UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ GUILHERME … · Canoas, Água Clara e Pretinhos, Vale do...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
GUILHERME FEDALTO
INTEGRAÇÃO DE DADOS GEOLÓGICOS E AEROGEOFÍSICOS DA REGIÃO DA
MINA DO PERAU, VALE DO RIBEIRA, PARANÁ.
CURITIBA
2015
GUILHERME FEDALTO
INTEGRAÇÃO DE DADOS GEOLÓGICOS E AEROGEOFÍSICOS DA REGIÃO DA
MINA DO PERAU, VALE DO RIBEIRA, PARANÁ
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial à obtenção de grau de Geólogo no Curso de Graduação em Geologia, Setor de Ciências da Terra da Universidade Federal do Paraná.
Orientador: Professor Doutor Leonardo Fadel Cury
Co-orientador: Professor Doutor Francisco José Fonseca Ferreira
CURITIBA
2015
À minha família,
Pelo apoio e incentivo a sempre continuar.
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Leonardo Fadel Cury pela dedicação, orientação, paciência e pelas
discussões essenciais para conclusão deste trabalho.
Ao Prof. Dr. Francisco José Fonseca Ferreira, pela dedicação, orientação, paciência
e pelas discussões essências para conclusão deste trabalho.
Ao Prof. Dr. Carlos Eduardo de Mesquita Barros pelo auxílio em campo.
Ao Geólogo Bruno Macchioni Pereira pelas discussões e apoio durante este trabalho.
Ao Geólogo Renato Leandro pelos auxílios em campo
A Renata Santos Moreira da Silva pelo incentivo e apoio.
A CPRM pelo fornecimento dos dados.
E a todos que de forma direta ou indireta colaboraram com esta pesquisa.
RESUMO
A integração de dados geológicos e aerogeofísicos na região das minas do Perau, Canoas, Água Clara e Pretinhos, Vale do Ribeira-PR, utilizou como base geológica dados resgatados de projetos históricos realizados pela CPRM na década de 80. Os levantamentos aerogeofísicos referem-se a dados gamaespectrométricos e magnetométricos do Projeto Paraná-Santa Catarina, disponibilizados pela CPRM, em 2011. A área de estudo abrange gnaisses paleoproterozóicos do Núcleo Tigre, rochas metavulcanossedimentares mesoproterozóicas da Formação Votuverava e Perau e granitos neoproterozóicos. A Formação Perau é subdividida em três unidades caracterizadas pela predominância de quartzitos (basal), rochas carbonáticas e calciossilicáticas (intermediária) e xistos (superior), onde são reconhecidas paragêneses sugestivas de um evento metamórfico regional heterogeneamente desenvolvido em diferentes fases, compatível com fácies xisto verde e anfibolito. Apresenta mineralizações de Pb, Zn, Ag (Fe-Cu), tipo-Perau (SEDEX), em horizontes da sequência intermediária, com corpos de sulfetos maciços, observados nas minas do Perau, Canoas 1 e Canoas 2. Foi criado um Sistema de Informações Geográficas (SIG), denominado SIG Perau, utilizando mapas geológicos, fichas de afloramento com dados petrográficos e estruturais e dados geoquímicos obtidos em levantamentos geológicos das décadas de 80 e 90. Os mapas geofísicos apresentaram uma boa correlação com os dados geológicos, na qual foi possível interpretar zonas de cisalhamento e zonas de alteração hidrotermal que podem colaborar no mapeamento geológico e prospecção mineral na região no Perau. Palavras-chaves: Mina do Perau; Sistema de Informações Geográficas; Magnetometria; Gamaespectrometria.
ABSTRACT
Geological database acquired from historical projects performed by CPRM in the 80’s decade, provides the combined geological and geophysical analyses of Perau, Canoas, Água Clara and Pretinhos mines regions, in Ribeira valley, Paraná State. The geophysical data are related to aero- gamaspectrometric and magnetometric surveys from Paraná-Santa Catarina Project, realized by CPRM in 2011. The study area includes paleoproterozoic gneiss of Tigre nucleus, mesoproterozoic metavolcanossedimentary rocks of Votuverava and Perau formation, and neoproterozoic granites. The Perau formation is subdivided in three units: quartzites (basal), carbonatic and calcium-silicate rocks (intermediary) and schists (upper), where are recognized paragenesis from regional metamorphic event devoleped in different phases, from greenschist to amphibolite facies. The intermediary sequence shows Pb, Zn, Ag (Fe-Cu), Perau-type, mineralization horizons, represented by massive sulfide bodies in Perau, Canoas 1 and Canoas 2 mines. A Geographic Information System (Perau GIS) was developed throughout geological maps, outcrop reports with petrographic and structural records and geochemistry results obtained in geological surveys from 80 and 90’s decades. The geophysical maps shows a good correlation with the geological data, providing an interpretation of shear zones and hydrothermal zones that can collaborate in geological mapping and ore prospection in Perau region. Palavras-chaves: Perau Mine; GIS; aeromagnetic surveys; aerogamspectrometric surveys.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 7
1.1. LOCALIZAÇÃO ................................................................................. 7
1.2. OBJETIVOS ...................................................................................... 8
1.3. JUSTIFICATIVA ................................................................................ 9
2 CONTEXTO GEOLÓGICO ...................................................................... 9
2.1. NÚCLEO TIGRE ............................................................................. 11
2.2. FORMAÇÃO VOTUVERAVA .......................................................... 11
2.3. FORMAÇÃO PERAU ...................................................................... 12
2.4. GRANITO VARGINHA .................................................................... 15
2.5. ZONAS DE CISALHAMENTO E SISTEMAS DE FALHAS ............. 15
3 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................... 16
3.1. SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS ............................ 16
3.2. PROCESSAMENTO GEOFÍSICO .................................................. 18
3.2.1. Gamaespectrometria ................................................................. 20
3.2.2. Magnetometria .......................................................................... 25
3.3. SUPERVISÃO DE CAMPO ............................................................. 29
4 Resultados ........................................................................................... 29
4.1. SIG PERAU ..................................................................................... 29
4.1.1. Mapas geológicos ..................................................................... 29
4.1.2. Fichas de afloramento ............................................................... 33
4.1.4. Dados estruturais ...................................................................... 36
4.2. mapas geofísicos ............................................................................ 38
4.2.1. Gamaespectrometria ................................................................. 38
4.2.2. Magnetometria ................................................................................ 50
4.3. VALIDAÇÃO DO SIG PERAU EM CAMPO .................................... 56
5. DISCUSSÃO ......................................................................................... 59
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 63
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 65
7
1 INTRODUÇÃO
A presente monografia refere-se ao Trabalho de Conclusão do Curso de
Geologia da Universidade Federal do Paraná, realizado em 2015. O trabalho consistiu
na construção de um Sistema de Informações Geográficas (SIG) com dados
geológicos resgatados da região das minas do Perau, Canoas 1 e 2, Água Clara e
Pretinhos a fim de integrá-los com dados aerogeofísicos do levantamento Paraná
Santa-Catarina (CPRM, 2011).
A integração de dados geológicos e geofísicos teve como objetivo a
identificação de zonas de cisalhamento e registros hidrotermais na região, com a
finalidade de avaliar condicionantes para remobilização e/ou deformação de depósitos
sulfetados. Para validação do SIG foi realizada uma etapa de campo, onde foram
coletadas amostras de minério, dados estruturais e petrográficos em afloramentos. As
interpretações dos dados geofísicos e geológicos foram feitas em multiescala
utilizando mapa regional da região da Mina do Perau, Canoas e Água Clara, escala
1:25000 e mapa de detalhe, escala 1:10.000, na região da Mina do Perau. Os mapas
escala 1:25000 e escala 1:10000 possuem, aproximadamente 252 km2 e 10 km2 de
área respectivamente.
1.1. LOCALIZAÇÃO
A área de estudo está inserida na região do Perau, ao norte do município de
Tunas e ao sul do município de Adrianópolis, no Estado do Paraná (Figura 1). Com
saída do município de Curitiba, o acesso à área é feito pela BR-476 até o município
de Tunas, percorrendo 73 quilômetros. Para ter acesso a Mina do Perau, deve-se
partir de Tunas pela Estrada da Ribeira sentido Adrianópolis e utilizar-se de estradas
secundárias, a partir do quilômetro 27 e acessos secundários para as antigas
instalações das minas.
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Figura 1 - Localização e acesso à área de estudo. Região da Mina do Perau, Vale do Ribeira, Paraná.
1.2. OBJETIVOS
Este trabalho tem como objetivo integrar dados geológicos históricos com
dados geofísicos modernos, em regiões com mineralizações de sulfetos de Pb-Zn-Cu
(Ag) próximas a Mina do Perau, Vale do Ribeira. Especificamente, objetivou construir
um SIG, denominado SIG Perau, com dados geológicos históricos do projeto
executado pelo DNPM/CPRM “Projeto Integração e Detalhe Geológico no Vale do
Ribeira” (Takahashi et al 1981), assim como, dados da tese de Daitx (1996) “Origem
e evolução dos depósitos sulfetados tipo-Perau (Pb-Zn-Ag), com base nas jazidas
Canoas e Perau (Vale do Ribeira – PR)”.
A base geológica do SIG Perau foi integrada a dados magnetométricos e
gamaespectrométricos do aerolevantamento Paraná-Santa Catarina (CPRM, 2011).
A integração permitiu auxiliar na identificação e caracterização de zonas de
cisalhamento e registros hidrotermais na região da Mina do Perau, com a finalidade
de avaliar condicionantes geológicos para remobilização e/ou deformação dos
depósitos sulfetados.
9
1.3. JUSTIFICATIVA
Historicamente, o Vale do Ribeira é uma região de interesse econômico em
metais básicos como Pb, Zn, Cu, com Ag e Au associados, onde são reconhecidas
importantes jazidas estratiformes como Perau, Canoas, Água Clara e Pretinhos, todas
as minas atualmente desativadas. A digitalização das informações geológicas do
“Projeto Integração e Detalhe Geológico na Região do Vale do Ribeira’’ (Takahashi et
al, 1981) em ambiente SIG, irá facilitar o acesso aos dados, possibilitando a utilização
de ferramentas modernas de pesquisa, edição e publicação. A digitalização de
projetos geológicos com fins prospectivos é, antes de tudo, uma forma de resgatar
informações que representam, ainda hoje, considerável investimento na geologia
exploratória do Vale do Ribeira.
As ocorrências de metais sulfetados na região da Mina do Perau são
admitidas como produto exclusivamente de processos sedimentares exalativos
(SEDEX). Hoje, com a disponibilidade dos levantamentos aerogeofísicos realizados
pela CPRM em 2011, com cobertura de toda região leste do Paraná, abriu-se uma
nova perspectiva para estudos geológicos-geofísicos na região. A integração de
dados geofísicos gamaespectrométricos e magnetométricos com dados geológicos
contribuirá para um melhor entendimento dos depósitos minerais da região do Vale
do Ribeira, quanto ao posicionamento tectônico e possíveis remobilizações
hidrotermais e/ou supergênicas.
2 CONTEXTO GEOLÓGICO
A região do Vale do Ribeira está inserida em um contexto tectônico de
amalgamação crustal que na década de 80 era dividido em duas unidades
geotectônicas denominadas, segundo Hasui et al (1980), Faixa de Dobramentos Apiaí
e Maciço de Joinville. Interpretações atuais de Hasui (2010) denominam esta região
de Cinturão Ribeira, onde Siga Jr (2009) subdivide o pré-cambriano do norte do estado
de Santa Catarina, leste do Paraná e sul do estado de São Paulo em quatro terrenos
tectônicos: Terreno Paranaguá, Terreno Luís Alves, Terreno Curitiba e Terreno Apiaí.
A área de estudo deste trabalho está inserida no Terreno Apiaí, com unidades da
Formação Perau, Formação Votuverava, Núcleo Tigre e rochas intrusivas do Granito
Varginha (Figura 2).
