. 5.2 - Faixa do coeficiente de escoamento superficial para cada tipo de material, por diferentes
autores.
O coeficiente de escoamento “C” é utilizado no cálculo do volume de água de chuva
aproveitável, segundo a ABNT NBR 15.527/2007.
5.2.2.3. Projeto do Reservatório de Descarte.
O reservatório destinado a receber a água inicial da chuva (autolimpeza), retendo-a
para não se misturar com a água a ser aproveitada, é dimensionado levando em
consideração a área de captação.
O reservatório de eliminação de primeira chuva deve ter capacidade para
armazenar de 0,8 a 1,5 L/m² de área de captação (ANNECCHINI, 2005).
Segundo PROSAB, recomenda-se o descarte de 1,0 L/m² ou 1 mm de chuva por
metro quadrado de telhado (PROSAB, 2006).
92
De acordo com a ABNT NBR 15.527/2007, em seu item 4.2.5, “quando utilizado, o
dispositivo de descarte de água deve ser dimensionado pelo projetista. Na falta de
dados, recomenda-se o descarte de 2 mm da precipitação inicial”(NBR 15.527, 2007).
Desse modo, o volume do reservatório é obtido pela fórmula:
V = Acap . hpluv
Onde:
V é o volume do reservatório de descarte;
Acap é a área de captação de chuva e
hpluv é a altura pluviométrica destinada à autolimpeza.
5.2.2.4 Projeto do Reservatório de Armazenamento.
O volume de água fornecido pelo sistema de reuso de águas pluviais é função de
variáveis como área de captação, coeficiente de escoamento superficial “C”, índice
pluviométrico do local e pelo volume do reservatório.
O conhecimento destas variáveis é importante para o projeto do sistema de
reaproveitamento das águas pluviais. Por exemplo, quanto maior a área de captação,
maior quantidade água poderá ser coletada, quanto mais regular ou constante ao
longo do ano for o índice pluviométrico, mais confiável será o sistema, e quanto maior
for o coeficiente de escoamento superficial “C”, menores serão as perdas de água da
chuva coletada.
Por fim, o volume do reservatório de armazenamento dita a eficiência do sistema,
pois quanto maior o reservatório, maior quantidade de água da chuva será
armazenada, porém maior será também o custo de implantação (ANNECCHINI, 2005).
A demanda que se pretende atender com o sistema de aproveitamento de água da
chuva também influencia na determinação do volume do reservatório, havendo assim
a necessidade de se encontrar um ponto ótimo na combinação entre o volume de água
armazenado e a demanda a ser atendida, que resulte na maior eficiência e
confiabilidade, com o menor gasto possível (PROSAB, 2006).
Em outras palavras, nem sempre haver haverá chuva suficiente para atender toda a
demanda e nem sempre será possível armazenar toda a chuva precipitada (por
questões físicas e econômicas), assim, os estudos de dimensionamento de
reservatórios devem compatibilizar produção e demanda.
O custo do reservatório pode varia de 50% a 85% do custo total de um sistema de
aproveitamento de água de chuva (THOMAS, 2004).
Nos termos da ABNT NBR 15.527/2007: O volume dos reservatórios deve ser dimensionado com base em critérios
técnicos, econômicos e ambientais, levando em conta as boas práticas de
engenharia, podendo, a critério do projetista, ser utilizados os métodos
contidos no Anexo A ou outro, desde que devidamente justificado (NBR
15.527, 2007).
Os métodos contidos no Anexo A da referida norma para o cálculo do volume do
reservatório são: método de Rippl, método da simulação, método Azevedo Neto,
93
método prático alemão, método prático inglês e método prático australiano, que serão
detalhados a seguir:
- Método de Rippl:
Procura garantir uma vazão regular constante durante o período mais crítico de
estiagem observado. Este método baseia-se no diagrama de massa do sistema,
também denominado diagrama de Rippl, originalmente desenvolvido no final do
século XIX, utilizado amplamente para o cálculo de reservatórios destinados ao
abastecimento público, para aproveitamento hidroelétrico, para irrigação, para
controle de enchentes e para a regularização de cursos d’água (GARCEZ, 1974).
Neste método podem-se usar as séries históricas mensais ou diárias.
S(t) = D(t) - Q(t)
Q (t) = C . precipitação da chuva (t) . área de captação
V= ∑ S(t), somente para valores S(t) > O
Sendo que: ∑ D(t) < ∑ Q(t)
onde:
S(t) é o volume de água no reservatório no tempo t;
Q(t) é o volume de chuva aproveitável no tempo t;
D(t) é a demanda ou consumo no tempo t;
V é o volume do reservatório;
C é o coeficiente de escoamento superficial.
- Método da Simulação:
Neste método a evaporação da água não deve ser levada em conta. Para um
determinado mês, aplica-se a equação da continuidade a um reservatório finito:
S(t) = Q(t) + S(t-1) - D(t)
Q(t) =C . precipitação da chuva (t) . área de captação
Sendo que: O ≤ S(t) ≤ V
onde:
S(t) é o volume de água no reservatório no tempo t;
S(t-1) é o volume de água no reservatório no tempo t -1;
Q(t) é o volume de chuva no tempo t; <O
D(t) é o consumo ou demanda no tempo t;
V é o volume do reservatório fixado; o...
C é o coeficiente de escoamento superficial.
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Nota: Para este método, duas hipóteses devem ser feitas, o reservatório está cheio no
início da contagem do tempo "t”, os dados históricos são representativos para as
condições futuras.
- Método Azevedo Neto:
O volume de chuva é obtido pela seguinte equação.
V = 0,042 . P . A . T
onde:
P é o valor numérico da precipitação média anual, expresso em milímetros (mm);
T é o valor numérico do número de meses de pouca chuva ou seca;
A é o valor numérico da área de coleta em projeção, expresso em metros quadrados
(m²)
V é o valor numérico do volume de água aproveitável e o volume de água do
reservatório, expresso em litros (L).
- Método prático alemão:
Trata-se de um método empírico onde se toma o menor valor do volume do
reservatório; 6 % do volume anual de consumo ou 6 % do volume anual de
precipitação aproveitável.
Vadotado = mínimo de (volume anual precipitado aproveitável e volume anual de
consumo) . 0,06 (6 %)
Vadotado= mín (V; D) . 0,06
onde:
V é o valor numérico do volume aproveitável de água de chuva anual, expresso em
litros (L);
D é o valor numérico da demanda anual da água não potável, expresso em litros (L);
Vadotado é o valor numérico do volume de água do reservatório expresso em litros (L).
- Método prático inglês:
O volume de chuva é obtido pela seguinte equação:
V = 0,05 . P . A
onde:
P é o valor numérico da precipitação média anual, expresso em milímetros (mm);
A é o valor numérico da área de coleta em projeção, expresso em metros quadrados
(m²)
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V é o valor numérico do volume de água aproveitável e o volume de água da cisterna,
expresso em litros (L).
- Método prático australiano:
O volume de chuva é obtido pela seguinte equação:
Q= A . C . (P - I)
onde:
C é o coeficiente de escoamento superficial, geralmente 0,80;
P é a precipitação média mensal;
I é a interceptação da água que molha as superfícies e perdas por evaporação,
geralmente 2 mm;
A é a área de coleta;
Q é o volume mensal produzido pela chuva.
O cálculo do volume do reservatório é realizado por tentativas, até que sejam
utilizados valores otimizados de g confiança e volume do reservatório.
Vt = Vt-1 + Qt - Dt
onde:
Qt é o volume mensal produzido pela chuva no mês t;
Vt é o volume de água que está no tanque no fim do mês t;
Vt-1 é o volume de água que está no tanque no início do mês t;
Dt é a demanda mensal;
Nota: Para o primeiro mês, considera-se o reservatório vazio.
Quando (Vt-1 + Qt - D) < O, então o Vt = O
O volume do tanque escolhido será T.
Confiança:
Pr = Nr/ N
onde:
Pr é a falha;
Nr é O número de meses em que o reservatório não atendeu à demanda, isto é,
quando VI = O;
N é o número de meses considerado, geralmente 12 meses;
Confiança = (1 - Pr)
Recomenda-se que os valores de confiança estejam entre 90 % e 99 % (NBR
15.527/2007).
Segundo a ABNT NBR 12.217/1994, quando as chuvas não são suficientes para
preencher o volume do reservatório, este pode ser complementado por uma fonte
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alternativa de água, geralmente da concessionária, devendo, neste caso, possuir
dispositivos que impeçam a conexão cruzada (NBR 12.217, 1994).
Em contrapartida, o volume não aproveitável da água de chuva pode ser lançado na
rede de galerias de águas pluviais, na via pública, ou ser infiltrado total ou
parcialmente, desde que não contamine o lençol freático, a critério da autoridade
competente.
O projeto do reservatório, além de atender à ABNT NBR 12.217, deve prever:
extravasor, dispositivo de esgotamento, cobertura, inspeção, ventilação e segurança
(NBR 15.527, 2007).
5.2.2.5. Identificação dos Usos da Água.
Como visto anteriormente, os usos não potáveis residenciais que podem utilizar
águas pluviais são:
- descarga em vasos sanitários;
- irrigação de jardins;
- lavagem de vidros;
- lavagem de pisos e calçadas;
- lavagem de automóveis;
- abastecimento de equipamento de combate a incêndio;
- chafarizes e
- lavagem de roupas.
A quantidade escolhida de atividades que usarão águas de reuso influenciará na
demanda, o que se refletirá no dimensionamento do reservatório.
5.2.2.6. Estabelecimento do Sistema de Tratamento Necessário.
Para usos não potáveis, como lavagem de pisos e calçadas, lavagem de automóveis,
lavagem de janelas, descarga em bacias sanitárias, lavagem de roupas, chafarizes e
abastecimento de sistema contra incêndio, o tratamento das águas pluviais resume-se
a filtração simples e desinfecção.
Os filtros mais utilizados são os com leito filtrante composto por areia e carvão
antracitoso ou somente areia, pressurizados ou não.
Pode-se usar em conjunto um filtro desferrizador, pressurizado ou não, com leito
filtrante composto por zeólitos naturais ou sintéticos, que são responsáveis pela
remoção do ferro e manganês presentes na água bruta.
Como já visto anteriormente, a desinfecção pode ser feita por cloração, ozonização,
radiação ultravioleta, permanganato de potássio, etc.
5.2.3. Manutenção dos Reservatórios.
Os reservatórios de armazenamento de águas pluviais possuem detalhes de
construção e manutenção normatizados pela ABNT, que devem ser observados para
garantir o fornecimento de água com qualidade.
97
Assim, de acordo com a NBR 5626/1998 (Instalação predial de água fria), NBR
12.217/1994 (Projeto de reservatório de distribuição de água para abastecimento
público) e NBR 15.527/2007 (Aproveitamento de águas de chuva para fins não
potáveis), temos:
- os reservatórios devem ser limpos e desinfetados com solução de hipoclorito de
sódio, no mínimo uma vez por ano (NBR 5.626, 1998).
- as paredes e a cobertura do reservatório devem ser impermeáveis (NBR 12.217,
1994);
- deve-se evitar a entrada de luz no reservatório para evitar a proliferação de algas
(NBR 12.217, 1994);
- o reservatório deve ser dotado de uma abertura, também chamada de visita, para
inspeção e limpeza (NBR 12.217, 1994);
- a água deve entrar no reservatório de maneira a não provocar turbulência, evitando a
resuspensão dos sólidos depositados no fundo do mesmo (NBR 15.527, 2007);
- o reservatório deve ser limpo uma vez por ano para a retirada do lodo depositado no
fundo do mesmo (NBR 12.217, 1994);
- o reservatório deve proteger a água armazenada da incidência direta da luz do sol e
do calor, assim como animais que possam adentrar o reservatório através da
tubulação de extravasão (NBR 12.217, 1994) e
- o reservatório, quando alimentado com água potável de outra fonte de suprimento,
deve possuir dispositivos que impeçam a conexão cruzada (NBR 15.527, 2007).
5.2.4. Exemplo de Sistema de Aproveitamento de Águas Pluviais.
Os edifícios usados como exemplo de instalação de aproveitamento de águas
pluviais estão no bairro do Tatuapé, na cidade de São Paulo.
Trata-se de duas torres, de uso exclusivamente residencial de alto padrão,
formando um único condomínio, chamadas Maria Callas I e Maria Callas II.
Cada edifício possui 4 subsolos, térreo com mezanino, e 29 andares (56
apartamentos de 3 ou 4 dormitórios cada um) (figura 5.21).
98
Fig. 5.21 – Vista geral dos edifícios Maria Callas I e II.
O sistema de reuso consiste em captação da água pluvial pelas coberturas das duas
torres e pelos pisos impermeabilizados do térreo. Esta água é encaminhada para a
cisterna de acumulação de água bruta.
A água contida nesta cisterna é levada para o filtro com leito de carvão e areia
através de bomba centrífuga, o que faz com que a filtragem seja feita sob
pressurização. A figura 5.22 mostra o filtro pressurizado de tambor metálico.
Fig. 5.22 – Filtro pressurizado com leito de carvão e areia.
99
A seguir, a água passa pela unidade de desinfecção. Nesta unidade, um painel de
controle eletrônico comanda uma pequena bomba. Esta bomba retira de uma
pequeno reservatório hipoclorito de sódio, e o mistura na água, em quantidade e
intervalos de tempo previamente programados no painel de controle. Na figura 5.23
pode ser vista a unidade de desinfecção, com o painel de controle, a bomba dosadora
e o reservatório de hipoclorito de sódio.
Fig. 5.23 – Unidade de desinfecção.
Após a desinfecção, a água é levada por pressão ao reservatório de armazenamento
de água tratada, que neste caso está situado ao lado da cisterna de acumulação de
água bruta. A figura 5.24 mostra a cisterna e o reservatório juntos (a água bruta é
separada da água tratada apenas por uma parede metálica).
Fig. 5.24 – Cisterna e reservatório de água pluvial.
100
A limpeza do filtro é feita por retro lavagem. Neste processo, uma bomba retira
água armazenada no reservatório de autolimpeza e a envia ao filtro em sentido
contrário ao da filtração, removendo o material contaminante separado da água e
presente no leito filtrante, melhorando assim o desempenho do filtro. A figura 5.25
mostra o reservatório de autolimpeza.
Fig. 5.25 – Reservatório para auto-limpeza.
No caso dos edifícios Maria Callas I e II, a distribuição da água aos pontos de coleta
é feita por pressurização controlada por pressostato, sem tanque pulmão. Ao se
utilizar a água de reuso, o pressostato detecta a variação de pressão e aciona as
bombas de recalque, o que faz o sistema alimentar o ponto de coleta.
Neste caso a água pluvial é utilizada apenas para lavagem de pisos e irrigação de
jardins, e alguns dos pontos de coleta são vistos nas figuras 5.26 e 5.27.
Fig. 5.26 – Torneira para lavagem de pisos com água de reuso.
101
Fig. 5.27 – Jardim com irrigador de água de reuso.
5.3. Sistema com Separação das Águas Cinzas das Águas Pluviais.
O sistema com separação das águas cinzas das águas pluviais é uma alternativa
quando se deseja utilizar as águas cinzas para descarga no vaso sanitário, irrigação de
jardins, lavagem de pisos e calçadas, e as pluviais para usos que requerem uma água
mais clara, como lavagem de automóveis e uso em máquinas de lavar roupas.
Como este sistema necessita de reservatórios de armazenamentos e instalações
hidráulicas separados para cada fonte de água, seu custo de implantação é bem mais
alto em comparação com os outros sistemas descritos. Também neste caso a falta de
água pluvial ou água cinza deve ser complementada com a água de concessionária.
