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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE BIOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA
THAVILLA SIMONE FERREIRA
EFEITO DA BIODIVERSIDADE DE PLANTAS NA SOBREVIVÊNCIA E
HERBIVORIA FOLIAR DE Mimosa tenuiflora EM UM EXPERIMENTO DE
RESTAURAÇÃO DE CAATINGA
NATAL/RN
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE BIOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA
THAVILLA SIMONE FERREIRA
EFEITO DA BIODIVERSIDADE DE PLANTAS NA SOBREVIVÊNCIA E
HERBIVORIA FOLIAR DE Mimosa tenuiflora EM UM EXPERIMENTO DE
RESTAURAÇÃO DE CAATINGA
Trabalho de Conclusão de Curso,
apresentado a Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), como parte das
exigências para a obtenção do título de
bacharel em Ecologia.
Orientador (a): Profa. Dra. Gislene Maria
da Silva Ganade.
NATAL/RN
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE BIOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA
THAVILLA SIMONE FERREIRA
EFEITO DA BIODIVERSIDADE DE PLANTAS NA SOBREVIVÊNCIA E
HERBIVORIA FOLIAR DE Mimosa tenuiflora EM UM EXPERIMENTO DE
RESTAURAÇÃO DE CAATINGA
Trabalho de Conclusão de Curso,
apresentado a Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), como parte das
exigências para a obtenção do título de
bacharel em Ecologia.
Orientador (a): Profa. Dra. Gislene Maria
da Silva Ganade.
BANCA AVALIADORA
________________________________________________
Orientador(a)
Profa. Dra. Gislene Maria da Silva Ganade
Departamento de Ecologia - UFRN
________________________________________________
Prof. Dr.Guilherme Gerhardt Mazzochini
Departamento de Botânica Ecologia e Zoologia - UFRN
_________________________________________________
Me. Felipe Pereira Marinho
Programa de Pós-graduação em Ecologia -UFRN
________________________________________________
Me. Rafael Domingos de Oliveira
Programa de Pós-graduação em Ecologia -UFRN
AGRADECIMENTOS
Agradeço toda a equipe do Laboratório de Ecologia da Restauração, por desenvolver esse
trabalho árduo, de restauração da Caatinga. À minha orientadora Gislene, pelos ensinamentos,
a todos os meus professores. Aos membros da minha família que mesmo distantes estão
sempre ao meu lado, vocês são incríveis. Aos meus amigos e colegas de cursos,
principalmente àqueles que sempre me incentivaram, Iohara, Jéssica, Elias, Elizama,
Hernanes, Lorraine, Thayná. Às minhas amigas de quarto, que moraram comigo ao longo
desses quatro anos de residência universitária, pelo apoio, carinho, cumplicidade, obrigada
meninas Iza, Rosa, Alê, Hay, Clara vocês são demais. À UFRN que disponibilizou moradia e
alimentação gratuita durante os meus estudos universitários. Enfim, agradeço a todos que
fizeram minha caminhada em Ecologia dar certo.
RESUMO
As interações herbívoro-planta têm um papel importante na dinâmica de um ecossistema. Os
herbívoros são responsáveis por consumir em média 15% de toda a produtividade primária
líquida do ecossistema terrestre, e responsáveis por 38% da mortalidade de plântulas em
comunidades naturais. A influência positiva da biodiversidade de plantas sobre o
funcionamento dos ecossistemas se encontra amplamente discutida na literatura científica,
bem como o papel da diversidade de plantas sobre os padrões de herbivoria. Este trabalho
avaliou se a herbivoria e a sobrevivência de plantas jovens de Mimosa tenuiflora (Fabaceae),
seriam influenciadas pela riqueza de plantas transplantadas em seu entorno. Esse estudo foi
realizado no “Experimento de Restauração da Biodiversidade e Funcionamento Ecossistêmico
da Caatinga”, estabelecido na Floresta Nacional de Assú, RN. O experimento conta com 16
espécies de árvores nativas plantadas em um gradiente de riqueza de espécies arbóreas que
varía de 1 (monocultura) a 2, 4, 8 e 16 espécies. A sobrevivência e o número de folhas
herbivoradas por insetos em M. tenuiflora não foram influenciados pela riqueza de espécies
arbóreas presentes nas parcelas 1 ano após o plantio. Apresentando uma alta taxa de
sobrevivência e resiliência à herbivoria, M. tenuiflora se revela como uma espécie com alto
potencial para uso em programas de restauração de Caatinga.