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O Terreno Apiaí está em contato a sul com o Terreno Curitiba pela Zona de
Cisalhamento Lancinha, com cinemática destral de alto ângulo (Fiori, 1992). É
formado pelos núcleos do embasamento Tigre, Betara e Apiaí-Mirim, por rochas
metavulcanossedimentares da Formação Água Clara, Formação Votuverava
(Mesoproterozóico), onde ocorrem metabasitos encaixados, pela Sequência Serra
das Andorinhas, Grupo Lajeado (Meso a Neoproterozóico), Grupo Itaiacoca
(Neoproterozóico), Suítes graníticas cálcio-alcalinas, metassedimentares da
Formação Iporanga (Ediacarano), por granitoides sin e pós-colisionais e por rochas
vulcânicas e metavulcanossedimentares do Grupo Castro (Ediacarano-Cambriano)
(Siga Jr, 2009; 2011a).
Figura 2 – Principais unidades tectônicas e geológicas da área de estudo. Base geológica utilizada:
Folha Curitiba SG22 escala 1:1.000.000 (GEOBANK/CPRM)
11
2.1. NÚCLEO TIGRE
O embasamento do Terreno Apiaí é representado pelos Núcleos Tigre e
Betara, que ocorrem balizados por rochas metavulcanossedimentares das Formações
Perau e Betara, respectivamente. Os Núcleos Tigre e Betara são constituídos
essencialmente de granitóides (sienogranitos, monzogranitos, granodioritos) proto,
milonitizados e ultramilonitizados. Possuem cogeneticidade, idades de formação (U-
Pb) de 1,75Ga (Proterozóico Superior) relacionados ao período Estateriano, ou
Tafrogênese Estateriana, interpretada como quebra do continente Atlantida (Siga
Junior, 1995; Cury, 2002). Adjacentes aos núcleos ocorrem sequências
metavulcanossedimentares da Formação Perau (Núcleo Tigre) e Formação Betara
(Núcleo Betara) que podem representar sedimentação em bacia tipo rift (idades entre
1700-1400 Ma datadas em galenas da região da Mina do Perau) (Daitx, 1996).
2.2. FORMAÇÃO VOTUVERAVA
Neste trabalho, será adotada classificação original da Formação Votuverava
de Bigarella & Salamuni (1958b) atualizada com dados geocronólogicos recentes. A
Formação Votuverava está inserida no Grupo Açungui e é subdividida nos conjuntos
Bromado, Coloninha e Saíva (Fiori, 1992; Fiori & Gaspar, 1993).
O Conjunto Bromado é composto de filitos, quartzitos e metaconglomerados,
posicionado tectonicamente sobre o Conjunto Coloninha através da Falha do
Bromado. O conjunto Coloninha compreende metarenitos, metassiltitos, metaritmitos
e metaconglomerados. Já o Conjunto Saivá é composto essencialmente por filitos,
metarritmitos, mármores e metamargas, ocorrendo no topo da Formação Votuverava.
Campanha (1991) eleva a Formação Votuverava como Grupo dentro do
Terreno Apiaí, onde é limitado ao sul pela Zona de Cisalhamento Lancinha e ao norte
pelas zonas de cisalhamento Figueiras e Ribeira. Segundo classificação de Faleiros
(2008), retirada da Folha Apiaí 1:50.000 (CPRM, 2011), o Grupo Votuverava é
constituído por uma sequência essencialmente vulcanossedimentar, com
magmatismo básico expressivo, representado na forma de intercalações lenticulares,
concordantes com a estrutura primária de metabasitos com idade U-Pb em zircões de
1,4-1,5 Ga (Siga Jr, 2009; 2011a). Perrota (1996) subdivide o Grupo Votuverava em
12
Formação Ribeirão das Pedras, Piririca, Nhunguara, Perau e duas unidades de
micaxistos e granada micaxistos.
2.3. FORMAÇÃO PERAU
A Formação Perau foi definida por Takahashi et al (1981) como Sequência
Perau. Daitx (1996) define-a como Complexo Perau, subdividindo-a em três unidades,
caracterizadas pela: predominância de quartzitos (basal), rochas carbonáticas e
calciossilicáticas (intermediária) e xistos (superior), onde são reconhecidas
paragêneses sugestivas de um evento metamórfico regional heterogeneamente
desenvolvido em diferentes fases, compatível com fácies xisto verde e anfibolito
(Figura 3). A unidade intermediária destaca-se pela ocorrência de níveis mineralizados
em sulfetos de Pb, Zn, Cu (Ag), hospedados em rochas calciossilicáticas.
As mineralizações mais expressivas ocorrem nas minas do Perau, Canoas 1
e Canoas 2, sendo reconhecidas em horizontes da sequência intermediária, com
corpos mineralizados de sulfeto maciço localizados estratigraficamente acima de uma
camada guia de filito grafitoso e abaixo de uma formação ferrífera bandada com
magnetita/sulfetos e barita. Daitx (1996) descreve os níveis mineralizados na região
do Perau (Pb-Zn-Ag-Ba) como leitos de sulfeto maciço, semimaciço e disseminado,
encaixados predominantemente em rochas calciosilicáticas e ou
micaceocarbonáticas, com intercalações de metacherts.
A área da Mina do Perau, da base para o topo predominam quartzitos, rochas
carbonáticas e xistos a muscovitas, biotita, granada, sericita e grafita com
intercalações de anfibolitos e calcioxistos, que exibem paragêneses mineralógicas de
metamorfismo de fácies xisto verde ou anfibolito (Takahashi et al, 1981). A mina do
Perau situa-se no flanco NW da anticlinal Perau, com vergência para SE e eixo com
direção N45ºE.
Segundo Takahashi et al (1981), a mineralização do Perau pode ser
reconhecida pelos seguintes metalotectos: estratigráfico – base do Grupo Açungui;
litológico – rochas carbonáticas; litoestrátigráfico – a) quartzito: basal (camada guia),
b) porção superior do pacote de rochas carbonáticas situadas acima do quartzito, c)
lente de filito grafitoso na base da mineralização, d) nível de barita no topo da
mineralização e e) nível magnético bandeado acima da barita; estrutural –
terminações periclinais de dobras de segunda ordem do flanco NW do anticlinório Anta
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Gorda. O horizonte mineralizado a Pb-Zn-Ag (Fe-Cu), encontra-se posicionado acima
de filito grafitoso e abaixo de nível magnetítico bandado e de barita, ambos
intercalados concordantemente na porção superior da sequência carbonática.
O modelo SEDEX (Rosebery), ou sedimentar exalativo/vulcanogênico
exalativo, é o mais aceito para os depósitos tipo-Perau, no qual Biondi (2003)
considera a mineralização da Mina do Perau depósitos distais em relação à estrutura
vulcânica. Regionalmente, situam-se em sequência carbonática e pelito carbonática
denominada Formação Perau, com idade modelo Pb/Pb = 1800 a 1600 Ma. A
Formação Perau é composta por três sequências litológicas. A sequência inferior, ou
quartzítica, sequência intermediária formada por mármores dolomíticos e calcíticos,
entremeados por rochas calciossilicáticas e mica-carbonato xistos e a sequência
superior pelítico-aluminosa e anfibolítica, com grafita-quartzo xistos e ortoanfibolitos.
Estudos isotópicos realizados em rochas metabásicas da Formação Perau
caracterizam período de formação em torno de 1,5 Ga (Caliminiano), com idades U-
Pb obtidas por SHRIMP e ID-TIMS em zircão (Siga Jr et al, 2011a). Nas regiões
mineralizadas podem ocorrer intercalações de sericita xistos carbonosos (tufáceos)
rochas vulcanogênicas félsicas, níveis mineralizados com Pb, Zn, Fe e Cu e/ou
sulfatos de Ba e formações ferríferas bandadas quartzo-magnéticas, caracterizando o
“horizonte Perau”.
Os depósitos tipo SEDEX formam-se sobre regiões de descarga hidrotermal
focalizada em uma fratura distante do aparelho vulcânico. O corpo mineralizado é
composto de sulfetos, minerais hidrotermais como carbonatos, chert, barita e apatita
e por rochas não hidrotermais, clásticas, químicas e/ou biogênicas (Biondi, 2003). É
comum entre os depósitos SEDEX uma zonalidade composicional, marcada pelo
aumento da razão Zn/Pb a partir do complexo exalativo para o exterior.
14
Figura 3 - Coluna litoestratigráfica para a região entre as minas Água Clara e Canoas (Daitx, 1996).
15
2.4. GRANITO VARGINHA
O Granito Varginha é composto de sienogranitos, monzogranitos, quartzo
monzonitos e quartzo sienitos com idade U-Pb (TIMS) em zircões de 600 Ma (Basei
et al, 2003). Os sienogranitos ocorrem do centro ao nordeste do corpo granítico,
composto por quartzo (25-35%), feldspato alcalino (45-55%), biotita (15%) e
plagioclásio (5-15%). Na porção sudeste, os sienogranitos apresentam caulinização
avançada, tento na porção sul composição quartzo sienítica. Na porção, centro-sul do
corpo, a composição mineral indica quartzo monzonitos (Q=10%; FK=50%;
PLAG=35%; BIOT=5-10%) (Dressel, 2013).
Dressel (2013) indica que a estrutura do Granito Varinha é, de maneira geral,
isotrópica, com foliação magmática incipiente, devido à fraca orientação de biotitas.
Ressalta, também, a existência de bandas de cisalhamento miloníticas (espessuras
entre 5 e 30 cm) rúpteis/dúcteis direção E-W/70S e na borda oeste bandas miloníticas
dúcteis (1,70 cm de espessura) com veios de quartzo paralelos, com direção ENE-
WSW.
2.5. ZONAS DE CISALHAMENTO E SISTEMAS DE FALHAS
Segundo Daitx (1996) as estruturas rúpteis não apresentam grande
importância no modelo estrutural da área Perau, excetuando a zona de cisalhamento
Ribeirão Grande, posicionada cerca de 1 km a noroeste da jazida Perau (JICA/MMAJ,
1982; Ebert, 1987). Nas imediações dessa estrutura, com direção geral NE-SW, as
rochas do Complexo Perau encontram-se fortemente inclinadas, com mergulhos entre
50° e 80°. Daitx (1996) ressalta, ainda, que brechas e/ou protomilonitos marcam,
provavelmente, as últimas movimentações dessa importante estrutura tectônica local.
A mina Perau está posicionada no bloco sudeste da Zona de Cisalhamento
Ribeirão Grande. JICA/MMAJ (1982) indica através de levantamentos gravimétricos
um provável rejeito vertical superior a 1 km para o bloco situado a noroeste dessa
estrutura, em relação à área da mina Perau. Daitx (1996) salienta uma fase de falhas
subverticais apresentando deslocamentos verticais inferiores de poucos metros.
Algumas dessas falhas foram reativadas em tempos mesozoicos e alojam diques de
diabásio.
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Na área da jazida ocorre um grande número de pequenas falhas subverticais
com direção preferencial N45°-70°E e caimento para NW ou SE, com deslocamentos
verticais que não ultrapassam um metro. Algumas dessas falhas foram reativadas em
tempos mesozóicos e alojam diques de diabásio. Devido ao seu paralelismo ao plano
axial da antiforma Perau, sua formação (ou, pelo menos, sua reativação) pode ser
associada a essa estrutura tectônica principal. Na região da Mina de Canoas,
falhamentos subverticais provocam deslocamentos laterais e verticais de ordem
métrica a hectométrica, com reflexos diretos na pesquisa e na lavra dos corpos
mineralizados. Há dois sistemas principais de falhamentos, com direções gerais N50°-
70°E e N60°W, sendo este último aparentemente mais jovem (Daitx 1996).
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Para este trabalho foram utilizadas ferramentas de geoprocessamento para
construção de um banco de dados em meio SIG. Utilizou-se, da mesma forma, uma
série de métodos para o processamento dos dados geofísicos e geração dos mapas
gamaespectrométricos e magnetométricos. Para validação do banco de dados
construído, foi feita uma etapa de campo com descrição de afloramentos, coleta de
amostras e descrição dos corpos mineralizados.