5.4. Sistema de Reuso com Mistura das Águas Cinzas e Águas Pluviais.
Poucas são as experiências relatadas sobre o uso combinado de água de chuva e de
águas cinzas na escala das residências e edificações. Esta combinação tem a oferecer
um potencial maior com relação ao equilíbrio do suprimento de água ao longo do ano.
Fig. 5.28 – Diagrama de reuso misto de água cinza e água pluvial.
102
Apesar da boa qualidade da água de chuvas, a incerteza da sua ocorrência implica na
necessidade de se armazenar grandes volumes para um suprimento eficiente. Já as
águas cinzas apresentam DQO semelhante a de esgotos sanitários, mas sua produção
segue padrões mais regulares para o propósito do reúso doméstico (PROSAB, 2006).
Este sistema é usado quando a oferta de água cinza é inferior à quantidade de água
de reuso demandada do edifício, exigindo uma complementação.
5.5. Exemplo de Sistema de Reuso com Mistura das Águas Cinzas e Águas Pluviais.
Para ilustrar o sistema de reuso com mistura das águas cinzas e águas pluviais,
apresentamos a seguir uma pesquisa desenvolvida em 2005 pela Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC), disponível na publicação “Tecnologias de Segregação e
Tratamento de Esgotos Domésticos na Origem Visando a Redução do Consumo de
Água e da Infra Estrutura de Coleta, Especialmente nas Periferias Urbanas”, do
Programa de Pesquisas em Saneamento Básico PROSAB - Edital 04, às páginas 141 a
202.
Trata-se de uma residência uni familiar, localizada no Bairro de Ratones, município
de Florianópolis, Santa Catarina. A residência tem ocupação média de 3 pessoas e é
composta por 3 quartos, 1 banheiro, 1 sala e 1 cozinha. Há um tanque para lavagem de
roupas na parte externa.
5.5.1. Descrição do Sistema de Reuso de Águas Pluviais da Residência.
Fig. 5.29 - Residência utilizada no estudo (UFSC).
A água pluvial é captada em uma superfície de telhado de 35 m² e conduzida por
calhas e condutores verticais (figura 5.30).
103
Fig. 5.30 – Detalhes do telhado e da calha coletora (UFSC).
O sistema de aproveitamento da água de chuva é composto por um reservatório de
descarte da água de lavagem do telhado, um filtro com leito de areia e um reservatório
de acumulação, do qual a água é conduzida para um tanque de mistura, que recebe
também a água cinza gerada na residência (Figuras 5.31 e 5.32).
Esta água de mistura é encaminhada para um reservatório superior por bombas de
recalque. Deste reservatório a água é distribuída para descarga no vaso sanitário.
Fig. 5.31 -Esquema demonstrativo do sistema de aproveitamento de água de chuva (UFSC).
Na saída da calha coletora foi instalada uma grade para a retenção de materiais
grosseiros. A água após passar pela grade, é encaminhada por condutores verticais de
PVC (DN 100) para o reservatório de descarte da 1ª água da chuva. Este reservatório
tem capacidade para 250 litros, mas uma torneira boia limita o descarte em 50 litros.
104
Fig. 5.32 – Unidades de tratamento e armazenamento de água de chuva (UFSC).
Completando-se o volume de descarte, a torneira boia trava o condutor vertical. A
partir deste ponto, a água de chuva é encaminhada para o filtro de areia. Após a
filtragem, vai para reservação na cisterna de água de chuva (Figura 5.33).
Fig. 5.33 - Reservatório de descarte da 1ª água (A), filtro de areia e cisterna (B) (UFSC).
O filtro de areia empregado no tratamento da água de chuva foi dimensionado
segundo a ABNT NBR 13.969/1997 (Tanques sépticos - Unidades de tratamento
complementar e disposição final dos efluentes líquidos). A camada superior possui
espessura de 0,05 m e contém brita nº 1 para auxiliar na distribuição, e a camada de
fundo possui 0,10 m de espessura, também com brita nº 1, envolvendo o tubo de
coleta. A altura da camada de areia é de 0,70 m. Esta areia possuía um diâmetro
efetivo (d10) de 0,20 mm e coeficiente de uniformidade (U) igual a 4,9.
Considerou-se uma vazão diária correspondente a uma chuva com período de
retorno igual a três anos e com uma intensidade de dez minutos, obtendo-se uma
vazão diária de 525 L/dia.
105
A cisterna foi confeccionada utilizando-se uma caixa de polietileno, com volume útil
de 2.000 litros.
Para o dimensionamento do volume da cisterna foi considerado que somente a
água da chuva abasteceria a caixa de descarga do vaso sanitário e adotou-se para cada
habitante uma demanda de 40 L/hab.dia no vaso sanitário.
O volume diário de chuva foi determinado a partir de um pluviômetro instalado na
própria residência, no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2005. O pluviômetro
foi construído artesanalmente, conforme a figura 5.34. Os dados foram colhidos
diariamente para uma comparação com os dados fornecidos pelo Instituto Nacional de
Meteorologia (INMET).
Fig. 5.34 - Pluviômetro instalado na residência em estudo (UFSC).
Traçou-se então em um gráfico as leituras do pluviômetro instalado na residência e
os valores obtidos junto ao INMET (Figura 5.35).
Fig. 5.35 - Valores da intensidade pluviométrica medidas em Ratones, para o ano de 2005 e a média
histórica de Florianópolis (período de 1970 a 2005 - INMET)(UFSC).
106
Com os dados fornecidos pelo pluviômetro instalado na residência, quantificou-se o
volume de água de chuva captado da superfície de 35 m².
A Figura 5.36 apresenta os volumes médios diários de chuva. O volume de chuva
aproveitado é a quantidade de chuva captada pela superfície menos o descarte de 50
litros. Não foram subtraídas as perdas por evaporação e as perdas do sistema.
Fig. 5.36 - Volume aproveitado de água de chuva a partir da superfície de captação ao longo de 2005
(UFSC).
Em relação ao fornecimento de água para as descargas no vaso sanitário, tanto a
água cinza quanto a água de chuva atenderam ao longo de todo o período a demanda,
com exceção do mês de junho, quando ocorreu uma estiagem (Figura 5.37).
Fig. 5.37 - Volume das fontes alternativas em relação ao vaso sanitário (UFSC).
A Tabela 5.3 apresenta os resultados médios da qualidade da chuva atmosférica, da
água de descarte e da água armazenada na cisterna, após tratamento.
107
Tabela 5.3 - Resultados médios (± coeficiente de variação) da qualidade da chuva atmosférica, da água
de descarte e da água armazenada na cisterna (UFSC).
Analisando os parâmetros pH e alcalinidade, pode-se observar um aumento de seus
valores na água de chuva após a passagem desta pela superfície de captação.
Apesar do pH médio da chuva atmosférica ser de 5,93, não se pode inferir uma
tendência de chuva ácida, pois a literatura aponta como chuva ácida uma água com pH
inferior a 5,60 (TOMAZ, 2003).
Após o descarte, o valor de pH da água da chuva aumentou para 7,48, e na cisterna,
depois da passagem pelo filtro de areia, o valor médio foi de 7,57, o que se mostra
dentro da faixa de neutralidade.
Em relação à alcalinidade, a chuva atmosférica apresentou valor médio de 3,87
mg/L. Esta aumentou após a passagem pelo telhado, apresentando valor médio de
31,18 mg/L, e na cisterna este valor decaiu para 23,05 mg/L. As variações de
alcalinidade podem ser atribuídas à deposição de poeira na superfície de captação e às
características particulares do telhado da residência em estudo. Após a passagem pelo
filtro, o valor de alcalinidade diminui devido à retenção do material carreado pela
chuva que não foi separado no descarte da 1ª água.
Já em relação à cor e à turbidez, com a lavagem do telhado a água da chuva
aumentou de 3,30 uC para 24,87 uC para a cor e de 1,47 NTU para 4,56 NTU para a
turbidez. Após passarem pela filtração estes valores decaíram, aumentando a
108
qualidade da água na cisterna devido aos sólidos que ficaram retidos, obtendo valores
médios de 13,61 uC e 2,54 NTU para cor e turbidez, respectivamente.
Os valores médios de dureza obtidos na chuva atmosférica, no descarte e na
cisterna, respectivamente, foram de 7,60, 41,48 e 28,63 mg/L. Este baixo valor médio
de dureza na cisterna permite que seja utilizada na lavagem de roupas, visto que não
causaria problemas com a formação de espuma e com incrustações nas tubulações.
Na análise microbiológica foram encontradas tanto Coliformes totais quanto
Escherichia Coli na água de chuva, no descarte e na cisterna. Os valores mais
significativos foram encontrados na água de descarte, devido à lavagem do telhado
que carrega, entre outras coisas, fezes de animais e aves ali depositadas. Os valores
médios de Escherichia Coli, foram de 5,10, 15,40 e 4,49 NPM/100 mL para água de
chuva, descarte e cisterna, respectivamente (UFSC apud PROSAB).
5.5.2. Descrição do Sistema de Reuso de Águas Cinzas da Residência.
A água cinza é proveniente do lavatório, do chuveiro e do tanque de lavar roupas. O
sistema de tratamento da água cinza é composto por um caixa receptora de águas
cinzas advindas dos pontos de coleta, um filtro de brita aeróbio intermitente, uma
caixa de passagem para desinfecção com cloro, um reservatório de água cinza e um
tanque de mistura (água cinza + água de chuva). Deste tanque, a água é bombeada
para o reservatório superior e utilizada para descarga na bacia sanitária. A Figura 5.38
apresenta de forma esquemática o sistema.
Fig. 5.38 - Esquema ilustrativo do sistema de reuso de água cinza – UFSC.
O filtro de brita (Figura 5.39) foi dimensionado conforme a NBR 13.969/1997,
admitindo-se uma taxa de aplicação hidráulica de 200 L/dia.m². (área superficial de1,0
m² e altura do material filtrante de 0,7 m). Foi utilizada brita nº 2 (diâmetro de 12,5 a
25,0 mm) instalada em uma caixa de polietileno com capacidade para 1.000 litros. O
efluente é distribuído sobre o meio filtrante e desce até o fundo por percolação, onde
há uma tubulação que capta a água cinza tratada e a encaminha para desinfecção.
109
Fig. 5.39 - Filtro de brita para o tratamento da água cinza (UFSC).
Após a passagem pela caixa de desinfecção, a água cinza é direcionada para um
reservatório de acumulação com capacidade de 240 litros. A partir desse ponto, a água
cinza tratada é bombeada para o tanque de mistura com capacidade de 360 litros
(Figura 5.25a). Esta unidade recebe o efluente do tratamento da água cinza e parte da
água pluvial.
Para o seu dimensionamento adotou-se como volume útil 60% do volume total
necessário para abastecer a unidade sanitária durante 03 dias consecutivos. Utilizou-se
um conjunto de bombas hidráulicas para o recalque destas águas ao reservatório
superior (Figura 5.40b e 5.40c).
Esta unidade foi confeccionada com anel de concreto pré-fabricado de 1,1 m de
diâmetro interno e 0,40 m de altura útil sendo devidamente impermeabilizada.
Fig. 5.40- Implantação do sistema de reuso (UFSC).
110
Mediu-se a quantidade de água utilizada em cada unidade hidro sanitárias (UHS)
por meio de hidrômetros instalados nas tubulações de alimentação. Os valores das
medições podem ser vistos na tabela 5.4.
Tabela 5.4 - Demanda nas UHS medida por hidrômetros, de janeiro a dezembro de 2005 (UFSC).
De acordo com os resultados, o lavatório e o chuveiro apresentaram a maior
demanda na residência, com 33% do total. A bacia sanitária, o tanque de lavar roupa e
a pia de cozinha apresentaram, respectivamente, 22%, 27% e 18%.
O volume médio de água cinza gerado foi de 166 L/dia representando
aproximadamente 60% do volume de água consumido na residência.
Em relação aos parâmetros físicos, químicos e biológicos, foram avaliados cor,
turbidez, DBO, DQO, e concentração de escherischia coli.
Os valores médios obtidos para os parâmetros cor e turbidez da água cinza bruta
foram de 214,1 uC e 154,9 NTU respectivamente. Ao passar pela filtração estes valores
caíram para 83,3 uC e 86,6 NTU. A partir destes resultados, verifica-se a necessidade
de um tratamento primário, com telas nas tubulações de chegada de efluente, e uma
posterior decantação para reduzir a concentração de sólidos na água cinza e
possibilitar uma remoção maior destes componentes.
Já no reservatório de água cinza a cor aumentou para 109,4 uC e a turbidez decaiu
para 39,6 NTU. Este aumento de cor no reservatório pode ser explicado devido à
formação de ácido húmico, oriundo da degradação da matéria orgânica que ocorre
durante o tempo em que a água cinza fica armazenada.
Com relação à matéria orgânica a faixa dos valores encontrados para a água cinza
bruta foi ampla: para a DBO ficaram entre 23,6 a 808,0 mg/L e para a DBQ entre 35,4 a
921,5 mg/L. A média dos valores encontrados de matéria orgânica para a água cinza
111
bruta, pós-filtro e reservatório foram respectivamente de 266,7 mg/L, 77,0 mg/L e 31,8
mg/L para a DBO e 279,6 mg/L, 222,0 mg/L e 71,7 mg/L para a DQO.
Embora a água cinza não receba matéria fecal, observou-se a presença de
Eschirichia Coli. Isso se deve à lavagem das mãos no lavatório, lavagem de roupas
contaminadas ou pelo próprio banho. A água cinza bruta apresentou concentrações
médias de Eschirichia Coli em torno de 104 NMP/100 mL, decaindo uma casa decimal
após a passagem pelo filtro e obtendo-se valor médio no reservatório de 103 NMP/mL.
O aumento nas concentrações deste parâmetro na reservação é devido ao
crescimento biológico na estocagem.
Vale salientar que estes resultados foram analisados sem a cloração para verificar o
decaimento da concentração bacteriana. Com o uso de pastilhas de cloro, os valores
obtidos para concentração de patógenos, tanto na desinfecção quanto na reservação
foram menores que 1 NMP/100 (UFSC, apud PROSAB, 2006).
5.6. Considerações sobre os Sistemas de Reuso de Água.
A escolha do sistema de reuso deve levar em consideração vários fatores, como o
espaço disponível na edificação, a disponibilidade financeira, os usos que se fará da
água tratada, o nível de tratamento desejado, a oferta de água cinza e pluvial e a
demanda da residência.
Edifícios com oferta de água cinza maior que a demanda pode optar por reuso
exclusivo de água cinza. A oferta de água cinza é uniforme, ao contrário da oferta de
água pluvial que depende de fatores climáticos, porém a qualidade da água é inferior,
pois esta contém poluentes e turbidez maior que a água de chuva.
Caso a oferta seja menor que a demanda, deve-se verificar o histórico de chuvas
para o local e área de captação do edifício para cálculo da quantidade de água pluvial
disponível. Se essa quantidade for suficiente para complementar a água cinza e para
justificar os gastos com a instalação do sistema, pode-se considerar um sistema misto
de reuso de águas cinzas e pluviais.
Em regiões com grande oferta de água pluvial pode ser interessante a implantação
de um sistema simples de reuso de águas de chuva, devido ao baixo custo de
instalação e facilidade de manutenção, além de se obter água com qualidade mais
aceitável pelo usuário.