Palavras-chaves: Mimosa tenuiflora. Herbivoria. Diversidade. Caatinga. Restauração.
ABSTRACT
Herbivore-plant interactions have an important role in ecosystem dynamics. Herbivores are
responsible for the consumption of 15% of all net primary productivity on terrestrial
ecosystems, and responsible for 38% of all seedling mortality in natural communities. The
positive relationship between plant biodiversity and functioning of ecosystems has been
widely recognized in the scientific literature, as well as the importance of plant diversity to
define patterns of herbivory. This work evaluates if herbivory and survival of young plants of
Mimosa tenuiflora (Fabaceae)would be influenced by the plant richness of its surroundings.
This work was conducted at the “Biodiversity and Ecosystem Function Restoration
Experiment of Caatinga”, established at National Forest of Açu, RN Brazil. The experiment
contemplates 16 native tree species planted in a gradient of species combinations that vary
from: 1 (monoculture) to 2, 4, 8 and 16 species. Survival and number of leaves attacked by
herbivores in M. tenuiflora were not influenced by plant species richness one year after
restoration. High levels of survival and high resilience to herbivory in M. tenuiflora reveals
its great potential for being used in Restoration Programs of Caatinga.
Keywords: Mimosa tenuiflora. Herbivory. Diversity. Caatinga. Restoration.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 10
2. MATERIAL E MÉTODOS 12
2.1 Espécie alvo - Mimosa tenuiflora (Fabaceae) 12
2.2 Área de estudo 13
2.3 Coleta de dados 15
2.4.1 Medidas de Sobrevivência 16
2.4.2 Medidas de Herbivoria 16
3. RESULTADOS 17
3.1 Sobrevivência de Mimosa tenuiflora 17
3.2 Medidas de Herbivoria 18
4. DISCUSSÃO 20
CONSIDERAÇÕES FINAIS 21
REFERÊNCIAS 22
10
1. INTRODUÇÃO
O domínio fitogeográfico da Caatinga ocupa uma área de 826.411 km², cerca de 11% de
todo o território brasileiro, estando presente nos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do
Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Maranhão e parte nordeste de Minas
Gerais. Este domínio possui um clima seco, com uma precipitação média anual variando entre
240-1500 mm/ano, ele apresenta alta incidência de radiação solar e baixa umidade relativa
(MMA, 2018; INMET, 2018). A Caatinga é rica em biodiversidade e marcada por
endemismo. A vegetação é arbórea e arbustiva lenhosa e herbáceas, é adaptada para os longos
períodos de estiagens e em sua maioria são xerófitas e decíduas (Zanella, 2003; Marinho et
al., 2016). Com a crescente ocupação humana, cerca de 27 milhões de pessoas estão nessa
região em sua maioria vivendo em situação de vulnerabilidade, dependendo diretamente da
extração dos recursos da Caatinga para sobreviver. Como consequência, a degradação
ambiental é um dos grandes problemas deste domínio. Em 2009, 375.116 km² de seu território
se encontrava degradado, cerca de 45% de toda a Caatinga, destes, 15% já apresentavam
processos de desertificação. As principais causas são desmatamento, pastejo, corte de madeira
para lenha, e queimadas (MMA, 2018, Marinho et al., 2016) causando perdas inestimáveis
para o ecossistema. Apesar disso, apenas 1% da Caatinga é protegida através de unidade de
conservação.
Programas de restauração de Caatinga poderiam auxiliar na proteção e promoção da
biodiversidade dos seus ecossistemas, porém programas de restauração ainda são incipientes
devido suas condições ambientais extremas. Algumas técnicas de restauração, como sistemas
Agroflorestais (Miccolis et al., 2016), uso de poleiro para atrair dispersores de sementes
(Silveira et al., 2015) foram testados. Atualmente, em curso temos o “Experimento de
Restauração da Biodiversidade e Funcionamento Ecossistêmico da Caatinga” feito pelo
Laboratório de Ecologia da Restauração da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
que encontrou uma forma de amenizar as altas mortalidades de plantas já relatadas em prévios
programas de recuperação de áreas, usando mudas com um metro de raiz. Esses avanços
permitiram que experimentos de larga escala que monitorassem os fatores que influenciam a
sobrevivência das plantas em projetos de restauração em longo prazo se tornassem possíveis.