3.1. SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS
Um Sistema de Informações Geográficas (SIG) é um banco de dados que
consiste de informações sobre características distribuídas espacialmente, atividades
ou eventos definidos no espaço como pontos, linhas ou áreas (Duecker, 1979). Este
banco de dados representa discretamente a realidade geográfica na forma estática de
objetos geométricos, com seus atributos associados com uma funcionalidade limitada
para criar novos objetos, computar suas relações e interrogações (Goodchild, 1991).
Um SIG deve ser capaz de representar graficamente informações espaciais,
associar informações alfa-numéricas (letras e números), realizar operações
aritméticas cumulativas e não-cumulativas, oferecer recursos de entrada e operação
de dados, possibilitar a importação e exportação de dados e gerar resultados na forma
de mapas, gráficos e tabelas.
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Para criar um banco de dados SIG, faz-se uso do geoprocessamento, que
consiste em técnicas matemáticas e computacionais para o tratamento da informação
geográfica (Câmara et al, 2005). Estas técnicas englobam um conjunto de
ferramentas: sensoriamento remoto, processamento digital de imagens, análise e
interpretações de imagens e geoestatística.
Dentro de um sistema computacional SIG, os elementos espaciais
geométricos (linhas, pontos e áreas) são armazenados em arquivos vetoriais
denominados shapefiles (.shp). Estes armazenam suas informações em uma Tabela
de Atributos, que consistem em um banco de dados com múltiplas informações em
diferentes colunas para o mesmo objeto geométrico.
Os dados armazenados em um SIG podem ter origem analógica, como mapas
e imagens, os quais podem ser digitalizados para arquivos gráficos (tif, .jpeg) para
então serem vetorizadas e georreferenciadas (posicionadas geograficamente a partir
de datum horizontal pré-estabelecido) em elementos geométricos como (pontos,
linhas e áreas).
Para utilizar as técnicas de geoprocessamento aplicadas ao resgate dos
dados geológicos, fez-se uso do software ArcGis® e MS Excel. Foram resgatados, do
volume de dados do relatório da CPRM/DNPM, 298 fichas com descrição de
afloramentos (com dados estruturais e petrográficos georreferenciados), tabelas
geoquímicas semi-quantitativas, diagramas esfereográficos de dados estruturais,
imagens de localização, fotos e o mapa geológico escala 1:10000. Assim como, o
mapa geológico da tese de Daitx (1996), escala 1:25000, foi digitalizado e adicionado
ao banco de dados.
Os mapas geológicos foram georreferenciados utilizando datum Córrego
Alegre e seus elementos gráficos foram digitalizados em elementos vetoriais (.shp).
As informações geológicas, após o primeiro georreferenciamento, foram projetadas
no sistema de coordenadas UTM WGS 84, o mesmo sistema dos levantamentos
geofísicos.
Os elementos vetoriais são representados por unidades geológicas
(polígonos/áreas), contatos geológicos, falhas, dobras (linhas) e atitudes de camada,
localização das galerias da Mina do Perau (pontos). Posteriormente, as tabelas
geoquímicas e as fichas de afloramento foram digitalizados em tabelas (.xlsx) e
inseridas no SIG Perau como um shapefile (.shp) de pontos.
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O resgate dos dados estruturais (xistosidades, falhas, acamamento) das
fichas de afloramento e dos mapas geológicos permitiu uma reavaliação destes
dados, através da construção de diagramas estereográficos, utilizando o software
Stereo32.
3.2. PROCESSAMENTO GEOFÍSICO
Para este trabalho foram utilizados dados aerogeofísicos do levantamento do
Projeto Paraná-Santa Catarina fornecidos pela CPRM, executado entre 2009 e 2011
(Figura 4). Este levantamento abrange parte da região sul do Brasil, compreendendo
a parte sul do Estado de São Paulo e a parte leste dos estados do Paraná e Santa
Catarina. A área de estudo recobre a porção leste da carta SG-22-X-B-IV e a porção
oeste da carta SG-22-X-B-V (Figura 4)
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Figura 4 – Articulação das cartas 1:100.000 que recobrem a área do levantamento aerogeofísico Paraná-Santa
Catarina (CPRM, 2011). A área de estudo recobre a porção leste da carta SG-22-X-B-IV e a porão oeste da carta SG-22-X-B-V.
O levantamento aerogeofísico consta com perfis aeromagnéticos e
gamaespectrométricos de alta resolução, com linhas de voo espaçadas a cada 500 m
e de controle a cada 10 km, orientadas nas direções N-S e E-W, respectivamente. A
altura de vôo foi fixada em 100 m sobre o terreno. Para o processamento e
interpretação do dados geofísicos foram utilizados o softwares Oasis Montaj e ArcGis,
respectivamente.
20
3.2.1. Gamaespectrometria
As principais fontes de radiação utilizadas nas análises
gamaespectrométricas provêm da desintegração natural do potássio (40K) e dos
elementos das séries do urânio (238U) e do tório (232Th). A contagem total (CT) da
radiação é obtida por intermédio de um espectrômetro, onde é medido os raios gama
dentro da janela energética entre 0,41 a 2,81 MeV (Figura 5). Neste intervalo, cada
elemento é associado a um canal do espectrômetro onde as suas energias estão
centradas (Ribeiro et al, 2013).
Figura 5 - Espectros da radiação gama mostrando as posições da janela de energia para cada elemento e da
contagem total. Retirado de Ribeiro et al (2013), que foi modificado de Foote (1968).
Os raios gamas emitidos pelo potássio (40K) se concentram no pico de energia
de 1,46 MeV . Os isótopos 238U e 232Th não emitem radiação gama, porém seus
produtos decorrentes de suas séries de decaimento radioativo (214Bi e 208Tl,
respectivamente) emitem raios gama com energias centradas em 1,76 e 2,61 MeV
(Kaplan, 1964). As estimativas das concentrações de urânio e tório geralmente são
referidas na literatura como urânio equivalente (eU) e tório equivalente (eTh) (Ribeiro
et al. 2013).
A gamaespectrometria tem pouco alcance em profundidade e as informações
obtidas para interpretação limitam-se aos contatos geológicos superficiais e/ou
afloramentos de uma formação. Para interpretar os mapas de concentrações de K,
eTh, eU e CT devem ser consideradas as características geoquímicas, a cristalografia,
21
a abundância de cada elemento e suas principais ocorrências e a declividade do
terreno (Ribeiro et al, 2013).
A relação entre as taxas de formação de regolito versus taxa de erosão pode
ser estudada pela observação da distribuição dos dados radiométricos em conjunto
com mapas de declividade (Figura 6). A resposta gamaespectrométrica em regiões
escarpadas com forte erosão tendem a refletir a composição química da rocha,
enquanto regiões com baixas declividades, onde são frequentemente observadas
coberturas de solo e vegetação densa, apresentam menor número de amostragens
relativas à rocha parental (Wilford et al, 1997).
Figura 6 - Influência dos processos geomorfológicos na emissão de radiação gama. Ribeiro et al (2013),
modificado de Wilford et al. (1997).
O intemperismo libera radioelementos dos principais minerais constituintes
das rochas, incorporando-os em argilas, óxidos de ferro, água e matéria orgânica. Os
elementos K, U e Th apresentam mobilidades e solubilidades distintas, a depender
das condições de intemperismo, principalmente em ambientes com clima tropical a
subtropical (Wilford et al, 1997). Também processos hidrotermais podem lixiviar estes
elementos (principalmente K e U), onde altas concentrações (anomalias) podem estar
associadas e condicionadas por estruturas ígneas e tectônicas (Ribeiro et al, 2013).
Feldspatos potássicos e micas são minerais que apresentam alta
concentração de K, onde unidades geológicas com altos teores desses minerais
apresentam anomalias associadas. Quando lixiviado, o K pode ser adsorvido em
argilominerais, como ilita, montmorilonita e caulinita. O K não é observado em quartzo,
olivina, cloritas e carbonatos, apenas em teores muito baixos nos piroxênios ou
anfibólios (Dickson & Scott, 1997).
22
O U e o Th não são tão móveis quanto o K. O urânio é liberado de minerais
solúveis em ambiente oxidantes (na forma U+6, oxidada), complexando-se com
ânions como carbonatos, sulfatos e fosfatos para formar espécies solúveis. Em
ambientes redutores tende a precipitar, complexando-se com óxidos e hidróxidos de
ferro, minerais de argila e coloides, reduzindo seu estado para U+4. (Disckson & Scott,
1997). Concentrações de urânio podem estar associados à resistatos, como a
monazita e zircão, argilas ou 226Ra exsolvido da água subterrânea. O urânio pode
acompanhar o potássio durante processos hidrotermais ao contrário do tório, o qual
apresenta a menor mobilidade geoquímica dos três elementos. O fenômeno é
conhecido como antagonismo de Ostrovsky (1975) entre o tório e potássio (Ribeiro et
al. 2013)
O tório também está relacionado com minerais resistatos e tende a se
concentrar no perfil do regolito, podendo ser altamente móvel, quando combinado com
complexos orgânicos nas águas subterrâneas e nos solos. A solubilidade de
complexos de tório é geralmente baixa, exceto em soluções ácidas. Desta maneira,
compostos orgânicos, como os ácidos húmicos, podem aumentar a solubilidade do Th
em condições de pH neutro (Dickson & Scott, 1997)
Rochas félsicas possuem um teor mais elevado de radioelementos do que
rochas máficas ou ultrabásicas, devido à tendência de aumento de Th e U em relação
ao teor de sílica. Tório apresenta crescimento maior do número de contagens em
função do teor de sílica comparativamente ao urânio, tornando possível utilizar a razão
Th/U para investigar o grau de diferenciação dentro de uma suíte ígnea (Figura 7).
Rochas formadas no último estágio de colocação ígnea (pegmatitos), durante a
redução de temperaturas, apresentam altos teores de potássio e quantidades
menores de tório e urânio, entretanto, rochas tardias ocupam áreas pequenas e
muitas vezes não apresentam influência em aerolevantamentos. (Ribeiro et al, 2013)
23
Figura 7 - Variação da concentração média dos radioelementos em rochas e solos na Austrália. Retirado de Ribeiro
et al (2013), modificado de Dickson & Scott (1997).
Para gerar os mapas de contagem individual de cada elemento foi realizado um
nivelamento, com intuído de eliminar contagens negativas, pois não existem teores
negativos. Para tanto, foram somados os valores absolutos dos mínimos para todos
os elementos. Dessa forma, os menores para todos os elementos não serão inferiores
a zero (Tabela 1).
Tabela 1 – Dados estatísticos utilizados para realizar o micronivelamentos do K, eU e eTh.
K eU eTh
Mínimo -0,10008 -1,0086 -0,42
Máximo 3,84381 7,253137 39,8391
Média 1,07532 1,093016 8,35682
A partir dos mapas básicos de K, Th e U nivelados, foram gerados mapas
ternários RGB, mapas de razões, fator F e mapas de K e U anômalos. O mapa ternário
é gerado a partir da associação do sistema de cores RGB (ou CMY), sendo
R=potássio (%), G=urânio (ppm) e B=tório (ppm) (Figura 8). As cores estão
associadas com o máximo e o mínimo da concentração dos três elementos, estando
24
cada elemento em um vértice de um triângulo equilátero. Resultados com a cor branca
representam altas contagens dos três elementos e cores pretas estão associadas às
baixas contagens, da mesma forma que o mapa apresentará cores intermediárias
entre cada vértice.