112
CAPÍTULO 6
6. Legislação Relacionada à Conservação e Reuso de Água no Brasil.
Denomina-se “política” a arte ou ciência da organização, direção e administração de
nações ou Estados aos seus assuntos internos ou externos. O nome tem origem nas
cidades-estados gregas antigas chamadas “polis”, nome do qual se derivam a palavra
“politiké” (política em geral). Dentre as diversas acepções que o termo pode tomar,
neste trabalho consideramos “política” como a orientação ou a atitude de um governo
em relação a certos assuntos ou problemas de interesse público.
A política das águas no Brasil refere-se, portanto, às diretrizes e atitudes
relacionadas à organização, administração e fiscalização dos recursos hídricos do país,
objetivando principalmente sua preservação, através da racionalização do uso e busca
de novas fontes para abastecimento.
Para organizar, dirigir e administrar o uso dos recursos hídricos, o governo
brasileiro, tanto na esfera federal como na estadual, se utiliza de legislações, normas,
órgãos públicos criados para esse fim, e conselhos deliberativos.
Neste contexto, o reuso de águas servidas está se tornando uma importante
ferramenta no gerenciamento dos recursos hídricos e de políticas ambientais, e já se
constitui em uma realidade na vida dos brasileiros.
Porém, para que o reuso de águas seja feito de forma segura, é imprescindível que
especificações legais para a qualidade da água sejam determinadas por órgãos
públicos, sejam estes nacionais, internacionais ou regionais (ESCALERA, 1995).
Estes padrões (físicos, químicos e microbiológicos) podem variar de acordo com as
características de cada localidade, mesmo dentro de um mesmo país (Rodrigo...).
Em todo o mundo, por exemplo, o reuso da água é praticado com base nas
recomendações da OMS e da EPA, mas mesmo entre estas organizações, há diferenças
quanto às orientações a serem seguidas: países onde as infecções parasitárias são
comuns, as recomendações da OMS para o reuso são menos restritivas do que as da
EPA, sendo dirigidas principalmente para a remoção de helmintos (SANTOS, 1993).
O Brasil ainda não possui uma posição oficial e legal dirigida ao reuso da água. O
que se tem praticado é a adoção de padrões internacionais ou orientações técnicas
produzidas por instituições privadas.
A falta de legislação específica, juntamente à desinformação científica, alimenta o
receio da aplicação desta alternativa, além de que a adaptação da técnica de reuso de
águas residuárias às condições e características brasileiras exige o desenvolvimento de
normas, diretrizes e padrões, com dados, para servirem de base, fornecidos por
resultados obtidos em projetos pilotos. Sem reconhecê-la como uma ação viável,
técnica e juridicamente, o mercado (industrial, agropecuário ou mesmo popular) não
se sente seguro para enfrentar eventuais problemas que possam vir a acontecer
(TELLES e COSTA, 2010).
113
Assim, neste capítulo, faremos um levantamento das legislações e normas
brasileiras relacionadas à conservação e gerenciamento dos recursos hídricos e à
prática do reuso de águas no Brasil.
6.1. A Política das Águas no Brasil.
Apesar de a água ser um recurso renovável através do ciclo hidrológico, a
consciência de sua escassez, seja nas atividades produtivas, agropastoris e até para o
abastecimento público, tem levado diversos países a considerarem os recursos hídricos
como não renováveis, institucionalizando e sistematizando políticas para sua utilização
e descarte.
Nesse sentido, a Conferência Internacional sobre Água e Desenvolvimento
Sustentável, realizada em março de 1998, elaborou a “Declaração de Paris”, a qual
afirma que “a água doce é tão essencial para o desenvolvimento sustentável como
para a vida”, e que “a água doce possui dimensões sociais, econômicas e ambientais
interdependentes e complementárias” concluindo pela indicação de políticas que
incluam ”a necessidade de um compromisso constante, principalmente político, e de
um amplo apoio da opinião pública, para garantir o desenvolvimento sustentável”
(MANCUSO et al., 2003).
O Brasil possui 12% de toda a água doce do planeta. Concentra as bacias do São
Francisco e do Paraná e cerca de 60% da bacia amazônica, além de várias outras. A par
disso, o volume de água por pessoa no Brasil é 19 vezes superior ao mínimo
estabelecido pela Organização das Nações Unidas – ONU, que é de 1.700 m³ por
habitante por ano, enquanto que no mundo, mais de 1 bilhão de pessoas não tem
acesso adequado à água.
Apesar da abundância de água no Brasil, ela não chega a todos na mesma
quantidade e regularidade. As características geográficas de cada região, mudanças na
vazão dos rios que abastecem as cidades, que ocorrem devido às variações climáticas
ao longo do ano, e o uso indiscriminado dos mananciais, tanto superficiais quanto
subterrâneos, afetam a disponibilidade de água.
Além desse fato, no Brasil, as regiões onde há grande demanda por água não são
aquelas em que há maior oferta deste bem.
A região Norte concentra 68,50% dos recursos hídricos e 6,98% da população
brasileira.
Já na região Sudeste, onde ocorre a maior parcela da população (42,65%), estão
disponíveis apenas 6,00% dos recursos hídricos do País. Este é o chamado “paradoxo
das águas do Brasil”, fato que pode ser visto na tabela 6.1.
Levando em conta esses fatos, e as perspectivas de escassez e degradação da
qualidade da água, coloca-se a necessidade de discussão e adoção do planejamento e
do manejo integrado dos recursos hídricos no Brasil. Conhecido como o “País das
águas”, o Brasil procura servir de exemplo na gestão e preservação deste bem
precioso.
114
Tabela 6.1- Distribuição dos recursos hídricos por região.
Até o advento da Constituição Federal de 1988, sempre se considerou a água um
bem inesgotável, passível de utilização abundante. Este pensamento, aliás, marcou a
utilização dos recursos ambientais no mundo até pouco mais da metade do século XX.
A natureza não tinha limites.
A consciência de que os recursos hídricos são finitos fez com que surgisse uma
legislação mais atenta, inicialmente com a própria Constituição Federal de 1988, e a
seguir com a Lei nº 9.433 de 8 de janeiro de 1997, chamada de “Lei das Águas”, que
instituiu a “Política Nacional de Recursos Hídricos” e criou o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos (Singreh).
Na Política Nacional de Recursos Hídricos, a água é considerada um recurso natural
limitado, um bem de domínio público e dotado de valor econômico, sendo a cobrança
pelo seu uso um poderoso instrumento de gestão, onde é aplicado o princípio do
poluidor-pagador, possibilitando a conscientização do usuário da importância da
conservação desse bem. Determina também que o montante arrecadado com a
cobrança pelo uso da água seja aplicado na bacia hidrográfica em que foi gerado
(SETTI, 2000).
A Lei das Águas, para melhorar a forma de tratar os problemas gerados pelos
conflitos de uso de água, fixou fundamentos, objetivos, diretrizes e instrumentos que
levam em consideração a orientação pública no processo de gerenciamento dos
recursos hídricos.
Nesse sentido, a gestão do uso da água se torna um processo descentralizado, de
modo que o Estado compartilha com os diversos segmentos da sociedade o processo
de tomada de decisões, buscando as melhores soluções para as necessidades
regionais, assegurando o acesso à água (MANCUSO et al., 2003).
.
6.2. O Reuso de Água na Legislação Brasileira.
O aumento da concentração populacional em áreas urbanas a partir da Revolução
industrial e a consequente demanda por água veio acompanhada da produção de
115
esgoto em níveis preocupantes. Para controlar a situação, em 1865 foi proposta na
Inglaterra a primeira legislação que previa o tratamento de esgoto, para evitar a
poluição dos rios, feita pela Royal Commission on Sewage Disposal in England, a qual
também levou em conta o reuso da água, sendo a primeira legislação a abordar tal
prática (EPA, 1980).
No Brasil ainda não existem normas e padrões específicos para regulamentar e
direcionar o reuso de águas residuárias, fato que se deve à falta de tradição quanto à
aplicação desta prática. A legislação apenas estabelece limites máximos de impurezas
para cada destino específico da água, chamados de “padrões de qualidade”, fixados
pela Resolução nº 20 do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, os quais
serão vistos adiante neste capítulo. Apesar de a Resolução definir padrões para o
lançamento de efluentes, as regras ali estabelecidas não satisfazem os problemas que
eventualmente surgem na prática do reuso de águas residuárias (ALMEIDA, 2011).
A Resolução CONAMA nº 357 de 2005 que dispõe sobre a classificação dos corpos
de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as
condições padrões de lançamento de efluentes, divide as águas em quatro classes e
estipula parâmetros de qualidade de acordo com estas classes, substituiu a Resolução
nº 20, porém ainda não tratou sobre o reuso (ALMEIDA, 2011).
Mas a Lei nº 6.938 de 1981, que instituiu a “Política Nacional do Meio Ambiente”,
estabelece como princípios norteadores das ações governamentais para o meio
ambiente “incentivos ao estudo e pesquisa de tecnologias orientadas para o uso
nacional e a proteção de recursos ambientais”, bem como a “racionalização do uso da
água” (art. 2º VI e II).
Entre os objetivos a serem alcançados na execução da política temos o
”desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso
racional dos recursos ambientais”. Essa Lei também especifica como instrumento a ser
utilizado para consecução dos objetivos da política e realização de seus princípios,
“incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação e absorção de
tecnologia para a melhoria da qualidade ambiental”.
Também nesse sentido, a Lei nº 9.433 de 1997, que instituiu a “Política Nacional dos
Recursos Hídricos”, estabelece a necessidade de racionalizar o uso da água como
forma de garantir o abastecimento futuro da população, como pode ser visto nos
artigos 2º, 7º e 19.
Desse modo, mesmo não havendo critérios nem legislações específicas para o reuso
da água, para o Brasil pode-se dizer que já existem ações que podem servir de base
para a elaboração de um aparato legal sobre o tema.
As leis referentes ao lançamento de esgotos e qualidade da água potável, assim
como a divisão da água em classes podem fornecer subsídios para a formulação de
normas e legislações adaptadas às características nacionais (ALMEIDA, 2011).
116
6.3. Leis e Normas Relacionadas à Água.
A seguir apresentaremos algumas Leis e normas que regulamentam o uso da água
no Brasil. Como visto acima, a maior parte das Leis tratam sobre políticas e proteção às
águas, e apenas algumas normas, portarias e resoluções abraçam o tema “reuso de
águas”, ainda que superficialmente.
6.3.1. Código de Águas de 1934.
A preocupação com os recursos hídricos que se observava na Europa no final do
século XIX, ainda que de modo incipiente, não se repetiu no Brasil. Aqui, antes da
Constituição do Império, aplicava-se o Alvará de 1804, que permitia o desvio dos rios
por particulares para usos industriais e agricultura, e muitos abusos foram cometidos
(LEITE, 2003).
A primeira legislação brasileira a abordar o uso da água foi o Código das Águas de
1934, instituído pelo Decreto Federal nº 24.643, o qual considerava a água um recurso
inesgotável, passível de utilização abundante. Os desvios das águas passaram a
depender da outorga de concessões, e não poderiam prejudicar a navegação. Também
definiu os tipos de água do Território Nacional, os critérios de aproveitamento e os
requisitos para derivação, e abordou a contaminação dos corpos d’água. Assegurava
também o uso gratuito dos rios e nascentes para as primeiras necessidades da vida, e
permitia a todos o uso das águas públicas, conformando-se com os regulamentos
administrativos. Previa a propriedade particular de corpos d’água, além de incentivar o
uso dos rios para produção de energia elétrica. Sua preocupação era maior com a
industrialização e o consequente consumo de energia elétrica, e menor com o
desequilíbrio hídrico e os conflitos relacionados à água, os quais eram considerados
mera questão de vizinhança (MIERZWA, 2002).
Este Código é considerado avançado para a época em que foi promulgado, porém,
atualmente, necessita de atualização para ser ajustado à Constituição Federal de 1988,
à Lei nº 9.433 de 8 de janeiro de 1997, além de de regulamentação de muitos de seus
aspectos (TELLES e COSTA, 2010).
6.3.2. Código Florestal Brasileiro de 1965.
O Código Florestal foi instituído em 1965 pela Lei 4.771. Ele previa que os locais com
vegetação ao redor de rios, lagos, lagoas ou reservatórios de água naturais ou
artificiais fossem considerados área de preservação permanente, demonstrando uma
preocupação com áreas cuja função ambiental era a preservação de recursos hídricos
e sua qualidade. Foi consideravelmente modificado pela Lei 7.803 de 1989 de modo a
dar maior proteção aos cursos e corpos d’água, através da preservação de vegetações
rurais e urbanas, perenizando assim suas águas.
117
6.3.3. Criação da “Política Nacional do Meio Ambiente” (Lei 6.983 de 1981).
Somente em 1981, com a instituição da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA)
pela Lei nº 6.983, e com a criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente, é que o
Brasil passou a contar com legislações e ordenamento institucional para tratar de
questões ambientais (ALMEIDA, 2011).
A PNMA estabeleceu como princípios norteadores das ações governamentais para o
meio ambiente:
- incentivos ao estudo e pesquisa de tecnologias orientadas para o uso nacional e a
proteção dos recursos ambientais;
- racionalização do uso da água (ANA, 2003).
A Lei elenca como objetivos a serem alcançados na execução da política:
- o desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso
racional dos recursos ambientais;
- a preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização
racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio
ecológico propício à vida (MANCUSO et al., 2003).
6.3.4. Constituição Federal de 1988.
Somente com a Constituição de 1988 é que surgiu a consciência de que os recursos
hídricos são finitos. Nesse contexto, elege como princípio maior a garantia a todos de
um meio ambiente ecologicamente equilibrado, determinando ao poder público o
dever de preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e ecossistemas (art. 225, caput e § 1º, I).
A água tem presença indispensável em processos ecológicos essenciais e
participação inafastável no manejo de espécimes e ecossistemas (MANCUSO et al.,
2003).
De acordo com a Constituição, compete à União legislar e instituir um sistema
nacional para gerenciar os recursos hídricos, cujos direitos constitucionais serão
divididos com os estados e municípios onde os cursos d’água se encontram (ALMEIDA,
2011).
A Constituição Federal também instituiu a Política Nacional dos Recursos Hídricos
(PNRH), através da Lei nº 9.433 de 1997. (ver art. 20, III e VIII e art 26,I)
6.3.5. A Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433 de 1997).
A Política Nacional dos Recursos Hídricos foi instituída pela Lei nº 9.433 de 8 de
janeiro de 1997, também conhecida como “Lei das Águas”, e fixa fundamentos,
objetivos diretrizes e instrumentos, que levam em consideração a posição e opinião
pública no processo de gerenciamento dos recursos hídricos (MANCUSO et al., 2003).
Esta Lei lança também os fundamentos da “Política Nacional dos Recursos
Hídricos”, que são:
- A água é um bem público, não podendo ser privatizada.
118
- A água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico.
- Em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo
humano e a dessedentação dos animais.
- A gestão dos recursos hídricos deve se basear em usos múltiplos (abastecimento,
energia, irrigação, indústria, etc.)
- A bacia hidrográfica é a unidade territorial básica, determinando a área de atuação
da política e gerenciamento dos recursos hídricos.
Segundo Telles, a regulamentação desta Lei pretende instituir a cobrança pelo
líquido em si, até então gratuito. Atualmente, no Brasil, os locais onde existe um
sistema de abastecimento de água implantado, a população recebe água com custo
referente ao seu tratamento (potabilização) e sua distribuição, ou seja, não é cobrado
o valor da própria água, uma vez que ela é considerada pela legislação um bem
público. Assim, a água passará a ser um bem público, dotado de valor econômico, o
que consiste em uma novidade legislativa.
Os governos estaduais começarão a cobrar pela água em estado bruto, captada
tanto na superfície como em poços artesianos, sendo que a água retirada de poços
rasos não será cobrada (TELLES e COSTA, 2010).