As interações herbívoro-planta têm um papel importante para compreender a dinâmica
de um ecossistema (Crawley, 1997; Ricklefs, 2010). Os danos por herbivoria causam grandes
impactos na comunidade vegetal, podendo afetar o crescimento, sobrevivência,
11
suscetibilidade a doenças, estabelecimento de plântulas e sua reprodução (Crawley, 1983;
Begon et al., 2007; Stamp, 2003).
Além das condições ambientais, a herbivoria é considerada um gargalo no processo de
restauração de uma área uma vez que ela se demonstra responsável por de 38% da
mortalidade de plântulas em comunidades naturais (Crawley, 1989; Moles & Westoby, 2004).
A pressão por herbivoria sofre influência da sazonalidade, sendo que em períodos com baixa
precipitação as plantas investem em várias estratégias para otimizar a eficiência no uso dos
recursos (Oguchi et al., 2006). Nos períodos chuvosos quando há um aumento na
disponibilidade e qualidade dos recursos as atividades dos herbívoros ficam mais intensas em
função desta oferta (Crawley, 1983; Owen-Smith, 2002; Ricklefs, 2010).
A biodiversidade de plantas está fortemente ligada ao funcionamento dos ecossistemas.
Alguns estudos demonstram a existência de uma relação positiva entre a biodiversidade e
processos ecossistêmicos como a produtividade primária (Cardinale et al., 2012; Reich et al.,
2012). Pesquisadores mostraram que a biodiversidade de plantas afeta processos relacionados
a outros níveis tróficos como decomposição e herbivoria (Sherber et al., 2006). Os estudos
que buscaram entender a relação entre herbivoria e a diversidade de plantas, obtiveram os
mais variados resultados. Alguns encontraram uma relação negativa entre herbivoria e
diversidade de plantas conhecida como “resistência associativa”, alguns não encontraram
nenhuma relação, e outros estudos encontraram uma relação positiva entre herbivoria e
diversidade de plantas conhecida como “suscetibilidade associativa” (Barbosa et al., 2009).
Na hipótese de “suscetibilidade associativa”, o aumento da diversidade de plantas implica em
um aumento da herbivoria devido a muitos herbívoros serem generalistas e se associarem à
várias plantas hospedeiras, aumentando assim a diversidade de plantas em sua dieta (Otway et
al., 2005). Já a hipótese de “Resistência Associativa”, que pode ser aplicada para vários
sistemas de cultivos, tendo sido inicialmente documentada por Root em 1973, que a
denominou “Hipótese de Concentração de Recursos”. Segundo Root (1973), em comunidades
menos diversas com maior densidade populacional a disponibilidade de recursos para o
herbívoro é maior, fazendo com que a sua população cresça e se reproduza com maior
frequência, resultando em maior herbivoria em monoculturas. Já em comunidades mais
diversas, o herbívoro levará mais tempo para buscar alimento devido à baixa frequência de
espécies palatáveis o que resulta em menor herbivoria em policulturas. Outros pesquisadores
também encontraram essa relação para vários outros sistemas. Barbosa et al., (2009) observou
que em sistemas de cultivos a diversidade de plantas tende a diminuir a taxa de herbivoria em
12
plantas focais. A mesma relação se aplica para os estudos em árvores, onde Jactel e
Brockerhoff (2007) demostraram que árvores crescendo em ambientes mais diversos tendem a
sofrer menos danos por herbivoria do que aquelas que estão em monoculturas.
A maioria dos estudos que buscaram entender a interação herbívoro-planta em função
da biodiversidade analisaram o seu efeito sobre a comunidade como um todo, poucos foram
os trabalhos que analisaram uma única espécie ao longo de um gradiente de biodiversidade
(Scherber et al., 2006) Este trabalho tem como principal objetivo analisar se existe alteração
na sobrevivência e na pressão por herbivoria em Mimosa tenuiflora em função da riqueza de
plantas em seu entorno.