Os mapas das razões U/Th, U/K e Th/K destacam a diferença entre as
concentrações dos elementos radiométricos em corpos graníticos em uma mesma
região, possibilitando a identificação de áreas com forte alteração hidrotermal do tipo
potássica e/ou sódica (dois tipos de alteração com maior concentração do elemento
K). Variações na concentração dos radioelementos são resultado principalmente da
geologia local, processos de enriquecimento (diferenciação magmática e/ou ação
hidrotermal) e pelo grau de intemperismo. Nas razões U/K e Th/K, fica mais evidente
a diferença dos teores entre os elementos, do que na U/Th, que apresenta contrastes
menores (Ribeiro et al, 2013):
O fator F (Gnojek & Prichystal, 1985) (Equação 1) realça o enriquecimento de
potássio e urânio em relação ao tório, principalmente quando associado a áreas com
alteração hidrotermal. Áreas com forte intemperismo e alta lixiviação do potássio
tentam a apresentar altos valores do parâmetro F. Os mapas de potássio anômalo
(Kd) e urânio anômalo (Ud) são utilizados para ressaltar áreas com altas contagens
de urânio e potássio em detrimento dos outros elementos. A partir do parâmetro F, Kd
e Ud gera-se um mapa ternário RGB, onde ressaltam-se áreas indicativas de
remobilização do potássio e alteração hidrotermal.
Equação 1 – Fator F
Mapas litogeofísicos podem ser confeccionados por meio da análise
supervisionada, onde são separados domínios gamaespectrométricos levando em
consideração a proporção entre o K, eU e eTh. Para corroborar com a interpretação,
histogramas com os valores mínimos, máximos e médios dos três radionuclídeos
devem ser confeccionados para cada domínio. Por fim, os domínios litogeofísicos
devem ser integrados a uma base geológica, para comparar a resposta geofísica com
dados petrográficos.
25
Figura 8- Fluxograma do processamento dos dados gamaespectrométricos.
3.2.2. Magnetometria
A magnetometria objetiva estudar a geologia por meio de anomalias do campo
magnético da Terra resultantes das propriedades magnéticas das rochas em
subsuperfície. Certos tipos de rochas contêm minerais magnéticos o suficiente para
produzir anomalias magnéticas significativas (Kearey et al, 2009).
Levantamentos aeromagnéticos medem a força local do campo magnético da
Terra. A medida é uma combinação do campo magnético da Terra, denominado IGRF
(International Geomagnetic Reference Field) e do campo induzido por rochas crustais.
Esta combinação é denominada de TMI (Total Magnetic Field), ou então Campo
Magnético Anômalo (CMA) (Isles & Rankin, 2013).
O componente vetorial do campo magnético é medido em nanoTesla (nT), o
qual se refere à intensidade do fluxo magnético emitido por corpos magnéticos. A força
do campo magnético terrestre varia de 70000 nT próximo aos pólos a 25000 nT em
regiões equatoriais.
Para o processamento, foram extraídos do levantamento Paraná-Santa
Catarina os dados contidos nos limites do mapa geológico da região da Mina do Perau,
26
Canoas e Água Clara, escala 1:25.000, publicado por Daitx (1996). O mapa do Campo
Magnético Anômalo (CMA) foi gerado utilizando o método de mínima curvatura.
Sobre o CMA foi utilizado um filtro passa-baixa (low pass filter) de 500 m e
feito um micronivelamento de 30 nT, com o intuído de eliminar ruídos e equalizar os
valores positivos e negativos. Após executado o low pass filter e o micronivelamento,
o CMA foi reduzido ao polo (RTP), a fim de reduzir a bipolaridade das fontes
magnéticas. Sob o CMA-RTP optou-se realizar uma continuação de voo (upward
continuation) de 100 metros, para realçar estruturas mais profundas e eliminar ruídos
de fontes rasas.
Segundo Castro et al (2014), a redução ao polo tem como principal atributo
recalcular os valores do campo magnético, simulando a localização da sua fonte no
polo magnético. Este recurso proporciona a relocação das amplitudes máximas das
anomalias sobre o centro de suas fontes, facilitando a interpretação geológica dos
dados magnéticos. Os parâmetros utilizados para a redução ao polo estão na Tabela
2.
Tabela 2 - Parâmetros utilizados no processamento para reduzir o Campo Magnético Anômalo ao polo. Método
de Redução ao Polo (RTP).
Projeto Data média
de aquisição Coordenada
central da área Declinação Inclinação
Média da
altitude
Inclinação para
correção de amplitude
PR-SC 15/07/2010 49o W; 24o50’ S -18,87o -34,75o 770 m -54.25o
Sobre o CMA-RTP foram aplicados métodos de realce com técnicas de
processamento qualitativos (Figura 9 e 10) e semiquantitativos. Os principais métodos
de realce qualitativos e semiquantitativos e suas aplicabilidades estão descritos na
Tabela 3
A Deconvolução de Euler é um método semiquantitativo aplicado para a
determinação de profundidade de fontes de anomalias gravimétricas e magnéticas,
com o qual é realizada uma varredura dos dados residuais e, por meio de janelas
móveis, são selecionadas anomalias para as quais são estimadas as profundidades
de suas fontes causativas (Castro et al, 2014).
27
Tabela 3 – Métodos de realces sobre o Campo Magnético Anômalo com suas características e aplicabilidades.
Métodos de realce qualitativos Características
Gradiente Horizontal total (GHT) - Cordell & Grauch (1985)
Vetor resultante das combinações das derivadas de primeira ordem nas direções x e y. Utilizado para realçar os limites (bordas) dos corpos e estruturas
causadoras das anomalias.
Amplitude do Sinal Analítico (ASA) - Nabighian (1972), Roest et
al. (1992)
Função relacionada às derivadas nas direções x, y, z do campo magnético. Os picos da ASA são simétricos e ocorrem diretamente sobre as bordas dos corpos e
diretamente sobre o centro dos corpos estreitos.
Inclinação do Sinal Analítico (ISA) - Miller & Singh (1994)
Representa o ângulo formado entre os vetores real e imaginário do sinal analítico representando o quociente entre Gz e o GHT. Método detector centros de corpos
ou estruturas magnéticas.
Gradiente Horizontal total da Inclinação do Sinal Analítico (GHT-
ISA) - Verduzco et al. (2004)
Combinação da ISA e suas derivadas horizontais Gx e Gy. Evidencia o centro e as bordas dos corpos, recomendado para mapear estruturas rasas do embasamento e alvos de exploração mineral.
Theta map - Winjs et al. (2005) Normalização do GHT pela ASA. Posiciona as
anomalias diretamente sobre suas fontes.
Inclinação do Sinal Analítico do Gradiente Horizontal Total (ISA-GHT)
- Ferreira et al. (2010, 2013)
Aplicação do ISA nos dados derivados do GHT. Melhor resolução das bordas dos corpos, devido à
equalização do GHT pelo ISA.
Inclinação do Gradiente Horizontal Total (IGHT) - Cooper &
Cowan (2006)
Normalização do GHT pelo Gz. Posiciona as anomalias diretamente sobre suas fontes. Utilizado para delimitar as bordas dos corpos, equalizando o
pico de corpos rasos e profundos.
Signum de segunda ordem (Signum
transform) – Souza & Ferreira (2012)
Normalização da derivada de segundo grau na vertical (Gz2). As anomalias magnéticas apresentam dois
valores (-1 e +1) e as fontes causativas são representada pelos valores postitivos. Utilizada para
definir os limites de estruturas.
Método semiquantitativo Característica
Deconvolução de Euler (Thompson, 1982; Reid et al., 1990)
Utilizada para estimar a profundida das fontes magnéticas. Obtida através da relação das derivadas
horizontais e verticais do campo magnético com a localização das fontes causativas.
Os parâmetros utilizados para realizar o processamento foram: Índice
Estrutural zero (contatos geológicos), tolerância máxima de profundidade 8%,
abertura da janela de 10 metros e altura de voo de 200 metros. Foram separadas 4
classes de profundidades: fontes menores que 100 metros, 100-200 metros, 200-300
metros e acima de 500 metros.
28
Figura 9 - Métodos de realce utilizados para análise semiquantitativa. Retirado de Castro et al. (2014) e Ferreira
et al. (2013).
29
Figura 10 - Fluxograma de processamento dos dados magnetométricos
3.3. SUPERVISÃO DE CAMPO
A supervisão dos dados do SIG Perau foi realizada em uma etapa de campo,
onde foram estudados afloramentos localizados em alvos pré-selecionados para
validação dos dados geológicos e interpretações geofísicas. Também foram utilizadas
descrições de afloramentos realizadas por alunos da disciplina de Mapeamento
Geológico em 2014, do Curso de Geologia da UFPR. Esses dados foram utilizados
para apoiar as interpretações geofísicas, comparando os lineamentos magnéticos
com as estruturas observadas em campo, os domínios gamaespectrométricos com as
informações petrográficas e, finalmente, validando as interpretações decorrentes da
análise geofísica.
4 RESULTADOS
4.1. SIG PERAU
4.1.1. Mapas geológicos
A primeira etapa da construção do SIG Perau consistiu na digitalização do
mapa geológico da região da Mina do Perau (escala 1:5.000), contido no relatório do
Projeto Integração e Detalhe Geológico no Vale do Ribeira (Takahashi et al, 1981)
30
(Figura 11; Figura 12) e do mapa geológico da região das Minas do Perau, Canoas,
Água Clara e Pretinhos (Daitx, 1996) (Figura 13). Nos mapas geológicos constam
dados geológicos como as unidades litológicas, falhas, dobras, atitudes de
acamamento e xistosidade, localização das minas, ocorrência mineral, assim como
dados planimétricos, como edificações, estradas, rios, acessos. Estas informações
foram vetorizadas em shapefiles de pontos, linhas e áreas/polígonos e classificadas
em suas Tabelas de Atributos.
Figura 11 Mapa geológico da Região da Mina do Perau, digitalizado do relatório Projeto Integração e Detalhe Geológico no Vale do Ribeira (Takahashi et al.1981).
31
Figura 12 - Produto da digitalização do Mapa Geológico da Mina do Perau presente no relatório Projeto Integração e Detalhe Geológico no Vale do Ribeira (Takahashi et al 1981).
Os elementos topográficos, como estradas, drenagens, linhas de alta tensão
e elementos geológicos como eixos de dobras, contatos litológicos, diques,
falhas/fraturas e lineamentos fotointerpretados foram vetorizados como linhas. Os
elementos topográficos como edificações, localização das Minas e elementos
geológicos, como ocorrência mineral, atitude de camadas e pequenos eixos de dobras
foram vetorizados como pontos. As unidades litológicas foram vetorizadas como
área/polígonos (Tabela 4).
32
Figura 13 - Produto da digitalização Mapa Geológico da região das Minas Canoas, Perau e Água Clara, publicado
por Daitx (1996).
Os mapas geológicos não indicavam o datum utilizado como base cartográfica
optando-se, então, em utilizar o datum Córrego Alegre fuso 22 sul para georreferenciá-
los. Isso se deve ao contexto histórico implicado na utilização do datum Córrego
Alegre durante a década de 80, único disponível em mapas topográficos publicados
na época pelo IBGE. A base cartográfica foi posteriormente convertida para o datum
WGS 84 fuso 22 sul, para serem compatíveis com o datum utilizado nos
levantamentos aerogeofísicos.
33
Tabela 4 - Tabela referente aos elementos geológicos e topográficos contidos nos mapas geológicos digitalizados.
Arquivo shapefile Elementos cartográficos Representação cartográfica
Área/polígonos Elementos geológicos Unidades litológicas, áreas mineralizadas
Linhas
Elementos geológicos Eixos de dobra, lineamentos fotolitológicos, contatos litológicos, falhas/fraturas, zonas de cisalhamento, diques de diabásio
Elementos topográficos Estradas e acessos, rios.
Pontos
Elementos geológicos Ocorrência mineral, atitude de camadas/foliações, eixos de dobras menores, lineações
Elementos topográficos
Acamamento, xistosidade, eixos de dobras, lineações, localização das Minas Perau (e suas galerias), Água Clara, Canoas e Pretinhos.