A cobrança pelo uso da água é aplicada de modo a valorizá-la, o que estimula a
conscientização da necessidade de preservação desse recurso, evitando o desperdício,
representando um dos instrumentos mais contundentes, auxiliando no equilíbrio entre
a oferta e a demanda na bacia hidrográfica (BORGES, 2003).
Além da cobrança pelo uso da água, outro instrumento importante instituído pela
Lei das Águas para a gestão hídrica é a outorga para o uso da água. Essa outorga
consiste em uma permissão dada pelo poder público a um determinado usuário da
água pelo seu uso, permitindo controlar a quantidade e a qualidade dos recursos
hídricos disponíveis, bem como garantir uma distribuição uniforme a todos os
usuários.
Os casos em que há necessidade de outorga são:
- derivação ou captação em um corpo de água para consumo final, inclusive
abastecimento público, ou insumo em processo produtivo;
- extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo em
processo produtivo;
- lançamento em corpo d’água de esgotos e demais resíduos, líquidos ou gasosos,
tratados ou não, para diluição, transporte ou disposição final;
- aproveitamento de potenciais hidroelétricos;
- outros usos que alterem o regime, a quantidade e qualidade da água existente em
corpos d’água (MANCUSO et al., 2003).
A importância da outorga para o tema do reuso da água está no fato de que a
implantação do reuso direto no processo produtivo independe de qualquer
autorização por parte do poder público, uma vez que o reuso não se enquadra em
nenhuma hipótese legal desse tipo de concessão (MANCUSO et al., 2003).
119
Além disso, a Lei prevê para cada bacia hidrográfica a criação de um comitê com
representantes federais, estaduais e municipais para administrar e fiscalizar a cobrança
deste recurso. As regras para a cobrança ficarão a cargo da Agência Nacional de Águas
(ANA), criada através do Projeto de Lei nº 1.617 de 1999, atrelada à Lei Federal nº
9.433 de 1997 (TELLES e COSTA, 2010).
A Lei das Águas apresenta fundamentação legal para a racionalização do uso da
água e requisitos jurídicos para o reuso da água, o qual se constitui uma alternativa
viável para a preservação ambiental. Com esta Lei, a legislação brasileira passou a ser
considerada uma das mais modernas quanto ao planejamento do uso dos recursos
hídricos, destacando-se também pelo envolvimento de entidades da sociedade civil na
gestão das águas. Foram criados mais de 130 Comitês de Bacia em todo Brasil, além de
22 Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos (GOCKEL, 2007).
Ao instituir os fundamentos da gestão dos recursos hídricos, a Lei das Águas
favoreceu a prática do reuso da água como uma forma de utilização racional da água e
preservação ambiental, que associado à aplicação de tecnologia própria, diminuiria o
problema da escassez da água (ALMEIDA, 2011).
6.3.6. ABNT NBR 15.527 de 2007.
A norma brasileira ABNT NBR 15.527 de 2007 (Água de chuva – Aproveitamento de
coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis) fornece os requisitos para o
aproveitamento da água de chuva de coberturas para fins não potáveis, como
descargas em bacias sanitárias, irrigação de gramados, lavagem de veículos, limpeza de
calçadas e pisos, etc.
Inicia-se com definições de termos usados no aproveitamento de águas pluviais.
Indica as normas da ABNT correlatas e a seguir trata dos aspectos técnicos do projeto
de aproveitamento de águas pluviais. No item 4.5.1 há uma tabela que contém os
parâmetros de qualidade de água de chuva para usos restritivos não potáveis (NBR
15.527, 2007).
6.3.7. Portaria nº 2.914 de 2011 do Ministério da Saúde.
A Portaria nº 2.914/2011 do MS dispõe sobre os procedimentos de controle e de
vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade,
aplicando-se à água destinada ao consumo humano proveniente de sistema e solução
alternativa de abastecimento de água.
Trata-se da quinta versão da norma brasileira de qualidade da água para consumo
desde 1977. Substituiu a Portaria nº 518/2004 buscando uma atualização em termos
de tratamento, controle e vigilância da qualidade da água e de avaliação de risco a
saúde.
Esta Portaria começa com definições de termos, em seguida dispõe sobre
distribuição de competências entre diversos órgãos. No seu capítulo V trata dos
padrões de potabilidade e em seus anexos podemos encontrar tabelas contendo os
120
valores do padrão microbiológico, padrão de turbidez, o tempo de contato mínimo
para desinfecção e padrões de potabilidade para substâncias químicas que
representam risco à saúde.
A quantidade de substâncias químicas e as características da água regulamentadas
passaram de 74, na Portaria 518/2004, para 87, na Portaria 2.914/2011. São
necessários 19 métodos de ensaios para atender as exigências desta Portaria.
As principais polêmicas foram quanto à proibição do uso de algicidas em mananciais
para controlar a proliferação de cianobactérias, a redução da turbidez na saída da água
do tratamento, de 1 uT para 0,5 uT e a inclusão e exclusão de algumas substâncias
químicas.
6.3.8. Resolução nº 54 de 28 de novembro de 2005 do CNRH.
Esta Resolução estabelece modalidades, diretrizes e critérios gerais para
regulamentar e estimular a prática de reuso direto não potável de água em todo o
território nacional.
Segundo a Resolução nº 54 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos – CNRH, o
reuso da água constitui-se em prática de racionalização e de conservação de recursos
hídricos, conforme princípios estabelecidos na agenda 21.
Além disso, o reuso reduz a descarga de poluentes em corpos receptores, conserva
a água para o abastecimento urbano e outros usos mais exigentes em relação à
qualidade, reduz os custos relacionados à poluição e contribui para a proteção ao meio
ambiente e à saúde pública.
O artigo 2º da Resolução nº 54 do CNRH possui as seguintes definições sobre reuso
da água: I - água residuária: esgoto, água descartada, efluentes líquidos de edificações, indústrias, agroindústrias e agropecuária, tratados ou não; II - reuso de água: utilização de água residuária; III - água de reuso: água residuária, que se encontra dentro dos padrões exigidos para sua utilização nas modalidades pretendidas; IV - reuso direto de água: uso planejado de água de reuso, conduzida ao local de utilização, sem lançamento ou diluição prévia em corpos hídricos superficiais ou subterrâneos; V - produtor de água de reuso: pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, que produz água de reuso; VI - distribuidor de água de reuso: pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, que distribui água de reuso; e VII - usuário de água de reuso: pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, que utiliza água de reuso.
No artigo 3º encontramos as modalidades de reuso:
I - reuso para fins urbanos: utilização de água de reuso para fins de irrigação paisagística, lavagem de logradouros públicos e veículos, desobstrução de tubulações, construção civil, edificações, combate a incêndio, dentro da área urbana; II - reuso para fins agrícolas e florestais: aplicação de água de reuso para produção agrícola e cultivo de florestas plantadas;
121
III - reuso para fins ambientais: utilização de água de reuso para implantação de projetos de recuperação do meio ambiente; IV - reuso para fins industriais: utilização de água de reuso em processos, atividades e operações industriais; e, V - reuso na aquicultura: utilização de água de reuso para a criação de animais ou cultivo de vegetais aquáticos. § 1º As modalidades de reuso não são mutuamente excludentes, podendo mais de uma delas ser empregada simultaneamente em uma mesma área. § 2º As diretrizes, critérios e parâmetros específicos para as modalidades de reuso definidas nos incisos deste artigo serão estabelecidos pelos órgãos competentes
Esta Resolução não exime o produtor, o distribuidor e o usuário da água de reuso direto
não potável da respectiva licença ambiental, quando exigida.
6.3.9. Resolução nº 357 de 17 de março de 2005 do CONAMA.
Importante fator para a política de recursos hídricos e para o reuso da água é a
classificação das águas, porque, se o reuso é o reaproveitamento de águas já utilizadas,
qualquer utilização que não seja primária constitui reuso. Assim, classes inferiores de
água podem ser chamadas de água para reuso. Além disso, se as águas comportam
classes definidas segundo os usos preponderantes, se leva em consideração o reuso
para estabelecer classes (MANCUSO et al., 2003).
A classificação dos corpos de água no Brasil é estabelecida pela Resolução CONAMA
nº 357 de 2005, que dispõe “sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes
ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões
de lançamento de efluentes”. As águas são divididas em três categorias mais gerais:
doces, salinas e salobras. Estas por sua vez são divididas em nove classes: cinco para as
águas doces (classe especial, 1, 2, 3 e 4); duas para as águas salinas (classes 5 e 6); e
duas para as águas salobras (classes 7 e 8) (MANCUSO et al., 2003).
Neste trabalho consideraremos apenas as águas doces e suas cinco classes.
A única das cinco classes em que se dividem as águas doces que não são indicadas
para o reuso é a Classe Especial, que são reservadas para o uso primário inicial,
destinadas ao abastecimento doméstico com simples desinfecção, bem como à
preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas. São as águas naturais,
encontradas em corpos d’água, ainda não utilizadas. Nessas águas não são tolerados
lançamentos de águas residuárias, esgotos e outros contaminantes, mesmo tratados
(MANCUSO et al., 2003).
As classes de água doce contidas nesta Resolução já indicam os usos
preponderantes, definindo o reuso indireto. São elas:
- Classe 1: para abastecimento doméstico após tratamento simplificado (reuso potável
indireto), proteção de comunidades aquáticas, recreação de contato primário (reuso
recreacional), reuso agrícola e aquicultura.
- Classe2: para abastecimento doméstico após tratamento convencional (reuso potável
indireto), proteção de comunidades aquáticas, recreação de contato primário (reuso
recreacional), reuso agrícola e aquicultura.
122
- Classe 3: para abastecimento doméstico após tratamento convencional (reuso
potável indireto), reuso agrícola e dessentação de animais.
- Classe 4: para a navegação, harmonia paisagística e para usos menos exigentes.
Os parâmetros físico-químicos para cada Classe podem ser vistos na própria
Resolução.
6.4. Legislação Relacionada ao Aproveitamento de Águas de Chuva.
Segundo Telles, mesmo existindo diversas experiências de reuso de águas pluviais
no Brasil, ainda não foram elaboradas normas específicas sobre este tema.
O Decreto nº 12.342 de 27 de setembro de 1978 (Código Sanitário do Estado de São
Paulo), em seu artigo 12, diz:
Artigo 12 – Não será permitida:
III – a interconexão de tubulações ligadas diretamente a sistemas públicos com
tubulações que contenham águas provenientes de outras fontes de abastecimento.
O artigo 12, item III, ressalta que o sistema não potável resultante de águas pluviais
não deve ser misturado ao sistema de água potável.
Já o artigo 19 diz:
Artigo 19 – É expressamente proibida a introdução direta ou indireta de águas
pluviais ou resultantes de drenagem nos ramais prediais de esgotos.
Este artigo determina que não se pode introduzir águas pluviais nas redes de
esgotos. O aproveitamento de parte das águas pluviais em água não potável não
impede o lançamento em esgotos sanitários.
Quando a água pluvial é usada no sistema de reuso, os esgotos resultantes são
classificados como esgotos sanitários, podendo ser lançados nas redes públicas (TELLES
e COSTA, 2010).
6.5. Considerações sobre a Legislação Brasileira sobre Reuso de Água.
O reuso de águas cinzas e águas pluviais é importante por conservar os recursos
hídricos e diminuir a poluição do meio ambiente, além disso, a economia da água
potável influencia na redução dos custos tarifários para o comércio, indústrias e
residências.
Apesar disso, percebemos que a legislação brasileira relacionada ao reuso da água
cinza ainda é incipiente, e no caso de reuso de água pluvial, não se tem conhecimento
de normas específicas, embora já seja objeto de diversas experiências em vários
lugares do Brasil.
Faz-se necessária, portanto, a criação de normas para regulamentar o reuso de
águas servidas, a fixação de padrões de qualidade e a criação de legislação específica
para que o reuso não se transforme em outro problema, como, por exemplo, fonte de
disseminação de doenças.
Nesse sentido, o governo brasileiro deve iniciar a gestão de bases políticas, legais e
institucionais para reuso, tanto em relação aos aspectos ligados ao uso de afluentes
123
como aos planos, estaduais ou federais, de recursos hídricos. Linhas de
responsabilidade e princípios de alocação de custos devem ser estabelecidos entre os
diversos setores, quais sejam, companhias de coleta e tratamento de esgotos,
beneficiários dos sistemas de reuso, e o Estado ao qual compete o suprimento
adequado de água, a proteção do ambiente e da saúde pública, e para assegurar a
sustentabilidade, deve ser dada atenção adequada aos aspectos organizacionais,
educacionais e socioculturais do reuso (HESPANHOL, 2002).
124
CAPÍTULO 7
7. Selos de Certificação para Construções Sustentáveis.
A questão da sustentabilidade num mundo com escassez crescente de recursos
naturais tem incentivado mudanças na indústria da construção civil no sentido de uma
adequação a essa realidade. Assim, em vários países foram desenvolvidos sistemas de
certificação ambiental de edifícios, também chamados “selos verdes”, para tratar de
questões como o consumo de recursos naturais e impactos ao meio ambiente, através
da avaliação criteriosa de edificações.
De acordo com o World Resources Institute (WRI)¹³, existem aproximadamente 340
selos verdes que certificam produtos e serviços espalhados por aproximadamente 42
países no mundo (WRI, 2014).
Neste capítulo são apresentados alguns dos selos mais conhecidos na indústria da
construção civil e suas atuações referentes à conservação da água.
7.1. O Certificado LEED, da Green Building Council.
LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) é um sistema internacional
de certificação e orientação ambiental para edificações, concebida e concedida pela
organização não governamental americana U.S. Green Building Council (USGBC), e
utilizada em 143 países, objetivando incentivar a transformação dos projetos, a
construção e a operação das edificações, sempre com foco na sustentabilidade.
Fig. 7.1 – Selo LEED .
A certificação LEED iniciou-se em 1998 e atualmente já integra 14 mil projetos no
mundo, já certificados ou em fase de aprovação.
É a certificação de sustentabilidade mais conhecida no Brasil, onde está presente
desde 2007, representada pelo GBC Brasil. O Brasil ocupa a quarta posição entre os
países com maior número de certificações, abaixo apenas dos Estados Unidos,
Emirados Árabes Unidos e China. Esta posição foi alcançada em 2012, com 50 prédios
certificados e mais de 500 em processo de certificação.
____________________
¹³ O World Resources Institute (WRI) é uma organização não governamental ambiental fundada em
1982 e sediada em Washington, DC, EUA. Possui mais de 100 profissionais que desenvolvem e
promovem políticas para proteger a Terra que giram em torno de quatro temas: clima, energia e
transporte; transparência dos governos; mercado e empreendimentos; gente e ecossistema (WRI,
2014).
125
O GBC Brasil disponibiliza as seguintes categoriqas de LEED:
- LEED NC – Novas construções e grandes projetos de renovação;
- LEED ND – Desenvolvimento de bairro (localidades);
- LEED CS – Projetos da envoltória e parte central do edifício;
- LEED Retail NC e CI – Lojas de varejo;
- LEED Healthcare – Unidades de saúde;
- LEED EB_OM – Operação de manutenção de edifícios existentes;
- LEED Schools – Escolas;
- LEED CI – Projetos de interiores e edifícios comerciais (CONSTRUIR SUSTENTÁVEL,
2014).