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Espécie alvo - Mimosa tenuiflora (Fabaceae)
M. tenuiflora (figura 1) é uma leguminosa nativa da Caatinga pertencente à família
Fabaceae, típicas das regiões semiáridas, possui fundamental importância para este domínio
fitogeográfico. Ela apresenta uma ampla distribuição geográfica, presente em todo Nordeste
do Brasil, norte da Venezuela e Colômbia e no Sul do México (Barneby 1991). Essa espécie
também possui grande importância econômica, pois é frequentemente utilizada para fins
madeireiros e para alimentação animal. Com foco na proteção da biodiversidade, essa espécie
apresenta grande potencial para uso em programas de restauração pois apresenta uma alta taxa
de sobrevivência e de germinação, desempenha o papel de facilitadora, além de ser uma das
poucas espécies lenhosas indicadora de sucessão secundária (Araújo Filho; Carvalho, 1996;
Fagundes et al., 2018).
13
Figura 1. Indivíduo de Mimosa tenuiflora (Fonte: http://psychotropicon.info/mimosa-tenuiflora-jurema)
2.2 Área de estudo
O estudo foi realizado no “Experimento de Restauração da Biodiversidade e
Funcionamento Ecossistêmico da Caatinga”, localizado na Floresta Nacional de Açú, Rio
Grande do Norte, Brasil (5.53843S; 36.963828W) (Figura 2). Essa área anteriormente se
apresentava em um estado avançado de degradação ambiental. O experimento de restauração
foi implementado entre junho e agosto de 2016 no final do período chuvoso. O experimento
ocupa uma área de aproximadamente 3,5 hectares que foi dividida em 155 parcelas de 13 m x
8 m, distanciadas entre si por uma malha de 2 metros de trilhas (Figura 3). Cada parcela
possui 32 indivíduos plantados de forma intercaladas com até 6 vizinhos próximos e com
várias combinações de espécies dentro de cada parcela. Além disso, trabalhamos com cinco
níveis de diversidade (monocultura, duas, quatro, oito e dezesseis espécies) e todas as 16
espécies usadas são nativas da Caatinga (Tabela 1). Já as mudas utilizadas no plantio foram
cultivadas em casa de vegetação, através de uma técnica desenvolvida pelo Laboratório de
Ecologia da Restauração do Departamento de Ecologia na Universidade Federal do Rio
Grande do Norte – (UFRN). Essa técnica consiste em usar um cano de Policloreto de Vinila
(PVC) de 100 cm de comprimento e 75 mm de largura, para auxiliar o alongamento da raiz.
Após seis meses crescendo em casa de vegetação as mudas foram transplantadas na área
14
experimental. Para impedir o acesso de grandes mamíferos, foi construída uma cerca em volta
do experimento.
Figura 2 Mapa da Floresta Nacional de Assú, o experimento está localizado em frente a Lagoa de Piató (ponto
vermelho do mapa (Fonte: Diagnóstico interno do ICMBio para a elaboração do Plano de Manejo da FLONA de
Açu, 2008.)
Tabela 1 Nome científico, nome popular e família das 16 espécies nativas arbóreas da Caatinga utilizadas no
experimento em Açu, RN.
Nome científico Nome popular Família
Amburana cearensis Cumaru Fabaceae - Papilionoideae
Aspidosperma pyrifolium Pereiro Apocináceas
Cochlospermum vitifolium Algodão-do-mato Bixaceae
Combretum leprosum Mofumbo Combretaceae
Libidibia ferrea Jucá Fabaceae - Caesalpinoideae
Handroantus impetiginosus Ipê-roxo Bignoneaceae
Sapium lanceolatum Burra leiteira Euforbiácea
Commiphora leptophloeos Imburana Burseraceae
Piptadenia stipulacea Jurema-branca Fabaceae - Mimosoideae
Mimosa tenuiflora Jurema-preta Fabaceae - Mimosoideae
Anadenanthera colubrina Angico-vermelho Fabaceae - Mimosoideae
Poincinella gardneriana Catingueira Fabaceae - Caesalpinoideae
15
Pseudobombax marginatum Imbiratanha Malvaceae
Ziziphus joazeiro Juazeiro Ramaceae
Cyanophalla hastata Feijão-bravo Capparaceae
Poincinella pyramidalis Catingueira Fabaceae - Caesalpinoideae
2.3 Coleta de dados
As coletas foram realizadas um ano após a instalação do experimento, em julho de
2017, no fim do período chuvoso. Das 155 parcelas, selecionamos somente as que continham
a M. tenuiflora, totalizando 36 parcelas e 298 indivíduos, em 5 níveis de riqueza de plantas (1,
2, 4, 8 e 16) (Figura 3). Com o auxílio de um contador, foram feitas as contagens de todas as
folhas de cada planta. Desse total, consideramos folhas herbivoradas aquelas que
apresentavam indícios de perda foliar por herbivoria. Os 33 indivíduos que morreram durante
o experimento e os 18 indivíduos que não continham folhas no momento da coleta foram
excluídos das análises. Para a análise de sobrevivência todas as 36 parcelas foram utilizadas.