4.1.2. Fichas de afloramento
O maior volume de dados do SIG Perau (Figura 16) é representado pelas
fichas de afloramento que estão contidas no relatório da CPRM (Figura 14), no qual
foram digitalizadas 298 fichas. As informações das fichas estavam compiladas em
caixas de texto, contendo dados cartográficos como altitude e coordenadas em UTM
do ponto, dados geomorfológicos como toponímia, tipo de relevo, vegetação e solos,
assim como dados geológicos como descrição da rocha, unidade estratigráfica, dados
estruturais e nome da rocha.
As fichas de afloramento foram digitalizadas em forma de planilha (linhas e
colunas) utilizando o software Excel (Figura 15). A primeira coluna representa os
pontos de afloramento, de forma que os pontos serão colocados de forma ascendente
na primeira coluna e nas colunas seguintes foram adicionadas as demais informações
contidas nas fichas, dessa forma, cada ponto representará uma linha. Contudo, para
os dados estruturais, o número do ponto foi repetido para cada atitude estrutural que
estava contida nas fichas, facilitando, assim, a busca dos dados através da ferramenta
“Filtro”.
Na década de 80 o termo “calco-xistos” era erroneamente empregado, o qual
se referia a xistos com minerais com cálcio em sua composição. Para tanto, o termo
correto a ser empregado, deve ser carbonato xisto, cálcio xisto ou rocha
34
calciossilicática. O prefixo “calco” refere-se ao elemento cobre, fazendo menção que
deva haver cobre na composição da rocha, ou do mineral (ex. Calcopirita [CuFeS2]).
A planilha com os dados de afloramentos foi posteriormente exportada para o SIG na
forma de tabela (.dbf) e convertida para shapefile (.shp) de pontos.
Figura 14 - Exemplo de ficha de afloramento presente no relatório. Foram digitalizadas ao todo 298 fichas.
Figura 15 - Modelo de como foi construída a planilha com as informações contidas nas fichas de afloramento.
Notar que os dados estruturais estavam com a notação em Brunton e criou-se colunas para notação em Clar. Isso se deve a facilidade na utilização de medidas Clar no SIG.
35
Figura 16 – Tabela de Atributos de pontos dentro do SIG Perau com dados resgatados das fichas de afloramento do relatório da CPRM (Takahashi et al, 1981).
4.1.3. Dados geoquímicos
As análises geoquímicas da região não apresentam caráter regional, pois
foram feitas apenas dentro das galerias da mina. Sendo assim os dados são
representativos apenas para o horizonte (camada) mineralizado.
Foram feitas análises espectrográficas semiquantitativas, análises por
métodos quantitativos e ensaios por fusão (Tabela 5). Os elementos analisados nas
análises espectrográfica semiquantitativa foram Fe, Mg, Ca, Ti, Mn, Ag, As, Au, B, Ba,
Be, Bi, Cd, Co, Cr, Cu, La, Mo, Nb, Ni, Pb, Sb, Sc, Sn, Sr, V, W, Y, Zn, Zr, no qual os
elementos de importância são o Pb, Zn, Cu, Ag e Au. Na análise por métodos
quantitativos foram analisados o Cu, Pb e Zn e no ensaio por fusão apenas Au e Ag.
Tabela 5 - Média dos teores de Cu, Pb, Zn, Ag e Au dentro das galerias G1, G2, G3 e G4. Retirado do relatório Projeto Integração e Detalhe Geológico no Vale do Ribeira (Takahashi et al 1981)
G1
Cu 0,12%
G2
Cu 0,05%
G3
Cu 0,05%
G4
Cu 0,05%
Pb 26% Pb 7% Pb 6,80% Pb 2,70%
Zn 0,40% Zn 0,20% Zn 1,50% Zn 4,90%
Ag 248 ppm Ag 167 ppm Ag 176 ppm Ag 120 ppm
Au 0,27 ppm
Au 0,15 ppm
Au 0,06 ppm
Au 0,04 ppm
36
As análises espectrográficas semiquantitativas foram classificadas pela
CPRM como “BCR” e “AGV”. As amostras classificadas como (BCR) foram analisadas
fora na zona mineralizada, contudo as fichas de afloramento não mencionam
mineralizações, ou então, possíveis mineiras de minério. Possivelmente estas
amostras foram coletadas e analisadas como amostras de controle.
As amostras classificadas como AGV foram coletadas dentro das galerias
(G1, G2, G3 e G4), sendo as coordenadas obtidas apenas na boca das galerias. A
tabela 3 representa a média dos teores obtidos das análises químicas dentro das
galerias. É possível observar que a galeria G1, apresenta os maiores valores tanto
para Pb como Cu. Já a galeria G2 e G3, apresentam valores importantes para Zn.
Obter a média dos teores nem sempre é um dado representativo para os teores dos
elementos, pois se faz necessário saber a distribuição dos teores ao longo do
horizonte mineralizado.
4.1.4. Dados estruturais
Os dados estruturais aqui apresentados foram retirados das fichas de
afloramento e dos mapas geológicos e processados utilizando o software Stereo32.
Para obter os dados estruturais do mapa geológico criou-se um shapefile de polilinhas,
em que a forma digitalizada era um segmento de reta que compreendia a direção de
mergulho em graus da atitude estrutural. O objetivo principal foi a comparação dos
dados estruturais de campo (fichas de afloramento) com os dados estruturais
espalhados no mapa (gráficos), utilizando diagramas estereográficos (Figura 17).
Para obtenção dos valores das atitudes impressas em gráficos no mapa, foi
estabelecida uma técnica de digitalização que permite recuperar os dados
geométricos referentes à direção de mergulho e mergulho das estruturas (medidas
Clar). Para tanto, o primeiro vértice é adicionado no centro do símbolo e o segundo
vértice é adicionado na direção do mergulho indicada pela seta. Com isso, as linhas
digitalizadas possuem azimute igual à direção de mergulho (dip direction), o qual pode
ser calculado com a utilização do aplicativo Easy Calculate 5.0 utilizando um campo
específico (double) para o cálculo na tabela de atributos do shapefile. Os valores do
mergulho (dip) foram copiados durante a leitura da carta, sendo digitalizados em um
campo numérico (short integer).
37
A
D
B
E
C
F
Figura 17 - À ESQUERDA: Diagramas estereográficos de medidas de acamamento. A) Diagrama estereográfico
retirado do corpo do relatório. B) Diagrama estereográfico construído com dos dados presentes no mapa geológico. C) Diagrama estereográfico construído a partir dos dados presentes nas fichas de afloramento. Á DIREITA: Diagrama estereográfico de medidas de xistosidade. D) Diagrama estereográfico retirado do corpo do relatório. E) Estereograma construído com dos dados presentes no mapa geológico. F) Diagrama estereográfico construído a partir dos dados presentes nas fichas de afloramento.
As atitudes de xistosidade e acamamento das fichas de afloramento
apresentam-se coerentes com os dados resgatados do mapa geológico. Contudo a
38
quantidade de dados estruturais apresentados para acamamento e xistosidade não é
a mesma, sendo 123 dados de xistosidade e 99 de acamamento retirados do mapa,
e 99 de xistosidade e 54 de acamamento nas descrições de afloramento.
Tanto no mapa geológico como nas fichas de afloramento os dados
estruturais são classificados como acamamento ( ) e xistosidade ( ). Para
simplificar os resultados, neste trabalho o acamadamento está representado por S0 e
a xistosidade por Sn. Os dados de xistosidade e acamamento retirados do mapa
geológico mostram-se coerentes com os dados apresentados no relatório
A xistosidade (Sn) e o acamamento (S0) são subparalelos, e mostram o
mesmo padrão de dobramento. Os diagramas estereográficos de polo apresentam
uma dispersão de medidas entre N45E e N45W, sendo possível formar guirlanda com
eixo N221/19, observado nos polos gerados nos diagramas estereográficos (Figura
17). Este eixo gerado concorda com os valores de eixos medidos apresentados no
mapa, com valor 229/18. Segundo Takahashi et al. (1981), foram mapeadas dobras
de segunda ordem, com terminações periclinais situadas no flanco noroeste do
anticlinório Anta Gorda. Essas dobras de segunda ordem representam a sinclinal Faria
e anticlinal Perau, abertas e levemente simétricas com vergência para sudeste. A Mina
do Perau está localizada no flanco noroeste da anticlinal Perau.
4.2. MAPAS GEOFÍSICOS
Foram confeccionados mapas gamaespectrométricos e magnetométricos em
detalhe compatível com escala 1:25.000, utilizando os limites do mapa geológico de
Daitx (1996).
4.2.1. Gamaespectrometria
A partir dos mapas básicos de K, eU e eTh, foram gerados mapas ternários
RGB (K-eU-eTh) e interpretados 11 domínios litogeofísicos, elencados em ordem
alfabética da letra A à K (Figura 18). Suas características estão resumidas na Tabela
6 e seus valores estatísticos em histograma na Figura 22. Como critério de separação
foi utilizada a contagem relativa entre os elementos, tendo como auxílio à escala de
cores, onde as cores rosa e vermelho representam altas contagens, verde e amarelo
médias contagens e azul baixas contagens.
39
Figura 18 – Mapas de contagem do K, eU, eTh e Ternário RGB. Os polígonos pretos representam os
domínios gamaespectrométricos, classificados alfabeticamente de A a K.
O domínio A é composto por rochas metassedimentares, filitos, xistos e
mármores calcíticos da Formação Votuverava em contanto com filitos e
40
predominantemente xistos intercalados a lentes de anfibolito da Formação Perau
(unidade superior). Neste domínio, a Formação Perau apresenta variações
litotológicas, onde na porção centro-sul há xistos intercalados a anfibolitos pouco
espessos e mica-carbonato xistos, e na porção norte predominância de filitos e xistos,
intercalados subordinadamente a calciossilicáticas, anfibolitos e quartzitos. A resposta
gamaespectrométrica deste domínio apresentou contagens médias para K (1,22%),
eU (1,84 ppm) e eTh (7,92), onde há um condicionante estrutural na distribuição dos
três elementos.
O domínio B apresenta, igualmente ao domínio A, contagens médias para K
(1,41 %), eU (1,87 ppm) e eTh (8,64 ppm), contudo apresenta valores máximos
menores para os três elementos. Este domínio compreende rochas da Formação
Perau na região da Mina Água Clara, onde, na porção norte, apresenta mármores,
mica-carbonato xistos, calciossilicáticas, localmente com intercalações de filitos
carbonosos, metatufos félsicos, lentes com sulfetos de Pb-Zn-Fe e/ou baritíferas,
leitos de quartzo-magnéticos e, na porção sul, quartzo-biotita-muscovita xistos.
O domínio C é composto por rochas do Núcleo Tigre, onde há restritamente
sienogranitos deformados nas bordas e quartzitos micáceos no centro do domínio. A
variação composicional entre quartzitos e sienogranitos fica muito evidente neste
domínio, onde os valores mínimos do K e eTh principalmente, concentram-se na
porção central. O domínio foi classificado com valores baixos de K (0,64 %), médio de
eU (1,98 ppm) e baixos de eTh (6,04 ppm).
O domínio D e H apresentam respectivamente K alto (1,68 e 1,67 %), eU
médio (2,33 e 2,63 ppm) e eTh alto (10,55 e 12,06 ppm). Ambos os domínios possuem
rochas da Formação Votuverava, sendo o domínio D (sudeste) formado por
metassedimentares, filitos e xistos intercalados a corpos de metabasitos, e o domínio
H (noroeste), formado, predominantemente, por metassedimentares, filitos e sericita
xistos, mas localmente por metarenitos, muscovita-carbonato xistos, mármores
calcíticos e metabasitos. Os dois domínios fazem parte da mesma unidade
litoestratigráfica em um contexto regional, mas estão geograficamente separados pela
Formação Perau. A presença de rochas carbonáticas no domínio H explicaria valores
mínimos de eU mais baixos que o domínio D.