Para o empreendimento ser certificado pelo selo LEED Certificação LEED, deve
observar os pré-requisitos e obter os créditos constantes nas seguintes categorias:
Sustentabilidade do Espaço, Racionalização do Uso da Água, Eficiência Energética,
Qualidade Ambiental Interna, Materiais e Recursos, Inovação e Processos de Projeto e
Créditos Regionais. Com o atendimento dos pré-requisitos, o projeto ganha créditos,
cuja pontuação varia de acordo com a categoria a ser atendida. A totalização dos
pontos necessários dá direito à certificação.
Segundo o GBC Brasil, a certificação LEED trás benefícios econômicos, sociais e
ambientais para o empreendimento, relacionados a seguir:
Econômicos
- Diminuição dos custos operacionais
- Diminuição dos riscos regulatórios
- Valorização do imóvel para revenda ou arrendamento
- Aumento na velocidade de ocupação
- Aumento da retenção
- Modernização e menor obsolescência da edificação
Sociais
- Melhora na segurança e priorização da saúde dos trabalhadores e ocupantes;
- Inclusão social e aumento do senso de comunidade;
- Capacitação profissional;
- Conscientização de trabalhadores e usuários
- Aumento da produtividade do funcionário; melhora na recuperação de pacientes (em
Hospitais); melhora no desempenho de alunos (em Escolas); aumento no ímpeto de
compra de consumidores (em Comércios);
- Incentivo aos fornecedores com maiores responsabilidades socioambientais;
- Aumento da satisfação e bem estar dos usuários;
- Estímulo a políticas públicas de fomento a Construção Sustentável.
Ambientais
- Uso racional e redução da extração dos recursos naturais;
- Redução do consumo de água e energia;
- Implantação consciente e ordenada;
126
- Mitigação dos efeitos das mudanças climáticas;
- Uso de materiais e tecnologias de baixo impacto ambiental;
- Redução, tratamento e reuso dos resíduos da construção e operação.
Para o nosso trabalho, interessa os pré-requisitos referentes à subcategoria
“racionalização no uso da água”.
Segundo GBC Brasil, um dos objetivos do certificado LEED é “estabelecer um nível
mínimo de eficiência do consumo de água potável, ou de outros recursos naturais,
como águas de superfície, de lençol freático e subterrâneas, para uso no
empreendimento, a fim de reduzir a geração de efluentes, demanda por água potável
e consequentemente a sobrecarga nas redes públicas de coleta e transporte de águas
pluviais e esgoto” (Comitê LEED – Uso Racional de Água).
A fim de desenvolver mecanismos para reduzir a geração de efluentes e demanda
de água potável, o empreendimento deve atender pelo menos dois créditos
relacionados a esse tema – uso racional da água. Para o atendimento, deverão ser
considerados créditos de objetivos distintos:
- Uso racional de água no paisagismo;
- Tecnologias inovadoras para águas servidas;
- Redução do consumo de água.
As reduções podem ser atribuídas à combinação dos seguintes mecanismos:
- Aproveitamento de água pluvial;
- Reuso de águas residuárias;
- Uso de água tratada e distribuída pela concessionária pública para fins não-potáveis;
- Tecnologias economizadoras;
- Sistemas eficientes de irrigação;
- Paisagismo com baixo consumo de água.
Portanto, o aproveitamento de água pluvial e reuso de águas residuárias são temas
de grande importância para obter créditos na certificação LEED (GBCBRASIL, 2012).
7.2. O Certificado AQUA.
Fig. 7.2 – Selo AQUA - www.construirsustentavel.com.br
O Processo AQUA é um Processo de Gestão Total do Projeto para obter a Alta
Qualidade Ambiental do seu Empreendimento de Construção. Essa qualidade é
127
demonstrada para seus clientes, investidores e demais partes interessadas por meio da
certificação.
A certificação e a marca Processo AQUA são concedidas pela Fundação Vanzolini,
com base em auditorias presenciais independentes.
A Certificação de Construção Sustentável - Processo AQUA demonstra, de forma
inegável e inequívoca, a Alta Qualidade Ambiental do Empreendimento, provada por
meio de auditorias independentes.
Os benefícios de um Empreendimento Certificado Processo AQUA são:
-Qualidade de vida do usuário;
-Economia de água;
-Energia;
-Disposição de resíduos e manutenção;
-Contribuição para o desenvolvimento sócio-econômico-ambiental da região.
Para obter a certificação o empreendedor da construção deve estabelecer o
controle total do projeto em todas as suas fases:
-Programa;
-Concepção (Projeto);
-Realização (Obra);
-Operação (Uso).
Por meio do Sistema de Gestão do Empreendimento (SGE), para que sejam
atendidos os critérios de desempenho da Qualidade Ambiental do Edifício (QAE).
A certificação é concedida ao final de cada fase, mediante verificação de
atendimento ao Referencial Técnico.
O Referencial Técnico - Processo AQUA é a adaptação para o Brasil da "Démarche
HQE", da França e contém os requisitos para o Sistema de Gestão do Empreendimento
(SGE) e os critérios de desempenho nas categorias da Qualidade Ambiental do Edifício
(QAE).
Os requisitos do SGE exigem o comprometimento com o perfil de QAE visado e
acompanhamento, análise e avaliação da QAE ao longo do empreendimento, entre
outros. Os critérios de desempenho do QAE abordam a eco construção, a eco gestão e
a criação de condições de conforto e saúde para o usuário (FCAV, 2007).
7.3. O Selo BREEAM.
Fig. 7.3 – Selo Breeam.
128
Segundo Construir Sustentável, BREEAM é uma sigla em inglês para ''Método de
Avaliação Ambiental do Building Research Establishment''. É a principal e mais utilizada
ferramenta de avaliação ambiental de edifícios no Reino Unido e no mundo. Possui
mais de 250.000 edifícios certificados e em torno de um milhão em fase de
certificação, em mais de 50 países.
Foi desenvolvido em 1990 e tem seus requisitos atualizados regularmente. Avalia
edifícios com base em critérios voltados ao bem-estar ambiental, atribuindo-lhes uma
pontuação. Os resultados finais de avaliação variam entre Aprovado, Bom, Muito Bom,
Ótimo e Excelente.
O BREEAM analisa nas fases de concepção e construção 10 aspectos do impacto
ambiental da construção, que são:
- Gestão da construção;
- Consumo de Energia;
- Consumo de Água;
- Contaminação;
- Materiais;
- Saúde e Bem-estar;
- Transporte;
- Gestão de Resíduos;
- Uso do terreno e ecologia;
- Inovação.
O BREEAM aborda questões ambientais e de sustentabilidade usando um sistema
de pontuação simples. O número total de créditos ganho para cada aspectos do
impacto ambiental da construção é multiplicado por um fator de peso ambiental
específico para cada região do mundo.
As classificações dentro da certificação LEED é baseada no sistema de comparação
da performance ambiental entre um edifício e outro e pela soma de créditos.
Os quatro níveis de certificação e pontuação correspondentes são:
-Certified (40-49créditos);
-Silver (50-59créditos);
-Gold (60-79créditos);
-Platinum (80 + créditos).
O BREEAM é um esquema de avaliação independente, reconhecido
internacionalmente e adaptado às melhores práticas e novas tendências na construção
europeia, oferecendo:
- Reconhecimento no mercado de edifícios com baixo impacto ambiental;
- A inspiração para encontrar soluções inovadoras que minimizem o impacto;
- Referências mais rigorosas do que as normativas (CONSTRUI SUSTENTÁVEL, 2014).
129
7.4. O Selo Casa Azul CAIXA, da Caixa Econômica Federal.
O Selo Casa Azul CAIXA procura incentivar o uso racional de recursos naturais na
construção civil e a redução do custo de manutenção, assim como promover a
conscientização de empreendedores e usuários das vantagens das construções
sustentáveis.
Fig. 7.4 – Selo Casa Azul CAIXA .
O selo avalia os projetos de empreendimentos imobiliários a partir de critérios
vinculados aos seguintes temas: qualidade urbana, projeto e conforto, eficiência
energética, conservação de recursos materiais, gestão da água e práticas sociais.
Os critérios de avaliação propostos para a categoria “gestão da água” encontram-se
especificados abaixo:
1- Medição individualizada – água (obrigatório);
2- Dispositivos economizadores – bacia sanitária (obrigatório);
3- Dispositivos economizadores – arejadores;
4- Dispositivos economizadores – registros reguladores de vazão;
5- Aproveitamento de águas pluviais;
6- Retenção de águas pluviais;
7- Infiltração de águas pluviais;
8- Áreas permeáveis (obrigatório).
O critério “aproveitamento de águas pluviais” tem como objetivo reduzir o consumo
de água potável para determinados usos, tais como em bacia sanitária, irrigação de
áreas verdes, lavagem de pisos, lavagem de veículos e espelhos d’água, e usa como
indicador a existência de sistema de aproveitamento de águas pluviais independente
do sistema de abastecimento de água potável para coleta, armazenamento,
tratamento e distribuição de água não potável, com monitoramento, de forma a evitar
riscos para a saúde.
O sistema deverá apresentar redução mínima de 10% no consumo de água potável
e deverá conter:
- Projeto do sistema de captação, reserva e distribuição, com a descrição do sistema de
tratamento.
- Memorial de cálculo do aproveitamento da água pluvial e capacidade do
reservatório.
130
- Projeto de comunicação visual (cores diferenciadas de tubulações, avisos nos pontos
de utilização).
- Manual de uso e operação.
- Inclusão de toda a documentação técnica (projetos, memorial descritivo com as
especificações técnicas, planilha orçamentária e cronograma), em conformidade com a
NBR 15527.
Devem ser observadas as limitações técnicas para a implantação do sistema, tais como
o regime pluviométrico (intensidade e distribuição de chuvas durante o ano) ou a
superfície de coleta (CEF, 2010).
7.5. Considerações sobre os Selos de Certificação para Construções Sustentáveis.
Nas últimas décadas, o Brasil presenciou uma grande expansão na indústria da
construção civil, e junto a isso há uma preocupação, tanto da sociedade como das
construtoras que a gestão da sustentabilidade é a única forma para este ciclo se
manter.
Mas incorporar a sustentabilidade nos projetos dos empreendimentos imobiliários
gera um custo, que pode ser amenizado com a aceitação pelo usuário dos benefícios
ambientais e econômicos gerados com esta prática.
Na União Europeia os edifícios são responsáveis por 40% das emissões de dióxido
de carbono (CO2) e 35% do consumo de matérias-primas (HENRIQUES, 2008). Em
resposta a esta realidade, são necessários investimentos para que a eficiência
energética e responsabilidade ambiental atinjam novos níveis, produzindo paradigmas
transformem o mercado imobiliário. Investir em edificação sustentável é hoje uma
obrigação para as empresas. Porém, construções sustentáveis são significativamente
mais dispendiosas, exigindo um projeto cuidadoso e detalhado.
Os selos de certificação de sustentabilidade de edifícios atestam este desempenho,
e a observância dos seus requisitos leva a uma melhora na gestão da obra, à redução
do consumo e da perda de materiais, além de ser um importante fator de
comunicação com o usuário, pois atesta o desempenho ambiental.
Verificamos que existem vários selos de certificação da sustentabilidade de
edificações, alguns com metodologia desenvolvida no exterior, como o BREAM, da
Inglaterra, o LEED e o WaterSense, ambos dos Estados Unidos, e outros desenvolvidos
no Brasil, como o selo Casa Azul CAIXA e o processo AQUA (ainda que este último seja
uma adequação para o contexto brasileiro do “Referencial Técnico de Certificação
francês Bâtiments Tertiaires– Démarche HQE®”, elaborado por Certivéa).
Porém, com a grande quantidade de certificações ambientais disponíveis, torna-se
necessário possuir critérios que ajudem nas comparações entre as diversas opções.
Uma das questões que surgem ao tratarmos da escolha da certificação mais
adequada é o fato de que a realidade dos países onde foram desenvolvidos os selos
estrangeiros é diferente da realidade brasileira. Em outras palavras, um selo verde
desenvolvido para a realidade brasileira tem melhor desempenho aqui do que um selo
131
estrangeiro? Esta questão é importante, e para respondê-la as metodologias dos
diversos selos para conceder a certificação devem ser comparadas de forma criteriosa,
de modo a produzir o conhecimento necessário para decidir qual selo é mais
apropriado para uso no Brasil.
Outros fatores que podem ser usados no processo de decisão sobre a escolha do
selo são: o custo da certificação, a facilidade de se obter o selo, a economia de
recursos ambientais alcançadas com o processo de certificação e uma avaliação feita
pelos usuários da edificação certificada.
132
CAPÍTULO 8
CONCLUSÃO
Baseando-se nas hipóteses formuladas, nos objetivos de pesquisa propostos e nos
resultados obtidos com o estudo de caso, chegamos às seguintes conclusões:
O reuso de águas cinzas e águas pluviais em edifícios é uma prática ambientalmente
correta, diminui o consumo de água potável, permite a conservação dos recursos
hídricos e ajuda na prevenção de enchentes.
A experiência internacional tem mostrado que os sistemas de reuso de água são
tecnicamente viáveis e seguros, mas para que haja a implantação de um programa de
reuso de água em grande escala, o fator mais importante é a sua aceitação pelo
público.
O fato de que no Brasil a água de diluição está se tornando cada vez mais escassa
tem contribuído para que haja uma conscientização da população de que a adoção de
fontes alternativas de água produz um impacto benéfico no meio-ambiente.
Os problemas relacionados à escassez de água conduzem ao desenvolvimento de
técnicas que possibilitem aprimorar o atual estágio de desenvolvimento em que nos
encontramos.
Nesse sentido, a técnica do reuso da água constitui-se em uma importante
ferramenta que pode ser usada para o gerenciamento de águas e efluentes,
principalmente para o Estado de São Paulo, que atualmente se encontra em situação
mais crítica que os demais estados do país.
Programas de educação ambiental que mostrem os benefícios da adoção da prática
do reuso de água, como o fato de que o sistema de reuso diminui o custo de aquisição
de água potável de concessionária e de que a captação de águas pluviais pode diminuir
o risco de inundações em cidades com grandes áreas impermeabilizadas, também
podem ajudar em sua difusão.
Além dos benefícios que o reuso da água produz em relação à preservação dos
mananciais, ele também é usado como um fator mercadológico, no sentido de que o
edifício cujo projeto incorpora a sustentabilidade torna-se mais atrativo para o
consumidor, que está cada vez mais preocupado com a preservação dos recursos
ambientais.
Porém, existem limitações associadas à prática de reuso de água residuária que
influenciam na sua aceitação pela população, como, por exemplo, o custo de sua
implantação (que em alguns casos pode levar alguns anos para ser amortizado), o fato
de que o sistema pode produzir mau cheiro, o aspecto turvo da água a ser reutilizada e
o baixo custo da água obtida de concessionárias no Brasil, em comparação com outros
países.
No caso de reuso de água pluvial, apesar de ser um método simples e de baixo
custo, a oferta de sua água depende de fatores meteorológicos, o que leva em
algumas regiões a certa incerteza em sua disponibilidade.
133
Para contornar todas estas dificuldades, é imprescindível a atuação do governo
objetivando a implantação do sistema de reuso de água em grande escala em uma
região, ou mesmo no país.
Para tanto, é importante que haja articulação política entre as esferas de governo
federal e estadual, no sentido de se adotarem políticas que possibilitem a
administração, fiscalização e elaboração de estratégias, de modo a proteger os
recursos hídricos através de um processo legislativo que, além disso, também promova
o reuso de água.
Nesse sentido, as empresas de saneamento básico devem fornecer água de
qualidade, coletar e tratar o esgoto e atuar conjuntamente e em harmonia com os
órgãos responsáveis pelo ordenamento e controle do uso e ocupação do solo.