As medidas de alturas dos indivíduos foram feitas com uma trena do ponto mais baixo
próximo ao solo até a ponta do galho mais alto acompanhando o tamanho do galho, para que
plantas que estavam curvadas tivessem uma medida justa da sua incorporação de biomassa.
16
Figura 3 Mapa do “Experimento de Restauração da Biodiversidade e Funcionamento Ecossistêmico da
Caatinga”. Neste trabalho usamos apenas as parcelas sinalizadas com um círculo.
2.4 Análise de dados
2.4.1 Medidas de Sobrevivência
As medidas de sobrevivência foram realizadas através do R® versão 3.4.4, usando uma
análise de Regressão Logística com erro binomial para verificar se a chance de mortalidade
(Y) estaria relacionada à riqueza de espécies na parcela (X). Usamos todas as 36 parcelas que
continham a M. tenuiflora, totalizando 298 indivíduos, destes 33 mortos, 265 vivos, incluindo
18 vivos sem folhas.
2.4.2 Medidas de Herbivoria
Fizemos uma Regressão Logística com erro binomial para verificar se a riqueza de
plantas (X) influencia a pressão por herbivoria (Y) em M. tenuiflora. Para isso o programa
usado foi R® versão 3.4.4. Adicionalmente, ajustamos o modelo para uma distribuição quase-
binomial, para melhor ajustar o modelo aos padrões de variação dos dados. Das 36 parcelas
17
que possuíam M. tenuiflora, 34 foram utilizadas na análise, pois os indivíduos das parcelas nº
149 e 155 morreram. Além disso, deixamos fora da análise todos os 18 indivíduos que foram
encontrados sem folhas.
3. RESULTADOS
Todos os tratamentos apresentaram altas taxa de sobrevivência e percentual de folhas
herbivoradas. As plantas possuíam um tamanho médio de 155 cm. Os tratamentos que
apresentaram as maiores médias de tamanho das plantas foram o de 4 e 16 espécies, com 170
e 167 cm respectivamente.
3.1 Sobrevivência de Mimosa tenuiflora
A taxa de sobrevivência de M. tenuiflora em todo o delineamento amostral foi de 89%,
sendo as comunidades com oito espécies de plantas as que obtiveram maior taxa de
sobrevivência, 100%. Em contrapartida, o tratamento com 16 espécies apresentou o maior
percentual de mortalidade, aproximadamente 30% (Tabela 2).
Tabela 2. Proporções de herbivoria e sobrevivência e a média das alturas dos indivíduos para os 5 níveis de
riqueza.
Riqueza % Herbivoria %Sobrevivência Altura média (cm)
1
2
4
8
16
52
60
51
54
43
86
98
91
100
70
131
150
170
140
167
18
Os resultados obtidos para a sobrevivência em função da riqueza de espécie mostraram
que o aumento da riqueza não influencia a mortalidade de M. tenuiflora (Figura 5, P=0,399;
F=0,728; Rho²= 0,02).
Figura 5. Relação entre a taxa de sobrevivência da M. tenuiflora e a riqueza de espécies ao longo de um
gradiente de diversidade de plantas em experimento de restauração de Caatinga.
3.2 Medidas de Herbivoria
Dentro de um total de 294 indivíduos de M. tenuiflora distribuídos nas 36 parcelas,
foram usados somente 243 para fazer a análise de herbivoria, pois somente estes continham
folhas. Foram contabilizadas 44.041 folhas no total, destas, cerca de 53% apresentavam sinais
de herbivoria. O tratamento que demonstrou a menor média de folhas herbivoradas foi o
tratamento de 16 espécies, cerca de 43%. Já o tratamento com 2 espécies apresentou a maior
média, 60% das folhas que sofreram algum dano por herbívoro. Os resultados obtidos para a
análise entre herbivoria e a riqueza de espécies não foram significativos (P=0,2447; F=1,407;
Rho²= 0.04, Figura 6).