O domínio E é o maior domínio em área e apresenta a menor contagem para
os três elementos. É composto predominantemente quartzitos, calciossilcáticas,
mármores, calcioxistos, anfibolitos e quartzo-biotita-muscovita xistos intercalados a
41
anfibolitos, da unidade basal e intermediária da Formação Perau. Este domínio
apresenta valores médios baixos de K (0,94 %), baixos de eU (1,68 ppm) e baixos de
eTh (6,72 ppm), tendendo a cor preta no mapa ternário. Neste domínio, a camada
guia, ou “horizonte Perau” (Takahashi el al, 1981) é composto de sulfetos de Pb-Zn-
Cu (Fe-Ag), hospedados em rochas essencialmente calciossilicáticas.
O domínio F é composto essencialmente por sienogranitos e monzogranitos
deformados do Núcleo Tigre, apresentando valores médios de K alto (1,98 %), eU alto
(2,45 ppm) e eTh alto (11,17 ppm). Este domínio é claramente evidenciado nos mapas
gamaespectrométricos, representando uma anomalia potássica em relação às rochas
da Formação Perau, essencialmente calciossilicáticas, quartzitos e anfibolitos com
filitos intercalados.
O domínio G apresenta alto K (1,75%), médio eU (2,02 ppm) e médio eTh
(8,12 ppm). Assim como o domínio C, o domínio D é composto por sienogranitos do
Núcleo Tigre, contudo apresenta valores mais altos de K e eTh (eU similares). Isso se
deve ao corpo de quartzitos micáceos no domínio C, que por serem pobres em eTh e
K na composição, contrastam fortemente com os sienogranitos, sotopostos.
O domínio I representa o Granito Varginha, formado por sienogranitos,
monzogranitos e quartzo sienitos, apresentando valores médios de K médio (1,15 %),
eU alto (5,11 ppm) e eTh alto (26,76 ppm). Os altos teores anômalos de eTh neste
domínio, permite fazer sugestões quanto ao contato Granito Varginha com as
encaixantes do Grupo Votuverava (domínio H), essencialmente metassedimentares.
De maneira semelhante, os teores altos de K do domínio H reforçam o contraste
gamaespectrométrico com o domínio I, onde este apresenta valores médios de K.
Localmente os valores máximos do domínio I são maiores que do domínio H, contudo
no domínio H os valores de K estão distribuídos de maneira homogênea, resultando
em uma média maior.
O domínio J é formado por quartzitos, biotita-anfibólio xistos e localmente
rochas calciossilicáticas ou carbonáticas da Formação Perau, próximos a mina de
Canoas. Contudo, diferentemente do domínio E, que apresenta a mesma composição
litológica, a resposta gamaespectrométrica apresentou valores de K alto (1,51 %), eU
alto (2,04 ppm), eTh alto (11,96 ppm). Estes valores aproximam-se dos valores obtidos
no domínio F (Núcleo Tigre), composto de sienogranitos, sendo a resposta
gamaespectrométrica anômala em relação à composição litológica. Possivelmente,
pode se tratar de rochas do embasamento não cartografadas.
42
O domínio K compreende a região da Mina de Canoas, sendo representado
por rochas do embasamento do Núcleo Tigre na borda oeste, quartzitos, filitos,
anfibolitos e calciossilicáticas da porção basal e intermediária e filitos e xistos
intercalados a anfibolitos da porção superior da Formação Perau. A resposta
gamaespectrométrica apresentou valores de K médio (1,09 %), eU alto (2,51 ppm) e
eTh médio (9,39 ppm). Altos valores de eU são relativamente anômalos, comparados
com a unidade E, a qual apresenta composição litológica semelhante. Nesta região,
há um sistema de falhas/zonas de cisalhamento de direção NW, onde se percebe um
condicionamento de K e eU ao longo destas estruturas, sendo uma hipóteses para
contagens médias de K e altas de eU enriquecimento hidrotermal.
Como resultado das interpretações dos mapas básicos foi confeccionado um
mapa litogeofísico composto por domínios utilizando a relação entre o K, eU e eTh.
(Figura 19).
43
Figura 19 - Mapa litogeofísico apresentando os domínios gamaespectrométricos classificado com relação à
intensidade de K, eU e eTh.
Para correlacionar a distribuição dos elementos com a topografia do terreno,
foi produzida uma visualização em 3D, sobrepondo os mapas K, eU e eTh a um
Modelo Digital de Elevação (MDE) (Figura 20). Junto ao MDE, foi sobreposto o
sistema de drenagens da região, com destaque ao rio Ribeirão Grande, encaixado no
vale direção N30E no centro-noroeste da área.
A declividade do terreno deve ser obrigatoriamente considerada no
entendimento da distribuição do K, eU e eTh nos mapas, que apresentam, de maneira
geral, anomalias que podem ser interpretadas como reflexo do controle litológico,
como por exemplo o domínio I, Granito Varginha, com altos teores de Th e U. As
44
anomalias também são controladas por estruturas, como por exemplo, a Zona de
Cisalhamento Ribeira Grande, que nitidamente condiciona a distribuição dos teores,
principalmente do K. A anomalia de K que caracteriza o domínio F é condicionada
pelos sienogranitos miloníticos do Núcleo Tigre, nitidamente destacado do padrão
observado no domínio E, composto por quartzitos e calciossilicáticas da Formação
Perau. Observa-se que o contato entre esses domínios é principalmente controlado
pelas diferenças composicionais das duas unidades, com pouca influência de
processos intempéricos morfoescultores.
O controle litológico na distribuição das anomalias também é verificado no
domínio I (Granito Varginha), formado por sienogranitos, localizado em um alto
topográfico com baixo K, alto eU e alto eTh, enquanto o domínio C, formado
predominantemente por quartzitos também localizados em um alto topográfico,
apresentam baixo K, baixo eTh e médio eU.
Dentro de cada domínio as assinaturas gamaespectrométricas apresentam
distribuição homogênea, mesmo com variações locais, mostrando que a resposta
gamaespectrométrica, nesta região, tem um controle litológico e estrutural, em
detrimento de um controle supergênico por processos intempéricos. Isto se deve pelo
contraste litológico da região, onde temos rochas com composições muito distintas (p.
ex., calciossilcáticas e quartzitos próximos a granitoides), onde se observam contatos
tectônicos entre os domínios, delimitando diferentes assinaturas
gamaespectrométricas.
45
MDE
K
eU
eTh
Figura 20 - Visualização 3D da sobreposição dos mapas de K, eU e eTh sobre um Modelo Digital de Elevação (MDE). O polígonos pretos representam os domínios gamaespectrométricos, e as
linhas brancas representam o sistema de drenagem.
N N
N N
46
Os mapas de razões eU/eTh, K/eTh e K/eU, mapas Kd e Ud (potássio e urânio
anômalos) e mapa do Fator F foram gerados para observar a relação dos elementos
entre si, assim como, para identificação de possíveis zonas de alteração hidrotermal.
Devido à baixa mobilidade do Th, suas contagens representam diretamente o
teor do elemento contido em solos e rochas (Ulbrich et al, 2009). Dessa forma os
mapas do Fator F, Kd e Ud representam anomalias relativas à concentração ou
depleção do K e U em relação à concentração de Th (Figura 21). Ou seja, áreas com
Kd (ou Ud) baixos, representam baixas concentrações de K e altas de Th, e área com
Kd alto, representam altas de K e altas concentrações de Th. Dessa forma, é possível
apontar áreas onde o K corresponde a uma concentração relacionada a rocha fonte e
não a concentrações por transporte de massa ou lixiviação.
A junção do Fator F, Kd e Ud em um mapa ternário RGB (ou CMY) permite a
identificação de áreas com enriquecimento em K ou U com maior probabilidade de
estarem sobre a “área fonte”. Dessa forma, áreas com cores brancas (alto Fator F, Kd
e Ud) são os alvos mais prováveis de haver concentração de K diretamente sobre a
rocha ou solo residual (gossans ou lateritas). Em contrapartida, áreas com cores
escuras (baixo Fator F, Kd e Ud) são áreas mais propensas à concentração/depleção
pelo intemperismo/lixiviação.
Ulbrich et al (2009) ressalta a importância da identificação de áreas com
alteração hidrotermal pela gamaespectrometria, devido à possibilidade da relação de
processos hidrotermais a ocorrência de metais base (Cu, Pb, Zn) assim como Au e
Ag, em diversos ambiente geológicos.
47
Figura 21 - Mapas do Fator F, potássio anômalo (Kd) e urânio anômalo (Ud) e ternário RGB (F-Kd, Ud).
48
Tabela 6 – Contagens mínimas, máximas e média de K, eU e eTh para cada domínio.
Domínios
K(%) eU (ppm) eTh (ppm)
Unidade geológica Petrografia Mín Máx Média Mín Máx Média Mín Máx Média
A 0,14 2,91 1,22 0,20 5,36 1,84 2,15 16,26 7,92 Formação Votuverava e
Formação Perau
Fm. Votuverava: Metassedimentares, filitos, xistos e mármores calcíticos no contato com a Formação Perau. Formação Perau: na porção central e
sul xistos, com intercalações de anfibolitos pouco espessas, mica-carbonato xistos, anfibolitos; na porção norte filitos, xistos, cálcio silicatizas,
anfibolitos e quartzitos.
B 0,61 2,04 1,41 0,81 3,16 1,87 5,20 11,36 8,64 Formação Perau, região na Mina de Água Clara
Na porção norte mármores, mica-carbonato xistos, cálciosilicáticas, localmente com intercalações de filitos carbonosos, metatufos félsicos,
lentes com sulfetos de Pb-Zn-Fe e/ou baritíferas, leitos de quartzo-magnéticos. Na porção sul quartzo-biotita-muscovita xistos.
C 0,04 2,30 0,64 0,99 3,71 1,98 1,12 11,37 6,04 Núcleo Tigre Sienogranitos e monzogranitos deformados nas bordas do domínio.
Quartzitos, localmente micáceos no centro.
D 0,82 3,01 1,68 0,74 4,27 2,33 5,56 17,69 10,55 Formação Votuverava Metassedimentares, filitos e xistos intercalados a corpos de metabasitos.
E 0,00 3,26 0,94 0,09 3,59 1,68 0,00 26,72 6,72 Formação Perau Quartzitos, calciossilcáticas, mármores, calcioxistos, anfibolitos e quartzo-
biotita-muscovita xistos intercalados a anfibolitos.
F 0,37 3,19 1,98 0,62 5,72 2,45 4,22 24,80 11,17 Núcleo Tigre Sienogranitos e monzogranitos deformados.
G 0,87 2,72 1,75 0,93 3,62 2,02 5,16 12,45 8,12 Núcleo Tigre Sienogranitos e monzogranitos deformados.
H 0,65 2,78 1,67 0,03 6,21 2,63 5,28 22,74 12,06 Formação Votuverava Predominantemente metassedimentares, filitos e sericita xistos,
localmente metarenitos, muscovita-carbonato xistos, mármores calcíticos, metabasitos.
I 0,29 3,67 1,15 2,50 8,61 5,21 15,65 40,48 26,76 Granito Varginha Sienogranitos e monzogranitos
J 0,35 3,82 1,51 0,65 4,03 2,04 2,67 26,58 11,96 Formação Perau, região
na Mina de Canoas Quartzitos, biotita-anfibólio xistos, localmente rochas calciossilicáticas ou
carbonáticas.
K 0,34 2,80 1,09 0,56 5,03 2,51 3,21 20,83 9,39 Formação Perau, região
na Mina de Canoas Filitos e xistos intercalados com anfibolitos, e parte do núcleo do
embasamento (sienogranitos deformados).
49
Figura 22 – Histograma com a distribuição estatísticas de K, eU e eTh para cada domínio
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
45,00
Mín
Máx
Mé
dia
Mín
Máx
Mé
dia
Mín
Máx
Mé
dia
Mín
Máx
Mé
dia
Mín
Máx
Mé
dia
Mín
Máx
Mé
dia
Mín
Máx
Mé
dia
Mín
Máx
Mé
dia
Mín
Máx
Mé
dia
Mín
Máx
Mé
dia
Mín
Máx
Mé
dia
A B C D E F G H I J K
K (%)
eU (ppm)
eTh (ppm)
50
4.2.2. Magnetometria
O Campo Magnético Anômalo reduzido ao polo (CMA-RTP) foi utilizado como
base para interpretação dos dados e geração dos mapas de realce. Os principais
métodos utilizados foram a ISA para identificar o centro dos corpos e a ISA-GHT e
SIGNUM de segunda ordem para identificar as bordas (Figura 23). Sobre estes mapas
foram integrados os dados geológicos do SIG Perau, permitindo uma interpretação
mais acurada das fontes magnéticas.