Outro caminho que pode ser apontado é a disponibilização e compartilhamento de
informações e dados de todos os tipos relacionados à qualidade da água e à sua
disponibilidade. Se a população tem acesso a informações transparentes, a discussão
sobre o assunto se torna mais democrática, mais técnica e menos política.
A importância do tema deste trabalho, que é o reuso de água em edifícios
residenciais, torna-se evidente quando observamos o esgotamento dos reservatórios
de água que abastecem as grandes cidades e a destinação de suas águas. A
porcentagem da água destes reservatórios utilizada pela agricultura é de apenas 3%, a
indústria consome 17%, e para o uso urbano vão 80%, dos quais grande parte é
destinada ao abastecimento de residências.
Leis que tenham como finalidade aumentar a quantidade de edificações residenciais
novas que já incorporem o reuso de água em seus projetos são importantes para a
assimilação dessa prática pela sociedade.
Incentivos como redução de impostos e tarifas para construções que tenham o
reuso de água também são boas soluções, assim como programas de financiamento
para implantação desse sistema em edificações residenciais existentes.
Mas, para que isso ocorra, é importante que haja elaboração de Leis e normas
técnicas relacionadas ao reuso, que, no caso do Brasil, ainda são muito escassas, visto
que muitas empresas que procuram investir em reuso de água em seus
empreendimentos encontram dificuldades com a falta de normas técnicas. Existem
apenas três normas que tratam do reuso da água no Brasil com abrangência nacional:
as normas ABNT NBR 13.969/1997 e NBR 15.527/2007, e a Resolução CNRH
nº54/2005.
As normas técnicas também são importante ferramenta para que os projetos de
reuso de água implantados obedeçam a uma padronização, o que facilita a geração de
mão de obra especializada e a elaboração de sistemas mais eficientes, contribuindo
desse modo para a sua aceitação pela população.
O reuso da água cinza em âmbito residencial deve se restringir somente a usos não
potáveis, pois há risco elevado no seu consumo para a saúde dos usuários, devido a
134
fatores como controle e manutenção do sistema de reuso normalmente deficiente,
falta de preparo do usuário e ausência de fiscalização por órgãos públicos.
Além disso, a implantação de sistema de reuso de água para fins potáveis em
residências ou condomínios tem um custo elevado, o que torna o sistema
praticamente inviável.
Para tornar a prática do reuso de água mais segura, deve-se prever medidas como
evitar conexões cruzadas com instalações de água potável de concessionária, prevenir
usos inadequados da água de reuso através de identificação e avisos visíveis,
monitorar a qualidade da água utilizada e fazer manutenção adequada.
Devemos mudar alguns hábitos e percepções em relação à água. Nós acreditamos
que o Brasil tem água em abundância e que ela nunca faltará.
Precisamos rever a atitude de descaso em relação ao desperdício de água, como se
fosse um recurso ilimitado, e criarmos uma cultura que exija um melhor desempenho
dos governos, da sociedade organizada, das ações públicas e privadas, promotoras do
desenvolvimento econômico para o eficiente gerenciamento e proteção dos recursos
hídricos.
O problema da falta de água só pode ser resolvido em longo prazo. Portanto não é
trabalho de um só partido político ou de um só governo, é uma ação que precisa ter
continuidade, e o mais importante, deve envolver toda a sociedade.
135
ANEXOS
Anexo 1 – Resolução nº 54 de 28 de novembro de 2005, do Conselho Nacional de
Recursos Hídricos – CNRH.
RESOLUÇÃO Nº. 54, DE 28 DE NOVEMBRO DE 2005 – Estabelece critérios gerais para
reuso de água potável.
(publicada no DOU em 09/03/06)
Estabelece modalidades, diretrizes e critérios
gerais para a prática de reuso direito não potável
de água, e dá outras providências.
O CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS-CNRH, no uso das
competências que lhe são conferidas pelas Leis nos 9.433, de 8 de janeiro de 1997 e 9.984, de 17 de julho de 2000,
e pelo Decreto no 4.613, de 11 de março de 2003;
Considerando que a Lei no 9.433, de 1997, que dispõe sobre a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos- SINGREH, dá ênfase ao uso sustentável da água;
Considerando a Década Brasileira da Água, instituída pelo Decreto de 22 de março de 2005, cujos objetivos são
promover e intensificar a formulação e implementação de políticas, programas e projetos relativos ao
gerenciamento e uso sustentável da água;
Considerando a diretriz adotada pelo Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas-ONU,
segundo a qual, a não ser que haja grande disponibilidade, nenhuma água de boa qualidade deverá ser utilizada em
atividades que tolerem águas de qualidade inferior;
Considerando que o reúso de água se constitui em prática de racionalização e de conservação de recursos hídricos,
conforme princípios estabelecidos na Agenda 21, podendo tal prática ser utilizada como instrumento para regular a
oferta e a demanda de recursos hídricos;
Considerando a escassez de recursos hídricos observada em certas regiões do território nacional, a qual está
relacionada aos aspectos de quantidade e de qualidade;
Considerando a elevação dos custos de tratamento de água em função da degradação de mananciais;
Considerando que a prática de reúso de água reduz a descarga de poluentes em corpos receptores, conservando os
recursos hídricos para o abastecimento público e outros usos mais exigentes quanto à qualidade; e
Considerando que a prática de reúso de água reduz os custos associados à poluição e contribui para a proteção do
meio ambiente e da saúde pública, resolve:
Art. 1º Estabelecer modalidades, diretrizes e critérios gerais que regulamentem e estimulem a prática de reúso
direto não potável de água em todo o território nacional.
Art. 2º Para efeito desta Resolução, são adotadas as seguintes definições:
I - água residuária: esgoto, água descartada, efluentes líquidos de edificações, indústrias, agroindústrias e
agropecuária, tratados ou não;
II - reúso de água: utilização de água residuária;
III - água de reúso: água residuária, que se encontra dentro dos padrões exigidos para sua utilização nas
modalidades pretendidas;
IV - reúso direto de água: uso planejado de água de reúso, conduzida ao local de utilização, sem lançamento ou
diluição prévia em corpos hídricos superficiais ou subterrâneos;
V - produtor de água de reúso: pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, que produz água de reúso;
VI - distribuidor de água de reúso: pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, que distribui água de
reúso; e
VII - usuário de água de reúso: pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, que utiliza água de reúso.
Art. 3º O reúso direto não potável de água, para efeito desta Resolução, abrange as seguintes modalidades:
I - reúso para fins urbanos: utilização de água de reúso para fins de irrigação paisagística, lavagem de logradouros
públicos e veículos, desobstrução de tubulações, construção civil, edificações, combate a incêndio, dentro da área
urbana;
II - reúso para fins agrícolas e florestais: aplicação de água de reúso para produção agrícola e cultivo de florestas
plantadas;
136
III - reúso para fins ambientais: utilização de água de reúso para implantação de projetos de recuperação do meio
ambiente;
IV - reúso para fins industriais: utilização de água de reúso em processos, atividades e operações industriais; e,
V - reúso na aqüicultura: utilização de água de reúso para a criação de animais ou cultivo de vegetais aquáticos.
§ 1ºAs modalidades de reúso não são mutuamente excludentes, podendo mais de uma delas ser empregada
simultaneamente em uma mesma área.
§ 2º As diretrizes, critérios e parâmetros específicos para as modalidades de reuso definidas nos incisos deste artigo
serão estabelecidos pelos órgãos competentes.
Art. 4º Os órgãos integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos-SINGREH, no âmbito de
suas respectivas competências, avaliarão os efeitos sobre os
corpos hídricos decorrentes da prática do reúso, devendo estabelecer instrumentos regulatórios e de incentivo para
as diversas modalidades de reúso.
Art. 5º Caso a atividade de reúso implique alteração das condições das outorgas vigentes, o outorgado deverá
solicitar à autoridade competente retificação da outorga de direito de uso de recursos hídricos de modo a
compatibilizá-la com estas alterações.
Art. 6º Os Planos de Recursos Hídricos, observado o exposto no art. 7º , inciso IV, da Lei no 9.433, de 1997, deverão
contemplar, entre os estudos e alternativas, a utilização de águas de reúso e seus efeitos sobre a disponibilidade
hídrica.
Art. 7º Os Sistemas de Informações sobre Recursos Hídricos deverão incorporar, organizar e tornar disponíveis as
informações sobre as práticas de reúso necessárias para o gerenciamento dos recursos hídricos.
Art. 8º Os Comitês de Bacia Hidrográfica deverão:
I - considerar, na proposição dos mecanismos de cobrança e aplicação dos recursos da cobrança, a criação de
incentivos para a prática de reúso; e
II - integrar, no âmbito do Plano de Recursos Hídricos da Bacia, a prática de reúso com as ações de saneamento
ambiental e de uso e ocupação do solo na bacia hidrográfica.
Parágrafo único. Nos casos onde não houver Comitês de Bacia Hidrográfica instalados, a responsabilidade caberá ao
respectivo órgão gestor de recursos hídricos, em conformidade com o previsto na legislação pertinente.
Art. 9º A atividade de reúso de água deverá ser informada, quando requerida, ao órgão gestor de recursos hídricos,
para fins de cadastro, devendo contemplar, no mínimo:
I - identificação do produtor, distribuidor ou usuário;
II - localização geográfica da origem e destinação da água de reúso;
III - especificação da finalidade da produção e do reúso de água; e
IV - vazão e volume diário de água de reúso produzida, distribuída ou utilizada.
Art. 10. Deverão ser incentivados e promovidos programas de capacitação, mobilização social e informação quanto
à sustentabilidade do reuso, em especial os aspectos sanitários e ambientais.
Art. 11. O disposto nesta Resolução não exime o produtor, o distribuidor e o usuário da água de reuso direto não
potável da respectiva licença ambiental, quando exigida, assim como do cumprimento das demais obrigações legais
pertinentes.
Art. 12. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
MARINA SILVA JOÃO BOSCO SENRA
Presidente Secretário-Executivo
Anexo 2 – Resolução nº 357 de 17 de março de 2005, do Conselho Nacional do Meio
Ambiente – CONAMA (artigos relacionados às águas doces).
RESOLUÇÃO No 357, DE 17 DE MARÇO DE 2005
· Alterada pela Resolucao 410/2009 e pela 430/2011
Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e
diretrizes ambientais para o seu enquadramento,
bem como estabelece as condições e padrões de
lançamento de efluentes, e dá outras providências.
137
O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE-CONAMA, no uso das competências que lhe são conferidas pelos
arts. 6o, inciso II e 8o, inciso VII, da Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo Decreto no 99.274,
de 6 de junho de 1990 e suas alterações, tendo em vista o disposto em seu Regimento Interno, e
Considerando a vigência da Resolução CONAMA no 274, de 29 de novembro de 2000, que dispõe sobre a
balneabilidade;
Considerando o art. 9o, inciso I, da Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que instituiu a Política Nacional dos
Recursos Hídricos, e demais normas aplicáveis a matéria;
Considerando que a água integra as preocupações do desenvolvimento sustentável, baseado nos princípios da
função ecológica da propriedade, da prevenção, da precaução, do poluidor-pagador, do usuário-pagador e da
integração, bem como no reconhecimento de valor intrínseco a natureza;
Considerando que a Constituição Federal e a Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981, visam controlar o lançamento
no meio ambiente de poluentes, proibindo o lançamento em níveis nocivos ou perigosos para os seres humanos e
outras formas de vida;
Considerando que o enquadramento expressa metas finais a serem alcançadas, podendo ser fixadas metas
progressivas intermediarias, obrigatórias, visando a sua efetivação;
Considerando os termos da Convenção de Estocolmo, que trata dos Poluentes Orgânicos Persistentes- POPs,
ratificada pelo Decreto Legislativo no 204, de 7 de maio de 2004;
Considerando ser a classificação das águas doces, salobras e salinas essencial a defesa de seus níveis de qualidade,
avaliados por condições e padrões específicos, de modo a assegurar seus usos preponderantes;
Considerando que o enquadramento dos corpos de água deve estar baseado não necessariamente no seu estado
atual, mas nos níveis de qualidade que deveriam possuir para atender as necessidades da comunidade;
Considerando que a saúde e o bem-estar humano, bem como o equilíbrio ecológico aquático, não devem ser
afetados pela deterioração da qualidade das águas;
Considerando a necessidade de se criar instrumentos para avaliar a evolução da qualidade das águas, em relação as
classes estabelecidas no enquadramento, de forma a facilitar a fixação e controle de metas visando atingir
gradativamente os objetivos propostos;
Considerando a necessidade de se reformular a classificação existente, para melhor distribuir os usos das águas,
melhor especificar as condições e padrões de qualidade requeridos, sem prejuízo de posterior aperfeiçoamento; e
Considerando que o controle da poluição está diretamente relacionado com a proteção da saúde, garantia do meio
ambiente ecologicamente equilibrado e a melhoria da qualidade de vida, levando em conta os usos prioritários e
classes de qualidade ambiental exigidos para um determinado corpo de água; resolve:
Art. 1o Esta Resolução dispõe sobre a classificação e diretrizes ambientais para o enquadramento dos corpos de
água superficiais, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes.