19
Figura 6. Proporção da herbivoria, variando em função da riqueza de plantas. Os pontos representam as parcelas
com diferentes níveis de riqueza de plantas 1, 2, 4, 8 e 16 existentes no experimento de restauração de Caatinga.
20
4. DISCUSSÃO
Nessa fase inicial do experimento, pudemos verificar que a pressão de herbivoria não é
influenciada pela riqueza de espécies, corroborando modelos neutros encontrados na
literatura. Possivelmente por ser uma planta abundante e rica em nitrogênio ela é alvo dos
herbívoros de maneira generalizada, sendo fortemente atacada em todas as parcelas. Essa
espécie também produz folhas jovens com muita frequência, e isso deve ser um fato adicional
que auxilia a explicar seus altos índices de herbivoria, pois alguns trabalhos já demostraram
que folhas jovens são mais propensas à herbivoria por apresentarem poucas estruturas de
defesas contra herbívoros (Coley & Barrone, 1983). Seria importante ressaltar que estudos
sobre a pressão de herbivoria em M. tenuiflora em sua maioria estão relacionados aos grandes
mamíferos pastadores (bovinos, caprinos e equinos), sendo ainda escassos dados sobre a
relação dessa espécie com seus inimigos naturais invertebrados. Até o presente, esse é o único
trabalho que relaciona a pressão de herbivoria por insetos em M. tenuiflora com a diversidade
de plantas em seu entorno.
Este trabalho evidenciou que M. tenuiflora não apresentou sobrevivência alterada pela
riqueza de plantas em seu entorno. Sua capacidade de sobrevivência em ambientes extremos,
com baixa precipitação, com escassez de recursos e independente da competição com plantas
vizinhas, faz com que esta espécie desempenhe um papel fundamental na sobrevivência de
outras espécies. Isso se dá pelo fato de M. tenuiflora atuar como uma espécie facilitadora em
ambientes degradados (Patterno, et al. 2016; Fagundes et al. 2018). A espécie pode agir
melhorando o microclima, retendo umidade e enriquecendo o solo de nutrientes através de sua
capacidade de fixação de nitrogênio (Maia, 2004; Faria, 1984; Silva e Santos 2004).
Esse trabalho demonstra que M. tenuiflora pode ser uma espécie de grande interesse
para a restauração da Caatinga apresentando uma alta taxa de sobrevivência em campo (89%).
O sucesso de sua sobrevivência em campo pode ser devido à sua ampla adaptação a estresses
ambientais como falta de água e alto índice de radiação solar (Maia, 2004). Além disso, a
abundância dessa espécie é alta em áreas degradadas e tende a diminuir com o tempo, tendo
em vista que ela é uma espécie pioneira e de crescimento rápido (Araújo Filho e Carvalho,
1996). Adicionalmente, nesse primeiro ano em que o experimento de restauração foi
estabelecido em uma área degradada de um ambiente hostil como a Caatinga, podemos
verificar através dos altos índices de herbivoria foliar, uma alta incidência de herbívoros
dentro do experimento utilizando M. tenuiflora para sua alimentação. Isso demonstra a
importância dessa espécie para incentivar o retorno da fauna, revelando a sua grande
importância para a restauração de ambientes degradado.
21
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo foi realizado com os dados iniciais de um experimento de restauração da
biodiversidade da Caatinga estabelecido há pouco mais de um ano. Os dados apresentaram
uma grande variação dentro dos tratamentos, isto pode ter acontecido por várias razões
(tempo de estabelecimento, folhas com poucas estruturas de defesa, chuvas imprevisíveis).
Nossa metodologia para quantificação da herbivoria foliar não se mostrou a mais adequada,
porém foi a mais aplicável dentro do nosso universo amostral. Para minimizar as variações
dos dados e aumentar a precisão dos efeitos da herbivoria na planta, o mais indicado seria
calcular os danos por área foliar.
Este estudo tem grande importância para o domínio fitogeográfico da Caatinga que
ainda é pouco explorado pelos pesquisadores. Além disto esse é o primeiro experimento de
restauração da biodiversidade da Caatinga, apontando sutilmente na curta variação temporal
do experimento que a biodiversidade de plantas pode afetar a herbivoria de forma positiva em
longo prazo.
22
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