A partir do CMA foram separados domínios magnéticos de acordo com a
intensidade do sinal magnético. Os domínios foram separados baseando-se na escala
de cores, onde o vermelho/rosa apresenta valores altos, amarelo e verde, valores
médios e azul valores baixos.
Os domínios L, H, G, C e I apresentam sinais magnéticos altos e possuem
uma tendência NE, excetuando o domínio I, que apresenta tendência NW Os domínios
O, F e E apresentam sinais magnéticos médios e os domínios N, K, A, B e D
apresentam sinais magnéticos baixos.
Analisando o mapa do CMA-RTP, assim como nos mapas de realce,
observaram-se três tendências principais: uma com direção NE, que reflete nos
domínios com maiores sinais magnéticos (domínio L, H, G, C), uma NW, que na
porção nordeste apresenta um domínio com forte sinal magnético (domínio I), e
lineamentos claramente flexionados na porção central do mapa. Para intepretação dos
domínios e lineamentos magnéticos foi integrada a base geológica do SIG Perau e
dados de campo do mapeamento de 2014 (Figura 24).
51
Figura 23 – Mapas do CMA-RTP-UW200, SIGNUM, ISA e ISA-GHT, com domínios magnéticos e traçado dos
principais lineamentos magnéticos.
52
Figura 24 – Mapa com lineamentos magnéticos interpretados e integrados com dados geológicos do Mapa da
região das Minas de Canoas, Perau, Água Clara e Pretinhos (Daitx, 1996);
As estruturas de direção NE possuem os maiores sinais magnéticos (domínios
L, H, G e C) e foram interpretadas, principalmente, como zonas de cisalhamento. Ao
todo, foram identificadas cinco zonas de cisalhamento principais: Maria Rita (Silva,
2014, inédito), Ribeirão Grande, Olho d’Água (Daitx, 1996), Anta Gorda (aqui
proposta), Água Clara (aqui proposta). Estas estruturas compartimentam
53
estruturalmente e litoestratigraficamente o Núcleo Tigre, Formação Perau e
Votuverava.
A Zona de Cisalhamento Maria Rita baliza o contato entre parte da Formação
Votuverava a NW e a unidade superior da Formação Perau a SE. Estas duas unidades
geológicas apresentam assinaturas gamaespectrométricas claramente distintas,
limitadas pela ZC Maria Rita.
A Zona de Cisalhamento Ribeirão Grande coloca em contato na sua porção
sul a Formação Votuverava e Formação Perau. Apresenta alto sinal magnético com
uma dispersão para NW e SE. Esta dispersão é causada pela resposta magnética de
corpos de metabásicas da unidade superior da Formação Perau.
No mapa do CMA, o domínio C aparece como um grande domínio alongado
direção NE. Contudo, nos mapas de realce ISA, ISA-GHT é possível separar este
domínio em dois lineamentos. O lineamento mais ao norte foi interpretado como uma
zona de cisalhamento, denominada de ZC Água Clara, a qual representa o contato
entre o topo da unidade intermediária com a unidade superior da Formação Perau. O
lineamento mais ao sul foi interpretado como a uma zona de cisalhamento,
denominado ZC Anta Gorda, a qual posiciona o Núcleo Tigre em contato com a
unidade superior da Formação Perau.
Na porção sudeste do mapa, a Zona de Cisalhamento Olho d’Água (Daitx,
1996) responde como uma anomalia de alto sinal magnético (domínio C). Ela
posiciona a porção sul do Núcleo Tigre em contato com filitos e micaxistos da
Formação Votuverava.
Os lineamentos direção NW (em vermelho na Figura 24) são posteriores às
zonas de cisalhamento direção NE (em preto na Figura 24). Estes lineamentos direção
NW foram interpretados como falhas que causam deslocamento/rejeito nas zonas de
cisalhamento NE com cinemática predominantemente sinistral, ocorrendo de maneira
penetrativa na área.
As principais estruturas com direção NW na região pré-cambriana, assim
como na Bacia do Paraná, do estado do Paraná, são relacionadas à falhas/fraturas
preenchidas por diques básicos do Mesozoico. Entretanto, os dados magnéticos
sugerem uma inflexão (dobras) dessas estruturas, com eixos direção NE-SW
coincidentes aos eixos de grandes dobras na região (Antiforma do Perau, Anta Gorda
e Água Clara). Caso esta inflexão dos lineamentos NW esteja relacionada ao mesmo
evento tectônico que gerou estas grandes dobras da região (Ciclo Brasiliano), não é
54
possível afirmar que todos os lineamentos NW estejam relacionados aos diques
mesozoicos.
Na porção central do mapa, unidade superior da Formação Perau, composta
de anfibolitos intercalados a micaxistos e filitos, os lineamentos magnéticos estão
nitidamente flexionados, sugerindo dobras truncadas (dobras de arrastos?) pela
Zonas de Cisalhamento Ribeirão Grande. Os eixos destas inflexões coincidem com o
eixo das grandes dobras da região, como Perau, Anta Gorda e Água Clara. Estes
lineamentos foram interpretados como a resposta magnética de rochas metabásicas,
abundantes nesta porção do mapa. Assim como, na porção sudoeste, lineamentos
menores coincidem com rochas metabásicas, direção aproximada N30E, subparelala
a ZC Ribeirão Grande.
O truncamento destes lineamentos dobrados pela ZC Ribeirão Grande sugere
que estas dobras possam ter sido formadas pela ação destas zonas de cisalhamento.
Devido ao paralelismo dos eixos destes lineamentos dobrados com o eixo das
macrodobras da região (Água Clara, Anta Gorda), seria possível associar uma
cogeneticidade entre as estruturas, assim como associar ao mesmo processo
deformador.
Corpos de rochas metabásicas localizados nas proximidades da ZC Ribeirão
Grande, podem gerar situações ambíguas, dificultando a distinção e desenho das
estruturas relacionadas a falha, quando analisadas apenas em mapas CMA. Os
métodos de realce ISA-GHT (Ferreira et al, 2013) e ISA permitiram uma melhor
separação destas estruturas, onde foi possível chegar a uma interpretação mais
detalhada.
As zonas de cisalhamento possuem uma grande importância, pois controlam
a distribuição das diferentes unidades litoestratigráficas (Daitx 1996), bem como a
ocorrência de zonas hidrotermais associadas a faixas miloníticas, que podem exercer
controle nas mineralizações do Perau. Estas zonas de cisalhamento sugerem um
controle tectônico no posicionamento das unidades geológicas da região.
Daitx (1996) define o Núcleo Tigre como embasamento da Formação Perau e
expõe sua sequência estratigráfica de maneira clara. Aliado as interpretações
geofísicas, é possível sugerir que o contato entre estas unidades seja por falhas/zonas
de cisalhamentos, sendo esta interpretação suportada pelos seguintes casos:
observa-se que o Núcleo Tigre ora esta em contato com a Formação Votuverava a
sudeste e ora com unidade basal da Formação Perau, porção central. De forma
55
semelhante, as unidades basal, intermediária e superior da Formação Perau não se
repetem na continuação da Sinforma Ribeirão da Serra.
A técnica de Deconvolução de Euler (Thompson, 1982; Reid et al., 1990)
permitiu obter fontes (soluções de Euler) com profundidades estimadas para as
anomalias magnéticas. As principais concentrações das soluções de Euler coincidem
com o traçado das zonas de cisalhamento NE (ZC Ribeira Grande, Maria Rita, Água
Clara e Anta Gorda) e das falhas/lineamentos direção NW (Figura 25).
De maneira geral, as soluções obtidas apresentam profundidades
menores que 100 metros, mostrando que a maioria destas estruturas possa estar
aflorando em superfície. A ZC Mara Rita apresenta uma dispersão de fontes rasas
gradando para fontes mais profunda de noroeste para sudeste, sugerindo um
mergulho para SE. A porção sudoeste, região da Mina Água Clara, apresenta as
soluções com fontes mais profundas, chegando a profundidades maiores que 500
metros.
56
Figura 25 - Mapa de soluções de Euler sobrepostas aos lineamentos magnéticos ISA.
4.3. VALIDAÇÃO DO SIG PERAU EM CAMPO
A etapa de campo foi realizada para a validação do SIG Perau, utilizando os
mapas digitalizados como base. Durante esta etapa foram feitas descrições
petrográficas e estruturais em afloramentos, identificado à localização das galerias da
Mina do Perau e descrito o minério e rochas encaixantes (Figura 26). Para acesso à
Mina do Perau, foi utilizado o Mapa geológico da Mina do Perau (Takahashi et al
1981), escala 1:5.000. Estas rochas foram definidas por Daitx (1996) como o nível
57
intermediário, onde ocorrem calcioxistos e rochas calciossilicáticas com lentes de
sulfetos de Pb-Zn-Cu (Ag-Fe).
Figura 26 - Mapa geológico da região da Mina do Perau, com a localização dos pontos descritos durante a etapa
de campo. Adaptado de Daitx (1996).
58
Nos pontos 1 e 2, foram descritos biotita sienogranitos deformados, definido
por Daitx (1996) como paragnaisses do embasamento, Unidade A (Figura 27). Os
biotita sienogranitos são faneríticos inequigranulares muito finos, com bandamento
composicional de poucos milimétricos, estiramento mineral do tipo L-tectonito,
configurando uma textura milonítica. São compostos por feldspato alcalino (40%),
muscovita (5%), quartzo (20%), biotita (30%) e porfiroblastos milimétricos de granada
(5% ?).
Figura 27 – Fotografias das amostras coletadas em afloramentos-alvo das rochas de embasamento na região do
Núcleo do Tigre; ESQUERDA: Biotita sienogranito milonitizado, com estiramento mineral tipo L-tectonito; DIREITA: FK-quartzo-biotita xistos miloníticos com sombras de pressão e caudas de dissolução em porfiroblastos de FK.
Figura 28 - Fotografias das amostras coletadas em afloramentos-alvo da Mina do Perau; ESQUERDA: rochas
calciossilicáticas, compostas por tremolita, plagioclásio, quartzo e biotita, com sulfetos disseminados paralelos ao bandamento/xistosidade; DIREITA: veio de quartzo com galena, pirita, esfalerita, malaquita (tr), e bornita (tr)
A orientação da biotita forma uma xistosidade com direção N30E/60SE, sendo
a lineação de estiramento sub-horizontal. Intercalados aos biotita sienogranitos,
ocorrem enclaves máficos de FK-quartzo-biotita xistos. Estes apresentam textura
59
milonítica, com sombras de pressão e caudas de dissolução em feldspatos alcalinos,
circundados por uma xistosidade espaçada e crenulada. No ponto 3 afloram quartzitos
maciços da base da Unidade B da Formação Perau, com textura microgranular,
exclusivamente compostos por quartzo.
Os pontos 4, 5 e 6 mostram a localização da pilha de rejeitos da Galeria 2, a
entrada da Galeria 1 e a pilha de rejeitos da pilha de rejeitos da Galeria 1 da Mina do
Perau, respectivamente. O minério da Mina do Perau (Figura 28) são rochas
calciossilicáticas bandadas e localmente com xistosidade, compostas por tremolita,
plagioclásio (?), quartzo e biotita como ganga, e pirita, galena, malaquita, esfalerita (?)
e bornita como mineral de minério. O mineral de minério ocorre disseminado, maciço
e intercalado ao bandamento/xistosidade.