CAPÍTULO I
DAS DEFINIÇÕES
Art. 2o Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes definições:
I - águas doces: águas com salinidade igual ou inferior a 0,5 ‰;
II - águas salobras: águas com salinidade superior a 0,5 ‰ e inferior a 30 ‰;
III - águas salinas: águas com salinidade igual ou superior a 30 ‰;
IV - ambiente lêntico: ambiente que se refere à água parada, com movimento lento ou estagnado;
V - ambiente lótico: ambiente relativo a águas continentais moventes;
VI - aqüicultura: o cultivo ou a criação de organismos cujo ciclo de vida, em condições naturais, ocorre total ou
parcialmente em meio aquático;
VII - carga poluidora: quantidade de determinado poluente transportado ou lançado em um corpo de água
receptor, expressa em unidade de massa por tempo;
VIII - cianobactérias: microorganismos procarióticos autotróficos, também denominados como cianofíceas (algas
azuis) capazes de ocorrer em qualquer manancial superficial especialmente naqueles com elevados níveis de
nutrientes (nitrogênio e fósforo), podendo produzir toxinas com efeitos adversos a saúde;
IX - classe de qualidade: conjunto de condições e padrões de qualidade de água necessários ao atendimento dos
usos preponderantes, atuais ou futuros;
X - classificação: qualificação das águas doces, salobras e salinas em função dos usos preponderantes (sistema de
classes de qualidade) atuais e futuros;
XI - coliformes termotolerantes: bactérias gram-negativas, em forma de bacilos, oxidase-negativas, caracterizadas
pela atividade da enzima β-galactosidase. Podem crescer em meios contendo agentes tenso-ativos e fermentar a
138
lactose nas temperaturas de 44º - 45ºC, com produção de ácido, gás e aldeído. Além de estarem presentes em fezes
humanas e de animais homeotérmicos, ocorrem em solos, plantas ou outras matrizes ambientais que não tenham
sido contaminados por material fecal;
XII - condição de qualidade: qualidade apresentada por um segmento de corpo d'água, num determinado
momento, em termos dos usos possíveis com segurança adequada, frente às Classes de Qualidade;
XIII - condições de lançamento: condições e padrões de emissão adotados para o controle de lançamentos de
efluentes no corpo receptor;
XIV - controle de qualidade da água: conjunto de medidas operacionais que visa avaliar a melhoria e a conservação
da qualidade da água estabelecida para o corpo de água;
XV - corpo receptor: corpo hídrico superficial que recebe o lançamento de um efluente;
XVI - desinfecção: remoção ou inativação de organismos potencialmente patogênicos;
XVII - efeito tóxico agudo: efeito deletério aos organismos vivos causado por agentes físicos ou químicos,
usualmente letalidade ou alguma outra manifestação que a antecede, em um curto período de exposição;
XVIII - efeito tóxico crônico: efeito deletério aos organismos vivos causado por agentes físicos ou químicos que
afetam uma ou várias funções biológicas dos organismos, tais como a reprodução, o crescimento e o
comportamento, em um período de exposição que pode abranger a totalidade de seu ciclo de vida ou parte dele;
XIX - efetivação do enquadramento: alcance da meta final do enquadramento;
XX - enquadramento: estabelecimento da meta ou objetivo de qualidade da água (classe) a ser, obrigatoriamente,
alcançado ou mantido em um segmento de corpo de água, de acordo com os usos preponderantes pretendidos, ao
longo do tempo;
XXI - ensaios ecotoxicológicos: ensaios realizados para determinar o efeito deletério de agentes físicos ou químicos
a diversos organismos aquáticos;
XXII - ensaios toxicológicos: ensaios realizados para determinar o efeito deletério de agentes físicos ou químicos a
diversos organismos visando avaliar o potencial de risco à saúde humana;
XXIII - escherichia coli (E.Coli): bactéria pertencente à família Enterobacteriaceae caracterizada pela atividade da
enzima β-glicuronidase. Produz indol a partir do aminoácido triptofano. É a única espécie do 2 grupo dos coliformes
termotolerantes cujo habitat exclusivo é o intestino humano e de animais homeotérmicos, onde ocorre em
densidades elevadas;
XXIV - metas: é o desdobramento do objeto em realizações físicas e atividades de gestão, de acordo com unidades
de medida e cronograma preestabelecidos, de caráter obrigatório;
XXV - monitoramento: medição ou verificação de parâmetros de qualidade e quantidade de água, que pode ser
contínua ou periódica, utilizada para acompanhamento da condição e controle da qualidade do corpo de água;
XXVI - padrão: valor limite adotado como requisito normativo de um parâmetro de qualidade de água ou efluente;
XXVII - parâmetro de qualidade da água: substancias ou outros indicadores representativos da qualidade da água;
XXVIII - pesca amadora: exploração de recursos pesqueiros com fins de lazer ou desporto;
XXIX - programa para efetivação do enquadramento: conjunto de medidas ou ações progressivas e obrigatórias,
necessárias ao atendimento das metas intermediárias e final de qualidade de água estabelecidas para o
enquadramento do corpo hídrico;
XXX - recreação de contato primário: contato direto e prolongado com a água (tais como natação, mergulho, esqui-
aquático) na qual a possibilidade do banhista ingerir água é elevada;
XXXI - recreação de contato secundário: refere-se àquela associada a atividades em que o contato com a água é
esporádico ou acidental e a possibilidade de ingerir água é pequena, como na pesca e na navegação
(tais como iatismo);
XXXII - tratamento avançado: técnicas de remoção e/ou inativação de constituintes refratários aos
processos convencionais de tratamento, os quais podem conferir à água características, tais como: cor,
odor, sabor, atividade tóxica ou patogênica;
XXXIII - tratamento convencional: clarificação com utilização de coagulação e floculação, seguida de
desinfecção e correção de pH;
XXXIV - tratamento simplificado: clarificação por meio de filtração e desinfecção e correção de pH
quando necessário;
XXXV - tributário (ou curso de água afluente): corpo de água que flui para um rio maior ou para um lago
ou reservatório;
XXXVI - vazão de referência: vazão do corpo hídrico utilizada como base para o processo de gestão,
tendo em vista o uso múltiplo das águas e a necessária articulação das instâncias do Sistema Nacional de
Meio Ambiente-SISNAMA e do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos-SINGRH;
139
XXXVII - virtualmente ausentes: que não é perceptível pela visão, olfato ou paladar.
CAPÍTULO II
DA CLASSIFICAÇÃO DOS CORPOS DE ÁGUA
Art.3o As águas doces, salobras e salinas do Território Nacional são classificadas, segundo a qualidade requerida
para os seus usos preponderantes, em treze classes de qualidade.
Parágrafo único. As águas de melhor qualidade podem ser aproveitadas em uso menos exigente, desde que este
não prejudique a qualidade da água, atendidos outros requisitos pertinentes.
Seção I
Das Águas Doces
Art. 4o As águas doces são classificadas em:
I - classe especial: águas destinadas:
a) ao abastecimento para consumo humano, com desinfecção;
b) à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas; e,
c) à preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção integral.
II - classe 1: águas que podem ser destinadas:
a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento simplificado;
b) à proteção das comunidades aquáticas;
c) à recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, conforme Resolução CONAMA nº
274, de 2000;
d) à irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam rentes ao solo e que sejam
ingeridas cruas sem remoção de película; e
e) à proteção das comunidades aquáticas em Terras Indígenas.
III - classe 2: águas que podem ser destinadas:
a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional;
b) à proteção das comunidades aquáticas;
c) à recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, conforme Resolução CONAMA nº
274, de 2000;
d) à irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o
público possa vir a ter contato direto; e
e) à aqüicultura e à atividade de pesca.
IV - classe 3: águas que podem ser destinadas:
a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado;
b) à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras;
c) à pesca amadora;
d) à recreação de contato secundário; e
e) à dessedentação de animais.
V - classe 4: águas que podem ser destinadas:
a) à navegação; e
b) à harmonia paisagística.
CAPÍTULO III
DAS CONDIÇÕES E PADRÕES DE QUALIDADE DAS ÁGUAS
Seção I
Das Disposições Gerais
Art. 7o Os padrões de qualidade das águas determinados nesta Resolução estabelecem limites individuais para cada
substância em cada classe.
Parágrafo único. Eventuais interações entre substâncias, especificadas ou não nesta Resolução, não poderão
conferir às águas características capazes de causar efeitos letais ou alteração de comportamento, reprodução ou
fisiologia da vida, bem como de restringir os usos preponderantes previstos, ressalvado o disposto no § 3o do art.
34, desta Resolução.
Art. 8o O conjunto de parâmetros de qualidade de água selecionado para subsidiar a proposta de enquadramento
deverá ser monitorado periodicamente pelo Poder Público.
140
§ 1o Também deverão ser monitorados os parâmetros para os quais haja suspeita da sua presença ou não
conformidade.
§ 2o Os resultados do monitoramento deverão ser analisados estatisticamente e as incertezas de medição
consideradas.
§ 3o A qualidade dos ambientes aquáticos poderá ser avaliada por indicadores biológicos, quando apropriado,
utilizando-se organismos e/ou comunidades aquáticas.
§ 4o As possíveis interações entre as substâncias e a presença de contaminantes não listados nesta Resolução,
passíveis de causar danos aos seres vivos, deverão ser investigadas utilizando-se ensaios ecotoxicológicos,
toxicológicos, ou outros métodos cientificamente reconhecidos.
§ 5o Na hipótese dos estudos referidos no parágrafo anterior tornarem-se necessários em decorrência da atuação
de empreendedores identificados, as despesas da investigação correrão as suas expensas.
§ 6o Para corpos de água salobras continentais, onde a salinidade não se dê por influência direta marinha, os
valores dos grupos químicos de nitrogênio e fósforo serão os estabelecidos nas classes correspondentes de água
doce.
Art. 9o A análise e avaliação dos valores dos parâmetros de qualidade de água de que trata esta Resolução serão
realizadas pelo Poder Público, podendo ser utilizado laboratório próprio, conveniado ou contratado, que deverá
adotar os procedimentos de controle de qualidade analítica necessários ao atendimento das condições exigíveis.
§ 1o Os laboratórios dos órgãos competentes deverão estruturar-se para atenderem ao disposto nesta Resolução.
§ 2o Nos casos onde a metodologia analítica disponível for insuficiente para quantificar as concentrações dessas
substâncias nas águas, os sedimentos e/ou biota aquática poderão ser investigados quanto à presença eventual
dessas substâncias.
Art. 10. Os valores máximos estabelecidos para os parâmetros relacionados em cada uma das classes de
enquadramento deverão ser obedecidos nas condições de vazão de referência.
§ 1o Os limites de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), estabelecidos para as águas doces de classes 2 e 3,
poderão ser elevados, caso o estudo da capacidade de autodepuração do corpo receptor demonstre que as
concentrações mínimas de oxigênio dissolvido (OD) previstas não serão desobedecidas, nas condições de vazão de
referência, com exceção da zona de mistura.
§ 2o Os valores máximos admissíveis dos parâmetros relativos às formas químicas de nitrogênio e fósforo,
nas condições de vazão de referência, poderão ser alterados em decorrência de condições naturais, ou quando
estudos ambientais específicos, que considerem também a poluição difusa, comprovem que esses novos limites não
acarretarão prejuízos para os usos previstos no enquadramento do corpo de água.
§ 3o Para águas doces de classes 1 e 2, quando o nitrogênio for fator limitante para eutrofização, nas condições
estabelecidas pelo órgão ambiental competente, o valor de nitrogênio total (após oxidação) não deverá ultrapassar
1,27 mg/L para ambientes lênticos e 2,18 mg/L para ambientes lóticos, na vazão de referência.
§ 4o O disposto nos §§ 2o e 3o não se aplica às baías de águas salinas ou salobras, ou outros corpos de água em que
não seja aplicável a vazão de referência, para os quais deverão ser elaborados estudos específicos sobre a dispersão
e assimilação de poluentes no meio hídrico.
Art. 11. O Poder Público poderá, a qualquer momento, acrescentar outras condições e padrões de qualidade, para
um determinado corpo de água, ou torná-los mais restritivos, tendo em vista as condições locais, mediante
fundamentação técnica.
Art. 12. O Poder Público poderá estabelecer restrições e medidas adicionais, de caráter excepcional e temporário,
quando a vazão do corpo de água estiver abaixo da vazão de referência.
Art. 13. Nas águas de classe especial deverão ser mantidas as condições naturais do corpo de água.
Seção II
Das Águas Doces
Art. 14. As águas doces de classe 1 observarão as seguintes condições e padrões:
I - condições de qualidade de água:
a) não verificação de efeito tóxico crônico a organismos, de acordo com os critérios estabelecidos pelo órgão
ambiental competente, ou, na sua ausência, por instituições nacionais ou internacionais renomadas, comprovado
pela realização de ensaio ecotoxicológico padronizado ou outro método cientificamente reconhecido.
b) materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente ausentes;
c) óleos e graxas: virtualmente ausentes;
d) substâncias que comuniquem gosto ou odor: virtualmente ausentes;
e) corantes provenientes de fontes antrópicas: virtualmente ausentes;
141
f) resíduos sólidos objetáveis: virtualmente ausentes;
g) coliformes termotolerantes: para o uso de recreação de contato primário deverão ser obedecidos os padrões de
qualidade de balneabilidade, previstos na Resolução CONAMA no 274, de 2000. Para os demais usos, não deverá
ser excedido um limite de 200 coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais, de pelo menos 6
amostras, coletadas durante o período de um ano, com frequência bimestral. A E. Coli poderá ser determinada em
substituição ao parâmetro coliformes termotolerantes de
acordo com limites estabelecidos pelo órgão ambiental competente;
h) DBO 5 dias a 20°C até 3 mg/L O2;
i) OD, em qualquer amostra, não inferior a 6 mg/L O2;
j) turbidez até 40 unidades nefelométrica de turbidez (UNT);
l) cor verdadeira: nível de cor natural do corpo de água em mg Pt/L; e
m) pH: 6,0 a 9,0.
II - Padrões de qualidade de água:
142
143
III - Nas águas doces onde ocorrer pesca ou cultivo de organismos, para fins de consumo intensivo, além dos
padrões estabelecidos no inciso II deste artigo, aplicam-se os seguintes padrões em substituição ou adicionalmente:
144
Art 15. Aplicam-se às águas doces de classe 2 as condições e padrões da classe 1 previstos no artigo anterior, à
exceção do seguinte:
I - não será permitida a presença de corantes provenientes de fontes antrópicas que não sejam removíveis por
processo de coagulação, sedimentação e filtração convencionais;
II - coliformes termotolerantes: para uso de recreação de contato primário deverá ser obedecida a Resolução
CONAMA no 274, de 2000. Para os demais usos, não deverá ser excedido um limite de 1.000 coliformes
termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais de pelo menos 6 (seis) amostras coletadas durante o período de
um ano, com freqüência bimestral. A E. coli poderá ser determinada em substituição ao parâmetro coliformes
termotolerantes de acordo com limites estabelecidos pelo órgão ambiental
competente;
III - cor verdadeira: até 75 mg Pt/L;
IV - turbidez: até 100 UNT;
V - DBO 5 dias a 20°C até 5 mg/L O2;
VI - OD, em qualquer amostra, não inferior a 5 mg/L O2;
VII - clorofila a: até 30 μg/L;
VIII - densidade de cianobactérias: até 50000 cel/mL ou 5 mm3/L; e,
10
IX - fósforo total:
a) até 0,030 mg/L, em ambientes lênticos; e,
b) até 0,050 mg/L, em ambientes intermediários, com tempo de residência entre 2 e 40 dias, e tributários diretos de
ambiente lêntico.
Art. 16. As águas doces de classe 3 observarão as seguintes condições e padrões:
I - condições de qualidade de água:
a) não verificação de efeito tóxico agudo a organismos, de acordo com os critérios estabelecidos pelo órgão
ambiental competente, ou, na sua ausência, por instituições nacionais ou internacionais renomadas, comprovado
pela realização de ensaio ecotoxicológico padronizado ou outro método cientificamente reconhecido;
b) materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente ausentes;
c) óleos e graxas: virtualmente ausentes;
d) substâncias que comuniquem gosto ou odor: virtualmente ausentes;
e) não será permitida a presença de corantes provenientes de fontes antrópicas que não sejam removíveis
145
por processo de coagulação, sedimentação e filtração convencionais;
f) resíduos sólidos objetáveis: virtualmente ausentes;
g) coliformes termotolerantes: para o uso de recreação de contato secundário não deverá ser excedido um limite de
2500 coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais de pelo menos 6 amostras, coletadas durante o
período de um ano, com freqüência bimestral. Para dessedentação de animais criados confinados não deverá ser
excedido o limite de 1000 coliformes termotolerantes por 100 mililitros em
80% ou mais de pelo menos 6 amostras, coletadas durante o período de um ano, com frequência bimestral. Para os
demais usos, não deverá ser excedido um limite de 4000 coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou
mais de pelo menos 6 amostras coletadas durante o período de um ano, com periodicidade bimestral. A E. Coli
poderá ser determinada em substituição ao parâmetro coliformes termotolerantes de acordo com limites
estabelecidos pelo órgão ambiental competente;
h) cianobactérias para dessedentação de animais: os valores de densidade de cianobactérias não deverão exceder
50.000 cel/ml, ou 5mm3/L;
i) DBO 5 dias a 20°C até 10 mg/L O2;
j) OD, em qualquer amostra, não inferior a 4 mg/L O2;
l) turbidez até 100 UNT;
m) cor verdadeira: até 75 mg Pt/L; e,
n) pH: 6,0 a 9,0.
II - Padrões de qualidade de água:
146
147
Art. 17. As águas doces de classe 4 observarão as seguintes condições e padrões:
I - materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente ausentes;
II - odor e aspecto: não objetáveis;
III - óleos e graxas: toleram-se iridescências;
IV - substâncias facilmente sedimentáveis que contribuam para o assoreamento de canais de navegação:
virtualmente ausentes;
V - fenóis totais (substâncias que reagem com 4 - aminoantipirina) até 1,0 mg/L de C6H5OH;
VI - OD, superior a 2,0 mg/L O2 em qualquer amostra; e,
VII - pH: 6,0 a 9,0.