5. DISCUSSÃO
A gamaespectrometria é uma ferramenta importante em grande variedade de
situações geológicas, fornecendo mapas de enriquecimento e/ou depleção de
potássio, urânio e tório. Na área de estudo, a alteração intempérica provocada pelo
clima subtropical úmido, resulta em importantes modificações na distribuição desses
elementos, dificultando o reconhecimento de anomalias originalmente relacionadas a
fatores intrínsecos aos aspectos litoestruturais. Neste contexto, a compreensão da
distribuição dos teores desses elementos nos solos representa um julgamento de
valor fundamental para interpretação dos mapas, sendo as variáveis relacionadas ao
tipo de rocha/protólito, declividade e capacidade de retenção de umidade (traps de
água).
Comparando os teores médios por tipo de rocha e seu solo derivado (Dickson
& Scott, 1997; Ribeiro et al, 2013), as contagens estatísticas dos domínios
gamaespectrométricos para os três elementos mostraram-se compatíveis com dados
litológicos no mapa geológico de Daitx (1996). Como exemplo, o domínio C é
composto de quartzitos micáceos do Núcleo Tigre e sua resposta
gamaespectrométricas é compatível com solos e rochas essencialmente quartzosas,
onde o K, eU e eTh apresentaram valores de 0,64%, 1,98 ppm e 6,04 ppm,
respectivamente.
A solubilidade nos complexos de tório é geralmente baixa, exceto em soluções
ácidas ou pela interação de compostos orgânicos, como os ácidos húmicos, que
60
podem aumentar a solubilidade do tório em Ph neutro (Dickinson & Scott, 1997).
Devido ao clima úmido e vegetação abundante da Região do Perau, a remobilização
ou concentração do Th em processos supergênicos podem influenciar a distribuição
das anomalias percebidas no mapa. O tório liberado durante o intemperismo pode ser
retido em óxidos e hidróxidos de Fe e Ti, e também argilas sendo em situações
especificas possivelmente aprisionado em lateritas e gossan. Por ser o elemento
menos móvel dentre o três, o tório mostrou-se um bom elemento para a separação
dos domínios.
Solos transportados recentes (depósitos tálus, depósitos coluvionares) são
muito comuns devido às altas declividades da região. Estes depósitos mascaram a
resposta gamaespectrométrica do solo residual original de rocha por meio da
sobreposição/soterramento destes. A Formação Perau é formada por rochas
calciossilicáticas, quartzitos e anfibolitos/metabásicas, as quais são empobrecidas em
tório em seu estado original. O enriquecimento supergênico do tório, por meio da
formação de gossans e lateritas em regiões mineralizadas, pode ressaltar uma
anomalia importante no que diz respeito a alvos exploratório, caso essas anomalias
apontem sobre unidades de interesse (p. ex. rochas calciossilicáticas).
O K é um elemento alcalino que ocorre em abundância em diversos minerais,
sendo a principal ocorrência nos feldspatos-K (13%) e nas micas (8%). O
intemperismo pode remobilizar significativas quantidades de K em rochas alteradas e
solos, podendo participar da formação de argilominerais como a ilita. O mapa do K
mostra uma grande relação com os aspectos composicionais das unidades
geológicas.
O Núcleo Tigre e o Granito Varginha são estruturalmente diferentes, mas
petrograficamente semelhantes, formados por sienogranitos e monzogranitos. Nos
mapas gamaespectrométricos estas unidades são as mais distintas e de fácil
separação, mas apresentam respostas gamaespectrométricas distintas.
O Granito Varginha mostrou-se como uma forte anomalia de tório e urânio,
com K relativamente baixo. Sua composição varia de sienogranitos a monzogranitos
com afinidade aluminosa (Al) (Prazeres Filho, 2003b; Dressel, 2013). O Th e U alto se
deve a alta quantidade de minerais acessórios como zircão e titanita. Segundo
(Ulbrich et al, 2009), em regiões tropicais (alta pluviosidade), rochas granitoides
aparecem cobertas por seus solos residuais, ou aluviões deles derivados, mostrando
sinais fracos ou até zerados de K. A relativa baixa contagem de K pode ser explicada
61
pela lixiviação supergênica, entretanto os xistos e filitos encaixantes da Formação
Votuverava apresentam contagens médias de K maiores que o Granito Varginha,
mascarando-o devido a um background potássico.
O Núcleo Tigre mostrou-se uma forte anomalia de Th e U, mas
predominantemente de K, sendo formado predominantemente de sienogranitos
miloníticos com afinidade alcalina (K+Na) (Cury, 2002). De forma contrária a situação
tectônica do Granito Varginha, o Núcleo Tigre esta envolto a rochas essencialmente
quartzíticas, calciosilicáticas e anfibolíticas/metabásicas, onde neste caso, há um
contraste grande de composição em relação ao K, ressaltando a geometria do núcleo
do embasamento.
O U apresenta grande mobilidade sob condições de baixa temperatura, sendo
poucos minerais a exemplo da monazita e zircão, resistentes a este tipo de processo.
O U liberado, durante processos intempéricos pode ser retido em óxidos de Fe,
minerais de argila ou precipitado em condições redutoras. Assim, tanto processos
hidrotermais quanto processos intempéricos podem condicionar anomalias
percebidas em mapas.
Devido à alta mobilidade do U, sob estas condições, o mapa do U torna-se o
mais difícil de definir domínios litogeofísicos. Observa-se em mapa que o U esta
distribuído de maneira mais esparsa nos domínios. Contudo, na porção noroeste do
mapa, próxima a mina de Canoas, o U se apresenta condiciona por grandes falhas
direção NW, perceptíveis também, em lineamentos magnéticos. Desta forma a
distribuição fica condicionada pela interação entre modificadores intempéricos e
hidrotermais (fases de deformação/metamorfismo).
Os limites dos domínios gamaespectrométricos são, de maneira geral,
retilíneos e contínuos, sugerindo um controle tectônico destas unidades. Os
lineamentos/zonas de cisalhamento interpretadas pela magnetometria estão
posicionados nos contatos entre os domínios gamaespectrométricos, suportando a
interpretação de contatos por falhas entre as unidades. As grandes estruturas
magnéticas compatíveis com o traçado da ZC Maria Rita, Ribeirão Grande, ZC Água
Clara, ZC Anta Gorda e ZC Olho d’agua, observadas em mapas ISA-GHT e ASA,
assim como estruturas de direção NW destacadas na porção nordeste suportam que
há, também, controle estrutural/hidrotermal dos elementos U e K.
Por mais que se percebam pela gamaespectometria diferentes assinaturas
entre a base da Formação Votuverava, composta essencialmente por filitos e xistos
62
micáceos, e o topo da Formação Perau, compostas por xistos e filitos intercalados a
anfibolitos e calcioxisto, o limite exato entre elas é relativamente difuso. A zona de
cisalhamento Ribeiro Grande define um traçado retilíneo no contato entre estas
unidades, mas devido à remobilização e dispersão principalmente do K (seja por ação
intempérica ou hidrotermal), o limite é mascarado.
Para entender a distribuição das anomalias caracterizadas no mapa do fator
F é preciso compreender o contexto geológico da Região do Perau, pois são
reconhecidas distintas fases de deformação com fases fluidas e hidrotermalismo
desenvolvidas em diferentes locais e magnitudes na área de estudo.
Associada a tectônica de baixo ângulo, com a geração de paragêneses
compatíveis com a fácies anfibolito, são reconhecidas falhas de cavalgamento com
faixas miloníticas com zonas de influencia de dezenas de metros, com venulação de
quartzo (com epidoto, turmalina e sulfetos associados). Isto é observado nos
afloramentos, 13-VII-14, 16-VI-14, 23-V-14, 81-VI-14, 48-IV-14, mostrados na Figura
24.
Associada a tectônica de alto ângulo, principalmente à ZC transcorrente
Ribeirão Grande são reconhecidas faixas miloníticas com zonas de influencia de até
dois quilômetros, assim como considerado por (Silva, 2014). São observadas
venulações de quartzo com turmalina e óxidos (França, 2014) em diferentes direções,
associadas tanto ao cisalhamento principal (Y), quanto estruturas conjugadas (R’ e T).
Isto pode ser observado nos afloramentos 53-IV-14 e 6-II-IV.
Neste contexto, a interpretação das anomalias do Fator F torna-se complicada
pela sobreposição de eventos hidrotermais associados a eventos tectônicos
sobrepostos. Soma-se a esta complexidade fato de o intemperismo modificar
significativamente rochas de falha, pela maior permeabilidade de água nessas
estruturas.
Comparando com os teores médios por tipo de rocha e seu solo derivado
(Dickson & Scott, 1997; Ribeiro et al, 2013), as contagens estatísticas dos domínios
gamaespectrométricos para os três elementos mostraram-se compatíveis com dados
litológicos comparados com o mapa geológico de Daitx (1996). Como exemplo, o
domínio C é composto de quartzitos micáceos do Núcleo Tigre e sua resposta
gamaespectrométrica é compatível com solos e rochas essencialmente quartzosas,
onde o K, eU e eTh apresentaram valores de 0,64%, 1,98 ppm e 6,04 ppm,
respectivamente.
63
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apresentação de projetos sob a forma de relatórios é um dos principais
produtos de trabalhos de geologia exploratória, sendo de suma importância a
organização e apresentação dos dados. Os relatórios do Projeto Integração e Detalhe
Geológico no Vale do Ribeira representam até hoje um dos trabalhos mais detalhados
sobre a geologia da região do Perau, notadamente a área de maior interesse de
minerais metálicos no Estado do Paraná. Contudo, os dados desse projeto encontram-
se disponíveis apenas em meio analógico, sendo que as cópias dos relatórios são de
difícil acesso, restritas a poucas bibliotecas no Paraná, a exemplo da biblioteca da
UFPR, MINEROPAR e DNPM.
As ferramentas de geoprocessamento utilizadas nesse trabalho objetivaram
resgatar, organizar e disponibilizar os dados desse importante projeto realizado na
década de 80. A digitalização do mapa geológico permitiu recuperar e georreferenciar
às descrições de campo, a proposta da espacialização de unidades e estruturas
geológicas.
Os aerolevantamentos geofísicos mostram-se uma excelente ferramenta de
auxílio para o mapeamento geológico e exploração mineral. A integração geológico-
geofísica permite compreender melhor a distribuição das unidades geológicas,
podendo auxiliar na identificação de unidades geológicas não cartografadas por meio
de analogias e correlações com dados conhecidos.
A gamaespectrometria mostrou-se uma importante ferramenta para classificar
as unidades geológicas radioquimicamente. Dessa forma, mostra-se essencial para
entender como possíveis remobilizações de K, eU e eTh podem auxiliar na
identificação de novos alvos minerais.
A magnetometria mostrou-se uma excelente ferramenta para identificação de
grandes estruturas regionais (em alguns casos locais) como zonas de cisalhamento,
falhas e dobras. A partir da identificação e caracterização dessas estruturas e padrões
estruturais, pode-se correlacionar possíveis remobilizações hidrotermais
condicionadas por estas estruturas.
O estudo de campo permitiu avaliar a confiabilidade dos dados do SIG Perau,
através da descrição a partir do resgate dos dados históricos. A análise petrográfica e
coleta de dados estruturais possibilitaram validar os dados, onde as descrições feitas
64
durante a etapa de campo desta pesquisa corroboram com os dados apresentados
nos mapas geológicos. Isto confirma a importância de ser feito o resgate de relatórios
e mapas geológicos antigos, onde constam muitas informações importantes para
prospecção mineral, que podem ser reavaliados, em busca de melhorar o
entendimento geológico da área em questão.
Na região do Perau ocorrem anomalias gamaespectrométricas e estruturas
magnéticas, compatíveis com o contexto deformacional e metamórfico, que sugerem
controle na distribuição das mineralizações. Contudo, para uma melhor compreensão
de como a deformação e o metamorfismo atuaram nos horizontes mineralizados,
mobilizando ou simplesmente deformando-os, são necessários dados geológicos e
geofísicos de maior detalhe.
65
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