148
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Capítulo 1
Fig. 1.1 – “Ciclo hidrológico” em http://profwladimir.blogspot.com.br/2012/02/texto-
sobre-agua-ciclo-hidrologico.html (Acesso em 06/07/2014).
Capítulo 2
Fig. 2.1 – “Estrutura de uma molécula de água” em http://www.ebah.com.br/
content/ABAAAAWX0AL/atividade-agua (Acesso em 10/07/2014).
Fig. 2.2 – ”Os tipos de água presentes em uma residência” em BAZZARELA, Bianca
Barcellos. Caracterização e aproveitamento de água cinza para uso não potável em
edificações, 2005, p. 37.
Fig. 2.3 – “Estação de tratamento de Esgoto” em http://www.rj.gov.br/web/imprensa
/exibeconteudo?article-id=730745 (Acesso em 10/07/2014).
Capítulo 3
Fig. 3.1 – “Água cinza” em http://rededasustentabilidade.blogspot.com.br/2013/03/o-
que-sao-aguas-cinzas.html (Acesso em 20/09/2014).
Fig. 3.2 – “Gradeamento para remoção de sólidos grosseiros” em http://www.copasa.
com.br/ cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=160 (Acesso em 14/10/2014).
Fig. 3.3 – “Tratamento primário” em http://www.c2o.pro.br/vis_int_agua/x908.html
(Acesso em 15/10/2014).
Fig. 3.4 – “Esquema de um tratamento secundário” em TELLES, Dirceu de Almeida;
COSTA, Regina Pacca. Reuso da água: conceitos, teorias e práticas. 2010, p. 55.
Fig. 3.5 – “Processo de tratamento por osmose reversa” em TELLES, Dirceu de Almeida;
COSTA, Regina Pacca. Reuso da água: conceitos, teorias e práticas. 2010, p. 74.
Fig. 3.6 – “Eletrodiálise” em MANCUSO, Pedro Caetano Sanches. et al. Reuso de Água.
2003, p. 328.
Fig. 3.7 – “Filtro lento de areia” em TONETTI, Adriano Luiz et al. Tratamento de esgoto
e produção de água de reúso com o emprego de filtros de areia. p. 3.
Fig. 3.8 – “Processos de desinfecção de esgotos sanitários” em GONÇALVES, R. F.
(Coord.). Desinfecção de Efluentes Sanitários.
149
Fig. 3.9 – “Gerador de ozônio” em http://www.ricozon.com.br/f_aruja.htm (Acesso em
11/10/2014).
Fig. 3.10 – “Reator ultravioleta” em http://www.lamik.com/pt/equipos_uv_2.php
(Acesso em 11/10/2014).
Capítulo 4
Fig. 4.1 – “Chuva orográfica” em www.ufrrj.br/institutos/it/deng/leonardo(capítulo
4.precipitação-ufrrj (Acesso em 13/10/2014).
Fig. 4.2 – “Frente ciclônica” em www.ufrrj.br/institutos/it/deng/leonardo(capítulo
4.precipitação-ufrrj (Acesso em 13/10/2014).
Fig. 4.3 - “Chuva de convecção” em www.ufrrj.br/institutos/it/deng/leonardo(capítulo
4.precipitação-ufrrj (Acesso em 13/10/2014).
Capítulo 5
Fig. 5.1 – “Distribuição do consumo de água em residências” em
http://www.banheirofacil.com/planeta_agua.htm (Acesso em 10/09/2014).
Fig. 5.2 – “Bomba dosadora de cloro” em http://www.exatta.ind.br/?gclid=CK_HyLzD
_8ECFeXm7AodRQQAKw (Acesso em 07/11/2014).
Fig. 5.3 – “Diagrama do sistema de filtração simples e cloração” em BAZZARELA, Bianca
Barcellos. Caracterização e aproveitamento de água cinza para uso não potável em
edificações, 2005, p. 51.
Fig. 5.4 – “Filtros de múltiplas camadas utilizados para o tratamento de águas cinza
destinadas ao reuso” em Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer - Goiânia,
vol.6, N.11; 2010, p. 11.
Fig. 5.5 – “Pré-tratamento do esgoto no tanque séptico e no tanque de sedimentação”
em <www.artemec.com.br/modulo2/2/centro1.htm> (Acesso em 15/10/2014).
Fig. 5.6 – “Captação do efluente pelos drenos após o tratamento na zona de raízes”
<www.artemec.com.br/modulo2/2/centro1.htm> (Acesso em 20/07/2010).
Fig. 5.7 – “Biofiltro aeróbio submerso compartimentado” em http://www.scielo.br/
scielo.php? script=sci_arttext&pid=S1413-41522010000300009 (Acesso em
16/10/2014).
Fig. 5.8 – “Esquema de um reator UASB” em http://www.samaepomerode.com.br/
index.php?pg=1078 (Acesso em 16/10/2014).
150
Fig. 5.9 – “Associação de reatores UASB com biofiltros aeróbios submersos” em
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-41522009000200010&script=sci_arttext
(Acesso em 16/10/2014).
Fig. 5.10 – “Sistema combinado UASB e BS, com flotador, aeração do efluente tratado
e desinfectado” em http://www.naturaltec.com.br/Tratamento-Agua-Reuso.html
(Acesso em 16/10/2014).
Fig. 5.11 – “Sistema de reuso de águas pluviais” em http://www.finep.gov.br/
prosab/livros/Uso%20%C3%81gua%20-%20final.pdf. (Acesso em 17/10/2014).
Fig. 5.12 – “Áreas de captação de água de chuva” em http://www.finep.gov.br/
prosab/livros/Uso%20%C3%81gua%20-%20final.pdf. (Acesso em 17/10/2014).
Fig. 5.13 – “Grelha” em http://www.condec.com.br/ralo-linear-seco-80cm-slim-
tramontina-pr-6639-39590.htm (Acesso em 18/10/2014).
Fig. 5.14 – “Grade” em http://ecohospedagem.com/como-instalar-um-sistema-para-
captar-agua-da-chuva/ (Acesso em 20/10/2014).
Fig. 5.15 – “Grade instalada na calha” em http://www.finep.gov.br/ prosab/livros/
Uso%20%C3%81gua%20-%20final.pdf. (Acesso em 20/10/2014).
Fig. 5.16 – “Reservatório de descarte da primeira chuva” em
http://dc317.4shared.com/ doc/wHQlrmt9/preview.html (Acesso em 10/10/2014).
Fig. 5.17 – “Estação compacta de tratamento de água pluvial” em
http://solupetro.com.br/lista-produtos.asp?item=&categoria=linha-ecologica&busca=
(Acesso em 11/10/2014).
Fig. 5.18 – “Tipos de Reservatórios ou Cisternas” em http://www.finep.gov.br/
prosab/livros/Uso%20%C3%81gua%20-%20final.pdf. (Acesso em 20/10/2014).
Fig. 5.19 – “Sistema de reuso de águas pluviais com a utilização de reservatório
elevado” em http://www.acquabrasilis.com.br/home/index.asp# (Acesso em
20/10/2014).
Fig. 5.20 – “Sistema de reuso de águas pluviais com a utilização de pressostato” em
http://www.acquabrasilis.com.br/home/index.asp# (Acesso em 20/10/2014).
Fig. 5.21 – “Vista geral dos edifícios Maria Callas I e II.” – foto do autor.
151
Fig. 5.22 – “Filtro pressurizado com leito de carvão e areia” – foto do autor.
Fig. 5.23 – “Unidade de desinfecção” – foto do autor.
Fig. 5.24 – “Cisterna e reservatório de água pluvial” – foto do autor.
Fig. 5.25 – “Reservatório para auto-limpeza” – foto do autor.
Fig. 5.26 – “Torneira para lavagem de pisos com água de reuso” – foto do autor.
Fig. 5.27 – “Jardim com irrigador de água de reuso” – foto do autor.
Fig. 5.28 – “Diagrama reuso misto de água cinza e água pluvial” em
http://www.anamma.com.br/mostra-empauta.php?id=10 (Acesso em 21/10/2014).
Fig. 5.29 – “Residência utilizada no estudo” em http://www.finep.gov.br/
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Fig. 5.30 – “Detalhes do telhado e da calha coletora” em http://www.finep.gov.br/
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Fig. 5.31 – “Esquema demonstrativo do sistema de aproveitamento de água de chuva”
em http://www.finep.gov.br/ prosab/livros/Uso%20%C3%81gua%20-%20final.pdf.
(Acesso em 19/10/2014).
Fig. 5.32 – “Unidades de tratamento e armazenamento de água de chuva” em
http://www.finep.gov.br/ prosab/livros/Uso%20%C3%81gua%20-%20final.pdf. (Acesso
em 19/10/2014).
Fig. 5.33 – “Reservatório de descarte da 1ª água (A), filtro de areia e cisterna (B)” em
http://www.finep.gov.br/ prosab/livros/Uso%20%C3%81gua%20-%20final.pdf. (Acesso
em 19/10/2014).
Fig. 5.34 – “Pluviômetro instalado na residência em estudo” em
http://www.finep.gov.br/ prosab/livros/Uso%20%C3%81gua%20-%20final.pdf. (Acesso
em 19/10/2014).
Fig. 5.35 – “Valores da intensidade pluviométrica medidas em Ratones, para o ano de
2005 e a média histórica de Florianópolis (período de 1970 a 2005 - INMET)” em
http://www.finep.gov.br/ prosab/livros/Uso%20%C3%81gua%20-%20final.pdf. (Acesso
em 19/10/2014).
152
Fig. 5.36 – “Volume aproveitado de água de chuva a partir da superfície de captação ao
longo de 2005” em http://www.finep.gov.br/ prosab/livros/Uso%20%C3%81gua%20-
%20final.pdf. (Acesso em 19/10/2014).
Fig. 5.37 – “Volume das fontes alternativas em relação ao vaso sanitário” em
http://www.finep.gov.br/ prosab/livros/Uso%20%C3%81gua%20-%20final.pdf. (Acesso
em 19/10/2014).
Fig. 5.38 – “Esquema ilustrativo do sistema de reúso de água cinza” em
http://www.finep.gov.br/ prosab/livros/Uso%20%C3%81gua%20-%20final.pdf. (Acesso
em 19/10/2014).
Fig. 5.39 – “Filtro de brita para o tratamento da água cinza” em
http://www.finep.gov.br/ prosab/livros/Uso%20%C3%81gua%20-%20final.pdf. (Acesso
em 19/10/2014).
Fig. 5.40 – “Implantação do sistema de reuso” em http://www.finep.gov.br/
prosab/livros/Uso%20%C3%81gua%20-%20final.pdf. (Acesso em 19/10/2014).
Capítulo 7
Fig. 7.1 – “Selo LEED” em http://www.construirsustentavel.com.br/green-building/
selos
Fig. 7.2 – “Selo AQUA” em http://www.construirsustentavel.com.br/green-building/
selos
Fig. 7.3 – “Selo BREEAM” em http://www.construirsustentavel.com.br/green-building/
selos
Fig. 7.4 – “Selo Casa Azul CAIXA” em http://www.construirsustentavel.com.br/green-
building/selos
153
LISTA DE TABELAS
Capítulo 3
Tab. 3.1 – “Consumo de água por atividade” em TELLES, Dirceu de Almeida; COSTA,
Regina Pacca. Reuso da água: conceitos, teorias e práticas. 2010, p. 18.
Tab. 3.2 – “Consumo de água em algumas atividades domésticas” em Relatório Mensal
3 Projeto de Pesquisa Escola Politécnica / USPxSABESP - Junho/96 e informações
técnicas da ASFAMAS. www.sabesp.com.br/.../CalandraRedirect/?temp...Agua...
Tab. 3.3 – “Estimativa de eficiência nos diversos níveis de tratamento em uma ETE.”
em TELLES, Dirceu de Almeida; COSTA, Regina Pacca. Reuso da água: conceitos, teorias
e práticas. 2010, p. 53.
Tab. 3.4 – “Constituintes encontrados em efluentes de ETE e seus efeitos na qualidade
do efluente” em TELLES, Dirceu de Almeida; COSTA, Regina Pacca. Reuso da água:
conceitos, teorias e práticas. 2010, p. 72.
Tab. 3.5 – “Eficiência da adsorção do carvão ativado” em TELLES, Dirceu de Almeida;
COSTA, Regina Pacca. Reuso da água: conceitos, teorias e práticas. 2010, p. 113.
Tab. 3.6 – “Doenças transmitidas pela água” em TELLES, Dirceu de Almeida; COSTA,
Regina Pacca. Reuso da água: conceitos, teorias e práticas. 2010, p. 118.
Tab. 3.7 – “Vantagens e desvantagens da desinfecção com cloro” em OLIVEIRA, E. C. M.
Desinfecção de efluentes sanitários tratados através da radiação ultravioleta. 2003, p.
25.
Tab. 3.8 – “Agentes desinfectante com suas aplicações e características” em TELLES,
Dirceu de Almeida; COSTA, Regina Pacca. Reuso da água: conceitos, teorias e práticas.
2010, p. 119.
Tab. 3.9 – “Características técnico-econômicas dos métodos de desinfecção” em
OLIVEIRA, E. C. M. Desinfecção de efluentes sanitários tratados através da radiação
ultravioleta. 2003, p. 17.
Tab. 3.10 – “Resumo dos usos e parâmetros para esgoto tratado, segundo a NBR
13.969/1997” em MAY, Simone. Caracterização, tratamento e reuso de águas cinzas e
aproveitamento de águas pluviais em edificações. 2009.
154
Tab. 3.11 – “Parâmetros de controle de qualidade para o reuso das águas cinzas,
segundo SindusCon” em SindusCon-SP. Conservação e Reúso de água em Edificações.
2005.
Capítulo 4
Tab. 4.1 – “Padrões de qualidade de água de chuva para usos não potáveis segundo a
NBR 15.527/07” em ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS. Água de chuva –
Aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis – Requisitos.
2007, p. 4.
Capítulo 5
Tab 5.1 – “Consumo de água em algumas atividades” em em TELLES, Dirceu de
Almeida; COSTA, Regina Pacca. Reuso da água: conceitos, teorias e práticas. 2010, p.
17.
Tab. 5.2 – “Faixa do coeficiente de escoamento superficial para cada tipo de material,
por diferentes autores” em PROSAB. Programa de Pesquisas em Saneamento Básico.
Tecnologias de segregação e tratamento de esgotos domésticos na origem, visando a
redução do consumo de água e da infra-estrutura de coleta, especialmente nas
periferias urbana. 2006, p. 113.
Tab. 5.3 – “Resultados médios (± coeficiente de variação) da qualidade da chuva
atmosférica, da água de descarte e da água armazenada na cisterna” em PROSAB.
Programa de Pesquisas em Saneamento Básico. Tecnologias de segregação e
tratamento de esgotos domésticos na origem, visando a redução do consumo de água
e da infra-estrutura de coleta, especialmente nas periferias urbana. 2006, p. 147.
Tab. 5.4 – “Demanda nas UHS medida por hidrômetros, de janeiro a dezembro de
2005” em PROSAB. Programa de Pesquisas em Saneamento Básico. Tecnologias de
segregação e tratamento de esgotos domésticos na origem, visando a redução do
consumo de água e da infra-estrutura de coleta, especialmente nas periferias urbana.
2006, p. 205.
Capítulo 6
Tab. 6.1- “Distribuição dos recursos hídricos por região” em
http://www.educacao.cc/ambiental/agua-no-brasil-e-no-mundo/ (Acesso em
12/10/2014).
155
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